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Justiça Federal da 1ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

28/06/2023

Número: 1048277-78.2022.4.01.3400
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 21ª Vara Federal Cível da SJDF
Última distribuição : 28/07/2022
Valor da causa: R$ 523.260,00
Assuntos: Fies
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
GIANNE BARBARA DE ALVARENGA (AUTOR) HENRIQUE RODRIGUES DE ALMEIDA (ADVOGADO)
FUNDO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA
EDUCACAO (REU)
UNIÃO FEDERAL (REU)
CAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEF (REU) LEONARDO FALCAO RIBEIRO registrado(a) civilmente
como LEONARDO FALCAO RIBEIRO (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
14603 20/01/2023 10:03 Apelação Apelação
40874
ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-GERAL DA UNIÃO
PROCURADORIA-REGIONAL DA UNIÃO DA 1ª REGIÃO
NÚCLEO GESTOR (PRU1R/CORESP/NUG)
SETOR DE AUTARQUIAS SUL - QUADRA 3 - LOTE 5/6, ED. MULTI BRASIL CORPORATE - BRASÍLIA-DF - CEP 70.070-030

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) JUIZ(A) DO(A) 21ª VARA FEDERAL CÍVEL DA SJDF

NÚMERO: 1048277-78.2022.4.01.3400
RECORRENTE(S): UNIÃO
RECORRIDO(S): GIANNE BARBARA DE ALVARENGA E OUTROS

UNIÃO, pessoa jurídica de direito público, representado(a) pelo membro da Advocacia-


Geral da União infra assinado(a), vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, interpor

RECURSO DE APELAÇÃO

contra a sentença proferida pelo Juízo a quo, requerendo, após o cumprimento das
formalidades descritas em lei, a remessa ao Egrégio Tribunal Regional Federal da 1ª Região, das razões
do presente recurso.

Nestes termos, pede deferimento.

Brasília, 20 de janeiro de 2023.

EWERTON MARCUS DE OLIVEIRA GOIS


ADVOGADO DA UNIÃO

RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO

COLENDA TURMA,
EGRÉGIOS DESEMBARGADORES FEDERAIS,

I. DA TEMPESTIVIDADE

Cumpre ressaltar, por cautela, que a presente apelação está sendo apresentada dentro do

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prazo previsto no art. 1009 do CPC, pois a União foi intimada da sentença em 20.01.2023 através de
confirmação de intimação no Sistema PJe, iniciando-se o prazo no primeiro dia útil subsequente. O prazo
para apelar é de 30 (trinta) dias úteis, eis que a União possui a prerrogativa de prazo em dobro para se
manifestar, ex vi do disposto no art. 183 do CPC. Tem-se, então, por inequívoca, a tempestividade da
presente defesa.

II. RESUMO DA DEMANDA

Trata-se de ação objetivando a concessão de financiamento estudantil (FIES) sem a


necessidade de respeitar a exigência da nota mínima no ENEM calculada para o curso de sua escolha,
conforme estabelecido nos atos administrativos que regulamentaram o art. 3ª, §3º, I, da Lei nº 10.260/01.

A sentença fora assim lançada:

Por isso, revendo posição anterior, CONCEDO A TUTELA LIMINAR requerida e


JULGO PROCEDENTE A AÇÃO para assegurar à parte demandante o direito à
imediata concessão do financiamento estudantil na forma requerida na peça
vestibular, caso atendidos os demais requisitos.
Pela via reflexa, considerando que o ato normativo que embasou a negativa
combatida nos autos é de responsabilidade exclusiva do FUNDO NACIONAL DE
DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO (FNDE), caberá a ele arcar com o
pagamento integral da verba honorária sucumbencial, a qual fica arbitrada em 10%
sobre o valor da causa.

Merece reforma, como restará demonstrado.

III. DO MÉRITO RECURSAL

DO FUNDO DE FINANCIAMENTO ESTUDANTIL - FIES

O Fundo de Financiamento Estudantil tem natureza contábil e foi criado com o objetivo de
conceder financiamento a estudantes regularmente matriculados em cursos superiores não gratuitos, com
avaliação positiva nos processos conduzidos pelo MEC e ofertados por instituição de educação superior
privada aderente ao Fundo.

Além da sua finalidade imediata de concessão de financiamento a estudantes regularmente


matriculados em cursos superiores não gratuitos, o Fies é importante ferramenta de indução de políticas
para ampliação do acesso ao ensino superior, e, sobretudo, um dos principais meios de alcançar o
cumprimento da Meta 12 do Plano Nacional de Educação (PNE) - que estabelece que a taxa bruta de
matrícula da educação superior deve ser elevada para 50% e a taxa líquida para 33% até 2024.

Em um primeiro momento, é urgente destacar que, a atual redação conferida ao caput do


art. 1º da Lei nº 10.260/01, pela Lei nº 13.530/17, dispensa a matrícula do estudante no curso para o qual
pleiteia uma vaga, uma vez que, o acesso à educação superior por meio do Fies dá-se a partir do primeiro
semestre de 2018 única e exclusivamente por meio de processo seletivo:

Art. 1º É instituído, nos termos desta Lei, o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), de
natureza contábil, vinculado ao Ministério da Educação, destinado à concessão de financiamento a
estudantes de cursos superiores não gratuitos e com avaliação positiva nos processos conduzidos pelo
Ministério, de acordo com regulamentação própria.

A se observar a concessão de um pedido judicial por fatos como alegados pela parte autora,

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criar-se-á o entendimento de que, basta que, o estudante esteja matriculado no curso para o qual objetiva
o financiamento público ao arrepio de todo o disposto na Lei nº 10.260/01, além da competência do
Ministério da Educação para realizar os processos seletivos com o fim de selecionar os estudantes aptos a
contratar o financiamento público, além de não observar a decisão exarada na Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 341/DF, pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Por essas razões, e com fulcro no princípio da legalidade, da isonomia, da impessoalidade,


da publicidade, deve prevalecer o disposto na Lei nº 10.260/01, e que, o acesso à educação superior
ocorra por meio dos processos seletivos do Fies.

Em relação à exigência de que, o candidato tenha participado do Enem a partir da edição de


2010 e obtido média aritmética das notas nas provas igual ou superior a 450 (quatrocentos e cinquenta)
pontos e nota na redação superior a zero nos processos seletivos do Fies a partir do primeiro semestre de
2018, esta tem fundamento no artigo 37 da Portaria MEC nº 209, de 7 de março de 2018, que
regulamenta os processos seletivos do Fies a partir do primeiro semestre de 2018:

Art. 37. As inscrições para participação no processo seletivo do Fies e do P-Fies


serão efetuadas exclusivamente pela Internet, em endereço eletrônico, e em período
a ser especificado no Edital SESu, devendo o estudante, cumulativamente, atender
as condições de obtenção de média aritmética das notas no Enem e de renda
familiar mensal bruta per capita a serem definidas na Portaria Normativa do MEC a
cada processo seletivo.
§ 1º Compete exclusivamente ao estudante certificar-se de que cumpre os requisitos
estabelecidos para concorrer no processo seletivo de que trata o caput, observadas
as vedações previstas no § 4º do art. 29 desta Portaria.
§ 2º A participação do estudante no processo seletivo de que trata esta Portaria
independe de sua aprovação em processo seletivo próprio da instituição para a qual
pleiteia uma vaga.
§ 3º A oferta de curso para inscrição na modalidade Fies não assegura existência de
disponibilidade orçamentária ou financeira para o seu financiamento, a qual somente
se configurará por ocasião da conclusão da inscrição do estudante.
§ 4º A inscrição para financiamento na modalidade P-Fies está condicionada à
disponibilidade orçamentária e financeira das fontes de recursos utilizadas de que
trata o art. 15-J da Lei nº 10.260, de 2001. (grifamos)

Oportuno destacar que, o número de vagas a serem ofertadas nos processos seletivos
do Fies, nomeadamente após o segundo semestre de 2015, e especialmente após as alterações
introduzidas pelo art. 5º-C da Lei nº 10.260/01, para as contratações do financiamento do Fies a
partir do primeiro semestre de 2018, não são ilimitadas, em razão da disponibilidade orçamentária
referente ao programa, o que tornou necessária a adoção de uma nova metodologia e regras de ocupação
das oportunidades de financiamento dos estudantes de graduação que ora se prestam os devidos
esclarecimentos.

De fato, a adoção de critérios de qualidade para acesso ao Fies, de forma a oportunizar o


financiamento com recurso público, o qual deve ser utilizado na defesa do interesse coletivo, significa,
inclusive, a aferição de qualidade pela comparação de desempenho dos estudantes que se candidatam a
esta oportunidade, como bem dispõe a decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) - Arguição
de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 341/DF - que chancela a utilização do Enem para
fins de pré-seleção de candidatos para financiamento pelo Fies, é essencial para a correta destinação dos
fundos públicos.

Ademais, nos termos do supracitado inciso I do § 1º do art. 3º da Lei nº 10.260/01, o


Ministério da Educação, nos termos do que for aprovado pelo CG-Fies, possui a competência legal para
editar regulamento sobre as regras de seleção de estudantes a serem financiados, devendo ser

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considerados a renda familiar per capita e outros requisitos, e as regras de oferta de vagas, o que
ocorreu por meio da edição da retromencionada Portaria MEC nº 209, de 2018.

DO PROCESSO SELETIVO DO FIES

Dada a limitação de cem mil vagas anuais definidas no Plano Trienal do Comitê Gestor do
Fies (CG-Fies) para o Fies, e considerando que a oferta de vagas pelas mantenedoras de IES é bastante
maior do que esse número, faz-se necessária a definição pelo Ministério da Educação de critérios
objetivos para definição de distribuição dessas vagas na modalidade Fies e de universo de concorrência
em que os estudantes se inscreverão para, a partir da sua nota no Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem), serem pré- selecionados a partir das opções de curso que indicarem no grupo de preferência e da
disponibilidade de vagas no referido grupo de preferência e nos cursos indicados como opção. Para
compreensão, seguem abaixo, os passos a serem dados até a contratação do financiamento. Senão
vejamos:

DA INSCRIÇÃO DOS CANDIDATOS

Os candidatos interessados em se inscrever no referido processo seletivo do Fies deveriam


atender, cumulativamente, as seguintes condições, constantes do art. 11 da Portaria MEC nº 38, de 22 de
janeiro de 2021 (http://portalfies.mec.gov.br/arquivos/portaria_38_22012021.pdf), ou seja:

1. ter participado do Enem, a partir da edição de 2010;


2. ter obtido média aritmética das notas nas cinco provas igual ou superior a quatrocentos e
cinquenta pontos e nota na prova de redação superior a zero; e
3. possuir renda familiar mensal bruta per capita de até três salários mínimos, nos termos do
art. 5º-C da Lei nº 10.260, de 2001.

Como já informado, em relação à exigência de que o candidato tenha participado do Enem


a partir da edição de 2010 e obtido média aritmética das notas nas provas igual ou superior a 450
(quatrocentos e cinquenta) pontos e nota na redação superior a zero, esta tem fundamento no artigo 37 da
Portaria MEC nº 209, de 7 de março de 2018, sendo perfeitamente legal em razão da decisão proferida no
âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF) pelo eminente Ministro Luís Roberto Barroso, relator da
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 341/DF.

O candidato interessado em se inscrever na modalidade de financiamento por meio do Fies


(arts. 1º ao 6º da Lei nº 10.260/01) deve possuir renda familiar mensal bruta per capita de até 3 (três)
salários mínimos, sendo que ao se inscrever no processo seletivo, o candidato deve selecionar, dentro de
um agrupamento de cursos pela combinação de mesorregião, subárea mais conceito no Sinaes dos
cursos que compõem o que se denomina grupo de preferência, até 3 (três) opções de curso, elencadas
em ordem de prioridade, conforme descrevem os arts. 12 e 16 da Portaria MEC nº 38, de 2021.

DA CLASSIFICAÇÃO E DA PRÉ-SELEÇÃO NO FIES:

Encerrado o período de inscrição ao processo seletivo do Fies, os candidatos são


classificados em ordem decrescente de acordo com as notas obtidas no Enem, na opção de vaga para a
qual se inscreveram, observada a disposição constante do § 6º do art. 1º da Lei nº 10.260/01, o qual
determina que o financiamento com recursos do Fies será destinado prioritariamente a estudantes que não
tenham concluído o ensino superior e não tenham sido beneficiados pelo financiamento estudantil, vedada
a concessão de novo financiamento a estudante em período de utilização de financiamento pelo Fies ou
que não tenha quitado financiamento anterior pelo Fies ou pelo Programa de Crédito Educativo, conforme
se depreende do art. 17, da Portaria MEC nº 38, de 2021.

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Ocorrida a classificação dos candidatos inscritos, o Fies Seleção procede à pré-seleção dos
candidatos no grupo de preferência para o qual se inscreveram, observada a ordem de classificação, a
opção de cursos feita pelos candidatos pré- selecionados e o limite de vagas disponíveis em cada
curso/turno de cada instituição participante, nos termos do art. 18 da Portaria MEC nº 38, de 2021:

Art. 18. O candidato será pré-selecionado na ordem de sua classificação, nos termos
do art. 17, observado o limite de vagas disponíveis, conforme as definições, os
procedimentos e os prazos previstos no Edital SESu.
Art. 19. O resultado do processo seletivo será divulgado em uma única chamada
pela SESu/MEC, em data estabelecida no Edital SESu.
Art. 20. A pré-seleção do candidato, na chamada única ou em lista de espera,
assegura apenas a expectativa de direito a uma das vagas para as quais se
inscreveu e foi pré-selecionado no processo seletivo do Fies de que trata esta
Portaria, estando a contratação do financiamento condicionada à observância do art.
21 desta Portaria e ao cumprimento de demais regras e procedimentos constantes
dos demais normativos do Fies.

Destaca-se que, como em qualquer processo seletivo, a pré-seleção dos candidatos


assegura apenas a expectativa de direito às vagas para as quais se inscrevam no processo seletivo do
Fies, sendo que a contratação do financiamento se condiciona à complementação da inscrição
no FiesSeleção, com o preenchimento de dados sobre garantia e agente financeiro escolhido, e ao
cumprimento das demais regras e procedimentos desta modalidade de financiamento, inclusive a
conferência pela CPSA das IES dos documentos que comprovam as informações prestadas na inscrição e
demais requisitos a serem atendidos nos agentes financeiros.

DA CONCLUSÃO DA INSCRIÇÃO NO FIES PARA CONTRATAÇÃO DO


FINANCIAMENTO:

Os candidatos pré-selecionados na modalidade de financiamento pelo Fies devem


reingressar no FiesSeleção para complementar a inscrição, com o preenchimento de informações e dados
sobre garantias e escolhas do agente financeiro, para regular trâmite da contratação do financiamento do
programa, sendo as próximas etapas a análise documental e cadastral pela CPSA das IES e pelo agente
financeiro indicado, constituindo essas duas últimas etapas competências do agente operador do Fies,
visto que o objetivo do processo seletivo é de apenas pré selecionar os estudantes na modalidade Fies
aptos a dar prosseguimento aos procedimentos de contratação do programa.

DA PARTICIPAÇÃO DOS CANDIDATOS EM LISTA DE ESPERA:

Esclarece-se que o art. 22 da Portaria MEC nº 38, de 2021, dispõe de regras claras acerca
da participação do candidato em lista de espera. De fato, a lista de espera é utilizada para fins de
preenchimento das vagas eventualmente não ocupadas na chamada regular, sendo que os candidatos
somente poderão ser pré selecionados em lista de espera à medida que haja vagas disponíveis nos
grupos de interesse e nos cursos de opção ou até prazo previsto em edital SESu. Portanto, a participação
na referida lista de espera assegura apenas a expectativa de direito de ser pré-selecionado às vagas para
as quais o candidato tenha se inscrito, estando a pré seleção em lista de espera condicionada aos
procedimentos e prazos previstos no Edital SESu.

CONCLUSÃO

Diante de todos os esclarecimentos acima narrados, urge concluir que, apesar de a parte
autora alegar situação de hipossuficiência, todos os candidatos que se inscreveram para uma vaga na
educação superior por meio do Fies encontram-se em situação igual ou inferior à dela, não sendo esse o
único critério legal a determinar o direito à participação no FIES.

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Pontua-se ainda que, como devidamente esclarecido, a obtenção de média mínima de
notas no Enem e de observância ao limite de renda constituem critérios para a inscrição aos processos
seletivos, como se observa do disposto supracitado no art. 37 da Portaria MEC nº 209, de 7 de março de
2018, que dispõe sobre o Fies a partir do primeiro semestre de 2018.

Salienta-se, ainda, que, a aprovação do estudante para acesso à educação superior por
meio de vestibular da instituição não guarda qualquer relação com os processos seletivos do Fies, como
anteriormente esclarecido, visto que a Lei nº 10.260/01, não exige do estudante aprovação em vestibular
da instituição, visto que o acesso à educação superior por meio do Fies se dará por meio de processo
seletivo a ser realizado pelo Ministério da Educação, consubstanciado em seu inciso I do § 1º do art. 3º.

Como todo processo seletivo, existe um número de vagas a serem ofertadas por curso e
turno pelas instituições. A mesma lógica é observada nos processos seletivos do Fies, em que além de ser
necessário ter em consideração o número de vagas que cada mantenedora de instituição informou em seu
Termo de Participação, os recursos do Fundo são também limitados.

É por essa razão que, para que o candidato obtenha a vaga e o financiamento estudantil do
Fies, ele deve ser classificado em ordem decrescente de acordo com as notas obtidas no Enem, na opção
de vaga para a qual se inscreveu, e será pré- selecionado na ordem de sua classificação, observado o
limite de vagas disponíveis no curso e turno para o qual se inscreveu.

Assim, não tendo a parte autora logrado alcançar a posição dentro das vagas ofertadas, não
há como deferir o seu pleito, sob pena de se violar os princípios constitucionais, previstos no art. 37 da
Magna Carta, norteadores da atuação da administração publica.

Reforça-se o disposto no inciso V do art. 208 da Constituição Federal, que determina que, o
acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, dar-se-á segundo a
capacidade de cada um.

Neste sentido, veja-se a ementa do seguinte precedente do eg. Tribunal Regional Federal
da 1ª Região:

ENSINO SUPERIOR. FIES. PORTARIA NORMATIVA MEC Nº 25, DE 28.07.2017.


CONTRATO CELEBRADO APÓS 29.03.2015. APLICAÇÃO. DESCUMPRIMENTO
DE REQUISITO. NOTA NO ENEM.
1. Trata-se de apelação de sentença que indeferiu pedido de Financiamento
Estudantil (FIES). Considerou-se que o Superior Tribunal de Justiça já sedimentou o
entendimento de que `o estabelecimento de condições para a concessão do
financiamento do FIES insere-se no âmbito da conveniência e oportunidade da
Administração, e, portanto, não podem ser modificados ou afastados pelo Judiciário,
sendo reservado a este Poder apenas o exame da legalidade do ato administrativo,
sendo-lhe defesa qualquer incursão no mérito administrativo (MS 20.074/DF, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, DJe 1°/7/2013).
2. Negada participação da autora no processo seletivo para o FIES e P-FIES, no
segundo semestre de 2018, ao fundamento de que a candidata não tem nota mínima
no Enem para tal fim.
3. Jurisprudência deste Tribunal, em caso semelhante: 1. O artigo 3º da Portaria
Normativa MEC nº 21/2014, que trouxe significativas alterações ao art. 19 da Portaria
Normativa MEC nº 10/2010, introduziu novas exigências para admissão ao FIES,
reputadas plenamente aplicáveis aos contratos celebrados a partir de 29 de março
de 2015. Precedente do Supremo Tribunal Federal na ADPF nº 341-MC/DF. 2. Não
se constitui ofensa a direito adquirido ou a segurança jurídica a instituição de novas
regras, pertinente à pontuação média de 450 pontos e nota superior a zero em

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redação, referente ao ENEM, como critério condicionante para obtenção do
financiamento estudantil. 3. Afasta-se a aplicação das condicionantes às solicitações
de inscrição ao FIES formuladas até a entrada em vigor da Portaria Normativa nº
21/2014, em 30 de março de 2015, bem como para os casos de renovação
contratual (TRF1, AC 0014892-06.2015.4.01.3400, Rel. Desembargadora Federal
Daniele Maranhão Costa, 5T, e-DJF1 30/04/2018).
4. Negado provimento à apelação.
5. Majorada a condenação da apelante em honorários advocatícios, de 10% (dez por
cento) para 12% (doze por cento) sobre o valor atualizado da causa, nos termos do
art. 85, § 11, do Código de Processo Civil, ficando suspensa a exigibilidade em razão
de deferimento do pedido de justiça gratuita (CPC, art. 98, § 3º).
(AC 1023230-44.2018.4.01.3400, DESEMBARGADOR FEDERAL JOÃO BATISTA
MOREIRA, TRF1 - SEXTA TURMA, PJe 16/03/2022 PAG., grifos acrescidos)

Portanto, não se deve confundir "critérios de inscrição" com "critérios de classificação e


pré-seleção". De outro modo, todo e qualquer candidato que se inscrevesse a qualquer processo seletivo
seja para acesso à educação superior, seja em concursos para ingresso de pessoas no serviço público
teria garantida uma vaga. No entanto, para que de fato seja efetivo qualquer acesso, é necessário que se
observe e obedeça os critérios de classificação

Ante o exposto, requer a reforma da sentença ora recorrida.

IV. PEDIDO DE EFEITO SUSPENSIVO APELAÇÃO

A inteligência do art. 1012, §4° do CPC demonstra que a eficácia da tutela antecipada
concedida em sentença poderá ser suspensa desde que o apelante demonstre a probabilidade de
provimento do recurso ou , sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil
reparação.
Admite-se, desta feita, a revogação de tutela concedida em sentença tanto por uma questão
de evidência jurídica ou por urgência caracterizada pelo risco de dano grave.
Art. 1.012. A apelação terá efeito suspensivo.
§ 3o O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do § 1o poderá ser
formulado por requerimento dirigido ao:
I - tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua
distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-la;
II - relator, se já distribuída a apelação.
§ 4o Nas hipóteses do § 1o, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator
se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo
relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação.
A relevância da fundamentação (probabilidade de provimento do recurso) da apelação
evidencia-se à luz de todo o exposto neste recurso. Sem dúvida, a argumentação apresentada no
presente recurso demonstra, à exaustão, que a decisão recorrida não merece ser cumprida de imediato.
Ademais, faz-se presente o perigo da irreversibilidade do provimento antecipatório, se
mostrando indiscutível a dificuldade que terá a União em buscar o ressarcimento das quantias percebidas,
acaso a tutela condida não seja alvo de efeito suspensivo.
Deste modo, é patente a possibilidade de lesão grave e de difícil reparação da decisão ora
atacada, pois o referido decisum impõe prejuízo iminente à Administração.
Assim é que se impõe a imediata suspensão do provimento de urgência ora atacado,
atribuindo-se efeito suspensivo a presente apelação nos termos do art.1012, §3°e 4°.

V. DO PEDIDO

Pelo exposto, a União requer que esse Egrégio Tribunal Regional Federal da 1ª Região,
após regular processamento, conheça do presente recurso de apelação, concedendo o efeito suspensivo
pleiteado pela União, e ao final dê-lhe PROVIMENTO para reformar a sentença nos termos destas razões

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recursais, julgando os pedidos do autor improcedentes e invertendo o ônus de sucumbência.

Nestes termos, pede deferimento.

Brasília, 20 de janeiro de 2023.

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