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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2022.0000317945

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2004995-56.2022.8.26.0000, da Comarca de Santana de Parnaíba, em que é agravante H.
D. G. V. (MENOR), é agravado D. DO E. B. DO I. P. M. P. M. - U. T..

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da Câmara Especial do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao recurso. V. U.,
de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores GUILHERME


GONÇALVES STRENGER (VICE PRESIDENTE) (Presidente sem voto), BERETTA DA
SILVEIRA (PRES. DA SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO) E WANDERLEY JOSÉ
FEDERIGHI(PRES. DA SEÇÃO DE DIREITO PÚBLICO).

São Paulo, 29 de abril de 2022.

SULAIMAN MIGUEL
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Voto nº. 14.681


Agravo de Instrumento nº. 2004995-56.2022.8.26.0000 t
Agravante: H.D.G.V. (criança).
Agravada: Diretora de Ensino Básico do Instituto e Colégio Presbiteriano Mackenzie.
Origem: Vara Criminal da Comarca de Santana de Parnaíba.
Juiz de primeira instância: Dr. José Maria Alves de Aguiar Júnior.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. MANDADO DE


SEGURANÇA. EDUCAÇÃO INFANTIL. LIMITE ETÁRIO.
Ingresso. Impedimento de matrícula das crianças que não
completaram a idade mínima até a data limite de 31 de março de
cada ano. Entendimento firmado no STF, na ADPF nº. 292 e ADC
nº. 17, no mês de agosto de 2018, sobre a constitucionalidade do
estabelecimento de idade mínima de quatro e seis anos para
ingresso, respectivamente, na educação infantil (pré-escola) e no
ensino fundamental. Resolução CNE/CEB nº. 2/2018 (art. 5º.),
Deliberação do Conselho Estadual de Educação nº. 166/2019, e
Parecer CEE nº. 137/2019, assegurando às crianças matriculadas e
frequentando a Pré-Escola ou o Ensino Fundamental, a progressão,
sem interrupção, mesmo que sua data de nascimento seja posterior
ao dia 31 de março (art. 4º.). Excepcionalidade na qual não se
insere o agravante. Ausentes os requisitos do art. 7º., inc. III, da
Lei nº. 12.016/2009, para concessão da liminar. Decisão mantida.
RECURSO DESPROVIDO.

Vistos.

Trata-se de agravo de instrumento interposto pela criança


H.D.G.V., representada por seus genitores, contra a decisão de fls. 65 (aqui
copiada) que, no mandado de segurança impetrado contra ato da DIRETORA DE
ENSINO BÁSICO DO INSTITUTO PRESBITERIANO MACKENZIE E
COLÉGIO PRESBITERIANO MACKENZIE, indeferira liminar, objetivando
matrícula da criança no Jardim/Maternal, para o ano letivo de 2022.

Sustenta situação excepcional para a matrícula da criança na


primeira etapa da educação infantil, salientando que os atos normativos invocados
pela autoridade coatora não contemplariam fases educacionais e idade de corte na
hipótese analisada; e que seria melhor antecipar em cinco dias o início da vida
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escolar, ao invés de obstar o ingresso do aluno.

Processara-se o recurso, sem efeito ativo (fls. 80/84), e


seguido do parecer da Procuradoria Geral de Justiça, opinando pelo não provimento
do agravo (fls. 89/92).

É a síntese do essencial.

O recurso não comportaria provimento.

Assim, o julgamento do agravo de instrumento se limitaria ao


exame da presença dos requisitos autorizadores para o deferimento da liminar, sob a
pena de se antecipar o julgamento do mérito do mandamus, e caracterizar supressão
de um grau de jurisdição.

Nesse passo, o agravante, nascido em 05.04.2019, teve negada


sua matrícula, por não ter a idade adequada de ingresso na primeira fase da
educação infantil, até a data de 31.03., conforme Resolução CNE/CEB nº. 02/2018 e
Deliberação CEE-SP nº. 166/2019.

Veja-se que o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da


Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental nº. 292, em que figurava como
relator o Min. Luiz Fux, e Ação Direta de Constitucionalidade nº. 17, de relatoria do
Min. Edson Fachin (red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso), na data de 1º. de agosto de
2018, decidira ser constitucional o estabelecimento de idade mínima de quatro a seis
anos para ingresso, respectivamente, na educação infantil (pré-escola) e no ensino
fundamental.

Nessa direção, o art. 5º., da Resolução CNE/CEB n°. 2/2018,


possibilitara a inobservância à data de corte (31 de março) somente às crianças que,
até a data da publicação daquela regulamentação, já estivessem matriculadas e
frequentando instituições educacionais de educação infantil (creche ou pré-escola),

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restando assegurada sua progressão, sem interrupção, considerando seus direitos de


continuidade e prosseguimento nos estudos.

Igualmente, foram estabelecidas regras de transição na


Deliberação nº. 166/2019, editada pelo Conselho Estadual de Educação de
Educação do Estado de São Paulo e publicada no D.O.E., de 31.01.2019: “Art. 4º. -
As crianças que até a data da publicação desta Deliberação, já estejam
matriculadas e frequentando a Pré-Escola ou o Ensino Fundamental devem ter a
sua progressão assegurada, sem interrupção, mesmo que sua data de nascimento
seja posterior ao dia 31 de março, considerando seus direitos de continuidade e
prosseguimento nos estudos. Art. 5º. - O direito à continuidade do percurso
educacional é da criança, independentemente da permanência ou de eventual
mudança ou transferência de escola, inclusive para crianças em situação de
itinerância”.

Embora aludida Deliberação tenha sido omissa em relação às


crianças matriculadas na creche/educação infantil, essa falha fora suprida pelo
Parecer CEE nº. 137/2019, aprovado em 08.05.2019, estabelecendo que “as
crianças de 0 a 3 anos matriculadas na Educação Infantil/Creche até 05.02.2019,
data da homologação da Del. CEE 166/2019, terão garantida a continuidade dos
estudos e deverão ser admitidas na Primeira Etapa da Pré-Escola, em consonância
com os termos estabelecidos no art. 4º., da Deliberação citada acima”.

Como efeito, o recorrente não se inseriria nas hipóteses que


haveria possibilidade de inobservância da data de corte de 31.03, pois não se
encontraria matriculado e frequentando a educação infantil; ao contrário, se trataria
do primeiro ingresso escolar da criança, conforme anotado pelo autor a fls. 3, dos
autos originários.

Examinando tema análogo, a Câmara Especial tem decidido:


“AGRAVO DE INSTRUMENTO. MANDADO DE SEGURANÇA. EDUCAÇÃO.

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LIMITAÇÃO ETÁRIA. Ingresso na educação infantil. Impedimento de matrícula


das crianças que não completaram a idade mínima até a data limite de 31 de março
de cada ano. Entendimento firmado no STF, na ADPF nº. 292 e ADC nº. 17, no mês
de agosto de 2018, sobre a constitucionalidade do estabelecimento de idade mínima
de quatro e seis anos para ingresso, respectivamente, na educação infantil (pré-
escola) e no ensino fundamental. Resolução CNE/CEB nº. 2/2018 (art. 5º.),
Deliberação do Conselho Estadual de Educação nº. 166/2019, e Parecer CEE nº.
137/2019, assegurando às crianças matriculadas e frequentando a Pré-Escola ou o
Ensino Fundamental, a progressão, sem interrupção, mesmo que sua data de
nascimento seja posterior ao dia 31 de março (art. 4º.). Excepcionalidade na qual
não se insere o agravante. Ausentes os requisitos do art. 7º., inc. III, da Lei nº.
12.016/2009, para concessão da liminar. Decisão mantida. RECURSO
DESPROVIDO” (AI nº. 2010388-59.2022.8.26.0000, v.u., j. 30.03.2022).

E: “AGRAVO DE INSTRUMENTO. Mandado de segurança.


Instituição de ensino que, apenas em razão da idade da criança, não permitiu sua
matrícula no nível maternal, em 2019. Liminar indeferida. C. STF que, no
julgamento da ADPF 292 e da ADC 17, declarou a constitucionalidade da
imposição de critério etário para regulamentar o ingresso e progressão escolar.
Deliberação do Conselho Estadual de Educação nº. 166/2019, que, regulamentando
a matéria, estabeleceu em seu artigo 4º., que as crianças que até a data da
publicação desta Deliberação, já estejam matriculadas e frequentando a Pré-
Escola ou o Ensino Fundamental devem ter a sua progressão assegurada, sem
interrupção, mesmo que sua data de nascimento seja posterior ao dia 31 de março,
considerando seus direitos de continuidade e prosseguimento nos estudos.
Excepcionalidade não constatada. Decisão mantida. Recurso desprovido” (AI nº.
2095279-18.2019.8.26.0000, rel. Des. Lídia Conceição, j. 23.09.2019).

Destarte, não estando o infante enquadrado nas hipóteses


excepcionais, que justificariam o reconhecimento do direito postulado, outro não

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poderia ser o desate, que a manutenção da decisão atacada.

Isto posto, nega-se provimento ao recurso.

SULAIMAN MIGUEL
Relator

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