Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
AGRAVO DE INSTRUMENTO
A teor do que dispõe o art. 995, parágrafo único e art. 1.015, inciso I, ambos do
Código de Processo Civil, para efeito de obter a reforma da referida decisão que
fixou alimentos provisórios em 25% (vinte por cento) do salário mínimo vigente,
incluídas as férias, o terço constitucional, também o 13º salário, deduzindo-se
da base de cálculo apenas as parcelas descontadas compulsoriamente, a
exemplo da contribuição previdenciária e do imposto de renda, pelas razões
anexas, requerendo a Vossa Excelência se digne em recebê-lo e processá-lo.
BREVE SÍNTESE E DA DECISÃO AGRAVADA
Trata-se de Açã o alimentos provisó rios c/c guarda unilateral pleiteando a concessã o de
alimentos provisó rios, requerendo como tutela incidental a guarda unilateral.
Todavia, em sede de cogniçã o sumá ria, no entanto, entendeu o MM. Juiz de Direito, em
decisã o interlocutó ria, que: A guarda do menor ficasse com a genitora de maneira
unilateral, e condenou o genitor XXXXXXX à obrigaçã o de pagar mensalmente ao menor a
quantia de R$440,00 (quatrocentos e quarenta reais).
O que nã o deve prosperar, visto que, a referida decisã o merece reforma, para que seja
corrigido o erro in procedendo, face ao grave prejuízo que a decisã o ora acatada ocasiona ao
Agravante, pois, além de nã o espelhar a realidade dos fatos, gerando verdadeira situaçã o
gravosa ao mesmo, deixou de ser aplicada as disposiçõ es legais pertinentes à matéria,
ferindo as garantias constitucionais, uma vez que ao atribuir uma parte a faculdade de
observar o desenvolvimento do processo, a lei garante a transparência e a segurança da
prestaçã o jurisdicional. Tais princípios encontram-se consolidados no inciso LV, art. 5º da
Constituiçã o Federal.
DOS ALIMENTOS
Para Flavio Tartuce (2020), os alimentos podem ser conceituados como as prestaçõ es
devidas para a satisfaçã o das necessidades pessoais daquele que nã o pode provê-las pelo
trabalho pró prio. [...]O pagamento desses alimentos visa à pacificaçã o social, estando
amparado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade familiar,
ambos de índole constitucional. No plano conceitual e em sentido amplo, os alimentos
devem compreender as necessidades vitais da pessoa, cujo objetivo é a manutençã o da sua
dignidade: a alimentaçã o, a saú de, a moradia, o vestuá rio, o lazer, a educaçã o, entre outros.
Em suma, os alimentos devem ser concebidos dentro da ideia de patrimô nio mínimo.
A lei estabelece sabiamente os parâ metros a serem seguidos para que a prestaçã o de
Alimentos seja firmada, devendo atender ao binô mio Necessidade/Possibilidade, como
passará a demonstrar. O Tribunal de Justiça de Roraima firmou o entendimento que as
necessidades do alimentando e as possibilidades do alimentante compõ em as duas
variá veis na fixaçã o dos alimentos e, também, em sua revisã o. Ou seja, o arbitramento dos
alimentos nã o pode converter-se em gravame insuportá vel ao alimentante nem mesmo em
enriquecimento ilícito do alimentado.
Nas palavras da doutrinadora Maria Berenice Dias:
O fundamento do dever de alimentos se encontra no princípio da solidariedade, ou
seja, a fonte da obrigaçã o alimentar sã o os laços de parentalidade que ligam as pessoas que
constituem uma família, independentemente de seu tipo: casamento, uniã o está vel, famílias
monoparentais, homoafetivas, socioafetivas (eudemonistas), entre outras.(Maria Berenice
Dias, Manual de Direito das Famílias - Ediçã o 2017, e-book, 28. Alimentos)
Ou seja, o direito a alimentos busca preservar o bem maior da vida e assegurar a existência
do indivíduo que depende deste auxílio para sobreviver.
DA NECESSIDADE DO ALIMENTANDO
As necessidades do alimentando ficam perfeitamente demonstradas diante das despesas
fixas mensais inerentes à subsistência do Autor:
Alimentaçã o
R$ 150,00
Vestuá rio
R$ 100,00
Material Escolar
R$ 50,00
Lazer
R$ 50,00
Total
R$ 350,00
As despesas extraordiná rias passam a ser custeadas pelos genitores, na proporçã o de 50%
cada.
DA POSSIBILIDADE FINANCEIRA DO ALIMENTANTE
Diante do critério binô mio necessidade/possibilidade mencionado no tó pico 2.0, é
necessá rio salientar que deve-se atentar nã o somente as necessidades do alimentado, mas
também a possibilidade que o alimentante tem de arcar com esses alimentos.
Desse modo, faz-se necessá rio esclarecer que o Réu XXXXXXXX no momento está
desempregado, tendo a reduçã o da sua capacidade financeira. Para fixar a pensã o, o juiz
decretou que de imediato os alimentos provisó rios seriam de 25% do salá rio mínimo
vigente. Porém, a decisã o incorre em erro, visto que fixa obrigaçã o superior à capacidade
do Alimentante.
Por tais razõ es e diante do desemprego devidamente comprovado através dos documentos
anexos, o requerido nã o pode de forma alguma contribuir, na proporçã o requerida pela
genitora de R$ 440,00 mensais, como também nã o pode arcar com o valor da pensã o
alimentícia fixada de forma permanente neste mesmo montante, o que desde já se
impugna. Contudo, comprometido com o sustento dos seu filho, o agravante requer a
fixaçã o dos alimentos ao menor no valor de R$ 122,00, mensais, correspondente a 10% do
salá rio mínimo vigente, eis que referidos valores estã o dentro das suas atuais condiçõ es
financeiras e dentro das necessidades da criança, sempre observando no caso, o binô mio
necessidade/possibilidade, conforme dispõ e o art. 1694, § 1º do Có digo Civil.
Com base nesse assunto, faz-se necessá rio citar um julgado acerca da minoraçã o dos
alimentos provisó rios:
DIREITO CIVIL. DIREITO DE FAMÍLIA. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃ O DE ALIMENTOS.
BINÔ MIO NECESSIDADE-POSSIBILIDADE. MINORAÇÃ O DOS ALIMENTOS PROVISÓ RIOS
ARBITRADOS. DECISÃ O REFORMADA. 1. O que quantifica a verba alimentar é o binô mio
necessidade-possibilidade, aferido segundo as necessidades do alimentando e
possibilidades do alimentante, nos termos do art. 1.694 do CC. 2. Evidenciado que o
alimentante é estudante estagiá rio e aufere mesada mó dica paga pelos pais e nã o tendo o
alimentando comprovado de plano que o pai tem padrã o de vida elevado, impõ e-se a
reduçã o dos alimentos provisó rios arbitrados. 3. Agravo de Instrumento conhecido e
provido. Unâ nime.
(TJ-DF 20160020416274 - Segredo de Justiça 0044103-67.2016.8.07.0000, Relator:
FÁ TIMA RAFAEL, Data de Julgamento: 07/12/2016, 3ª TURMA CÍVEL, Data de Publicaçã o:
Publicado no DJE : 19/12/2016 . Pá g.: 626/631)
Sendo assim, devido à falta de capacidade do Réu, pede-se a reduçã o dos alimentos.
DA GUARDA
Inicialmente cumpre destacar que o direito busca, precipuamente, resguardar os direitos e
interesses do menor, devendo ser conduzida a presente açã o ao fim de atendê-los.
A legislaçã o brasileira, em atençã o à s necessidades dos menores, previu no Có digo Civil, em
seu artigo 1.583 as condiçõ es mínimas que genitor deve prover para que a guarda lhe seja
atribuída, in verbis:
Art. 1.583. A guarda será unilateral ou compartilhada.
§ 1º Compreende-se por guarda unilateral a atribuída a um só dos genitores ou a alguém
que o substitua (art. 1.584, § 5º) e, por guarda compartilhada a responsabilizaçã o conjunta
e o exercício de direitos e deveres do pai e da mã e que nã o vivam sob o mesmo teto,
concernentes ao poder familiar dos filhos comuns.
Dessa forma, deve-se definir a guarda com primordial atençã o aos interesses do menor, a
ser conduzida conforme os termos e condiçõ es a seguir.
DA GUARDA COMPARTILHADA
A definiçã o da guarda deve buscar primordial atençã o aos interesses do menor, sendo que
a guarda compartilhada foi introduzida no Direito Brasileiro como o melhor mecanismo
para o desenvolvimento da criança, conforme redaçã o do Art. 1.584 do Có digo Civil:
§ 2º Quando nã o houver acordo entre a mã e e o pai quanto à guarda do filho, encontrando-
se ambos os genitores aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a guarda
compartilhada, salvo se um dos genitores declarar ao magistrado que nã o deseja a guarda
do menor.
Conforme decisã o do STJ (REsp 1878041/SP), apenas duas condições podem impedir a
aplicação obrigatória da guarda compartilhada, a saber:
i. a inexistência de interesse de um dos cô njuges; e
ii. a incapacidade de um dos genitores de exercer o poder familiar.
O que nã o ocorre no presente caso. Sendo interesse de ambos os pais compartilhar a
guarda da criança.
Cabe destacar que nem o fato de os genitores possuírem domicílio em cidades distintas
pode representar ó bice à fixaçã o da guarda compartilhada.
Nesse sentido é o posicionamento do STJ:
RECURSO ESPECIAL. CIVIL. FAMÍLIA. GUARDA COMPARTILHADA. OBRIGATORIEDADE.
PRINCÍPIOS DA PROTEÇÃ O INTEGRAL E DO MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE. GUARDA ALTERNADA. DISTINÇÃ O. GUARDA COMPARTILHADA.
RESIDÊ NCIA DOS GENITORES EM CIDADES DIVERSAS. POSSIBILIDADE. 1- Recurso
especial interposto em 22/7/2019 e concluso ao gabinete em 14/3/2021. 2- O propó sito
recursal consiste em dizer se: a) a fixaçã o da guarda compartilhada é obrigató ria no
sistema jurídico brasileiro; b) o fato de os genitores possuírem domicílio em cidades
distintas representa ó bice à fixaçã o da guarda compartilhada; e c) a guarda compartilhada
deve ser fixada mesmo quando inexistente acordo entre os genitores.
3- O termo "será" contido no § 2º do art. 1.584 não deixa margem a debates
periféricos, fixando a presunção relativa de que se houver interesse na guarda
compartilhada por um dos ascendentes, será esse o sistema eleito, salvo se um dos
genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor.
4- Apenas duas condiçõ es podem impedir a aplicaçã o obrigató ria da guarda compartilhada,
a saber: a) a inexistência de interesse de um dos cô njuges; e b) a incapacidade de um dos
genitores de exercer o poder familiar.
5- Os ú nicos mecanismos admitidos em lei para se afastar a imposiçã o da guarda
compartilhada sã o a suspensã o ou a perda do poder familiar, situaçõ es que evidenciam a
absoluta inaptidã o para o exercício da guarda e que exigem, pela relevâ ncia da posiçã o
jurídica atingida, prévia decretaçã o judicial.
6- A guarda compartilhada nã o se confunde com a guarda alternada e nã o demanda
custó dia física conjunta, tampouco tempo de convívio igualitá rio dos filhos com os pais,
sendo certo, ademais, que, dada sua flexibilidade, esta modalidade de guarda comporta as
fó rmulas mais diversas para sua implementaçã o concreta, notadamente para o regime de
convivência ou de visitas, a serem fixadas pelo juiz ou por acordo entre as partes em
atençã o à s circunstâ ncias fá ticas de cada família individualmente considerada.
7- É admissível a fixaçã o da guarda compartilhada na hipó tese em que os genitores residem
em cidades, estados, ou, até mesmo, países diferentes, má xime tendo em vista que, com o
avanço tecnoló gico, é plenamente possível que, à distâ ncia, os pais compartilhem a
responsabilidade sobre a prole, participando ativamente das decisõ es acerca da vida dos
filhos. 8- Recurso especial provido. (REsp 1878041/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 25/05/2021, DJe 31/05/2021, #33233987)
A decisã o pela guarda unilateral para a genitora, tem um erro essencial que precisa ser
corrigido, pois declara um estado prejudicial para o desenvolvimento da criança, fere o
seus interesses, motivos pelos quais se impugna tal decisã o. Sendo mais correto a
declaraçã o da guarda compartilhada do filho, pois consagra o ideal da guarda
compartilhada, pois divide igualmente os direitos e deveres dos genitores e porque
promove o diá logo, peça-chave de exercício saudá vel da coparentalidade.
Ademais, cumpre salientar que o menor possui um tempo de convivência com o pai, visto
que, durante algum tempo XXXXXXXXX teve a guarda da criança, na qual alega que ele fora
criado em um ambiente com muito amor. E em vista disso, a advogada Marilia Varela,
membro do IBDFAM acredita que em casos como esse, além do tradicional binô mio
alimentar (necessidades e possibilidades), deve-se valer do tempo de convivência do pai
com o filho e, por conseguinte, sua efetiva disponibilidade de dividir tarefas e
responsabilidades na gestã o de vida da criança.
Sendo assim, a guarda compartilhada é o ideal a ser buscado no exercício do Poder
Familiar entre pais separados, mesmo que demandem deles reestruturaçõ es, concessõ es e
adequaçõ es diversas, para que seus filhos possam usufruir, durante sua formaçã o, do ideal
psicoló gico de duplo referencial.
Na liçã o da Ministra Nancy Andrighi:
A custó dia física conjunta é o ideal a ser buscado na fixaçã o da guarda compartilhada,
porque sua implementaçã o quebra a monoparentalidade na criaçã o dos filhos, fato
corriqueiro na guarda unilateral, que é substituída pela implementaçã o de condiçõ es
propícias à continuidade da existência de fontes bifrontais de exercício do Poder Familiar.
(STJ - Resp: 1251000 Dje 31/08/2011.)
No mesmo sentido, Maria Berenice Dias ao destacar sobre os benefícios da guarda
compartilhada destaca:
Os fundamentos da guarda compartilhada são de ordem constitucional e psicológica,
visando basicamente garantir o interesse da prole. Significa mais prerrogativas aos
pais, fazendo com que estejam presentes de forma mais intensa na vida dos filhos. A
participaçã o no processo de desenvolvimento integral leva à pluralização das
responsabilidades, estabelecendo verdadeira democratizaçã o de sentimentos.
Indispensá vel manter os laços de afetividade, minorando os efeitos que a separaçã o sempre
acarreta nos filhos, conferindo aos pais o exercício da funçã o parental de forma igualitá ria.
(in Manual de Direito das Famílias. 12ª ed. Revista dos Tribunais: 2017. pg. 550)
Portanto, requer a imposição judicial das atribuições de cada um dos pais, e o período
de convivência da criança sob guarda compartilhada.
DO PLANO DE PARENTALIDADE
Definida a guarda, deve ser homologado desde já o plano de parentalidade, que nas
palavras de Rolf Madaleno, ao disciplinar sobre o tema conceitua:
O plano de parentalidade é um instrumento utilizado para concretizar a forma pela qual
ambos os genitores pensam em exercer suas responsabilidades parentais, detalhando os
compromissos que assumem a respeito da guarda, dos cuidados e com a educaçã o dos seus
filhos. (in Manual de Direito de Família. Forense. 2017. Kindle edition, p. 3282)
Para tanto, propõ e como plano de convivência da guarda compartilhada nos seguintes
termos:
i. Convivência:
ii. 1.1 Visitas durante a semana, mediante autorizaçã o da mã e;
iii. 1.2 Endereço do pai: XXXXXXXXXXXXX.
iv. 1.3 Endereço da mã e: XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX.
v. 1.4 Fins de semana: com o pai XXXXXXX.
vi. 1.5 Feriados: alternados entre o pai e a mã e, acordados durante a audiência de
Conciliaçã o e Mediaçã o; caso queiram trocar o feriado, será mediante aviso prévio.
vii. 1.6 Datas festivas: alternadas entre os pais, entrando em um devido consenso.
As alteraçõ es de quaisquer dos termos firmados deverã o ser previamente formalizados e
aceite por ambas as partes no prazo de 15 dias.