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l AÇÃO RESCISÓRIA PARA DESCONSTITUIR SENTENÇA TRANSITADA EM

JULGADO, PROLATADA EM AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE

Exmo. Sr.    Dr. Juiz Presidente do Tribunal ................

...................... (qualificar), por seu advogado (doc. ....), vem, com


fundamento no artigo 485, IX do Código Civil e demais disposições legais que regem a matéria,
promover
AÇÃO RESCISÓRIA

em face de ...................., (qualificar), representado (ou assistido) por sua genitora ...............
(qualificar), pelos fatos e fundamentos seguintes:

DO DEPÓSITO

1. Preliminarmente, comprova o Requerente o depósito    no


valor de R$ .........., que corresponde a cinco por cento (5%) sobre o valor da causa da ação
rescindenda, devidamente atualizado, ficando atendido, dessa forma, o disposto no artigo 488, II do
Código de Processo Civil.

DO PRAZO

2. A r. decisão rescindenda teve seu trânsito em julgado


certificado em .................. (doc. nº ......), portanto, a presente ação está sendo proposta no biênio, a
teor do disposto no artigo 495 do Estatuto de Ritos.

DOS    FATOS

3.    O Requerente envolveu-se afetivamente com a Sra. .......,


em ......., quando esta já tinha um filho nascido naquele mesmo ano, o menor .............., ora
Requerido.

4. O primeiro contato íntimo com a Sra........    foi    em .........,


portanto, três (3) meses após o nascimento do Requerido.

5.    Esse relacionamento durou apenas dez (10) meses, e o


Requerente sequer chegou a conviver com a Sra.............. sob o mesmo teto.   
     
6. Passado quase um (1) ano do rompimento do namoro,    o
Requerido, representado por sua mãe, propôs ação de investigação de paternidade cumulada com
pedido de alimentos, que, à revelia, foi julgada procedente (doc. nº ....)

7. O Requerente não é o pai biológico do Requerido, o


que poderá ser facilmente comprovado através do exame pericial de investigação genética de
paternidade por impressões digitais de DNA, que fica desde já requerido.

DO DIREITO

8.    A paternidade, à exceção das hipóteses previstas no


artigo 340 do Código Civil (filho concebido na constância do casamento), não se presume, e por isso
tem que ser rigorosamente comprovada.

9. E, por versar sobre direito indisponível, a ação de


investigação de paternidade não comporta julgamento antecipado da lide, não se submete aos efeitos
da revelia, e nem mesmo a confissão é admitida. É o que se extrai da leitura dos artigos 320,II    e 351
do Código de Processo Civil, verbis:
“ Art. 320 – A revelia não induz, contudo, o efeito mencionado no
artigo antecedente:
I – se, havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação;
II – se o litígio versar sobre direitos indisponíveis;
III – se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público, que a lei
considere indispensável à prova do ato.”    (g.n.)

“ Art. 351 – Não vale como confissão a admissão, em juízo, de fatos


relativos a direitos indisponíveis.”

10. A jurisprudência já cristalizou entendimento no sentido de


que os efeitos da revelia não são aplicáveis quando versar o litígio sobre direitos indisponíveis, como
se lê:
“Tribunal de Justiça do Paraná
Acórdão 7608
Apelação Cível
Relator: Des. Oto Sponholz
Órgão: Primeira Câmara Cível
Publicação: 01/04/1991
DECISÃO -    Acordam os Desembargadores do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná,
aglutinados em sua Primeira Câmara Cível, por unanimidade de votos, em dar provimento à
apelação.
EMENTA -    Investigação de Paternidade, contestação tida como ofertada
extemporaneamente - Revelia decretada pela Dra. Juíza – Dispensa de instrução probatória
– Julgamento antecipado dano pela procedência da ação – Apelação manifestada e provida
– Efeitos da revelia não aplicáveis à espécie – Necessidade da instrução probatória –
Anulação do processo decretada – Inteligência dos artigos 319 e 320, II do Código de
Processo Civil. 1- Se o réu vem a Juízo, embora fora do prazo destinado a contestação e
afirma a inverdade dos fatos articulados na inicial, deixando clara a sua intenção de
defender-se, produzir provas e resistir a pretensão do autor, não pode o magistrado julgar
antecipadamente a lide e declarar presente a confissão ficta. 2 – Os efeitos da revelia
previstos no artigo 319 do Estatuto Processual Civil não são de todo aplicáveis ao réu que,
embora perdendo o prazo para a contestação, impugna o pedido e requer a produção de
provas. 3 – Versando o litígio sobre direitos indisponíveis, o comparecimento tardio do réu
para integrar a relação processual não induz a proclamação dos efeitos da revelia, não
podendo permanecer incólume a decisão antecipada da lide, com dispensa da instrução
probatória e o reconhecimento da paternidade requerida, a consideração de que houve
confissão ficta do réu por falta de sua tempestiva contestação. Apelação provida. Nulidade
processual decretada. Decisão    unânime. (in: Jurisprudência Informatizada Saraiva)”

    “ Tribunal de Justiça de São Paulo


EMENTA – Investigação de Paternidade – Julgamento antecipado da lide, após decretação
da revelia – Não cabimento – Instrução probatória necessária para o deslinde do caso –
Sentença anulada – Recurso provido. (Apelação Cível nº 279.904 – 10ª Câmara de Férias “
A”    de Direito Privado – Relator: Quaglia Barbosa – 14.02.96 – v.u. (    In: Jurisprudência
Informatizada Saraiva).

11 -    Não poderia o Magistrado “ a quo”    decidir pela


procedência da ação se nos autos não existe prova concreta, robusta, e extreme de dúvidas quanto à
paternidade. Saber a verdade sobre a paternidade é legítimo interesse da criança, e um DIREITO que
nenhum Tribunal pode frustrar.

12. O pronunciamento da Justiça, nos casos de investigação


de paternidade, deve estar de acordo com a verdade real, se a sentença declarou uma paternidade
que no mundo real e biológico não existe, está admitindo fato inexistente, e precisa ser rescindida.

13. A hipótese ora submetida à apreciação desse E. Tribunal


configura em tudo e por tudo    a previsão legal do artigo 485, IX do Código de Processo Civil,
positivando que:
“ Art. 485 – A sentença de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida
quando:
.........................................................................................................................
IX – fundada em erro de fato, resultante de atos ou de documentos da causa.
§ 1º Há erro, quando a sentença admitir um fato inexistente, ou quando considerar
inexistente um fato efetivamente ocorrido.
§ 2º É indispensável, num como noutro caso, que não tenha havido controvérsia,
nem pronunciamento judicial sobre o fato.” (g.n.)

14. A sentença proferida pelo    MM Juiz    “ a quo” com a


declaração de paternidade que no mundo real e biológico não existe,    nos colocou diante de dois
fatos distintos: (a) o falso, que o Juiz declarou na sentença – a declaração da paternidade; (b) o
verdadeiro, que ele não declarou em razão do erro – a inexistência da paternidade.    O
pronunciamento da Justiça, nos casos que envolvem investigação de paternidade, deve estar de
acordo com a verdade real, quando isso não ocorre, como na hipótese vertente, é possível a
desconstituição da decisão de mérito, a fim de se obter a declaração sobre o fato verdadeiro.

15. A    Ação Rescisória é o instrumento adequado para


desconstituir a sentença que declarou a paternidade quando esta não estiver lastreada na verdade
real ou biológica, presentes que estão as    condições enunciadas no artigo 485 do C.P.C :
15.1. Não houve controvérsia, ou seja, as partes não
debateram a causa do erro, visto que a decisão foi prolatada à total revelia do Requerente.       
15.2. Não houve pronunciamento judicial sobre o fato,
simplesmente o MM Juiz “ a quo”    considerou verdadeiros os fatos narrados no pedido inicial, em
face da ausência de contestação.
15.3.    Considerando unicamente os efeitos da revelia, o MM
Juiz sentenciante admitiu um fato falso, contrário à realidade.     

16. A jurisprudência pátria tem admitido a ação rescisória


para desconstituir decisões proferidas em ação de investigação de paternidade, como se lê nas
ementas abaixo transcritas:
Superior Tribunal de Justiça
ACÓRDÃO: RESP 107248/GO (199600571295)
RECURSO ESPECIAL
DECISÃO: POR UNANIMIDADE, CONHECER DO RECURSO ESPECIAL E DAR-LHE PROVIMENTO.
DATA DA DECISÃO: 07/05/1998
ORGÃO JULGADOR: - TERCEIRA TURMA
EMENTA
AÇÃO DE NEGATIVA DE PATERNIDADE. EXAME PELO DNA POSTERIOR AO PROCESSO DE
INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. COISA JULGADA. 1. SERIA TERRIFICANTE PARA O
EXERCÍCIO DA JURISDIÇÃO QUE FOSSE ABANDONADA A REGRA ABSOLUTA DA COISA
JULGADA QUE CONFERE AO PROCESSO JUDICIAL FORÇA PARA GARANTIR A CONVIVÊNCIA
SOCIAL, DIRIMINDO OS CONFLITOS EXISTENTES. SE, FORA DOS CASOS NOS QUAIS A
PRÓPRIA LEI RETIRA A FORÇA DA COISA JULGADA, PUDESSE O MAGISTRADO ABRIR AS
COMPORTAS DOS FEITOS JÁ JULGADOS PARA REVER AS DECISÕES NÃO HAVERIA COMO
VENCER O CAOS SOCIAL QUE SE INSTALARIA. A REGRA DO ART. 468 DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL É LIBERTADORA. ELA ASSEGURA QUE O EXERCÍCIO DA JURISDIÇÃO
COMPLETA-SE COM O ÚLTIMO JULGADO, QUE SE TORNA INATINGÍVEL, INSUSCETÍVEL DE
MODIFICAÇÃO. E A SABEDORIA DO CÓDIGO É REVELADA PELAS AMPLAS POSSIBILIDADES
RECURSAIS E, ATÉ MESMO, PELA ABERTURA DA VIA RESCISÓRIA NAQUELES CASOS
PRECISOS QUE ESTÃO ELENCADOS NO ART. 485. 2. ASSIM, A EXISTÊNCIA DE UM EXAME
PELO DNA POSTERIOR AO FEITO JÁ JULGADO, COM DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO,
RECONHECENDO A PATERNIDADE, NÃO TEM O CONDÃO DE REABRIR A QUESTÃO COM UMA
DECLARATÓRIA PARA NEGAR A PATERNIDADE, SENDO CERTO QUE O JULGADO ESTÁ
COBERTO PELA CERTEZA JURÍDICA CONFERIDA PELA COISA JULGADA. 3. RECURSO
ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO.
RELATOR: MINISTRO CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO
FONTE: DJ DATA: 29/06/1998 PG: 00160
REFERÊNCIAS LEGISLATIVAS: LEG: FED LEI: 005869 ANO: 1973 ***** CPC-73 CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL ART: 00468

Tribunal de Justiça de São Paulo


AÇÃO RESCISÓRIA - Ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos - Objetivo de
desconstituição da sentença e acórdão de procedência quanto à paternidade - Cabimento - Admissão
de exame de DNA equiparado a documento novo para reconhecer que o autor não é o pai biológico da
menor, diante do que restou decidido em agravo regimental - Ação procedente. (Ação Rescisória n.
87.637-4 - São Paulo - 1º Grupo de Câmaras de Direito Privado - Relator: Guimarães e Souza -
05.10.99 - V. U.)

Tribunal de Justiça do Paraná


ACÓRDÃO: 2980
DESCRIÇÃO: AÇÃO RESCISÓRIA (GR)
RELATOR: DES. ALTAIR PATITUCCI
COMARCA: MANDAGUARI - VARA ÚNICA
ÓRGÃO JULGADOR: II GRUPO DE CÂMARAS CÍVEIS
PUBLICAÇÃO: 15/12/1997
DECISÃO: ACORDAM OS DESEMBARGADORES INTEGRANTES DO SEGUNDO GRUPO DE
CÂMARAS CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ, POR UNANIMIDADE DE
VOTOS, EM JULGAR PROCEDENTE A AÇÃO RESCISÓRIA.
E M E N T A - AÇÃO RESCISÓRIA - ACÓRDÃO - IMPROCEDÊNCIA - INVESTIGATÓRIA DE
PATERNIDADE CUMULA DA COM PETIÇÃO DE HERANÇA - ART. 485 - INC. VII DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL - RESCISÓRIA - DOCUMENTO NOVO - PROVIMENTO. COMPROVADA A
IMPOSSIBILIDADE DO AUTOR, POR MOTIVOS ALHEIOS A SUA VONTADE,    DE SE UTILIZAR DO
NOVO DOCUMENTO, EXISTENTE AO TEMPO DA AÇÃO, E QUE POR SI SÓ LHE ASSEGURA
DECISÃO FAVORÁVEL. PREVALÊNCIA DOS FUNDAMENTOS QUE DETERMINARAM A
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE EM PRIMEIRO GRAU DE
JURISDIÇÃO. AÇÃO. PROCEDÊNCIA.

Tribunal de Justiça do Paraná


ACÓRDÃO: 832
DESCRIÇÃO: AÇÃO RESCISÓRIA (GR)
RELATOR: DES. ADOLPHO PEREIRA
COMARCA: UMUARAMA - VARA INF JUV FAM E ANEXOS
ÓRGÃO JULGADOR: I GRUPO DE CÂMARAS CÍVEIS
PUBLICAÇÃO: 05/02/1986
RESCISÓRIA - INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE - FALSIDA DE    PROVA - ERRO DE FATO - A
SENTENÇA ANALISOU A CONVIVÊNCIA DO CASAL NO SENTIDO DE DEMONSTRAR QUE A
ÉPOCA DA CONCEPÇÃO COINCIDIU COM AS RELAÇÕES SEXUAIS QUE AMBOS
CONTINUAMENTE MANTINHAM. QUANTO A FALSIDADE DE PROVA NENHUM REGISTRO FEZ O
AUTOR NA INICIAL QUE PUDESSE SER OBJETO DE EXAME QUE SEDIMENTASSE A AÇÃO
RESCISÓRIA. PARA QUE POSSA SER ADMITIDO O ERRO DE FATO COMO CAUSA PETENDI É
NECESSÁRIO QUE EXISTAM DUAS CONDIÇÕES: QUE O JUIZ TIVESSE SE OMITIDO DE
QUALQUER PRONUNCIAMENTO SEM NADA ALUDIR A ELE E QUE SOBRE ELE NÃO TENHA
HAVIDO CONTROVÉRSIA. COMO HOUVE CONTROVÉRSIA QUE FOI OBJETO DA DECISÃO NÃO
SERVE O FATO COMO FUNDAMENTO PARA AÇÃO. RECURSO IMPROVIDO. EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO - ACÓRDÃO N. 865 - EMBARGOS REJEITADOS - UNÂNIME    (g.n.)

DOS    PEDIDOS

17. Em razão de todo o exposto, o Requerente pede:


17.1. A citação do Requerido,    com    a aplicação do art. 172,
§ 2º, do Código de Processo Civil, para a prática de todos os atos a cargo do Sr. Oficial de Justiça,
exibindo-se, para tanto, uma cópia desta petição, para responder aos termos da presente ação, no
prazo legal, sob pena de revelia.
17.2. A procedência do pedido, para rescindir a decisão
objeto desta ação, determinando-se a baixa ao Juízo “a quo”, dando-se prosseguimento ao feito para
cumprimento do disposto no artigo 324 do C.P.C., para que novo julgamento da causa seja proferido,
abstraindo-se dos efeitos da revelia.   
17.3.    A expedição de ofício ao Cartório de Registro Civil
competente, para o fim de anular o registro de nascimento.   
17.4. A intimação do Ministério Público, nos termos do artigo
art. 82, II do Código de Processo Civil.
17.5. A condenação do Requerido nas custas do processo e
honorários advocatícios.

18. Protesta provar o alegado por todos os meios de provas


em direito admitidos.

19. Atribui-se à causa o valor de    R$................ (mesmo valor


atribuído à ação cuja decisão se pretende rescindir).

Termos em que,
P.    Deferimento.
Local e data.
Advogado(a)

_______________________________________________________________________
BANCO JURÍDICO -    FAMÍLIA – DISCO 3 -    RESCISÓRIA – INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE   
VERA LÚCIA DE O FERNANDES (AUTORA)
JOSÉ MANOEL FRAZÃO MENDES (REVISOR)

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