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Estado do Rio de Janeiro Poder Judiciário

Tribunal de Justiça
Comarca de Rio das Ostras 265
Cartório da Vara de Família, Inf e Juventude
Desembargador Ellis Hermydio Figueira, 1999 - Jardim Campomar - Rio das Ostras - RJ Tel.: (22) 2764-0740 e-mail:
rosviji@tjrj.jus.br

Fls.
Processo: 0029039-36.2020.8.19.0002
Processo Eletrônico

Classe/Assunto: Alimentos - Lei Especial Nº 5.478/68 - Fixação de Alimentos / Família

Autor: JOAQUIM ESPÍNDOLA LEONCIO FERNANDES


Representante Legal: DANIEL FERNANDES
Procurador: GLAUCIA DE OLIVEIRA LOPES
Réu: ROBERTA ESPINDOLA LEONCIO

___________________________________________________________

Nesta data, faço os autos conclusos ao MM. Dr. Juiz


Anna Karina Guimarães Francisconi

Em 15/02/2022

Sentença
Cuida-se de ação proposta por JOAQUIM ESPÍNDOLA LEONCIO FERNANDES, devidamente
representado por seu genitor, em face de ROBERTA ESPINDOLA LEONCIO, por meio da qual
pleiteia a condenação do réu ao pagamento, a título de pensão alimentícia, de valor equivalente
100% (cem por cento) do salário mínimo nacional.

Acompanharam a inicial de fls. 03/10 os documentos de fls. 11/61.

Decisão que deferiu a gratuidade de justiça e fixou os alimentos provisórios às fls. 117/118.

Declínio de competência à fl. 195.

Contestação às fls. 249/251.

Decisão que determinou a supressão da audiência de conciliação e instrução e julgamento, com


fulcro na adaptabilidade de procedimento e celeridade processuais às fls. 253/254.

Parecer final de mérito às fls. 259/261.

É O BREVE RELATÓRIO. EXAMINADOS, PASSO A DECIDIR.

A CR/88 destacou o princípio da dignidade da pessoa humana como valor nuclear da ordem
constitucional (art.1º, inciso III). Nesta linha, é na família que os valores consagrados neste
princípio encontram o terreno mais fértil para florescer, uma vez que a Constituição da República
emprestou especial proteção à família, independentemente de sua origem.

Numa obrigação alimentar, coloca-se o alimentante no dever de prestar ao outro o necessário para
a sua manutenção e, em certos casos, para a criação, educação, saúde e recreação.

Em síntese, presta o suficiente para atender às necessidades fundamentais de seu cônjuge,

110 ANNAKGF
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companheiro ou parente. Daí afirmar Carlos Alberto Bittar: ¿Relacionada ao direito à vida e no
aspecto da subsistência, a obrigação alimentar é um dos principais efeitos que decorrem da
relação de parentesco. Trata-se de dever, imposto por lei aos parentes, de auxiliar-se mutualmente
em necessidades derivadas de contingências desfavoráveis da existência. Fundada na moral
(ideia da solidariedade familiar) e oriunda da esquematização romana (no denominado officium
pietatis), a obrigação alimentar interliga parentes necessitados e capacitados na satisfação de
exigências mínimas de subsistência digna, incluindo-se, em seu contexto, não só filhos, mas
também pessoas outras do círculo familiar.¿ (Direito de Família, Rio de Janeiro, Forense
Universitária, 1991, p.252).

Portanto, como corolário do que acima restou afirmado, e a fim de preservar as entidades
familiares, como instrumento de desenvolvimento e de valoração da pessoa humana, a CR/88
também consagra o princípio da solidariedade familiar, ao prever no art. 227 que aos parentes
competem a assistência mútua.

Dito princípio, cumpre registrar, também fez morada em sede infraconstitucional, notadamente no
art.1.696 do CC, que enaltece o caráter recíproco dos alimentos.

Assim, se é certo que para suprir suas necessidades o indivíduo deve lançar mão de recursos
materiais auferidos com o esforço do trabalho ou através de renda de seus capitais, é certo
também, quando há impossibilidade de sozinho prover sua própria subsistência, que poderá se
valer do auxílio de parentes para manter-se.

No que se refere aos filhos menores, é o poder familiar que fundamenta a obrigação alimentar, não
se fazendo distinção a qualquer espécie de filhos, em consonância com o que dispõe o artigo 227,
§ 6º da Carta da República.

De modo mais específico, a obrigação alimentar decorre do dever de assistência material que
incumbe aos pais, como corolário do poder familiar. Como leciona Arnaldo Rizzardo:
¿Especialmente aos filhos menores, ou incapazes, a obrigação de prestar alimentos é um dos
deveres inerentes ao poder marital ¿ mais propriamente, pode-se dizer, do poder familiar, e que
decorre do próprio direito natural, porquanto é inerente ao instinto humano a tendência de criar,
amparar e preparar para o futuro a prole ¿ fenômeno este que é comum nos seres animais em
geral... O dever de prestar alimentos integra o dever de assistência que incumbe aos pais.
Enquanto relativamente aos demais parentes o Código Civil atribui a simples obrigação, no tocante
aos filhos incapazes dispõe mais profundamente. E justamente para o melhor desempenho desta
importante função é que vem instituído o poder familiar. Munidos de poderes e autoridade na
criação e na educação dos filhos, permitem-se aos pais a administração dos bens dos filhos, a
imposição de certa conduta e ampla assistência de ordem alimentar e educacional. Não se pode
limitar seu dever a prestar alimentos, ou a sustentar os filhos. Incumbe-lhes dar todo o amparo,
envolvendo a esfera material, corporal, espiritual, moral, afetiva e profissional, numa constante
presença em suas vidas, de acompanhamento e orientação, de modo a encaminhá-los a saberem
e terem condições de enfrentar a vida sozinhos.¿ (Direito de Família, Editora Forense, 8ª Edição,
p. 681).

Por outro lado, os alimentos devem ser arbitrados com observância ao §1º do citado dispositivo,
ou seja, na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.

Outrossim, o art.1.695 do CC, em sintonia com conteúdo da norma supramencionada, diz que
"São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode prover,
pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem
desfalque do necessário ao seu sustento".

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Vê-se, portanto, que na fixação da verba alimentícia, deverá o Juiz levar em consideração o
binômio necessidade/possibilidade. Além disso, não se pode olvidar o princípio da
proporcionalidade que permeia a necessidade de quem pede e a possibilidade de quem deve.

No tocante à causa da necessidade, vale dizer que a menoridade traz em si, por motivos
absolutamente óbvios, a presunção da necessidade. Não é outro o pensamento do eminente prof.
Washington de Barros Monteiro, verbis: "Note-se que durante a menoridade, ou seja, até os
dezoito anos de idade, não é necessário fazer prova da inexistência de meios próprios de
subsistência, o que se presume pela incapacidade civil".

Dito isto, passo à análise do caso em apreço.

No caso em tela, pretende a parte autora a fixação dos alimentos definitivos no importe de 100%
(cem por cento) do salário-mínimo.

Diante do pedido deduzido, mister analisar os requisitos imprescindíveis para a fixação da verba
alimentar em favor da alimentanda.

No tocante à necessidade, é de se notar que esta é presumida, em decorrência da menoridade


civil. Certo é, ainda, que não há qualquer informação que sinalize a necessidade de ampliação dos
alimentos, em decorrência de alguma enfermidade ou condição especial de saúde.

De outro giro, no que atine à possibilidade, vislumbra-se que a alimentante exerce capacidade
laborativa, na qualidade de micropigmentadora autônoma e que está sem trabalhar por conta do
estágio avançado de sua gravidez.

Analisando o caso em comento, compreendo que o valor pleiteado na prefacial, de fato,


apresenta-se além da capacidade financeira do alimentante. De outro vértice, os valores
oferecidos na peça de bloqueio se mostram aquém da necessidade do menor. Com efeito, em se
tratando de demanda proposta por apenas um autor, não havendo razão que justifique a fixação
do pensionamento em valores superiores aos usuais, merece guarida os valores sugeridos pelo
Ministério Público.

ISTO POSTO, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDIDO para condenar o réu ao


pagamento de pensão alimentícia em favor da autora no valor de 20% (vinte por cento) de seus
rendimentos brutos, efetuados apenas os descontos legais, quais sejam, contribuição
previdenciária e imposto de renda, incidente sobre 13º salário, férias, horas extras e outras verbas
de caráter remuneratório, reservando-se à disposição desta juízo idêntico percentual sobre as
verbas decorrentes do FGTS e rescisão do contrato de trabalho a que o alimentante faz jus. Em
caso de inexistência de vínculo empregatício, os alimentos serão em quantia equivalente a 80%
(oitenta por cento) do salário mínimo nacional vigente, a qual deverá ser paga mediante depósito
na conta bancária da RL da parte autora até o dia dez de cada mês. Registra-se que o valor pago
em caso de existência de vínculo não poderá ser inferior ao valor apurado na hipótese de
inexistência de relação empregatícia.

Condeno a parte ré ao pagamento das despesas processuais, bem como nos honorários
advocatícios que fixo em 10% sobre o valor da causa.

Certificado o trânsito em julgado, dê-se baixa e arquivem-se.

P.RI.

Rio das Ostras, 16/02/2022.

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Anna Karina Guimarães Francisconi - Juiz Titular

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Autos recebidos do MM. Dr. Juiz

Anna Karina Guimarães Francisconi

Em ____/____/_____

Código de Autenticação: 4S2P.Z674.Y32N.KV93


Este código pode ser verificado em: www.tjrj.jus.br – Serviços – Validação de documentos
Øþ

110 ANNAKGF

ANNA KARINA GUIMARAES FRANCISCONI:32089 Assinado em 16/02/2022 23:12:37


Local: TJ-RJ

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