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ADMINISTRATIVO - ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - DESCUMPRIMENTO DE

DETERMINAÇÃO DO CONSELHO TUTELAR - ILEGITIMIDADE PASSIVA DO SECRETÁRIO


MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO - REPRESENTAÇÃO FORMULADA COM BASE NO ART. 249 DO ECA -
INÉPCIA - PRETENDIDA REFORMA - RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.

1. A Seção de Direito Público do STJ, ao interpretar o referido dispositivo, entende que a sua
aplicação têm como destinatários os pais, tutores e guardiães quando descumprem
determinação do juiz ou do Conselho Tutelar, não podendo a regra impositiva recair sobre
quem não exerça tais poderes, como no caso particular dos autos, o Senhor Secretário
Municipal.

2. Precedentes da Seção de Direito Público: REsp 767.089/SC, Rel.

Min. Francisco Falcão, 1ª Turma, DJ 28.11.2005; REsp 768334/SC, Rel.

Min. Humberto Martins, 2ª Turma, DJ 22.06.2007; REsp 822807/SC, Rel.

Min. Luiz Fux, 1ª Turma, DJ 12.11.2007.

3. Recurso especial não provido.

(REsp 847.588/SC, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 18/09/2008,
DJe 21/10/2008)

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - ART. 249.


DEVER DE FISCALIZAÇÃO. FREQÜÊNCIA À ESCOLA.

EXTINÇÃO DO FEITO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO ART. 267


DO CPC. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO DOS FUNDAMENTOS DO ACÓRDÃO RECORRIDO. FALTA
DE PREQUESTIONAMENTO. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO RECURSAL. SÚMULAS N.ºS 282
e 284, DO STF. COGNIÇÃO DE MATÉRIA FÁTICA. DOLO E CULPA. SÚMULA 07/STJ.

1. Ação de responsabilidade interposta pelo Ministério Público em desfavor dos pais de menor
com fulcro no artigo 249 do Estatuto da Criança e do Adolescente por descumprimento do
dever de fiscalizar sua freqüência no ensino fundamental.

2. É inviável a apreciação, em sede de Recurso Especial, de matéria sobre a qual não se


pronunciou o tribunal de origem, porquanto indispensável o requisito do prequestionamento.
Ademais, como de sabença, "é inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada na
decisão recorrida, a questão federal suscitada" (Súmula 282/STF), e "o ponto omisso da
decisão, sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de
recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento" (Súmula N.º 356/STJ).

3. Revelam-se deficientes as razões do recurso especial quando a recorrente não aponta, de


forma inequívoca, os motivos pelos quais considera violados os dispositivos de lei federal, bem
como, quando limita-se a impugnar a sentença de primeiro grau, fazendo incidir a Súmula 284
do STF: "É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua fundamentação
não permitir a exata compreensão da controvérsia." 4. O exame de eventual violação ao
disposto no art. 249 do ECA e de necessidade de produção de novas provas, enseja análise de
matéria fático-probatória, interditada em sede de recurso especial, ante a ratio essendi da
Súmula 07/STJ. consoante se extrai do seguinte trecho do acórdão objurgado: "Entretanto, não
há como identificar conduta dolosa ou culposa a tipificar a infração administrativa prevista no
artigo 249 do ECA e, que justifique o conseqüente apenamento dos pais com a imposição do
pagamento de multa. Ainda que recaia sobre os pais ou responsáveis o dever de garantir o
acesso à educação, como atribuir às suas condutas o dolo ou a culpa, quando visivelmente
impotentes diante da adolescente que simplesmente não quer mais estudar (fl. 10)? O
pagamento da multa reverterá a situação? A alegação de que foi prematura a decisão do
Magistrado que extinguiu o feito sem oportunizar às partes, a produção de outras provas, não
procede. É que as provas necessárias ao ajuizamento da representação e reclamadas pelo
Magistrado, obrigatoriamente, já devem estar nos autos na ocasião do ajuizamento da ação,
porque, como bem sinalado na decisão recorrida, ?só se consuma a infração depois de o
Conselho Tutelar ter-se desincumbido da própria competência estatutária, as do art. 136 do
ECA e se o descumprimento da lei ou da ordem for injustificado. Esses são os fatos materiais
condicionantes da ação punitiva em juízo.? (fl.

25) Assim, máxima vênia de quem defende tese diversa, não se pode oportunizar a posterior
produção de tal prova, ou transferi-la para a responsabilidade do julgador." 5. Recurso especial
não conhecido.

(REsp 759.758/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 22/05/2007, DJ
21/06/2007, p. 280)

HABEAS CORPUS. DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR. BUSCA E


APREENSÃO DE MENOR. SUSPEITA DE FRAUDE EM REGISTRO CIVIL. MEDIDA PROTETIVA DE
ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL. 1. Sob o enfoque da doutrina da proteção integral e prioritária
consolidada pelo Estatuto da Criança e do Adolescente Lei n. 8.069/1990 , torna-se imperativa
a observância do melhor interesse do infante, de sorte que o cabimento de medidas
específicas de proteção, tal como o acolhimento institucional (art.101, VII, do ECA), apenas
terá aptidão e incidência válida quando houver ameaça ou violação dos direitos reconhecidos
pelo Estatuto, consoante exegese extraída do art. 98 do mesmo diploma.

2. Assim, tem-se que a ação do Juiz no sentido de colmatar desvios tanto no âmbito da ação
estatal, quanto no âmbito familiar, seja por ato próprio da criança ou do adolescente, como
também no domínio da sociedade deve, necessariamente, ser pautada pela precisa
identificação de situação concreta de ameaça ou violação de direitos, notadamente em se
tratando da medida de proteção que impõe o acolhimento institucional, por ser esta orientada
pelo caráter da excepcionalidade e da provisoriedade, nos termos do que dispõe o § 1º do art.
101 do ECA.

3. No caso em exame, a manutenção da guarda de A.M DO R. com o casal W.G.DO R, o pai


registral, e P.R.M.M, sua companheira, não representa uma situação concreta de ameaça ou
violação de direitos do infante, pois nada há nos autos a demonstrar, ainda que vagamente, a
ocorrência de exposição do infante a riscos para sua integridade física e psicológica.

4. Nesse diapasão, verifica-se que a decisão de acolhimento do infante fulcrou-se tão somente
nos argumentos apontados pelo Parquet estadual de que houve adoção irregular mediante
fraude no registro civil, sem, contudo, arrolar quaisquer evidências de que a criança estivesse
em situação de perigo físico ou psíquico ao conviver com o pai e a sua companheira.

5. A esse respeito, não se pode olvidar que o registro civil é dotado de fé pública e, até prova
em contrário, impõe presunção de verdade em favor de suas declarações, de onde se conclui
que a declaração do pai, ao reconhecer e registrar o filho, não pode ser elidida por simples
argumentações e conjecturas acerca de sua autenticidade sob o ponto de vista da paternidade
biológica. Mais do que isso, assim deve ser tal conclusão, pois é a que melhor prestigia o
interesse da criança de ter reconhecida a sua paternidade, bem como de ter um lar e convívio
familiar.

6. Por óbvio, essa presunção pode ser elidida por meio de prova idônea, a exemplo do teste de
DNA. Todavia, até que se ultime a contraprova para verificar a paternidade biológica do pai
registral do infante, não se pode concluir que a suposta adoção irregular, mediante fraude no
registro civil, importe, por si só, em risco à integridade física ou psíquica do infante. Isso
porque, utilizando-se a técnica do art. 98 do ECA que impõe a aplicação de medidas de
proteção nas situações que especifica , não se prescinde, concretamente, da evidência de
quaisquer situações de ameaça ou violação de direitos tutelados naquele diploma.

7. A excepcionalíssima hipótese dos autos justifica a concessão da ordem, porquanto parece


inválida a determinação de acolhimento institucional da criança em abrigo ou entidade
congênere , uma vez que, como se nota, não se subsume a nenhuma das hipóteses do art. 98
do ECA. 8. Esta Corte Superior tem entendimento firmado no sentido de que, salvo evidente
risco à integridade física ou psíquica do infante, não é de seu melhor interesse o acolhimento
institucional ou o acolhimento familiar temporário (Precedentes: HC n. 294.729/SP, Rel.
Ministro Sidnei Beneti, Terceira Turma, DJe 29.08.2014; HC 279.059/RS, Rel. Ministro Luis
Felipe Salomão, Quarta Turma, DJe 28.2.2014; REsp n. 1.172.067/MG, Rel. Ministro Massami
Uyeda, Terceira Turma, DJe 14.4.2010).

9. A disciplina do art. 50 do ECA, ao prever a manutenção dos cadastros de adotantes e


adotandos, tanto no âmbito local e estadual quanto em nível nacional, este último
regulamentado pela Resolução n. 54/2008 do Conselho Nacional de Justiça, visa conferir maior
transparência, efetividade, segurança e celeridade no processo de adoção, assim como obstar
a adoção intuitu personae. Contudo, não se pode perder de vista que o registro e classificação
de pessoas interessadas em adotar não têm um fim em si mesmos, antes devem servir,
precipuamente, ao melhor interesse das crianças e dos adolescentes. Portanto, a ordem
cronológica de preferência das pessoas previamente cadastradas para a adoção não tem um
caráter absoluto, pois deverá ceder ao princípio do melhor interesse da criança e do
adolescente, razão de ser de todo o sistema de defesa erigido pelo Estatuto, que tem na
doutrina da proteção integral sua pedra basilar.

10. As questões suscitadas nesta Corte na presente via não infirmam a necessidade de efetiva
instauração do processo de adoção, que não pode ser descartado pelas partes. Na ocasião,
será imperiosa a realização de estudo social e aferição das condições morais e materiais para a
adoção da criança. Entretanto, não vislumbro razoabilidade na transferência da sua guarda
primeiro a um abrigo e depois a outro casal cadastrado na lista geral , sem que se desatenda
ou ignore o real interesse do menor, com risco de danos irreparáveis à formação de sua
personalidade na fase mais vulnerável do ser humano.

11. Ordem concedida.

(HC 468.691/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
12/02/2019, DJe 11/03/2019)

VOTO MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO:


Ressalte-se, por oportuno, que os postulados da proteção integral e do atendimento
prioritário, dos quais se extrai também a superioridade do melhor interesse da criança e do
adolescente, são mais do que apenas princípios, pois, segundo a melhor doutrina, traduzem
verdadeiras regras jurídicas de cumprimento e observância obrigatórios.

Portanto, devem-se afastar medidas que, embora prima facie pareçam atender ao caráter de
proteção da norma, diante do caso concreto, revelam-se como excessivo formalismo a
aviltar o melhor interesse da criança de conviver em um lar estabelecido.

Em outros termos, repita-se, a aplicação de medida protetiva de acolhimento institucional é


regida pelo caráter de provisoriedade e excepcionalidade, deduzindo-se que sua duração
deverá ser pelo menor tempo possível e só pelo imprescindível até o retorno da criança ou do
adolescente à família natural ou adotiva, bem como não deverá ser imposta diante de outra
alternativa que atenda ao melhor interesse da criança.

RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO PENAL. DIREITO DE VISITA. ENTRADA DE CRIANÇAS E


ADOLESCENTES. PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL.

IMPOSSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO.

1. Nos termos do art. 227 da CF, a proteção das crianças e dos adolescentes constitui
obrigação da sociedade e dos Poderes Públicos, os quais devem pautar suas decisões na
concretização desta imposição legal.

2. Segundo o entendimento vigente neste Superior Tribunal de Justiça, embora a legislação


considere a importância do direito de visita para o processo de ressocialização do
condenado, o referido benefício não pode se sobrepor à manutenção da integridade física e
psíquica das crianças e dos adolescentes, sendo, desse modo, inadequada a permissão da
entrada dos menores de idade em estabelecimentos prisionais. Precedentes.

3. In casu, verifica-se que o benefício foi concedido ao recorrido para fins de possibilitar a
entrada no estabelecimento prisional de seus enteados de 05 (cinco) e 09 (nove) anos de
idade, situação a qual faz concluir pela indiscutível prejudicialidade da medida ao pleno
desenvolvimento psíquico destas crianças que, em ambiente indiscutivelmente impróprio para
sua formação, estarão em constante risco de dano à sua integridade.

4. Recurso especial provido.

(REsp 1744758/RS, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 09/10/2018, DJe
17/10/2018)

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