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Artigo de Pesquisa Neves HCC et al.

Original Research
Artículo de Investigación

O USO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL


POR PROFISSIONAIS EM UNIDADES DE ENDOSCOPIA

THE USE OF PERSONAL PROTECTIVE EQUIPMENT BY


PROFESSIONALS AT ENDOSCOPY UNITS
EL USO DE EQUIPAMIENTOS DE PROTECCIÓN INDIVIDUAL POR
PROFESIONALES EN UNIDADES DE ENDOSCOPIA

Heliny Carneiro Cunha NevesI


Adenícia Custódia Silva e SouzaII
Jackeline Maciel BarbosaIII
Luana Cássia Miranda RibeiroIV
Anaclara Ferreira Veiga TippleV
Sergiane Bisinoto AlvesVI
Karina SuzukiVII

RESUMO: Estudo quantitativo realizado com 45 profissionais dos serviços de endoscopia no Município de Goiânia,
no ano de 2007, com objetivo de verificar a adesão dos profissionais ao uso dos equipamentos de proteção individual
na realização do exame de endoscopia e no reprocessamento do endoscópio. Os dados foram obtidos por meio de
observação, utilizando um check-list e analisados por meio de estatística descritiva. Os resultados revelaram que as
luvas de procedimentos, avental de tecido e sapatos fechados obtiveram maior adesão pelos profissionais durante a
realização dos exames de endoscopia, limpeza e desinfecção do endoscópio. Porém, os óculos protetores, máscara
química e avental impermeável obtiveram baixos índices. Concluímos que os profissionais estão expostos tanto ao
risco biológico quanto químico devido ao uso indevido dos equipamentos de proteção individual, sendo necessária
uma educação permanente, buscando desenvolver competências cognitivas, psicomotoras e atitudinais para vencer
os obstáculos à adesão às precauções padrão.
Palavras-Chave: Riscos ocupacionais; exposição a agentes biológicos; equipamentos de proteção; endoscopia.

ABSTRACT
ABSTRACT:: Quantitative study with 45 professionals of the endoscopy services in Goiânia, GO, Brazil, in 2007. It
aimed at verifying the adherence of professionals to the use of personal protective equipment during the procedure of
endoscopy and the reprocessing of the endoscope. Data were obtained through observation, on a check-list basis, and
were analyzed through descriptive statistics. Results show that procedure gloves, cloth aprons, and closed shoes had
greater adherence by professionals during the procedure of endoscopy and the cleaning and disinfection of the
endoscope. However, protective glasses, chemical masks, and impermeable aprons had low adherence rates.
Conclusions show that professionals are exposed to both biological as chemical risk due to inadequate use of the
personal protective equipment. Permanent education is necessary to ensure the development of cognitive, psychomotor,
and attitudinal skills to overcome obstacles to abiding by standard precautions.
Keywords: Occupational risks; exposure to biological agents; protective devices; endoscopy.

RESUMEN
RESUMEN: Estudio quantitativo con 45 profesionales de los servicios de endoscopía en la ciudad de Goiânia, GO,
Brasil, en 2007, con el objetivo de verificar la adhesión de los profesionales al uso del equipamiento de protección
individual durante el examen de endoscopia y el reprocesamiento de los endoscopios. Los datos fueron obtenidos por
medio de observación, utilizando un check-list y analizados por medio de estadística descriptiva. Los resultados revelaron
que los guantes de procedimiento, guardapolvo de tejido y zapatos cerrados tuvieron mayor adhesión por parte de los
profesionales durante los exámenes de endoscopia, limpieza y desinfección del endoscopio. Sin embargo, las gafas
protectoras, máscara química y guardapolvo impermeable tuvieron bajos índices. Se concluye que los profesionales
están expuestos a los riesgos químicos y biológicos debido a la utilización indevida de los equipamientos de protección
individual, siendo necesaria una educación permanente, buscando desarrollar competencias cognitivas, psicomotoras
y de actitud para superar los obstáculos a la adhesión a las precauciones estándares.
Palabras Clave: Riesgos laborales; exposición a agentes biológicos; equipos de seguridad; endoscopia.

I
Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Professora Assistente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Goiânia, Goiás, Brasil. E-mail:
nynne_cunha@yahoo.com.br.
II
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Associada da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Goiânia, Goiás, Brasil. E-mail:
adeniciafen@gmail.com.
III
Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Enfermeira da Secretaria Municipal de Saúde do município de Goiânia. Goiânia, Goiás, Brasil. E-mail:
jackelinemaciel@uol.com.br.
IV
Acadêmica do curso de Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Goiânia, Goiás, Brasil. E-mail: luaufg@yahoo.com.br..
V
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunto da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Goiânia, Goiás, Brasil. E-mail:
anaclara.fen@gmail.com.
VI
Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Goiânia, Goiás, Brasil.
E-mail: sergianebisinoto@yahoo.com.br.
VII
Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Professora Assistente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Goiânia, Goiás, Brasil. E-mail:
Karina@fen.ufg.br.

Recebido em: 19.08.2009 – Aprovado em: 20.12.2009 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2010 jan/mar; 18(1):61-66. • p.61
O uso de EPI em endoscopia Artigo de Pesquisa
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INTRODUÇÃO nhecer a universalidade do risco e a necessidade de


adoção de medidas preventivas no atendimento a
Os profissionais da área da saúde estão constan- todo e qualquer paciente, independente do diagnós-
temente expostos ao risco de adquirir infecções trans- tico. Elas incluíam o uso de barreiras para a proteção
mitidas por patógenos veiculados por sangue e líqui- do profissional como o avental, luvas, óculos, com
dos corpóreos durante o desenvolvimento de suas grande ênfase para a lavagem de mãos e cuidado com
atividades ocupacionais1,2, especialmente nas unida- material perfurocortante.
des de endoscopia3, devido ao caráter dos procedi- Em 1996, após revisão, tais precauções foram
mentos ali realizados. reeditadas como PP4, sintetizando a maioria das PU e das
Quando se discute controle de infecção na uni- precauções com fluidos orgânicos. Tal norma amplia os
dade de endoscopia, a atenção é focada no cuidados não apenas para o sangue, mas também para
reprocessamento dos endoscópios para a prevenção de todas as secreções orgânicas, com exceção de lágrimas e
transmissão de patógenos de paciente para paciente3. suor. Inclui também apropriada higienização das mãos e
Contudo, a proteção e segurança dos profissionais, na precauções do tipo barreira, com o uso de luvas para o
maioria de enfermagem e medicina, que executam es- manuseio de todos os fluidos orgânicos, entre outros.
Devido à experiência bem sucedida das PP, as diretrizes do
ses procedimentos são subestimados expondo esses
novo guideline dos CDC5 vêm reafirmá-las.
profissionais a maior risco. Garantir essa segurança é
de fundamental importância para os trabalhadores e As PP incluem o uso de EPI para a proteção cole-
para as unidades empregadoras. tiva, em especial a do profissional da saúde, e recomen-
dam o seu uso sempre que houver possibilidade de ex-
Além do risco biológico, esses profissionais tam- posição a material biológico ou contato com agentes
bém estão expostos ao risco químico durante o ma- infecciosos5.
nuseio do glutaraldeído, porém neste estudo o foco é Os equipamentos de proteção visam a interrup-
direcionado para o risco biológico. ção da cadeia de transmissão dos microrganismos4,
As recomendações das precauções padrão (PP), incluem o uso de luvas, avental, óculos protetores,
desde que incluíram os conceitos das precauções uni- protetor facial, máscaras e respiradores para proteção
versais (PU), têm sido aplicadas há mais de 15 anos. de membranas mucosas, vias respiratórias, pele e rou-
Essa prevenção primária das exposições ocupacionais pas dos profissionais5.
continua a ser eficaz e eficiente na proteção dos traba- Os profissionais que trabalham em ambiente de
lhadores da saúde, no entanto, verificamos que a ade- endoscopia estão em constante risco de exposição a
são a essas medidas é, por vezes, descontínua e contra- microrganismos infecciosos, tais como o Mycobacterium
ditória e leva à potencialização dos riscos e aumento tuberculosis, Vírus da hepatite B (HBV) e C (HCV),
substancial de exposições ao material biológico. Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), herpes sim-
Na prática, observa-se que os trabalhadores da ples e patógenos entéricos8.
área da saúde não estão devidamente paramentados Estudos têm demonstrado que mais de 60 agentes
durante o manuseio dos artigos endoscópicos, expon- podem ser transmitidos por meio da exposição
do-se de forma indireta ou diretamente ao material percutânea através do sangue, sendo a principal via de
biológico (sangue, secreções e excreções) de pacien- transmissão dos vírus das hepatites B e C, e o HIV4,9.
tes durante o exame de endoscopia. Há vários artigos
É imprescindível que esses profissionais com-
que abordam o tema da utilização de equipamento de
preendam esse risco e observem as PP, independente
proteção individual (EPI) pelos profissionais da área
do estado presumível de infecção do paciente5, pois o
da saúde4-7, mas há poucos estudos que observam essa
conduta em profissionais do serviço de endoscopia8. estado infeccioso nem sempre é conhecido durante o
atendimento8.
Considerando o exposto, este estudo teve como
objetivo verificar a adesão dos profissionais que atu-
am em serviços de endoscopia do município de METODOLOGIA
Goiânia ao uso do equipamento de proteção indivi-
dual na realização do exame de endoscopia e no Estudo quantitativo, transversal, descritivo re-
reprocessamento dos artigos endoscópicos. alizado junto aos trabalhadores dos serviços de
endoscopia no Município de Goiânia-GO, no perío-
do de junho a agosto de 2007.
REFERENCIAL TEÓRICO
Identificou-se 62 estabelecimentos de saúde que
Em 1987, na tentativa de diminuir o risco de realizavam endoscopia digestiva alta (EDA), dos quais
transmissão ocupacional de patógenos veiculados 20 consentiram em participar do estudo, sendo 16 pri-
pelo sangue, os Centers for Disease Control and vados e 4 públicos. Observou-se os aspectos ético-le-
Prevention (CDC) publicaram as recomendações so- gais de pesquisa em seres humanos e o projeto foi apro-
bre as PU4. Essas precauções se destacavam por reco- vado pelo Comitê de Ética de Pesquisa Humana do

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Hospital Materno-Infantil, sob protocolo no 001/07. TABELA 1: Distribuição dos profissionais da unidade
endoscópica segundo os procedimentos realizados. Goiânia,
Após autorização dos responsáveis pelas unidades 2007. (N=45)
endoscópicas, teve início o trabalho de campo.
Pré-
Os dados foram obtidos mediante a observação Exame lavagem Limpeza Desinfecção
Exame
Profissional
direta da realização do procedimento endoscópico e do f % f % f % f %
reprocessamento dos artigos e registrados em um check- Profissionais
list. O instrumento foi construído conforme as normas de medicina 21 46,6 7 50 7 31,8 6 27,2
de uso de EPI preconizadas pelos CDC4,5 e validado por Profissionais
três pesquisadores da área de controle de infecção. de enfermagem 22 48,8 7 50 15 68,1 16 72,7
A observação foi realizada em quatro momen- Outros 2 4,4 - - - - - -
tos: durante o exame, durante a pré-lavagem do Total 45 100 14 100 22 100 22 100
endoscópio, durante a limpeza e durante a desinfec-
ção do endoscópio, sendo três exames de endoscopia
e reprocessamento dos endoscópios em cada serviço, e outros fluidos corpóreos. O EPI é um dos métodos de
totalizando 60 procedimentos observados. barreiras mais eficientes para minimizar a exposição
Foram incluídos no estudo todos os profissio- potencial a materiais e agentes infectantes, proporcio-
nais que atuavam no serviço, presentes no dia da co- nando proteção para ambos, profissional e paciente6.
leta de dados e participantes da assistência durante o As luvas de procedimentos, avental de tecido e
exame de endoscopia e do reprocessamento do sapatos fechados, 97,7%, 86,6% e 75,5% respectiva-
endoscópio. Após os esclarecimentos da pesquisa, eles mente, obtiveram maior adesão pelos profissionais
foram convidados a participar, e os que aceitaram fo- durante a realização do exame de endoscopia, con-
ram incluídos no estudo após a assinatura do Termo forme Tabela 2. Os dados encontrados possuem coe-
de Consentimento Livre e Esclarecido. rência com o estudo de Souza et al.10, nos quais luvas
Os dados oriundos da coleta foram processados e avental foram os EPI mais utilizados. Em outro es-
no programa Epi-Info versão 3.3(2004), dispostos em tudo identificou-se que mais da metade - 57,6% - dos
tabelas e analisados por meio de estatística descritiva. profissionais utilizaram as luvas em todos os procedi-
mentos, 22,9% usaram máscara e somente 3,7%, os
óculos protetores11.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
É recomendado o uso do avental para os profis-
Observou-se 60 procedimentos em 20 serviços sionais da unidade de endoscopia para prevenir con-
de endoscopia, nos quais 45 profissionais participa- taminação resultante de respingos de sangue ou ou-
ram da amostra, sendo 22(48,8%) profissionais de tros fluidos corporais, e sua frequência de troca é a
enfermagem (técnico e auxiliar de enfermagem), cada paciente8. A literatura evidencia que uma pe-
21(46,6%) médicos e 2(4,4%) recepcionistas. quena redução na transmissão de MRSA é atribuída
Verificou-se a predominância dos profissionais ao aumento do uso do avental12.
da área de enfermagem quanto ao manuseio do Apesar de 75,5% usarem os sapatos fechados, ain-
endoscópio durante a limpeza e desinfecção, confor- da há os que não os utilizam, sendo que um profissional
me Tabela 1. Esses profissionais estão mais susceptí- fez uso do propé sobre a sandália, ficando exposto ao
veis tanto ao risco biológico predominante na limpeza risco biológico. A Norma Regulamentadora no 32/2005,
do endoscópio quanto ao risco químico devido ao ma- do Ministério do Trabalho, inclui o calçado fechado
nuseio do glutaraldeído, sendo importante salientar o como EPI obrigatório para os profissionais da área da
uso correto dos equipamentos de segurança. saúde com a finalidade de eliminar risco de exposição a
Vale a pena destacar o fato de que em dois servi- material biológico13. A Occupational Safety and Health
ços a função de auxiliar o médico durante o exame de Act14 (OSHA) e a Norma Regulamentadora no 32 esta-
endoscopia foi exercida por recepcionistas. Ressalta-
se que neste caso, apesar de não serem da área da saú- TABELA 2: Distribuição dos profissionais da unidade
de, também estão expostas aos riscos. Destaca-se que endoscópica segundo o EPI utilizado no exame. Goiânia,
o exercício ilegal da profissão, aliado ao desconheci- 2007. (N=45).
mento da cadeia epidemiológica das infecções e a Tipo de EPI F %
pouca consciência sobre as possibilidades dos riscos
Luvas de Procedimentos 44 97,7
pode tornar a exposição ocupacional ainda maior. Avental de Tecido 39 86,6
Sapatos Fechados 34 75,5
Exame de Endoscopia Máscara Descartável 17 37,7
Os profissionais envolvidos nesse contexto de- Gorro 9 20
vem rotineiramente utilizar métodos de barreiras apro- Óculos protetores 2 4,4
priados para a prevenção de contaminação pelo sangue Outros 3 6,6

Recebido em: 19.08.2009 – Aprovado em: 20.12.2009 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2010 jan/mar; 18(1):61-66. • p.63
O uso de EPI em endoscopia Artigo de Pesquisa
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belecem que os empregadores forneçam todos os equi- Reprocessamento do Endoscópio


pamentos de proteção e que eles instruam os emprega-
A pré-lavagem do endoscópio logo após a sua
dos em relação ao uso, bem como a fiscalização do uso
utilização foi realizada por 14 profissionais, sendo a
desses equipamentos de proteção.
metade por médicos e a outra pela equipe de enfer-
Outro dado relevante deste estudo é a baixa ade- magem. Apenas 13 das 20 unidades visitadas realiza-
são aos óculos protetores (4,4%). Eles devem ser usados ram a pré-lavagem do endoscópio.
sempre que houver a possibilidade de respingos de ma- A pré-lavagem com água é importante para remo-
terial biológico durante a realização de um procedimen- ção parcial dos resíduos biológicos, evitando assim o seu
to4,5. Esses dados corroboram outros estudos7,15 que mos- ressecamento em locais de difícil acesso, facilitando a
traram uma baixa adesão dos profissionais ao uso de etapa subsequente que é a da limpeza18. É o momento
óculos protetores, variando de 2% a 78%. em que o profissional fica mais exposto ao risco biológi-
Durante o exame de endoscopia, o paciente pode co (sangue e fluidos corporais), estando propício a uma
apresentar náuseas, tosse e vômitos. Alguns apresen- maior carga microbiana devido à possibilidade de con-
tam complicações como hemorragia digestiva, bem tato por meio de respingos ou aerossóis em mucosas dos
como infecção por monilíase em todo o trato olhos e boca e pele da face, pé e em outras partes do
gastrointestinal. Assim, são gerados aerossóis, respin- corpo. Dessa forma, é importante salientar o uso ade-
gos, contato direto com potenciais fontes de trans- quado dos equipamentos de segurança.
missão, cabendo ao profissional a conscientização dos Observou-se que, para a pré-lavagem do endos-
riscos e proteção adequada. cópio, as luvas de procedimentos foram utilizadas
Os trabalhadores das unidades de endoscopia de- por todos os profissionais. O avental de tecido
vem compreender esses riscos e serem conscientes de 12(85,7%) e sapatos fechados 11(78,5%) também
que todos os pacientes devem ser considerados um risco obtiveram uma boa adesão.
em potencial8; e diante disso, avental, luvas, máscara e É preocupante o fato de apenas metade dos pro-
óculos protetores devem ser utilizados antecipadamen- fissionais utilizarem a máscara descartável e nenhum
te em todas as situações em que haja contato com san- profissional utilizar os óculos protetores durante a pré-
gue e outros materiais potencialmente infecciosos16.
lavagem do aparelho. Sempre que houver possibilida-
A transmissão de patógenos de pacientes para de de respingos e/ou aerossóis de sangue e fluidos
profissionais e os potenciais modos de transmissão corpóreos esses equipamentos devem ser utilizados4.
incluem injúrias percutâneas, respingos de sangue na
Em relação à limpeza do endoscópio, todas as
conjuntiva, inalação de microrganismos e transfe-
unidades a realizaram, sendo que foi feita por médi-
rência direta devido ao manuseio dos pacientes. O
cos em 7(31,8%) serviços e pela equipe de enferma-
apropriado uso do EPI pode minimizar consideravel-
gem em 13(68,2%).
mente esses riscos16.
Em um serviço de endoscopia não foi realizada
Além do uso do EPI, o manuseio e a frequência
de troca são de extrema relevância para que este equi- nenhuma forma de limpeza do endoscópio antes dele
pamento continue com sua função protetora, tanto ser colocado na solução do glutaraldeído. A limpeza
para o profissional quanto para o paciente. foi realizada após o processo de desinfecção.
Destacou-se o fato de um médico não ter reali- A primeira e a mais importante etapa na preven-
zado a troca das luvas de procedimentos a cada paci- ção de transmissão de patógenos na endoscopia é a
ente. Ele utilizou o mesmo par de luvas durante todo limpeza do endoscópio. Ela minimiza as chances de
o período, tanto no atendimento quanto na limpeza formação de biofilmes nos canais dos endoscópios e
e desinfecção do aparelho. Evidenciou-se também a deve ser realizada imediatamente após o uso do artigo
lavagem das mãos enluvadas no intervalo entre o para prevenir o ressecamento das secreções, permitin-
atendimento dos pacientes. Nesse caso, além da ex- do uma melhor remoção da matéria orgânica e dimi-
posição coletiva com o cruzamento de contaminação nuição do número de patógenos microbianos16.
de um paciente a outro, há também a exposição do É importante salientar que a maioria das unidades
profissional, por usar uma luva que com certeza já observadas possuía apenas uma sala de exame, local onde
aumentou em muito o número de furos, conferindo- também realizavam o reprocessamento. Nesse caso o
lhe uma falsa proteção. reprocessamento pode ser realizado no mesmo am-
A recomendação é realizar a troca de luvas a cada biente19. Contudo, as pias não possuíam formatos ade-
paciente/procedimento. Imediatamente após o uso, as quados para a realização da limpeza, gerando assim, um
luvas devem ser retiradas, descartadas e em seguida pro- maior número de respingos e formação de aerossóis.
ceder à higienização das mãos que em nenhuma hipóte- Apesar de 22 profissionais utilizarem luvas para
se deve ser negligenciada entre os contatos, e da mesma a realização da limpeza do endoscópio, apenas
forma não é admitida a lavagem das luvas4,5,17. 3(13,6%) utilizaram luvas de borracha, conforme

p.64 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2010 jan/mar; 18(1):61-66. Recebido em: 19.08.2009 – Aprovado em: 20.12.2009
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mostra a Tabela 3, como recomendado para este pro- seus locais de trabalho e são regulamentados pela NR
cedimento20. Os demais 19(86,3%) profissionais uti- 32/2005, do Ministério do Trabalho e Emprego13.
lizaram luvas de procedimentos. Essas luvas não são Verificou-se que 18(81,8%) dos profissionais
recomendadas para realizar a limpeza8, pois, além de utilizaram as luvas de procedimentos durante o ma-
serem muita finas, possuem um cano curto, expondo nuseio do glutaraldeído, Tabela 3. O uso de luvas de
o trabalhador a um risco maior. látex não é adequado devido à absorção do produto
pelas mesmas, expondo o profissional. O ideal são as
TABELA 3: Distribuição dos profissionais da unidade de luvas de borracha ou de polietileno20 sendo que ape-
endoscopia segundo o EPI utilizado na limpeza e desinfecção. nas 4(18,1%) profissionais as utilizaram.
Goiânia, 2007. (N=22).
Durante a desinfecção, 9(40,9%) faziam uso de
Durante a Durante a máscaras descartáveis, que não oferecem proteção
Tipo de EPI limpeza desinfecção contra vapores químicos20. Salienta-se ainda que em
f % f % todas as unidades de endoscopia não havia sistema
Avental de tecido 19 86,3 20 90,9 de ventilação, que, somado ao ambiente pequeno e
Luvas de procedimentos 19 86,3 18 81,8 fechado, aumentam ainda mais o risco químico a que
Sapatos fechados 16 72,7 16 72,7 estes trabalhadores estão expostos.
Gorro 9 40,9 10 45,4 Apenas 5(2,27%) profissionais faziam uso dos
Máscara descartável 11 50 9 40,9 óculos protetores durante a etapa de desinfecção do
Óculos protetores 4 18,1 5 22,7
endoscópio. Esse dado corrobora um estudo22, no
Máscara química 1 4,5 4 18,1
Luvas de borracha 3 13,6 4 18,1
qual somente 15% dos profissionais utilizavam esse
Outros 2 9 3 13,5 equipamento.
Os dados desta pesquisa mostram o quanto estes
profissionais estão expostos aos riscos biológicos e quí-
Destacou-se que apenas 4(18,1%) profissionais micos não utilizando adequadamente os EPI recomen-
utilizaram os óculos protetores, sendo estes da área da dados para a realização das atividades nos serviços de
enfermagem. Nenhum dos médicos observados utilizou endoscopia digestiva alta. Os profissionais estão ne-
óculos protetores, avental impermeável e gorro e ape- gligenciando o uso e subestimando o risco, evidenci-
nas três utilizaram a máscara descartável. Percebeu-se ando a vulnerabilidade no exercício da profissão.
que esses profissionais subestimam o risco, ficando, as- Para que haja ampla proteção tanto para o pro-
sim, expostos e mais propícios à contaminação. fissional quanto para o paciente, os trabalhadores dos
Fica evidente que para esses profissionais há a cren- serviços de endoscopia devem aderir às práticas re-
ça de que o risco está presente apenas quando se tem comendadas para propiciar um trabalho seguro no
contato direto com o paciente, fonte do material biológi- ambiente dessas unidades e seguir as recomendações
co. Contudo, durante o manuseio dos equipamentos e padronizadas para o controle de infecção8.
instrumentais utilizados para o diagnóstico ou terapêuti-
ca, esse risco permanece, uma vez que neles fica retido
material biológico. Por outro lado, há uma cultura da não CONCLUSÃO
utilização dos óculos protetores justificada pelo incômo-
do, pela dificuldade de ajuste e até mesmo pela estética. Com o objetivo de verificar a adesão dos profissio-
Estas justificativas constituem-se em barreiras para a não nais ao uso do EPI na realização do exame de endoscopia
adesão a este equipamento de proteção21. e no reprocessamento dos artigos endoscópicos, o estudo
Observou-se que durante a limpeza o avental evidenciou que, nos serviços pesquisados, houve maior
impermeável não foi utilizado por nenhum profissi- adesão às luvas de procedimentos, avental de tecido e
onal. A não adesão pode ser explicada pelo fato des- sapatos fechados, tanto na realização do exame quanto
ses EPI causar incômodo, calor, ser mais pesado, nem no reprocessamento. A adesão aos óculos protetores foi
sempre estar disponível, questões estéticas e até mes- baixa nas duas situações.
mo o não reconhecimento do avental impermeável Observou-se que os profissionais fazem uso dos
como equipamento de segurança. EPI de forma inadequada. Isso evidencia a falta de co-
No serviço de endoscopia, os profissionais estão nhecimento em relação ao risco e ao EPI indicado para
expostos tanto ao risco biológico quanto ao químico. cada tipo de procedimento. Essa inconsistência de co-
Na etapa da limpeza, a não adesão aos equipamentos nhecimentos, somada às barreiras como ausência de
de segurança expõe os profissionais ao risco biológico, determinados equipamentos, incômodo no uso e o
enquanto durante a desinfecção, o risco químico é evi- comportamento encontrados no cotidiano dos servi-
denciado pelo manuseio do glutaraldeído. ços de endoscopia, tem contribuído para a construção
O uso de EPI é uma das medidas de segurança de um ambiente de trabalho inseguro, revelando a
preconizadas para os profissionais da área da saúde em vulnerabilidade no exercício da profissão.

Recebido em: 19.08.2009 – Aprovado em: 20.12.2009 Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2010 jan/mar; 18(1):61-66. • p.65
O uso de EPI em endoscopia Artigo de Pesquisa
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E para que esses profissionais possam transfor- cases. Am J Infect Control. 2006; 34(6):367-75.
mar a realidade da prática do uso dos EPI é impres- 10.Souza ACS, Neves HCC, Tipple AFV, Santos SLV, Sil-
cindível a superação das barreiras existentes e o esta- va CF, Barreto RAS. Conhecimento dos graduandos de
belecimento de estratégias educativas que promovam enfermagem sobre equipamentos de proteção individual: a
a conscientização acerca dos riscos e desenvolva com- contribuição das instituições formadoras. Rev Eletr Enf.
[Online] 2008 [citado em 17 nov 2008]. 10(2):428-37.
petências cognitivas, psicomotoras e atitudinais para
Disponível em: http://www.fen.ufg.br/revista/v10/n2/pdf/
a adesão aos equipamentos de segurança. v10n2a14.pdf.
Nesse aspecto, os serviços de endoscopia e seus 11.Jovic-Vranes A, Jankovic S, Vranes B. Safety practice
profissionais devem compartilhar responsabilidades. and Professional exposure to blood and blood-containing
Cabe aos serviços oferecerem estrutura e condições materials in Serbian health care workers. J Occup Health.
adequadas para os diversos aspectos de segurança no 2006; 48(5):377-82.
ambiente de trabalho — enquanto os profissionais 12.Grant J, Ramman-Haddad L, Deiidukuri N, Libman
devem assumir compromisso ético com a qualidade Ml. The role of gowns in preventing nosocomial
transmission of methicillin-resistant Staphylococcus aureus
assistencial, estarem cientes e reconhecerem os ris-
(MRSA): gown use in MRSA control. Infect Control Hosp
cos presentes no ambiente de trabalho. Epidemiol. 2006; 27(2):191-4.
13.Ministério do Trabalho e Emprego (Br). Portaria no 485,
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