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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 00ª VARA DE FAMÍLIA

DA CIDADE.

Ação de Alimentos
Proc. nº. 13244.55.7.88.2018.0001/0009
Autora: MARIA DAS QUANTAS e outros
Réu: JOÃO DAS QUANTAS

MARIA DAS QUANTAS, divorciada, comerciária, inscrita no

CPF (MF) sob o nº. 111.222.333-44, residente e domiciliada na Rua Y, nº. 0000, nesta
Capital – CEP 11222-44, inscrita no CPF (MF) sob o nº. 333.222.111-44, representando
(CPC, art. 71) KAROLINE DAS QUANTAS, menor impúbere, FELIPE DAS QUANTAS,
menor impúbere, vem, com o devido respeito a Vossa Excelência, por intermédio de seu
patrono, requerer o

REDIRECIONAMENTO DA LIDE

“AÇÃO DE ALIMENTOS AVOENGA”

em desfavor de JOÃO DOS SANTOS, empresário, casado, residente e domiciliado na


Rua X, nº. 0000, nesta Capital – CEP 11222-44, inscrito no CPF (MF) sob o nº.
1
444.333.222-11, endereço eletrônico ficto@ficticio.com.br, MARIA DOS SANTOS,
aposentada, casada, igualmente residente e domiciliada no endereço acima, inscrita no
CPF (MF) nº
nº. 555.666.777-88, endereço eletrônico desconhecido, em face das
seguintes razões de fato e de direito.

( 1 ) SUMÁRIO DOS FATOS

A Autora ajuizou a presente Ação de Alimentos


primitivamente, como se observa da peça vestibular, contra Pedro das Quantas. Esse é
pai dos menores, Autores da querela em liça.

Este juízo, ao receber a exordial, acolheu o pedido de


alimentos provisórios. (fls. 13) O valor fora definido como 3 (três) salários mínimos.

O pai dos infantes fora citado e intimado, máxime no sentido


de pagar os alimentos fixados. (fl. 17)

Aquele apresentou defesa. (fls. 20/32) O arrazoado


defensivo, em síntese, sustenta absoluta impossibilidade de arcar com os alimentos .
Trouxe com essa, inclusive, farta documentação que, ao seu sentir, justificavam tais
assertivas.

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Ultrapassados três meses da decisão inaugural, a qual
deferira alimentos provisórios, a Autora ajuizara Pedido de Cumprimento Provisório de
Sentença. (autos apensos, fls. 03/04). Optou-se pela modalidade de coerção pessoal.

O então Executado fora intimado, pessoalmente, a pagar o


débito ou apresentar justificativas. (doc. 01) Apresentou justificativas, as quais seguem a
mesma diretriz da contestação, ou seja, novamente alegou absoluta impossibilidade de
pagar qualquer quantia a título de alimentos. (doc. 02)

O discurso defensivo, estipulado nas justificativas, não foram


acolhidos. (doc. 03) Em conta disso, fora decretada sua prisão civil por noventa dias.

Foram diversas as tentativas, todas frustradas, de cumprir


referido mandado de prisão. (docs. 04/07) Em todos mandados o Oficial de Justiça
certificara que aquele não mais se encontrava na residência de seus pais. Além disso,
os pais dele sempre alegaram “desconhecer o paradeiro do filho”.

Ainda no afã de obter algum resultado financeiro de sorte a


pagar os alimentos, fora deferido o bloqueio, via Bacen-Jud, de ativos financeiros
daquele. Em vão. Todas investidas foram malogradas. ( docs. 08/11) Nem mesmo por
meio do Renajud. (doc. 12)

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Por último, requereu-se ao seu patrono que fornecesse o
novo endereço. O causídico, da mesma forma, afirmara desconhecer o paradeiro do
cliente. (doc. 13)

Diante desse quadro, já se decorreram nove meses. E o


mais grave: as crianças não receberam qualquer valor a título de alimentos.

Nesse diapasão, outra alternativa não restou senão chamar


os avós do Réu a ingressarem no polo passivo, para, com isso, igualmente responderem
pelo pagamento dos alimentos, na medida das suas forças e proporcionalidade.

( 2 ) MÉRITO

É comezinho o entendimento, doutrinário e jurisprudencial,


de que os avós, de modo supletivo e excepcional , respondem pelo sustento dos netos.
Isso, claro, havendo condições financeiras para tanto e, igualmente, guardada suas
proporções com os demais avós, bisavós, etc. É dizer, na falta de condições
econômicas do alimentante, parcial ou total, bem assim da genitora, aqueles poderão
ser chamados a integrar à lide.

Afinal de contas, a obrigação alimentar perseguida é


indispensável à subsistência dos menores, os quais, como na hipótese, não podem
esperar meses para serem satisfeitas suas necessidades básicas.

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Com esse enfoque, a Legislação Substantiva traz regras
claras com respeito à obrigação alimentar avoenga, verbo ad verbum:

Art. 1.696 - O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e


filhos, e extensivo a todos os ascendentes,
ascendentes, recaindo a obrigação nos
mais próximos em grau, uns em falta de outros.
outros.

Art. 1.698 - Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não


estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados
a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a
prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos
recursos,
recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser
chamadas a integrar a lide.
lide.

Desse modo, à luz dos ditames das regras supra-aludidas,


fica claro que todos os ascendentes podem responder com os alimentos devidos aos
netos. Porém, como se percebe, igualmente da letra da lei, para se alcançar esse
desiderato, há pressupostos a serem atendidos:

( i ) antes de tudo, demonstrar-se a falta de condições financeiras, parcial ou total, de


ambos os genitores (os mais próximos excluem os mais remotos, tal qual na vocação
hereditária);

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( ii ) que os avós detenham, semelhantemente, capacidade financeira para esse mister
subsidiário.

Firme nesse entendimento é o magistério de Rolf Madaleno,


ad litteram:

“É a conclusão extraída do art. 1.698 do Código Civil, quando ordena que


devam integrar a lide os coobrigados de grau imediato de parentes, se o
parente que deve alimentos em primeiro lugar não estiver em condições de
suportar totalmente o encargo, levando a concluir se tratar em realidade de
um litisconsórcio obrigatório, ordenado de ofício pelo juiz, exatamente em
nome da celeridade processual, e, destarte, dispensando os interessados de
renovarem o pleito alimentar complementar com uma nova ação. “
(Madaleno, Rolf. Curso de direito de família. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Forense,
2015, p. 935)

É altamente ilustrativo igualmente transcrever o


posicionamento de Maria Berenice Dias, in verbis:

“A obrigação alimentar não é somente dos pais em decorrência do poder


familiar. A reciprocidade de obrigação alimentar entre pais e filhos (CF 229 e
1.696) é ônus que se estende a todos os ascendentes,
ascendentes, recaindo sempre nos
mais próximos. Se quem deve alimentos em primeiro lugar não puder suportar

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totalmente o encargo, são chamados a concorrer os parentes de grau
imediato (CC 1.698). Assim, a obrigação alimentar, primeiramente, é dos pais,
e, na ausência de condições de um ou ambos os genitores, transmite-se o
encargo aos ascendentes, isto é, aos avós, partes em grau imediato mais
próximo.
próximo. “ (Dias, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 10ª Ed. São
Paulo: RT, 2015, p. 588)
(negritos do texto original)

É necessário não perder de vista o posicionamento


jurisprudencial, verbis:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ALIMENTOS AVOENGOS. FIXAÇÃO DE


ALIMENTOS EM FAVOR DOS NETOS. MAJORAÇÃO DA VERBA.
DESCABIMENTO.
Na espécie, sopesadas as necessidades dos netos, ora alimentados, e o alcance
das possibilidades dos avós paternos, ora alimentantes, que exploram
atividade agrícola em pequena propriedade rural e auxiliam financeiramente
outro neto, não reclama majoração a verba estabelecida na sentença em 30%
do salário mínimo para cada um dos alimentados apelação desprovida. (TJRS;
AC 0396869-49.2017.8.21.7000; Garibaldi; Oitava Câmara Cível; Rel. Des.
Ricardo Moreira Lins Pastl; Julg. 12/04/2018; DJERS 18/04/2018)

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DIREITO DE FAMÍLIA. APELAÇÃO CÍVEL. ALIMENTOS AVOENGOS. BINÔMIO
NECESSIDADE-POSSIBILIDADE. COMPROVAÇÃO. ALIMENTANDA MAIOR.
ESTUDANTE. GENITOR. ALIMENTOS INSUFICIENTES. OBRIGAÇÃO
ALIMENTAR. AVÔ PATERNO. NECESSIDADE.
1. O advento da maioridade extingue o pátrio poder, contudo, não determina
necessariamente o fim da obrigação alimentar, que passa a ser pautada na
relação de parentesco, porquanto demonstrada a existência do binômio
necessidade-possibilidade. 2. Constatada a insuficiência dos alimentos
prestados pelo genitor, a matrícula da alimentanda em instituição de ensino
superior e sua impossibilidade de prover seu próprio sustento integral, persiste
a necessidade de apoio avito subsidiário e complementar. 3. Recurso
desprovido. (TJDF; APC 2017.01.1.012292-0; Ac. 108.1597; Oitava Turma Cível;
Rel. Des. Mario-Zam Belmiro; Julg. 01/03/2018; DJDFTE 15/03/2018)

APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DE ALIMENTOS AVOENGOS. OBRIGAÇÃO


COMPLEMENTAR E SUBSIDIÁRIA DOS AVÓS EM PRESTAR ALIMENTOS AOS
NETOS. FIXAÇÃO DO VALOR DA VERBA ALIMENTAR EM 1 (UM) SALÁRIO
MÍNIMO. MONTANTE ADEQUADO PARA SUPRIR AS NECESSIDADES
ESSENCIAIS DO ALIMENTANTE. SENTENÇA MANTIDA. RECURSOS NÃO
PROVIDOS.
Nos termos da Súmula n. 596 do Superior Tribunal de Justiça “A obrigação
alimentar dos avós tem natureza complementar e subsidiária, somente se
configurando no caso de impossibilidade total ou parcial de seu cumprimento
pelos pais. ” Os alimentos devem ser fixados visando atender às necessidades
essenciais do neto, tais como alimentação, vestuário, assistência médico-
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odontológica, educação, lazer, segurança, não se destinando, contudo, a
atender às necessidades supérfluas. (TJMS; APL 0814865-31.2013.8.12.0001;
Primeira Câmara Cível; Rel. Des. Sérgio Fernandes Martins; DJMS 26/02/2018;
Pág. 66)

Por esse ângulo, ofertam-se considerações atinentes ao


preenchimento das condições legais antes levantadas .

2.1. Quanto às condições financeiras da mãe

Urge comprovar que, de fato, a genitora não tem condições


de, sozinha, arcar com todas as despesas referentes aos alimentos dos menores.

A mãe, aqui representando os filhos, trabalha junto ao


Supermercado dos Amores Ltda. ( doc. 14) Percebe uma remuneração mensal bruta de
R$ 1.300,00. (doc. 15) Não detém qualquer outra fonte de renda.

2.2. Despesas mensais com a obrigação alimentar

No tocante às despesas mensais atinentes aos filhos, de


pronto colacionam-se os seguintes dispêndios:

( a ) Escola ............................................................ R$ 000,00


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( b ) Lazer ............................................................... R$ 000,00
( c ) Natação ........................................................... R$ 000,00
( d ) Reforço escolar ............................................... R$ 000,00
( e ) Aluguel ............................................................ R$ 000,00
( f ) Saúde .............................................................. R$ 000,00
( g ) Alimentação ................................................... R$ 000,00
( h ) Energia .......................................................... R$ 000,00
_______________
Total mensal R$ 0.000,00 ( .x.x.x. )

2.3. Ausência de contribuição do pai

Esse aspecto foi muito bem explorado na parte


referente aos fatos desta peça processual.

Vê-se, claramente, que não se trata de uma mera


tentativa de se obterem alimentos do pai. Em verdade, foram inúmeros esforços de
recebê-los. Esses, em vão.

Lado outro, os avós, quando questionados pelo Oficial de


Justiça, mostraram-se inertes à possibilidade de auxiliar na localização do filho.

Nesse compasso, todos as medidas foram realizadas para


se receberem os valores do genitor, todavia sem êxito. Por isso, mostra-se necessária a
integração à lide dos avós paternos, parentes próximos no deslinde dessa questão.
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2.4. Capacidade financeira dos avós paternos

É inarredável, máxime ostensiva, a capacidade financeira


dos avós.

O avô é titular majoritário da sociedade empresária Lojão


dos Construtores Ltda. (doc. 16). Possui também diversos imóveis alugados. ( docs.
17/21) Tem casa de praia e fazenda. (docs. 22/23) Além do mais, ostenta alto padrão de
vida.

Quanto à avó, recebe aposentadoria como professora titular


da Universidade Federal das Tantas, verba essa no montante de R$ 00.000,00. ( doc.
24)

Assim, inequivocamente demonstrados sinais exteriores de


riqueza e, maiormente, capacidade financeira de contribuírem com os alimentos devidos
aos netos.

2.5. Quanto ao litisconsórcio passivo

Não é demais ventilar que o litisconsórcio em espécie é


facultativo. Por essa razão, cabe à parte autora definir contra quem procurará receber os
valores questionados. Não há, assim, litisconsórcio necessário tocante à integração à
lide.
16
Com efeito, é ancilar o entendimento jurisprudencial:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE ALIMENTOS PROPOSTA POR NETO EM


FACE DO AVÔ.
Decisão interlocutória que deferiu os alimentos avoengos em 40% (quarenta
por cento) do salário mínimo e indeferiu o ingresso no feito dos demais avós.
Insurgência do progenitor. Chamamento dos avós maternos ao processo.
Litisconsórcio facultativo. Arguição afastada. Pretensão à exoneração ou a
minoração do encargo alimentar. Prov a nos autos de abandono material pelo
pai. Diversas tentativas de citação para o cumprimento da obrigação de
prestar alimentos fixada judicialmente, todas frustradas. Genitor que está em
local incerto e não sabido. Arts. 1.696 e 1.698 do Código Civil. Particularidades
da hipótese que autorizam, excepcionalmente, o reconhecimento do dever
dos avós de contribuir para o sustento do alimentando. Princípio da
solidariedade. Quantum arbitrado que observa o trinômio necessidade,
possibilidade e proporcionalidade, na forma do art. 1.694, § 1º, do Código
Civil. Montante, ademais, que se afigura razoável ao caso concreto. Decisum
mantido. Recurso conhecido e desprovido. (TJSC; AI 4012595-
61.2016.8.24.0000; Içara; Sexta Câmara de Direito Civil; Rel. Des. Stanley
Braga; DJSC 28/03/2018; Pag. 167)

2.6. Valor dos alimentos

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Reconhecido que os alimentos, in casu, são divisíveis,
possibilitando seu fracionamento, a obrigação alimentar em testilha deve ser diluída
entre os avós chamados à lide.

Ainda não se delimitaram os alimentos definitivos. Todavia,


quanto aos provisórios, esses já se encontram, até mesmo, em fase de execução.
Nesse compasso, poderão servir como parâmetro, ao menos nesse primeiro momento
da demanda.

( 3 ) PEDIDOS e REQUERIMENTOS

Ex positis, requer que Vossa Excelência tome as seguintes


providências:

( i ) determinar o redirecionamento da ação em desfavor dos avós paternos,


integrando-os à lide por força do art. 1.698 do Código Civil;

( ii ) sejam os litisconsortes citados e intimados, no endereço constante das


qualificações do preâmbulo da peça;

(iii) obedecido o binômio necessidade/possibilidade (CC, art. 1.694, § 1º), pede-se


sejam deferidos alimentos provisórios no montante de três salários mínimos.

Respeitosamente, pede deferimento.

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Cidade, 00 de abril de 0000.

Beltrano de Tal
Advogado – OAB/PP 22222

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