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De maneira cotidiana, utiliza-se a expressão “alimentos” como forma de se referir a tudo aquilo
que os seres vivos comem e bebem para manter a sua subsistência.
O termo “alimento” deriva do latim alimentum e permite referir-se a cada uma das substâncias
sólidas ou líquidas que nutrem os seres humanos, as plantas ou os animais, porém, para o direito
a expressão “alimentos” tem extensão muito mais ampla, e significam um conjunto global das
prestações necessárias para a manutenção da vida digna do indivíduo.
O objetivo das prestações alimentares, em linhas gerais, é conceder a pessoa que delas necessita
uma vida digna e adequada, inclusive lhe conceder o direito a educação. Nesse mesmo sentido,
o artigo 1.694 do Código Civil Brasileiro prescreve que:
Como se pode notar, os alimentos devem ser pagos para o fim de viabilizar para o credor uma
vida digna, compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua
educação, de uma vida adequada e minimamente confortável.
Os doutrinadores Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, ensinam que “o fundamento
da “prestação alimentar” encontra assento nos princípios da dignidade da pessoa humana,
vetor básico do ordenamento jurídico como um todo, e, especialmente, no da solidariedade
familiar”.
Igualmente, observam os juristas Flávio Tartuce e José Fernando Simão sobre a temática:
Com isso, podemos observar claramente que os alimentos não estão limitados somente a ideia
de sustento físico do indivíduo, mas sim, ao dever de cuidado de uns para com os outros, de
forma a possibilitar que o indivíduo tenha uma vida saudável, com educação, e com dignidade.
Conforme se pode notar da parte introdutória do presente estudo, estende-se que os alimentos é
modalidade de assistência imposta por lei, ao passo que o seu recebimento pela Lei também será
regido.
Tecnicamente dizendo, e, para facilitar a compreensão e fixação dos termos, desde logo observe
que no processo o autor é chamado de “Alimentando”, ao passo que o réu será denominado de
“Alimentante”.
Na forma do artigo 1.694 do Código Civil, acima transcrito, a obrigação alimentar é decorrente
do parentesco, da formação da família, sendo certo que há reciprocidade nos alimentos, porque
aquele que tem direito a recebê-lo pode ir a juízo exigir o cumprimento da obrigação em caso de
necessidade.
Na mesma vereda, o artigo 1.696 do Código Civil tratando da reciprocidade nos alimentos,
assim estabelece:
Quer dizer, a ordem alimentar iniciada entre os ascendestes, descendentes, irmãos, e assim
segue, incluindo-se dentro da obrigação alimentar os cônjuges, companheiros (inclusive ex-
cônjuge ou ex-companheiro), isso é chamado de obrigação alimentar sucessiva, entendido que
na ausência do primeiro obrigado ao pagamento, passa-se a obrigação automaticamente para o
próximo obrigado na ordem de sucessão alimentar, conforme disciplina o artigo 1.697 do
Código Civil, leia-se:
Art. 1.697. Na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos descendentes, guardada a ordem de
sucessão e, faltando estes, aos irmãos, assim germanos como unilaterais.
Pode ocorrer, ainda, que sendo obrigado o indivíduo ao pagamento de alimentos não possa
cumpri-lo integralmente, neste caso, serão chamados a cumprir o encargo os parentes de grau
imediato, sem exoneração do devedor originário, é o que dispõe o artigo 1.698 do CC:
Assim, quem pode receber os alimentos é a pessoa necessitada, ao passo quem deve pagá-los é
o parente obrigado, na proporção dos seus respectivos recursos.
Referente aos avós, é bom que se diga, os alimentos tem natureza complementar e subsidiária,
conforme dispõe a Súmula 596 do STJ, abaixo:
Além do necessitado ao recebimento dos alimentos, o Ministério Público tem legitimidade para
propor ação de alimentos em proveito de criança ou adolescente independentemente do
exercício do poder familiar dos pais, conforme dispõe a Súmula 594 do STJ, veja-se:
Por outro giro, o devedor de alimentos também pode ir a juízo e comunicar os seus
rendimentos, pedir a citação do credor, para comparecer à audiência de conciliação e
julgamento destinado a fixação de alimentos, é a chama “ação de oferecimento de alimentos”,
com previsão legal contida no artigo 24 da Lei 5.478/68 (Lei de Alimentos).
Logo, aquele que está obrigado a prestar os alimentos, também lei lhe confere a prerrogativa de
oferecê-los, voluntariamente ao credor, por meio da ação de oferecimento.
É importante mencionar no presente estudo algumas peculiaridades que cercam a ceara dos
alimentos, e que certamente será útil a boa compreensão da temática aqui abordada.
A primeira coisa que se faz necessário mencionar é que os alimentos são irrenunciáveis, ou seja,
pode o credor não exercer o seu direito de ir a juízo recebê-los, porém não pode renunciar o
direito aos alimentos, conforme o artigo 1.707 do CC dispõe:
Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o
direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão,
compensação ou penhora.
Note-se, também, que o artigo 1.707 do CC dispõe que os alimentos não podem ser objeto de
cessão, ou seja, o direito a alimentos é personalíssimo, por isso não pode ser cedido a terceiros.
Os alimentos não podem ser penhorados, porque para que um crédito ou bem seja penhorado,
ele precisa ser passível de transferência a terceiros, e como já vimos, os alimentos não se
revestem dessa capacidade.
Além dessas peculiaridades, a jurisprudência acrescentou mais uma no direito a alimentos, que é
a irrepetibilidade, que significa que os alimentos que foram pagos e recebidos de boa-fé não
serão restituídos caso, posteriormente, se entenda que os alimentos não eram devidos. A
propósito:
Apenas para exemplificar: após a destituição da união conjugal, o cônjuge deixa o lar e por anos
paga os alimentos para o filho ou filha, e, depois descobre que não é pai/mãe daquele filho ou
filha, logo, os alimentos que foram pagos, não poderão ser requeridos de volta.
Pois bem, em questão de peculiaridades acredita-se que não se oferece mais dúvidas, uma vez
que foi tratado de todas as peculiaridades importantes sobre alimentos, agora, trataremos das
classificações e, contudo, para não deixar este estudo cansativo, sendo que o seu objetivo é ser
claro e pontual, trataremos apenas de duas classificações rapidamente a seguir:
Quanto a finalidade:
Note-se que, a própria parte interessada pode ir a juízo e pleitear que o devedor de alimentos
faça os pagamentos, sem a necessidade inicial de um advogado, o que facilita a parte o exercer o
seu direito de receber os alimentos.
Nesta oportunidade, é bom esclarecer a forma como os alimentos são frequentemente fixados.
Para a fixação do quantum alimentar, deve-se levar em conta o princípio da proporcionalidade,
que está vinculado entre a necessidade do alimentando e a capacidade financeira do alimentante.
Sob esse aspecto, os doutrinadores Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald ensinam
que:
“Em qualquer hipótese, os alimentos devem viabilizar para o credor
uma vida digna, compatível com a sua condição social, em
conformidade com a possibilidade do devedor de atender ao encargo.
Vislumbra-se, assim, uma dualidade de interesses: a necessidade de
quem pleiteia e a capacidade contributiva de quem presta”.[8]
Assim, os alimentos devem ser fixados com o fim de garantir que o alimentante possa pagá-los,
sendo certo que o binômio “necessidade/possibilidade”, é o patamar balizador para fixação dos
alimentos, já que é por intermédio dele que se pode avaliar a necessidade do alimentando e a
capacidade financeira do alimentante.
Ainda sobre a fixação de alimentos, estes devem ser fixados na proporção das necessidades do
reclamante e dos recursos da pessoa obrigada ao pagamento, aliás sobre esta mesma temática
ensina Yussef Said Cahali:
Caso os alimentos fixados em sentença sejam considerados altos pelo alimentante ou estejam
fora de sua capacidade financeira, este pode pedir a sua revisão, isto porque a possibilidade de
revisão dos valores fixados a títulos de alimentos em sentença além de ser direito da parte
interessada previsto no art. 15 da Lei de Alimentos, vem sendo possibilitada pela pacífica
jurisprudência, mutatis mutandis:
Resumidamente, pode-se perceber que os alimentos devem ser fixados sempre em respeito ao
binômio “necessidade/possibilidade”, e poderá ser revisto caso ocorra alguma mudança na
situação financeira das partes interessadas.
Enfim, importa lembrar que os alimentos devidos e vencidos prescrevem em dois anos (art. 206,
§2º do CC), a partir da data em que se venceram, se não pretendidos pelo credor.
Os alimentos não devem ser fixados ad aeternum, ou seja, eternamente, mesmo porque os
alimentos devidos entre ex-cônjuges devem ser fixados por prazo certo, suficiente para,
levando-se em conta as condições próprias do alimentado, permitir-lhe uma inserção no
mercado de trabalho em igualdade de condições com o alimentante.
Com efeito, este é o entendimento externado pela 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça
(STJ), confira-se:
Leia-se, por fim, os alimentos fixados em âmbito matrimonial, diga-se de passagem, devem ser
fixados em caráter transitório e excepcional, a fim de que não se imponha ao alimentante um
encargo eterno para manter a vida de seu ex-cônjuge.
Como estudado acima, os alimentos devem ser fixados de forma a possibilitar que o devedor
cumpra com o encargo, entretanto, isso não quer dizer que a parte obrigada ao pagamento se
dignará de cumpri-lo.
Mas há consequências para o devedor de alimentos que se nega ao pagamento, ou que sendo
determinado o seu pagamento, faça uma justificativa que não é aceita pelo juiz da causa.
Importantíssimo lembrar, que não se trata de prisão em razão de prática de crime, mas sim, da
decretação da prisão civil por conta do inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação
alimentícia.
A Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso LXVII, prevê que é possível a decretação da
prisão civil, in verbis:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
Esta prisão civil, convém salientar, não pode ocorrer por mais de uma vez por conta do mesmo
débito alimentar, para evitar o bis in idem, que é a dupla sanção para o mesmo fato, de modo
que seria desproporcional e injusta a prisão de devedor duas vezes e pelo mesmo acontecimento.
A cobrança de dívida alimentícia pode se dar de duas formas, quais sejam: através do rito
insculpido no artigo 528 do Código de Processo Civil (permite a prisão do devedor, que visa a
cobrança das três parcelas anteriores ao ajuizamento da demanda, mais daquelas que forem se
vencendo no curso do processo), e artigo 523 do mesmo diploma processual (permite penhora
de eventuais valores depositados em instituições financeiras, imposição de restrição em veículos
e outros meios constritivos, que visa a cobrança das parcelas que sãos anteriores às três ultimas
vencidas).
No mais, conforme Súmula 309 do STJ, o débito alimentar que autoriza a prisão civil do
alimentante é o que compreende as três parcelas anteriores ao ajuizamento da execução de
alimentos e as que se vencerem no curso do processo.
Portanto, resta claro que caso o devedor de alimento não pagar as prestações devidas por três
meses, dará a parte interessada o direito de requerer por meio de execução o seu cumprimento,
sendo, inclusive, possível a inscrição do nome do devedor no órgão de restrição de crédito,
conforme §1º, do art. 528 e §3º, do art. 782, todos do CPC, além de ser decretada a sua prisão.
6 – OS ALIMENTOS GRAVÍDICOS.
Antes de chegarmos à reta final do tema alimentos, que se dará por uma breve passada na
revisão, exoneração e extinção do dever de alimentar, é de boa prática abortar os alimentos
gravídicos que também são importantes neste estudo.
Os alimentos gravídicos estão previstos na Lei 11.804/2008, e cuida-se de lei curta que possui
apenas 12 artigos, sendo que os artigos 3 a 5, 8 a 10 foram vetados, restando apenas 6 artigos
ainda vigentes.
A doutrina, por sua vez, teceu duríssimas críticas a Lei 11.804/2008, em virtude da terminologia
do uso do nome “alimentos gravídicos”, conforme observa Silmara Juny Chinellato:
Concordando com o posicionamento acima, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho
sustentam ser muito mais técnico conhecer a lei como dos “alimentos do nascituro”. A
terminologia utilizada para denominar a mencionada Lei não muito importa, já que tal fato não
vai determinar a sua efetividade, o que importa, nestes caso, é se a lei é ou não aplicada em
efetividade para tutelar o direito das partes.
Continuando, o processo judicial para fixação dos alimentos gravídicos, geralmente, segue o
mesmo rito da previso na Lei de Alimentos, com diferença apenas na fixação da verba mensal,
pois é suficiente apenas os indícios da paternidade, mesmo porque dentro do casamento existe
uma presunção de paternidade, quer dizer, o pai da criança é aquele casado com a mãe.
Os critérios de fixação dos alimentos gravídicos, assim como para o estabelecimento de pensão
alimentícia em outros casos de alimentos, é o do binômio “necessidade/possibilidade”, ou seja,
serão levadas em consideração as efetivas necessidades do nascituro e da grávida, bem como as
condições financeiras do suposto genitor.
É importante mencionar, que valor da prestação alimentar no caso dos alimentos gravídicos,
nunca pode ultrapassar os gastos relativos à gravidez, isto é, o juiz deverá estar atento para que
a gestante não use aquela prestação alimentícia para “fomentar futilidades, luxo e ostentação,
ainda que visível a riqueza do suposto genitor.
Tanto é verdade a alegação acima, que o Enunciado 522 – V Jornada de Direito Civil – CJF,
dispõe também sobre a prisão civil do devedor nos casos de não prestação de alimentos
gravídicos:
Aliás, sobre os filhos havidos fora do casamento, entretanto, não há presunção de paternidade, o
que se exige é o reconhecimento voluntário da paternidade, e que não se admite o
arrependimento (art. 1.609 e 1.610, do CC).
Em resumo, são devidos os alimentos gravídicos ao nascituro (aquele que há de nascer) pelo seu
futuro pai, para o fim de cobrir as despesas adicionais do período de gravidez e que sejam dela
decorrentes, inclusive as referentes a alimentação especial, assistência médica e psicológica,
exames complementares, internações, ou seja, toda despesa necessária a boa gestação e
preservação da saúde da gestante e do nascituro.
Registre-se que, a revisão, exoneração e extinção o dever de prestar alimentos estão sujeitos a
decisão judicial, não podendo ser exercidos de forma voluntária pela parte, que deixando de
cumprir com o encargo sem autorização legal, incorre nas penas da lei.
O pedido de revisão dos alimentos deve ser feito por ação judicial autônoma, isto quer dizer que
não será feito no mesmo processo que fixou os alimentos, ao passo que o pedido revisional
compreende não só a diminuição como também o pedido de aumento da prestação alimentícia.
A exoneração do dever de pagar alimentos, por seu turno, é a cessação da obrigação de prestar
alimentos, seja porque o credor deles não mais necessita, seja porque o devedor não possui mais
qualquer recurso financeiro para o pagamento, e, veja-se, não se confunde exoneração com
extinção, sendo que essa tem ocorrência no seguinte dispositivo do Código Civil:
A razão constante no artigo 1.708 do Código Civil não é de difícil entendimento, mas merece
comentário, caso o credor de alimentos venha a se casar, ou contrair união estável, esse estará
estabelecendo nova família, presumindo-se que irá assumir as obrigações do lar de forma
autônoma, e dos alimentos não mais necessita.
Já a disposição contida no parágrafo único do referido artigo, é uma causa de extinção dos
alimentos, porque imagine-se, se o credor de alimentos tenta contra a vida do devedor,
alimentante, há certo desequilíbrio na relação, pois o credor não deve tentar ceifar a vida
daquele que lhe presta o auxílio, e mantem a sua subsistência. Trata-se de caso de indignidade
do credor para com o devedor dos alimentos.
Desta maneira, a lei confere não apenas ao credor de alimentos o direito ao recebimento da
prestação, inclusive com revisão se for o caso, mas também concede ao devedor meios de
provar que o credor dos alimentos não mais necessita, extinguindo-o ou exonerando-o do
encargo.
Não houve expressa revogação e nem qualquer alteração no Capítulo V do Titulo II do Livro II,
do CPC que trata "Da Execução de Prestação Alimentícia". Também não há nenhuma referência
à obrigação alimentar nas novas regras de cumprimento de sentença, inseridas nos Capítulos IX
e X do Título VIII do Livro I: "Do Processo de Conhecimento" (CPC, arts. 475-A a 475-R).
Em face disso, boa parte da doutrina sustenta que à execução de alimentos não tem aplicação a
nova lei. Um punhado de justificativas impõe que se reconheça como inadequada esta postura.
A cobrança de quantia certa fundada em sentença não mais desafia processo de execução
específico. O credor só necessita ajuizar execução autônoma quando dispuser apenas de um
título executivo extrajudicial.
Há um fundamento que põe por terra qualquer tentativa de emprestar sobrevida à execução por
quantia certa de título executivo judicial relativo a alimentos. O Capítulo II do Título III do
Livro II, do CPC, que se intitulava: "Dos Embargos à Execução Fundada em Sentença", agora
se denomina: "Dos Embargos à Execução contra a Fazenda Pública". Ou seja, não existem mais
no estatuto processual pátrio embargos à execução de título judicial. Esse meio impugnativo só
pode ser oposto na execução contra a Fazenda Pública. A vingar o entendimento que empresta
interpretação literal ao art. 732 do CPC, chegar-se-ia à esdrúxula conclusão de que o devedor de
alimentos não dispõe de meio impugnativo, pois não tem como fazer uso dos embargos à
execução.
Os alimentos podem e devem ser cobrados pelo meio mais ágil. O fato de a lei ter silenciado
sobre a execução de alimentos não pode conduzir à idéia de que a falta de modificação dos arts.
732 e 735 do CPC impede o cumprimento da sentença. A omissão não encontra explicação
plausível e não deve ser interpretada como intenção de afastar o procedimento mais célere e
eficaz logo da obrigação alimentar, cujo bem tutelado é exatamente a vida.
Finalmente, cabe lembrar que a nova sistemática não traz prejuízo algum ao devedor de
alimentos, pois a defesa pode ser deduzida, com amplitude, por meio da impugnação (CPC, art.
475-L), que corresponde aos embargos que existiam na legislação revogada (CPC, art. 741). A
impugnação pressupõe a penhora e avaliação de bens, ou seja, é necessária a segurança do juízo
(CPC, art. 475-J, § 1º). Ademais, como não dispõe de efeito suspensivo (CPC, art. 475-M), a
impugnação não vai poder ser usada com finalidade exclusivamente protelatória, como ocorria
com os embargos à execução. De qualquer modo, às claras, continuará sendo aceitas as famosas
exceções de pré-executividade, criação pretoriana que entrava ainda mais a satisfação do credor.
A Constituição Federal excepciona o dever alimentar da vedação de prisão por dívida (CF, art.
5º, LXVII). O meio de dar efetividade a esse permissivo constitucional encontra previsão no art.
19 da Lei de Alimentos e no art. 733 do CPC, que estão em plena vigência. As alterações
introduzidas no CPC não revogaram o meio executório da coação pessoal.
A escolha por uma ou outra modalidade de cobrança está condicionada ao período do débito, se
vencido ou não há mais de três meses. No que diz com a dívida pretérita, a forma de cobrar é
por meio do cumprimento da sentença: intimação do devedor para que pague em quinze dias.
Não realizado o pagamento, incide a multa, e o credor deve requerer a expedição de mandado de
penhora e avaliação (CPC, art. 475-J). Rejeitada a impugnação (CPC, art. 475-L), igualmente,
incide a multa. Penhorado dinheiro é possível mensalmente o levantamento do valor da
prestação (CPC, art. 732, parágrafo único). Como se trata de crédito alimentar, descabe a
imposição de caução, a não ser que o valor da dívida seja superior a sessenta salários mínimos e
não tenha demonstrado o credor situação de necessidade (CPC, art. 475-O, § 2º, II).
Com relação às parcelas recentes, ou seja, se o débito for inferior a três meses, o credor pode
fazer uso do rito do art. 733 do CPC. Ainda que o pedido possa ser formulado nos mesmos
autos, mister a citação pessoal do devedor para que proceda ao pagamento, no prazo de três
dias. Não paga a dívida ou rejeitada a justificação apresentada, expedir-se-á mandado de prisão.
Sobre o valor do débito não se incorpora a multa. Embora a lei diga que o montante da
condenação será acrescido de multa no percentual de 10% (CPC, art. 475-J), tal encargo não
integra a obrigação alimentar quando o pagamento é exigido sob pena de prisão. Descabe dupla
sanção. No entanto, cumprida a prisão e não feito o pagamento, como a execução prossegue
pelo rito do cumprimento da sentença (CPC, art. 475-J), a multa incide sobre a totalidade do
débito.
A cobrança dos alimentos definitivos pode ser levada a efeito nos mesmos autos, seja por meio
do cumprimento da sentença ou da execução por coação pessoal. Pretendendo o credor fazer uso
de ambos os procedimentos, isto é, quando quiser cobrar tanto as parcelas vencidas há mais de
três meses como a dívida recente, mister que o pedido de execução sob a modalidade de prisão
seja veiculado em apartado. Nos mesmos autos será buscado o cumprimento da sentença. A
diversidade de rito entre as duas formas de cobrança certamente retardaria o adimplemento da
obrigação se processadas em conjunto.
Da mesma forma é cabível a execução da sentença sujeita a recurso (CPC, art. 475-I, § 1º).
Como a apelação que condena à prestação de alimentos dispõe do só efeito devolutivo (CPC,
art. 520, II e LA, art. 14), pode haver a busca do pagamento antes de os alimentos tornarem-se
definitivos. A cobrança deverá ser feita tal qual a execução provisória (CPC, art. 475-O).
Também aqui a escolha do rito vai depender do prazo do inadimplemento. Intimado o devedor e
não feito o pagamento em 15 dias, passa a incidir a multa de 10%. Ao credor cabe requerer a
expedição de mandado de penhora e avaliação, já indicando bens para garantir a segurança do
juízo (CPC, art. 475-J). No entanto, se preferir o credor o rito da coação pessoal, mister que o
réu seja citado para pagar em três dias, provar que pagou ou justificar a impossibilidade de fazê-
lo (CPC, art. 733).
Sobre alimentos provisórios ou provisionais, incide a multa de 10%. Ainda que a lei faça
referência à "condenação" (CPC, 475-J), não se pode retirar o caráter condenatório dos
alimentos fixados em sede liminar. Basta lembrar que se trata de obrigação pré-constituída e que
os alimentos são irrepetíveis. O pagamento precisa ser feito mesmo que os alimentos não sejam
definitivos. Ainda que o valor do encargo venha a ser diminuído ou afastado, tal não livra o
devedor da obrigação de proceder ao pagamento das parcelas que se venceram neste ínterim.
Não admitir a incidência da multa pelo fato de os alimentos não serem definitivos só estimularia
o inadimplemento e a eternização da demanda.
Pela natureza da dívida não é possível concluir que a omissão do legislador, em atualizar os
dispositivos que regulam a execução dos alimentos, desautoriza o uso da forma simplificada e
célere que as reformas visaram implementar.