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RAZÕES DE APELAÇÃO

Processo nº. 2006.001.333222-1


Ação Negatória de Paternidade cumulada com Exoneração de Alimentos
Apelante: ROBERTO AGUIAR
Apelado: BRUNO DA SILVA, representado por MARIA DA SILVA

EGRÉGIA CÂMARA

Merece reforma a sentença recorrida em razão da má apreciação das questões de fato e


de direito, como irá demonstrar o apelante:

DOS FUNDAMENTOS DE FATO E DE DIREITO

1 – Trata-se de Ação Negatória de Paternidade cumulada com Exoneração de


Alimentos, tendo sido argüida a coisa julgada baseada no resultado do exame de tipagem do DNA,
demonstrando que o apelante não era o pai biológico do apelado.

2 – Apesar do irrefutável resultado do referido exame, que não foi impugnado, o


magistrado extinguiu o processo com fundamento no art. 267, inciso V, CPC.

3 – Inicialmente, destaque-se que o art. 515, parágrafo 3º, do CPC, objetivando


atender o princípio da efetividade da prestação jurisdicional, além, dos princípios da celeridade e da
economia processual, permite que, sendo o processo extinto, no primeiro grau de jurisdição, sem exame de
mérito, o Tribunal, em grau de recurso, entendendo descabida a extinção, possa decidir o mérito, se a
matéria for unicamente de direito, ou sendo matéria de fato, não haja controvérsia.
4 – Trata-se da teoria da causa madura, que deve ser aplicada ao presente caso, tendo
em vista que nele se discute apenas questão de direito, havendo prova pré-constituída devidamente juntada
na inicial.

5 – Deve-se ressaltar, ainda que, no caso em tela, deve ser aplicada a denominada teoria
da relativização da coisa julgada, tendo em vista que, o juiz, na Ação de Investigação de Paternidade
cumulada com Alimentos, proposta perante a 15ª Vara de Família da Comarca da Capital, poderia ter
determinado que fosse feito o exame de DNA.

6 – Por tal teoria, autoriza-se afastar o princípio da segurança das relações jurídicas, o
qual consagra a coisa julgada, sempre que contra ela sobrelevem razões mais altas e princípios de maior
alcance, ou seja, não se concebe imunizar sentença cujos efeitos possam levar a uma eventual atribuição
indevida de paternidade.

7 – Neste sentido, vêm se posicionando os Tribunais:

“INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE – REPETIÇÃO DE AÇÃO


ANTERIORMENTR AJUIZADA, QUE TEVE SEU PEDIDO
JULGADO IMPROCEDENTE POR FALTA DE PROVAS – COISA
JULGADA – MITIGAÇÃO – DOUTRINA - PROCEDENTES –
DIREITO DE FAMÍLIA – EVOLUÇÃO – RECURSO ACOLHIDO

I – Não excluída expressamente a paternidade do investigado na


primeira ação de investigação de paternidade, diante da precariedade
da prova e da ausência de indícios suficientes a caracterizar tanto a
paternidade como a sua negativa, e considerando que, quando do
ajuizamento da primeira ação, o exame pelo DNA ainda não era
disponível e nem havia notoriedade a seu respeito, admite-se o
ajuizamento de ação investigatória, ainda que tenha sido aforada uma
anterior com sentença julgando improcedente o pedido.

II – Nos termos da orientação da Turma, ‘sempre recomendável


realização de perícia para investigação genética (HLA e DNA), porque
permite ao julgador, um juízo de fortíssima probabilidade, senão de
certeza’ na composição de conflito,. Ademais, o progresso da ciência
jurídica, em matéria de prova, está na substituição da verdade ficta
pela verdade real.

III – A coisa julgada, em se tratando de ações de estado, como no caso


da investigação de paternidade, deve ser interpretada modus in rebus.
Nas palavras de respeitável e avançada doutrina, quando estudiosos
hoje se aprofundam no re-estudo do instituto, na busca sobretudo da
realização do processo justo, ‘a coisa julgada existe como criação
necessária à segurança prática das relações jurídicas e as dificuldades
que se opõem à sua ruptura se explicam pela mesmíssima razão. Não
se pode olvidar, todavia, que numa sociedade de homens livres, a
Justiça tem de estar acima da segurança, porque sem Justiça não há
liberdade’.

IV – Este Tribunal tem buscado, em sua jurisprudência, firmar


posições que atendam aos fins sociais do processo e às exigências do
bem comum. “(STJ – 4 ª Turma – REsp. 226.436 – PR – Relator :
Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira – Julgado em 28/6/2001)

8 – Assim, diante da comprovação dos fatos constitutivos do direito do apelante,


corroborado através do resultado negativo do exame de DNA, é possível e permitido retornar a juízo.

9 – O ilustre autor Alexandre Câmara define prova: “ a todo elemento que contribui
para a formação da convicção do juiz a respeito da existência de determinado fato. Quer isto
significar que tudo aquilo que for levado aos autos com o fim de convencer o juiz de que
determinado fato ocorreu será chamado de prova.” (in Lições de Direito Processual Civil, 8ª ed.,
Lumen Juris, p. 389).

10 – Sendo assim, nos autos do processo de Investigação de Paternidade, na busca da


verdade real, além da oitiva das testemunhas (art. 400, CPC), que, aliás, foram contraditórias, deveria ter
sido prova pericial, através do exame de DNA (art. 420, CPC), a fim de que não houvesse qualquer dúvida
sobre a paternidade do apelado, uma vez que o resultado do referido exame dá uma certeza absoluta sobre a
paternidade.
11- Se isso não fosse suficiente, a prevalecer a situação desta falsa paternidade, estaria
sendo ofendido o Princípio Matriz da Constituição Federal consubstanciado na dignidade da pessoa
humana, ofensa esta que tanto atinge o menor, que tem o direito de saber quem de fato é seu pai, como
também alcança o apelante que não pode se ver compelido a manter um vínculo indevido que acarreta
também danos a sua psique.

12 – Neste sentido, escreveu Vladimir Brega Filho, no texto “A relativização da coisa


julgada nas ações de investigação de paternidade”: “mesmo sendo difícil definirmos o conteúdo do
princípio da dignidade da pessoa humana, saberemos identificar situações em que o princípio está
sendo violado e ninguém em sã consciência poderá afirmar que ao impedirmos a busca da
paternidade, e por conseqüência uma série de direitos fundamentais, estaremos observando o
princípio constitucional. Não permitir que o autor, mesmo com os progressos da ciência, possa
descobrir que é seu pai, é ferir por completo a dignidade da pessoa humana. A certeza da
paternidade é um dos ingredientes da dignidade da pessoa humana.”

13 – Por derradeiro, há de se destacar que não há qualquer relação de afetividade entre o


apelante e o apelado, o que poderia até justificar, uma vez que inexiste o vínculo biológico, a possibilidade
de haver a denominada paternidade sócio-afetiva.

14 –Verifica-se, inclusive, que a nossa doutrina tem adotado o conceito da sobreposição


da filiação sócio-afetiva, em relação à verdade biológica, o que claramente não se adequa ao caso em
questão, já que, além da comprovação irrefutável da inexistência da paternidade atribuída ao apelante, este,
em momento algum, estabeleceu um mínimo de contato com o apelado.

15 – Por todas as razões aqui colocadas, vimos demonstrar a essa Colenda Câmara, as
argumentações insofismáveis que sustentam não só o direito do apelante, como também ressaltam o caráter
da justiça a ser apreciada e defendida.

DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer a V. Exa.:

A – conheça do recurso ora interposto e lhe dê provimento para reformar a r. sentença recorrida, no sentido
de invalidar a sentença que julgou a extinção sem julgamento de mérito;
B – seja aplicada a teoria da causa madura para julgar procedente o pedido, excluindo-se a paternidade do
apelante;

C – seja o apelante exonerado de prestar alimentos ao apelado,

D – que seja o apelado condenado aos ônus da sucumbência.

P. Deferimento.

Rio de Janeiro, 03 de novembro de 2006.


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ADVOGADO
OAB/RJ

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