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AO JUÍZO DA __ VARA FEDERAL CÍVEL DA SEÇÃO JUDICIÁRIA DE SÃO

LUÍS - MARANHÃO

Pedido de liminar

ISADORA MACATRÃO COSTA, brasileira, solteira, estudante, portadora do RG


nº 027505822004-7, e do CPF nº 055.929.143-42, residente e domiciliada na Rua dos
Colibris, nº 8, casa 1, condomínio Atlantic Village, bairro Olho D’água, São
Luís/MA, vem, muito respeitosamente à presença deste Juízo, por meio de seus
advogados – procuração em anexo, IMPETRAR:

MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO DE LIMINAR

contra ato ilegal de ISABEL IBARRA CABRERA, pró-reitora de ensino da


Universidade Federal do Maranhão, com sede na Cidade Universitária Dom
Delgado, Avenida dos Portugueses, n.º 1966, Bacanga, São Luís – MA. CEP:
65080-805. Atende pelo telefone (98) 3272-8731.

DOS FATOS

ISADORA MACATRÃO COSTA, ora Autora do presente Mandado de Segurança, é


acadêmica do 7º período de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(documentação em anexo). Com a publicação do Edital de Processo Seletivo n.º
96/2022 pela Pró-reitoria de Ensino da Universidade Federal do Maranhão, se
candidatou a ocupar uma das três vagas disponíveis ao Curso de Medicina, Campus
Pinheiro, na modalidade transferência externa.

O certame fora dividido em duas etapas: a) na primeira, de caráteres eliminatório e


classificatório, obtida através da média aritmética das quatro áreas do conhecimento e
da Redação relacionadas pelo Exame Nacional do Ensino Médio, em um dos anos
entre 2009 e 2021, a ser escolhido pelo candidato; e b) na segunda e última, de
caráter eliminatório, de análise documental, onde se verificaria os requisitos exigidos
em pré-matrícula.

De acordo com o cronograma afixado ao Anexo I do referido edital, o Resultado


Geral Classificatório junto da Lista de Convocação para Envio de Documentos à Pré-
matrícula, de competência da Pró-reitoria de Ensino, deveriam ser publicados em 19
de Setembro. Ocorre que a primeira foi publicada apenas em 21 de Setembro,
enquanto a última foi às últimas horas da noite do dia 19.

Os dias 20 e 21 de Setembro seriam reservados ao envio de documentação à pré-


matrícula, segundo o cronograma fixado pelo Edital 96/2022 – PROEN-UFMA, ao
Anexo I. A documentação específica deveria ser entregue com a assinatura do
declarante – isto é, do Chefe de Departamento ou Coordenador do curso de origem do
candidato, conforme item 9.5 do certame:
Conforme lista acostada ao documento Resultado Geral Classificatório, publicado
apenas em 21 de Setembro, das 111 candidaturas deferidas à realização de
transferência externa ao Curso de Medicina, a Autora alcançou a terceira posição –
tendo sido classificada à seguinte etapa, isto é, ao envio de documentação para se
realizar a pré-matrícula:
Segundo o Edital em comento, a convocação seria única, independentemente de
posterior eliminação de candidato, ou seja, a Universidade assumiu a possibilidade de
continuar com vagas em aberto. Em 23 de Setembro, a Pró-reitoria de Ensino da
Universidade Federal do Maranhão tornou público o indeferimento da pré-matrícula
de todos os candidatos classificados ao Campus – Pinheiro:

A pré-matrícula da Autora foi indeferida pela Pro-reitoria de Ensino da Universidade


Federal do Maranhão pelos motivos alegados a seguir:

a) Estaria cursando disciplinas do primeiro e dos últimos dois


períodos do curso de Psicologia da Universidade Federal do Rio
de Janeiro;
b) O curso de Psicologia não guarda afinidade com os cursos
da área da saúde;
c) Não ter apresentado declaração de regularização junto ao
Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes – ENADE;
d) Ausência de Declaração da Coordenação do curso de
origem atestando ter cumprido todos os componentes
obrigatórios para o primeiro semestre letivo;
e) Ausência de comprovação de regularidade do curso de
origem; e
f) A Aluna apresentou em lugar dos documentos ausentes,
boletins não oficiais.

No mais, se destaca que o 2º semestre letivo da Universidade Federal do Maranhão


teve início em 5 de Setembro de 2022, isto é, há mais de 3 semanas.

É a súmula dos fatos.

PRELIMINAR DE JUSTIÇA GRATUITA

Em Acesso à Justiça, Mauro Cappelletti e Bryan Garth ensinam que, para além do
tempo e do tecnicismo, há um severo obstáculo econômico entre cidadão e Poder
Judiciário:

“A resolução formal de litígios, particularmente nos tribunais, é muito


dispendiosa na maior parte das sociedades modernas. Se é certo que o
Estado paga os salários dos juízes e do pessoal auxiliar e proporciona os
prédios e outros recursos necessários aos julgamentos, os litigantes precisam
suportar a grande proporção dos demais custos necessários à solução de uma
lide, incluindo os honorários advocatícios e algumas custas judiciais.”

“Pessoas ou organizações que possuam recursos financeiros consideráveis a


serem utilizados têm vantagens óbvias ao propor ou defender demandas. Em
primeiro lugar, elas podem pagar para litigar. Podem, além disso, suportar
delongas do litígio.”
Com o fito de concretizar o princípio do Acesso à Justiça, isto é, da possibilidade de
se interpelar por direitos ao Poder Judiciário, surge a Defensoria Pública e, ainda, o
instituto processual da gratuidade judicial, atualmente regulamentado pelo Código de
Processo Civil:

Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na petição


inicial, na contestação, na petição para ingresso de terceiro no processo ou
em recurso.

§ 2º O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos


que evidenciem a falta dos pressupostos legais para a concessão de
gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido, determinar à parte a
comprovação do preenchimento dos referidos pressupostos.

§ 3º Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida


exclusivamente por pessoa natural.

§ 4º A assistência do requerente por advogado particular não impede a


concessão de gratuidade da justiça.

Isadora Macatrão Costa, ora Autora, é estudante do curso de Psicologia, na


Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde não conta com qualquer forma
autônoma de renda – se desvinculou do estágio ao momento de juntar documentos à
pré-matrícula do curso de Medicina.
Diante do exposto, se pugna pela concessão dos benefícios da justiça gratuita.

DO PRAZO EXÍGUO PARA APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTOS


ESPECÍFICOS

Segundo o cronograma definido em edital, o Resultado Geral Classificatório e a


Convocação para Envio de Documentos à Pré-matrícula, de competência da Pró-
reitoria de Ensino, deveriam ser publicados em 19 de Setembro.
A Convocação fora publicada próximo à madrugada do dia 20 de Setembro, enquanto
a Resultado Geral apenas ao dia seguinte, 21 de Setembro. Ocorre que, apesar de não
seguir às diretrizes do Edital quanto a este último ponto, a Pró-reitoria de Ensino da
Universidade Federal do Maranhão exigiu lista específica de documentos a ser
assinada pelo Declarante da Instituição de Ensino de origem. Em outras palavras, se
requeria a juntada de documentos relativos ao histórico escolar e situação curricular
assinados pela Direção da Universidade Federal do Rio de Janeiro:
Toda a lista de documentos foi solicitada à Coordenação do Curso de Psicologia ao
dia 20 de Setembro, todavia, apenas um deles foi entregue ao dia 21, outro ao dia 22,
e todos os demais, ao dia 26 de Setembro. Convém destacar que a atividade de
direção do curso, por vezes, necessita de deslocamentos específicos do servidor
público: a atividade não é desempenhada apenas no Campus da Praia Vermelha da
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ademais, o sistema eletrônico não permite a
colheita desses dados pelo Sistema Integrado de Gestão Acadêmica (SIGA-UFRJ),
isto é: a requisição presencial dos documentos individualizados, em balcão da
universidade, era a única alternativa da Autora.

O exíguo prazo para o envio – 48 horas – prejudicou de sobremaneira a Autora, uma


vez que, pelas exigências de documentos incomuns ao cotidiano da direção,
requisitavam devida individualização e, ainda, careciam de assinatura do responsável
pela direção do curso.

Mesmo a juntada de documentos alternativos – como o histórico escolar – que


comprovavam sua regularidade acadêmica, o fato de ter finalizado as disciplinas do
1º período letivo e não ter realizado disciplinas dos dois últimos semestres, emitidos
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, foram desabonados pela Pró-reitoria de
Ensino da Universidade Federal do Maranhão.

Diante do exposto, ao caso da Autora, considera-se que as exigências editalícias eram


impossíveis de cumprimento, isto é, desarrazoadas e desproporcionais – uma vez que,
apesar de solicitações ao dia 20 de Setembro, todas só foram cumpridas pela
Instituição de Ensino originária em 26 de Setembro – prazo intempestivo ao edital.

Em termos doutrinários, sabe-se que o princípio da vinculação ao edital é vértebra de


todo concurso público. Neste aspecto, a previsibilidade das ações da Administração
Pública é expressão de boa-fé, funciona em prol da legalidade, da impessoalidade e
da moralidade, e é um dos pilares da isonomia de todo e qualquer concurso. Assim
leciona Jesus Gonzalez Perez:

“La aplicación del principio de la buena fe permitirá al administrado


recobrar la confianza en que la Administración no va a exigirle mas de lo
que estrictamente sea necesario para la realización de los fines públicos
que en cada caso concreto persiga. [...] Confianza, legítima confianza de
que no se le va a imponer una prestación cuando sólo superando
dificultades extraordinarias podrá ser cumplida. Ni en un lugar que,
razonablemente, no cabía esperar. Ni antes de que lo exijan los intereses
públicos ni cuando ya no era concebible el ejercicio de la potestad
administrativa. Confianza, en fin, en que en el procedimiento para dictar el
acto que dará lugar a las relaciones entre Administración y administrado,
no va adoptar una conducta confusa y equívoca que más tarde permita
eludir o tegiversar sus obligaciones.”

Ocorre que, também é função do concurso a seleção de candidatos mais aptos a


ocupar determinada vaga – ao caso, como discente da Universidade Federal do
Maranhão – a partir de critérios objetivos definidos em edital – isto é, nota obtida em
Exame Nacional do Ensino Médio.

Nesse sentido, parece mais palpável: o princípio da vinculação ao edital não é


absoluto (como nenhum o é), portanto, deve ser interpretado em conjunto aos
princípios da razoabilidade e proporcionalidade com a finalidade de cumprir as
razões do próprio princípio do concurso público: selecionar, de modo impessoal,
através de critérios objetivos e possíveis, os melhores candidatos, a partir dos
critérios objetivos fornecidos, às referidas vagas.

No mesmo sentido, decidiram o Superior Tribunal de Justiça e o Tribunal Regional


Federal da 1ª Região, respectivamente:
7. Como se observa, aqui não se há de falar em violação ao princípio da
vinculação ao instrumento convocatório, mas sim na utilização dos
princípios da razoabilidade e proporcionalidade para fazer efetivação à
garantia do ora agravante à participação na próxima etapa do concurso.
Conheço, reverencio e sigo a orientação deste STJ e da doutrina
jusadministrativista que apregoam, até com palavras altissonantes, a
prevalência das regras editalícias, sendo usual que alguns juristas excelsos
rememorem o conceito que o Professor Hely Lopes Meirelles expressava
sobre os termos do Edital no concurso, dizendo ser ele (o Edital) a lei
interna do certame. [...] 9. Dessa forma, em caso assim, vê-se, claramente,
que a solução do dissídio não encontra equacionamento na positividade
do Edital, daí ser inevitável que o juízo se abastone nos princípios gerais
do Direito, especialmente nos valores da isonomia, da razoabilidade e
da proporcionalidade entre as coisas, porquanto a razão positiva não o
socorre na elaboração de sua justa decisão. 10. Frente a tais
considerações, pode-se concluir que impactou o princípio da razoabilidade o
procedimento adotado pela Administração Pública, em exigir do candidato
percentual de acertos superior ao mínimo previsto pelo edital, ou seja,
53,33%, superior a 50%. Precedente que abona esta tese: Conforme
precedente desta Corte, é ilegal a reprovação de candidato que não obtém
percentual mínimo de aprovação previsto no regulamento do certame, em
razão do número de questões formuladas (REsp. 488.004/PI, Rel. Min.
PAULO GALLOTTI, DJ 25.4.2005). 11. Pelo exposto, dá-se provimento ao
Agravo Interno do particular, restabelecendo-se a sentença de primeiro grau.
(AgInt no REsp 1.392.816/PE, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA
FILHO, PRIMEIRA TURMA, DJe 15/09/2017)

CONCURSO PÚBLICO. MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO,


ORÇAMENTO E GESTÃO (MPOG). EDITAL N. 1/2013.
AVALIAÇÃO DE TÍTULOS. PRAZO EXÍGUO PARA
APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTOS. PRINCÍPIO DA
RAZOABILIDADE. DESATENÇÃO.1. Esta Corte tem decidido que o
princípio da vinculação ao edital deve ser aplicado com razoabilidade, de
modo que não acabe sendo prejudicado o objetivo principal de todo
concurso público, resumido na seleção dos candidatos mais habilitados ao
desempenho dos cargos oferecidos pela Administração Pública.2. O edital
convocatório para a apresentação de títulos foi publicado no dia
26/08/2013, estabelecendo as datas de 27/08 e 28/08 para a apresentação
de todos os documentos de admissão (prazo de dois dias úteis).3.
Afronta o princípio da razoabilidade a disposição de prazo
manifestamente exíguo entre a data da expedição da convocação e a
apresentação dos documentos, impedindo, assim, o impetrante de ter
tempo suficiente para preparar e apresentar os documentos exigidos. 4.
Negado provimento à apelação e à remessa necessária. (TRF-1. Processo n.º
0049758- 11.2013.4.01.3400. Rel. Des. João Batista Moreira. Julgado em
25 de Janeiro de 2021.)

Diante do exposto, considera-se que o prazo de 48 horas para o envio de


documentação específica, munida de assinaturas do declarante é por demais exíguo,
fator que impossibilitou sua juntada. Todavia, a utilização de documentos similares,
que cumprem o papel exigido pelo edital – isto é, verificar se o acadêmico concluíra
o primeiro período por completo, e não estaria nos dois últimos – não foram aceitos
pela comissão julgadora. Por estas razões, se pleiteia a concessão da ordem com o
fito de abrir novo prazo à apresentação de documentos.

DA INEXISTÊNCIA DE CURSOS DE GRADUAÇÃO DE PSICOLOGIA


CLÍNICA E/OU HOSPITALAR

Insta ressaltar que uma das alegações centrais ao indeferimento da pré-matrícula da


Autora foi a suposta ausência de afinidade entre o curso de Medicina e Psicologia
pois, segundo o Edital 96/2022 PROEN-UFMA, aquele só poderia receber
acadêmicos dos cursos de Psicologia Hospitalar/Clínica. A posição encampada pelo
edital tem fundamento na Resolução n.º 2.618/2022 do Conselho de Ensino,
Pesquisa, Extensão e Inovação (CONSEPE) da UFMA, que dispõe sobre os critérios
para preenchimento de vagas remanescentes dos cursos de graduação presencial por
meio de transferência externa. Segundo o Art. 9º da Resolução:
Art. 9º Transferência externa é o ingresso de estudante regularmente
matriculado em Instituição de Ensino Superior (IES) devidamente
reconhecida ou autorizada pelo Ministério da Educação (MEC) ou pelos
Conselhos Estaduais de Educação (CEE) em curso de mesma nomenclatura
ou curso de área afim do conhecimento, no âmbito da UFMA, mediante
aprovação no processo seletivo de vagas remanescentes.

Ao final, em anexo único, consta tabela de afinidades definida pela Universidade. De


acordo com a Resolução, o Curso de Psicologia é enquadrado como área das Ciências
Sociais, guardando, portanto, mais afinidade com os cursos de Biblioteconomia e
Hotelaria que qualquer curso de Ciências Biológicas e da Saúde. Este tema, em
específico, será tratado em tópico posterior. Aqui, cabe fazer ponderações sobre outro
ponto: a resolução CONSEPE-UFMA n.º 2.618/2022 traz afinidade entre Ciências
Biológicas e da Saúde e o Curso de Psicologia Clínica/Hospitalar, vejamos:
Segundo este quadro – replicado no Edital de Transferência Externa 96/2022, aqui
atacado – apenas a graduação em Psicologia Clínica/Hospitalar poderia galgar
transferência a outro curso da área das Ciências Biológicas e da Saúde, entre os quais,
o curso de Medicina. Todavia, Excelência, não existe graduação de Psicologia
Clínica/Hospitalar no Brasil. Trata-se de campos do conhecimento dentro da
Psicologia. Em outras palavras, o Curso de Psicologia traz Psicologia
Clínica/Hospitalar em seu bojo, podendo o profissional da psicologia especializar-se
nesta seara.
Nesse sentido, a Resolução n.º 13/2007 do Conselho Federal de Psicologia, que trata
sobre o procedimento de registro do título de Especialista em Psicologia:

Art. 1º - Fica instituído o título profissional de Especialista em Psicologia e


o respectivo registro, a ser concedido pelo Conselho Federal de Psicologia,
por meio dos Conselhos Regionais de Psicologia, aos profissionais
psicólogos inscritos, e no pleno gozo de seus direitos, nos termos que
estabelece a presente Resolução.
[...]
Art. 3o - As especialidades a serem concedidas são as seguintes:
I. Psicologia Escolar/Educacional;
II. Psicologia Organizacional e do Trabalho;
III. Psicologia de Trânsito;
IV. Psicologia Jurídica;
V. Psicologia do Esporte;
VI. Psicologia Clínica;
VII. Psicologia Hospitalar;
VIII. Psicopedagogia;
IX. Psicomotricidade;
X. Psicologia Social;
XI. Neuropsicologia

No mesmo sentido, a declaração emitida pela Diretora-adjunta do Instituto de


Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (documento acostado à
petição):

“Em nosso projeto pedagógico, uma das ênfases é Psicologia e Saúde, onde
se busca, mais do que o modelo clínico tradicional, o engajamento do
estudante de psicologia na área mais ampla da saúde, envolvendo temas
como Saúde Pública, Saúde Coletiva, SUS, Psicologia Médica e a Reforma
Psiquiátrica. Sua expectativa é justamente a de facilitar o crescimento da
área no Instituto, hoje em dia em progressiva expansão nos serviços
públicos, e representada por iniciativas consistentes de trabalho de docentes
nas áreas de Saúde Pública, a Saúde Coletiva e Reforma Psiquiátrica. A
Psicologia Clínica é uma especialidade da Psicologia, cuja graduação é a
única formação de nível superior exigida para o pleito de especialidade em
psicologia clínica ou hospitalar.”
Pesquisa pelos termos “psicologia clínica” e “psicologia hospitalar” seguidos de
“graduação” em buscador da internet também demonstra o erro da Resolução
CONSEPE-UFMA n.º 2.618/2022 e, por conseguinte, do Edital 96/2022 PROEN-
UFMA, que referendou os termos daquela: cursos de psicologia clínica e psicologia
hospitalar têm caráter de especialização, contando com pós-graduações stricto
(mestrado e doutorado1) e lato senso (especialização). Eis como versa o blog da
Faculdade Pitágoras:

Quais são as principais áreas de especialização para Psicologia?

Já que o tema é especialização, que tal conversarmos sobre os segmentos


nos quais o psicólogo pode atuar após a sua formação?

Psicologia Clínica

É a área mais clássica da Psicologia. Aqui, o psicólogo atende pacientes em


seu consultório ou em clínicas voltadas ao atendimento da saúde mental. O
objetivo é tratar questões que envolvem o emocional com o auxílio da
terapia comportamental.

1
Eis a apresentação do Programa de Pós-graduação em Psicologia Clínica e Cultura da
Universidade de Brasília: “A Psicologia Clínica é um campo centenário do conhecimento e de
intervenção em Saúde Mental. Ao longo de todo o século XX ela se ampliou e diversificou,
exercendo importante papel no terreno cultural e tecendo diálogos de peso com todo o leque das
ciências humanas: Filosofia, Antropologia, Sociologia, História, Linguística, Psiquiatria, Pedagogia,
Teoria e Crítica das Artes, etc. Hoje, a Psicologia Clínica deve assumir tal inserção cultural e debate
multidisciplinar como constitutivo e construtor de suas reflexões teóricas e metodológicas, bem
como de sua práxis. O eixo teórico-metodológico voltado para a inserção na cultura e o diálogo
multidisciplinar constitui o diferencial do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e
Cultura (PPGPsiCC). O Programa oferece os cursos de Doutorado e Mestrado Acadêmico.” (página
em anexo)
Psicologia Hospitalar

O psicólogo hospitalar é o profissional que atua no ambiente dos hospitais.


Seu objetivo é prestar atendimento e suporte aos pacientes internados e que
se encontram em situação de vulnerabilidade emocional. (página em anexo)

Diante do exposto, nos parecem claros os erros de classificação realizados pela


Resolução CONSEPE-UFMA n.º 2.618/2022 e, por conseguinte, do Edital 96/2022
PROEN-UFMA: não há cursos de graduação em Psicologia Clínica/Hospitalar, ora,
são especialidades da graduação em Psicologia. Sabendo que o curso de Psicologia se
propõe a habilitar o acadêmico também a clinicar, destino profissional mais
recorrente, nos parece que o edital merece interpretação extensiva, a ponto de se ler
“Psicologia”, de fato, Curso de Graduação, aos campos “Psicologia
Clínica/Hospitalar”, especialidades daquela.

DA AFINIDADE ENTRE A CIÊNCIA DA PSICOLOGIA E AS DEMAIS


CIÊNCIAS DA SAÚDE

Como esboçou-se acima, o Edital 96/2022 PROEN-UFMA ao tornar público o


concurso para transferência externa de acadêmicos prostra-se sobre a Resolução
CONSEPE-UFMA n.º 2.618/2022, referendando suas posições, inclusive quanto ao
quadro de afinidades. Na seção anterior, se elucidou sobre a necessidade de
interpretação extensiva do curso de Psicologia, uma vez que inexistem graduações de
Psicologia Clínica/Hospitalar, estas, por sua chance, são especialidades da matriz
Psicologia. Nesta e na seguinte, busca-se o reconhecimento da graduação em
Psicologia enquanto formadora de profissionais da saúde. Aqui, se observará a
afinidade entre composição de ementas universitárias para, ao tópico seguinte, tratar
de Resoluções do Conselho Nacional de Saúde, Conselho Federal de Psicologia e de
decisões que reverberam esse entendimento.

A Psicologia é área de interface entre Ciências da Saúde e Humanas, uma vez que se
preocupa em promover a qualidade de vida do indivíduo em todos os aspectos –
sociais, biológicos e psíquicos – através do estudo do ser humano a partir de suas
produções e relações sociais. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico a classifica enquanto Ciência Humana, entretanto, tal posição acaba por
variar dentro das Instituições de Ensino Superior a partir da ênfase dada ao constituir
as específicas ementas curriculares. Para a Universidade de São Paulo, por exemplo,
a graduação em Psicologia é Ciência da Saúde (documento em anexo). Para a
Universidade Federal do Rio de Janeiro, é um campo misto entre Ciências Humanas e
da Saúde (declaração em anexo). Para a Universidade Federal do Maranhão, é
Ciência Social (conforme tabela logo abaixo).

Para a Resolução CONSEPE-UFMA n.º 2.618/2022, por exemplo, a Psicologia


enquadra-se enquanto Ciência Social (não como Ciência Humana, nem como Ciência
da Saúde) guardando, assim, afinidade a graduações como Logística e Hotelaria:
Conforme consta no Edital 96/2022 PROEN-UFMA, pode se candidatar à
transferência externa o acadêmico que tenha concluído com êxito o primeiro período
letivo na Instituição de Ensino Superior de origem, bem como não esteja matriculado
nos dois últimos períodos letivos deste:

Isto significa que após a conclusão do primeiro semestre letivo, qualquer estudante do
quadro de afinidades definido pela Resolução CONSEPE-UFMA n.º 2.618/2022,
referendada pelo Edital 96/2022 PROEN-UFMA terá a pré-matrícula deferida. São
esses cursos:

O argumento a ser exposto é: a definição de parâmetros fechados em termos de


afinidade desconsidera os pontos de encaixe entre ciências distintas e, mais, olvida a
diversidade de grades curriculares e ênfases entre cursos de graduação das
Instituições de Ensino Superior do país. Em suma: deve-se analisar os casos
concretos em suas especificidades, sob o risco de incorrer em pareceres injustos, que
desprestigiem a isonomia.

Um exemplo prático nos parece valioso. Conforme a literalidade do edital, o


acadêmico que acaba de finalizar com êxito o primeiro período da graduação em
Bacharelado de Educação Física tem a afinidade e a possibilidade editalícias de
transferir seu curso à Medicina. O primeiro período deste curso na Universidade
Federal do Maranhão tem por disciplinas:

Observa-se a existência de uma disciplina voltada à área da saúde: Anatomia


Aplicada à Educação Física, com carga horária de 60h.

Ao seu passo, a graduação em Psicologia oferecida pela Universidade Federal do Rio


de Janeiro conta com 4 componentes curriculares da área das Ciências biológicas e da
Saúde apenas no primeiro período acadêmico: Anatomia, Histologia, Embriologia e
Genética para a Psicologia:
Nos semestres seguintes, o curso da UFRJ ainda conta com Fisiologias I e II,
Psicopatologia, Atenção Básica e Práticas e Políticas de Saúde, além de disciplinas
voltada à Clínica, totalizando carga horária de 360 horas, conforme declaração
emitida pela Diretora-adjunta do Instituto de Psicologia da IES:

“O curso de Psicologia da UFRJ, apesar de pertencer ao Centro de Filosofia


e Ciências Humanas, possui uma alta carga de disciplinas pertencentes à
área da saúde/biológicas, dentre elas: Anatomia P, Histologia P,
Embriologia P, Genética para a Psicologia, Fisiologia p, Fisiologia p II,
Psicopatologia, Atenção Básica e Práticas e Políticas Públicas de Saúde,
totalizando 360h.”

Sabendo-se que a Autora tem 6 períodos concluídos com êxito, isto é, 360 horas de
disciplinas ministradas em Ciências Biológicas e da Saúde, nos parece arbitrário vetá-
la de prosseguir num processo seletivo, quando se admite a continuidade do
candidato que tenha cursado apenas 60 horas de uma disciplina – Anatomia Aplicada
à Educação Física.
Por um outro lado, a grade curricular do primeiro período da graduação em Hotelaria,
oferecida pela Universidade Federal do Maranhão, não parece guardar similaridade
alguma ao curso de Psicologia do Campus de Praia Vermelha:

Diante do exposto, entende-se que a criação de uma tabela fixa, desconsiderando as


particularidades de grades e ênfases curriculares 2 entre as Instituições de Ensino
Superior pode resultar em claríssimas afrontas à isonomia entre candidatos, como nos
exemplos acima expostos. Pugna-se, portanto, por interpretação sistemática do edital,
observando as particularidades das grades e ênfases curriculares com o fito de
reconhecer a afinidade entre graduações Psicologia e Medicina e, assim, realizar
matrícula da Autora neste último.
2
Sobre este ponto, imperioso destacar trecho da obra Perguntas Frequentes sobre a Psicologia,
organizada pela professora Dra. Lucy Leal Melo-Silva et al. enfatizando a raiz biológica do curso
de Psicologia na Universidade de São Paulo – Campus Ribeirão Preto: “A Psicologia é classificada
como área das Ciências Humanas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), uma vez que compreende o estudo do ser humano a partir de suas produções e
relações sociais. Por outro lado, a profissão é reconhecida como da área da Saúde pela Resolução nº
218/97 do Conselho Nacional de Saúde. Isso ocorre porque um dos principais objetivos da
Psicologia é a promoção da qualidade de vida do ser humano em todos os aspectos de sua vida:
biológicos, psíquicos e sociais. Assim, a definição da área de concentração varia a partir da
ênfase dada por cada instituição de ensino ou campo de atuação profissional. O curso de
Psicologia da USP de Ribeirão Preto enfatiza o estudo do comportamento e de suas bases biológicas
em interface com as Ciências Humanas.” (2020, p.1)
RESOLUÇÕES DO CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE E CONSELHO
FEDERAL DE PSICOLOGIA

No que diz respeito à classificação da Psicologia como categoria profissional de nível


superior da área da Saúde, impende destacar as Resoluções do Conselho Nacional de
Saúde nº 218/1997 e nº 287/1998, que determinam o reconhecimento como
profissionais de saúde de nível superior os Psicólogos, bem como de outros
profissionais da área, dispondo que:

Resolução nº 218/1997 do CNS:


I – Reconhecer como profissionais de saúde de nível superior as seguintes
categorias:
[...]
12. Psicólogos;
Resolução nº 287/1998 do CNS:
I – Relacionar as seguintes categorias profissionais de saúde de nível
superior para fins de atuação do Conselho:
[...]
13. Psicólogos;

Logo, considerando a compreensão manifestada pelo Conselho Nacional de Saúde


nas Resoluções nº 218/97 e 287/98, temos que o psicólogo se enquadra como
profissional de saúde, no mesmo sentido da caracterização efetuada pela Organização
Internacional do Trabalho – OIT, Organização Mundial da Saúde – OMS e pela
Classificação Brasileira de Ocupações – CBO, nos termos da Resolução nº 15/96 do
Conselho Federal de Psicologia, que determina:
Ementa: Institui e regulamenta a Concessão de Atestado Psicológico para
tratamento de saúde por problemas psicológicos. O CONSELHO
FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas atribuições legais e
regimentais: CONSIDERANDO que o PSICÓLOGO, é um profissional
que atua também na área da SAUDE, com fundamento, inclusive, na
caracterização efetuada pela OIT, OMS e CBO.
...
Art. 1°- É atribuição do PSICÓLOGO a emissão de atestado psicológico
circunscrito às suas atribuições profissionais e com fundamento no
diagnóstico psicológico produzido. Parágrafo único - Fica facultado ao
psicólogo o uso do Código Internacional de Doenças - CID, ou outros
Códigos de diagnóstico, cientifica e socialmente reconhecidos, como fonte
para enquadramento de diagnóstico. Art. 2°- Quando emitir atestado com a
finalidade de afastamento para tratamento de saúde, fica o PSICÓLOGO
obrigado a manter em seus arquivos a documentação técnica que
fundamente o atestado por ele concedido e a registrar as situações
decorrentes da emissão do mesmo.

Neste sentido, seguem os julgados:

RESPONSABILIDADE CIVIL – Danos moral e material. Inocorrência.


Emissão de atestado de saúde por psicólogo. Considerando-se o caso
específico destes autos, verifica-se que a presente ação não orbita sobre a
problemática atinente ao reconhecimento da categoria profissional de
"psicólogos" como sendo a de "médicos", mesmo porque a legislação em
vigor não faz essa equiparação. A legislação em vigor reconhece o
"psicólogo" como sendo um profissional da área da saúde, autorizando
a emissão de atestado psicológico circunscrito às suas atribuições
profissionais. A Lei Federal nº 12.842/2013 não veda a atividade de
emissão de atestado pelo psicólogo, porquanto excepciona expressamente
do rol de atividades privativas do médico àquelas praticadas pelo
psicólogo (profissional da área da saúde), desde que, à evidência,
resguardadas as competências próprias de suas atribuições. Inteligência
das Leis Federais nº 12.842/2013, 4.119/1962, Resolução CFP nº
015/1996, do Conselho Regional de Psicologia, bem como Resolução nº
218/1997 do Conselho Nacional de Saúde. Improcedência do pedido
inicial. Manutenção. RECURSO NÃO PROVIDO.
(TJ-SP 40031536820138260114 SP 4003153-68.2013.8.26.0114, Relator:
Jarbas Gomes, Data de Julgamento: 24/04/2018, 11ª Câmara de Direito
Público, Data de Publicação: 24/04/2018)

Remessa necessária. Sentença de procedência que reconheceu a


possibilidade de acumulação de cargos públicos da área da saúde.
Controvérsia quanto à natureza da profissão de psicólogo.
Enquadramento na área da saúde confirmada. Sentença mantida.
Remessa improvida

(TJ-SP - Remessa Necessária Cível: 10008991320178260607 SP 1000899-


13.2017.8.26.0607, Relator: Fernão Borba Franco, Data de Julgamento:
07/04/2012, 7ª Câmara de Direito Público, Data de Publicação:
03/10/2019).

Portanto, entende-se que as Resoluções do Conselho Nacional de Saúde e a


Resolução do Conselho Federal de Psicologia, servem para reconhecer a classificação
da Psicologia como categoria profissional de nível superior da área da Saúde,
estabelecida pela Organização Mundial da Saúde e ratificada pelo Ministério da
Saúde, conforme se depreende da análise da legislação e jurisprudência pátria.

DO PEDIDO LIMINAR

O artigo 7º, III, da Lei n° 12.016/2009 condiciona a concessão de liminar em


mandado de segurança à presença dois requisitos: a relevância do fundamento
apresentado pelo impetrante, que deve demonstrar com prova documental pré-
constituída a violação do direito líquido e certo, e a possibilidade de ineficácia da
medida caso seja concedida apenas ao final do processo.

Por sua vez, o artigo 300 do CPC estabelece que a concessão de tutela provisória de
urgência contempla necessariamente a presença de dois requisitos: a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
Em apenso à presente exordial, constam documentos comprobatórios da classificação
da Autora à pré-matrícula, certidões emitidas pelo Sistema Integrado de Gestão
Acadêmica (SIGA-UFRJ) enviadas na ocasião da pré-matrícula com o fito de
comprovar os requisitos editalícios de regularidade acadêmica, cumprimento integral
do primeiro período letivo e não cursar disciplinas dos dois últimos semestres, bem
como a regularidade junto ao Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes
(ENADE) – que, destaque-se, somente é obrigatório a quem completou 80% da carga
horária de graduação, isto é, uma prova facultativa à extensa maioria de quem se
propõe à transferência externa, uma vez que não pode ser intentada por acadêmicos
dos dois últimos períodos letivos.

Além, juntou-se declarações emitidas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro a


constatar a situação acadêmica da Autora. Tais declarações ainda destacam a
inexistência de Curso de Graduação em Psicologia Clínica/Hospitalar, e as define
enquanto especialidades da Psicologia. Tratam do enfoque dado pelo curso
ministrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro ao campo da saúde –
contando com Anatomia, Histologia, Embriologia, Genética para a Psicologia,
Fisiologia, Fisiologia II, Psicopatologia, Atenção Básica, Práticas e Políticas Públicas
de Saúde, totalizando 360h.

Ainda, declarações do Conselho Regional de Psicologia e da Diretora-adjunta do


Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro que, com
fundamento em resoluções do Conselho Federal de Psicologia e da própria
Organização Mundial da Saúde, enquadram o Psicólogo enquanto profissional da
Saúde.
Dessa forma, cremos ter provado exaustivamente que o indeferimento da pré-
matrícula da Autora foi ato arbitrário, em desconsonância ao Ordenamento Jurídico,
uma vez que não foi razoável quanto ao prazo para envio de documentação específica
(e, por vezes, desnecessária); desconsiderou documentos acostados provenientes do
Sistema Integrado de Gestão Acadêmica (SIGA-UFRJ); considera a Psicologia
enquanto Ciência Social, uma área do conhecimento mais afim à Biblioteconomia e
Hotelaria que qualquer outro curso da área de Ciências Biológicas e da Saúde –
apesar de conter mais componentes curriculares voltados à saúde que o Curso de
Bacharelado em Educação Física; indeferiu a pré-matrícula da Autora sem observar
as particularidades de seus componentes curriculares, em desprestígio à ênfase em
Psicologia e Saúde dada pela Instituição de Ensino Superior de origem; e, por fim, é
ilegal por fazer constar Psicologia Clínica/Hospitalar, graduação inexistente, como
afim às Ciências Biológicas e da Saúde.

Por outro lado, a demora em realizar a matrícula gera danos irreparáveis à Autora: a
Universidade Federal do Maranhão retomou as aulas em 05 de Setembro de 2022,
data de início do segundo semestre letivo – calendário em anexo. Isto significa que
não pode participar de mais de 3 semanas de aulas. O pericullum in mora está
justamente na impossibilidade de se reverter o tempo acadêmico perdido. Quão maior
a demora, maior o prejuízo.

Diante do exposto, estão presentes os requisitos para a concessão da tutela antecipada


de urgência a fim de se realizar a imediata matrícula da Autora ao curso de Medicina,
Campus Pinheiro, ao qual foi classificada, porém, ilegalmente, teve pré-matrícula
indeferida pela comissão julgadora.

DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer a impetrante que Vossa Excelência:
a) Conceda, liminarmente, a segurança pleiteada, para determinar à pró-reitora de
ensino da Universidade Federal do Maranhão, que determine a transferência externa
com a matrícula da Impetrante, possibilitando que curse a graduação de Medicina no
Campus de Pinheiro da Universidade Federal do Maranhão, conforme a classificação
no processo seletivo de preenchimento de vagas remanescentes – transferência
externa;
b) Conceda os benefícios da justiça gratuita à impetrante;
c) Acate as provas que demonstram o direito líquido e certo da impetrante que
acompanham o presente mandado, confirmando a prova pré-constituída como
exigência do mandado de segurança (cópia do ato impugnado);
d) A intimação da autoridade coatora, a pró-reitora de ensino da Universidade Federal
do Maranhão para prestar informações que entender cabíveis, no prazo legal de dez
dias, conforme o art. 7º, I, da Lei nº 12.016/09;
e) Determine a oitiva do Ministério Público para oferecer parecer, conforme art. 12,
caput, da Lei nº 12.016/09;
f) Ao final tornar definitiva a liminar requerida, com a ratificação da liminar,
proferindo sentença de mérito totalmente favorável à Impetrante;
g) Protesta pela juntada dos documentos em anexos, a fim de que possa surtir os
efeitos legais;
h) Requer a concessão do benefício da assistência judiciária gratuita por não poder
arcar com as custas processuais e honorários sem privar-se dos meios necessários à
sua subsistência, consoante declaração anexa; e
i) Multa pecuniária por descumprimento da medida liminar e da segurança concedida,
no valor de R$ 1.000,00 (mil reais) por dia no caso de descumprimento, nos termos
do art. 77, IV, §§1º e 2º, CPC/15.
Dá-se à presente causa, para efeitos fiscais, o valor de R$ 1.212,00 (mil duzentos e
doze reais).

Termos em que pede e aguarda deferimento.

São Luís/MA, 30 de setembro de 2022.

GLAUCO EDUARDO SALLES DOS SANTOS


OAB/MA Nº 13.372

LEONARDO LEITÃO SALLES


OAB/MA Nº 15.868

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