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2. A ilicitude da prova diante dá ..

do processo·e em violaçao a um direito


existência ou não de processo, fundamental material é evidente que a
da natureza do direito violado prova ilegalmente obtida porum particular
e da qualidade do violador merece a mesma reprovação.
PROVA ILfclTA possa parecer eVidente, rriúitas vezes um . . , . . '
fato pod.e ser objeto de duas ou varias pro- Há a obtida antes do 3. Ilicitude no plano do direito
LUIZ GUILHERME MARINONI vas, daí decoiTendoproblemas quando uma processo e depoiS da I.nstauração. material: i) na obtenção da
TItul.rde Dittito processual Civil das UFPR. das provas t iHcita. ta-se, porém, mUlta prova pré-constituída, ii) na
Pós-doutor.do na Universidade ESIlIIlII de
Milao. Advogado. Aind.a que ambas as provas tenham razão de ser, pOIS é a IhCltude obtenção das informações
o objetivo de elucidato mesmo fato, em pode ocorrer antes do mlclO do proces- consubstanciadoras da declaração
princípio uma prova pode ser totalmente 50 - como por exemplo, com testemunhal, iH) na formação e
StIJOOrio: 1. Os planos dos fatos e das provas independenté da outra. Aliás, essa inde- a gravação c1andestma de uma conversa na produção da prova e iv) na
- 2. A ilicitude da prova diante da existência pendfncia também pode ocorrer quando a telefônica - ou depois da sua iristauração, utilização da prova pré-constituída
ou não de processo, da natureza dodireito prova é posterior à ilícita, mas com ela não mediante a violação de direitos processuais
violado e da qualidade do violador - 3. ou materiais. No plano do direito material, é possível
Ilicitude no plano do direito material: i) na tem qualquer vínculo.
obtençãbda prova pré-constituída. ii) na 0b- O fato também tem a sua autonomia Note-se, aliás, que não há procedência pensar, em primeiro lugar, na obtenção
tenção das informações consubstanciadoras realçada quando a segunda prova, embora em ligar a violação do direito material ao ilegal da prova pré-constitUída ou dos co-
da declaração testemunhal, iii) na formação decorrente da ilícita, dela se desliga juridi- momento pré-processual. Ora, se uma nhecimentos necessários para a declaração
e ná produção da prova e iv) na util ização camente, como acontece no caso em que a testemunha é constrangida a depor em testemunhal.
da prova pré-constituída - 4. Ilicitude no validade da última prova é admitida com determinado sentido , existe violação a Se uma prova foi licitamente const!-
plano do direito ií na admissão base na teoria de que o fato seria Inevita- um direito fundamental material dentro tulda, mas foi posteriormente obtida de
da prová e iH na produção da prova - 5. A
velmente provado ou descoberto, pouco do processo. modo ilícito - por exemplo, mediante in-
gravidade da violação - 6. A prova óbtida
com violação de regra processual que não importando, assim, que a segunda prova Outros, percebendo essa questão, prefe- vasão de domicílio -, o meio de prova, em
implica lesão a direito fundamental. Con- tenha sido realizada a partir do resultado rem distinguir a prova obtida com violação si mesmo, é lícito, embora a sua obtenção
seqüências- 7.A norma constitucional que obtido em razAo da prova ilícita. Trata-se do direito material da prova obtida com tenha ocorrido mediante violação do di-
proíbe as provas Uobtidas por meios ilícitos" da aplicaçãO da teoria americana da inevi- violação do direito processual. Assim, a reito material.
-8. Fundamento e significado do art. 5.°, table discovery exception, introduzida pela prova testemunhal obtida mediante coação Situação parecida acontece quando o
LVI, da CF - 9. A oPÇão do processo penal e Suprema Corte dos Estados Unidos em
a ausência de ópção rio âmbito do processo nãoserla confundida com tima prova obtida depoimento testemunhal é prestado a partir
1984, quando do julgamento do caso Nix com violação ao contraditório. de conhecimentos obtidos de modo ilícito.
civil - 10. A proibição da prova i!feita no versus Williams. I
processo civil e a regra da proporciona- Contudo, é preciso perceber qUe uma Assim, por exemplo, se a testemunha obte-
lidade - 11. A contaminação das provas Ademais, nada impede que o fato cons- prova pode violar simples regras do proce- ve as informações mediante a espionagem
vinculadas fática e juridicamente à ilícita. tatado por meio de uma prova ilícita seja dimento probatório - cuja necessidade de das atividades da parte . No caso, não se
A teoria dos frutos da árvore envenenada reconhecido pelo juiz quando admitido ou observância não é imprescindível para a pode dizer que a prova foi obtida de modo
- 1 2. Exceções à teoria dos frutos da árvore confessado em juízo, desde que, como é proteçãO das garantias da parte- e direitos ilícito, mas sim que as informações reve-
envenenada: o "descobrimento inevitável" óbvio, essa confissão seja voluntária.
(inevitable discover y exception )e o "desco- fundamentais processuais. Nessa última ladas por meio da prova foram ohtidas de
Lembre-se, por último, para que seja de- hipótese, a prova contém vício tão grave forma i1lcita.
brimento provavelmente independente"
(hypothetical independentsource rule )-13. finitivamente evidenciada a separação das quanto a que viola outra modalidade de Além disso, não há como esquecer de
O problema da obtenção de informações esferas probatória e fática, que, se a prova direito fundamental , quando a separação separar as hipóteses em que a ilicitude está
de modo ilícitoe da prova testemunhal que ilícita não tem eficácia no processo, o seu da prova segundo a natureza do direito na fonnaçi1o da prova daquelas em que a
pode nelas se basear - 14. A teoria da des- resultado pode ser utilizado no plano ex-
violado perde sentido. ilicitude está na sua produçilo. Exemplos do
contaminação do julgado. traprocessual para impedir a ocorrência de
Por fim, não importa quem violou a primeiro casoatontecemquando alguém é
um fato que provavelmente será praticado
norma que gerou a ilicitude, se um funcio- coagido a fazer uma declaração por escrito,
diante daquilo que foi descoberto.
1. Os planos dos fatos e das provas nárlo pUblico ou um particular. Embora aposarparaumafotografiaouaprestarllm
essa questãO importe para o processo penal, depoimento gravado. Mas, quando (I teste-
Inicialmente, é preciso frisar a separa- I. Luis Gálvez Mui\oz, La ineJicacia de la prueba
em que a prova ilícita é geralmente obtida munha é coagida a depor (no processo) , a
ção entre os planos dos fatos e das provas. obtenida con violaclón de drrechos fundamen-
tales, Navarra: Aranzadi, 2003. p. 194. por um agente público - antes do início ilicitude está na prodUÇão da prova.
Mesmo que a distinção entre fato e prova

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· Note"se, porém, que quando é feita a exemplo, quando se violou ocontritditório coaÇão, por exemplo, resulta de um iltcito; EsSa constatação, apesar de simples,
gravação clandestina de uma converSa te- na produção da ptova testemunhal, ou não mas a prova documental eríi cujo procedi- revela que umá prova que resulta de um
lefônica, o depoente rido t forçado a falar, se permitiu à parte acompanhar o trabalho mento foi violada regra processual- ou o procedimento em que foi cometido um
embora a prova seja obtida de forma ilícita, do perito; por não ter tido ciência da data contraditório - não constitui o resultado ilícito não é necessariamente ineficaz. A
mediante invasão da intimidade. e do local em que a prova pericial teve iní- dessa vioÍação. Nesse sentido, seria pos- valoração da sua eficácia depende da maior
, Além dós clsós Cili roimil.çã6; pfoduçãO cio, Conforme exige o art. 431-A do cpc. sível concluir que a prova que resulta da ou da menor essencialidade da norma pro-
e obtenção de provas de modo ilftito, há N esses não. há como negar que à ilicitude é mais grave do que a prova em cessual violada, não constituindo uma con-
situações em que a iliCitude áÜórie dó uso produção da pro"a foi cónduzída de modo cujo procedimento o ilícito foi praticado, sequência automática do ilícito.
de um docúmento ión'loprow, á.5sirn como ilícito, ou que houve ílicitudê na produção pois no primeiro caso a prova é irremedia- Não é correto contudo, que
acotltece Com a utilização de uriidl.ário da prova. Mas essa ilicitude está no plano velmente ilícita. 3 isso resulta da já conhecida idéia de que as
íntimo no dé do direito processual. Acontece que não é apenas a relação da provas devem ser diferenciadas conforme
em que a ilicitude está na
eXpósição do Percebe-se, em resumo, que a prova com a ilicitude que Importa -Se direta tenham origem na violação do direito ma-
conteúdo do documéÍ'lto. 2 bilidade e a produção dá prova têm relação ou não. Ainda que a prova não constitua terial ou na violação do direito processual.
com os planos dos direitos material e pro- o resultado direto da ilicitude, ela varia Uma prova que viola diretamente um direi-
4. no cessual Uma prova pode ser indevidamente conforme a qualidade di! norma violada. to fundamental processual, ou uma regra
processual:!) na admissão da prova - ilicítamente- admitida no procesSo em A violação de uma norma processual pode que repete os seus dizeres, obviamente não
e ii) na produção da prova violaçãO ao direito processual, e uma prova ser graduada, partindo-se de uma simples confere ao juiz o poder de valorar a sua
ilícita no plano do direito inaterial pode ser irreguláridade para se chegar a umá lesão a eficácia. Como é evidente, a prova obtida
Há regras processuais que rtgUlam a fase um direito fundamental processual. com violação ao princípio da publicidade
indevidamente- e mais uma vez ilicitamen-
de admissão da prova. Assim, por exem- - obviamente quando a intimidade ou o
te - admitida rio processo. De outra parte, Se determinadas regras processuais
plo; a admissão da prova deve considerar interesse social não o exigirem (art. 5.°,
urna prova pode ser produzida mediante infraconstitucionais simplesmente repro-
o moment() do seu requerimento. Porém, duzem os termos das normas constitucio- LX, da CF) - não merece menor rigor do
violação ao direito material ou em desres-
também não podem ser admitidas as provas nais ou têm a função de regulamentar um que.a prova que é resultado da violação do
peito ao direito procesSual.
documentais obtidas ou formadas com vio- direito furidamental, há regras processuais direito à intimidade.
laçãO do direito material e os documentos Í1ífraeortstitucionais que nãó são impres- O fato de a violação do direito material
5. A graVidade da violação
que se tomam ilícitos quando utilizados cindfveis à efetividáde de um direito fun- • implicar sanção no plano do direito mate-
no proCl:Sso. Diante do que acaba de se expor, pode damental processual. rial, e não unicamente no processo, não tem
No que diz respeito à testemunha coa- terrestado a idéia de que a violação de um
Assim, quando a prova éo resultado de qualquer relevãncia no presente caso. Ora,
gida e à testemunha que Se vale de conhed- direito material (direito à intimidade) é
um procedimrnto em que foi cometido um o problema, nesse momento, não é o de de-
mentosobtidos de modo ilícito, a violação mais grave que a violação de uma regra
ilícito (enão o rrsultadodirdO da ilicitude) , é terminar o que acontece no plano do direito
ocorre no momento da produção da prova. processual. preciso atribuir-lhe significado, umil vez que material- do direito penal etc. -, mas sim
No segundo caso, embora a violação da in- Em determinada linha, a prova ilícita a prova e o ilícito, no caso, podem se separar. o de precisar a repercussão da ilicitude no
timidade para a obtenção das informações pode ser vista como algo que não existiria A repercussãódo ilíci to sobre a prova poderá processo, pouco importando se essa ilicitude
ocorra em instante anterior à produção da se não fosse a violação do direito material. ser maior ou menor, conforme a indispensa- provém do direito material ou diz respeito à
prova, a ilicitude da prova se dá no exato Assim, seria ilícita a prova obtida median- bilidade da regra violada para a proteção dos violação de norma de natureza processual.
momento em que a testemunha presta o seu te invasão de domicílio, violação de cor" direitos fundamentais processuais.
depoimento, isto é, em que aprova testemu- respondência ou gravação clandestina de Quando a regra iÍ1fraconstltucional vio-
6. A prova obtida com violação de
nhal é produzidn. Isso evidencia claramente conversa telefônica. Sem esses atos não lada repete oS dizeres da norma constitu-
regra processual que não implica
que a ilicitude na produção da prova pode haveria como fular em ilicitude. cional, nã() há dúvida a respeito da violação
lesão a direito fundamental.
decorrer de violação do direito material. do dIreito fundamental processual. Fora Conseqüências
Porém, há provas que são dependentes
Porém, a ilicitude da produçdo (não da do ilícito e provas em cujo procedimento daí, para se definir á importância da norma A prova não pode ser sanada quando
formaçdo) da prova deriva, em regra, de houve uma ilicitude, Em alguns casos, a infringida, é preciso indagar sobre a suá a ilicitude é a sua causa. A prova somente
violação do direito processual. Assim, por prova existe porque o ilícito foi praticado essencialidade para a efetividade do direi to pode ser sanada quando constitui o ponto
e, em outros, a existência da prova não é fundamental processual. final de um procedimento em que houve
2. Cr.lsabeIAlexandre,ProvaS illdtas em processo conseqüência da ilicitude. Ou seja, a prova uma ilicitude. Nessa linha, é possível dizer
civil, Coimbra: Almedína, 1998, p. 25-27. obtida mediante gravação clandestina ou 3. luís Gálvez Mutloz, op. dI., p. 93 e ss. que a prova que resulta da violação de um

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diréito material nAo podesersanada,não gá-Ia <xim oútraS provas lfcitltspara ariálisar são do temat'las provas il1citas: O an:S.o. 9. A opçã? do proc,:sso ea
acontecendo o mesmo com 3'Prova em cujo os fatos'apresentados 30 seuji:dgamentO': ;' : LVI; da CF não vedou a'violação do direitó ausênCIa ?f>çao no amblto do
pTOcedimento Ocorreu um ilfcito. , padranto, 'expór ,eexpu1 material para a obtenção dé: prova - pois proéeSsoclVll
Porém, gsó nãO' significá quê todás clr,fiil fuotlVàçãd, 1I6ri{Ue a dà isso já está proibido por outras normaS.;., A influencia do processo penal sóbre a
provas ql.ll: rido cbt'tsHt1iamrtsúltaâós de nãO' ti des'; mas proibiu que tais provas tenham eficdda rdéia de proibição de prová ílfeiti é muito
ilíCitos séjam sânaveis. ApfuVá produZida tobertlí fia Sita toiiilidade. Após; tem qtit no processo. .' . .' ' . ' grande. Conto nesse setor a da
com vlólaçÍ}iído direito processüár.:.. oU telatibrilÍt essit ã prová Por outro lado, não imaginar prova é deferida à polícia, em uma fase an-
melhor; qllé totiSthuid Ii:sultMo d'd rtiaculádiÍ; com iiqUilo quHbléVl'déridiidd que a proiblçllo ,da prova i1fcita surgiu da terior àô processo, é viSível a necessidade de
ilfcito, ínas sim o resultado dn procedimento por meio das proVas Ireitíls, necéssidade de se garantir a descoberta se colocar Creias náatividade policial, corri
em que ócontu um ilfcito pode ser sanada do, de modo racional, a viriculação entre da verdade no processo;poís não se podé o objetivo deírripedlr a obtenção de pro-
somente nas hipóteseS em que a regra vio- a descoberta obtida pela prova ilícita e as ignorar que algUém pOde se ver tentado a vas mediànte à violàçãO de direitos funda-
lada não t. essenCÜlI à proteção de um direito provas lícitas. .;' obteruma prova de forma ilícita justamente rrtcn tais máteriaÍ5. 5 Pai"a'disstiádír o agente
fundamental proéessual-, aSsim como os , , " ,, ;
para demonstrar a verdade, Na realidade, público cle obter prova em desrespeito aos
direitos ao contraditório e à·defesa .. ' 7. A norma que proíbe se tais provas MO implicassem violação de direitos, nadá mais eficaz do que proibir a
NeSses diSos, letidõ em vtstâ qUe à vio- às provas "obtidas por meios
ilícitos"
direitos, a busca da verdade deveria impor sua utiliZaçãoiio processo.
lação da regra processulilp'ddé petrtiitit a sua utilização no processo. Nessa situação há um processoerri que
a salvaÇão do reSultàtlõ do j;>tOcedifuét'lto O art. 5.°; LVI, da CF nã6 nég3 odireito se enfrentam o Estado- titular da pretensão
pt-obntórlo':" isto t, &i ptoVa:"':; itàda Impede à provà,' tna5 limita'8 busca dá ver- punitiva _ e o párticular _ titular dó diré.ito
que·ele seja tecúpetadomediarite àobser- das por meios Ilícitos". EsSe.inclSO se refere dade; qüe detità de ser posSível mediante de liberdade. Nesse caso, porém, há nítIda
vãrtéiá dó requisito íégá! ignoi:'ãdó: ptoVhli 6btidástrledtahté á violáçã6 do provas obtidas de fõrmá ilíCita. O preferência pelo direito de liberdade, que
Ademais, qukIldo drreitó Ililltérial, pois é óbvio que as
provas se colocá em,riosição de em
obtida com violaçãO dé tégra não essericiâl, não vióJar os dIreitos ptocessnals. stlpet'lóru de proteção de dIreitos relação à pretensão punitiva estatal. .'
IÍào há tàZãó paraseréuru qualquer dictcht que podetn Ser violado:. , ' ... . ", .. " . A diferença entre os processos penal e
ao seu resultado. Ao contráriO, ria hipóteSe fundànieritáiS materiais, como ()s direitos à Corri efeito, dita limitação encontrá civil se toma nítida quando se constata,
deviolaçãodedireitofundamerttal,séjàma- invíoJabillcladeda intimidade, dá imagem, fundainento processo, sim * por exemplo, que as partes têm,o dever de
terialoú prOCesSual, à prová não pode geral' cio domictlio e da corresPondência(art. 5. o ; tividáde da 'Ptoteção dó dizer a verdade no processo civIl, enquan-
coriscltúêricia alguma no processo, X, Xl e XII, da CF) . to que o réu, no processo penal?deve ser
Ou seja, a desco1)etta que seobtevetdtn pl'oVáilícitápátà dartnalot tutelà ao direito inCormado do seu direito de permanecer
a prova soriienté pode ter material não pode ser sanada e próduziT matérlál, negaticlo ,a possibilidade de se calado.6 Como sê vê, a busca da verdade é
proceSso quatid6 oílfchó não é3 siià ctusa qualquer efeito noprôcésso. NeSses caSos, a\cançat â verdadeâ quàlquer custo . .' . .' tratada de mOdo totlÍlmentediverso em taiS
devió1áção dodiréito niàterlal) ê como já dito, nada se pode aproveitar da DÍántedisso, é irtê'gável qüe hóúve u'm,a processos. De acordo com a Constituição
nAovioÍou uindiretto fundarrientál proces- prova, uma vez que o ilfcito é a sua cáusa.< opção pelo direito material em Federal, o preso deverá ser informado "de
sUál no prdcedlmerito qtlerielá resultou. Se to do direito ã descoberta da verdade. A seus direitos, entre os quais o de perma-
a prova derivá do iÍfCito oua suaobiençâo 6. do i1lt questão, porém, é sabefse essa opção ex- necer Não se.trata apenas de um
na
implicou Viotação de um direito funda- 5.°, LVI, da CF . c\ui i.iritá posteriÓt po.rideração- agora direito de calar, mas sim de um.
direito de
mental processual, a sua descoberta deve pelo juiZ - erttre o direito que se pretende ser ih formado da possibilidade de calar.
ser considerada um ; sem qualquer A razão de ser da proibição inserida no fazer por nÍeio da prova ilícita e o direito Caso essa Informação não ocorra, a pro-
possibilidade de lniÚjir sobre o convenCi- art. 5.°, LVI, da CF está na insuficiência de
material violado. , va obtida por meio da declaração é ilícita.
mento do jlliz. · ' sancionar a ilícita apenas no plano do
Frise-se que tal norma apenas afirmou, Além do mais, não se pode esquecer que
direito material Para uma maior proteção
No caso em qúe nãô regra em princípio e como valor abstrato, que a o processo penal é marcado pela chamada
dos direitos" é preciso negar eficácia a tais
proceSsUal essenciâl, aprova, ainda que não proteção do deve,se
provas no processo.
sanada, pode ter repercussão'no proce.s§O, acinia dá busca da verdade. Mas não COnsI-
Essa constatação, embora simples, éex- S. Tanto é verdáde que a Constituição dá Repú-
embora não possa ser valoràda como uma derou - e nem poderia - o fato de que essa blica pórtugueSà trata das prOvas !lIcitaS no n.
prova. Nessa específica situação, a deScober- tremamente importante para a compreen- relação ocorre em processos de diversas 8 do árt, 32, qué se refere expressamente às
ta tii!zi.da pela prova pode sér considerada espécies- penal, civil, trabalhista- e diante garantias do processo criminal.
livremente pelo júiz, podendo o juiz conju- 4. Luis Gálvez Mutloz, op. cit., p. 148 e 55. de diferentes valores e direitos. 6. Art. 5.°, LXIII. da CF

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presunção de inoc!ncia epeIa proibição qualquer limitação.1 Contudo, um direito Porém,não se nega que o art. 5.°, LVI, Adistinçãopr'opostaporAlexy;apesarde
de o juiz condenar o réu quando não está fundamental não dotado de eXpressa pré" da CF realizou uma ponderação entre a importante, traz uma enorme dificuldade em
convencido da verdade - o que não ocorre visão de restrição não indica uma posição efetividade da proteção do direito material face de casos como o da proibiçãO da prova
no processo civil. . . definitiva acerca da sua limitabilidade; e o direito à descoberta da verdade. Enten- ilfcita. Isso porqUe uma norma como a rela-
Essa diferença reflete a distinção A difiCuldade dá quês tão daS restrições de-se, não obstante, que, tratando-se de tiva à prova ilícita não pode ser qualificada
os bens próprios a cada um desses proces- não expressamente autorizadas aos direitos processo civil, é incontestável a necessidade apenas como regra ou como principio (no
sos. Enquanto no processo penal o direito fundamentais se liga ao problema de resolu- de uma segunda ponderação, a ser feita pelo sentido excludente), mas sim como uma nor-
de permanecer caIado e a presunção de ção das colisões entre os direitos fundamen. juiz diante do caso concreto. Por meio dessa ma que. em cenos casos, pode se componar
inocência derivam da proeminência do di- tais e outrós bens dignos de proteção. Daí a ponderação, o juiz, mediante a aplicação da como regra, e, em outros, como principio.
reito de liberdade, no processo civil- não importância da regra da proporcionalidade; regra da proporcionalidade, poderá admitir De modo que, no presente caso, pou-
havendo como definir, em abstrato, o bem ou de um método de ponderação de bens, eficácia à prova ilícita. co importa atinar para as conseqü!ncias
de maiorrelevo-,ambasaspartes têmode- no caso concretO. Como se é necessária a percepção de se ter uma norma como regra ou como
ver de dizer a verdàde e; em alguns casos, o 6ibe lembrar ttue quase tMos os paises de que a eleição de um valor, pela norma, princfplo, mas sim buscar um critério ca-
juiz pode dar tutela ao direito do autor com queactilhêrám 11 prolbiçito da prova ilíci- não extlui a poSSibilidade da realização paz de identificar uina e outro (a regra e o
base em convicção de verossimilhança. ta foram obrigados a admitir exceções, li de outra ponderação, a ser feita pelo juiz princípio). É correto afirmar que a norma
De modo que as diferentes realidades, fim de preservarem determlnadós bens ê diante do caso concreto. A resposta a essa que se aplica por subsunção é uma regra e
situadas em cada um desses processos, não valores dignos de protéção: Como base na argúmerttaçãO seriaho sentido de que a a norma que se aplica por ponderaçào é um
podem deiXar de ser levadas em coriside- regra da proporcionalidade, os tribunais norma constitücional, áo proibira prova princIpio. Porém, a subsunção soménte é
ração quando se pensa na proVa obtida de americanos e alemães admitem exceções à ilfcita,11ito fez restrição a qualquer espécie viável quando o legislador ponderou tudo
modo ilícito. Ao se tentar uniformizár a proibição·das provas ilícitas, quando de prdceSsd e,assim, considerou também o que havia a ponderar, pois, se algo não foi
maneira de compreender o processo penal e sário à realização de exigências superioreS o processo civil. Essa objeçito não Impres- ponderado, a aplicaçãO da norma resta na
o processo civU é possível cair no engano de de natureza pública ou privada, argumen-: siona, pois a proibição da prova ilfcita não da ponderação do juiz.
pensar a prova ilfcita comó álgo que não tem tando que a proporcionalidade é essenciaÍ exclui;" e nem poderia - a radicá 1diferença
Ou seja, quando uma norma, diante de
qualquer relâção tom àS diversas situações para a "justiça no casO
concreto". entre os bens que compõem os diferentes determinada situação, não deixou nada para
posiás nesses difererttes próéessos. A regra da proporcionalidade é processos. Podsso, a norma que proíbe ser ponderado pelo juiz, há uma regra; caso
Mas, como díto, o process6 dá ficamente admitida no direito brasileiro, a prova Ulcita, ainda que tenha feito uma • contrário, quando algo ainda deve ser pon-
maior relevo ao direito de liberdade, ao embora muitas vezes tenha a sua aplicação ponderaçito - como fazem, aliás, várias
derado, existe um princípio. Note-se, con-
passo que o processo ciVil não taz
opção impugnada diante da norma constitucional outras normas que tonsagramdlteitos
tudo, que a mutação da norma, de regra para
que proíbe as provas ilícitas. O argumento fundamentais -, nao se libertou da suá re-
principio, está indissociave\mente ligada ao
(pois da rião pode reiia em abstrato), é o de que a Constituição Federaljá fez a serva Imanenú: de ponderação com outros
caso concreto. Se determinado caso concreto
deixlÍndo essa opção para o juiz, diante dó ponderaçiio entre a preservaçito do direito bens e direitos.
não exige ponderação alguma do juiz, outro
caso con.c'teto. ISso quer dIZer que a norma material e o direito li descoberta da ver- f'erceba-se qúe eSsa questão se liga à dis- pode depender da sua ponderação.
do art. 5.°, LVI, da CF pode ser conjuga- dade. Afirmá Luís Roberto Barroso, por tinção entre principios e regras, no sentido
Portanto, importa definir se a norma
da com a opção do processo penal, mas, exemplo, que a "Constituição brasileira, da doutrinade Alexy. Apergunta queinteres-
que proibiu a prova ilfcita ponderou tudo
quando 'pensada em face do procésso civil, por disposição expressa, retirou a matéria sa, diántedisso, é se a norma constitucional
o que havia a ponderar, fechando as portas
apenas pode se ligar a uma falta de opção, da discricionariedade do jutgador e vedou que profbé a prova ilícita consutui uma regra
para qualquer ponderaçãO por pane do juiz,
ou melhor, à necessidade de que essa opção a possibilidade de ponderação de bens e - que entito deve ser aplicada segundo a
ou se ainda está aberta para certos casos
seja feita diante do caso concreto. valores em jogo. Elegeu ela própria ó valor lógica do "tudo ou nada" - ou um principio
concretos, quando então deve ser aplica-
mais elevado: a,segurança das relações so- - que abre oportunidade para a ponderação
da mediante ponderação. A solução dessa
10. A proibição da proVá ilfcità ciais pela proscrição da prova ilfcita".8 dos direitos no caso concreto. 9
questão nito é difícil. A conclusão de que
no processo civil e a regra da
proporcionalidade a norma eliminou a necessidade de qual-
7. Jorge Reis Novais, As restrições aos direitos RenOVar. 1993, p. 346. No mesmo sentido quer outra ponderação somente poderia ser
jundiÍmrntais n<lo autorizadas Ada Pellegrini Grinover. Liberdades públicas
Alguém poderia dizér que a norma que pela Constltuiçdo, Coimbra: Ed. Coimbra, aceita se a sua se desse em casos
e processo penal, Sao Paulo, Saraiva, 1976.
profbea prova ilfcita, por instituir um direi- 2003, p. 569. 9. Robert Âlexy. Teona de ios dárchos fundamrn.
uniformes, que ndo guardassem qualquer
to fundamental que não possui ex- 8. LuIs Roberto Barrtlsó, O direito constitucional teiles, Madrid: Centto de Estudtos Polfticos y diferença de fundo, e por isso dispensassem o
pressamente au torizada, não poderia sofrer e a efetividade de suas "omas, Rio de Janeiro: Constltuclonales. 2002. p . 88-92. juiz de qualqutr outra ponderação.

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Mas a única ponderação feita pela nor- PaTà evidenciar que; em alguns casós, t por uso de tóxicos, (ii) vinculada ao direito considerados valorntivamente em abstrato:
ma constitucional alcançou o direito à des- necessária uma segunda ponderaçdo, bastá do marido à desconstituição do Ou seja; os bens que nelo podem ser colocados
coberta da verdade é a proteção do direito pensar na situação em que um particular é to, e; por fim, (iii) analisada em relação à em uma escala hierárquica, porque apresen-
material contra a prova illcita. Isso quer obrigado a obter uma próva i1lcita - diante proteçãd das menores que vinham sendó tam maior 011 menor valor; conforme as cir-
dizer, simplesmente, que há uma regra, vá- da inexistência de qualquer outra prova intoxicadás pela própria mãe através do cunstdncias do caso concreto, sempre estão
lida para o processo penal e para o processo - para proteger um direito fundamentaL remédio "Lexotan", sujeitos a colidir e, aSsim,jamais podado se
civil, que prolbc o uso da prova ilfcita para
viabilizar a descoberta da vrn:lade.
Ou na hipótese em que uma associaçãO Se àceitàrmos a tese de que à rioririá que livrá r da regra da proporcionalidade, única
alternativa parase solucionar o conflito entre
não tem outra alternativa para proteger o proíbé a prova ilícita já pornteri:m tUdo o que
Como à descoberta da verdade, no pro- direito ambiental. r.;
havia à ponderar, estaremos, fdrc;osàmente, dois bens igualmente dignos de tutela.
cesso penal, estd umbilicalmente ligada à O STF, ao tratar de retiltso otdiilário em impedidos de considerar as hipóteseS referi- Especificamente em relação à prova
atividade estatal, tal ponderação também mandado de segurança, pelo qual se das de Inàneira distinta. Pórém, imaginando- ilícita no processo civil, como já demons-
atingiu a pretensão punitiva do Estado, lou o desentranhamento de decodificação se essa prova diante de urna ação de alteração trado, o conflito pode se dar entre o direito
proibindo-o de se valer de uma prova ülcita de fita magnética, proveniente de escutá da guarda dos filhos, hão há como deixar de fundamental material que se deseja ver
para obter a condenação de um criminoso. telefônica dós autos de processo criminal enxergar à diStinção entre o que se pretende tutelado por meio do processo e o direito
Vale dizer: a ponderaçdoda norma, diante em que a impetran te havia sido denunciada fazer valer com a prova illcita ruis ações pe- fundamental material violado pela prova
do processo penal, altm de incidir'sobre a portóxico, assim decidiu: "Mandado de se<-- naI e civil. Ora, o Estado, altm de ter que 5e ilícita. Trata-se de colisão entre dois direi-
busca da verdade, atingiu a pretensão pu- gurança, Escuta telefônica. Gravação feita preocupar com os direitos fundamentais que tos fúÍldamentais igualmente dignos de
nitiva estatal, que t valor que cede em face por marido traldo. Desentranhamento da a prova i!lcita pode violar, ndo pode esquecer tutela, que não foram, nem poderiam ser,
do dlmto de -liberdade; inclusive conforme prova requerido pela esposa: viabilidade, da dignidade da pessoa humana e dos direitos objeto de prévia ponderação norrruitiva ou
normas constitucionais ihstituidoras de ou- uma vez que se trata de prova ilegalmente fundamentais que podem depender, diaríte de de hierarquização. Dizer que a descoberta da
tros direitos jUndamentais. obtida, com violação da.intlmidade indivi- certo caso concreto, da prova illcita. verdade ndo pode ocorrer por meio de prova
dual. Recursoordinárioprovido.l-Aimpe- ilfcita ndo t o mesmo que afirmar que um
Entrétanto, no processo civil a realida- Porém, o que nulis imporià é sublihhar
trame/recorrente tinha marido, duas filhas dtreito jUndamental matmal ndo pode ser
de é totàlmente diversa, pois o autor pode que a norma cortstitúcional aperiás
menores e um amante médico. Quando o pór ela demonstrado, O liSO da prova illcita
afirmar desde simples créditos pecuniários, rou ri diieito à descoberta da vttdade e á efe-
esposo viajava, para facilitar seu relaciona: poderd ser admitido, segundo a lógica da
passando por direitos não suscetfveis de tividade dóditetto material violado pela pro-
mento espúrio, ela ministrava .'Lexotan' às • regra da propordonàlidade ecomo acontece
transformação em dinheiio e direitos não- va. Se o direito à descobefta da verdade está
meninas. O .marido, já suspeitoso, gravou quando Jid colisão entre princfplos, conforme
patrimoniais, até direitos absolutamente intimamérítevrnculadoàpretensãópunitiva
a conversa telefônica entre.sua mulher e.Q aS cimirtstdndas do éàso concreto.
fundamentais para a dignidade humana. No amante. A esposa foi penalmente denuncia- estatal, deixáhdo claro que a Constituição
processocivll,assim;ndobastaaponderaçdo Quando se pensa na regra da propor-
da (tóxico). Ajuizou, então, ação de manda: preferiu evitar que a atividade estatal fosse
em tomo do dimto à descoberta da vcnlade e cionalidade nesses casos, .há sempre que
do de segurança, instando no exercida de modo abusivo, ainda que alguns
se considerar o valor do bem jurtdico que se
o dimto material invadido pela prova iltcitd, mento da decodificação da fita magnética. criminosos pudessem não ser condenados,
buscàptotegermedianté prová ilícita. Após,
nem há como pensar que os vários dimtos que 11 - Embora esta Túrma já se tenha mani- não há dúvida de que também ocorreu, dian-
podem ser afirmados pelo autor não merecem verificar se havia outra prova, além da obtida
festado pela relatividade dó inc. XII (última tedoprocessopenal, uma segunda ponderação, de formá ilícita, capaz de demonstrar as ale-
prevaltncia sobre os direitos que podem ser parte) do art. 5.° da CF (HC 3.982/R), reI. preferindo-se o direito de liberdade em face do gações em juizo. E, por último, analisar de
defendidos pelo rtu. Min. Adhemar Maciel, DJU 26.02.1996), poder de punir do Estado. que modo a prova ilfcita determinou a vio-
Airida queDO processocivil a descoberta no caso concreto o marido hão tei Mas , no processo civil, por serem diversi- lação do direito é, especialmente, se existe a
da verdade não seja justificativa da prova gravado á conversa ao arrepio de seu cÔn- ficados os bens que podem ser reivindicados possibilidade de limitaÇão ào direito violado,
i1lcita - diante da própria norma constitu- juge. Ainda que impulsionadd por motivo pelo autor e variadas as situações litigiosas quando observados deterininados requisitos
cional-, nele não se exclui a possibilidade relevante, acab<fu por violar a fntimidadé que podem ocorrer, não há como pensar em legais, uma vez que a violação de um direito
de ponderação entre o direito afirmado pelo individual de sua esposa, direito garantido uma segunda ponderaçdo normativa. Aliás, que sequer admite restrição legal é mais gra-
autor e o direito violado pela prova illcita. constitucionalmente (art. 5.°, X)". ainda que se pensasse em dois bens pecu- ve que a violação de um direito que pode ser
Note-se que a ponderação não é entre a A relevânCia desse julgado está em per- liares aos litlgios civis, a ponderação que a objeto de restrição. Assim, há distinção entre
descoberta da verdade e o direito violado pela mitir a análise de diversas situações rela- lei poderia fazer seria, na realidade, uma a obtenção de um testemunho mediante
prova, mas sim entre o direito material que cionadas com a prova illcita. No caso, a hierarquização, pois somente podem ser tortura e a escuta illcita de uma conversa
se deseja tutelar na forma jurisdicional e o prova ilícita pode ser O) ligada à pretensão objeto de ponderação normativa os bens telefônica -que pode ser licitamente gravada
direito material violado pela prova ilicita. punitiva do Estado, posta na ação penal que podem ser hierarquizados e, assim, com autorização judicial.

204 LUIZ GUILHERME MARINONI Dos Direitos e Garantias Fundamentais 205


cia espanhólas, que supõem que a solução teoria dos frUtos'da árvore envenenada, s0- que nM há motivo para retirar eficácia de
11. A contaminação dasprovàs
vinculadas fática e juridicamente da problemática está em saber se a prova mente tem sentido qUando a eliminação da uma prova que trouxe uma descoberta que
à ilícita. A teoria dos frutos questionada como derivada teria sido pro- segunda prova traz efetividade à tutelà dos muito provavelmentéseria Dessa
da árvore envenenada duvda ainda qut a prova Ilfcita MO tivesse clireitos fundamentais. Como explica Gál- fotma seria possível dizer que nem todos
sido obtida. Gálvéz Mufloz; para demonstrar vez Mufioz, é preciso demonstrar, quando os frutosda árvore venenosa são proibidos,
Pouca se pretende à atuáção da teoria dos ftutos pois alguns podem ser aproveitados.
essa questão, alude ao seguinte julgado
t!!oria dos frUtOs da árvore eÍwénehada - cria- da árvore envmenada, que a sua aplicação Ou seja, embora a segunda prova seja
do Tribunal Supremo Espanhol: a ineficá-
da pela Suprema Cone Americana com ,o cumpre a furtção que com ela se persegue, considerada derivada da ilícita, ela produz
cia de uma diligfncia nllo retira a validade
titulo lheJruit oJ thepolSonoils truJo -cjwm<Ío pois, em caso contrário, a Iinritação da ver- efeitos no processo. Com isso, estaria que-
de outra prova, salvo quando essa última
entendida no séntido de qúe as provaS deri- dade processual e a proteção dos valoresque bradá o nexo de antijuridicidade entre a
guardar uma relàção direta com aquelà, de
vadasda i1fcitatambém deVernser repuuldas tal teoria objetiva gararitir serão totalnlente prova ilícita ea prova derivada. A i1icirude
ilícitas. Orn, issOêóbvio. Oproblemaêsaber tal modo que sem a primeira a segunda (a
prova) não existiria,12 inúteis e desprovidos de justificação.15 persiste no plano do direito material, em-
quando uma prova está ligadàa outra, de
MaS,como reconhece a própria doutri- Aqheslão, então, adquire formato quan- bora a prova derivada possa ser utilizada
modo a se contaminar pOr sUa llidti.tde. no processo. Isso porque, embora não se
na espanhola, nem sempre é fácil concluir do se indaga Sobre os critérios determinan-
Deixe-se detrutis Mda, que a tes da auSência de conexão de antijuridici- possa deixar de sancionar no plano do di-
ilicitude da prova não contamina0 fàtóa ser se a segunda prová teria sido produzida ná
dade entre a prova ilícita e a prova derivada. reito material aquele que obteve tal prova,
esclàrecido, podendo se ligar, no tnáximo , a ausência da prova Ilfcità ou se eXiste uma
Ou seja, não mais importa se há relação não se deve negar-lhe eficácia. Com isso,
outras provas. Porém, uma prova inciia não conexão causal contamihante entre as duas
natural entre a segünda prova e a prova ilr- não se isenta de responsabilidade aquele
provas. Sustentacse, diante disso, que a
contaminâ, comoé lÓgico, todo o materiáI cita, mas sim se a segunda provapode, pela que atua de forma ilícita, mas se evita que a
probatÓrio , pois naàa impede que uniJato seja contaminação da segunda prova, ou a sua
ruptura do nexo de antijuridicidade, ser violação da lei possa negar um Jato que seria
provado por rridode provas IrcitaS qUe nada admissão como deriváda; altm de requerer a
considerada juridicamente Independente. incvitavelmente descoberto.
tenham a ver com a prova i/feita. presença de uma conexdo natural, exige uma
conexilOjurídica. Não bas.ta um nexo causal É quando itnportam; além da admissão O juiz, para atribuir eficácia à prova
A prova obtida de modo ilícito pode ou da confissão voluritária sobre o fato ob- derivada, obviamente deve justificar a sua
natural com a prova ilícita para a exclusão
propiciar uma outra prova, que entãoestard jeto da prova ilícita, as chamadas exceções decisão, expressando as circunstãncias e
da segunda prova, sendo,preciso um nexo
contamlnada,mas nada impede que o Jato de descobrimento provávelmente indepen- as regras de experiência que indicam que
jurídico entre urna e outra. É possível dizer
que se desejou demonstrár seja objeto de dente (hypothetical indtpendent sourre rule) • aquilo que foi alcançado mediante prova
uma prova que comelà não tenha qualquer que a conexão natural é um requisito neces-
e de descobrimento inevitável (jncvitable derivada seria naturalmente obtido por
vinculação. Essa última prova não pode ser sário, mas não suficiente, para estender a
ilicitude da primeira à segunda prova.13
discovery exception) ,16 meio de uma prova Ircita.
dita derivada da ilícita ou pensada como
Assim, o problema passa a ser o da iden- Isso pode ocorrer particularmente no
contaminada. Tal provà é absolutamente 12. Exceções à teoria dos frutos
tificação da conexão de antijuridicidade en- âmbito do processo penal. A Suprema Corte
autônoma e independeriü:.a da árvore envenenada: o
tre as provas. Para tanto é preciso verificar Americana, ao que parece, apontou pela
Mas, é preciso voltar à questáo inÍcial; "descobrimento inevitável" primeira vez para essa questão em 1984,
fixando quando urna prova pode ser con- não apenas se existe algum elemento fático (inevitable discovery exception) e
capaz de romper juridicamente a relação quando do julgamento do caso Nix versus
siderada contaminada pelà prova ilícita. É o "descobrimento provavelmente WilliamsY Nesse caso, a polícia obteve
possível tentar esclarecer dizendo que uma de causalidade, mas sobretudo analisar se independente" (hypothetical
a admissão da segunda prova como ilícita uma confissão mediante violação dos di-
prova somente pode ser dita contaminada independent source rufe)
contribui para a defesa dos direitos que se reitos fundamentais, pela qual foi relatado
quando é conseqiUncia da ilícita, transferin-
objetiva proteger por meio da proibição da Na exceção do descobrimento inevitá- o local em que estava o cadáver da vítima.
do-se o problema para outro local, quando
prova ilícita. H , vel, admite-se que a segunda prova deriva Acontece que a polícia já presumia que o
então passaria a importar o significado de
da ilícita, porém se entende que não há cadáver poderia estar nesse local, sendo que
"prova que é conseqüfncia da ilrcita". Ou seja; a teoria da contaminação da
razão para reputá-Ia nula ou ineficaz. Isso na área já trabalhavam vários policiais e vo-
NeSse passo, parece prudente seguir prova derivada da ilícita, conhecida como
porque a descoberta por ela constatada luntários. Como o corpo seria encontrado
os passos da doutrina e da jurisprudên- mais cedo ou mais tattle - fosse pela atuação
ocorreria mais cedo ou mais tarde. A lógi-
12. Tribunal Supremo Espanhol, Sala Segunda, dos próprios policiais, fosse em virtude da
ca do salvamento da segunda prova está em
10, V.s. supreme Court; 2si lB. 385 (920) ; "Sentencia" de 16 de março de 1995; citado colaboração de algum voluntário - , enten-
Silvérthome Lumber Co " Inc " et aI. vrrsus por Luis Galva Muftoz, op. clt. , p, 171.
United States; n. 358: 13, CL Luis Gálvez Muftoz, op. clt., p. 178, 15, Idem, p. 185,
]4, Idem, p, 183-184. 16. Idem, ibidem. 17, Idem.p, 194.
1 L Luis Gálvez MuflOz, op. clt., p. 155 e 55,

Dos Direitos e Garantias Fundamentais 207


206 lUIZ GUILHERME MARINONI
deu a Suprema Corte que a prova derivada seguri.daprova: mas 'a penas se o conteúdo tatar a origem das informações objeto do mento voltar a ser feito pelo mesmo juiz que
deveria prodtizir efeitos processuais, uma da prova, apesar de demonstrado por uma depoimento. Isso deve ser feito por ocasião admitiu a prova ilicita, certamente existirá
vez que O cadáver seria naturalmente desco- prová ligada com a ilfcita, seria posto às do próprio depoimento testemunhal e, se uma grande probabilidade de que o seu
berto independentemente da ihdtude.18 claras por uma segunda prová. necessário, inclusive a partir de ou tras pro- convencimento seja por ela influenciado,
Situação tim pdàto diféténté fá da vas e testemunhas, aplicando-se o art. 414, ainda que inconscientemente.
chamada exceção de descobrimento pro- 13. O problema da obtenção § 1.0, do cpc. Além disso, como é natural, Não se quer dizer que o juiz que se ba-
'vavelmente i'ndependente. 19 Na exceção de de infonnações de modo ilícito o juiz deve expressar, na sua motivação, seou na prova lllcita irá buscar uma senten-
descobrimento inevltdVel, a segunda prova e da prova testemunhal que pode as razões que o levaram a admitir ou não ça de procedência a qualquer custo, ainda
é aceita como derivada, mas admite-se que nelas se basear a prova testemunhal, permitindo, assim, o que inexistam outras provas válidas, mas
ela possa produzir efeitos em razão de que seu devido controle pelas partes. apenas que a valoração dessas outras provas
, Não há dúvida de a prova testemu-
a sua descoberta seria naturalmente trazida nhal produzida a partir de informações Portanto, a situação em que a policia dificilmente se livrará do conhecimento
por outra prova. Quebra-se b nexo de alf- obtidas mediante violação do direito à in- obtém uma prova a partir de informações obtido por meio da prova illcita.
tijuridicidade com base na idéia de que o timidade é illcita. A ilicitude está tia ob- ilicitamente obtidas deve ser devidamente Trata-se de situação que é peculiar à
descobrimento seria inevitável. Porém, na tenção das informações, na formaçã o e na separada da hipótese em que, no processo ci- natureza humana, e, assim, algo que deve
exceção de descobrimento provavelmentdn- produçlio da prova. vil, informações foram indevidamente reco- ser identificado para que a descontamina-
dependente, a segunda prova MÓ t admitidá lhidas, mas a testemunha pode ter adquirido ção do julgado seja plena, ou para que a sua
O real problema; nesse caso, é o de saber
corrlo derivada, máS corno umil prova conhecimento de forma independente. descontaminaçdo pelo tribunal elimine - ou
se o depoimento testemunhal se baseia, ou
velmenteindq,endttité, e, assim, despida de previna - qualquer possibilidade de infecçdo
não, em informaçõe5obtidas mediante, por 14. A teoria da descontaminação do
nexo causal com a prova ilíCita. posterior. Portanto , se o tribunal decide
exemplo, violação do domicílio ou grava- julgado
Para melhor éxplicar: no caso ção clandestina de convérsa telefõnica. que uma das provas em que a sentença se
é quebrada a relaçiÍo de ariitjurididdac1e, Essa teoria nada tem a ver com a conta- baseou é illcita, o julgamento de primeiro
É claro que, se a testemunha afirmar que
admitindo-se que a prova derivada produ- minação da segunda prova pela primeira, grau deverá ser feito por outro juiz, que não
o seu depoimento se funda em informações
za efeitos, enquanto que, na hipótese de mas sim.:com a descontamlnação do Julga- aquele que proferiu a sentença anterior.
obtidas de forma i1ldta - ainda que por um
descobrimento provavelmente independente, do , ou melhor, com a decisão de que uma A questão que dai advém é relativa ao
terceiro -, o depoimento deve ser auto-
néga-se a própria relaçãO causal, de modo prova, em que o julgado recorrido se ba- • juiz natural, ou melhor, à forma de definir
maticamente considerado ilícito. Porém,
que, nessa situaçiló, nào há proprlartlente seou, era ilícita, e assim deve ser afastada. o juiz que deverá analisar o caso. É preciso
maior dificuldade passa a existir quando,
exceção à teoria da árvOre venenosa, pois Essa decisãO tem o efeito de descontaminar frisar o grande perigo de que essa escolha
embora existindo a constatação de violação
a segunda prova é tida corno um fruto que ojulgado. possa ser arbitrária e, portanto , apontar
de domicilio ou de gravação illcita, aptas ao
a ela não se liga. Ou seja, nesseúltimocaso
fomecimblto de informaçÕes importantes O problema é saber como realizar tal des- para a necessidade de se minimizar a mar-
a dúvida recai sobre a natureza da segunda
para a elucidação do li tfgid , a testemunha contaminação. É certo que se o tribunal, gem de discricionariedade para a definição
prova, se independente ou não, isto é, se
afirma que o seu depoimenio é baseado em ao reconhecer a ilicitude da prova, deve do "novo juiz". Em principio, esse "novo
despida ou não de relaçllocausal com a
fatos conhéCidos de maneira licita. afastá-la , outTO julgamento deverá ser feito juiz" deve ser alguém já competente para
prova ilícita, ao passo que no caso da ex-
Nesse caso, como é óbviO, nãó há que pelo juizo de primeiro grau. Mas, se o julga· substituir o juiz afastado.
ceção de descobrimento inevitdve1não se
questiona a respeito da relação causal da se pensar em exceção à teoria dos frutos
da árvore envenenada, pois o depoimento
18. u.s. Supreme Coun; 467U.S. 4310 984); Nix,
testemunhal, quando aceito, é considera-
Warden of the lowa State Penitentlary vuSus do imaculado, ou, para prosseguir com a
Williams; Cértiorarl to lhe Unltei! States Coun imagem, colotado em um cesto em que
of AppeaIs for lhe Eighlh Clrcuit; n. 82-1651. cabem apenas frutos que não provêm da
Ver, também, U.s. Supreme Coun; 47QU.s. 298 árvore venenosa.
(1985); Oregon versus Elstad; Certiorari to the
Coun of Appealsof Oregon; n. 83-773.
Mas a verificação da proveniência do
19. u.s. 5upreme Court; 'H5 U.5. 463 (1980);
fruto nadá mais é do que a aferição da cre-
United 5tates vasus Crews; Ceniorari to the dibilidade da prova testemunhal. Isto é, o
District of Columbia Court of Appeals; n. juiz, em um caso em que a fonte do teste-
78-777. munho é colocada em dúvida, deve cons-

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