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1ª Secção Cível
V/ Ref.ª 8058752
LUIS PEDRO PEIXOTO CARDOSO, recorrente nos autos à margem referenciados e aí melhor
identificado, notificado do Acórdão que antecede, e não se conformando com o mesmo, vem, nos termos
O recurso interposto sobe em separado (artigo 675.º, n.º 2) e com efeito suspensivo (artigo 676.º,
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TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE ÉVORA
1ª Secção Cível
ALEGAÇÕES do Recorrente
I. Da Admissibilidade
1. Está em causa nos presentes autos uma questão cuja apreciação pelo Supremo Tribunal de
Justiça, pela sua relevância jurídica, é claramente necessária para uma melhor aplicação do Direito.
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2. Consiste saber se, numa ação de investigação de paternidade é possível estabelecer a
presunção legal de filiação constante da alínea e) do nº 1 do artigo 1871.º do Código Civil, assente numa
inversão do ónus da prova, quando nem o réu se recusou fazer aquele exame de forma culposa, e
quando invertido o ônus da prova, se logrou fazer prova suficiente para afastar essa presunção de
paternidade.
3. Pelo que urge a apreciação da questão suscitada no presente recurso pelo Supremo Tribunal
de Justiça por ser absolutamente essencial para uma melhor aplicação do Direito – isto sob pena de se
abrir um precedente, capaz de abalar de forma drástica a certeza e a segurança jurídica, mormente, no
dos cidadãos, ao ponto de se se justificar a intervenção do Supremo Tribunal de Justiça, que, com
competência para tanto, deve decidir em conformidade, evitando dissonâncias interpretativas que
verificação de uma situação de inversão do ónus da prova para efeitos da aplicação da presunção de
filiação, constante da alínea e) do n.º 1 do artigo 1871.º do Código Civil, tiveram por fundamento um
comportamento notoriamente não culposo do réu, que de forma legitima e não culposa, não realizou o
6. Relevância social que existe e se manifesta pelo facto de se tratar de uma matéria com
repercussão no espetro individual e coletivo dos cidadãos, e apta a causar alarme e controvérsia, por
conexão com os valores socioculturais dominantes, podendo colocar em causa a eficácia do direito e/ou
criar dúvidas sobre a sua credibilidade, quer na formulação legal, quer na aplicação caso a caso.
7. Está em causa muito mais que interesses individuais do réu ou de sujeitos processuais em
situação semelhante – reveste, sim, contornos de abrangência comunitária, com um interesse geral que
ultrapassa a referida dimensão das partes (art. 672.º n.º 1, al. b) do Código de Processo Civil).
Página | 3 8. Pelo que cabe ao Supremo Tribunal de Justiça apreciar a questão, por, em suma, ser
setembro de 2022, no seguimento do recurso da sentença apresentada nos autos de Ação de Processo
seguinte:
“Se o réu, investigado, com a sua recusa ilegítima – de se submeter a exame laboratorial suscetível
de fornecer prova directa da filiação biológica – inviabiliza a prova desta filiação, face à falência da prova
indirecta através de testemunha, deve, por aplicação do art. 344º, nº2, inverter-se o ónus da prova, passando
aquele, que impossibilitou a prova, a ficar onerado com a demonstração da não verificação daquele facto,
isto é, que o autor não é fruto de relações de sexo entre o réu e mãe do autor e, assim, que este n ão é filho
daquele”.
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10. Salvo o devido respeito por opinião contrária, a decisão, não foi a mais correta e acertada
direito aplicado também não reflete os factos concretos que foram apurados.
11. Não é verdade que tenha havido uma recusa ilegítima de realização do exame de ADN, que
12. E mesmo que se considere e aceite a inversão do ónus da prova, o que não se concede,
logrou o recorrente provar que não havia hipótese ou possibilidade de ser o pai da menor, afastando a
presunção da paternidade.
13. Mas mais, mesmo que assim não fosse, o próprio Tribunal de 1.ª instância concluiu que não
existia ou se produziu qualquer prova – e num Estado que se quer que seja de Direito e Democrático,
isso não pode prejudicar, de nenhuma forma, a parte que se encontra sob investigação (no caso).
14. O recorrente entende ter logrado provar e afastar convenientemente essa possibilidade,
conseguindo afastar a presunção de paternidade, com a produção de prova relevante para a decisão Página | 4
15. E mesmo que assim não fosse, não foi produzida qualquer tipo de prova que possa levar à
16. Todavia, e contra tudo o exposto que só podia levar a decisão diferente que levaria à total
concluindo que o réu é o pai da menor só pelo facto de que “houve uma recusa ilegítima do investigado
em realizar o exame.”
17. Salvo o devido respeito, não se pode impor a quem quer que seja que seja pai ou mãe de
18. E muito menos se pode determinar que um homem é pai de uma criança na inexistência de
qualquer ligação genética ou algo que o prove – acabando por se determinar que é o pai da menor é
20. A prova produzida (ou falta dela) dada como assente pela 1ª Instância, é insuficiente para
21. Não se logrou provar nos autos, de nenhuma forma, que o réu manteve relações sexuais de
22. Provou-se que mantiveram uma relação amorosa, sim, mas que essa relação terminou em
23. Em nenhum momento, ficou demonstrado e provado que o Recorrente se tenha recusado
24. Não se pode exigir a um qualquer cidadão que se sujeite a um exame deste cariz, por mera
como pai, que por alguns anos se manteve nessa situação, certamente convicto que seria o pai da
menor, convencido pela autora (conforme resulta do processo original ao qual este correu em apenso).
26. A Lei, os Tribunais, os cidadãos, e no caso o réu, não podem andar ao sabor do vento e de
vontades de uma qualquer pessoa que livremente vai indicando pretensos pais duma menor, até acertar
naquele que é.
27. Se é certo que a menor tem direito a ter um pai, não é menos certo que tem direito a ter uma
mãe que diga a verdade como ela é, e que não faça uso dos tribunais de forma errada.
28. No caso provou-se que ela mantinha relações com outros homens além do réu, ainda na
pendência da relação amorosa que mantiveram (que decorreu bem antes do período legal de conceção).
29. Tal comportamento continuou após o fim da relação - pelo que qualquer um dos homens
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31. Supondo que o réu fazia o exame genético, que certamente daria negativo para a
paternidade da menor, qual seria o próximo passo da autora? Indicar outro homem, até se chegar ao
certo? Tudo sempre em prejuízo da própria filha, dos supostos pais, e da reputação dos tribunais?
32. Quantos processos seriam precisos até se chegar a uma resposta definitiva?
33. Como se disse, a menor tem direito a saber quem é o pai, mas os tribunais e os cidadãos
34. Pelo que a recusa do réu não foi ilegítima e culposa – foi sim em defesa dos seus direitos e
35. Não é legal, sendo até completamente ilusório e desproporcional impor ao recorrente ou a
qualquer cidadão que se sujeite a qualquer tipo exame conforme a vontade de qualquer pessoa que
avance com este tipo de ações – sendo que no caso é evidente que a autora não fará ideia de quem é
o pai da menor.
36. A assim acontecer, estar-se-ia a abrir um precedente grave que daria azo a que, doravante, Página | 6
qualquer pessoa impingisse testes de ADN a quem lhe aprouvesse, sem qualquer fundamento, muitas
37. Portanto, o recorrente não se recusou injustificadamente ou de forma culposa a realizar teste
de ADN, e não pode ser prejudicado nos seus direitos de defesa pelo facto de não realizar o referido
exame genético.
Isto posto,
38. Não estão preenchidos os requisitos legais para operar uma inversão do ónus da prova
29. Não se pode operar, no presente caso, a presunção de paternidade constante do artigo
1871.º, nº 1, alínea e) do Código Civil uma vez que a recorrida não logrou fazer prova de que manteve
40. Estando o Tribunal a quo obrigado a aplicar a regra constante do artigo 414° do Código de
Processo Civil que estabelece que, em caso de dúvida sobre a realidade de um facto, ela se terá de ser
resolvida contra a parte à qual o facto aproveita (ou seja contra o recorrido);
41. A presente ação de investigação da paternidade deveria ter sido julgada pelo Douto Tribunal
a quo como improcedente, por não provada e o ora réu recorrente absolvido do pedido.
Sem prescindir,
42. Mesmo que assim não se entenda, o que não se concede, e apenas por mera cautela de
patrocinio se pondera, havendo inversão do ónus da prova, o recorrente conseguiu provar e afastar a
presunção da paternidade.
43. Indicou fundadamente o termino da relação, o afastamento da autora, e por força disso, a
44. Pelo que admitindo a inversão do ónus da prova, conseguiu-se afastar a presunção de
paternidade.
Página | 7 Desta feita,
45. Não estão reunidos no presente processo os pressupostos da inversão do ónus da prova
46. O Douto Acórdão recorrido viola o disposto nos artigos 1871.º, n.º 2, 342.º e 344.º, todos do
Código Civil, bem como os artigos 412.º, 414.º e 417.º do Código de Processo Civil.
47. Não se aplicando no presente caso a presunção constante da alínea e) do n.º 1 do artigo
1871.º do Código Civil, porque a autora não logrou fazer prova da ocorrência de relações sexuais entre
48. Não subsistindo quaisquer dúvidas de que o Douto Tribunal a quo errou na interpretação e
49. Devendo ser proferido Acórdão a julgar a ação improcedente por não provada e a absolver
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CONCLUSÕES
A - Nos presentes autos está em causa uma questão cuja apreciação pelo Supremo Tribunal de
Justiça, que pela sua relevância jurídica, é claramente necessária para uma melhor aplicação do Direito.
B - A questão que se solicita apreciação nos presentes autos consiste em saber se, numa ação
do n.º 1 do artigo 1871.º do Código Civil, assente numa inversão do ónus da prova, sem que tenha havido
melhor aplicação do Direito, sob pena de se abrir um precedente, capaz de abalar de forma drástica a
Supremo Tribunal de Justiça para evitar dissonâncias interpretativas a por em causa a boa aplicação do
Direito.
para efeitos da aplicação da presunção de filiação constante da alínea e) do n.º 1 do artigo 1871.º do
Código Civil com base na inversão do ónus da prova fundamentada num comportamento notoriamente
não culposo, nos moldes que foram efetuados no Acórdão recorrido, assume particular relevância social.
F - Essa relevância social existe por se tratar de uma matéria com repercussão ou, no limite,
apta a causar alarme e controvérsia, por conexão com os valores socioculturais dominantes, podendo
colocar em causa a eficácia do direito e/ou criar dúvidas sobre a sua credibilidade, quer na formulação
G - Esta matéria vai muito para além dos interesses individuais dos sujeitos processuais,
H - A questão que integra o objeto do presente recurso é suscetível de gerar colisão com os
I - A prova produzida e dada como assente pelo Tribunal de 1ª Instância nos autos é insuficiente
para determinar a procedência da presente ação, impondo-se outro julgamento da matéria de direito.
J - Não se logrou provar nos autos, que o réu teve relações sexuais de cópula completa com a
K - Não se logrou provar nos autos que o recorrente se tenha recusado de forma ilegítima e
L - O recorrente, e qualquer outro cidadão, não pode andar ao sabor do vento e da vontade de
qualquer pessoa que arbitrariamente vai indicando quem lhe aprouver para realizar teste de ADN.
M - A autora mantinha relações sexuais com outros homens, e no processo principal onde os
Página | 9 autos correm por apenso constata-se que a menor tinha até à data da ação, outro pai.
N - Tudo demonstrativo que a própria autora não sabe quem é o pai da menor, e que pode andar
O - O réu a aceitar fazer tal exame de ADN, que daria negativo para a paternidade, estaria
certamente a dar azo que logo de seguida a autora entrasse novo processo contra outro homem.
P - E assim se ia prosseguindo até encontrar o pai da menor, em prejuízo da criança que é quem
menos culpa tem no processado, e da própria imagem dos tribunais, na vertente da certeza e da
segurança jurídica.
Q - A recusa não foi ilegítima ou culposa – foi apenas o réu a defender os seus direitos e dos
próprios tribunais.
R - O tribunal a quo ao decidir desta forma abriu um grave precedente que permite que qualquer
pessoa inicie processos de paternidade e obrigue quem bem entender e sem fundamento a fazer o
exame de ADN – tudo com o claro objetivo de melindrar e aborrecer quem lhe aprouver.
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S - Não se pode ignorar todos os malefícios e repercussões que um exame deste jaez provoca
na esfera pessoal e familiar de qualquer cidadão – podendo destruir qualquer família apenas por mera
má fé de uma qualquer pessoa que decida avançar com este tipo de ação.
T - Não é legal, sendo completamente ilusório e desproporcional impor ao recorrente que realize
não pode ser prejudicado nos seus direitos de defesa por esse facto.
V - Não estão por isso preenchidos os requisitos legais para operar uma inversão do ónus da
W - Mas mesmo que assim não fosse, o que apenas por mera cautela de patrocinio se pondera,
mas não se concede, havendo inversão do ónus da prova, não podia operar a presunção de paternidade
X - O réu logrou provar clara e inequivocamente que não manteve relações sexuais com a autora Página | 10
Y - Demonstrou que a autora não é impoluta e isenta de responsabilidade, uma vez que a menor
durante vários anos esteve convicta que tinha um pai (conforme resulta do processo original ao qual o
Z - Acresce ainda que a recorrida não logrou fazer prova de que manteve relações sexuais com
o recorrente durante o período legal de conceção, como o próprio tribunal de 1.ª instância concluiu ao
referir que “Ora, não se provou qualquer facto que permitisse presumir a paternidade nos termos do
AA - E estando o Tribunal a quo obrigado a aplicar a regra constante do artigo 414° do Código
de Processo Civil que estabelece que, em caso de dúvida sobre a realidade de um facto, ela se terá de
ser resolvida contra a parte à qual o facto aproveita (ou seja contra o recorrido);
BB - A presente ação de investigação da paternidade deveria ter sido julgada pelo Douto Tribunal
a quo como improcedente, por não provada e o ora recorrente absolvido do pedido.
DD - O Douto Acórdão recorrido viola o disposto nos artigos 1871.º, n.º 2, 342.º e 344.º, todos
do Código Civil, bem como os artigos 412.º, 414.º e 417.º do Código de Processo Civil.
1871.º do Código Civil, porque a ora recorrida não logrou fazer prova da ocorrência de relações sexuais
FF - Não subsistindo quaisquer dúvidas de que o Douto Tribunal a quo errou na interpretação e
GG - Devendo ser proferido Acórdão a julgar a ação improcedente por não provada e a absolver
pedido.
O Patrono Oficioso,
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