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Andréa Ferreira Garcia Pereira1
RESUMO
Este artigo compreende um diálogo entre pensamentos e teorias acerca de uma reflexão
sobre como se constitui e se manifesta o discurso na educação profissional, referentes
aos constituintes discursivos e à transposição teoria-prática e, consequentemente, à
formação identitária de sujeitos da educação. O objetivo é promover um discurso
educativo favorável à aprendizagem profissional. As questões fundam a importância da
adequação do discurso educativo às especificidades e exigências dos cursos
profissionalizantes. A abordagem ocorreu por meio de pesquisa bibliográfica e
entrevistas semi-estruturadas com docentes. Algumas vozes contribuem, de forma não
explícita, mas inquietante, idéias quanto à formação discursiva na educação, no que
compreende as subjetividades do homem de um tempo e de um espaço. Bakhtin (1995)
ao tratar do discurso, resgata as questões marxistas, ideológicas, circunstanciais e de
sujeitos que integram a formação discursiva em sua origem, e isso confere ao discurso
uma imagem, aqui profissional. Abdalla (2006) trata de um ser e estar na profissão
docente, que se estende à educação profissional. Moscovici (1978) trata das
Representações Sociais dos sujeitos a partir de práticas singulares e coletivas. Contreras
(2002), Charlot (2008) e Novoa (2000) tratam das questões de autonomia profissional e
dos conflitos que se presentificam nas falas relativas ao discurso de saberes e na prática
docentes. Os resultados apontam para as questões concernentes ao tempo, ao espaço, às
questões ideológicas, aos sujeitos seus saberes, à autonomia e à subjetividade, como
elementos de formação identitária, que constituem as interfaces do discurso na educação
profissional e se projetam nas representações sociais.
1
Mestranda da Universidade Católica de Santos – Unisantos (2010). Lato Sensu em Metodologia do
Ensino com ênfase em Língua Portuguesa - UNIMONTE, 2008. Graduada em Letras (2005). Graduada
em Administração (1988). Professora da Rede Municipal de Santos, em Inglês e formação profissional.
Prêmio Educador Santista 2009. Professora da ETEC Paula Souza – Aristóteles Ferreira, Inglês e
Português, formação profissional. andreafgp@uol.com.br
INTERFACES OF THE SPEECH IN THE PROFESSIONAL
EDUCATION
Andréa Ferreira Garcia Pereira[1]
SUMMARY
This article involves a dialogue between thoughts and theories concerning a reflection
on how the speech is formed and manifests itself in professional education, regarding
the main components of the speech, its transposition theory-practice, thus consequently,
to the identifying formation of the education subject. The objective is, therefore, to
promote educational speech favorable to professional learning. These subjects establish
in the importance of the adequacy of the educative speech to the specialties and
requirements of the professionalizing courses. The broaching has occurred through
bibliographical research and semi-structure interviews with educators. Some voices
contribute, when directing not explicit, but uneasiness ideas over a discursive formation
in the education, in that it involves the subjectivities, of the man of a time and a space.
Bakhtin (1995) when dealing with the speech rescues the marxist, ideological,
circumstantial questions and of individuals that integrate the discursive formation in its
origin, and this attributes to the speech an image, here professional. Abdalla (2006)
treats of being and to be in the teaching, that here it is extended to the
professionalization in the professional education. Moscovici (1978) deals with the
Social Representations of the individuals from practical collective and singularities.
Contreras (2002), Charlot (2008) and Novoa (2000) deal with the questions of
professional autonomy, the conflicts in the speeches about practical and the knowledge
professorship. The results point to questions concerning: time, space, ideological
questions, individuals, knowledge, autonomy and subjectivity, as elements of identity
formation, which constitute in interfaces of the speech in the professional education that
projects itself in the Social Representations.
Entendo que essas premissas podem ser importantes, partindo do pressuposto que este
artigo é parte de um trabalho que desenvolvo, em cursos profissionalizantes voltado ao
discurso profissional docente e discente e às representações sociais desses discursos na
educação profissional. Para complementar, apliquei parte da teoria em sala de aula,
propus um seminário temático, abarcando a exposição de conhecimentos pré-adquiridos
e adquiridos em diversas áreas de conhecimento, pelos alunos de cursos
profissionalizantes. O primeiro propósito era perceber e refletir sobre o resultado do
meu próprio discurso na transposição teoria-prática e captar a manifestação do que se
fala, como se fala e quais imagens se formam nesse processo, utilizando as linguagens
verbal e não-verbal, como recursos de exposição. O segundo propósito era, a partir
dessa prática, estabelecer um diálogo entre as áreas de estudo e, assim verificarmos a
dinâmica discursiva interpelada pela articulação dos conhecimentos. Apurei os
resultados por meio de análise crítico-dialética e avaliações qualitativas sobre a
constituição e a manifestação discursiva discente, sob alguns critérios que deveriam ser
atendidos pelos alunos, em simulações e projeções nas representações sociais escola-
trabalho.
A proposta foi bem aceita pelos alunos, sendo que os resultados se apresentaram em
diferentes dimensões, mas de forma satisfatória, isto é, aplicaram os conceitos de
discurso e imagem identitária profissional nas apresentações. Realizei algumas
considerações concernentes às apresentações, mas nada que afastasse a minha proposta
de repensar o discurso docente na formação profissional, no sentido de torná-lo
significativo, ao oferecer subsídios para as representações sociais de trabalho.
2
Homem - espécime humana.
A subjetividade indica características pessoais e psicológicas, nas quais não me deterei,
mas afirmo que determinam grande parte da singularidade dos sujeitos, pois
determinam como esse sujeito lida com as situações, quais escolhas valorativas realiza
e, como lida com o saber cotidiano e com o elaborado. E isso instaura uma condição do
e ao educador em sua prática que se reverbera na formação identitária profissional do
aluno. Isto implica dizer que a subjetividade atua como um dos elementos constitutivos
e intermitentes no processo de formação do discurso no ensino profissional, uma
interface, como imagem do homem e este como profissional.
O lugar de onde se fala é um lugar que exerce e sofre influência sobre o que se fala e o
que se mostra no discurso. O educador fala de um determinado ponto e poderíamos
considerar inclusive o espaço físico à frete da sala, mas especialmente a posição de
poder da qual se imbui, por meio dos saberes docentes elaborados (específico),
cotidianos, pedagógicos e institucionais.
CONTEXTUALIZANDO A ABORDAGEM
Não há discurso neutro, todos são permeados pela ideologia que é social, e, pelas
inferências pessoais provenientes das crenças, dos saberes pedagógicos, institucionais,
formativos, cada qual em sua instância de atuação e permissão dentro de um sistema de
normas e metas a serem atingidas.
Manter as singularidades do sujeito não significa negar-se ao diálogo com outras formas
discursivas ou esferas, pode significar adequar-se a uma exigência formal pedagógica
ou institucional inerente à prática. Para tanto, é imprescindível dispor-se a revisitar-se,
para que de forma consciente, façamos escolhas.
Contreras (2002) trata das questões de autonomia profissional relativa à prática docente,
discurso, que considera as singularidades, manifesta-se e se reverbera nos cursos de
formação profissionalizante e dos conflitos que se presentificam no discurso
profissional, nas falas de educadores, que aqui também encaminho para pensar a
formação identitária de alunos, pois ambos se constituem em discursos de saberes.
Novamente são lugares de onde se fala e que marcam a identidade profissional de
professores e de alunos de cursos profissionalização. Isso não implica afirmar uma
autonomia plena do discurso educativo em práticas discursivas cotidianas, mas sim
dizer que a constituição individual, intelectual e social, age de maneiras diferentes e
permite diferentes posicionamentos ao sujeito da ação.
CONCLUSÃO
Tratar das interfaces do discurso na educação profissional é pensar a educação como
veículo de liberdade. Não se trata de uma liberdade física, mas uma liberdade do
espírito, de uma mente de sujeitos conscientes do papel social a ser desempenhado pelos
sujeitos. Trata-se da liberdade baseada na possibilidade de escolha de caminhos traçados
pelo sujeito da ação, escolha que deve indiciar uma liberdade real. O educador e o
ensino, por meio do discurso de emancipação são elementos sociais que apontam para a
transição, à medida que representam os pensamentos de sujeitos e de subjetividades, os
paradigmas de uma sociedade, de um tempo, de um lugar que se modificam com essa
sociedade e paradoxalmente tentam transformá-la.
Entretanto, a esta altura é preciso resgatar algumas premissas: o que é discurso? O que
compreende a formação discursiva identitária docente e, consequentemente, discente? O
que é comunicabilidade? O que é um discurso favorável e significativo à aprendizagem
na educação profissional? O que são interfaces do discurso na educação profissional e
quais são elas? Qual a aplicação do conhecimento sobre a formação discursiva,
considerando-se a identitária em práticas educativas?
Discurso é tudo que se pronuncia, por meio das linguagens verbal e não-verbal. É o que
se diz, como se diz e como se mostra (imagem). Na educação profissional é, sobretudo,
entender o sujeito de uma forma global, de modo a atender às especificidades de uma
representação social, mas também atender às exigências de um ser de relações no
trabalho e na sociedade, e este é um resultado bastante significativo, enquanto papel
social da educação.
ABDALLA, Maria de Fátima Barbosa. O senso prático de Ser e estar na profissão. São
Paulo: Cortez Editora, 2006. 120p.
CONTRERAS, José. A autonomia dos professores. São Paulo: Cortez Editora. 2002.
296p.
NOVOA, Antonio. Vida de Professores. Porto-Portugal: Ed. Porto LTD. 2000. 215p.