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PRIMEIRA REPÚBLICA OU REPÚBLICA VELHA (1889-1930)

Na prática, a proclamação da república foi, em grande parte, resultado da


aliança dos cafeicultores paulistas com o exército contra o inimigo comum– o
império –, embora as duas forças tivessem projetos políticos republicanos distintos.

É possível identificar no momento de fundação da república três principais “projetos”


para a república vindoura propostos por algumas das principais forças em atuação
no processo;

“Como episódio, a passagem do império para a república foi quase


um passeio. Em compensação, os anos posteriores ao 15 de
novembro se caracterizam por uma grande incerteza. Os vários
grupos que disputavam o poder tinham interesses diversos e
divergiam em suas concepções de como organizar a
república.” (FAUSTO, 2001, p. 139.)

Havia um projeto republicano liberal defendido sobretudo por cafeicultores


paulistas e que gravitava em torno de uma descentralização política, e por
consequência, maior autonomia dos estados (como seriam chamadas as antigas
províncias pós-proclamação) e a formação de uma república federativa.

Esse projeto, muito inspirado no sistema norte-americano, enfatizava a


necessidade de uma administração pública garantidora das liberdades individuais
(direitos de locomoção, de propriedade, de livre expressão), de um sistema de livre
competição econômica, a separação dos três poderes (sendo o Legislativo
bicameral, isto é, dividido em câmaras alta – Senado – e baixa – Câmara dos
Deputados), a instauração de eleições e a separação entre Igreja e Estado.

Por outro lado, havia um projeto radical, um projeto republicano Jacobino,


sustentado principalmente por setores das classes médias urbanas, entre eles, a
baixa classe média (pequenos comerciantes, funcionários) e setores
intelectualizados (jornalistas e profissionais liberais, como médicos, advogados e
professores); Sua inspiração direta era a revolução francesa, principalmente as
ideias de Robespierre (1758- 1794) e Danton (1759- 1794), sua fração mais radical.
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Reivindicava que o destino do país fosse decidido coletivamente e sustentava
que a participação popular na administração pública era uma necessidade, requisito
de um regime baseado na liberdade e na vontade geral. Ao mesmo tempo, o grupo
era bastante sensível a medidas que tivessem algum alcance social.

Por fim, havia um terceiro projeto republicano positivista. baseado nas ideias
do filósofo francês Auguste Comte (1798 -1857), esse projeto tinha ampla aceitação
no exército. Visava à promoção do progresso, sempre com um espírito ordeiro, não
revolucionário, e forte atuação do Estado.

De acordo com os ideais positivistas, cabia ao Estado, por meio da


administração científica e racional de seus líderes, zelar pela ordem, proteger os
cidadãos e garantir seus direitos.

“Caberia ao Estado promover o progresso. A ideia de um governo forte, centralizado,


uma verdadeira ‘ditadura republicana’, portanto, sustentava o ideário positivista.”
(DORIGO E VICENTINO, p. 16)

Como o próprio nome enuncia o governo provisório tinha como principal


objetivo resolver os problemas criados pela proclamação da república e dirigir o país
até que fosse minimamente consolidada a república e promulgada uma nova
constituição;

O próprio apoio dos cafeicultores paulistas apenas se mantinha em decorrência


desse mesmo carácter provisório do governo, já que o Marechal Deodoro da Fonseca
havia se cercado de militares positivistas como Benjamin Constant que foi nomeado
ministro da guerra.

1. O GOVERNO PROVISÓRIO DO MARECHAL DEODORO DA FONSECA


(1889-1891)

O governo do Mal. Deodoro da Fonseca sofreria desde o início de sérios


problemas políticos, entre eles a falta de apoio da marinha (ainda um reduto
monarquista) e a falta de habilidade política e autoritarismo de Deodoro que entraria
em contradição com as aspirações dos setores civis e dos cafeicultores paulistanos);
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Ainda sim, o governo provisório do Marechal implantou as necessárias e
urgentes medidas para manutenção da república, entre elas:

1) extinção das instituições imperiais;

2) convocação de eleições para a Assembleia Constituinte;

3) banimento da família imperial;

4) separação entre Igreja e Estado;

5) a “grande naturalização”, projeto que oferecia a cidadania brasileira a todos os


estrangeiros então residentes no Brasil.

OUTRA MEDIDA IMPORTANTE E QUE TERIA CONSEQUÊNCIAS FOI A


NOMEAÇÃO DE RUI BARBOSA (1849-1923) PARA O MINISTÉRIO DA FAZENDA
apesar de ser considerado um livre-pensador, o intelectual baiano defendia algumas
ideias simpáticas ao exercito em geral e especialmente aos positivistas;

SUA ATIVIDADE MARCA O PRIMEIRO GRANDE IMPULSO A


INDUSTRIALIZAÇÃO DO GOVERNO BRASILEIRO E O PRIMEIRO ESBOÇO DE
UMA POLÍTICA INDUSTRIALISTA, CONTUDO, HAVIA OBSTÁCULOS.

1.1 A CRISE DO ENCILHAMENTO

Um grande obstáculo às políticas industrialistas eram:

1) a falta de recursos

2) a grande demanda por moeda, associados a expansão do trabalho assalariado


após a libertação dos escravos e à entrada maciça de imigrantes no país;

RUI BARBOSA ENTÃO MINISTRO DA FAZENDA DO GOVERNO PROVISÓRIO


DETERMINOU A EMISSÃO DE PAPEL-MOEDA, CHEGANDO A CONCEDER ESSE
DIREITO A ALGUNS BANCOS PRIVADOS, ALÉM DE NOVAS TAXAS
ALFANDEGÁRIAS PARA ALTERAR A BALANÇA COMERCIAL;

AS MEDIDAS DE RUI BARBOSA (SOBRETUDO A EMISSÃO DE PAPEL-


MOEDA SEM LASTRO) RESULTARAM EM UM VIOLENTO PROCESSO
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INFLACIONÁRIO CONHECIDO COMO CRISE DO ENCILHAMENTO, caracterizada
por uma febre especulativa, falência de indústrias recém-surgidas e alto desemprego.

1.2 A CONSTITUIÇÃO DE 1891

“Tentando manter-se no poder, Deodoro da Fonseca e o grupo positivista


retardaram ao máximo a instalação de uma Assembleia Constituinte. As eleições só
foram convocadas em junho de 1890, após intensas pressões do grupo paulista, e
os deputados constituintes eleitos foram empossados em novembro de 1890. Após
três meses de debates sobre um projeto já preparado pelo grupo de Rui
Barbosa, promulgou-se a nova Constituição.” (DORIGO & VICENTINO, 2003, p.
17)

Quais as principais características desta constituição? Poderíamos enumerar:

1) O BRASIL PASSAVA A SER UMA REPÚBLICA FEDERATIVA, com um governo


central e 20 estados membros que desfrutavam de grande autonomia, inclusive
jurídica, administrativa e fiscal

2) PROCEDIA-SE À DIVISÃO DOS TRÊS PODERES, independentes entre si, com


LEGISLATIVO BICAMERAL, formado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado.

3) ESTABELECIA-SE O VOTO UNIVERSAL MASCULINO, NÃO SECRETO, que


excluía do processo eleitoral mulheres, analfabetos, mendigos, menores de 21 anos,
padres e soldados.

“Sendo função social antes que direito, o voto era concedido


àqueles a quem a sociedade julgava poder confiar a sua
preservação. no império como na república, foram excluídos os
pobres (seja pelo censo, seja pela exigência de alfabetização), os
mendigos, as mulheres, os menores de idade, as praças de pré,
os membros de ordens religiosas. Ficava fora da sociedade
política a grande maioria da população. a exclusão dos
analfabetos pela constituição republicana era particularmente
discriminatória, pois ao mesmo tempo se retirava a obrigação do

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governo de fornecer instrução primária, que constava do texto
imperial.” (CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o rio de
Janeiro e a república que não foi. 3. ed.
são Paulo: companhia das letras, 1996. p. 44-45).

2. A “REPÚBLICA DA ESPADA”

Na Constituição de 1891, ficava determinado também que O PRÓXIMO


PRESIDENTE DA REPÚBLICA APÓS A PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO,
EXCEPCIONALMENTE, SERIA ELEITO PELA ASSEMBLEIA CONSTITUINTE.

Em março de 1891, DEODORO DA FONSECA PASSOU A SER O PRIMEIRO


PRESIDENTE CONSTITUCIONAL DA REPÚBLICA BRASILEIRA.

2.1 MAL. DEODORO DA FONSECA (25/02/1891–23/11/1891)

O Marechal Deodoro GANHOU A ELEIÇÃO COM UMA PEQUENA VANTAGEM


(129 X 97) SOBRE O CANDIDATO CIVIL PRUDENTE DE MORAIS;

O candidato a vice-presidente da oposição FLORIANO PEIXOTO TEVE UMA


VOTAÇÃO MAIOR QUE A DO PRÓPRIO PRESIDENTE ELEITO (de acordo com as
regras da época que permitiam a escolha de presidente e vice-presidente de chapas
diferentes).

A vitória do Marechal Deodoro da Fonseca deveu-se a uma pressão sobre os


cafeicultores e as oligarquias agrárias em geral que haviam sido uma das forças
propulsoras da própria proclamação;

AS ELITES CIVIS, QUE CRITICAVAM OS EFEITOS DESASTROSOS DA


POLÍTICA ECONÔMICA DO GOVERNO ENTENDIAM QUE O GOVERNO
PROVISÓRIO HAVIA CUMPRIDO SUA MISSÃO E QUE ERA O MOMENTO DOS
MILITARES RETORNAREM AOS QUARTÉIS.

“Apesar de suas tendências autoritárias, Deodoro da Fonseca


agora deveria submeter sua vontade à de um Congresso em
grande parte controlado por cafeicultores. OS CHOQUES ENTRE
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O PRESIDENTE E O CONGRESSO SE TORNARAM
FREQUENTES, ACRESCENTANDO À CRISE ECONÔMICA A
PRIMEIRA GRANDE CRISE POLÍTICA REPUBLICANA.”
(VICENTINO E DORIGO)

No embate contra o presidente, os PARLAMENTARES TENTARAM


APROVAR, NO SEGUNDO SEMESTRE DE 1891, A LEI DE
RESPONSABILIDADES, QUE REDUZIA OS PODERES PRESIDENCIAIS.

Outra das medidas que geraram descontentamento tanto entre os oficiais


positivistas quanto entre os cafeicultores paulistas foi A NOMEAÇÃO DE UMA
GRANDE FIGURA DA MONARQUIA PARA O MINISTÉRIO DA FAZENDA, O
BARÃO DE LUCENA;

Como reação ao descontentamento O PRESIDENTE DECRETOU ESTADO


DE SÍTIO EM NOVEMBRO DE 1891 (GOLPE DE 3 DE NOVEMBRO), fechando o
congresso e prendendo opositores políticos, o que foi ENTENDIDO COMO UM
GOLPE DE ESTADO;

A inesperada REAÇÃO DO QUE FOI ENTENDIDO COMO UM GOLPE DE


ESTADO VEIO NA FORMA DE RESISTÊNCIA E O MOVIMENTO SE ESPALHOU
ATÉ DENTRO DO PRÓPRIO EXERCITO SOB A LIDERANÇA DO VICE-
PRESIDENTE, O MARECHAL FLORIANO PEIXOTO; também ocorreu uma GREVE
DE TRABALHADORES NA ESTRADA DE FERRO CENTRAL DO BRASIL.

No dia seguinte, a insatisfação da marinha veio à tona, quando O ALMIRANTE


CUSTÓDIO DE MELO MANDOU APONTAR OS CANHÕES DOS NAVIOS
ATRACADOS NA BAÍA DE GUANABARA PARA A CIDADE, AMEAÇANDO
BOMBARDEÁ-LA E EXIGINDO A RENÚNCIA DO PRESIDENTE. DEODORO DA
FONSECA CEDEU ÀS PRESSÕES (23 DE NOVEMBRO DE 1891) E EM SEU
LUGAR ASSUMIU O VICE-PRESIDENTE FLORIANO PEIXOTO (PRIMEIRA
REVOLTA DA ARMADA, EXERCITO X MARINHA).

2.2. FLORIANO PEIXOTO (1891-1894)

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Diferente de seu antecessor O MAL. FLORIANO PEIXOTO CONSEGUIU COM
GRANDE HABILIDADE POLÍTICA ARTICULAR EM TORNO DE SI TANTO OS
REPUBLICANOS RADICAIS (FLORIANISMO SERIA CONSIDERADO UM
SINÔNIMO DE JACOBINISMO) E OS POSITIVISTAS (PRESENTES SOBRETUDO
NO EXÉRCITO);

Embora com uma linha política igualmente autoritária, PEIXOTO, QUE SERIA
CONHECIDO COMO “MARECHAL DE FERRO”, PROCUROU SEGUIR A
CONSTITUIÇÃO E AGRADAR AOS DIFERENTES GRUPOS POLÍTICOS;

Sua política econômica buscou RESPONDER TANTO AOS ANSEIOS


SOCIAIS DOS REPUBLICANOS MAIS RADICAIS QUANTO ÀS AMBIÇÕES
MODERNIZADORAS dos positivistas.

“No início, sua ascensão ao poder foi vista como uma volta à
normalidade, uma vez que o Congresso foi reinstaurado e o
presidente suspendeu o estado de
sítio. Os governadores que apoiaram o golpe de Deodoro da
Fonseca foram substituídos por partidários de Floriano Peixoto –
medida autoritária bem recebida,
pois representava a defesa da república.” (DORIGO &
VICENTINO, 2003, p. 19)

NO INÍCIO DE SEU GOVERNO MAL. FLORIANO PEIXOTO BAIXOU UMA


SÉRIE DE MEDIDAS QUE BENEFICIARAM A POPULAÇÃO MAIS POBRE DA
CAPITAL FEDERAL, MEDIDAS QUE CONTRIBUÍRAM PARA A SUSTENTAÇÃO
DE SEU GOVERNO; ESSAS MEDIDAS CARACTERIZARIAM O PATERNALISMO,
O OFERECIMENTO DE VANTAGENS SEM PARTICIPAÇÃO POLÍTICA;

Ao mesmo tempo governo do Marechal Peixoto estimulava a indústria com


linhas de crédito abertas pelo Banco do Brasil (fundado ainda nos tempos coloniais
por D. João IV)

APESAR DE FLORIANO PEIXOTO CONTAR COM O APOIO DO


CONGRESSO NACIONAL E DE FRAÇÕES DA SOCIEDADE BRASILEIRA, LOGO
COMEÇOU A ENFRENTAR OPOSIÇÕES. Logo após ter assumido a presidência,
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um grupo de militares contestou a legitimidade de seu GOVERNO (ART. 42 DA CF
DE 18911);

EM ABRIL DE 1892 VEM À LUZ O CHAMADO MANIFESTO DOS TREZE QUE


PEDIA O AFASTAMENTO DO PRESIDENTE E A REALIZAÇÃO DE NOVAS
ELEIÇÕES. O Mal. Floriano Peixoto reagiu duramente e os generais foram presos
com base no código militar, acusados de insubordinação; Além disso, as disputas
começaram a se intensificar nos estados, produzindo instabilidade política.

“UMA DAS REGIÕES POLITICAMENTE MAIS INSTÁVEIS DO


PAÍS NOS PRIMEIROS ANOS DA REPÚBLICA ERA O RIO
GRANDE DO SUL. Entre a primeira proclamação da república e a
eleição de Júlio de Castilhos para a presidência do Estado, em
novembro de 1893, dezessete governos se sucederam no
comando do estado.” (FAUSTO, 2001, p. 144, grifo nosso)
A principal disputa na época e que teria consequências fundamentais é a que
se deu ENTRE O PARTIDO REPUBLICANO DO RIO GRANDE DO SUL PRR DE
JÚLIO DE CASTILHOS (IMPORTANTE BASE DE APOIO DO GOVERNO
FLORIANO PEIXOTO, POSITIVISTA) E SILVEIRA MARTINS, LÍDER DO PARTIDO
FEDERALISTA e OPOSITOR DA EXCESSIVA CENTRALIZAÇÃO POLÍTICA
VIGENTE (LIBERALISMO).

Em FEVEREIRO DE 1893, os federalistas se levantaram contra os


republicanos, e FLORIANO PEIXOTO ASSUMIU A DEFESA DO GOVERNADOR
RIO-GRANDENSE (JULIO DE CASTILHOS). Logo O CONFLITO LOCAL
TRANSFORMOU-SE EM CONFLITO NACIONAL, já que os opositores de Floriano
acabaram apoiando o movimento federalista;

Aos castilhistas se atribuiu o apelido de “PICA-PAUS” e aos federalistas o termo


“MARAGATO”;

TENDO DE UM LADO FEDERALISTAS (LIBERAIS) E DE OUTRO


REPUBLICANOS (POSITIVISTAS), A REVOLUÇÃO FEDERALISTA, COMO SE

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“Art 42 - Se no caso de vaga, por qualquer causa, da Presidência ou Vice-Presidência, não houverem ainda decorrido dois anos
do período presidencial, proceder-se-á a nova eleição.”

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TORNOU CONHECIDA, GANHOU NOVA DIMENSÃO E SE EXPANDIU PARA
OUTROS ESTADOS DO SUL, EM DECORRÊNCIA DA ECLOSÃO DE OUTRA
REVOLTA, A REVOLTA DA ARMADA.

“A primeira invasão ocorreu em fevereiro de 1893, quando os


revoltosos tentaram tomar a cidade de Bagé. Iniciava-se, então,
uma das mais violentas revoluções da história brasileira: a
Revolução Federalista, APELIDADA DE “REVOLUÇÃO DA
DEGOLA”, DEVIDO AO GRANDE NÚMERO DE PESSOAS
DEGOLADAS, por ambas as partes.” (MOCELLIN, Renato.
Federalista: a revolução da degola.
São Paulo: Ed. do Brasil, 1989. p. 17)

Em setembro de 1893 eclode no Rio de Janeiro a SEGUNDA REVOLTA DA


ARMADA OUTRO FATOR DE INSTABILIDADE AO FINAL DA CHAMADA
REPÚBLICA DA ESPADA;

A MARINHA, QUE GUARDAVA EM SI AINDA MUITAS TENDÊNCIAS


MONARQUISTAS, MAS TAMBÉM REPUBLICANAS EM APOIO AO ALMIRANTE
CUSTÓDIO DE MELLO (PRETENSÕES POLÍTICAS), SE SUBLEVOU
(DESPRESTÍGIO DA MARINHA FRENTE AO EXERCITO);

Repetindo o episódio de 1891 O ALMIRANTE APONTOU OS CANHÕES DOS


NAVIOS DE GUERRA CONTRA A CIDADE DO RIO DE JANEIRO, ENTRETANTO,
AO CONTRÁRIO DE SEU ANTECESSOR, O MARECHAL FLORIANO PEIXOTO
RESISTIU.

“ENTRE SETEMBRO DE 1893 E MARÇO DE 1894, A CAPITAL


FOI CONSTANTEMENTE BOMBARDEADA PELOS CANHÕES
DOS PODEROSOS NAVIOS DA MARINHA, ENQUANTO O
EXÉRCITO E AS FORTALEZAS EM TERRA RESPONDIAM AO
ATAQUE. Em meio à destruição provocada pelo fogo cruzado, A
POPULAÇÃO FUGIA PARA O INTERIOR, ENQUANTO ALGUNS
BATALHÕES DE VOLUNTÁRIOS PROTEGIAM AS PRAIAS
PARA EVITAR O DESEMBARQUE DOS REBELDES.”

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“EM NOVEMBRO DE 1893, AS TROPAS FEDERALISTAS GAÚCHAS
AVANÇARAM SOBRE SANTA CATARINA, ENCONTRANDO-SE EM DESTERRO
(CAPITAL DO ESTADO) COM DESTACAMENTOS NAVAIS REVOLTOSOS. A
REVOLUÇÃO FEDERALISTA UNIA-SE À REVOLTA DA ARMADA E, EM JANEIRO
DO ANO SEGUINTE, OS REBELDES JÁ CHEGAVAM AO PARANÁ, TOMANDO A
CAPITAL, CURITIBA.”

“OS REVOLTOSOS, PORÉM, FORAM VENCIDOS PELAS TROPAS


FLORIANISTAS NO PARANÁ. A CHEGADA DE REFORÇOS PAULISTAS
POSSIBILITOU O INÍCIO DA CONTRA OFENSIVA, QUE EXPULSOU OS
REBELDES FEDERALISTAS PARA O SUL, SENDO RECONQUISTADA A CIDADE
DE DESTERRO, DAÍ EM DIANTE CHAMADA DE FLORIANÓPOLIS.”

“NO RIO DE JANEIRO, OS NAVIOS DE GUERRA RECÉM-


ADQUIRIDOS POR FLORIANO PEIXOTO DERROTARAM OS
ÚLTIMOS NAVIOS AINDA SUBLEVADOS, LEVANDO À
RENDIÇÃO DOS REBELDES DA MARINHA NO INÍCIO DE 1894.
FRACASSAVAM AS REVOLTAS, E FLORIANO IRIA
GOVERNAR ATÉ O ÚLTIMO DIA DE SEU MANDATO.”

Com a proximidade da sucessão presidencial, OS PAULISTAS, CUJOS


PRINCIPAIS LÍDERES ESTIVERAM AO LADO DO PRESIDENTE, ESCOLHERAM
O REPUBLICANO HISTÓRICO PRUDENTE DE MORAIS (1894-1898) COMO
CANDIDATO PARA A PRIMEIRA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL DIRETA. Seu vice era
baiano (MANOEL VITORINO) e intimamente ligado ao grupo florianista.
REALIZADAS AS ELEIÇÕES E CONTADOS OS VOTOS, OS CAFEICULTORES
PAULISTAS ASSUMIRAM O CONTROLE DO PRIMEIRO GOVERNO CIVIL DA
REPÚBLICA.

A CONSTITUIÇÃO HAVIA SIDO REDIGIDA DE ACORDO COM OS


PRINCÍPIOS DOS LIBERAIS PAULISTAS ESTAVA CONSOLIDADA (PELA
FORÇA DOS CANHÕES?) E AGORA AS MESMAS ELITES PAULISTAS
ASSUMIAM O PODER, ENCERRANDO A REPÚBLICA DA ESPADA.
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“Assim, a vitória coube ao projeto de República liberal dos cafeicultores paulistas,
mas essa república seria bem pouco democrática, se comparada com o modelo
norte-americano. Aqui, a exclusão política e a fraude, não raro contando com o apoio
da autoridade constituída, seriam a norma.”

PRUDENTE DE MORAIS (MANDADO PRESIDENCIAL 1894-1898)

1. A TRANSIÇÃO PARA O PODER CIVIL

A administração de Prudente de Morais tem um CARÁCTER TRANSITÓRIO:


havia ainda a PRESENÇA DE POLÍTICOS FLORIANISTAS PRÓXIMOS DO
PODER, A REVOLUÇÃO FEDERALISTA AINDA ACONTECIA e a POSSIBILIDADE
AINDA GRANDE DE RETORNO DOS MILITARES AO PODER. Prudente de Morais
deveria, portanto, COLOCAR A REPÚBLICA NOVAMENTE NOS TRILHOS DO
PROJETO POLÍTICO LIBERAL DAS OLIGARQUIAS CAFEEIRAS E CONSOLIDAR
SEU DOMÍNIO.

Prudente ficou conhecido como “Pacificador da república” um epiteto que pode


ser relativizado. FOI NO SEU MANDATO DE QUE SE ENCERROU A REVOLUÇÃO
FEDERALISTA COM A ANISTIA DE SEUS PRINCIPAIS LÍDERES.

2. A GUERRA OU O CONFLITO DE CANUDOS (1896-1897)

Durante o governo de Prudente de Morais ocorre o conflito que ficou conhecido


como Guerra de Canudos. SUAS PRINCIPAIS CAUSAS ESTÃO RELACIONADAS
COM A INJUSTA SITUAÇÃO FUNDIÁRIA DO PAÍS E O TOTAL ABANDONO EM
QUE SE ENCONTRAVAM AS POPULAÇÕES POBRES DO SERTÃO BAIANO.

Em uma SITUAÇÃO AGRÁRIA MARCADA PELA CONCENTRAÇÃO DE


TERRAS nas mãos de poucos e o PREDOMÍNIO DO LATIFÚNDIO IMPRODUTIVO
combinada com o DESCASO TOTAL DAS ELITES PODEROSAS (ECONÔMICAS E
POLÍTICAS) COM A SITUAÇÃO CALAMITOSA DA POPULAÇÃO a tensão social
explodia com frequência, a isso se somam secas (a grande seca de 1877-79, por
exemplo, responsável pela morte de cerca de 500.00 pessoas durante o império)

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também prosperava o Banditismo social. É nesse contexto de miséria e desigualdade
social, que brota a guerra de Canudos.

Outro fator a ser levado em conta é A ATMOSFERA MÍSTICA que se espalhava


entre as camadas populares. Quase sempre esse sentimento místico e messiânico
se desenvolvia em torno de um líder carismático que falava da salvação eterna e de
um mundo livre de misérias e desigualdades (A RELIGIÃO É O SUSPIRO DA
CRIATURA OPRIMIDA, O ÂNIMO DE UM MUNDO SEM CORAÇÃO E A ALMA DE
SITUAÇÕES SEM ALMA).

ANTONIO VICENTE MENDES MACIEL, o ANOTNIO CONSELHEIRO, foi um


desses líderes messiânicos e carismáticos que “PERCORRIA O INTERIOR DO
NORDESTE A PÉ, FAZENDO SEUS DISCURSOS E PROFECIAS, DANDO
CONSELHOS, PROCLAMANDO A FÉ NO REINO DE DEUS. Além das pregações,
prestava alguma ASSISTÊNCIA À POPULAÇÃO MAIS POBRE, ERGUENDO OU
REFORMANDO IGREJAS E CONSTRUINDO CEMITÉRIOS. Entre seus fiéis havia
um número expressivo de cangaceiros.”

Seguidores se tornam numerosos ao seu redor em suas peregrinações e EM


1893 SE ASSENTAM NA ANTIGA FAZENDA DE CANUDOS NAS MARGENS DO
RIO VAZA-BARRIS ONDE FUNDAM A ALDEIA DE BELO MONTE.

A ALDEIA ATRAIA OS MISERÁVEIS E DESFAVORECIDOS POR


APRESENTAR UMA ALTERNATIVA AO REGIME EXPLORADOR DOS
LATIFUNDIÁRIOS NORDESTINOS.

Belo monte começa se mostrar ameaçadora para as elites regionais e logo o


governo baiano resolveria por fim ao mal exemplo de conselheiro e sua comunidade
mística.

CONSELHEIRO TAMBÉM ERA UM CRÍTICO DA REPÚBLICA (CASAMENTO


CIVIL, IMPOSTOS REPUBLICANOS) e em sua comunidade circulavam versos
sebastianistas que depois seriam recolhidos por EUCLIDES DA CUNHA. A acusação

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de MONARQUISMO por parte de conselheiro e seus seguidores foi USADA COMO
MOTIVO PARA MOBILIZAR REPRESSÃO ESTATAL REPUBLICANA.

Foram quatro expedições contra Canudos:

1) Em NOVEMBRO DE 1896, uma expedição de aproximadamente 100


HOMENS DO EXÉRCITO ENVIADA PARA DESTRUIR A COMUNIDADE FOI
MASSACRADA PELOS MORADORES DE CANUDOS. O governo da Bahia e
depois o governo federal enviaram outras expedições, também SEM
SUCESSO.
2) A segunda expedição do exército (JANEIRO DE 1897), com mais de 500
SOLDADOS, MUNIDA DE METRALHADORAS E CANHÕES, sob o comando
do major FEBRÔNIO DE BRITO, fracassou a caminho de Belo Monte.
3) Sob o comando do CORONEL MOREIRA CÉSAR (treme-terra, corta-cabeças),
veterano vencedor da Revolução Federalista, a expedição seguinte (MARÇO
DE 1897), composta de mais de 1.300 HOMENS TRAZIDOS DO SUL DO
PAÍS, FRACASSOU DIANTE DA RESISTÊNCIA DOS CONSELHEIRISTAS.
4) Alguns meses depois, EM JUNHO DE 1897, chegou a QUARTA EXPEDIÇÃO,
que contava com cerca de 15 MIL SOLDADOS trazidos de todas as partes do
país e que MONTOU UM CERCO A CANUDOS (Gen. ARTHUR OSCAR, duas
colunas. O plano do General Artur Oscar previa um duplo envolvimento de
Canudos. UMA COLUNA SAIRIA DE ARACAJU, SOB O COMANDO DO Gen.
CLÁUDIO DO AMARAL SAVAGET, DIRIGINDO-SE A CANUDOS ATRAVÉS
DE JEREMOABO; a outra coluna, do GENERAL JOÃO DA SILVA BARBOSA,
OPERARIA A PARTIR DE MONTE SANTO, JUNTO À QUAL SE
DESLOCARIA O COMANDANTE EM CHEFE. A junção fora marcada para 27
de junho, em Canudos.) Os COMBATES PROSSEGUIRAM DURANTE OS
MESES seguintes, sem que se chegasse a um termo. MAIS TARDE, PARTIU
DO RIO DE JANEIRO O PRÓPRIO MINISTRO DA GUERRA, MARECHAL
MACHADO BITTENCOURT, COM MAIS ALGUNS MILHARES DE
REFORÇOS.

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“Submetido a intenso bombardeio pelas peças de artilharia do exército e
absolutamente carente de suprimentos, Canudos parecia estar com o destino selado.
No entanto, a população da comunidade continuava a crescer, aproximando-se dos
30 mil habitantes. Chegava gente de todo o Nordeste, fazendo o possível para
romper o cerco das tropas do governo, preferindo a morte, ao lado de Conselheiro, à
miséria. Em 5 de outubro de 1897, Canudos foi finalmente derrotado, e os últimos
defensores foram mortos pelas tropas.” (VICENTINO E DORIGO, p. 24)

3. A SUCESSÃO DE PRUDENTE DE MORAIS

EM 5 DE NOVEMBRO DE 1897 PRUDENTE DE MORAIS SOFREU UM


ATENTADO PERPETRADO PELO SOLDADO MARCELINO BRITO, NAS
COMEMORAÇÕES DA VITÓRIA REPUBLICANA SOBRE CANUDOS NO RIO
DE JANEIRO, com receios de uma conspiração florianista REALIZOU UMA
VIOLENTA PERSEGUIÇÃO AOS INIMIGOS POLÍTICOS DO REGIME,
CONSOLIDANDO O DOMÍNIO DAS OLIGARQUIAS E SEU PROJETO
POLÍTICO. Com a posse de seu sucessor, CAMPOS SALES, SE INICIOU UM
PODEROSO DOMÍNIO OLIGÁRQUICO NA POLÍTICA BRASILEIRA.

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