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Atençã o: adaptar ao novo CPC.

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DA VARA FEDERAL DA SEÇÃ O


JUDICIÁ RIA DE (XXX)

(XXX), brasileira, solteira, estudante, inscrita no Cadastro Nacional de Pessoas Físicas (CPF)
sob o nº (XXX), portadora do RG nº (XXX), residente na (XXX), vem respeitosamente à
presença de V. Exa., através de seu advogado e bastante procurador que esta subscreve
(DOC 01), com endereço profissional na (XXX), local onde receberá intimaçõ es, com fulcro
no art. 273, § 7º e art. 461 do Có digo de Processo Civil e arts. 186 e 927 do Có digo Civil,
propor a presente
AÇÃ O DE OBRIGAÇÃ O DE FAZER C/C PEDIDO DE ANTECIPAÇÃ O DE TUTELA E DANOS
MORAIS
Em face do (XXX), Autarquia Federal, com sede no (XXX), representado pela Procuradoria
Federal (Advocacia Geral da Uniã o) com atuaçã o em (XXX); e
(UNIVERSIDADE OU FACULDADE), pessoa jurídica de direito privado, a ser citada através
de seu representante legal, com domicílio na (XXX), pelos motivos de fato e direito que
passa a expor:
1. PRELIMINARES
1.1 Justiça Gratuita
Preliminarmente, a demandante pleiteia os benefícios da Justiça Gratuita, com fulcro na Lei
1.060/50 e artigo 5º LXXIV da Constituiçã o Federal, pois nã o possui condiçõ es de arcar
com os encargos decorrentes do processo, sem prejuízo de seu pró prio sustento e de sua
família, conforme declaraçã o de pobreza em anexo (DOC 03).
2. DOS FATOS
A demandante é estudante do 10º período do curso de medicina da (XXX), sendo
beneficiá ria do Fundo de Financiamento Estudantil ( FIES) desde o início de sua faculdade,
tendo seu pai como fiador, conforme contrato (DOC 04).
A demandante nunca teve nenhum tipo de problema ao realizar sua renovaçã o contratual
semestral ao longo do curso, até chegar ao aditamento de 2014.2, semestre no qual,
inclusive, os problemas referentes ao aditamento de diversos estudantes foram noticiados
em escala nacional.
Conforme se depreende da aná lise da documentaçã o acostada aos autos, o regulamento do
FIES exige que, a cada semestre, haja, por intermédio de sistema eletrô nico do FNDE,
agente operador do FIES, o aditamento dos contratos de financiamento dos estudantes.
De acordo com o art. 24, VI, da Portaria Normativa nº. 01/2010 (DOC 05), do Ministério da
Educaçã o, compete à Comissã o Permanente de Supervisã o e Acompanhamento do FIES
(CPSA) de cada entidade de ensino vinculada ao FIES, dar início aos trâ mites para fins de
aditamento dos contratos, mediante a solicitaçã o eletrô nica, dentro do prazo fixado pelo
FNDE, dos aditamentos dos financiamentos.
Ato contínuo, assim que há a solicitaçã o, os alunos recebem a comunicaçã o, através de
mensagem eletrô nica, sobre o período dentro do qual devem acessar o sistema para
confirmar estes aditamentos. Finalizado o procedimento, os alunos devem se dirigir à CPSA
para receber o Documento de Regularidade da Matrícula (DRM), apó s o que estã o
regularizados e aptos a continuarem no financiamento.
No caso dos autos, o prazo para solicitaçã o dos aditamentos do semestre de 2014.2 pela
CPSA encerrava-se em 30 de novembro de 2014, nos termos do art. 1º, da Portaria nº. 463,
de 30 de outubro de 2014 (DOC 06), sendo feito em tendo há bil pela CPSA.
Contudo, dentro deste prazo, a demandante tentou inú meras vezes realizar a sua
renovaçã o contratual sem êxito, pois apó s preencher e confirmar os dados das abas “Dados
Cadastrais” e “Curso/Financiamento”, nã o conseguiu confirmar a aba dos fiadores, porque
apesar da renda do seu ú nico fiador aparecer no valor correto de R$XXX, o sistema alegava
o erro 906, e dava a seguinte informaçã o: “O valor da renda informada do (s) fiador (es) é
inferior a duas vezes o valor da mensalidade calculada com base no valor da
semestralidade COM desconto. Revise a renda informada, se for o caso, ou indique novo (s)
fiador (es)”, situaçã o que foi devidamente registrada mediante “printscreen” das telas do
sítio eletrô nico do FNDE em anexo (DOC 07).
Por conta do erro, a demandante nã o conseguiu efetuar a confirmaçã o do aditamento
2014.2, ou seja, em razã o das falhas técnicas do sistema eletrô nico do FNDE, com isso, nã o
conseguiu realizar os demais aditamentos subsequentes, pois o referido sistema sempre
acusava o aditamento de 2014.2 como pendente.
Acontece que a mensalidade da demandante no período de 2014.2, perfazia um montante
de R$XXX, nã o havendo motivo para a mensagem de erro informada, já que a renda
cadastrada de seu fiador atendia os requisitos do dobro da mensalidade do período.
Tais falhas, aliá s, foram devidamente informadas ao sistema eletrô nico do FNDE, através de
abertura das demandas: nº XXX.
Sendo, que a resposta à demanda de setembro/2014 ocorreu em outubro daquele ano
(DOC 13), solicitando que a demandante retornasse o contato com o comprovante do fiador
e os seguintes dados: nome, CPF, instituiçã o de ensino superior, local de oferta e CNPJ, para
aná lise do caso.
Tendo a demandante respondido e enviado todas as solicitaçõ es através da demanda nº
XXX de dezembro/2014 (DOC 11), todavia, a referida demanda só foi respondida 7 (sete)
meses depois, em julho/2015, de forma genérica, com argumentos que pareciam nã o
coincidir com a realidade exposta em seus chamados, tratando-se de uma mera resposta
automá tica (DOC 14).
De outro giro, na tentativa de solucionar o problema e realizar seu aditamento, a
demandante procurou a instituiçã o de ensino superior, que informou que entrou em
contato por diversas vezes com o FNDE para solucionar a questã o, mas que foi orientada no
sentido de que a estudante deveria aguardar as respostas das demandas criadas no
sistema.
Inclusive, a central de atendimento do FNDE, em resposta eletrô nica a uma das demandas
abertas, fez mençã o a erro no sistema e à impossibilidade de as instituiçõ es de ensino
exigirem pagamento da matrícula e das parcelas da semestralidade do estudante quando se
tratar de erros ou ó bices do sistema (DOC 15).
Insta salientar que a instituiçã o de ensino superior enviou um e-mail para a demandante
com “printscreen” das suas telas de acesso ao sistema como instituiçã o mantenedora (DOC
16), no sentindo de que a mesma anexasse o referido e-mail a uma nova demanda no
sistema do FNDE, na tentativa de solucionar o caso e provar que a problema nã o estaria
relacionado com a faculdade, já que na referida tela há a informaçã o que houve o
“cancelamento por decurso do prazo do estudante”, quando na realidade a demandante foi
impedida de realizar o aditamento por um erro do sistema.
Conclui-se que por uma falha do Sistema Fies, gerenciado pelo FNDE, está sendo a
demandante compelida a pagar a quantia correspondente a 18 (dezoito) meses de uma
mensalidade elevada da noite para o dia, por uma situaçã o nã o provocada por ela e que a
mesma tentou resolver de todas as formas possíveis sem sucesso diante do relapso do
atendimento do FNDE em resolver as demandas dos alunos.
Desse modo, se fez necessá rio o ajuizamento da presente açã o no sentido de reparar as
irregularidades cometidas pela autarquia federal na gestã o da plataforma do SisFies, bem
como reconhecer a demandante a possibilidade de continuar no ensino superior,
garantindo seu direito fundamental à educaçã o.
3. FUNDAMENTAÇÃ O
3.1 Da legitimidade passiva dos demandados
No tocante à legitimidade passiva, é de se ressaltar que, de acordo com o art. 3º, II, da Lei n.
10.260/2001, o FNDE será o agente operador do FIES:
Art. 3o A gestã o do FIES caberá :
II - ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaçã o - FNDE, na qualidade de agente
operador e de administradora dos ativos e passivos, conforme regulamento e normas
baixadas pelo CMN.
Nesse passo, imputa-se ao FNDE a manutençã o irregular do sistema eletrô nico a ser
acessado pela demandante para fins de validaçã o do aditamento de seu financiamento, bem
como conduta negligente ao nã o atender nem solucionar adequadamente as diversas
demandas registradas, impedindo, com isto, que estes tivessem acesso pleno ao sistema e
pudessem finalizar o aditamento.
De outro giro, a legitimidade passiva da XXX justifica-se em razã o de competir, na forma do
art. 24, VI, da Portaria Normativa nº. 01/2010, do Ministério da Educaçã o, à sua Comissã o
Permanente de Supervisã o e Acompanhamento do FIES (CPSA) dar início aos trâ mites para
fins de aditamento dos contratos, mediante a liberaçã o eletrô nica, dentro do prazo fixado
pelo FNDE, dos financiamentos dos alunos. Nesse diapasã o, mesmo tendo a instituiçã o de
ensino realizado à liberaçã o eletrô nica dentro do prazo, por diversas a mesma informou a
demandante através de ligaçõ es que caso a mesma nã o realizasse os aditamentos estaria
impedida de se matricular, a nã o ser que pagasse o débito.
3.2 Do direito à educaçã o
A presente demanda lida diretamente com direito de indiscutível importâ ncia: o direito à
educaçã o, consagrado no art. 205, da Constituiçã o Federal:
Art. 205. A educaçã o, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboraçã o da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificaçã o para o trabalho.
Da mesma forma, o direito à educaçã o encontra-se resguardado em inú meros diplomas
internacionais, merecendo destaque o Pacto Internacional dos Direitos
Econô micos, Sociais e Culturais de 1996 e o Protocolo Adicional à Convençã o Americana
sobre Direitos Humanos (Protocolo de San Salvador):
Artigo 13 - 1. Os Estados-partes no presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa à
educaçã o. Concordam em que a educaçã o deverá visar ao pleno desenvolvimento da
personalidade humana e do sentido de sua dignidade e a fortalecer o respeito pelos direitos
humanos e liberdades fundamentais. Concordam ainda que a educaçã o deverá capacitar
todas as pessoas a participar efetivamente de uma sociedade livre, favorecer a
compreensã o, a tolerâ ncia e a amizade entre todas as naçõ es e entre todos os grupos
raciais, étnicos ou religiosos e promover as atividades das Naçõ es Unidas em prol da
manutençã o da paz.
A proposta da política pú blica inclusiva do FIES é justamente permitir que os alunos que
nã o tenham condiçõ es de custear a universidade particular, possam cursá -la mediante
financiamento do Poder Pú blico, e, somente apó s dezoito meses da conclusã o da
graduaçã o, passem a pagar as parcelas deste financiamento.
Assim dispõ e o art. 1º, da Lei n. 10.260/2001:
Art. 1º É instituído, nos termos desta Lei, o Fundo de Financiamento Estudantil ( Fies), de
natureza contá bil, destinado à concessã o de financiamento a estudantes regularmente
matriculados em cursos superiores nã o gratuitos e com avaliaçã o positiva nos processos
conduzidos pelo Ministério da Educaçã o, de acordo com regulamentaçã o pró pria.
Mais adiante, a citada norma regulamenta o prazo de carência e a possibilidade de
financiamento total do curso:
Art. 4º Sã o passíveis de financiamento pelo Fies até 100% (cem por cento) dos encargos
educacionais cobrados dos estudantes por parte das instituiçõ es de ensino devidamente
cadastradas para esse fim pelo Ministério da Educaçã o, em contraprestaçã o aos cursos
referidos no art. 1o em que estejam regularmente matriculados.
Art. 5º Os financiamentos concedidos com recursos do FIES deverã o observar o seguinte:
IV – carência: de 18 (dezoito) meses contados a partir do mês imediatamente subsequente
ao da conclusã o do curso, mantido o pagamento dos juros nos termos do § 1º deste artigo.
Desse modo, resta evidente que os alunos que solicitam esse tipo de financiamento nã o
podem arcar com o custo de uma faculdade, sobretudo mensalidades altíssimas como sã o
as do curso da demandante, medicina.
Resta evidente que a demandante nã o pode ficar prejudicada em virtude de um erro do
Sistema do Fies que a impossibilitou de realizar o aditamento do semestre 2014.2, e,
consequentemente os demais, até porque se nã o realizar o pró ximo aditamento terá de
arcar com o valor elevado de R$XXX, corresponde a três semestres de mensalidades se
quiser continuar seu curso.
Nã o podem os estudantes serem prejudicados por omissõ es e falhas operacionais
atribuídas à demandada, existindo provas suficientes de que a demandante tentou resolver
o ocorrido por diversas vezes, seja no atendimento do FNDE, seja na Faculdade.
3.3. Dos atos ilícitos imputados ao demandado
Resta evidente, por conseguinte, que ó bices operacionais no sistema eletrô nico do FNDE
criaram empecilhos à confirmaçã o, por parte da demandada, dos aditamentos solicitados
pela (FACULDADE), bem como que o FNDE nã o adotou quaisquer medidas há beis a
reverter à situaçã o; pelo contrá rio, desconsiderou inú meras demandas formuladas pela
demandante e até mesmo pela instituiçã o de ensino, o que acarretou um enorme problema
à demandante que nã o conseguiu efetivar o seu aditamento, e, desde entã o, recebe
inú meros avisos da Faculdade nos quais consta que ela nã o poderá se matricular no
período seguinte e que terá que arcar com os custos dos semestres já cursados desde
2014.2, o que vem lhe gerando uma série de aborrecimento e um enorme constrangimento,
tendo em vista que a Faculdade quis, inclusive, obrigá -la a se matricular pessoalmente
bloqueando sua matrícula no site, e a orientando a levar algum comprovante de
ajuizamento de açã o judicial, o que só nã o ocorreu depois de muita insistência da
demandante.
3.4. Da regulamentaçã o administrativa do FIES
Insta salientar, ademais, que a pró pria regulamentaçã o interna do Ministério da Educaçã o,
especificamente o art. 25, da Portaria Normativa nº. 01/2010, do Ministério da Educaçã o,
prevê a possibilidade de prorrogaçã o do prazo para solicitaçã o dos aditamentos:
Art. 25. Em caso de erros ou da existência de ó bices operacionais por parte da instituiçã o
de ensino, da Comissã o Permanente de Supervisã o e Acompanhamento - CPSA, do agente
financeiro e dos gestores do Fies, que resulte na perda de prazo para validaçã o da inscriçã o,
contrataçã o e aditamento do financiamento, como também para adesã o e renovaçã o da
adesã o ao Fies, o agente operador, apó s o recebimento e avaliaçã o das justificativas
apresentadas pela parte interessada, deverá adotar as providências necessá rias à
prorrogaçã o dos respectivos prazos, observada a disponibilidade orçamentá ria do Fundo e
a disponibilidade financeira na respectiva entidade mantenedora, quando for o caso.
(Redaçã o dada pela Portaria Normativa nº 15, de 1º de julho de 2014). § 1º O disposto no
caput deste artigo se aplica quando o agente operador receber a justificativa do interessado
em até 180 (cento e oitenta) dias contados da data de sua ocorrência. (Incluído pela
Portaria Normativa nº 12, de 06 de junho de 2011).
Nessa ó tica, a Portaria n. 463/2010, que estabeleceu o prazo final de 30 de novembro de
2014 para solicitaçã o no sistema eletrô nico do aditamento do contrato referente semestre
2014.2, salienta, em seu artigo 2º, que:
Art. 2º – Os impedimentos à realizaçã o dos aditamentos de que trata esta Portaria,
decorrentes de ó bices operacionais nã o motivados pelo estudante financiado serã o
avaliados por este agente operador do FIES nos termos do art. 25 da Portaria Normativa
MEC n. 1, de 22 de janeiro de 2010.
Ou seja, a pró pria regulamentaçã o normativa da matéria, ao passo que admite a
possibilidade da existência de erros e ó bices operacionais à realizaçã o dos aditamentos,
admite a prorrogaçã o do prazo originariamente estipulado, a fim de nã o prejudicar os
alunos financiados, desde que estes nã o tenham dado causa a nã o-realizaçã o, como foi o
caso da demandante.
A respeito da nã o realizaçã o do aditamento, já resta evidenciado que a demandante tentou
realizá -lo sem sucesso por inú meras vezes, conforme comprova os “printscreen” das telas
no Sistema nã o deixando dú vidas acerca das diligências da demandante no sentido de
realizar seu aditamento, diligências essas, inclusive, que foram realizadas através de
telefonemas e abertura de demandas no site do FNDE, ainda no prazo do aditamento de
2014.2 e também nos seguintes, ou seja, nã o cabe de forma alguma qualquer tese que
alegue tipo de lapso ou falta de interesse da demandante.
3.5. Da jurisprudência dos Tribunais Pá trios
Os tribunais pá trios, notadamente o Tribunal Regional Federal da 5ª Regiã o, já tiveram
oportunidade de debruçar-se sobre casos semelhantes, reconhecendo que os alunos nã o
podem ser prejudicados por erros ou ó bices operacionais do sistema eletrô nico utilizado
para confirmaçã o do aditamento dos contratos. Neste sentido, seguem recentíssimas
decisõ es:
ADMINISTRATIVO. ENSINO SUPERIOR. MANDADO DE SEGURANÇA. UNIVERSIDADE.
PROGRAMA DE FINANCIAMENTO ESTUDANTIL ( FIES). FALHAS NO SISTEMA
INFORMATIZADO. MATRÍCULA. POSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. I.
Hipó tese em que a negativa de efetivaçã o de matrícula por razõ es falhas no sistema
informatizado do pró prio FIES se constitui em ato atentató rio ao princípio da razoabilidade
- notadamente tendo em vista o escopo só cio-educacional daquele programa, bem como o
status de dever do Estado de que se reveste a educaçã o, expressamente previsto na
Constituiçã o Federal (art. 205). II. Remessa oficial a que se nega provimento. (REOMS
0012202- 29.2014.4.01.3500 / GO, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL KASSIO NUNES
MARQUES, SEXTA TURMA, e-DJF1 p.2943 de 05/12/2014)
ADMINISTRATIVO. ENSINO SUPERIOR. AUSÊ NCIA DE ADITAMENTO DE CONTRATO DE
CRÉ DITO EDUCATIVO - FIES,
EM VIRTUDE DE FALHA NO SISTEMA DE INFORMÁ TICA DO FNDE. RENOVAÇÃ O DE
MATRÍCULA. POSSIBILIDADE. HONORÁ RIOS. MANUTENÇÃ O. 1. Apelaçã o interposta pelo
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educaçã o -FNDE, em face da sentença que julgou
procedente o pedido da Autora, autorizando que a mesma permanecesse assistindo à s
aulas e realizando provas do semestre regularmente, na Faculdade de Medicina Nova
Esperança -FAMENE, até que o FNDE regularizasse a sua situaçã o junto ao Sistema
Informatizado do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (SISFIES). 2.
Caso em que a Autora/Apelada alegou que estava impossibilitada de formalizar o
aditamento ao contrato de concessã o de financiamento de encargos educacionais, para o
período de 01/01 a 31/08/2012, em virtude de um erro existente no SISFIES mantido pelo
FNDE, segundo lhe informou a Comissã o Permanente de Supervisã o e Acompanhamento -
CPSA da FAMENE, nã o obstante a CEF tenha informado que o contrato estaria regular. 3. O
indício de que a pendência apontada decorre de inconsistência do sistema do Apelante
ganha relevo, na medida em que o FNDE retornou e-mail à Autora/Apelada, informando
que a demanda sobre o FIES teria sido encaminhada para aná lise da Diretoria de
Tecnologia da Informaçã o do Ministério da Educaçã o, e as mesmas telas anexadas à inicial
dã o conta de que a transferência do financiamento, referente ao 1º semestre de 2013
estaria disponível. 4. Ademais, a Caixa Econô mica Federal informou que o contrato da
Autora/Apelada encontra-se em perfeita normalidade. 5. Dessa forma, conclui-se que a
ausência de aditamento no contrato de financiamento estudantil se deu por circunstâ ncias
alheias à vontade da Autora/Apelada, pelo que nã o deve ela ser prejudicada. 6. Quanto aos
honorá rios advocatícios, à luz dos princípios da ponderaçã o e da razoabilidade, devem ser
mantidos no valor de R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais), a serem rateados entre o
FNDE e a FAMENE, tal como consignado na sentença. 7. Apelaçã o e Remessa Necessá ria
improvidas.(TRF-5 - REEX: 65237020124058200, Relator: Desembargador Federal
Geraldo Apoliano, Data de Julgamento: 25/02/2014, Terceira Turma, Data de Publicaçã o:
11/03/2014) CIVIL E ADMINISTRATIVO. ENSINO SUPERIOR. RENOVAÇÃ O DE
MATRÍCULA. INDEFERIMENTO PELA INSTITUIÇÃ O DE ENSINO SUPERIOR. FALTA DE
ADITAMENTO DE CONTRATO DE CRÉ DITO EDUCATIVO- FIES. PROBLEMAS ORIUNDOS
DOS SISTEMA SISFIES. PENDÊ NCIAS NÃ O IMPUTÁ VEIS À PARTE AUTORA. MORA
ACCIPIENDI. PRECEDENTES DESTE E. TRIBUNAL. APELAÇÃ O E REMESSA OFICIAL
IMPROVIDAS. 1. Como regra, nos termos das clá usulas tipo padronizadas para os contratos
de abertura de crédito para financiamento estudantil ( FIES), deve haver o aditamento
semestral do pacto, no período estabelecido pelo agente operador. 2. Inexistindo previsã o
de renovaçã o automá tica dos contratos, é possível o indeferimento da continuidade da
avença quando a nova matrícula é recusada, por exemplo, diante do inadimplemento
financeiro do aluno. 3. Nada obstante, atento ao fato de que, muitas vezes, nã o é o aluno o
responsá vel pelo entrave no aditamento do contrato, este e. Tribunal vem flexibilizando o
rigor da regra apontada, permitindo a matrícula em relaçã o a eventos que se caracterizem
como mora accipiendi, como ocorre quando nã o sã o feitos os repasses para a Instituiçã o de
Ensino pelo agente financiador, ou quando, como na hipó tese, o sistema de informá tica por
ele criado (SisFIES) nã o opera de modo eficiente, gerando pendências que impedem a
continuidade da avença 4. Apelaçã o e remessa oficial improvidas.(TRF-5 - REEX:
231820134058502, Relator: Desembargador Federal Bruno Leonardo Câ mara Carrá , Data
de Julgamento: 04/02/2014, Quarta Turma, Data de Publicaçã o: 13/02/2014)
No mais, cabe ressaltar que o mesmo problema ocorreu com diversos alunos, inclusive da
mesma turma que a demandante, que eu tiveram “sorte” do problema ser resolvido através
de da abertura de demandas perante do FNDE ou tiveram que impetrar mandados de
segurança ou ajuizar açõ es ordiná rias com pedido de tutela antecipada para conseguir
realizar seus aditamentos.
3.6 Do Dano Moral
Em decorrência dos erros no Sistema do Fies a demandante nã o realizou seu aditamento e,
consequentemente, a instituiçã o de ensino superior nã o recebeu seu repasse de verba
correspondente aos semestres de 2014.2 e 2015.1.
Por conta desse incidente, a (FACULDADE) passou a ligar insistentemente para a
demandante informando-a que teria de arcar com os custos dos semestres já cursados
desde 2014.2, tendo por inú meras vezes dito que a mesma nã o poderia se matricular.
Em um desses incidentes, inclusive, a instituiçã o de ensino informou que a demandante
precisaria realizar a matrícula pessoalmente, excluindo-a da matrícula “normal” que seria
realizada online, nesta mesma oportunidade orientou a demandante ou a pagar o débito ou
trazer algum comprovante de ajuizamento de açã o judicial, caso contrá rio nã o realizaria a
matrícula. Só apó s a demandante insistir de forma vexató ria que nã o teria condiçõ es de
arcar com aqueles custos, que nã o poderia ficar sem frequentar as aulas e, ainda, só apó s
encaminhar a resposta de uma das demanda que abriu no Sistema do FNDE, que fazia
mençã o a erros no sistema (DOC 15), a Faculdade entã o liberou sua matrícula.
Resta evidenciar que a demandante continua sendo cobrada pela Faculdade, mesmo tendo
informado que nã o causou o problema, tendo, inclusive, por diversas vezes aberto
demandas no sítio eletrô nico do FNDE com o auxílio dos funcioná rios da instituiçã o.
Como se nã o bastasse, a Faculdade já informou que caso a demandante nã o realize o
pró ximo aditamento sobre hipó tese alguma se matriculará sem pagar os débitos.
Deste modo, a demandante experimentou situaçã o constrangedora, pelas inú meras
cobranças que vem recebendo; angustiante, pois a cada cobrança é lembrada que caso nã o
pague a dívida será obrigada a deixar o curso; tendo sua moral abalada, porque mesmo
abrindo inú meras demandas no atendimento do FNDE, nenhuma teve uma resposta
satisfató ria que condissesse com os fatos que expunha, se tratando de meras respostas
automá ticas que nã o consideravam o enorme problema pelo qual a demandante vinha
passando por um erro que nã o deu causa, até porque, a mesma tentou de todas as formas
administrativas possíveis resolver o problema.
O certo é que até o presente momento, a demandante permanece sendo cobrada pela
instituiçã o de ensino e o FNDE nã o tomou nenhum posiçã o acerca dos problemas do
sistema.
O FNDE, atualmente, está agindo com manifesta negligência e evidente descaso com a
demandante, pois jamais respondeu de forma eficaz as demandas abertas.
Sua conduta, sem dú vida, causou enormes danos à demandante tanto no constrangimento
que é ser cobrada frequentemente ao longo de 18 (dezoito) meses, quanto a angustia que é
tentar resolver uma situaçã o que pode acarretar na perda de seu curso que, inclusive, já
está no final.
Desta forma, nã o tendo o FNDE buscado resolver os ó bices do Sistema para que a
demandante pudesse realizar seu aditamento, nã o pode a autarquia se eximir da
responsabilidade pela reparaçã o do dano causado, pelo qual responde. Neste sentido, a
Constituiçã o Federal de 1988, em seu art. 5º, inciso X, assegura o direito à indenizaçã o pelo
dano moral decorrente de violaçã o à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem das
pessoas.
Nessa esteira, resta evidenciado que a autarquia demandada, ao cometer ato negligente,
afrontou confessada e conscientemente o texto constitucional acima transcrito, bem como a
(faculdade), por realizar cobrança de maneira vexató ria seja pessoalmente ou pelos
inú meros telefonemas que fazia quase sempre para a demandante, sempre alertando a
possibilidade da nã o realizaçã o da matrícula, devendo, por isso, ambas serem condenadas à
respectiva indenizaçã o pelo dano moral sofrido pela demandante.
A demandante foi sujeitada a aguardar indefinidamente para ver regularizada sua situaçã o
e, consequentemente, para utilizar o financiamento que contratou, ficando impedida de
regularizar sua situaçã o financeira perante a instituiçã o de ensino superior e sendo
cobrada como se inadimplente fosse.
Diante do narrado, fica claramente demonstrado o absurdo descaso e negligência por parte
das demandadas, que permaneceram inertes mesmo diante das comprovaçõ es que a
demandante em nada contribuiu para a nã o realizaçã o dos aditamentos.
A ú nica conclusã o a que se pode chegar é a de que a reparabilidade do dano moral puro nã o
mais se questiona no direito brasileiro, porquanto uma série de dispositivos,
constitucionais e infraconstitucionais, garantem sua tutela legal.
Eis o teor dos seus artigos 186 e 927:
Art. 186. Aquele que, por açã o ou omissã o voluntá ria, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (art. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a
repará -lo.
Vale destacar o entendimento da sentença proferida na segunda Vara Federal de Canoas-RS
(Processo nº 5002268- 06.2014.4.04.7112):
“(...) Como disse, a situaçã o gerada impõ e ao estudante a angú stia que deve ser reparada.
Ainda, isso nã o é caso isolado, e vem se repetindo periodicamente. Logo, a indenizaçã o
pleiteada, além de vir a compensar o dano causado, visa a reprimir os erros
administrativos. Porém, nã o deve ela ser elevada, pois, ainda que tenha havido o aludido e
presumido dano, nã o é tamanho a ponto de gerar vultosa quantia. Dessa forma, fixo, a título
de indenizaçã o por danos morais, o valor de R$ 8.000,00 (oito mil reais) a ser pago pelo
FNDE em prol da Parte Autora.”
Eis a acepçã o de dano moral na jurisprudência do TRF 5ª Regiã o:
ADMINISTRATIVO E CONSTITUCIONAL. FIES. CEF. CONTRATO DE FINANCIAMENTO
ESTUDANTIL. CLAUSULA ILEGAL. ANULAÇÃ O. RESTABELECIMENTO DO CONTRATO.
DANO MORAL. CONFIGURAÇÃ O. - É da competência, tã o-só , do Ministério da Educaçã o e
Cultura a ediçã o de normas regulamentares sobre os casos de encerramento do contrato e
de fixaçã o de exigências de desempenho acadêmico, para manutençã o do financiamento
estudantil criado pela Lei
nº 10.260/2001. - A CEF, em substituiçã o ao ente pú blico, na qualidade de operadora e
administradora dos ativos e passivos do FIES, nã o pode fixar condiçõ es ao estudante-
contratado quando a lei nã o as prevê, em respeito a um dos princípios norteadores da
Administraçã o Pú blica, qual seja, o da legalidade, consoante preconiza o art. 37 da
Constituiçã o Federal. - É nula, portanto, a clá usula constante do contrato de financiamento,
na qual se estabeleça condiçã o nã o prevista na lei de regência, devendo a autora ser
readmitida no mencionado programa de financiamento estudantil. - O dano moral se
encontra devidamente caracterizado, na medida em que, com o cancelamento ilegal do
contrato de financiamento, ficou a autora praticamente impossibilitada de dar
continuidade aos seus estudos, por falta de condiçõ es financeiras para efetuar o pagamento
das mensalidades do curso em que se achava matriculada. - Apelaçã o provida.(AC
200781000003866, Desembargador Federal Lazaro Guimarã es, TRF5 - Quarta Turma, DJ -
Data::16/06/2008 - Pá gina::301 - Nº::113.)
Diante do exposto, requer a condenaçã o das demandadas no pagamento da quantia de R$
10.000,00 (dez mil reais) a título dos danos morais sofridos pela demandante.
4. DO PEDIDO DE ANTECIPAÇÃ O DE TUTELA
De acordo com o artigo 273, CPC, temos que:
Art. 273. O juiz poderá , a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos
da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença
da verossimilhança da alegaçã o e:
I - haja fundado receio de dano irrepará vel ou de difícil reparaçã o;
(...) § 7o Se o autor, a título de antecipaçã o de tutela, requerer providência de natureza
cautelar, poderá o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida
cautelar em cará ter incidental do processo ajuizado.
A verossimilhança do direito está consubstanciada na comprovaçã o de que a demandante
nã o conseguiu efetuar a confirmaçã o dos aditamentos no sistema eletrô nico do FNDE em
razã o de falhas técnicas, as quais foram devidamente registradas mediante “print screen”
das telas do sítio eletrô nico do Ministério da Educaçã o em anexo. Tais falhas, aliá s, além de
expressamente reconhecidas pela instituiçã o de ensino, foram amplamente divulgadas em
todo país (DOC 16).
Noutra banda, o risco de ineficá cia da medida é gritante, haja vista que, em face do nã o-
aditamento do financiamento pela terceira vez consecutiva, o Fies da demandante será
considerado cancelado e para realizar a matrícula do pró ximo semestre terá que pagar a
quantia elevada de R$XXX, correspondente aos de semestres de 2014.2, 2015.1 e 2015.2
(aditamento atual), obrigando a demandante a abandonar o curso, pois nã o dispõ e dessa
quantia.
Tal exigência cria obstá culo intransponível à permanência no curso e, por conseguinte, a
conclusã o da graduaçã o, pois além de pagar a quantia de R$XXX, teria ainda de arcar com
uma mensalidade no valor de R$XXX valor da mensalmente atual.
De outro giro, a tutela específica da obrigaçã o de fazer ou de nã o fazer tem previsã o no art.
461, do CPC, vejamos:
Art. 461. Na açã o que tenha por objeto o cumprimento de obrigaçã o de fazer ou nã o fazer, o
juiz concederá a tutela específica da obrigaçã o ou, se procedente o pedido, determinará
providências que assegurem o resultado prá tico equivalente ao adimplemento.
Sendo assim, presentes os requisitos legais necessá rios à obtençã o de medida liminar de
antecipaçã o dos efeitos prá ticos da tutela, requer:
a) Que seja deferida, inaudita altera pars, medida liminar, no sentido de antecipar os efeitos
da tutela e determinar ao FNDE que proceda, no prazo de 48h (quarenta e oito horas), à
reabertura do sistema eletrô nico necessá rio ao aditamento do contrato do FIES da
demandante referente ao período de 2014.2 e 2015.1, para que, apó s realizar os
aditamentos citados possa realizar o aditamento referente ao semestre de 2015.2, cujo
prazo de encerra em 30 de novembro de 2015 (DOC.), sob pena de multa diá ria no importe
de R$ 1.000,00 (mil reais);
b) Que seja deferida, inaudita altera pars, medida liminar, no sentido de que a
(FACULDADE) se abstenha de negar a matrícula a demandante e de exigir o pagamento do
valor dos semestres nã o aditados até decisã o final desse Juízo, sob pena de multa diá ria no
importe de R$ 1.000,00 (mil reais);
5. DOS PEDIDOS
Diante do exposto, presentes os requisitos legais necessá rios à obtençã o da medida liminar
de antecipaçã o de efeitos da tutela, REQUER:
a) O deferimento dos benefícios da justiça gratuita;
b) Que seja deferida, inaudita altera pars, medida liminar, no sentido de antecipar os efeitos
da tutela e determinar ao FNDE que proceda, no prazo de 48h (quarenta e oito horas), à
reabertura do sistema eletrô nico necessá rio ao aditamento do contrato do FIES da
demandante referente ao período de 2014.2 e 2015.1, para que, apó s realizar os
aditamentos citados possa realizar o aditamento referente ao semestre de 2015.2, cujo
prazo de encerra em 30 de novembro de 2015 (DOC.), sob pena de multa diá ria no importe
de R$ 1.000,00 (mil reais);
c) Que seja deferida, inaudita altera pars, medida liminar, no sentido de que a
(FACULDADE) se abstenha de negar a matrícula a demandante e de exigir o pagamento do
valor dos semestres nã o aditados até decisã o final desse Juízo, sob pena de multa diá ria no
importe de R$ 1.000,00 (mil reais);
d) Apó s, sejam citados os demandados, na forma da Lei;
e) Quanto ao mérito, requer a confirmaçã o da medida liminar, julgando procedente a
demanda e tornando definitiva a tutela antecipada no sentido de reabertura do sistema
para realizaçã o dos aditamentos de 2014.2 e 2015.1, para que a demandante possa realizar
o aditamento de 2015.2 que se encerra em 30 de novembro de 2015 (DOC 17), e a efetiva
matrícula do semestre de 2016.1.
f) Que seja deferido o pedido de danos morais no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais);
g) Que as demandadas sejam condenadas ao pagamento de honorá rios advocatícios
sucumbenciais no montante de 20% sobre o valor da causa.
Protesta, ademais, pela produçã o de todas as provas admissíveis em Direito, notadamente a
juntada de novos documentos, prova pericial, depoimento pessoal e oitiva de testemunhas.
Dá -se à causa o valor de: R$ XXX, correspondente aos 18 (dezoito) meses de mensalidade
em aberto mais o valor do dano moral.
Nestes termos.
Pede deferimento.
Recife, de novembro de 2015.

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