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AÇÃO DE ALIMENTOS: OBRIGAÇÃO DE PRESTAR

ALIMENTOS PELOS AVÓS – OBRIGAÇÃO AVOENGA


FOOD ACTION: OBLIGATION TO PROVIDE FOOD FOR
GRANDPARENTS – GRANDMOTHER OBLIGATION

Gabriel Rolim, Guilherme Passos Maroco

Área do Direito: Família

Resumo: o presente artigo pretende examinar a ação de alimentos no Brasil,


observando a possibilidade de, com o esgotamento das tentativas de solicitar
alimentos à primeira opção (um dos pais), recorrer aos avós.
Palavras-chave: Família; ação de alimentos; necessidade x possibilidade;
obrigação avoenga.
Abstract: This article intends to examine the action of food in Brazil, noting the
possibility that, with the exhaustion of attempts to request food from the first
option (one of the parents), turning to grandparents.
Keywords: Family; food action; necessity x possibility; grandfather obligation.

Sumário: 1 - Introdução à ação de alimentos; 2 - Explorar o binômio


necessidade x possibilidade; 3 – A prestação de alimentos sendo
responsabilidade subsidiária dos avós.

Introdução
A ação de alimentos tem cabimento quando o autor, ou autores,
necessitar (em) seja fixado judicialmente pensão alimentícia, com escopo de
prover suas necessidades fundamentais, tais como: alimentação, moradia,
assistência médica, educação, vestuário, remédios etc.
Na maioria das vezes, os autores são crianças e mulheres em face,
respectivamente, do genitor e ex-marido ou companheiro. Todavia, é
conveniente registrar que a Lei de Alimentos não traz essa limitação, isto é, a
ação pode ser intentada por qualquer pessoa, seja criança, idoso, mulher,
homem, que precise da pensão alimentícia, em face de quem tem a obrigação
de prestá-la, normalmente um parente próximo.
Observe-se, por fim, que a parte obrigada a prestar os alimentos pode
tomar a iniciativa de oferece-los, ajuizando ação em que declare seus
rendimentos e requerendo a designação de audiência de conciliação, instrução
e julgamento, destinada à fixação da pensão alimentícia a que está obrigado
(art. 24, Lei nº 5.478/68).
Como base legal, o direito de pedir alimentos aos parentes, cônjuge e
companheiro encontra amparo nos arts. 1.694 a 1.710 do Código Civil, sendo
que a “ação de alimentos” encontra-se disciplinada na Lei nº 5.478/68-LA.
A Lei de Alimentos prevê rito especial, sumaríssimo, para ação de
alimentos, qual seja: petição inicial; citação; audiência de conciliação, instrução
e julgamento; sentença.

https://alpn00.jusbrasil.com.br/artigos/550530317/acao-de-alimentos
http://andreleaoadvogado.com/2018/02/ação-de-alimentos/
Referência Bibliográfica:
Jr., ARAUJO, Gediel de. Prática no Processo Civil, 22ª edição. Atlas, 01/2018.
VitalBook file.
André Leão – Advogado e Mediador/Conciliador pelo TJPA

1. A aplicação do binômio necessidade x possibilidade


A pensão alimentícia pode ser considerada como uma prestação a título
de subsistência para suprir as necessidades do alimentado.
A pensão terá que ser ponderada de acordo com o binômio necessidade
x possibilidade, conforme descrito no §1º do art. 1.694 do Código Civil.
Vejamos:
“Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do
reclamante e dos recursos da pessoa obrigada”.
A aplicação do binômio necessidade x possibilidade deverá ser
acompanhada de equidade para que não haja encargo excessivamente
oneroso para o alimentante, bem como para que os valores pagos não
oportunizam enriquecimento sem causa do alimentado.
No tocante aos alimentos, o art. 1.703 do Código Civil descreve que
“para a manutenção dos filhos, os cônjuges separados judicialmente
contribuirão na proporção de seus recursos”.
Insta salientar que, mesmo nos casos onde os pais são solteiros haverá
a necessidade de tratar sobre os direitos e deveres em relação aos filhos.
É necessário se atentar para o fato de que, mesmo após o fim do
relacionamento, os pais deverão proporcionar aos filhos a continuidade do
padrão de vida.
No diasapão, o Tribunal de Santa Catarina entendeu que há a
necessidade de adequação do quantum alimentar. Vejamos:
“A fixação dos alimentos provisórios deve atender ao binômio
necessidade x possibilidade. Comprovado que o Alimentante possui elevado
padrão de vida, com sinais exteriores de riqueza, a majoração do quantum
alimentar é medida que se impõe, adequando-se o binômio
necessidade/possibilidade, devidamente conjugado com a proporcionalidade”.
(TJ-SC – AG: 20140018323 SC 2014.001832-3 (Acórdão), Relator: João
Batista Góes Ulysséa, Data de Julgamente: 12/11/2014, Segunda Câmara de
Direito Civil Julgado).
Nesse caso, a pensão alimentícia deverá atender as necessidades
básicas do alimentado e o padrão de vida do alimentante.

2. A prestação de alimentos sendo responsabilidade


subsidiária dos avós
A pensão alimentícia é uma obrigação que compete a ambos os pais,
sendo certo que tal prestação deverá ser equitativa entre pai e mãe.
A obrigação de cuidar e dar assistência aos filhos menores foi tutelada
pela Constituição Federal em seu art. 229. Vejamos:
“Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os
filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou
enfermidade”.
Desse modo, cabe aos pais o cuidado de assistir seus filhos. Todavia,
nos casos onde não há possibilidade de os genitores arcarem com a obrigação
da prestação alimentar, poderão os avós serem responsabilizados de forma
subsidiária ou complementar na proporção dos seus recursos.
Assim, depreende respectivamente os arts. 1.686 e 1.698, ambos do
Código Civil:
Art. 1.698. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e
filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais
próximos em grau, uns em falta de outros.
Art. 1.698. Se o parente, que devemos alimentos em primeiro lugar, não
estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a
concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar
alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e,
intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar
a lide.
Insta salientar que, a obrigação de prestar alimentos pelos avós é uma
obrigação subsidiária, chamada de obrigação avoenga. Assim, não é possível
cobrar diretamente dos avós os alimentos, sem antes pleitear do genitor
responsável pelo pagamento, pois este possui, primeiramente, o dever de
pagar.
É necessário que haja diversas tentativas em face dos genitores, após,
sendo estas frustradas, a obrigação deverá recair em face dos avós maternos e
paternos na proporção de seus respectivos rendimentos.
Nesse sentido, vejam-se:
“A obrigação dos avós de prestar alimentos aos netos é subsidiária e
complementar, tornando imperiosa a demonstração da inviabilidade de prestar
alimentos pelos pais, mediante o esgotamento dos meios processuais
necessários à coerção do genitor para o cumprimento da obrigação alimentar,
inclusive por meio da decretação da sua prisão civil, prevista no art. 733 do
CPC, para só então ser possível o redirecionamento da demanda aos avós”.
(AgInt no AREsp 740.032/BA, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
TERCEIRA TURMA, julgado em 21/09/2017, DJe 02/10/2017.)
Consoante esse entendimento, o Superior Tribunal de Justiça (STJ),
criou a súmula 596 em novembro de 2017. Vejamos:
“A obrigação alimentar dos avós tem natureza complementar e
subsidiária, somente se configurando no caso de impossibilidade total ou
parcial de seu cumprimento pelos pais”.
Nas palavras de Youssef Cahali, “O avô só está obrigado a prestar
alimentos ao neto se o pai deste não estiver em condições de concedê-lo,
estiver incapacitado ou for falecido; assim, é necessária a prova de que o mais
próximo não pode satisfazê-la”.
Assim, levando em consideração o entendimento supracitado, a
obrigação alimentar atribuída aos avós, será ser fixada no sentido de atender
as necessidades básicas dos netos.
É importante se atentar ao fato de que, se os genitores forem menores
de idade, a obrigação de prestar alimentos será dos pais dos mesmos, ou seja,
dos avós da criança.

https://direitoreal.com.br/artigos/direito-de-familia-pensao-alimenticia-e-a-
responsabilidade-subsidiaria-dos-avos
Leicimar Morais – Advogada e Pós-Graduanda em Direito Processual Civil
3. Complementação do valor dos alimentos pelos avós
A doutrina e a jurisprudência entendem que há a possibilidade de o valor
econômico que dispõe o responsável pelo pagamento não é suficiente para
arcar com a pensão alimentícia.
Nesse caso, é proposto que os avós complementem o valor, pelo
instituto do chamamento ao processo.
Não existe ordem obrigatória quanto aos avós maternos e paternos,
sendo aqueles que tiverem maiores possibilidades, há de integrar a lide.
Nesse sentido, ao exigir o pagamento dos alimentos, o menor deve
comprovar a situação atual de seus genitores e ascendentes.
A finalidade disso é para que componham e realizem devidamente o
dever de sustenta-lo, cabendo aos avós apenas a título de complementação.
Por isso, ouve-se muito falar que algumas pessoas recebem alimentos
duplos.
Ou seja, dos avós e dos pais. Na verdade, é apenas uma pensão
alimentícia prestada pelo genitor, com complemento no valor pelos avós.

4. O que necessita para que os avós complementem o valor


dos alimentos
Será demandado inicialmente na ação o pai, requerido pelo neto.
Tendo em vista a insuficiência econômica do pai, a participação dos
avós será demandada, fixando a obrigação avoenga e formando o litisconsorte
passivo sucessivo.
Para que isso ocorra, é necessária a prova produzida para fins de
comprovação da falta de recurso pelo genitor.
A própria prestação fixada e a renda do genitor servirão como base para
determinar a presença de insuficiência de recurso alegada para que os avós
complementem o valor que falta.
Assim, com a complementação pelos avós, não haverá a privação do
sustento da criança, fixando a obrigação alimentar por ambos (pai e avós) em
face do filho/neto.

5. Os avós e a obrigação de pagar alimentos gravídicos


Com a maior parte da doutrina favorável à aplicação do instituto, é
plenamente possível a cobrança de alimentos gravídicos em face dos avós.
Os alimentos gravídicos estão disciplinados pela Lei nº 11.804/08,
conferindo em seu rol, a gestante tem o direito de respaldo pelo genitor
referente às necessidades da gravidez. Ou seja, o custeio das despesas
necessárias até o nascimento da criança.
A concessão dos alimentos se dará pelo convencimento formulado pelo
juiz, como também pelos indícios de paternidade expressa apresentada pela
genitora, como prova do vínculo entre as partes.
Serão utilizados como critério para fixação do montante de alimentos,
sendo que, após o nascimento, serão convertidos em pensão alimentícia em
favor do menor.
Assim, a obrigação dos avós de efetuar o pagamento de alimentos
gravídicos decorrerá da comprovação de três requisitos: indícios de
paternidade expressa; indícios de grau de parentesco com os avós, vínculo de
suma importância ao direito de família, sendo subsidiária e complementar;
esgotar todas as possibilidades de pagamento pelo genitor.

6. Os avós e a possibilidade de prisão na inadimplência pelo


pagamento da pensão alimentícia
Não existem privilégios na execução de alimentos com relação aos avós.
Dessa forma, com a persistência da inadimplência pelo pagamento da pensão
alimentícia do menor, o juiz tomará as providências necessárias, incluindo a
prisão civil do devedor.
Com a alteração do Código Civil, a prisão civil do devedor de alimentos é
atualmente a única forma de prisão pelo âmbito cível.
Com a fixação dos alimentos em face dos avós em caso de
descumprimento da ordem, a inadimplência gerará a possibilidade de prisão.
Isso acontece como resguardo ao alimentado para que ocorra o pagamento.
Entretanto, vale ressaltar que, para garantir a integridade física e
psicológica dos avós, a medida de prisão, apesar de ser a única forma de
obrigação ao devedor de saldar sua dívida, deverá ser decretada com cautela.
Essa medida leva em consideração a idade avançada e condições de saúde,
por vezes debilitada, para que não se transforme em pena cruel e de caráter
desumano.

https://moraesmonteiro.com.br/obrigacao-avoenga-pensao-alimenticia/
Referências
CAHALI, Youssef Said. Dos Alimentos. 6 ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2009.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 5. ed. Revista dos
Tribunais. São Paulo, Editora dos Tribunais, 2009.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 6. ed. Revista dos
Tribunais. São Paulo, Editora dos Tribunais, 2010.
STJ, HC nº 566.897/ PR (2020/0068179-5), Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe
19/03/2020. REsp 831.497/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA

Caso concreto
E assim é o entendimento unânime da jurisprudência:
DIREITO DE FAMÍLIA. ALIMENTOS PROVISÓRIOS. AVÓ PATERNA.
MENORES CREDORES DE ALIMENTOS DOS PAIS.
COMPLEMENTARIEDADE. Os avós têm "obrigação de manter o sustento dos
netos quando demonstrado que os pais não reúnem condições de prover a
subsistência do filho quando comprovado que os alimentos prestados pelos
genitores não satisfazem às reais necessidades do infante"
(20060020094854AGI, Relator J.J. COSTA CARVALHO). Todavia, trata-se de
responsabilidade de natureza sucessiva e complementar (Código Civil, art.
1698).” (20090020014284AGI, Relator WALDIR LEÔNCIO C. LOPES JÚNIOR,
2ª Turma Cível, Tribunal de Justiça do DF e T julgado em 27/04/2009).
EMENTA: AÇÃO DE ALIMENTOS - AÇÃO MOVIDA CONTRA A AVÓ
PATERNA - VALOR ARBITRADO DENTRO DA POSSIBILIDADE DA AVÓ -
SENTENÇA MANTIDA. - A regra do art. 1.696 do CC permite que a pensão
seja cobrada dos ascendentes mais remotos, caso os mais próximos estejam
impossibilitados de fazê-lo, obedecido, sempre, ao binômio
necessidade/possibilidade (AC nº 1.0194.08.090898-2/001 (1). Relator: Exmo.
Sra. Des. VANESSA VERDOLIM HUDSON ANDRADE, Tribunal de justiça de
MG, julgado em 17/11/ 2009.
EMENTA: ALIMENTOS. CARÁTER EXCEPCIONAL DA OBRIGAÇÃO
AVOENGA. 1. Compete a ambos os pais a obrigação de prover o sustento dos
filhos. 2. A obrigação alimentária dos avós é excepcional e além de reclamar a
ausência absoluta de condições dos genitores para atender as necessidades
básicas do alimentando, reclama também a possibilidade dos avós de
contribuírem sem desfalque do necessário ao próprio sustento deles. Recurso
desprovido. (SEGREDO DE JUSTIÇA) (Apelação Cível Nº 70010258267,
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de
Vasconcellos Chaves, Julgado em 23/02/2005)
EMENTA: CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL.
ALIMENTOS. AVÓS. RESPONSABILIDADE SUCESSIVA E
COMPLEMENTAR. PRECEDENTES. RECONHECIMENTO DA
IMPOSSIBILIDADE DE PRESTAÇÃO PELO PAI PERANTE A INSTÂNCIA
RECURSAL ORDINÁRIA. VALOR DOS ALIMENTOS. REVISÕES QUE
DEPENDEM DE INCURSÃO NA MATÉRIA FÁTICA DA LIDE (SÚMULA 7 DO
STJ). I. Nos termos da jurisprudência consolidada do STJ, a responsabilidade
dos avós em prestar alimentos é sucessiva e complementar. II. Tendo a corte
local reconhecido a impossibilidade do pai em prover os alimentos, rever o
referido posicionamento quanto à sua capacidade impõe reexame da matéria
fática da lide, o que é vedado em sede de recurso especial, conforme o
enunciado nº 7 da Súmula do STJ. III. A revisão do valor dos alimentos fixado
pelas instâncias ordinárias esbarra, igualmente, no reexame de matéria fática
da lide (Súmula 7/STJ). IV. Recurso especial não conhecido (Superior Tribunal
de Justiça, REsp 858506 / DF, 4ª T., j. 20.11.2008, rel. Min. Aldir Passarinho
Junior.

https://jus.com.br/artigos/54668/obrigacao-avoenga-historico-e-conceito
Cunha, Tainara Mendes. Da obrigação avoenga na prestação de
alimentos. Maranhão 2011, disponível em:
http://www.conteudojuridico.com.br/artigo,da-obrigacao-avoenga-na-prestacao-
de-alimentos,34644.html

RIBEIRO, Eliezer Germano. Obrigação Avoenga. Curitiba 2006,


disponível em:
http://tcconline.utp.br/wp-content/uploads/2013/05/OBRIGACAO-ALIMENTAR-
AVOENGA.pdf.

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