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São Paulo
31 (2): 126-131, março-abril,, 1989
BIOSSEGURANÇA NO LABORATÓRIO
RESUMO
Nos últimos dez anos tem sido travada u m a luta com a finalidade de prevenir
a transmissão de agentes infecciosos dentro de laboratórios. A grande fonte de disper¬
são de patógenos por meio de aerossóis, pode ser eliminada satisfatoriamente com
o uso de câmaras de segurança biológica. R e g r a s gerais e específicas de biossegu¬
r a n ç a devem ser cumpridas por todos os usuários de laboratórios que manuseiam
patógenos ou materiais potencialmente contaminantes e, eventualmente, avaliados
por u m comitê de biossegurança independente. O surgimento da síndrome de imuno-
deficiência adquirida deve servir.como fator de estímulo à adoção de normas eficazes
de segurança laboratorial.
U N I T E R M O S : B i o s s e g u r a n ç a : Infecção laboratorial.
INTRODUÇÃO
Como itens de segurança geral temos os se- 2. Produtos químicos de natureza tóxica: deter
guintes a serem considerados: gentes podem ser cáusticos ou causar irrita
(1) U n i v e r s i d a d e F e d e r a l d o P a r á . C e n t r o d e C i ê n c i a s B i o l ó g i c a s , D e p a r t a m e n t o d e P a t o l o g i a , L a b o r a t ó r i o d e V i r o l o g i a .
(2) I n s t i t u t o E v a n d r o C h a g a s , F S E S P / B e l é m , P a r á , B r a s i l .
E n d e r e ç o p a r a c o r r e s p o n d ê n c i a : D r . R i c a r d o I s h a k — C a i x a P o s t a l 3005 — 66.000 B e l é m , P a r á , B r a s i l
çáo n a pele, olhos e t c ; desinfetantes químicos RISCO BIOLÓGICO DE CONTAMINAÇÃO
como o hipoclorito de sódio podem m a n c h a r
tecidos, causar irritação n a pele ou mesmo A necessidade de proteção contra u m risco
corroer metais; produtos químicos comumen- biológico é definida pela (i) fonte do material;
te usados em cultura de células, como o dime- (ii) pela natureza d a operação ou experimento
til sulfóxido, solvente poderoso que penetra a ser efetuado e (iii) pela condição n a q u a l o expe-
através da pele e pode carregar consigo subs- rimento será realizado. Não h á controvérsias so-
tâncias infecciosas, químicos mutágenos ou bre o risco de contaminação quando se trabalha
carcinogênicos; com patógenos conhecidos, pois para estes exis-
tem normas e classificações que regem os níveis
3. Gases: C 0 , N não são perigosos quando a
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de contenção adequados p a r a os seus m a n u -
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exposição é feita a pequenas quantidades, po- seios . Entretanto, o desenvolvimento de novas
rém c a u s a m a s f i x i a q u a n d o l i b e r a d o s em técnicas como a hibridização celular inter-espe-
grandes quantidades; a liberação de 0 requer 2
cífica, o uso de novos patógenos em locais não
ventilação m á x i m a devido ao risco de fogo; considerados como de contenção m á x i m a , o uso
a vedação de ampolas deve ser feita com cui- de linhagens celulares transformadas, todos in-
dado para não haver refluxo de oxigênio ou troduzem riscos para os quais ainda náo se dis-
defeitos n a m i s t u r a g á s / o x i g ê n i o ; cilindros põe de informações epidemiológicas suficientes
que contêm gases devem estar fixos, evitando p a r a avaliar o impacto que as modernizações
o risco mecânico de queda dos mesmos; de tecnologia acarretam. A s comissões de segu-
r a n ç a internacional reunem-se, em geral, quan-
do se detecta o risco.
4. Nitrogênio liquido: são três os maiores riscos
associados ao nitrogênio — queimadura, asfi-
x i a e explosão; quando as ampolas são sub- É importante então que c a d a instituição de
mersas em N líquido, existe u m a diferença
2
pesquisa aponte u m C o m i t ê de B i o s s e g u r a n ç a
de pressão entre o exterior e o interior d a am- que atue nas seguintes funções:
pola; se esta não estiver perfeitamente fecha
da h a v e r á a entrada de N , a q u a l c a u s a r á
2
a) no aconselhamento p a r a desenvolver e me-
a explosão d a ampola no momento de descon- lhorar as regras p a r a a segurança no trabalho:
gelamento; a inalação de grandes quantida-
des de N pode levar à asfixia, e devido à b a i x a b) prover u m a revisão geral de biossegurança
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temperatura do mesmo o seu manuseio sem dentro das atividades desenvolvidas pela ins-
luvas de proteção pode resultar em queima- tituição em questão sob u m ponto de vista
duras; rigoroso e imparcial.
— U r i n a , fezes, sangue total, p l a s m a , soro e ou- Por outro lado, o trabalho com pacientes so-
tros fluidos orgânicos devem ser considera- ropositivos para o H I V ou com a S I D A / A I D S ,
dos como material contaminado até p r o v a requer que sejam estabelecidas regras m í n i m a s
em contrário. E m virtude disto, evite sujar-se complementares p a r a bloquear a transmissão ao
com qualquer destes materiais; operador. D e s t a forma, o trabalho com o H I V
deverá obedecer:
— L a v a r sempre com água e sabão a parte do
corpo i m e d i a t a m e n t e após o contato c o m — a notificação da existência de u m trabalho
qualquer espécimen do laboratório; desta natureza para fins de avaliação por u m
Comitê independente;
— Cobrir cortes e abrasões de pele, principal-
mente das mãos, antes de manusear qualquer — a existência de mecanismos de contenção e
espécimen laboratorial; prevenção d a infecção, tais como: a sinali-
zação do perigo biológico, a presença de fonte
— E v i t a r perfurações com agulhas e outros obje-
de água de fácil acesso, desinfetantes próxi-
tos pontiagudos, principalmente aqueles su
mos ao local de trabalho, equipamento de uso
jos com sangue; substituí-los, eventualmen-
exclusivo como geladeira, centrífuga e t c ;
te, por instrumentos plásticos;
— u m a rotina r í g i d a de trabalho l i m i t a n d o o
— Não colocar recipientes contendo s u b s t â n - acesso de usuários, mantendo portas fecha
cias líquidas ou qualquer outro objeto, por das, prevendo a sistemática utilização de jale-
mais leve que seja, sobre o equipamento de cos, aventais plásticos, óculos de proteção,
laboratório, p a r a se evitar problemas que in- luvas e dando o descarte adequado ao mate-
cluem danos elétricos e obstrução d a venti- rial infectante após s u a esterilização;
lação;
— cuidados específicos a serem seguidos para
— Despejar todo o material de análise de forma o derramamento de material e seu descarte
segura, esterilizando tudo o que for necessá- adequado: são recomendadas concentrações
rio; variáveis de hipoclorito para a descontami-
nação e limpeza de materiais variados como
— Você deve ter consciência d a s u a segurança pipetas, ponteiras (hipoclorito a 0,25%), su-
em seu local de trabalho. Não acredite que perfícies, objetos e equipamentos (hipoclorito
seu trabalho é inócuo só porque você ainda a 0,1% ou glutaraldeído a 2%). C o n t a m i n a -
não foi infectado no laboratório. U m dia isto ções grosseiras devem ser limpas com solução
pode acontecer, e o que é pior, pode ser fatal. de hipoclorito a 1 %; é essencial o uso de cubas
T e n h a cuidado! fechadas para autoclavação;
— manutenção de livro de ocorrência p a r a regis- interest in methods and procedures for the safe
tro de acidentes, infecções, doenças, assistên- handling of microbiological material. T h e major
cia médica e t c ; laboratory safety problem is aerial transmission,
— orientação correta p a r a recebimento de ma- however, protection against airborne hazards is
teriais de outros laboratórios; n u n c a é demais efficiently achieved by the use of microbiological
lembrar que a vedação dos frascos contendo safety cabinets. Biosafety rules should be stric-
soros para teste deve ser completa e que os tly followed by all members of a laboratory. E v a -
frascos devem ser embalados em sacos plás- luation of these procedures should be effectively
ticos individuais antes de serem enviados; performed by an independent biosafety commit-
tee. T h e upsurge of A I D S should stimulate the
— limpeza diária do laboratório.
adoption of safe working procedures in the labo-
Reenfatizamos o cuidado quanto ao uso de ratory.
seringas e agulhas, particularmente no momen-
to da colheita do sangue: N U N C A tentar repor AGRADECIMENTOS
a capa de plástico que originalmente recobria
a a g u l h a ; u m a vez coletado o espécimen, depo- À S r a . F Á T I M A M O N T E I R O pela paciente
site-o em u m frasco apropriado, injetando-o atra- datilografia do manuscrito.
vés d a a g u l h a ; ao término desse último procedi-
mento, descartar a seringa a c o p l a d a à a g u l h a
(NÃO T E N T E S E P A R Á - L O S ! É D E S N E -
C E S S Á R I O . . . ) em u m recipiente apropriado (e. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS