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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2019.0000927704

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2098928-88.2019.8.26.0000, da Comarca de Jales, em que é agravante F. M. C. DE
O. M., é agravado E. F. M..

ACORDAM, em 10ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso.
V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


JOÃO CARLOS SALETTI (Presidente sem voto), SILVIA MARIA FACCHINA
ESPÓSITO MARTINEZ E COELHO MENDES.

São Paulo, 5 de novembro de 2019.

ELCIO TRUJILLO
RELATOR
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2098928-88.2019.8.26.0000


Comarca de Jales
Agravante: F. M. C. de O. M.
Agravado: E. F. M.

Voto nº 36938

TUTELA DE URGÊNCIA Ação declaratória de


alienação parental cumulada com pedido de
suspensão de visitas paternas Indeferimento
Aplicação do art. 1.589, caput, do Código Civil -
Probabilidade do direito alegado e do perigo de
dano não demonstrados Ausência dos
requisitos exigidos pelo art. 300, do Código de
Processo Civil/2015 Dilação probatória apurará,
de forma segura, o que for melhor para os
menores diante das circunstâncias apresentadas
pelo caso concreto, inclusive no tocante ao
campo afetivo Decisão mantida AGRAVO NÃO
PROVIDO.

Vistos.

Trata-se de agravo de instrumento contra a r. decisão


de fls. 37 que, junto à ação declaratória de alienação parental cumulada
com suspensão de visitas, indeferiu o pedido de tutela de urgência (processo
nº 1002036-19.2019.8.26.0297 - 3ª Vara da Comarca de Jales).

Em busca de reforma, sustenta a agravante a


suspensão das visitas paternas.

O pedido de antecipação dos efeitos da tutela recursal


foi indeferido - fls. 86/87.

Manifestação da agravante - fls. 98/99.

Contraminuta - fls.

Agravo de Instrumento nº 2098928-88.2019.8.26.0000 -Voto nº 36938 2


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Manifestação da d. Procuradoria de Justiça pelo não


provimento do recurso - fls. 209/211.

Petições apresentadas pela agravante às fls. 213/214,


237/238 e 248/249.

É o relatório.

F. M. C. de O. (genitora) ajuizou ação declaratória de


alienação parental cumulada com suspensão de visitas contra E. F. M.
(genitor) fls. 20/35 (processo nº 1002036-19.2019.8.26.0297 - 3ª Vara da Comarca de Jales).

Ante o indeferimento do pedido de concessão de tutela


provisória de urgência com vistas à suspensão das visitas paternas, a ora
agravante interpôs o presente recurso.

Consigne-se, por oportuno, que a audiência


anteriormente designada às fls. 349 (autos de origem) foi - a pedido da ora
agravante - suspensa pelo d. juízo a quo, por ainda não apresentado o
estudo psicossocial - fls. 408 (autos de origem).

O recurso não merece acolhimento.

Elevado grau de litigiosidade entre as partes.

Os menores M. C. de O. M. e I. C. de O. M. contam,
respectivamente, com 11 (onze) e 5 (cinco) anos - fls. 18 (autos de origem).

Nos termos de acordo firmado em sede de anterior ação


de divórcio as visitas do varão-agravado em relação aos filhos restou assim
estipulada:

“(...) as visitas serão feitas pelo genitor às terças-feiras e


quintas-feiras das 17h:30min às 21h:00min, bem como
assegurado ao genitor visitas quinzenalmente, iniciando-
se nas sextas-feiras às 19:00 horas, com retirada da(s)
criança(s) na casa materna, e entrega no domingo às
19:00 horas. Nas férias escolares de julho e
dezembro/janeiro (o)(a)(s) menor(es) deverá(ão)
ficará(ão) metade do período com a mãe e a outra
metade com o pai, ou seja, a primeira metade com o pai
e a segunda com a mãe. No aniversário do pai e dos
avós paternos (o)(a)(s) menor(es) deverá(ão) ficará(ão)
com o genitor, No aniversário da mãe e dos avós

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maternos (o)(a)(s) menor(es) deverá(ao) ficará(ao) com


a genitora No natal, no anos ímpares (o)(a)(s) menor(es)
passará(ão) com a genitora e no ano novo com o genitor,
alternando-se nos anos seguintes; Nos feriados
(municipais, estaduais e federais) os filhos menores
passarão de maneira alternada com os genitores; (...).”
(sic) (fls. 18/19 dos autos de origem).

Dispõe o Código Civil:

“Art. 1.589. O pai ou a mãe, em cuja guarda não estejam


os filhos, poderá visitá-los e tê-los em sua companhia,
segundo o que acordar com o outro cônjuge, ou for
fixado pelo juiz, bem como fiscalizar sua manutenção e
educação. (...)”

De outra parte, estabelece o Código de Processo


Civil/2015:

“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando


houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo.

§1o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode,


conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória
idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa
vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte
economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.

§2o A tutela de urgência pode ser concedida


liminarmente ou após justificação prévia.

§3o A tutela de urgência de natureza antecipada não


será concedida quando houver perigo de irreversibilidade
dos efeitos da decisão.”

Da leitura do referido dispositivo legal, depreende-se


que a concessão da tutela de urgência deve observar determinados
requisitos, de forma cumulativa, a saber: 1) a probabilidade do direito
alegado; 2) o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

Hipótese não verificada nos autos.

A presença das situações supra apontadas é aferida

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em cognição sumária, vale dizer, conduz aos chamados juízos de


probabilidade e verossimilhança (ou seja, as decisões ficam limitadas a
afirmar o provável).

Na lição de Luiz Guilherme Marinoni, “o juiz, quando


concede a tutela sumária, nada declara, limitando-se a afirmar a
probabilidade da existência do direito, de modo que, aprofundada a
cognição, nada impede que o juiz assevere que o direito que supôs existir
na verdade não existe” (A antecipação da tutela. São Paulo, Malheiros, 2004, 8ª ed., p. 35).

Ainda: essa análise pressupõe “(...) saber se é mesmo


provável que o dano poderá vir a acontecer caso não concedida a medida,
se sua ocorrência é iminente, se a lesão é pouco grave ou seus efeitos são
irreversíveis, se o bem que o autor pretende proteger tem primazia sobre
aquele defendido pelo réu (o que envolve a questão atinente à importância
do bem jurídico) (...)” (José Miguel Garcia Medina in Direito Processual Civil Moderno, Ed. RT,
2015, p. 472).

Ausentes as condições fixadas na legislação


processual, não se há sustentar o deferimento do pedido da concessão da
tutela de urgência.

Nesse sentido, bem apontou a d. Procuradoria de


Justiça: “(...) Com efeito, não existe a probabilidade do direito e o perigo de
dano a permitir a concessão da tutela de urgência. (...) A presença de
ambos os genitores equilibra a vida social e afetiva da prole. Para eventual
modificação de guarda, visitas, etc, mister se faz a dilação probatória (...)”
(fls. 210).

Mais: em consulta ao Sistema de Automação Judicial


(SAJ)1, verifica-se que tanto o laudo psicológico2, como o estudo social3
indicaram ser salutar à situação apresentada que o encontro, a retirada e
retorno das crianças - por ocasião das visitas do genitor - ocorra na escola,
ambiente apontado como neutro, tendo em vista que os conflitos entre as
partes se acentuam nesses períodos.

Além disso, conforme consignado pelo d. juízo a quo às


fls. 251/255 (autos de origem),não há nos autos - nessa fase - qualquer

1
Consulta realizada em 10 de outubro de 2019.
2 Fls. 105/117 (autos de origem).
3 Fls. 118/124 (autos de origem).

Agravo de Instrumento nº 2098928-88.2019.8.26.0000 -Voto nº 36938 5


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contraindicação às visitas paternas aos filhos ou mesmo razão que


justifique a exclusão das visitas quinzenais do genitor aos menores.

Com o decorrer do processo, cuidarão as partes da


demonstração probatória segura no sentido de apurar o que for melhor para
a infante diante das circunstâncias apresentadas pelo caso concreto,
inclusive no tocante ao campo afetivo.

Matéria a envolver mérito diante dos argumentos das


partes no sentido de se apurar as melhores medidas para proteção dos
interesses dos menores, visando o bem-estar e o completo
desenvolvimento psíquico-físico de ambos.

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao agravo.

ELCIO TRUJILLO
Relator

Agravo de Instrumento nº 2098928-88.2019.8.26.0000 -Voto nº 36938 6

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