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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

DO ESTADO DE GOIÁS.

URGENTE!
Resultado final a ser divulgado dia 16/07/2019
Matrícula até dia 19/07/2019

HANNA NICOLE ALVES GUIMARÃES, nesta assistida por seu genitor


MARCELO SILVA GUIMARÃES, já devidamente qualificados aos autos, ne presente
ação conhecimento sob o rito ordinário, com pedido de tutela antecipada, em face da
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE GOIÁS, igualmente qualificado, distribuído na vara
de fazenda pública, da comarca de Anápolis/GO, sob o n°
5433805.80.2019.8.09.0006, inconformado com a decisão interlocutória de mov. 4,
pelos fatos e fundamentos a seguir expostos, interpor o presente AGRAVO DE
INSTRUMENTO COM PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA RECURSAL pelas razões
de fato e de direito à seguir anexas.
Informa que desconhece o endereço e dados para intimação do
representante legal da Agravada, para fazer as informações junto ao presente agravo.
Informo que esta procurador, que representa a Agravante, Dr. Matheus
Correia Pontes, OAB/MT 25.163, com escritório à Rua João Pessoa, n° 150, Jardim
das Oliveiras, Nova Xavantina/MT, CEP: 78.690-000, e-mail:
adv.matheuscorreia@gmail.com.
Anexo, segue a cópia integral dos autos digitais.
Termos em que, pede deferimento.

Anápolis/GO, 19 de julho de 2019.

MATHEUS CORREIA PONTES


OAB/MT 25163.
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS

RAZÕES DO AGRAVO DE INSTRUMENTO

Processo nº 5433805.80.2019.8.09.0006
Agravante: HANNA NICOLE ALVES GUIMARÃES
Agravado: UNIVERSIDADE DO ESTADO DE GOIÁS

COLENDA CÂMARA
ÍNCLITOS JULGADORES
ILUSTRE RELATOR

DOS FATOS

A Autora participou do Processo Seletivo UEG 2019/2, concorrendo a


uma das 40 (quarenta) vagas do curso de Bacharelado em Direito, no Campus Iporá –
Matutino - Edital de Abertura – Processo Seletivo UEG 2019/2, sendo aprovada 1ª
Chamada, para preencher uma das vagas destinadas ao primeiro semestre letivo
(2019/2), conforme Resultado Final.

Reforçamos que a Autora não deseja deixar de cursar o Ensino Médio,


mas tão somente frequentar o curso Superior sem deixar de cursar os últimos meses
de seu Ensino Médio. Foi acostado nos autos, inclusive, laudo psicológico atestando
sua capacidade para frequentar normalmente Curso Superior, bem como Declaração
de Desempenho Escolar demonstrando sua excelente capacidade de aprendizagem.

O Edital de Abertura – Processo Seletivo UEG 2019/2, estabelece que


o período de matrícula dos convocados em 1ª chamada para ingresso no segundo
semestre se daria entre os dias 17 e 19 julho/2019, conforme cronograma presente no
referido Edital.
O Edital de Abertura – Processo Seletivo UEG 2019/2, no Capítulo VII,
item 30 dispõe que o candidato que não concluiu o Ensino Médio até a data da
matrícula não concorrerá à vaga; já no Capítulo XXI, item 231.3 do mesmo Edital faz-
se alusão à necessidade em apresentar a comprovação de conclusão de Ensino
Médio ou de curso equivalente para que possa efetuar a matrícula.

Sucede que a autora ainda está Terceiro Ano do Ensino Médio; e


apesar de não tê-lo concluído, resta apenas um semestre para que conclua o
supramencionado ano letivo. Cabe pontuar, ainda, que a Escola Estadual Juscelino
Kubitschek de Oliveira, instituição pública Estadual, em que a Autora está matricula a
Autora, está em greve, fato que dificulta inclusive o fornecimento dos relatórios de
pontos (histórico escolas), bem como eventual outra documentação que venha a
colaborar com a fundamentação trazida à baila.

A autora não dispõe, momentaneamente, de toda a documentação


exigida para efetuar a matrícula, faltando-lhe apenas Certificado de conclusão do
Ensino Médio, contudo apresenta aptidão psicopedagógica, conforme relatório anexo,
por especialista, que comprova a sua capacidade intelectual para ingresso ao nível
superior, sendo o Certificado ora exigido mero formalismo desnecessário.

Foi proposta ação pleiteando a matrícula imediata da Autora no Curso


supramencionado. Em decisão interlocutória a Juíza de 1º grau negou o pedido de
tutela provisória que visava garantir à Autora a matrícula no curso de Bacharelado em
Direito, no Campus Iporá – Matutino - Edital de Abertura – Processo Seletivo UEG
2019/2; o argumento utilizado pelo Juízo foi o de que não há qualquer ilegitimidade na
exigência feita, in casu, de que a parte autora apresente à UEG Certificado de
Conclusão do Ensino Médio.
A Autora, irresignada ao ver seu direito à educação esvair-se através
de suas mãos, renitente em acreditar que a solução mais adequada ao caso seja
privá-la ilegitimamente de frequentar o Curso para o qual foi aprovada em Vestibular,
apresenta o presente Recurso.

DO DIREITO

Trata-se de decisão interlocutória que se reveste de urgência


porque a não concessão da tutela antecipada pode causar dano de difícil
reparação, portanto cabível, no caso, agravo de instrumento conforme artigo
1.015 a 1.020 do NCPC/2015.

De acordo com o art. 300, do Código de Processo Civil de 2015:

“A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que


evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco
ao resultado útil do processo.”. “§ 2o A tutela de urgência pode ser
concedida liminarmente ou após justificação prévia.”
A tutela antecipada nesse caso se faz necessária em virtude de
que a cada dia que passa sem o amparo vital, a agravante vai sofrendo um
dano cada vez maior. Portanto a demora do resultado desta lide poderá
acarretar danos que serão mais difíceis de reparar já que o agravado também
demonstrou seu desinteresse em auxiliar a agravante até o momento.

1 – DA AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA. SENTIDO E LIMITES.

O artigo 207, caput, da Carta Magna, confere às Instituições de Ensino


Superior a chamada autonomia universitária, fundamental instrumento de garantia de
desenvolvimento autônomo e planejado das Universidades brasileiras, espaços
vocacionados ao cultivo da ciência e à produção do saber.

Tal autonomia, na dicção do texto constitucional, alcança os campos


didático-científico, administrativo, financeiro e patrimonial.

A consagração expressa desta garantia caminha na esteira da


afirmação democrática das Instituições Públicas no Brasil após o tenebroso período
de exceção, em que se viram, por muito tempo, submetidas ao jugo autoritário do
Poder Executivo.

Dando contornos concretos ao comando constitucional acima aludido, a


Lei de Diretrizes e Bases da Educação enuncia, em seus artigos 53 e 54, as formas
de expressão da autonomia universitária. As atribuições e prerrogativas inerentes à
autonomia universitária, pois, se articulam ao próprio sentido existencial das
Universidades, que, animadas pelos fins de pluralidade de ideias e de difusão social
do saber, deverão conduzir os próprios rumos.

Para o Professor Anísio Teixeira, precursor da educação para a


liberdade no Brasil,
“as Universidades não serão o que devem ser se não cultivarem a
consciência da independência do saber e se não souberem que a
supremacia do saber, graças a essa independência, é levar a um
novo saber. E para isto precisam de viver em uma atmosfera de
autonomia e estímulos vigorosos de experimentação, ensaio e
renovação. Não é por simples acidente que as universidades se
constituem em comunidades de mestres e discípulos, casando a
experiência de uns com o ardor e a mocidade dos outros. Elas não
são, com efeito, apenas instituições de ensino e de pesquisas, mas
sociedades devotadas ao livre, desinteressado e deliberado cultivo da
inteligência e do espírito e fundadas na esperança do progresso
humano pelo progresso da razão”. (apud DA SILVA, José Afonso da
Silva. Comentário contextual à Constituição. 5ª Edição. São Paulo:
Malheiros, 2008. Página 790)

A autonomia universitária, pois, somente se justifica pela necessidade


de preservação deste profícuo e direcionado espaço de debates, reflexões, pesquisa e
promoção do conhecimento. Tal espaço, para que se mantenha imune a ingerências
políticas e injunções estranhas aos objetivos fundamentais do ambiente acadêmico,
deve ser gerido com liberdade pelo próprio corpo que integra a Universidade. Este o
exato sentido da autonomia. Desta noção deriva, aliás, o conjunto de limites ao
exercício da autonomia universitária.

Nesse contexto, cumpre assinalar que, não sendo um fim em si mesma,


a autonomia outorgada às Universidades não tem caráter absoluto, somente se
justificando no interesse dos objetivos que orientam a vida universitária.

Não há, por certo, independência absoluta. A este propósito, orientação


jurisprudencial tranquila aponta no sentido que a autonomia universitária não elide a
necessidade de que as Instituições de Ensino Superior se submetam aos
procedimentos de controle impostos regularmente às entidades e órgãos da
Administração Pública. Nesse sentido, calha transcrever alguns precedentes:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO


DE SEGURANÇA. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO.
AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA. ART. 207, DA CB/88.
LIMITAÇÕES. IMPOSSIBILIDADE DE A AUTONOMIA SOBREPOR-
SE À CONSTITUIÇÃO E ÀS LEIS. VINCULAÇÃO AO MINISTÉRIO
DA EDUCAÇÃO QUE ENSEJA O CONTROLE DOS ATOS
ADMINISTRATIVOS DAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS FEDERAIS
[ARTS. 19 E 25, I, DO DECRETO-LEI N. 200/67]. SUSPENSÃO DE
VANTAGEM INCORPORADA AOS VENCIMENTOS DO SERVIDOR
POR FORÇA DE COISA JULGADA. IMPOSSIBILIDADE. AUMENTO
DE VENCIMENTOS OU DEFERIMENTO DE VANTAGEM A
SERVIDORES PÚBLICOS SEM LEI ESPECÍFICA NEM PREVISÃO
ORÇAMENTÁRIA [ART. 37, X E 169, § 1º, I E II, DA CB/88].
IMPOSSIBILIDADE. EXTENSÃO ADMINISTRATIVA DE DECISÃO
JUDICIAL. ATO QUE DETERMINA REEXAME DA DECISÃO EM
OBSERVÂNCIA AOS PRECEITOS LEGAIS VIGENTES.
LEGALIDADE [ARTS. 1º E 2º DO DECRETO N. 73.529/74,
VIGENTES À ÉPOCA DOS FATOS]. 1. As Universidades Públicas
são dotadas de autonomia suficiente para gerir seu pessoal, bem
como o próprio patrimônio financeiro. O exercício desta autonomia
não pode, contudo, sobrepor-se ao quanto dispõem a
Constituição e as leis [art. 207, da CB/88]. Precedentes [RE n.
83.962, Relator o Ministro SOARES MUÑOZ, DJ 17.04.1979 e MC-
ADI n. 1.599, Relator o Ministro MAURÍCIO CORRÊA, DJ
18.05.2001]. 2. As Universidades Públicas federais, entidades da
Administração Indireta, são constituídas sob a forma de autarquias ou
fundações públicas. Seus atos, além de sofrerem a fiscalização do
TCU, submetem-se ao controle interno exercido pelo Ministério
da Educação. (...) (STF - RMS-AgR 22047/DF - AG.REG.NO
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA - Relator(a): Min.
EROS GRAU - Julgamento: 21/02/2006 - Primeira Turma)

ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. ENSINO


SUPERIOR. MATRÍCULA REALIZADA POR FORÇA DE LIMINAR.
ABONO DE FALTAS E REALIZAÇÃO DE PROVA DE "2ª
CHAMADA". EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AUTONOMIA
UNIVERSITÁRIA. LIMITES. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. 1. No caso,
realizada a matrícula por força de liminar, impôs-se o abono de faltas
compreendidas no período do ajuizamento da impetração até a data
da decisão judicial concessiva do provimento judicial liminar, relativas
à disciplina "Prática Jurídica I". 2. Embargos de declaração:
autonomia universitária. As instituições universitárias, a teor da
norma contida no art. 207 da Constituição Federal, possuem as
mesmas limitações conferidas aos órgãos públicos e sujeitam-
se ao controle judicial, quando se distanciam dos princípios
consagrados na Constituição Federal, entre eles, o da
legalidade, como ocorreu na hipótese. 3. Inexistência de omissão.
4. Embargos de declaração desprovidos. (TRF - PRIMEIRA REGIÃO
- EDREO - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NA REMESSA EX
OFFICIO – 200635000221305 - Processo: 200635000221305/GO -
SEXTA TURMA - Data da decisão: 01/09/2008)

Assim, não pode a Administração Superior da Universidade, na tarefa


de regular as atividades internas, extrapolar os limites impostos por normas
constitucionais e legais, notadamente aquelas consagradoras de posições jurídicas
fundamentais dos sujeitos (de direitos) envolvidos no processo educacional.

Nessa perspectiva, os atos praticados pela Universidade Estadual de


Goiás, como quaisquer outros atos administrativos, expõem-se ao imperioso controle
de legitimidade, que se opera tanto pelos órgãos administrativos de fiscalização
interna e externa quanto pelo Poder Judiciário.

No caso vertente, o que se busca é afastar a incidência de uma


determinação administrativa consistente exigir a apresentação do diploma/certificado
de conclusão de ensino médio no ato da matrícula, permitindo que este seja
apresentado alguns meses após efetivo início do semestre letivo.
Este ato, por certo, não pode se projetar como óbice ao acesso da
agravante ao quadro discente da Universidade Estadual de Goiás.

A um, por desbordar dos quadrantes do princípio da proporcionalidade,


eis que há, evidentemente, outras medidas que conduzirá ao mesmo resultado
ambicionado, sendo menos gravosa ao certame e à autora.

A dois, por descompasso com o princípio da eficiência, eis que cria


obstáculo ao ingresso daqueles que tiveram melhor desempenho no certame,
privando-se a Instituição de acolher alguns dos quadros que se revelaram melhores.

A três, porque a certificação do requisito da conclusão do ensino médio


será apresentada ainda este ano, o que não gerará qualquer prejuízo à Instituição,
pois que ainda no início do curso.

Passemos a breve análise das questões acima esboçadas.

2 - O PRINCÍPIO DA PROPORCIONALDIADE E O DIREITO À EDUCAÇÃO.

A experiência constitucional brasileira recente registra o princípio da


proporcionalidade como uma das principais ferramentas de trabalho para exercício do
controle de validade dos atos jurídicos, tendo em mira a efetiva proteção aos direitos
fundamentais.

Com efeito, o postulado da proporcionalidade, tido por sinônimo de


razoabilidade para importante parcela da doutrina pátria1, sugere uma ideia geral de
medida adequada, de equilíbrio, ponderação, racionalidade, de repulsa a atos
arbitrários, pela qual se aquilata a legitimidade de determinadas medidas através da
relação racional entre meios e fins.

Por este referencial principiológico, que tem em vista a relação entre


meios e fins desejados, a análise dos atos pressupõe o exame, no caso concreto, de
três subprincípios que integram o conteúdo analítico do princípio da proporcionalidade:

a) subprincípio da adequação, pelo qual a providência adotada deve ser idônea,


apta a atingir o resultado desejado; b) subprincípio da necessidade/ exigibilidade/

1 BARROSO, Luis Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo. São Paulo:


Saraiva, 2009.
proibição do excesso, que impõe seja praticada a medida que se mostre
efetivamente necessária ao alcance do fim perseguido, não cabendo a prática de ato
mais gravoso se o resultado desejado puder ser obtido por meio menos severo a
direitos fundamentais; c) subprincípio da proporcionalidade em sentido estrito,
através do qual se opera a ponderação entre os custos e benefícios efetivos trazidos
pela medida a ser empreendida à luz da importância ou do peso dos direitos
envolvidos.

Sem embargo do conteúdo normativo da autonomia universitária, o


princípio da proporcionalidade/razoabilidade, poderoso instrumento de tutela dos
direitos fundamentais, impõe seja o prazo para a juntada da certidão de conclusão do
ensino médio do agravante alterado para o fim deste ano.

Com efeito, a cláusula de promoção e tutela da dignidade da pessoa


humana lança luzes sobre a aplicação do direito em favor de um projeto de proteção
das posições jurídicas fundamentais, de sorte a que as ações estatais encontrem nas
balizas jusfundamentais limites insuperáveis.

Assim, embora se reconheça a discricionariedade que cerca a atividade


das Universidades no que tange à previsão dos procedimentos internos (inclusive o de
fixação do calendário acadêmico), a condição primacial de que gozam os direitos
fundamentais no ordenamento jurídico nacional impõe a fixação de limites a essa
discrição. Nas palavras de INGO WOLFGANG SARLET:

“... o princípio da dignidade da pessoa impõe limites à atuação


estatal, objetivando impedir que o poder público venha a violar a
dignidade pessoal, mas também implica (numa perspectiva que se
poderia designar de programática ou impositiva, mas nem por isso
destituída de plena eficácia) que o Estado deverá ter como meta
permanente, proteção, promoção e realização concreta de uma vida
com dignidade para todos, podendo-se sustentar, na esteira da
luminosa proposta de Clemerson Mérlin Cléve, a necessidade de uma
política da dignidade da pessoa humana e dos direitos fundamentais”
(Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na
Constituição Federal de 1988. Livraria do Advogado: Porto Alegre,
2008; p. 114/115)

Associando o campo de abrangência do princípio da proporcionalidade


à proteção dos direitos fundamentais, pedimos venia para reproduzir excerto do
Professor JOSÉ ADÉRCIO LEITE SAMPAIO:

A proporcionalidade, desenvolvida sobretudo pela doutrina e pela


jurisprudência constitucional alemãs, com base na construção
prussiana setecentista de proporcionalidade no Polizeirecht,
especialmente na aplicação de pena e no exercício do poder de
polícia, é regra hoje inspirada tanto no conceito de Estado de Direito,
quanto na estrutura ou essência dos direitos fundamentais, orientada
para solução de conflitos de direitos. Essa regra é desdobrada em
três máximas: de adequação ou instrumentalidade (Geeignetheit,
Tauglichkeit), entendida como aptidão, em tese, para o meio
escolhido pelo legislador promover ou produzir o resultado
pretendido; de necessidade (Erforderlichkeit, Notwendigkeit), que
obriga a um prévio exame dos meios disponíveis, de modo a se optar
por aquele menos gravoso ou mais benéfico (Gebot dês mildesten
Mittels) ao direito restringido, importando na imprescindibilidade e
infungibilidade do meio escolhido; e proporcionalidade em sentido
estrito (Abwägung, Propostionalität), que demanda do legislador um
sopesamento de importância entre os direitos, bens, valores ou
interesses em conflito (ALEXY, 1993:111 et seq.). (destacou-se)
(SAMPAIO, José Adércio Leite. Jurisdição Constitucional e os
Direitos Fundamentais. Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 62.)

Embora o referido texto faça alusão apenas ao legislador como


destinatário do princípio da proporcionalidade, é evidente que a proporcionalidade
igualmente deve nortear os atos praticados no exercício da atividade administrativa.

No caso de que cuidam os presentes autos, insurge-se para a


admissão da matricula da autora, com a posterior apresentação do Certificado de
Conclusão do Ensino Médio, eis que ainda não pode apresentá-lo. Tal ato revela-se
ilegítimo porque adotado com base excessivo rigor formal, notadamente em face da
circunstância de a autora ter sido aprovada com mérito no curso de Bacharelado em
Direito, assim como considerando que obterá o certificado de conclusão de ensino
médio daqui a poucos meses.

Em resumo: a medida analisada não atende aos padrões da dimensão


de necessidade e da proporcionalidade em sentido que devem pautar todo ato
administrativo, notadamente aqueles que podem gerar restrições a direitos
fundamentais. Portanto, impedir a matrícula por não aceitação de apresentação de
certificado de conclusão de ensino médio em momento posterior (ainda neste ano),
revela-se lesivo ao princípio da proporcionalidade.

Para reforço da ideia aqui suscitada, colacionamos trecho do Professor


LUIS ROBERTO BARROSO sobre o princípio da proporcionalidade, por sua luminosa
eloquência e rara oportunidade:

Trata-se de um valioso instrumento de proteção aos direitos


fundamentais e do interesse público, por permitir o controle da
discricionariedade dos atos do Poder Público e por funcionar
como a medida com que uma norma deve ser interpretada no
caso concreto para a melhor realização do fim constitucional
nela embutido ou decorrente do sistema. Em resumo sumário, o
princípio da razoabilidade permite ao Judiciário invalidar atos
legislativos ou administrativos quando: a) não haja adequação
entre o fim perseguido e o instrumento empregado (adequação);
b) a medida não seja exigível ou necessária, havendo meio
alternativo menos gravoso para chegar ao mesmo resultado
(necessidade/vedação de excesso); c) os custos superem os
benefícios, ou seja, o que se perde com a medida é de maior
relevo do que aquilo que se ganha (proporcionalidade em
sentido estrito). O princípio pode operar, também, no sentido de
permitir que o juiz gradue o peso da norma, em determinada
incidência, de modo a não permitir que ela produza um resultado
indesejado pelo sistema, fazendo assim a justiça do caso concreto.
BARROSO, Luis Roberto. Curso de Direito Constitucional
Contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009. Páginas 304/305)

Registre-se, que a autora poderá cumprir com as exigências legais e


editalícias, pois, conforme prevê o art. 24, VI, da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de
1996, basta que o aluno cumpra a carga horária mínima de 75% (setenta e cinco por
cento) do ano letivo para que, atendidos as demais condições, possa ser considerado
aprovado.

E mais: com fulcro no art. 24, V, c, da lei acima citada, o qual garante
ao estudante a possibilidade de avanço na série cursada com base em verificação do
aprendizado, ela está apta a receber o certificado de conclusão do ensino médio.

Portanto, não pode prosperar a irrazoável exigência do Instituto,


sobretudo se considerada a estatura jusfundamental dos interesses aqui apresentados
— interesses consistentes no acesso à educação, capacitação e, de forma reflexa,
ao mercado de trabalho.

Os Tribunais, nessa perspectiva, têm admitido a flexibilização do


período de matrícula, em atenção à dimensão de proteção a direitos fundamentais e
quando ausente a potencialidade de acarretar prejuízos à Instituição de ensino.
Vejamos alguns precedentes:

ADMINISTRATIVO. CURSO SUPERIOR. SEGUNDO GRAU NÃO-


CONCLUÍDO À ÉPOCA DO VESTIBULAR. FATO
SUPERVENIENTE. REGULARIZAÇÃO COM A APRESENTAÇÃO
DO CERTIFICADO. APLICAÇÃO DO ART. 462 DO CPC. VASTIDÃO
DE PRECEDENTES. 1. A conclusão de Curso de 2º Grau, com
apresentação do competente Certificado, deve ser aceito como fato
superveniente a sanar a irregularidade porventura existente quanto à
apresentação de Certificado apresentado anteriormente, mormente
quando o aluno já logrou aprovação no Vestibular e encontra-se no
meio do Curso Universitário. Deve-se, neste caso, aplicar-se o
disposto no art. 462 do CPC. 2. Por força de liminar concedida em
mandado de segurança, o impetrante efetivou sua matrícula em
curso superior antes de ser certificado no ensino médio. Na
hipótese, ainda que, à época da matrícula, não tenham sido
comprovados os requisitos necessários ao ingresso na Universidade,
a subseqüente conclusão do segundo grau impõe a aplicação da
teoria do fato consumado, que deve ser considerada quando a
irreversibilidade da situação decorre da demora no julgamento da
ação.” (REsp nº 611797/DF, Rel. Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI, DJ
de 27/09/2004) (...)4. Vastidão de precedentes das 1ª e 2ª Turmas e
da 1ª Seção desta Corte Superior. 5. Recurso provido. (STJ - Órgão
julgador PRIMEIRA TURMA - RESP 200400994040 - Relator(a)
JOSÉ DELGADO Fonte DJ DATA:13/12/2004 PG:00260 )

“TUTELA PROVISÓRIA CAUTELAR RECURSAL. MANDADO DE


SEGURANÇA. SENTENÇA TERMINATIVA. AUSÊNCIA DE
INTERESSE PROCESSUAL. INTERPOSIÇÃO DE APELAÇÃO
CÍVEL. PRESENÇA DO FUMUS BONI IURIS E DO PERICULUM IN
MORA. EFETIVAÇÃO DA MATRÍCULA NA UNIVERSIDADE.
AUSÊNCIA DE CERTIFICADO DE CONCLUSÃO DO ENSINO
MÉDIO. Evidenciados no presente incidente de tutela provisória
cautelar os requisitos do fumus boni iuris, em decorrência do
entendimento majoritário de que é possível ao estudante cursar o
ensino superior e o ensino médio, concomitantemente; bem como, o
periculum in mora, diante da iminência do exaurimento do prazo para
a efetivação da matrícula, mostra-se imperativa a concessão de
medida acautelatória pleiteada nos autos consistente na
autorização da matrícula em curso superior, sem a imediata
entrega do certificado de conclusão do 3o ano do ensino médio.
TUTELA CAUTELAR RECURSAL CONHECIDA E PROVIDA. ”
(TJGO, 6a Câmara Cível, Petição n° 5323203-45.2016.8.09.0000,
Rel. Des. Wilson Safatle Faiad, julgado em 31/05/2018, DJ de
31/05/2017).

EMENTA: MEDIDA CAUTELAR. MANDADO DE SEGURANÇA.


SENTENÇA DE MÉRITO. AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E
CERTO. RECURSO DE APELAÇÃO CÍVEL AGUARDANDO
JULGAMENTO. PRESENÇA DO FUMUS BONI IURIS E DO
PERICULUM IN MORA. EFETIVAÇÃO DA MATRICULA EM
FACULDADE SEM CONCLUSÃO DO ENSINO MÉDIO.
Demonstrados no presente incidente de tutela provisória cautelar a
existência dos requisitos do fumus boni iuris, em decorrência do
entendimento majoritário de que é possível ao estudante cursar o
ensino superior e o ensino médio, concomitantemente; bem como, o
periculum in mora, diante da iminência do exaurimento do prazo para
a efetivação da matrícula, mostra-se imperativa a concessão da
medida acautelatória pleiteada, consistente na autorização da
matrícula em curso superior, sem a imediata entrega do
certificado de conclusão do 3o ano do ensino médio, até o
julgamento definitivo do recurso na ação principal. TUTELA
CAUTELAR RECURSAL CONHECIDA E PROVIDA. (TJGO, 1ª
Câmara Cível, Cautelar Inominada 5390060-05.2018.8.09.0000, Rel.
Des. MARIA DAS GRAÇAS CARNEIRO REQUI, j. 09/07/2019, DJe
10/07/2019).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. APROVAÇÃO EM VESTIBULAR.


ALUNO CURSANDO O 3º ANO DO ENSINO MÉDIO. MATRÍCULA. I.
Aprovação em vestibular de estudante prestes a concluir o ensino
médio, aliado ao direito fundamental à educação (artigos 6º e 205, da
CF). Possibilidade de matrícula no curso superior; II. Confirma-se a
liminar que autorizou a matrícula do agravante na faculdade, com a
consequente reforma da decisão singular; III. A manutenção do
decisum ficará condicionada à frequência concomitante do
agravante no Ensino Médio e no Curso Superior para o qual foi
aprovado, bem como à entrega do diploma de conclusão do
ensino médio à instituição agravada. AGRAVO DE
INSTRUMENTO CONHECIDO E PROVIDO. (TJGO, Agravo de
Instrumento ( CPC ) 5248678-58.2017.8.09.0000, Rel. JOSÉ
CARLOS DE OLIVEIRA, 2ª Câmara Cível, julgado em 23/08/2017,
DJe de 23/08/2017. Negritei).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA. TUTELA DE


URGÊNCIA. PRESENÇA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES.
MATRÍCULA EM INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR. ALUNO
CURSANDO O 3º ANO DO ENSINO MÉDIO. CONCLUSÃO
PRÓXIMA. POSSIBILIDADE. 1. Constatada a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo, imperativa a concessão da tutela de urgência ante o
termo do prazo para efetivação da matrícula do aluno e o risco de
perder a vaga conquistada mediante aprovação em certame
vestibular. 2. In casu, restou demonstrado estar o Agravante
cursando o último semestre do 3º ano, vislumbrando, dessa forma, a
possibilidade matricular-se, provisoriamente, no curso de graduação,
sem dispensar a conclusão do ensino médio, que pode ser
concretizada concomitantemente, cuja pretensão encontra respaldo
na Lei nº 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) e art.
208 da CF, assegurando o acesso e a continuidade dos estudos aos
níveis superiores de educação. AGRAVO DE INSTRUMENTO
CONHECIDO E PROVIDO. DECISÃO REFORMADA. (TJGO, Agravo
de Instrumento (CPC) 5202390-52.2017.8.09.0000, Rel. OLAVO
JUNQUEIRA DE ANDRADE, 5ª Câmara Cível, julgado em
22/08/2017, DJe de 22/08/2017. Negritei).

Como se percebe, a autora assiste direito a ter garantida a sua


matrícula mediante a apresentação de certificado de conclusão de ensino médio até o
fim do próximo semestre, isto é, até o fim do corrente ano quando ainda estará no 1º
período do curso superior em análise.

V - DA TUTELA ANTECIPADA RECURSAL

A autora postula pelo deferimento de Antecipação dos Efeitos da


Tutela Final Recursal
, inaudita altera pars, a fim de assegurar a matricula da demandante,
regularmente aprovada no processo seletivo em tela, de modo que a autora não seja
prejudicada na frequencia das aulas e trabalhos acadêmicos.

Tem-se que para concessão da presente tutela provisória faz-se


necessária a presença de prova inequívoca da verossimilhança das alegações e que
haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, o que,
inapelavelmente, ocorre no presente caso, eis a possibilidade de se chamar o próximo
da fila, e a PERDA DA VAGA.
A verossimilhança encontra-se amplamente demonstrada pelo texto
constitucional, pela legislação em vigor, pela doutrina e ainda pela jurisprudência
pátria, bem como pelos documentos que instruem a presente ação, comprovando a
possibilidade de matricula com a posterior juntada do certificado de conclusão do
ensino médio, pois que atende aos ditames da razoabilidade e da justiça, revelando-se
ilegítima a exigência de apresentação imediata dos referidos documentos.

Sendo inclusive possível a autora, concluir o ensino médio, e cursar o


ensino superior, eis que o Curso de Direito não ser integral, possibilitando cursar o
superior e médio contumitantemento.

Em outro norte, a aptidão da Autora se comprova-se por ter sido


aprovada em uma instituição de nível superior, frente a uma grande concorrência, se
mostrando a frente de vários candidatos.

Quanto ao perigo de dano irreparável ou de difícil reparação pela


demora na prestação jurisdicional afigura-se inconteste, a matrícula deve ser realizada
até o dia 19/07/2019.

Caso não seja repelido o perigo de indeferimento do seu pedido de


matrícula, pode a autora, então, ser privada do direito — legitimamente conquistado
— de acesso ao ensino superior.

Insta observar, ainda, que a concessão da tutela inibitória antecipada


não trará qualquer prejuízo à UEG, estando afastado, assim, o periculum in mora in
reverso, uma vez que a candidata já participava do certame e apenas terá tal situação
ratificada por decisão judicial, sem qualquer prejuízo para a ordem de classificação ou
à concorrência entre os demais candidatos.

Ad argumentandum, por cautela vem subisdiariamente requerer a


concessão de medida liminar inaudita altera pars para, ao menos, asseguar a reserva
de vaga em favor do demandante, bem como, ato contínuo, em sede de antecipação
dos efeitos da decisão final, determine-se a imediata matrícula da autora no curso de
Bacharelado em Direito na Universidade Estadual de Goiás, uma vez que selecionada
para ingresso no segundo semestre de 2019.

VI– DO PEDIDO
Diante do exposto, requer o conhecimento do presente recurso, com
seu recebimento, e seja recebido no seu regular efeito devolutivo com a concessão do
efeito ativo para antecipar os efeitos da tutela recursal nos termos do art. 1.018, inciso
I, do NCPC/2015, seja o agravado intimado no prazo de 15 dias, nos termos do art.
1.019, inciso II, do NCPC/2015 e no mérito para julgamento procedente do pedido
para reforma definitiva da decisão de piso, ora objeto de recurso.

Nestes termos, pede o deferimento.

Anápolis/GO, 19 de julho de 2019.

MATHEUS CORREIA PONTES


OAB/MT 25.163

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