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TJPA

PJe - Processo Judicial Eletrônico

09/06/2023

Número: 0009322-62.2014.8.14.0301
Classe: PROCEDIMENTO COMUM CÍVEL
Órgão julgador: 6ª Vara de Família de Belém
Última distribuição : 24/02/2014
Valor da causa: R$ 678,00
Assuntos: Investigação de Paternidade
Segredo de justiça? SIM
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
LUIZ MICHEL NUNES ARAUJO (AUTOR) LUIZ MICHEL NUNES ARAUJO (ADVOGADO)
ANTONIO CLAUDIO PINTO FLORES (REU)
Documentos
Id. Data Documento Tipo
86059177 07/02/2023 Sentença Sentença
17:51
Processo n° 0009322-62.2014.8.14.0301

Ação de Investigação de Paternidade

Requerente: LUIZ MICHEL NUNES ARÁUJO

Requerido: ANTONIO CLAUDIO PINTO FLORES, brasileiro, natural de Santos/SP, filho de


Carmen Pinto Flores e Antonio Vasques Flores, nascido em 11.10.1955, CPF 731.539.238-68

SENTENÇA

RELATÓRIO

LUIZ MICHEL NUNES ARÁUJO, qualificado nos autos do processo identificado à margem,
advogando em causa própria, propôs ação de investigação de paternidade em desfavor de
ANTONIO CLAUDIO PINTO FLORES, qualificado à epígrafe.

Afirma o requerente que é fruto de um relacionamento amoroso vivido por sua genitora, no ano de
1980, com o ora requerido, porém somente já quando adulto tomou conhecimento de que seu pai
registral não era seu pai biológico.

No afã de conhecer seu pai biológico, informa o requerente que promoveu pesquisas,
constatando, através de redes sociais, que ele residia em Manaus/AM, tendo tentado contatá-lo
por diversas vezes, sem obter êxito.

A ação foi recebida para processamento pela justiça gratuita, conforme despacho de ID
18840272, determinando-se a citação do réu, que restou citado por hora certa, na conformidade
das certidões de ID 18840276 – Páginas 25 e 26.

Assinado eletronicamente por: FRANCISCO ROBERTO MACEDO DE SOUZA - 07/02/2023 17:51:58 Num. 86059177 - Pág. 1
https://pje-consultas.tjpa.jus.br/pje-1g-consultas/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23020717515803200000081759713
Número do documento: 23020717515803200000081759713
O documento de ID 18840276 - Pág. 29 atesta o cumprimento da formalidade de que trata o art.
254, do CPC.

Não tendo oferecido resposta, o réu teve sua revelia decretada, consoante decisão de ID
18840276 - Pág. 33, se lhe nomeando curador especial, na forma das disposições do art. 72, II,
do CPC, que contestou a ação por negativa geral em ID 18840277.

A instrução do processo ocorreu em 24.02.2022, consistindo dos depoimentos do requerente e de


sua genitora, conforme termo de audiência de ID 51889935.

O requerente ofereceu alegações finais sob a forma de memorais escrito em ID 54757770. A


douta Curadoria Especial ofereceu suas alegações derradeiras na peça de ID 71027619.

Desnecessária a intervenção Ministerial, ante a ausência de interesse de incapazes.

É o relatório. Decido.

FUNDAMENTAÇÃO

Preambularmente, para fins de registro, deixo assentado que o pedido da curadoria especial, de
chamamento aos autos do pai registral do requerente, resta superado pelo fato do mesmo já ser
pessoa falecida, bem antes da data do ingresso da ação, conforme certidão de óbito de ID
18840278 - Pág. 2.

Ainda, em caráter preambular, registro que não tratarei do pedido feito pelo autor na audiência de
instrução ocorrida em 24.02.2022, termo de ID 51889935, no sentido deste Juízo determinar ao
cartório competente a inclusão do nome do requerido como avô paterno de seu filho, por fugir do
escopo desta ação e não ser este o juízo competente para tanto.

Passo à análise do mérito da causa, consignando, antes, porém, que o processo está regular,
não padecendo de vícios ou irregularidades, tendo sido cumpridas todas as formalidades

Assinado eletronicamente por: FRANCISCO ROBERTO MACEDO DE SOUZA - 07/02/2023 17:51:58 Num. 86059177 - Pág. 2
https://pje-consultas.tjpa.jus.br/pje-1g-consultas/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23020717515803200000081759713
Número do documento: 23020717515803200000081759713
determinadas pela lei adjetiva civil, em especial, o art. 254, do CPC.

A propósito, registre-se que de acordo com o art. 346, do mesmo Codex, uma vez decretada a
revelia, o réu ainda pode intervir no feito, do ponto em se encontre, porém, não mais será
comunicado dos prazos do processo.

Pretende o autor, com esta ação, ver declarada a sua paternidade, que atribui ao réu, Sr.
ANTONIO CLAUDIO PINTO FLORES.

No caso em análise, tenho que o réu foi citado por hora certa, conforme certidões de ID 18840276
– Páginas 25 e 26, e por não ter respondido a ação, como lhe competia, foi decretada a sua
revelia, se lhe nomeando curador especial, que contestou a ação por negativa geral.

Em decorrência da revelia e por não ter o réu participado dos atos processuais, pretende o
suplicante a declaração de paternidade na forma presumida, conforme permissivo contido no art.
2º-A, § 1º, da Lei 8.560/1992, incluído pela Lei 12.004/2009, cuja transcrição faço a seguir:

Lei 8.560/1992 (Lei de Investigação de Paternidade, com redação data pela Lei 12.004/2009):

Art. 2o-A. Na ação de investigação de paternidade, todos os meios legais, bem como os
moralmente legítimos, serão hábeis para provar a verdade dos fatos.

§ 1º. A recusa do réu em se submeter ao exame de código genético - DNA gerará a presunção da
paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto probatório.

Adianto que, no caso vertente, não há recusa propriamente dita por parte do réu em se submeter
ao teste de DNA. Contudo, regularmente citado, o réu não apresentou manifestação e, tão pouco,
compareceu a qualquer ato do processo, dentre eles, o de participar da perícia genética.

Há tempo que o exame de DNA é o meio de prova mais eficaz na busca da verdade real, dada a
sua precisão técnica, envolvendo esmerada tecnologia e complexo mecanismo de engenharia
genética, cuja confiabilidade se aproxima dos 100% e, por isso, dissipa qualquer dúvida acerca
da paternidade, razão pela qual pode ser dispensada a produção de outras provas na
investigação de paternidade, o que torna despicienda a realização de instrução.

Assinado eletronicamente por: FRANCISCO ROBERTO MACEDO DE SOUZA - 07/02/2023 17:51:58 Num. 86059177 - Pág. 3
https://pje-consultas.tjpa.jus.br/pje-1g-consultas/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=23020717515803200000081759713
Número do documento: 23020717515803200000081759713
Pela regra do art. 231, do CC, que remonta ao dito romano noeminem allegare potest sui cuique
turpitudinem (ninguém pode se prevalecer da própria torpeza), tem-se que o réu que se recursar
a fazer o exame de DNA não poderá alegar que a parte autora não comprovou a paternidade
vindicada, de sorte que uma recusa imotivada do investigado de submissão ao teste de DNA leva,
inexoravelmente, à procedência da pretensão autoral, com a consequente declaração de filiação,
sendo mister reconhecer, no entanto, que doutrina e jurisprudência atuais e dominantes
entendem que, no caso das ações de investigação de paternidade, a presunção é relativa e,
como tal, admite prova em contrário.

Tenho entendimento de que no caso de situações como a posta, o que precisa ser provado não
são fatos como, por exemplo, a existência de relação sexual entre a genitora do investigante e o
investigado, namoro ou relação de convivência entre a genitora do investigante e o investigado,
ou a vida pregressa da genitora do investigante, mas sim a incoerência, a incongruência, a
ilógica, a contradição da recusa do investigado a submeter-se ao exame de DNA, já que dessa
única prova decorrerá a confirmação ou refutação da paternidade, independentemente de
quaisquer outras.

A doutrina adverte para a necessidade de outros elementos indiciários de prova capazes de


permitir ao juiz, juntamente com a presunção decorrente da recusa do investigado de submeter-
se à perícia, um razoável convencimento em torno da veracidade dos fundamentos fáticos
contidos na petição inicial e ratificados ao longo da instrução.

O caso em análise é singular pelo fato do réu não se negar a submeter-se ao exame de DNA,
porém, frustrou a realização da perícia na medida em que, regularmente citado, sequer
respondeu a ação, e, tão pouco participou dos atos processuais, seja para se submeter ao teste
de DNA, seja para refutar as provas produzidas pelo autor.

Considerando que a presunção de paternidade pela recusa de se submeter ao exame de DNA é


lei, mas que clama pela necessidade de apreciação em conjunto com o contexto probatório, nos
termos do § 1º, do art. 2º-A, da Lei 8.560/1994, incluído pela Lei 12.004/2009, penso que o fato
do réu não ter participado voluntariamente do processo, já que fora regularmente citado,
constituiu verdadeira recusa a submeter-se à perícia referida, só que de forma disfarçada.

A propósito, veja-se a jurisprudência a seguir, transcrita parcialmente:

RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE BIOLÓGICA - TENTATIVA DE COLETAR MATERIAL


GENÉTICO DO SUPOSTO PAI.

Assinado eletronicamente por: FRANCISCO ROBERTO MACEDO DE SOUZA - 07/02/2023 17:51:58 Num. 86059177 - Pág. 4
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Número do documento: 23020717515803200000081759713
Ainda que o exame pericial seja uma prova ímpar quando se trata de investigação de
paternidade, é cediço que a ausência de sua realização não implica na impossibilidade do
reconhecimento da paternidade biológica, isso porque, se na tentativa de efetuar a coleta do
material genético o suposto pai esquivar-se indisfarçavelmente das intimações, acaba por gerar a
presunção da pretensão, conforme expõe o artigo 2º-A, parágrafo único, da Lei nº 8.560/1992: ‘A
recusa do réu em se submeter ao exame de código genético - DNA gerará a presunção da
paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto probatório. No mesmo sentido é o
entendimento pacífico do Tribunal de Justiça, consolidado por meio da edição de sua Súmula nº
301, que preceitua in verbis: ‘Em ação investigatória, a recusa do suposto a submeter-se ao
exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade.(…).

(STJ - AREsp 527565 - Publ. em 24/03/2015)

A principal prova do autor em alicerce às suas declarações exordiais é, sem dúvida, o depoimento
pessoal de sua genitora, cuja transcrição faço a seguir, por ser ela a única conhecedora dos
fatos, com exceção, por óbvio, do próprio requerido:

Depoimento da genitora do requerente, Sra. ROSALIE NUNES ARAÚJO:

“Que foi casada com Luis Joaquim, que morreu em 1978; Que conheceu o requerido em janeiro
de 1979, quando ele veio de São Paulo para trabalhar em Belém na mesma empresa que a
depoente trabalhava; Que não chegou a ter convivência propriamente dita com o requerido, mas
se relacionou com ele por cerca de 7 meses, numa condição de ajuda mútua, pois, ambos
estavam carentes, já que o requerido tinha vindo pra Belém por ter tido problemas em São Paulo,
e a depoente havia perdido no ano de 1978 seu esposo e seus pais, além de um problema de
saúde sério de um filho, que ainda hoje vive com sequelas graves; Informa que houve uma
relação sexual altamente constrangedora para a depoente, ocorrida no recinto da empresa em
que trabalhavam, presenciada auditivamente pelos demais funcionários presentes, que não
interviram, mas ouviu quando uma funcionária chegou a dizer: “seu Cláudio, pare com isso”. Que
a depoente ainda hoje tem trauma dessa situação; que o requerente é fruto de um
relacionamento que o requerido lhe forçou a ter, sem preservativo, em sua residência na Rua
Pariquis, Bairro Batista Campos onde a genitora residia com o seu filho de 5 (cinco) anos, irmão
do requerente, fruto do casamento com Luiz Joaquim; e não tendo a depoente feito uso de
anticoncepcionais, pois, entendia que já estava terminada a sua relação com o requerido, tendo
sido uma relação completa, com ejaculação; Que no período em que esteve com o requerido
ficou só com ele, não mantendo contato com outros rapazes, tão pouco, relacionamento sexuais;
Que 2 ou 3 meses após esse relacionamento a que foi forçada pelo requerido, a depoente pediu
ao requerido que fosse a sua casa, pois, tinha algo importante para falar com ele, tendo o
requerido ido à casa da depoente, ocasião em que a depoente lhe falou que estava grávida,
tendo o requerido lhe perguntado quem era o pai, e a depoente por se sentir ofendida com a
pergunta graciosa do requerido, lhe disse “agora o filho é meu”, não mais mantendo contato com
o requerido a partir daquela ocasião, sendo este o motivo pelo qual não registro o requerente no
nome do requerido e sim no nome de seu ex-marido. Que não há fotos e nem cartas desse curto
período de relacionamento que teve com o requerido. Dada a palavra ao requerente, advogando
em causa própria, às suas perguntas a testemunha respondeu: reconhece pelo celular do
requerente a foto que lhe foi apresentada, com 100% de certeza, apesar do tempo decorrido, que
é do requerido, com manteve relacionamento na forma como dito em seu depoimento, por ter ele

Assinado eletronicamente por: FRANCISCO ROBERTO MACEDO DE SOUZA - 07/02/2023 17:51:58 Num. 86059177 - Pág. 5
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traços marcantes, que não dá para esquecer. Dada a palavra à nobre curadora, nada perguntou.”

Filio-me à corrente que entende que lutar por seus direitos fundamentais, talvez até mais do que
uma prerrogativa assegurada constitucionalmente, é uma obrigação de todo cidadão, pois, visa à
realização do princípio da dignidade da pessoa humana, e como tal, autoriza a recorrer aos meios
colocados à disposição, o que veda comportamentos que se mostrem contrários na busca desse
direito/dever.

Nessa toada, qualquer ato que venha a ser praticado pelo requerido, que redunde obstar o
requerente a alcançar o seu direito/dever à dignidade enquanto ser humano, mediante o
conhecimento de sua origem genética, deve ser rechaçado com veemência.

Veja-se que em se tratando de investigação de paternidade, o princípio da dignidade da pessoa


humana ampara igualmente tanto o investigante como o investigado, de sorte que, numa relação
inversa, ou seja, fosse o requerido buscando saber se o requerente era seu filho biológico, estaria
ele (o requerido) igualmente sob o manto da Carta Magna, no que respeita ao aludido princípio.

Contudo, é necessário, senão uma igualdade entre as partes no processo, pelo menos um
equilíbrio entre elas, para que não reste violado, antes de tudo, o mencionado princípio
constitucional da igualdade.

Na situação posta, nota-se desigualdade processual entre as partes, estando o requerente em


desvantagem. Explico: Fazendo um paralelo com a situação de concepção normal de uma
pessoa, esta somente é possível a partir da conjugação de vários fatores, havendo porém, pelo
menos um, sem o qual a concepção não ocorrerá, e que tomo como exemplo, o espermatozoide.
Assim, conseguindo-se todos os ingredientes necessários à geração de uma pessoa, de nada
adiantará, e a pessoa não virá ao mundo, se faltar o gameta masculino. Comparando agora com
a investigação de paternidade, de nada adiantará o material genético e as modernas técnicas
alcançadas pela ciência, se faltar o material genético de um dos envolvidos na perícia. Ocorre
que, no caso da concepção, no que respeita a direitos do nascido vivo, consequência alguma
haverá se a concepção não ocorrer. Já no caso da investigação de paternidade, várias são as
consequências da falta de material genético para o teste de DNA, já que a não realização de tal
exame, seja por qual for o motivo, impedirá o conhecimento da verdade, em prejuízo daquele que
tem interesse em conhecer sua origem genética. Se o caso for de um pai que busca encontrar
seu filho e este, na condição de investigado, se recusa a submeter-se ao teste de DNA, não há
dúvida da existência de violação do direito do pai/investigante ao ser tolhido de saber se o
investigado é seu filho, sendo a recíproca verdadeira.

Outra conclusão que sobressai dessa discussão é que o dano maior será sempre suportado por
aquele que pretende saber da verdade sobre sua condição biológica (filho ou pai), pois,
presumida a paternidade, afastada estará a busca pela verdade através de exame científico,

Assinado eletronicamente por: FRANCISCO ROBERTO MACEDO DE SOUZA - 07/02/2023 17:51:58 Num. 86059177 - Pág. 6
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situação essa que, salvo em casos excepcionais, será tanto pior para o filho, já que este não
participou do ato gerador de sua concepção, e apenas passa a conhecer dos fatos a partir de
determinada idade, por terceiros, muitas vezes através da mãe ou por minguadas vezes, através
do suposto pai.

Veja-se que sob a ótica do pai, se este não tem certeza da paternidade a ele atribuída, poderá
assumir a postura de certeza de que não é pai, caso tenha consciência de que nunca manteve
qualquer contato sexual com a mãe do filho investigante, ou a postura de que apenas tem dúvida
quanto ao fato de ser o pai, mas admitindo que possa ser. Em ambos os casos, e na atualidade,
tenho plena convicção de que a única postura ética e correta a ser tomada por esse suposto pai
investigado é a submissão ao teste de DNA.

Tomando por base as anotações acima, chego à conclusão de que, com sua atitude de não
participar do processo e, de consequência, de não se submeter ao teste de DNA, o requerido
acaba por permitir ao juiz lançar mão de sua convicção, conforme lhe faculta a processualística
civil pátria vigente e considerá-lo pai do requerente. Não faz sentido pensar que o réu não seja o
pai do requerente, se se recusa a participar do processo, não se defendendo, não expondo seu
posicionamento sobre o assunto e, acima, não participando do teste de DNA.

Embora o requerido não tenha se recusado a se submeter ao exame de DNA, suas atitudes como
a de não integrar a lide, não se defender e não participar dos atos processuais, constituem atos
inequívocos no sentido de não querer tomar parte na aludida perícia, com a qual se iria confirmar
ou refutar a paternidade alegada, com precisão próxima de 100%.

O direito de alguém a não se submeter a um exame de DNA não pode ser comparado ao direito
de se ficar em silêncio em processo criminal, pois, são situações distintas, em que na esfera
criminal é compreensível, para que não se produza prova contra si mesmo. Porém, na seara de
feitos cíveis, como é o caso da investigação de paternidade, tal entendimento não pode e não
deve prevalecer, pois, a paternidade jamais poderá ser vista como um crime, de forma que
quando alguém intenta uma ação de investigação de paternidade não está fazendo acusação de
crime a outrem e, tão pouco quando alguém reconhece uma paternidade, está confessando um
crime.

Nessa linha de raciocínio, tem-se que a revelia do requerido viola direitos do requerente, pois,
este tem o direito a sua identificação completa no registro civil, quanto à sua ascendência, que
restará prejudicada enquanto não conhecer quem é seu pai.

Nesse enfoque, a revelia, por si só, gera a presunção de paternidade, pois o réu não deve ser
beneficiado com uma sentença improcedente por ter se omitido de cooperar no processo.

Assinado eletronicamente por: FRANCISCO ROBERTO MACEDO DE SOUZA - 07/02/2023 17:51:58 Num. 86059177 - Pág. 7
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Número do documento: 23020717515803200000081759713
Com base no arrazoado acima, entendo ser possível acolher o depoimento da genitora do
requerente como suficiente para, em conjunto com as demais provas produzidas, satisfazer a
condição imposta pela Lei de Investigação de paternidade (art. 2º-A, § 1º, da Lei 8.560/1992) e,
assim, presumir a paternidade do requerido em relação ao requerente.

DISPOSITIVO

Isto posto, e por tudo mais que dos autos consta, julgo procedente a inicial para, com esteio na
Súmula 301, do STJ, e § 1º, do art. 2º-A, da Lei nº. 8.560/1992, DECLARAR o
investigado/requerido, ANTONIO CLAUDIO PINTO FLORES, pai do investigante/requerente,
LUIZ MICHEL NUNES ARÁUJO, determinando ao Cartório de Val-de-Cães, desta Comarca, que
no registro civil de casamento do investigante/requerente, matrícula 068536 01 55 2006 3 00040
104 0018056 81, averbe o nome do investigado/requerido, ANTONIO CLAUDIO PINTO FLORES,
como pai, permanecendo o requerente/investigante/nubente com o mesmo nome.

Extingo o processo com resolução de mérito, com esteio no art. 487, I, do CPC.

Condeno o requerido ao pagamento de despesas, custas processuais e honorários advocatícios,


fixando estes último no valor equivalente a 3 (três) salários mínimos vigente na data do efetivo
pagamento, nos termos do artigo 85, § 2º, incisos I e III, § 8º e §8º-A, do CPC.

Considerando que não mais há juízo de admissibilidade no 1º Grau de Jurisdição, em caso de


interposição de recurso de apelação, intime-se a parte contrária para, caso queira, oferecer suas
contrarrazões, no prazo legal. Decorrido o prazo, com ou sem as contrarrazões, certifique-se e
remetam-se os autos ao E. Tribunal de Justiça do Estado do Pará, para os fins de direito.

Preclusas as vias recursais e cumpridas as determinações que esta sentença encerra, arquive-se
o processo com a observância das formalidades devidas.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Cumpra-se.

A validade do documento poderá ser conferida através do link


http://pje.tjpa.jus.br/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam

Assinado eletronicamente por: FRANCISCO ROBERTO MACEDO DE SOUZA - 07/02/2023 17:51:58 Num. 86059177 - Pág. 8
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Número do documento: 23020717515803200000081759713
Belém, 06 de fevereiro de 2023

FRANCISCO ROBERTO MACEDO DE SOUZA

Juiz de Direito, titular da 6ª Vara de Família da Comarca de Belém

Assinado eletronicamente por: FRANCISCO ROBERTO MACEDO DE SOUZA - 07/02/2023 17:51:58 Num. 86059177 - Pág. 9
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Número do documento: 23020717515803200000081759713

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