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Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais

PJe - Processo Judicial Eletrônico

09/02/2024

Número: 5011688-22.2024.8.13.0024
Classe: [CIVEL] RECONHECIMENTO E EXTINÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL
Órgão julgador: 8ª Vara de Família da Comarca de Belo Horizonte
Última distribuição : 17/01/2024
Valor da causa: R$ 41.623,09
Assuntos: Alimentos, Fixação, Dissolução, Guarda, Regulamentação de Visitas
Segredo de justiça? SIM
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Advogados
M. R. D. C. (REQUERENTE)
SILVANA CORDEIRO DE FREITAS (ADVOGADO)
LUIZA ROMERO ALMEIDA (REQUERENTE)
SILVANA CORDEIRO DE FREITAS (ADVOGADO)
FREDERICO HEBERT PEREIRA DE CARVALHO
(REQUERIDO(A))
SANDRA SPINDOLA LISBOA (ADVOGADO)
FRANCIO TULIO DA SILVA LEITE (ADVOGADO)

Outros participantes
Ministério Público - MPMG (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Assinatura Documento Tipo
10151991340 19/01/2024 10:26 Decisão Intimação
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Justiça de Primeira Instância

Comarca de Belo Horizonte / 8ª Vara de Família da Comarca de Belo Horizonte

AVENIDA AUGUSTO DE LIMA, 1234, 14º pvto, BARRO PRETO, Belo Horizonte - MG - CEP:
30190-003

PROCESSO Nº: 5011688-22.2024.8.13.0024

CLASSE: [CIVEL] RECONHECIMENTO E EXTINÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL (12763)

ASSUNTO: [Alimentos, Fixação, Dissolução, Guarda, Regulamentação de Visitas]

REQUERENTE: M. R. D. C. e outros

REQUERIDO(A): FREDERICO HEBERT PEREIRA DE CARVALHO

DECISÃO

Vistos..

Trata-se de “AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL COM


DIVISÃO DE BENS CUMULADO COM ALIMENTOS, GUARDA E VISITAS DE
FILHA MENOR” proposta por LUIZA ROMERO ALMEIDA, por si e representando a
menor MANUELLA ROMERO DE CARVALHO, em face de FREDERICO HEBERT
PEREIRA DE CARVALHO, já qualificados, por meio da qual requereu, em sede de
tutela de urgência, a fixação de alimentos a favor da menor no valor equivalente a
40% dos rendimentos líquidos do genitor, ora requerido.

A inicial, ID n. 10151206716, veio instruída com procuração e demais


documentos.

Número do documento: 24011910260306900010148068809


https://pje.tjmg.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=24011910260306900010148068809
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Os autos vieram-me conclusos para decisão.

Eis o relatório, em síntese.

1. Conforme vaticina o art. 227, da Constituição da República, os


alimentos prestados aos filhos, ainda mais quando menores, afiguram-se como um
dever da família e, por óbvio, dos pais, e têm por funcionalidade a satisfação das
necessidades do beneficiário, como alimentação, educação, moradia, vestuário,
cultura, lazer, assistência médica, entre outros, vislumbrando assegurar-lhe, em
última análise, uma vida digna (art. 1, III, da CR/88).

Confira-se:

“Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”

Sobre o assunto, lecionam Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald:

“(...) em uma concepção jurídica alimentos podem ser conceituados


como tudo o que se afigurar necessário para a manutenção de uma pessoa
humana, compreendidos os mais diferentes valores necessários para uma
vida digna. Por óbvio, incluem nos alimentos tanto as despesas
ordinárias, como os gastos com alimentação, habitação, assistência
médica, vestuário, educação, cultura, lazer, quanto as despesas
extraordinárias, envolvendo, por exemplo, gastos em farmácias, vestuário
escolar, provisão de livros educativos. Somente não estão alcançados os
gastos supérfluos ou luxuosos e aqueloutros decorrentes de vícios
pessoais. (FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson – Curso
de Direito Civil: Famílias – 11. ed. rev. e atual. – Ed. JusPodivm, 2019,
p. 737).

Número do documento: 24011910260306900010148068809


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Na mesma linha intelectiva, o Código Civil de 2002 predica ser um
dever dos pais o sustento dos filhos (poder familiar), e, ainda, estabelece diretrizes
para uma escorreita fixação da obrigação alimentar, senão veja-se:

“Art. 1.630. Os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto


menores.

Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua


situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que
consiste em, quanto aos filhos: (Redação dada pela Lei nº 13.058,
de 2014)

I - dirigir-lhes a criação e a educação; (Redação dada pela Lei nº


13.058, de 2014)

"Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros


pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver
de modo compatível com a sua condição social, inclusive para
atender às necessidades de sua educação.

§ 1º Os alimentos devem ser fixados na proporção das


necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.”

“Art. 1.695 - São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem
bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença,
e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do
necessário ao seu sustento.”

“Art. 1.703. Para a manutenção dos filhos, os cônjuges separados


judicialmente contribuirão na proporção de seus recursos."”

De uma análise conjunta de tais dispositivos (constitucionais e


infraconstitucionais), tem-se que o arbitramento dos alimentos exige um percuciente
exame da necessidade de quem os recebe, em conformidade com a capacidade

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contributiva de quem os supre, sob crivo da proporcionalidade, levando-se em conta,
ainda, a responsabilidade recíproca dos pais, porquanto estes devem contribuir na
proporção de seus recursos para a manutenção dos filhos.

Feitas essas considerações iniciais, e comprovada a paternidade do


requerido, ID n. 10151213944, passo à fixação dos alimentos em favor da filha
menor.

No caso, evidenciada a menoridade da alimentanda (4 anos), tenho


que a necessidade é presumida, posto que é inerente à sua faixa etária e independe
de demonstração nos autos, a exemplo de gastos com alimentação, habitação, lazer,
saúde, educação, vestuários, dentre outros.

De todo o modo, a par das digressões concernentes à necessidade,


que é presumida, a fixação dos alimentos, como dito, deve ser proporcional também
à capacidade de quem os supre, pois o arbitramento de pensão em valor que não
condiz com a real e atual capacidade contributiva do alimentante, decerto,
reverberará em inadimplemento e inexequibilidade de tal verba, prejudicando, em
última análise, o próprio beneficiário dos alimentos.

Em suas razões iniciais, sustenta a parte autora que o requerido, ora


alimentante, é policial militar e percebe renda mensal em torno de R$ 5.582,64,
conforme histórico de recebimentos em ID n. 10151213593. Sendo assim, a autora
requereu, em suas razões iniciais, alimentos provisórios no importe de 40% dos
rendimentos líquidos do alimentante.

Examinados os autos, em que pesem os argumentos expendidos


pela parte autora, não foram juntados elementos de prova que evidenciam a efetiva
capacidade contributiva do alimentante, mostrando-se prudente, pois, não arbitrar os
alimentos no importe pugnado, ao menos neste momento procedimental, em sede
de um juízo perfunctório e sumário.

Com efeito, em que pese a afirmação da autora de que o genitor


vem contribuindo com a quantia de R$ 1.300,00, inexistem nos autos documentos a

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denotar tais transferências, o que não é impeço para, em um juízo preliminar,
estabelecer o importe de 25% dos rendimentos líquidos do réu.

Por fim, é de bom alvitre consignar o fato de que o dever de sustento


dos filhos deve ser suportado pelos pais conjuntamente. Nesse eito, o que se
dessume dos autos é que a genitora é pessoa em idade economicamente ativa (31
anos) e exerce atividade remunerada.

À inteligência de tais fundamentos, mostra-se adequada,


proporcional e razoável às condições das partes, em observância aos artigos 1.694,
§1º e 1.703, do Código Civil, a fixação de alimentos provisórios em favor de
MANUELLA ROMERO DE CARVALHO em quantia correspondente a 25% dos
rendimentos líquidos do requerido.

Entende-se por renda líquida a remuneração bruta após os


descontos legais (IR e Previdência). Incide, ainda, a obrigação alimentar sobre as
férias e décimo terceiro salário, por se tratar de ganhos não eventuais, incorporados
permanentemente aos rendimentos do genitor.

Registro, oportunamente, tratar-se de arbitramento provisório, eis


que os autos, em verdade, desafiam a integração da parte requerida, o exercício do
contraditório e a oportuna produção de prova, a fim de se perquirir a quantia que
melhor se coaduna à realidade econômico-financeira das partes.

Expeça-se ofício à fonte pagadora do réu para desconto dos


alimentos em folha de pagamento.

2. Intime-se a parte autora para juntar aos autos, no prazo de 15


dias:

a) certidão de nascimento da menor atualizada (máximo 90 dias);

b) certidões de nascimento dos companheiros, atualizadas (máximo


90 dias) e devendo conter as eventuais averbações pertinentes.

c) documentos dos veículos.

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3. À vista dos documentos colacionados nos autos, concedo o benefício da
gratuidade de justiça à parte autora.

4. Intime-se a parte autora para emendar a inicial, no prazo de 15 (quinze)


dias, alterando o valor da causa, que, nos termos do art. 292, III, IV e VI do CPC, o valor da
causa em ações como a presente deve corresponder à soma de 12 (doze) prestações mensais
pedidas pelo autor e, não menos, no que toca aos objetos de partilha, o respectivo valor de
avaliação.

5. Cite-se e intime-se a parte requerida, observadas as disposições do art.


695 e parágrafos, do CPC, para os termos da presente ação e para que compareça à audiência
de conciliação, a ser realizada presencialmente no CEJUSC, na Av. Francisco Sá, 1409, bairro
Gutierrez, mediante reserva do horário no CEMPE,cientificando-a de que, se não comparecer
ou se comparecer e não houver acordo, tem o prazo de 15 dias (a contar da última sessão de
conciliação ou mediação) para oferecer defesa.

Do corpo do mandado de citação, deverá constar que o não


comparecimento injustificado à audiência de conciliação e mediação é considerado
ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até 2% do
valor da causa, nos termos do art. 334, §8º, do CPC.

Publique-se. Intime-se. Cumpra-se.

Belo Horizonte, data da assinatura eletrônica.

Fernanda Baeta Vicente

Juíza de Direito.

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