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1. Conceito:
Ainda no que diz respeito à definição de alimentos, Maria Berenice Dias (2021)
assinala sobre a possibilidade de que o primeiro direito fundamental do ser humano
está relacionado à sobrevivência, sendo este, com certeza, o maior compromisso do
Estado, ou seja, garantir a vida de todos, e com dignidade. Desse modo, o direito a
alimentos se manifesta como princípio da preservação da dignidade humana. Assim,
os alimentos têm a natureza de direito de personalidade, porquanto asseguram a
inviolabilidade do direito à vida e à integridade física. Inclusive estão reconhecidos
entre os direitos sociais, consoante a lição de Flávio Tartuce, já trabalhada no
presente estudo.
Isso ocorre porque o Estado não tem condições de socorrer a todos, por isso
transforma a solidariedade familiar em dever alimentar. (DIAS, 2021)
O fundamento do dever de alimentos se encontra no princípio da solidariedade,
ou seja, a fonte da obrigação alimentar são os laços de parentalidade que ligam as
pessoas que constituem uma família, independentemente de seu tipo (casamento,
união estável, famílias monoparentais, homoafetivas, socioafetivas, entre outras).
(DIAS, 2021)
Maria Berenice Dias (2021) adverte que a obrigação alimentar tem um fim
precípuo: atender às necessidades de uma pessoa que não pode prover à própria
subsistência e que, após os cônjuges e companheiros, são os parentes os primeiros
convocados diante da referida obrigação. Pode-se afirmar, diante disso, que a lei
transformou vínculos afetivos em ônus de garantir a subsistência dos parentes. Trata-
se do dever de mútuo auxílio transformado em lei.
Maria Berenice Dias (2021) destaca, ainda, que a expressão alimentos vem
adquirindo dimensão cada vez mais abrangente, englobando tudo o que é necessário
para alguém viver com dignidade, dispondo o juiz de discricionariedade para
quantificar o seu valor.
Ademais, o Código Civil adotou essa distinção entre alimentos civis e naturais
com nítido caráter punitivo. Parentes, cônjuges e companheiros podem pedir
alimentos uns aos outros para viver de modo compatível com a sua condição social,
inclusive para atender às necessidades de educação. Todos os beneficiários - filhos,
pais, parentes, cônjuges e companheiros - têm assegurado o padrão de vida de que
sempre desfrutaram. Fazem jus a alimentos civis independentemente da origem da
obrigação. No entanto, limita a lei o valor do encargo sempre que é detectada culpa
do alimentando. Quem dá origem à situação de necessidade percebe somente
alimentos naturais, isto é, somente o que basta para manter a própria subsistência.
Situação diversa se refere à culpa pela dissolução do casamento, motivação que não
tem mais relevância jurídica, ou seja, não persiste sequer a possibilidade de ocorrer
o achatamento do valor dos alimentos pela ocorrência de culpa geradora da situação
de necessidade. Esta responsabilidade, assim como a culpa pelo descumprimento
dos deveres do casamento,não gera reflexos para o estabelecimento da obrigação
alimentar entre cônjuges atualmente. (DIAS, 2021)
2. Evolução histórica:
Novamente com ênfase na doutrina de Maria Berenice Dias (2021), tem-se que
a maneira como a lei regula as relações familiares acaba refletindo nos alimentos. Em
um primeiro momento, o que agora se chama de poder familiar, com o nome pátrio
poder era exercido pelo homem. Ele era “o cabeça” do casal, o chefe da sociedade
conjugal. Assim, era dele a obrigação de prover o sustento da família, o que, com o
fim da união se convertia em obrigação alimentar. Com o nítido intuito de proteger a
família, o Código Civil de 1916, quando de sua edição, ao não permitir o
reconhecimento dos filhos ilegítimos, perpetrava uma das maiores atrocidades contra
crianças e adolescentes havidos fora do casamento. Com isso, eles não podiam
buscar o reconhecimento da própria identidade nem pleitear alimentos. Somente após
30 anos é que foi permitido ao filho de homem casado promover, em segredo de
justiça, ação de investigação de paternidade, apenas para buscar alimentos (Lei
883/1949). Embora reconhecida a paternidade, a relação de parentesco não era
declarada, o que só podia ocorrer depois de dissolvido o casamento do genitor. Em
face do princípio da igualdade entre os filhos, consagrado pela Constituição da
República, é que foi admitido o reconhecimento dos filhos “espúrios” (Lei 7.841/1989).
Interessa salientar aqui, que a preocupação não era com a necessidade, mas
com a conduta moral da mulher, pois a sua honestidade era condição para obter
pensão alimentícia. O exercício da liberdade sexual fazia cessar a obrigação
alimentar, sem qualquer questionamento sobre a possibilidade de ela conseguir se
manter ou não. Assim, a castidade integrava o suporte fático do direito a alimentos.
Para fazer jus a eles, a mulher precisava provar não só a sua necessidade, mas
também que era pura e recatada, além de fiel ao ex-marido, é claro. Somente com a
Lei do Divórcio (Lei 6.515/1977), que o dever alimentar entre os cônjuges passou a
ser recíproco. Porém, o consorte responsável pela separação é quem pagava
alimentos ao inocente. O cônjuge que tivesse conduta desonrosa ou praticasse
qualquer ato que violasse os deveres do casamento, tornando insuportável a vida em
comum, era condenado a pagar pensão àquele que não teve culpa pelo rompimento
do vínculo afetivo. A lei não dava margem a outra interpretação, assim o cônjuge
responsável pela separação judicial deveria prestar ao outro, se dela necessitar, a
pensão que o juiz fixasse. (DIAS, 2021)
3. Espécies:
Com relação aos alimentos derivados da filiação existe uma maior amplitude
de deveres que aparecem vinculados ao poder familiar, enquanto menores e
incapazes os filhos, têm seus pais o dever de lhes prestar toda ordem de assistência,
moral e material, mediante a contribuição direta dos progenitores se convivem no
mesmo lar com seus filhos, ou este dever será atendido mediante a fixação de uma
prestação alimentícia com conteúdo bem mais amplo do que teria uma obrigação
alimentar entre parentes maiores e capazes. (MADALENO, 2022)
4. Alimentos gravídicos:
Por sua vez, Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona (2022), ao ensinarem sobre os
alimentos gravídicos, assinalam que se trata de instituto inserido pela Lei n.
11.804/2008, e consiste no “direito de alimentos da mulher gestante”, os quais
compreendem “os valores suficientes para cobrir as despesas adicionais do período
de gravidez e que sejam dela decorrentes, da concepção ao parto, inclusive as
referentes à alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames
complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições
preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o
juiz considere pertinentes”, referindo-se “à parte das despesas que deverá ser
custeada pelo futuro pai, considerando-se a contribuição que também deverá ser
dada pela mulher grávida, na proporção dos recursos de ambos”, tudo na forma dos
seus arts. 1º e 2º. A referida norma pacifica questão que já vinha sendo há muito
reconhecida na jurisprudência e na doutrina especializada, da possibilidade de
outorga de alimentos ao nascituro, como forma de garantir um regular
desenvolvimento da gestação e adequado parto.
Trata-se de rol não é exaustivo, pois o juiz pode considerar outras despesas
pertinentes. De qualquer modo, são despesas com a gravidez e não correspondem a
todas as despesas da gestante. Ressalta-se, em acréscimo, que a legitimidade ativa
para a ação é da gestante, que promove a ação em nome próprio. Não é necessário
cumular a ação investigatória de paternidade. O foro competente é o do domicílio da
gestante (CPC 53 II). Basta o juiz reconhecer a existência de indícios da paternidade
para a concessão liminar dos alimentos, não sendo suficiente a mera imputação da
paternidade, sem historiar a autora as circunstâncias fáticas. Mas os indícios não
podem ser exigidos com muito rigor. No impasse entre a dúvida pelo suposto pai e a
necessidade da mãe e do filho, a dúvida deve ser superada em favor da necessidade.
A lei concede ao réu o prazo de resposta de cinco dias (7.º). De qualquer modo, nada
impede que o juiz fixe outro prazo, mas a tendência é a designação de audiência
preliminar, a partir de quando começa a fluir o prazo de resposta. Não é cabível pedido
de suspensão da execução até a realização do exame de DNA. (DIAS, 2021)