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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - CURSO DE DIREITO


DISCIPLINA: TEORIA GERAL DO DIREITO
PROFESSORA: FRANCISCA EDINEUSA PAMPLONA DAMACESNO

ATIVIDADE COMPLEMENTAR
Análise do caso apresentado na reportagem A Justiça do Amor, de Ruth Aquino

A reportagem A Justiça do Amor, de Ruth Aquino, retrata um caso sobre o


relacionamento afetivo entre pai e filha. Uma professora de 38 anos, Luciene Nunes,
entra com uma ação judicial contra seu pai alegando abandono afetivo. Como filha
de um relacionamento fora do casamento do pai, ela declara que não recebeu o
mesmo afeito, atenção e investimento que seus meios-irmãos. Para ela, seu pai não
o amou o suficiente. O pai alega que a mãe de Luciene não permitia o contato com a
filha. A juíza Nancy Andrigehi concedeu vitória a Luciene, condenando o pai a pagar
indenização a filha pelo abandono afetivo. A grande questão em torno da situação
está em se é possível ou não legislar sobre a prática do amor.

Diante desse caso, se torna interessante uma observação sobre a Teoria do


Ordenamento Jurídico de Norberto Bobbio. A forma como a juíza decretou sua
sentença não pode ser baseada apenas em uma norma, pois, não há norma direta
que legisle sobre a falta de afeto do pai. Assim, para chegar a sua conclusão foi
necessária uma observação do ordenamento jurídico como um todo e de como ele
se interrelaciona sobre essa determinada questão. A norma jurídica isolada não
apresenta uma solução a esse problema.

Nessa situação há uma lacuna, ao que parece, um tanto ideológica. Ao se


criar norma que exige um relacionamento afetivo entre pais e filhos, se legisla em
campo de afeto entre indivíduos que já se pressupõe a existência de um laço afetivo.
Além disso, é muito subjetivo o significado de falta de afeto. Uma sansão sobre
casos assim tende a gerar mais desafeto e não traz solução. Essa lacuna pode ser
completada pela autointegração por meio de analogia e princípios gerais do direito.

Desse modo, se encontra aqui uma grande questão envolvendo os princípios


que regem o direito da família e da dignidade humana em choque com o direito da
individualidade e liberdade de escolha. De um lado há o princípio da afetividade que
prioriza que toda relação familiar seja constituída observando o afeto, sendo essa a
base do próprio conceito de família, além de que, independente do afeto, há a
responsabilidade civil dos progenitores para com seus filhos. No entanto, existe o
lado da liberdade de escolha e da individualidade, onde, não como reger se alguém
deve ou não amar o outro, isso é algo que cabe a cada um.

Desse modo, é preciso analisar cada caso e por meio da ponderação, com
base no princípio da proporcionalidade, avaliar as situações para legislar o que está
envolto em cada caso (de acordo com o pensamento de Robert Alexy). Seguindo o
pensamento de Alexy, é preciso sopesar os interesses conflitantes. É necessário
identificar se a indenização (medida escolhida, nesse caso) da filha é uma medida
adequada, apropriada para alcançar o objetivo de reparar o dano causado pela falta
de afeto. Além disso, é preciso analisar se a medida a ser tomada é necessária, se a
indenização é o único meio de alcançar o objetivo de reparar o dano a filha, sendo
essa uma decisão indispensável. Nesse ponto, é preciso refletir se a reparação do
dano não pode ser alcançada por outros meios menos gravosos. A última etapa a
considerar é a proporcionalidade, considerar se os prejuízos da medida tomada não
serão maiores que os benefícios.

No caso de Luciane existem muitos fatores em torno do caso, casa fator deve
ser ponderado de modo a não causar injustiça. A crítica a esse tipo de julgamento
está no fato de que o afeto não será reestabelecido com a indenização, ou seja, se o
objetivo é a reparação desse dano, não haverá benefícios com essa decisão. No
entanto, é importante observar que esse pode ser um meio pedagógico para
reflexão social sobre a paternidade, que na grande maioria dos casos, se apresenta
ausente e desafuosa com seus filhos, principalmente extraconjugais. Desse modo,
se conclui que cada caso deva ser analisado e ponderado dentro de suas
especificidades, compreendendo que o maior benefício a ser alcançado é a
reparação do afeto familiar.

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