Você está na página 1de 19

DA DIVISÃO DO TRABALHO

SOCIAL (1893)
Emile Durkheim
DA DIVISÃO DO TRABALHO SOCIAL (1893)
•Tema: relação entre indivíduos e coletividade

Como uma coleção de


indivíduos pode constituir uma
sociedade?
Individualismo moral vs. utilitarista
• Obra de Durkheim faz defesa do individualismo.

• Individualismo metodológico, utilitarista do cálculo racional. O “egoísmo” dos


utilitaristas, era a perseguição do interesse próprio.

• Individualismo moral, encarado como concepção das características da ordem


social moderna.
• O individualismo moral foi resultado de processo histórico e não poderia ser
ponto de partida.
Primado histórico
• O indivíduo não vem, historicamente, em primeiro lugar.
• Nas sociedades tradicionais cada indivíduo é o que são os outros; na consciência
de cada um predomina sentimentos comuns a todos, os sentimentos coletivos.
• Há prioridade histórica das sociedades em que os indivíduos se assemelham uns
aos outros (sociedades coletivistas)

• A tomada de consciência da individualidade decorre do próprio desenvolvimento


histórico

• Não se pode explicar os fenômenos da diferenciação social a partir dos


indivíduos.
DIVISÃO DO TRABALHO
• “Dizer que os homens dividiram o trabalho e atribuíram uma
ocupação específica a cada um para aumentar a eficácia do
rendimento coletivo é admitir que os indivíduos são diferentes uns
dos outros, e conscientes dessa diferença, antes da diferenciação
social”.
•Como uma coleção de indivíduos pode constituir uma
sociedade?
•Tese: há o primado da sociedade sobre o indivíduo
Consciência Coletiva
• Existem duas consciências; “ uma é comum com todo nosso grupo e não representa a
nós mesmos, mas a sociedade agindo e vivendo em nós. A outra só nos representa no
que temos de pessoal e distinto, nisso é que faz de nós um indivíduo”.
• Consciência coletiva: “O conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos
membros de uma sociedade forma um sistema determinado, que tem vida própria”.

Os detalhes relativos ao que é preciso fazer, e ao que é preciso crer, são impostos pela
consciência coletiva.

“Somente uma sociedade constituída goza da supremacia moral e material indispensável


para fazer a lei para os indivíduos; pois só a personalidade moral que esteja acima das
personalidades particulares é que forma a coletividade”.
Solidariedade Mecânica
• Os laços que unem os membros entre si e ao próprio grupo constituem a solidariedade.

• Na solidariedade por semelhança os indivíduos pouco divergem entre si. Membros de uma
mesma coletividade, têm os mesmos sentimentos, os mesmos valores, reconhecem os mesmos
objetos como sagrados. A sociedade tem coerência porque os indivíduos ainda não se
diferenciaram.

• A solidariedade mecânica é quando liga diretamente o indivíduo à sociedade, sem nenhum


intermediário. Eles são quase nada desiguais entre si e por isso a solidariedade entre eles se deve
às semelhanças que compartilham. Até mesmo a propriedade de bens não pode ser individual, a
educação é difusa, não há mestres.

• Nas sociedades de solidariedade mecânica a maior parte da existência é orientada pelos


imperativos e proibições sociais.
Solidariedade orgânica
• A solidariedade orgânica é aquela em que o consenso, a unidade coerente da
coletividade, resulta de uma diferenciação.
• É orgânica por analogia com os órgãos de um ser vivo, cada um exerce uma função
própria; embora os órgãos não se pareçam uns com os outros, todos são igualmente
indispensáveis à vida.
• Nas sociedades onde se desenvolve uma divisão do trabalho, a consciência comum
passa a ocupar uma reduzida parcela da consciência total, permitindo o
desenvolvimento da personalidade.
• Mas a diferenciação social não diminui a coesão, ao contrário, faz com que a “unidade
do organismo seja tanto maior quanto mais marcada a individualidade das partes.” Uma
solidariedade ainda mais forte funda-se agora na interdependência.
Divisão do Trabalho
• A divisão do trabalho não é exclusiva do mundo econômico;
• Funções políticas, administrativas, judiciarias, artísticas, científicas.
• Embora a educação exprima elementos comuns que toda a sociedade possui –
como as ideias a respeito da natureza humana. Do dever, do progresso que
formam a base do espírito nacional, ela também colabora com essa diferenciação
já que cada profissão “reclama aptidões particulares e conhecimentos especiais”.
CAUSAS DA DIFERENCIAÇÃO

• Durkheim quer determinar a causa do desenvolvimento da divisão do trabalho nas sociedades


modernas

• Para que o aumento do número dos indivíduos se torne uma causa da diferenciação, é preciso
acrescentar a densidade material e moral.

• A densidade material é o número dos indivíduos em relação a uma superfície dada do solo.

• A densidade moral é a intensidade das comunicações e trocas entre esses indivíduos. Quanto
mais intenso o relacionamento entre os indivíduos, maior a densidade.

• A diferenciação social resulta da combinação dos fenômenos do volume e da densidade material


e moral.
Causas da diferenciação
• “ A civilização é em si mesma uma consequência necessária das mudanças que
ocorrem no volume e densidade das sociedades. (...) a partir do momento que o
número de indivíduos entre os quais se estabelecem relações sociais atinge certo
ponto, eles só podem se manter caso se especializem mais, trabalhem mais e
estimulem sua capacidades mentais; a partir desse estímulo geral resulta um
nível maior de cultura. A civilização surge não como um fim, mas um efeito de
uma causa, o resultado necessário de um determinado estado de coisas.”
Diferenciação Social: Condição criadora da
liberdade individual.
• A diferenciação social é a solução pacífica da luta pela vida.
• Em vez de alguns serem eliminados para que outros sobrevivam, como ocorre no reino
animal, a diferenciação social permite a um número maior de indivíduos sobreviver,
diferenciando-se.
• Cada um deixa de estar em competição com todos, podendo assim ter um papel, e
preencher uma função.

Só numa sociedade em que a consciência coletiva perdeu uma parte da sua rigidez o
indivíduo pode ter uma certa autonomia de julgamento e de ação. Nessa sociedade
individualista, o problema mais importante é manter o mínimo de consciência coletiva, à
falta da qual a solidariedade orgânica provocaria a desintegração social.
Teoria da norma moral

1. Elas infundem respeito


2. Têm uma atração positiva
3. Têm caráter de dever, obrigação
4. São apoiadas com sanções contra desvios

•A obrigação moral estabelece limites para ação


humana e também foco e forma definida.
Teoria da norma moral
• O indivíduo concreto depende de normas internalizadas que, em
parte, eram condição da liberdade de ação.
• “O ensino deve ser moralizador, libertar os espíritos das visões
egoístas e dos interesses materiais, substituir a piedade religiosa por
uma espécie de piedade social”.
Teoria da ANOMIA
• ANOMIA é a falta de regulação na sociedade, pode ser atribuída ao
desenvolvimento temporariamente inadequado do individualismo moral na
sociedade moderna.
• CAUSA DA ANOMIA: Falta de normas coerentes que ofereçam objetivos firmes.
OU quando os objetivos podem ser definidos, mas não podem ser atingidos.
• Para superar o conflito de classe que caracteriza a indústria moderna, a
mudança social – a remoção de barreiras à igualdade de oportunidades
ocupacionais é necessária.
Os indicadores dos tipos de solidariedade
• Solidariedade, por ser um fenômeno moral, não se pode observar.

• Normas do direito podem ser indicadores da solidariedade.

• O direito é uma forma estável e precisa e serve como fator externo que
representa a solidariedade social.

• O papel do direito nas sociedade modernas seria análogo ao do sistema nervoso,


regular as funções do corpo.
Duas classes de sanções
• Repressivas: pune as faltas ou crimes; punição das violações das regras sociais. A função do castigo é
satisfazer a consciência comum, ferida pelo ato cometido por um dos membros da coletividade.

• Restitutivas: objetiva repor as coisas em ordem quando uma falta foi cometida, ou organizar a
cooperação entre os indivíduos.

• O sistema jurídico pode ter maior ou menor grau de sanções repressivas.

• São considerados “crimes” os atos socialmente reprimidos por meio de sanções.


• O crime provoca ruptura dos elos de solidariedade e sua reprovação serve para confirmar e vivificar
valores e sentimentos comuns.

• Nas sociedades “primitivas” é a assembleia do povo que faz a justiça sem intermediários.

• “Quando reclamamos a repressão ao crime, não somos a nós que queremos pessoalmente vingar, mas a
algo de sagrado que sentimos, mais ou menos confusamente fora e acima de nós”.
MARTINS, José de Souza. Linchamentos: a justiça
popular no Brasil. São Paulo: Contexto, 2015
• Martins enfatiza a dimensão pedagógica, portanto pública e coletiva,
do linchamento como vendeta reparadora de um processo de anomia
resultante de grave transgressão moral.
• Esta anomia, síntese de situações de extrema tensão pela indignação,
humilhação e ressentimento que ocasiona o ato transgressor, exige
uma reparação em forma de rito sacrificial, catártico, que reconduz à
ordem moral e cósmica o espaço interacional.
MARTINS, José de Souza. Linchamentos: a justiça
popular no Brasil. São Paulo: Contexto, 2015
• “A sociedade relacional brasileira, de fundo escravocrata,
conservadora, alicerçada no mando pessoal e no poder dos
potentados da terra, tinha na justiça privada e no justiçamento
popular seus modelos de preservação da ordem social e de suas
linhas e hierarquias morais visíveis e invisíveis.
• A “modernidade brasileira”, enquanto projeto de ordenação
individualista do social segundo os princípios da igualdade formal, da
impessoalidade e do desempenho individual, se estabelece na síntese
e confusão destes modelos relacional e individualista de sociedade,
prevalecendo o aspecto relacional das interações mesmo nas
metrópoles brasileiras”.

Você também pode gostar