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Alimentos

De maneira cotidiana, utiliza-se a expressão “alimentos” como forma de se referir a tudo aquilo
que os seres vivos comem e bebem para manter a sua subsistência.

O termo “alimento” deriva do latim alimentum e permite referir-se a cada uma das substâncias
sólidas ou líquidas que nutrem os seres humanos, as plantas ou os animais, porém, para o direito
a expressão “alimentos” tem extensão muito mais ampla, e significam um conjunto global das
prestações necessárias para a manutenção da vida digna do indivíduo.

O objetivo das prestações alimentares, em linhas gerais, é conceder a pessoa que delas necessita
uma vida digna e adequada, inclusive lhe conceder o direito a educação. Nesse mesmo sentido,
o artigo 1.694 do Código Civil Brasileiro prescreve que:

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir


uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo
compatível com a sua condição social, inclusive para atender às
necessidades de sua educação.

Como se pode notar, os alimentos devem ser pagos para o fim de viabilizar para o credor uma
vida digna, compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua
educação, de uma vida adequada e minimamente confortável.

O Constituinte Originário de 1988 deixou estampado no corpo do texto legal da Constituição


Federal além do direito social a alimentação, a assistência aos desamparados, de modo que
aquele que dos alimentos necessitar os receba de quem possa pagá-los, senão confira-se o a
redação do artigo 6º da CF/88:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o


trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência
social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 90, de 2015).

Os doutrinadores Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, ensinam que “o fundamento
da “prestação alimentar” encontra assento nos princípios da dignidade da pessoa humana,
vetor básico do ordenamento jurídico como um todo, e, especialmente, no da solidariedade
familiar”.

Igualmente, observam os juristas Flávio Tartuce e José Fernando Simão sobre a temática:

Diante dessa proteção máxima da pessoa humana, precursora da


personalização do Direito Civil, e em uma perspectiva civil-
constitucional, entendemos que o art. 6º da CF/88 serve como uma
luva para preencher o conceito atual dos alimentos. Esse dispositivo
do Texto Maior traz como conteúdo os direitos sociais, que devem ser
oferecidos pelo Estado, a saber: a educação, a saúde, o trabalho, a
moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, e a assistência aos desamparados. Destaca-se
que, conforme a doutrina contemporânea constitucionalista, os direitos
sociais também devem ser tidos como direitos fundamentais, tendo
aplicação imediata às relações privadas. Assim sendo, aplicando-se a
tese da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, tais direitos
existem e devem ser respeitados nas relações privadas particulares, no
sentido de que os alimentos estão muito mais fundamentados na
solidariedade familiar do que na própria relação de parentesco,
casamento ou união estável.

Com isso, podemos observar claramente que os alimentos não estão limitados somente a ideia
de sustento físico do indivíduo, mas sim, ao dever de cuidado de uns para com os outros, de
forma a possibilitar que o indivíduo tenha uma vida saudável, com educação, e com dignidade.

2 – Quem pode receber e quem deve pagar os alimentos.

Conforme se pode notar da parte introdutória do presente estudo, estende-se que os alimentos é
modalidade de assistência imposta por lei, ao passo que o seu recebimento pela Lei também será
regido.

Tecnicamente dizendo, e, para facilitar a compreensão e fixação dos termos, desde logo observe
que no processo o autor é chamado de “Alimentando”, ao passo que o réu será denominado de
“Alimentante”.

Na forma do artigo 1.694 do Código Civil, acima transcrito, a obrigação alimentar é decorrente
do parentesco, da formação da família, sendo certo que há reciprocidade nos alimentos, porque
aquele que tem direito a recebê-lo pode ir a juízo exigir o cumprimento da obrigação em caso de
necessidade.

O artigo 229 da Constituição Federal, aliás, é cristalino:

Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos


menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais
na velhice, carência ou enfermidade.

Na mesma vereda, o artigo 1.696 do Código Civil tratando da reciprocidade nos alimentos,
assim estabelece:

Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e


filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos
mais próximos em grau, uns em falta de outros.

O artigo de lei acima, em se tratando de linha de parentesco, entre ascendestes e descendentes,


não impõe limites de grau para fixação da obrigação alimentar, podendo essa ser estendia aos
avós, bisavós, e outros parentes indefinidamente, mas sempre recaindo a obrigação nos mais
próximos em grau.

Quer dizer, a ordem alimentar iniciada entre os ascendestes, descendentes, irmãos, e assim
segue, incluindo-se dentro da obrigação alimentar os cônjuges, companheiros (inclusive ex-
cônjuge ou ex-companheiro), isso é chamado de obrigação alimentar sucessiva, entendido que
na ausência do primeiro obrigado ao pagamento, passa-se a obrigação automaticamente para o
próximo obrigado na ordem de sucessão alimentar, conforme disciplina o artigo 1.697 do
Código Civil, leia-se:

Art. 1.697. Na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos descendentes, guardada a ordem de
sucessão e, faltando estes, aos irmãos, assim germanos como unilaterais.
Pode ocorrer, ainda, que sendo obrigado o indivíduo ao pagamento de alimentos não possa
cumpri-lo integralmente, neste caso, serão chamados a cumprir o encargo os parentes de grau
imediato, sem exoneração do devedor originário, é o que dispõe o artigo 1.698 do CC:

Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não


estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão
chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas
obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção
dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão
as demais ser chamadas a integrar a lide.

Assim, quem pode receber os alimentos é a pessoa necessitada, ao passo quem deve pagá-los é
o parente obrigado, na proporção dos seus respectivos recursos.

Referente aos avós, é bom que se diga, os alimentos tem natureza complementar e subsidiária,
conforme dispõe a Súmula 596 do STJ, abaixo:

Súmula 596, do STJ: A obrigação alimentar dos avós tem natureza


complementar e subsidiária, somente se configurando no caso de
impossibilidade total ou parcial de seu cumprimento pelos pais.
(Súmula 596, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 08/11/2017, DJe
20/11/2017).

De mais a mais, se por um lado a responsabilidade alimentar dos avós é complementar e


subsidiária, por outro lado, a disposição contida no artigo 12 do Estatuto do Idoso (Lei n.º
10.741/2003), estabelece que a obrigação alimentar para os idosos é solidária, podendo o idoso
optar entre os prestadores dos alimentos.

Além do necessitado ao recebimento dos alimentos, o Ministério Público tem legitimidade para
propor ação de alimentos em proveito de criança ou adolescente independentemente do
exercício do poder familiar dos pais, conforme dispõe a Súmula 594 do STJ, veja-se:

Súmula n.º 594: “O Ministério Público tem legitimidade ativa para


ajuizar ação de alimentos em proveito de criança ou adolescente
independentemente do exercício do poder familiar dos pais, ou do fato
de o menor se encontrar nas situações de risco descritas no art. 98 do
Estatuto da Criança e do Adolescente, ou de quaisquer outros
questionamentos acerca da existência ou eficiência da Defensoria
Pública na comarca.” (Súmula 594, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
25/10/2017, DJe 06/11/2017).

Por outro giro, o devedor de alimentos também pode ir a juízo e comunicar os seus
rendimentos, pedir a citação do credor, para comparecer à audiência de conciliação e
julgamento destinado a fixação de alimentos, é a chama “ação de oferecimento de alimentos”,
com previsão legal contida no artigo 24 da Lei 5.478/68 (Lei de Alimentos).

Na mesma linha de pensar, ensinam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald:

“Reza o art. 24 da lei n.º 5.478/68 que o devedor de alimentos pode ir


a juízo e encarecer o arbitramento da pensão, oferecendo alimentos
àquele que deles precisa para sobreviver”.
“Cuida-se de uma ação alimentar de iniciativa do devedor, ofertando
ao credor (parente, ex-cônjuge ou ex-companheiro) a verba necessária
para a sua mantença, proporcionalmente, por evidente, às suas
possibilidades. Assemelha-se, sem dúvida, a uma consignação em
pagamento e impede, em raciocínio prático, a propositura de uma
futura ação contra o devedor, obstando, assim, que sejam fixados
alimentos fora de suas condições em outra demanda”.

Logo, aquele que está obrigado a prestar os alimentos, também lei lhe confere a prerrogativa de
oferecê-los, voluntariamente ao credor, por meio da ação de oferecimento.

3 – PECULIARIDADES E CLASSIFICAÇÕES DOS ALIMENTOS

É importante mencionar no presente estudo algumas peculiaridades que cercam a ceara dos
alimentos, e que certamente será útil a boa compreensão da temática aqui abordada.

A primeira coisa que se faz necessário mencionar é que os alimentos são irrenunciáveis, ou seja,
pode o credor não exercer o seu direito de ir a juízo recebê-los, porém não pode renunciar o
direito aos alimentos, conforme o artigo 1.707 do CC dispõe:

Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o
direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão,
compensação ou penhora.

Note-se, também, que o artigo 1.707 do CC dispõe que os alimentos não podem ser objeto de
cessão, ou seja, o direito a alimentos é personalíssimo, por isso não pode ser cedido a terceiros.

Além do mais, os alimentos não podem ser compensados (compensação), em geral, a


compensação seria o abatimento de um crédito por uma dívida, neste caso, o sujeito é,
simultaneamente, credor e devedor, aí, a obrigação do pagamento da dívida é anulada para
ambas as partes, o que não se admite em matéria alimentar.

Os alimentos não podem ser penhorados, porque para que um crédito ou bem seja penhorado,
ele precisa ser passível de transferência a terceiros, e como já vimos, os alimentos não se
revestem dessa capacidade.

Resumidamente e esquematicamente os alimentos são:

Irrenunciáveis Intransmissíveis Incompensáveis Impenhoráveis

Além dessas peculiaridades, a jurisprudência acrescentou mais uma no direito a alimentos, que é
a irrepetibilidade, que significa que os alimentos que foram pagos e recebidos de boa-fé não
serão restituídos caso, posteriormente, se entenda que os alimentos não eram devidos. A
propósito:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL.


DANOS MATERIAIS E MORAIS. ALIMENTOS.
IRREPETIBILIDADE. DESCUMPRIMENTO DO DEVER DE
FIDELIDADE. OMISSÃO SOBRE A VERDADEIRA
PATERNIDADE BIOLÓGICA DE FILHO NASCIDO NA
CONSTÂNCIA DO CASAMENTO. DOR MORAL
CONFIGURADA. REDUÇÃO DO VALOR INDENIZATÓRIO. 1.
Os alimentos pagos a menor para prover as condições de sua
subsistência são irrepetíveis. 2. O elo de afetividade determinante
para a assunção voluntária da paternidade presumidamente legítima
pelo nascimento de criança na constância do casamento não invalida a
relação construída com o pai socioafetivo ao longo do período de
convivência. 3. O dever de fidelidade recíproca dos cônjuges é
atributo básico do casamento e não se estende ao cúmplice de traição a
quem não pode ser imputado o fracasso da sociedade conjugal por
falta de previsão legal. 4. O cônjuge que deliberadamente omite a
verdadeira paternidade biológica do filho gerado na constância do
casamento viola o dever de boa-fé, ferindo a dignidade do
companheiro (honra subjetiva) induzido a erro acerca de
relevantíssimo aspecto da vida que é o exercício da paternidade,
verdadeiro projeto de vida. 5. A família é o centro de preservação da
pessoa e base mestra da sociedade (art. 226 CF/88) devendo-se
preservar no seu âmago a intimidade, a reputação e a autoestima dos
seus membros. 6. Impõe-se a redução do valor fixado a título de danos
morais por representar solução coerente com o sistema. 7. Recurso
especial do autor desprovido; recurso especial da primeira corré
parcialmente provido e do segundo corréu provido para julgar
improcedente o pedido de sua condenação, arcando o autor, neste
caso, com as despesas processuais e honorários advocatícios.[5]

APELAÇÃO CIVEL. FAMÍLIA. AÇÃO DE RESTITUIÇÃO.


ALIMENTOS. IRREPETIBILIDADE. Os alimentos são irrepetíveis e
incompensáveis (artigo 1.707 do CC), e, uma vez pagos, não podem
ser devolvidos, seja mediante devolução própria ou mesmo imprópria
sob a forma de compensação de débitos.RECURSO DESPROVIDO.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE ALTERAÇÃO DE


GUARDA E ALIMENTOS. IRREPETIBILIDADE DA
OBRIGAÇÃO ALIMENTAR. PRECEDENTES.
LOCUPLETAMENTO INDEVIDO NÃO COMPROVADO. A
irrepetibilidade dos alimentos, ou princípio da não-devolução, decorre
da natureza do encargo. Inexistindo prova de que os valores recebidos
pela anterior guardiã a título de alimentos não foram utilizados para
essa finalidade, não há cogitar o acolhimento da pretensão a sua
devolução apenas considerando a data em que a alteração da guarda
foi perfectibilizada. A pretensão à devolução de valores
supervenientes não levada à apreciação do juízo de primeiro grau
transborda os limites do presente recurso, razão pela qual não é
conhecida nesta sede recursal, em observação à garantia do duplo grau
de jurisdição. AGRAVO DE INSTRUMENTO PARCIALMENTE
CONHECIDO E DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº
70066408931, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Sandra Brisolara Medeiros, Julgado em 02/12/2015).

Apenas para exemplificar: após a destituição da união conjugal, o cônjuge deixa o lar e por anos
paga os alimentos para o filho ou filha, e, depois descobre que não é pai/mãe daquele filho ou
filha, logo, os alimentos que foram pagos, não poderão ser requeridos de volta.

Pois bem, em questão de peculiaridades acredita-se que não se oferece mais dúvidas, uma vez
que foi tratado de todas as peculiaridades importantes sobre alimentos, agora, trataremos das
classificações e, contudo, para não deixar este estudo cansativo, sendo que o seu objetivo é ser
claro e pontual, trataremos apenas de duas classificações rapidamente a seguir:

Quanto a finalidade:

a. Definitivos: de maneira geral, os alimentos se tornam definitivos quando fixados por


sentença ou decisão emanada do Poder Judiciário, certamente passível de revisão,
porque conforme o art. 15 da Lei 5.478/68, a sentença sobre alimentos não transita em
julgado, podendo ser revista se houver modificação na situação financeira dos
interessados, portanto, a sentença não está coberta pelo manto da coisa julgada material.

b. Provisórios: o artigo 4º da Lei 5.478/1968, estabelece que ao despachar o pedido, o juiz


fixará desde logo alimentos provisórios a serem pagos pelo devedor, salvo se o credor
expressamente declarar que deles não necessita, trata-se de alimentos fixados
liminarmente, segundo o rito especial da Lei 5.478/1968, ou por meio dos artigos 300 e
seguintes do Código de Processo Civil Brasileiro.

4 – Como COBRAR os alimentos e quais são os critérios de fixação dos valores.

A forma de cobrar os alimentos do devedor é relativamente fácil, o interessado no recebimento


deverá comparecer, pessoalmente ou por meio de seu advogado, ao juizo competente, fazendo o
seu pedido de forma escrita, qualificando-se e expondo suas necessidades, provando apenas o
parentesco, ou a obrigação de alimentar do devedor, e os recursos de quem dispõe.

Em linhas iguais, dispõe o artigo 2º da Lei de Alimentos:

Art. 2º. O credor, pessoalmente, ou por intermédio de advogado,


dirigir-se-á ao juiz competente, qualificando-se, e exporá suas
necessidades, provando, apenas, o parentesco ou a obrigação de
alimentar do devedor, indicando seu nome e sobrenome, residência ou
local de trabalho, profissão e naturalidade, quanto ganha
aproximadamente ou os recursos de que dispõe.

Note-se que, a própria parte interessada pode ir a juízo e pleitear que o devedor de alimentos
faça os pagamentos, sem a necessidade inicial de um advogado, o que facilita a parte o exercer o
seu direito de receber os alimentos.

Outrossim, conforme art. 5º da Lei de Alimentos, dentro de 48 (quarenta e oito) horas, o


escrivão do juízo remeterá ao devedor a segunda via (de três) do pedido ou do termo,
juntamente com o despacho que fixa os alimentos provisórios, com a comunicação do dia e hora
da audiência conciliatória e de julgamento, tudo isso para que tão logo haja celeridade
processual e a parte necessitada receba os alimentos.

Nesta oportunidade, é bom esclarecer a forma como os alimentos são frequentemente fixados.
Para a fixação do quantum alimentar, deve-se levar em conta o princípio da proporcionalidade,
que está vinculado entre a necessidade do alimentando e a capacidade financeira do alimentante.

Sob esse aspecto, os doutrinadores Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald ensinam
que:
“Em qualquer hipótese, os alimentos devem viabilizar para o credor
uma vida digna, compatível com a sua condição social, em
conformidade com a possibilidade do devedor de atender ao encargo.
Vislumbra-se, assim, uma dualidade de interesses: a necessidade de
quem pleiteia e a capacidade contributiva de quem presta”.[8]

O ensinamento acima transcrito é a definição literal do binômio “necessidade/possibilidade”,


estampado, também, nos artigos 1.694, § 1º, e 1695, ambos do Código Civil Brasileiro, que
assim dispõem:

“Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir


uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo
compatível com a sua condição social, inclusive para atender às
necessidades de sua educação.

§ 1o Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades


do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada”.

“Art. 1.695. São devidos os alimentos quando quem os pretende não


tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria
mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem
desfalque do necessário ao seu sustento”.

Assim, os alimentos devem ser fixados com o fim de garantir que o alimentante possa pagá-los,
sendo certo que o binômio “necessidade/possibilidade”, é o patamar balizador para fixação dos
alimentos, já que é por intermédio dele que se pode avaliar a necessidade do alimentando e a
capacidade financeira do alimentante.

Ainda sobre a fixação de alimentos, estes devem ser fixados na proporção das necessidades do
reclamante e dos recursos da pessoa obrigada ao pagamento, aliás sobre esta mesma temática
ensina Yussef Said Cahali:

Para que exista a obrigação alimentar é necessário que a pessoa de


quem se reclamam os alimentos possa fornecê-los sem privação do
necessário ao seu sustento; se o devedor, assim, não dispõe senão do
indispensável à própria mantença, mostra-se injusto obrigá-lo a
privações acrescidas tão-só para socorrer o parente necessário.

Caso os alimentos fixados em sentença sejam considerados altos pelo alimentante ou estejam
fora de sua capacidade financeira, este pode pedir a sua revisão, isto porque a possibilidade de
revisão dos valores fixados a títulos de alimentos em sentença além de ser direito da parte
interessada previsto no art. 15 da Lei de Alimentos, vem sendo possibilitada pela pacífica
jurisprudência, mutatis mutandis:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ALIMENTOS. BINÔMIO


NECESSIDADE/POSSIBILIDADE. FILHO MENOR.
NECESSIDADE PRESUMIDA. POSSIBILIDADE DO GENITOR
RESTRITA. REDUÇÃO DO "QUANTUM" FIXADO. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO. Não obstante a necessidade do filho
menor seja presumida, a fixação de alimentos deve respeitar a
possibilidade do genitor, ainda que restrita, em atenção ao
binômio necessidade/possibilidade.

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL DE ALIMENTOS.


pretensão de redução. filha. menor. necessidade presumida. alteração
da situação financeira do alimentante que justifica redução maior.
TERMO INICIAL DA DATA DA CITAÇÃO. observância do
binômio NECESSIDADE/POSSIBILIDADE. RECURSO DA RÉ
NÃO PROVIDO. RECURSO DO AUTOR PROVIDO EM PARTE.
1. A fixação dos alimentos deve observar o binômio
necessidade/possibilidade, sendo de rigor a redução da pensão
alimentícia quando constatada a redução da capacidade
financeira do alimentante. 2. A redução dos alimentos é devida
desde a data da citação. Inteligência do artigo 13, §2°, da Lei n°
5.478/68, não sendo possível a repetição dos valores anteriormente
pagos. Precedentes”

Resumidamente, pode-se perceber que os alimentos devem ser fixados sempre em respeito ao
binômio “necessidade/possibilidade”, e poderá ser revisto caso ocorra alguma mudança na
situação financeira das partes interessadas.

Enfim, importa lembrar que os alimentos devidos e vencidos prescrevem em dois anos (art. 206,
§2º do CC), a partir da data em que se venceram, se não pretendidos pelo credor.

4.1. Critérios de fixação de alimentos para o ex-cônjuge

Em separado, necessário tratar da fixação de alimentos para o ex-cônjuge, mas apesar de na


relação matrimonial os alimentos devam ser fixados sempre em respeito ao binômio
“necessidade/possibilidade”, esse deve ser por tempo certo, porque a parte alimentada também
tem o dever de manter sua própria subsistência, se tiver capacidade de trabalhar.

Os alimentos não devem ser fixados ad aeternum, ou seja, eternamente, mesmo porque os
alimentos devidos entre ex-cônjuges devem ser fixados por prazo certo, suficiente para,
levando-se em conta as condições próprias do alimentado, permitir-lhe uma inserção no
mercado de trabalho em igualdade de condições com o alimentante.

Com efeito, este é o entendimento externado pela 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça
(STJ), confira-se:

CIVIL E PROCESSO CIVIL. ALIMENTOS DEVIDOS AO


EX-CÔNJUGE. PEDIDO DE EXONERAÇÃO.
POSSIBILIDADE. [...]. 2. Os alimentos devidos entre ex-
cônjuges devem ser fixados por prazo certo, suficiente para,
levando-se em conta as condições próprias do alimentado,
permitir-lhe uma potencial inserção no mercado de trabalho em
igualdade de condições com o alimentante. 3. [...] . Recurso
especial conhecido e provido.
Os alimentos fixados em favor do ex-cônjuge não é eterno, isto com o fim de se estimular a
independência financeira da pessoa necessitada, ao passo que não deve esta se beneficiar as
custas do alimentante.

Na mesma linha de entendimento, é a pacífica jurisprudência do Superior Tribunal da


Cidadania, ipsis litteris:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. ALIMENTOS.


PERPETUIDADE. IMPOSSIBILIDADE. SOLIDARIEDADE.
PARENTESCO. NOVO PEDIDO. FACULDADE. (...) 2. A regra é
que a obrigação alimentar devida à ex-companheira seja provisória,
fixando-se termo certo. 3. O fim da relação deve estimular a
independência de vidas e não o ócio, pois não constitui garantia
material perpétua, motivo pelo qual o pagamento de alimentos é regra
excepcional que exige interpretação restritiva. 4. O ordenamento
pátrio prevê o dever de solidariedade alimentar decorrente do
parentesco (arts. 1.694 e 1.695 do Código Civil), facultando-se à
alimentanda a possibilidade de formular novo pedido de alimentos
direcionado a seus familiares, caso necessário. 5. Recurso especial não
provido.

Leia-se, por fim, os alimentos fixados em âmbito matrimonial, diga-se de passagem, devem ser
fixados em caráter transitório e excepcional, a fim de que não se imponha ao alimentante um
encargo eterno para manter a vida de seu ex-cônjuge.

5 – A Prisão CIVIL do devedor de alimentos.

Como estudado acima, os alimentos devem ser fixados de forma a possibilitar que o devedor
cumpra com o encargo, entretanto, isso não quer dizer que a parte obrigada ao pagamento se
dignará de cumpri-lo.

Mas há consequências para o devedor de alimentos que se nega ao pagamento, ou que sendo
determinado o seu pagamento, faça uma justificativa que não é aceita pelo juiz da causa.

A consequência acima é a decretação da prisão civil do devedor, única modalidade de prisão


civil admitida no ordenamento jurídico brasileiro até o momento, e que tem grande eficácia, já
que na maior parte das vezes o devedor paga a dívida de alguma forma para não ser enviado ao
cárcere.

Para fortalecer o argumento acima mencionado, note-se os ensinamentos de Pablo Stolze


Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho, abaixo transcrito:

A prisão civil decorrente de inadimplemento voluntário e inescusável


de obrigação alimentar, em face da importância do interesse em tela
(subsistências do alimentando), é, em nosso entendimento, medida das
mais salutares, pois a experiência nos mostra que boa parte dos réus só
cumpre a sua obrigação quando ameaçada pela ordem de prisão.

Importantíssimo lembrar, que não se trata de prisão em razão de prática de crime, mas sim, da
decretação da prisão civil por conta do inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação
alimentícia.

A Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso LXVII, prevê que é possível a decretação da
prisão civil, in verbis:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável


pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação
alimentícia e a do depositário infiel;

Na mesma vereda, assim dispõe o artigo 528 do Código de Processo Civil:

Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de


prestação alimentícia ou de decisão interlocutória que fixe alimentos,
o juiz, a requerimento do exequente, mandará intimar o executado
pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez
ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo.

§ 1º Caso o executado, no prazo referido no caput, não efetue o


pagamento, não prove que o efetuou ou não apresente justificativa da
impossibilidade de efetuá-lo, o juiz mandará protestar o
pronunciamento judicial, aplicando-se, no que couber, o disposto no
art. 517.

§ 2º Somente a comprovação de fato que gere a impossibilidade


absoluta de pagar justificará o inadimplemento.

§ 3º Se o executado não pagar ou se a justificativa apresentada não for


aceita, o juiz, além de mandar protestar o pronunciamento judicial na
forma do § 1º, decretar-lhe-á a prisão pelo prazo de 1 (um) a 3 (três)
meses.

§ 4º A prisão será cumprida em regime fechado, devendo o preso ficar


separado dos presos comuns.

§ 5º O cumprimento da pena não exime o executado do pagamento


das prestações vencidas e vincendas.

Esta prisão civil, convém salientar, não pode ocorrer por mais de uma vez por conta do mesmo
débito alimentar, para evitar o bis in idem, que é a dupla sanção para o mesmo fato, de modo
que seria desproporcional e injusta a prisão de devedor duas vezes e pelo mesmo acontecimento.

A cobrança de dívida alimentícia pode se dar de duas formas, quais sejam: através do rito
insculpido no artigo 528 do Código de Processo Civil (permite a prisão do devedor, que visa a
cobrança das três parcelas anteriores ao ajuizamento da demanda, mais daquelas que forem se
vencendo no curso do processo), e artigo 523 do mesmo diploma processual (permite penhora
de eventuais valores depositados em instituições financeiras, imposição de restrição em veículos
e outros meios constritivos, que visa a cobrança das parcelas que sãos anteriores às três ultimas
vencidas).
No mais, conforme Súmula 309 do STJ, o débito alimentar que autoriza a prisão civil do
alimentante é o que compreende as três parcelas anteriores ao ajuizamento da execução de
alimentos e as que se vencerem no curso do processo.

Portanto, resta claro que caso o devedor de alimento não pagar as prestações devidas por três
meses, dará a parte interessada o direito de requerer por meio de execução o seu cumprimento,
sendo, inclusive, possível a inscrição do nome do devedor no órgão de restrição de crédito,
conforme §1º, do art. 528 e §3º, do art. 782, todos do CPC, além de ser decretada a sua prisão.

6 – OS ALIMENTOS GRAVÍDICOS.

Antes de chegarmos à reta final do tema alimentos, que se dará por uma breve passada na
revisão, exoneração e extinção do dever de alimentar, é de boa prática abortar os alimentos
gravídicos que também são importantes neste estudo.

Os alimentos gravídicos estão previstos na Lei 11.804/2008, e cuida-se de lei curta que possui
apenas 12 artigos, sendo que os artigos 3 a 5, 8 a 10 foram vetados, restando apenas 6 artigos
ainda vigentes.

Os alimentos gravídicos é o direito que a gestante tem à percepção da prestação de alimentos


durante a gestação que corresponde as despesas que deverá ser custeada pelo futuro pai,
conforme dispõe o artigo 2º da Lei 11.804/2008:

Art. 2º. Os alimentos de que trata esta Lei compreenderão os valores


suficientes para cobrir as despesas adicionais do período de gravidez e
que sejam dela decorrentes, da concepção ao parto, inclusive as
referentes a alimentação especial, assistência médica e psicológica,
exames complementares, internações, parto, medicamentos e demais
prescrições preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do
médico, além de outras que o juiz considere pertinentes.

Parágrafo único. Os alimentos de que trata este artigo referem-se à


parte das despesas que deverá ser custeada pelo futuro pai,
considerando-se a contribuição que também deverá ser dada pela
mulher grávida, na proporção dos recursos de ambos.

A doutrina, por sua vez, teceu duríssimas críticas a Lei 11.804/2008, em virtude da terminologia
do uso do nome “alimentos gravídicos”, conforme observa Silmara Juny Chinellato:

A recente Lei n. 11.804, de 5 de novembro de 2008, que trata dos


impropriamente denominados “alimentos gravídicos” – desnecessário
e inaceitável neologismo, pois alimentos são fixados para uma pessoa
e não para um estado biológico da mulher – desconhece que o titular
do direito a alimentos é o nascituro, e não a mãe, partindo da premissa
errada, o que repercute no teor da lei.

Concordando com o posicionamento acima, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho
sustentam ser muito mais técnico conhecer a lei como dos “alimentos do nascituro”. A
terminologia utilizada para denominar a mencionada Lei não muito importa, já que tal fato não
vai determinar a sua efetividade, o que importa, nestes caso, é se a lei é ou não aplicada em
efetividade para tutelar o direito das partes.

Continuando, o processo judicial para fixação dos alimentos gravídicos, geralmente, segue o
mesmo rito da previso na Lei de Alimentos, com diferença apenas na fixação da verba mensal,
pois é suficiente apenas os indícios da paternidade, mesmo porque dentro do casamento existe
uma presunção de paternidade, quer dizer, o pai da criança é aquele casado com a mãe.

Os critérios de fixação dos alimentos gravídicos, assim como para o estabelecimento de pensão
alimentícia em outros casos de alimentos, é o do binômio “necessidade/possibilidade”, ou seja,
serão levadas em consideração as efetivas necessidades do nascituro e da grávida, bem como as
condições financeiras do suposto genitor.

É importante mencionar, que valor da prestação alimentar no caso dos alimentos gravídicos,
nunca pode ultrapassar os gastos relativos à gravidez, isto é, o juiz deverá estar atento para que
a gestante não use aquela prestação alimentícia para “fomentar futilidades, luxo e ostentação,
ainda que visível a riqueza do suposto genitor.

Outra questão importante, relativamente ao não pagamento da prestação alimentar em casos de


alimentos gravídicos, de igual forma que ocorre nos outros casos, o devedor também pode ser
preso por sua inadimplência.

Tanto é verdade a alegação acima, que o Enunciado 522 – V Jornada de Direito Civil – CJF,
dispõe também sobre a prisão civil do devedor nos casos de não prestação de alimentos
gravídicos:

Cabe prisão civil do devedor nos casos de não prestação de alimentos


gravídicos estabelecidos com base na Lei 11.804/2008, inclusive
deferidos em qualquer caso de tutela de urgência.

Aliás, sobre os filhos havidos fora do casamento, entretanto, não há presunção de paternidade, o
que se exige é o reconhecimento voluntário da paternidade, e que não se admite o
arrependimento (art. 1.609 e 1.610, do CC).

Em resumo, são devidos os alimentos gravídicos ao nascituro (aquele que há de nascer) pelo seu
futuro pai, para o fim de cobrir as despesas adicionais do período de gravidez e que sejam dela
decorrentes, inclusive as referentes a alimentação especial, assistência médica e psicológica,
exames complementares, internações, ou seja, toda despesa necessária a boa gestação e
preservação da saúde da gestante e do nascituro.

7 – REVISÃO, EXONERAÇÃO E EXTINÇÃO DO DEVER DE PAGAR ALIMENTOS

A possibilidade de revisão, exoneração ou extinção do devedor de pagar os alimentos esta


prevista no artigo 1.699 do Código Civil, e ocorre quando sobrevier mudança na situação
financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, senão confira-se o teor do artigo:

Art. 1.699. Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação


financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o
interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração,
redução ou majoração do encargo.

Registre-se que, a revisão, exoneração e extinção o dever de prestar alimentos estão sujeitos a
decisão judicial, não podendo ser exercidos de forma voluntária pela parte, que deixando de
cumprir com o encargo sem autorização legal, incorre nas penas da lei.

O pedido de revisão dos alimentos deve ser feito por ação judicial autônoma, isto quer dizer que
não será feito no mesmo processo que fixou os alimentos, ao passo que o pedido revisional
compreende não só a diminuição como também o pedido de aumento da prestação alimentícia.
A exoneração do dever de pagar alimentos, por seu turno, é a cessação da obrigação de prestar
alimentos, seja porque o credor deles não mais necessita, seja porque o devedor não possui mais
qualquer recurso financeiro para o pagamento, e, veja-se, não se confunde exoneração com
extinção, sendo que essa tem ocorrência no seguinte dispositivo do Código Civil:

Art. 1.708. Com o casamento, a união estável ou o concubinato do


credor, cessa o dever de prestar alimentos.

Parágrafo único. Com relação ao credor cessa, também, o direito a


alimentos, se tiver procedimento indigno em relação ao devedor.

A razão constante no artigo 1.708 do Código Civil não é de difícil entendimento, mas merece
comentário, caso o credor de alimentos venha a se casar, ou contrair união estável, esse estará
estabelecendo nova família, presumindo-se que irá assumir as obrigações do lar de forma
autônoma, e dos alimentos não mais necessita.

Já a disposição contida no parágrafo único do referido artigo, é uma causa de extinção dos
alimentos, porque imagine-se, se o credor de alimentos tenta contra a vida do devedor,
alimentante, há certo desequilíbrio na relação, pois o credor não deve tentar ceifar a vida
daquele que lhe presta o auxílio, e mantem a sua subsistência. Trata-se de caso de indignidade
do credor para com o devedor dos alimentos.

Desta maneira, a lei confere não apenas ao credor de alimentos o direito ao recebimento da
prestação, inclusive com revisão se for o caso, mas também concede ao devedor meios de
provar que o credor dos alimentos não mais necessita, extinguindo-o ou exonerando-o do
encargo.

A execução dos alimentos

Não houve expressa revogação e nem qualquer alteração no Capítulo V do Titulo II do Livro II,
do CPC que trata "Da Execução de Prestação Alimentícia". Também não há nenhuma referência
à obrigação alimentar nas novas regras de cumprimento de sentença, inseridas nos Capítulos IX
e X do Título VIII do Livro I: "Do Processo de Conhecimento" (CPC, arts. 475-A a 475-R).

Em face disso, boa parte da doutrina sustenta que à execução de alimentos não tem aplicação a
nova lei. Um punhado de justificativas impõe que se reconheça como inadequada esta postura.
A cobrança de quantia certa fundada em sentença não mais desafia processo de execução
específico. O credor só necessita ajuizar execução autônoma quando dispuser apenas de um
título executivo extrajudicial.

Há um fundamento que põe por terra qualquer tentativa de emprestar sobrevida à execução por
quantia certa de título executivo judicial relativo a alimentos. O Capítulo II do Título III do
Livro II, do CPC, que se intitulava: "Dos Embargos à Execução Fundada em Sentença", agora
se denomina: "Dos Embargos à Execução contra a Fazenda Pública". Ou seja, não existem mais
no estatuto processual pátrio embargos à execução de título judicial. Esse meio impugnativo só
pode ser oposto na execução contra a Fazenda Pública. A vingar o entendimento que empresta
interpretação literal ao art. 732 do CPC, chegar-se-ia à esdrúxula conclusão de que o devedor de
alimentos não dispõe de meio impugnativo, pois não tem como fazer uso dos embargos à
execução.

Os alimentos podem e devem ser cobrados pelo meio mais ágil. O fato de a lei ter silenciado
sobre a execução de alimentos não pode conduzir à idéia de que a falta de modificação dos arts.
732 e 735 do CPC impede o cumprimento da sentença. A omissão não encontra explicação
plausível e não deve ser interpretada como intenção de afastar o procedimento mais célere e
eficaz logo da obrigação alimentar, cujo bem tutelado é exatamente a vida.

Finalmente, cabe lembrar que a nova sistemática não traz prejuízo algum ao devedor de
alimentos, pois a defesa pode ser deduzida, com amplitude, por meio da impugnação (CPC, art.
475-L), que corresponde aos embargos que existiam na legislação revogada (CPC, art. 741). A
impugnação pressupõe a penhora e avaliação de bens, ou seja, é necessária a segurança do juízo
(CPC, art. 475-J, § 1º). Ademais, como não dispõe de efeito suspensivo (CPC, art. 475-M), a
impugnação não vai poder ser usada com finalidade exclusivamente protelatória, como ocorria
com os embargos à execução. De qualquer modo, às claras, continuará sendo aceitas as famosas
exceções de pré-executividade, criação pretoriana que entrava ainda mais a satisfação do credor.

A sentença que impõe o pagamento de alimentos dispõe de carga eficacial condenatória, ou


seja, reconhece a existência de obrigação de pagar quantia certa (CPC, art. 475-J). O
inadimplemento não pode desafiar execução por quantia certa contra devedor solvente, uma vez
que essa forma de cobrança não mais existe, sendo possível somente ser buscado o
cumprimento da sentença nos mesmos autos da ação em que os alimentos foram fixados (CPC,
art. 475-J). Portanto, o crédito alimentar está sob a égide da Lei 11.232/05. Houve mero
descuido do legislador ao não retificar a parte final dos arts. 732 e 735 do CPC e fazer remissão
ao Capítulo X, do Título VII: "Do Processo de Conhecimento". A omissão, mero cochilo ou
puro esquecimento não pode levar a nefastos resultados.

O rito da coação pessoal

A Constituição Federal excepciona o dever alimentar da vedação de prisão por dívida (CF, art.
5º, LXVII). O meio de dar efetividade a esse permissivo constitucional encontra previsão no art.
19 da Lei de Alimentos e no art. 733 do CPC, que estão em plena vigência. As alterações
introduzidas no CPC não revogaram o meio executório da coação pessoal.

Quando se trata de alimentos estabelecidos em sentença definitiva, o pagamento pode ser


buscado nos mesmos autos. Sujeita a sentença a recurso que não dispõe de efeito suspensivo
(CPC, art. 520, II), o cumprimento depende de procedimento autônomo, nos moldes da
execução provisória (CPC, art. 475-O). Em ambas as hipóteses possui o credor a faculdade de
optar: pedir a intimação do devedor para pagar em quinze dias para evitar a incidência da multa
(CPC, art. 457-J) ou requerer sua citação para pagar em três dias sob pena de prisão (CPC, art.
733). Caso o devedor proceda ao pagamento nos respectivos prazos, não há incidência da multa.

A escolha por uma ou outra modalidade de cobrança está condicionada ao período do débito, se
vencido ou não há mais de três meses. No que diz com a dívida pretérita, a forma de cobrar é
por meio do cumprimento da sentença: intimação do devedor para que pague em quinze dias.
Não realizado o pagamento, incide a multa, e o credor deve requerer a expedição de mandado de
penhora e avaliação (CPC, art. 475-J). Rejeitada a impugnação (CPC, art. 475-L), igualmente,
incide a multa. Penhorado dinheiro é possível mensalmente o levantamento do valor da
prestação (CPC, art. 732, parágrafo único). Como se trata de crédito alimentar, descabe a
imposição de caução, a não ser que o valor da dívida seja superior a sessenta salários mínimos e
não tenha demonstrado o credor situação de necessidade (CPC, art. 475-O, § 2º, II).

Com relação às parcelas recentes, ou seja, se o débito for inferior a três meses, o credor pode
fazer uso do rito do art. 733 do CPC. Ainda que o pedido possa ser formulado nos mesmos
autos, mister a citação pessoal do devedor para que proceda ao pagamento, no prazo de três
dias. Não paga a dívida ou rejeitada a justificação apresentada, expedir-se-á mandado de prisão.
Sobre o valor do débito não se incorpora a multa. Embora a lei diga que o montante da
condenação será acrescido de multa no percentual de 10% (CPC, art. 475-J), tal encargo não
integra a obrigação alimentar quando o pagamento é exigido sob pena de prisão. Descabe dupla
sanção. No entanto, cumprida a prisão e não feito o pagamento, como a execução prossegue
pelo rito do cumprimento da sentença (CPC, art. 475-J), a multa incide sobre a totalidade do
débito.

A cobrança dos alimentos definitivos pode ser levada a efeito nos mesmos autos, seja por meio
do cumprimento da sentença ou da execução por coação pessoal. Pretendendo o credor fazer uso
de ambos os procedimentos, isto é, quando quiser cobrar tanto as parcelas vencidas há mais de
três meses como a dívida recente, mister que o pedido de execução sob a modalidade de prisão
seja veiculado em apartado. Nos mesmos autos será buscado o cumprimento da sentença. A
diversidade de rito entre as duas formas de cobrança certamente retardaria o adimplemento da
obrigação se processadas em conjunto.

Quanto aos alimentos provisórios ou provisionais fixados liminar ou incidentalmente, também é


possível o uso de qualquer das modalidades executórias. Nada obsta que busque o credor a
cobrança por meio de procedimentos distintos, um para a cobrança das parcelas vencidas há
mais de três meses e outro para a dívida mais recente. No entanto, a cobrança não pode ser
processada nos mesmos autos, para não obstaculizar o andamento da ação. O pedido será levado
a efeito em outro procedimento, nos moldes da execução provisória (CPC, art. 475-O).

Da mesma forma é cabível a execução da sentença sujeita a recurso (CPC, art. 475-I, § 1º).
Como a apelação que condena à prestação de alimentos dispõe do só efeito devolutivo (CPC,
art. 520, II e LA, art. 14), pode haver a busca do pagamento antes de os alimentos tornarem-se
definitivos. A cobrança deverá ser feita tal qual a execução provisória (CPC, art. 475-O).

Também aqui a escolha do rito vai depender do prazo do inadimplemento. Intimado o devedor e
não feito o pagamento em 15 dias, passa a incidir a multa de 10%. Ao credor cabe requerer a
expedição de mandado de penhora e avaliação, já indicando bens para garantir a segurança do
juízo (CPC, art. 475-J). No entanto, se preferir o credor o rito da coação pessoal, mister que o
réu seja citado para pagar em três dias, provar que pagou ou justificar a impossibilidade de fazê-
lo (CPC, art. 733).

Sobre alimentos provisórios ou provisionais, incide a multa de 10%. Ainda que a lei faça
referência à "condenação" (CPC, 475-J), não se pode retirar o caráter condenatório dos
alimentos fixados em sede liminar. Basta lembrar que se trata de obrigação pré-constituída e que
os alimentos são irrepetíveis. O pagamento precisa ser feito mesmo que os alimentos não sejam
definitivos. Ainda que o valor do encargo venha a ser diminuído ou afastado, tal não livra o
devedor da obrigação de proceder ao pagamento das parcelas que se venceram neste ínterim.
Não admitir a incidência da multa pelo fato de os alimentos não serem definitivos só estimularia
o inadimplemento e a eternização da demanda.

Pela natureza da dívida não é possível concluir que a omissão do legislador, em atualizar os
dispositivos que regulam a execução dos alimentos, desautoriza o uso da forma simplificada e
célere que as reformas visaram implementar.

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