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Direito Personalíssimo
Trata-se de um direito pessoal, uma vez que apenas as pessoas que mantém uma relação
de parentesco, casamento (ou união estável) com o alimentante pode pleiteá-los (isto
significa dizer que a obrigação de alimentar possui caráter intuitu personae).
Irrenunciabillidade
A obrigação é considerada irrenunciável, uma vez que não existe possibilidade de cessão
ou renúncia ao direito de alimentos. Contudo, existe entendimentos jurisprudenciais
permitindo tal renúncia em casos em que existe um acordo judicial entre cônjuges, senão:
Civil. Família. Separação consensual. Conversão. Divórcio. Alimentos. Dispensa mútua.
Postulação posterior. Ex-cônjuge. Impossibilidade. 1 - Se há dispensa mútua entre os
cônjuges quanto à prestação alimentícia e na conversão da separação consensual em
divórcio não se faz nenhuma ressalva quanto a essa parcela, não pode um dos ex-
cônjuges, posteriormente, postular alimentos, dado que já definitivamente dissolvido
qualquer vínculo existente entre eles. Precedentes iterativos desta Corte. 2 - Recurso
especial não conhecido.
Irreptibilidade
Essa característica se baseia na proibição de que os alimentos sejam repetidos, ou seja,
restituídos, caso se constate posteriormente que eles não eram devidos. Os casos mais
comuns em que se busca a restituição é nas ações exoneratórias ou revisionais de
alimentos. Por esta razão, e pelo princípio que veda o enriquecimento ilícito, a doutrina
vem repensando esta característica, pois o credor dela se vale para protelar cada vez mais
o processo judicial e, por conseguinte, prolongar o tempo em que o alimentando faz jus às
prestações alimentícias, postergando uma sentença de mérito. A ilicitude do
enriquecimento, repudiada pelo Direito, advém do recebimento da prestação alimentícia,
quando inexiste necessidade desta, isto é, quando o credor tem condições de arcar com o
próprio sustento.
Alternatividade
Este aspecto se caracteriza, principalmente, pelo que preconiza o artigo 1.701 do Código
Civil. Nesse sentido, os alimentos são, geralmente, fornecidos em dinheiro, mas de forma
alternativa eles podem ser garantidos através do fornecimento de hospedagem e sustento.
Destarte, tem-se que é possível que as partes acordem a respeito da forma de pagamento
da prestação de alimentos.
Reciprocidade
De acordo com o artigo 1.696 do Código Civil o direito à prestação de alimentos é recíproco
entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais
próximos em grau, uns em falta de outros. Assim é compreensível dizer que existe
reciprocidade nos alimentos, uma vez que todos aqueles que possuem, de certa forma, o
direito de recebe-los, da mesma forma podem ir a juízo exigi-los para si. Todavia a
reciprocidade não significa que duas pessoas devam entre si alimentos ao mesmo tempo,
mas apenas que o devedor alimentar de hoje pode tornar-se credor alimentar no futuro.
Intransmissibilidade
A transmissão de alimentos é impossível. Dessa forma, com a morte a obrigação se
extingue sem quaisquer direitos sucessores, isso de acordo com o artigo 1707 do Código
Civil. Noutra senda, o artigo 1.700 do mesmo código permite a transmissão de tal
obrigação aos herdeiros do devedor nos termos do artigo 1.694.
Impenhorabilidade
Tendo em vista que a prestação de alimentos visa manter a subsistência do credor que não
possui condições de prover suas próprias necessidades, o crédito alimentar é, em suma,
impenhorável. Dito isso, deve-se enfatizar que tal impenhorabilidade não se estende aos
frutos.
Imprescritibilidade
Seguindo com as classificações, tem-se que o direito aos alimentos é imprescritível, o que
garante ao credor, estando confirmadas as condições, a possibilidade de pleitear os
alimentos a qualquer tempo. Contudo, caso haja obrigação pré-estabelecida, estas serão
alcançadas pela prescrição.
Incompensabilidade
Pode-se dizer, ainda, que a obrigação alimentar não possibilita a utilização do instituto da
compensação como uma forma de extinguir os valores devidos em dívida alimentícia.
Irretroatividade
Aqui é possível afirmar que o pagamento de alimentos não retroage, ou seja, é impossível
obrigar o alimentante ao pagamento de alimentos relativos ao período anterior ao
ajuizamento da ação.
Atualidade
Tendo em vista que a obrigação alimentícia possui aspecto sucessivo, a prestação de
alimentos está submetida a um critério de atualização, mantendo assim o seu caráter atual
com base em uma correção de valores.
Periodicidade
Esse aspecto garante que os alimentos sejam prestados mensalmente, assim é vedado o
pagamento dos alimentos, por exemplo, semestralmente ou anualmente. Uma alternativa
que se mostra impossível é a antecipação de uma parcela.
Ausência de solidariedade
Por fim, a obrigação de prestar alimentos não é solidaria entre parente. Nesse sentido, é
factível enfatizar que se trata de um dever subsidiário, isso ocorre porque tal prestação é
sempre condicionada às possibilidades do alimentante (variando assim de pessoa para
pessoa). Dito isso, é importante ressaltar que a prestação pode ser dividida, uma vez que o
objeto da obrigação permite a repartição.
Quadro:
Fonte: Venosa (2019, p. 331)
Ante ao exposto, para que se possa ter o direito de alimentos, ou seja, ter a
concessão deste direito, devem estar presentes alguns requisitos. São eles:
existência de um vínculo de parentesco, entre as partes, os quais estão obrigados
conforme dispõe a lei somente os ascendeste, descendestes, irmãos (bilaterais ou
unilaterais); a necessidade: deve ser demonstrado o seu estado de necessidade
para garantir sua subsistência; e a possibilidade: pessoa pela qual é obrigada, ter
uma situação financeira-econômica para cumprir com a obrigação, onde quem
possui somente o necessário para a sua subsistência não tem como garantir a de
outrem, tem que ter condições de mantê-los.
Em resumo, deve-se ter uma proporcionalidade, que está de forma clara pelo
artigo 1695 do Código Civil. Tudo na obrigação deve ser regido por este princípio, na
proporção da necessidade e proporção do que pode ser suprido, tem um binômio
necessidade/possibilidade.
No mais, a obrigação alimentar deve obedecer a alguns requisitos para que
então seja concedida. Tais requisitos são denominados pressupostos, e são eles:
Assim sendo, quando o credor dos alimentos constitui uma nova entidade
familiar, seja pelo casamento ou por união estável, extingue-se a obrigação
alimentar do ex-marido ou ex-companheiro.
Venosa (2019, p. 389) diz que cumpre referir que relações amorosas que
não configurem constituição familiar não autorizam a exoneração dos alimentos,
até mesmo porque o dever de fidelidade recíproca extinguiu-se com a separação.
Assim, o artigo ainda se mostra deficiente sob outros aspectos, o que tem
levado o intérprete a haurir, da norma, indevida exegese.
É bem verdade que a regra agora inserta no art. 1708 introduziu, de certa
forma, significativa alteração na sistemática até então vigente, na medida em que
alargou o alcance da disposição contida no art. 29 da Lei do Divórcio já que tal
apenas previa a cessação da obrigação alimentar diante do “novo casamento do
cônjuge credor da pensão” (BRASIL, 1977, p. 1).
Nota-se que o art. 1708 abriu um leque das hipóteses determinantes da
exoneração do encargo pensional, fazendo açambarcar outras circunstâncias.
O quarto motivo é a indignidade do credor de alimentos. Comportamentos
indignos por parte do credor de alimentos podem desobrigar o alimentante, o que
deve restar demonstrado em ação exoneratória. Destarte, pode o juiz determinar
que, em vez da extinção, haja a redução do valor dos alimentos, a fim de
assegurar a subsistência do alimentando (PEREIRA, 2020, p. 83).
Explica-se que a indignidade do alimentário pode fazer com que ele perca o
direito ao recebimento de pensão alimentícia, conforme determinação do art. 1.708
do Código Civil: “Com relação ao credor cessa, também, o direito a alimentos, se
tiver procedimento indigno em relação ao devedor”.
Nota-se que não há um conceito fechado para a dignidade com vistas à sua
aplicação no Direito de Família, em especial sobre a questão alimentar.
É necessário partir da premissa essencial de que a dignidade é um valor
intrínseco à pessoa humana. Há procedimento indigno quando se afronta a
dignidade da pessoa humana.
O penúltimo motivo é a indignidade em relações conjugais e parentais, nesse
diapasão:
2.2.2 Transmissibilidade
Não se vê, portanto, com bons olhos a opção do legislador civil, desprovida
de sustentação jurídica e atentatória à natureza personalíssima da obrigação.
Adiante, no ano de 1977, a Lei 6.515/77 introduziu, no ordenamento jurídico
brasileiro, uma nova norma que dispunha sobre o assunto em questão ditando, em
seu art. 23 que a obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do
devedor, na forma do artigo 1.796 do Código Civil/1916, isto é, neste momento
surgiram duas disposições contrárias, uma de cunho geral (que tratava da
intransmissibilidade da obrigação) e outra especial que tratava da transmissibilidade
(PEREIRA, 2020, p. 143).
Assim sendo, com o cenário dividido, surgiram diversas visões jurídicas
acerca do tema, nascendo assim correntes diferentes e recheadas de controvérsias.
O principal conflito aconteceu entre as pessoas que defendiam o art. 23 da
Lei 6.151/77, a qual derrogava o artigo 402 do CC/16, de forma que, para todos os
casos possíveis, a obrigação alimentar tinha sido considerada transmissível, e que a
transmissão normatizada pelo artigo 23 da lei supracitada era restringida à
obrigação alimentar entre os cônjuges, uma vez que o assunto estava disposto em
legislação especial (MONTEIRO; TAVARES, 2020, p. 300).
Nesse sentido, prevaleceu o entendimento de que o dispositivo da lei
6.515/77 possuía aplicação restrita aos alimentos acordados ou estabelecidos em
separação judicial ou divórcio.
Ficou decidido pelo Superior Tribunal de Justiça, ainda, que a condição de
“devedor” de alimentos continuava personalíssima, ou seja, não seria possível
transmitir-se a obrigação de pagar alimentos aos herdeiros do devedor, ficando os
herdeiros responsáveis apenas pelos débitos existentes até a data da morte do “de
cujus”. (GRAEFF, 2017)
Seguindo essa mesma premissa, o Código Civil de 2002, oficializou a regra
da transmissibilidade, sem, entretanto, explicitar o texto do art. 23 da Lei 6.515/77.
Destarte, o artigo 1.700 do CC elucidou que a obrigação de prestar alimentos era
transmissível aos herdeiros do devedor, nos termos do artigo 1.694 do Código Civil
(RODRIGUES, 2018, p. 184).
Essa decisão tomada pelos juristas que criaram o Código Civil, foi vista pela
sociedade jurídica com inúmeras controvérsias: