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TIPOLOGIAS TEXTUAIS

NARRATIVA SIMPLES E NARRATIVA VALORADA.

No Direito, é de grande relevância o que se denomina tipologia


textual: narração, descrição e dissertação. O que torna essa
questão de natureza textual importante para o direito é a sua
utilização na produção de peças processuais, como a Petição
Inicial, o Parecer, a Sentença, entre outras, podendo cada uma
delas apresentar diferentes estruturas, a um só tempo. Para
melhor compreender essa afirmação, observe o esquema da
Petição Inicial e perceba como essa peça pertence a um
gênero híbrido do discurso jurídico, o que exige do profissional
do direito o domínio pleno desses tipos textuais.
A PRESENÇA DA NARRAÇÃO NO DISCURSO JURÍDICO: NARRATIVA SIMPLES
E NARRATIVA VALORADA

Como se percebe pelo esquema anterior, as peças processuais têm um


denominador comum: precisam, em primeiro lugar, narrar os fatos importantes
do caso concreto, tendo em vista que o reconhecimento de um direito passa
pela análise do fato gerador do conflito. Ainda assim, vale dizer que essa
narrativa será imparcial ou parcial, podendo ser tratada como simples ou
valorada, a depender da peça que se pretende redigir.
Pode-se entender, portanto, que valorizar ou não palavras e expressões
merece atenção acurada, pois poderá influenciar na compreensão e
persuasão do auditório. Essa valoração das informações depende dos
mecanismos de controle social que influenciam na compreensão do fato
jurídico. São diferentes os objetivos de cada operador do direito; sendo assim,
o representante de uma parte envolvida não poderá narrar os fatos de um
caso concreto sob o mesmo ponto de vista da parte contrária. Por conta disso,
não se poderia dizer que todas as narrativas presentes no discurso jurídico são
idênticas no formato e objetivo, visto que depende da intencionalidade de cada
um.
O que é uma petição?

A petição é o meio pelo qual se pleiteia direitos


perante a Justiça. É o instrumento utilizado pelo
advogado para obter uma decisão judicial que
satisfaça o interesse de seus clientes. Após a
entrega da petição ao órgão competente, caberá ao
juiz pronunciar sua decisão. Para tanto, é necessário
que a petição possua certos fatores capazes de
provocar a reação jurisdicional, como a descrição
dos fatos, os fundamentos legais nos quais se
baseia a pretensão e o pedido, ou seja, aquilo que
se espera da Justiça.
O que é um parecer?
Parecer Jurídico é um documento por meio do
qual o jurista (advogado, consultor
jurídico)fornece informações técnicas acerca de
determinado tema, com opiniões jurídicas
fundamentadas em bases legais, doutrinárias e
jurisprudenciais.
Geralmente é solicitado por uma pessoa jurídica
ou física como elemento necessário para tomada
de uma decisão importante.
Parecer Jurídico
DIREITO CIVIL - ALIMENTOS - MARIDO QUE ABANDONA O LAR PARA VIVER EM CONCUBINATO IMPURO COM OUTRA MULHER - DEVER
DE PRESTAR ALIMENTOS À ESPOSA E FILHOS MENORES OU DEPENDENTES. É dever basilar do casamento a responsabilidade dos
cônjuges em prestar assistência recíproca, inclusive material (NCC, 1.566, III). O marido que abandona seu lar para aventurar-se
em concubinato enquanto ainda pendente o vínculo matrimonial, não só tem o dever de prestar alimentos à esposa e filhos
menores (ou dependentes), como também incorre em práticas delituosas capituladas pelos arts. 240 e 247 do Código Penal
Brasileiro.
I - RELATÓRIO:

A consulente nos relata que em 13.01.1968 contraiu matrimônio com o Sr. P.M.S., união da qual provieram os filhos T.S., D.S e
E.O.S.

Todos os filhos são maiores de 18 anos, sendo que o último vive na companhia e dependência dos pais (faz faculdade e não
trabalha).

Afirma que sempre viveram com grande conforto material, e que nunca precisou trabalhar fora, já que seu marido é médico de
renome, proprietário de diversas clínicas e consultórios médicos.

Ocorre que, segundo informa, o varão abandonou o lar em julho de 2002, para viver em concubinato impuro com outra mulher,
deixando a consulente e o filho E.O.S. sem qualquer amparo material.

Informa ter ingressado com ação judicial buscando alimentos com base na Lei 5.478/68, na qual obteve liminar positiva que fixou
os alimentos provisórios em 10 (dez) salários para si e 5 (cinco) para o filho dependente.

Recorrendo da decisão, o marido não conseguiu suspender os efeitos da medida, mas sustenta que a falta de ajuizamento da
competente ação de separação judicial no trintídio legal prejudicaria o vigor da ação de alimentos, dela dependente.

Na ação de origem foi designada audiência de conciliação, instrução e julgamento, prevista para julho deste ano.

Temendo pela revogação da ordem e procedência da tese advogada pelo marido, quer saber se realmente precisaria ter deflagrado
ação de separação judicial no trintídio legal e se os alimentos estipulados correm o risco de serem "cassados".
TEXTO
EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ........ VARA DE ......... DE........... — SP
MARIANO DA SILVA, brasileiro, divorciado, operário, portador da carteira de
identidade nº 12345678-9 e inscrito no CPF sob o nº 012345678-90,
residente e domiciliado na Rua das Flores, nº 01, Vila Mariana, SP, CEP:
22031-015, por meio de seu advogado, domiciliado na Rua das Marrecas nº
02, Centro, SP, CEP: 22364-894, vem propor a presente Ação de alimentos em
face de MARIANO DA SILVA JÚNIOR, aqui requerido alimentante, brasileiro,
solteiro, maior, bancário, domiciliado na Rua Vinte de Setembro, Centro - SP,
CEP: 22364-297, pelos seguintes fatos que passa a expor:
Dos fatos
O alimentado teve, para seu júbilo e regozijo, o nascimento de seu filho, em 22
de abril de 1983, contando, atualmente, com 25 (vinte e cinco) anos de vida
(doc. em anexo).
Os genitores do alimentante permaneceram por quase 22 anos formando uma
família feliz, tendo a ele dispensado todos os desvelos e carinho de que um
filho é merecedor, até fins de 2005, quando o alimentante já contava com
mais de 20 (vinte) anos de bela, serena e pacata convivência com o
alimentado, no seio familiar. Vale mencionar que o alimentado se separou e
constituiu nova família; desde então, vem passando prementes necessidades,
razão pela qual pede alimentos, porque, em desditosa data de 08 de janeiro
de 2006, sofreu acidente de trânsito, com traumatismo craniano, ocorrendo,
daí, terríveis sequelas
de epilepsia pós-traumática, com parte de quase todo o
corpo comprometido, conforme se comprova em todos os
documentos anexados; ficou, assim, impossibilitado de
trabalhar e tentou junto ao INSS alcançar, sem sucesso, o
benefício previdenciário de que tanto necessita. Está, pois,
sem qualquer assistência legal ou financeira. Em síntese,
a situação do alimentado é hoje deveras deplorável,haja
vista que carece de forma premente da ajuda de amigos e
familiares,visto que seus ganhos se reduziram a zero, pois
não pode trabalhar devido à sua doença, e o INSS resiste
ao seu pedido de ajuda.
O autor vive, constantemente, a ingerir medicamentos de
alto custo;caso contrário, seu estado poderá levá-lo ao
óbito, não tendo, assim, como suportá-lo.
Ressalta-se, inclusive, que o alimentado não é mais
pessoa jovem, mas sim doente, necessitando
constantemente de cuidados médico e farmacêutico. Para
supri-los, vive de Posto a Posto de Saúde,Prefeituras,
Prontuário hospitalar, Pronto Socorro etc. a mendigar a
gratuidade dos medicamentos necessários à sua
mantença em vida; recorre a vizinhos, parentes e amigos
que amiúde o socorrem. Hoje, vive na esperança de
quaisquer benéficos acontecimentos que possam mudar
os rumos de seu destino.
Outrossim, a carência, verdadeira indigência de recursos
do alimentado,contraposta à franca disponibilidade
financeira do alimentante, obriga o último, como filho, a
pensionar o genitor, cotejado e provado, para tanto, de
forma inquestionável, o liame de parentesco que os une,
em linha reta (primeiro grau), na relação descendente
ascendente, bem como o binômio
necessidade/possibilidade.
OBJETIVIDADE E SUBJETIVIDADE NA NARRATIVA DO TEXTO
JURÍDICO.

Num relato pessoal, interessa ao narrador não apenas contar


os fatos, mas justificá-los. No mundo jurídico, entretanto,
muitas vezes, é preciso narrar os fatos de forma objetiva, sem
justificá-los. Ao redigir um parecer, por exemplo, o narrador
deve relatar os fatos de forma objetiva antes de apresentar a
sua opinião técnico-jurídica na fundamentação.
Antes de iniciar seu relato, o narrador deve selecionar o que
narrar,
pois é necessário garantir a relevância do que é narrado. Logo,
o
primeiro passo para a elaboração de uma boa narrativa é
selecionar
os fatos a serem relatados.

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