Você está na página 1de 20

Módulo 6 - DIREITO DAS FAMÍLIAS E SUCESSÕES

Tema 01: Alimentos (Lei n. 5.478/68) – Conceito; Evolução histórica; Espécies;


Alimentos Gravídicos (Lei n. 11.804/08).

1. Conceito:

O conceito de alimentos é amplo, conforme é possível verificar nas definições


apresentadas pela doutrina, as quais são expostas a seguir.

Segundo Madaleno (2022, p. 552):

os alimentos estão relacionados com o sagrado direito à vida e representam


um dever de amparo dos parentes, cônjuges e conviventes, uns em relação
aos outros, para suprir as necessidades e as adversidades da vida daqueles
em situação social e econômica desfavorável.

Já Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona (2022) assinalam que, juridicamente, os


alimentos significam o conjunto das prestações necessárias para a vida digna do
indivíduo. Os referidos autores elaboram este conceito a partir do art. 1.694 do
CC/2002 cuja redação é:

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos


outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com
a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua
educação.

§ 1º Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do


reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.

§ 2º Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a


situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia”. O
fundamento da “prestação alimentar” encontra assento nos princípios da
dignidade da pessoa humana, vetor básico do ordenamento jurídico como
um todo, e, especialmente, no da solidariedade familiar.

Em síntese, na visão de Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona (2022), o conceito


de alimentos compreende todas as prestações necessárias para a vida e a afirmação
da dignidade do indivíduo, o que demonstra um liame entre o direito civil e a
Constituição Federal.
Nesse sentido, inclusive, interessa evidenciar a lição de Flávio Tartuce (2022,
p. 3.187):

em uma perspectiva civil constitucional, o art. 6.º da CF/1988 serve como


uma luva para preencher o conceito de alimentos. Esse dispositivo do Texto
Maior traz como conteúdo os direitos sociais que devem ser oferecidos pelo
Estado, a saber: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia,
o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, e a assistência aos desamparados. Cumpre destacar que a menção
à alimentação foi – incluída pela Emenda Constitucional n. 64, de 4 de
fevereiro de 2010, o que tem relação direta com o tema aqui estudado.

Noutros termos, o pagamento desses alimentos visa à pacificação social,


estando amparado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da solidariedade
familiar, ambos de índole constitucional. No plano conceitual e em sentido amplo, os
alimentos devem compreender as necessidades vitais da pessoa, cujo objetivo é a
manutenção da sua dignidade: a alimentação, a saúde, a moradia, o vestuário, o
lazer, a educação, entre outros. Em suma, os alimentos devem ser concebidos dentro
da ideia de patrimônio mínimo (TARTUCE, 2022).

Ainda no que diz respeito à definição de alimentos, Maria Berenice Dias (2021)
assinala sobre a possibilidade de que o primeiro direito fundamental do ser humano
está relacionado à sobrevivência, sendo este, com certeza, o maior compromisso do
Estado, ou seja, garantir a vida de todos, e com dignidade. Desse modo, o direito a
alimentos se manifesta como princípio da preservação da dignidade humana. Assim,
os alimentos têm a natureza de direito de personalidade, porquanto asseguram a
inviolabilidade do direito à vida e à integridade física. Inclusive estão reconhecidos
entre os direitos sociais, consoante a lição de Flávio Tartuce, já trabalhada no
presente estudo.

Nesse contexto, o Estado, primeiro obrigado a prestar alimentos aos seus


cidadãos e aos entes da família, na pessoa de cada um que a integra, empresta
especial proteção à família, e, assim, parentes, cônjuges e companheiros assumem,
por determinação legal, a obrigação de prover o sustento uns dos outros. Tão
acentuado é o interesse público para que essa obrigação seja cumprida que é
possível até a prisão do devedor de alimentos (CR 5.º LXVII). (DIAS, 2021)

Isso ocorre porque o Estado não tem condições de socorrer a todos, por isso
transforma a solidariedade familiar em dever alimentar. (DIAS, 2021)
O fundamento do dever de alimentos se encontra no princípio da solidariedade,
ou seja, a fonte da obrigação alimentar são os laços de parentalidade que ligam as
pessoas que constituem uma família, independentemente de seu tipo (casamento,
união estável, famílias monoparentais, homoafetivas, socioafetivas, entre outras).
(DIAS, 2021)

Maria Berenice Dias (2021) adverte que a obrigação alimentar tem um fim
precípuo: atender às necessidades de uma pessoa que não pode prover à própria
subsistência e que, após os cônjuges e companheiros, são os parentes os primeiros
convocados diante da referida obrigação. Pode-se afirmar, diante disso, que a lei
transformou vínculos afetivos em ônus de garantir a subsistência dos parentes. Trata-
se do dever de mútuo auxílio transformado em lei.

No âmbito do Direito das Famílias, a obrigação alimentar pressupõe a


existência de um vínculo jurídico. Decorre do poder familiar, do parentesco, da
dissolução do casamento ou da união estável. Quanto mais se alarga a imagem das
entidades familiares e se desdobram os conceitos de família e filiação, a obrigação
alimentar adquire novos matizes. Daí o encargo alimentar quando reconhecida a
existência de filiação socioafetiva. A natureza jurídica dos alimentos está ligada à
origem da obrigação. O dever dos pais de sustentar os filhos deriva do poder familiar.
A Constituição da República reconhece a obrigação dos pais de ajudar, criar e educar
os filhos menores. Também afirma que os filhos maiores devem auxiliar e amparar os
pais na velhice, carência e enfermidade (CR 229). (DIAS, 2021)

Trata-se de obrigação alimentar que repousa na solidariedade familiar entre os


parentes em linha reta e se estende infinitamente. Na linha colateral, apesar do que
diz a lei, é necessário guardar simetria com o direito sucessório e reconhecer que a
obrigação vai até o quarto grau de parentesco. O encargo alimentar decorrente do
casamento e da união estável tem origem no dever de mútua assistência, que existe
durante a convivência e persiste mesmo depois de rompida a união. Cessada a vida
em comum, a obrigação de assistência cristaliza-se na modalidade de pensão
alimentícia. Basta que um não consiga prover à própria subsistência e o outro tenha
condições de lhe prestar auxílio. Ainda que não haja expressa referência legal, é a
separação de fato o pressuposto para a fixação de alimentos. Enquanto a família
coabita, os alimentos são atendidos in natura. Com a separação, o encargo converte-
se em obrigação in pecunia. No entanto, mesmo vivendo o casal sob o mesmo teto,
podem ser fixados alimentos. (DIAS, 2021)

Maria Berenice Dias (2021) destaca, ainda, que a expressão alimentos vem
adquirindo dimensão cada vez mais abrangente, englobando tudo o que é necessário
para alguém viver com dignidade, dispondo o juiz de discricionariedade para
quantificar o seu valor.

Nessa linha, o alargamento do conceito de alimentos levou a doutrina a


distinguir alimentos civis e naturais. Estes são os indispensáveis para garantir a
subsistência, como alimentação, vestuário, saúde, habitação, educação etc.,
enquanto aqueles se destinam a manter a qualidade de vida do credor, de modo a
preservar o mesmo padrão e status social do alimentante.(DIAS, 2021)

Ademais, o Código Civil adotou essa distinção entre alimentos civis e naturais
com nítido caráter punitivo. Parentes, cônjuges e companheiros podem pedir
alimentos uns aos outros para viver de modo compatível com a sua condição social,
inclusive para atender às necessidades de educação. Todos os beneficiários - filhos,
pais, parentes, cônjuges e companheiros - têm assegurado o padrão de vida de que
sempre desfrutaram. Fazem jus a alimentos civis independentemente da origem da
obrigação. No entanto, limita a lei o valor do encargo sempre que é detectada culpa
do alimentando. Quem dá origem à situação de necessidade percebe somente
alimentos naturais, isto é, somente o que basta para manter a própria subsistência.
Situação diversa se refere à culpa pela dissolução do casamento, motivação que não
tem mais relevância jurídica, ou seja, não persiste sequer a possibilidade de ocorrer
o achatamento do valor dos alimentos pela ocorrência de culpa geradora da situação
de necessidade. Esta responsabilidade, assim como a culpa pelo descumprimento
dos deveres do casamento,não gera reflexos para o estabelecimento da obrigação
alimentar entre cônjuges atualmente. (DIAS, 2021)

2. Evolução histórica:

Novamente com ênfase na doutrina de Maria Berenice Dias (2021), tem-se que
a maneira como a lei regula as relações familiares acaba refletindo nos alimentos. Em
um primeiro momento, o que agora se chama de poder familiar, com o nome pátrio
poder era exercido pelo homem. Ele era “o cabeça” do casal, o chefe da sociedade
conjugal. Assim, era dele a obrigação de prover o sustento da família, o que, com o
fim da união se convertia em obrigação alimentar. Com o nítido intuito de proteger a
família, o Código Civil de 1916, quando de sua edição, ao não permitir o
reconhecimento dos filhos ilegítimos, perpetrava uma das maiores atrocidades contra
crianças e adolescentes havidos fora do casamento. Com isso, eles não podiam
buscar o reconhecimento da própria identidade nem pleitear alimentos. Somente após
30 anos é que foi permitido ao filho de homem casado promover, em segredo de
justiça, ação de investigação de paternidade, apenas para buscar alimentos (Lei
883/1949). Embora reconhecida a paternidade, a relação de parentesco não era
declarada, o que só podia ocorrer depois de dissolvido o casamento do genitor. Em
face do princípio da igualdade entre os filhos, consagrado pela Constituição da
República, é que foi admitido o reconhecimento dos filhos “espúrios” (Lei 7.841/1989).

Em relação à obrigação alimentar à mulher, sobrevivia o perfil conservador e


patriarcal da família. O casamento era indissolúvel, extinguia-se exclusivamente pela
morte ou anulação. Havia, porém, a possibilidade de terminar pelo “desquite”, o que
ensejava a separação de fato, a dispensa do dever de fidelidade e o término do regime
de bens. Mas o vínculo matrimonial permanecia inalterado, tanto que os desquitados
não podiam casar. Como o casamento não se dissolvia com o desquite, mantinha-se
o encargo assistencial, ao menos do homem para com a mulher. Isso porque, apesar
de o Código atribuir a ambos os cônjuges o dever de mútua assistência, existia
somente a obrigação alimentar do marido em favor da mulher inocente e pobre. Não
persistia o dever de sustento no caso de abandono do lar sem justo motivo. (DIAS,
2021)

Interessa salientar aqui, que a preocupação não era com a necessidade, mas
com a conduta moral da mulher, pois a sua honestidade era condição para obter
pensão alimentícia. O exercício da liberdade sexual fazia cessar a obrigação
alimentar, sem qualquer questionamento sobre a possibilidade de ela conseguir se
manter ou não. Assim, a castidade integrava o suporte fático do direito a alimentos.
Para fazer jus a eles, a mulher precisava provar não só a sua necessidade, mas
também que era pura e recatada, além de fiel ao ex-marido, é claro. Somente com a
Lei do Divórcio (Lei 6.515/1977), que o dever alimentar entre os cônjuges passou a
ser recíproco. Porém, o consorte responsável pela separação é quem pagava
alimentos ao inocente. O cônjuge que tivesse conduta desonrosa ou praticasse
qualquer ato que violasse os deveres do casamento, tornando insuportável a vida em
comum, era condenado a pagar pensão àquele que não teve culpa pelo rompimento
do vínculo afetivo. A lei não dava margem a outra interpretação, assim o cônjuge
responsável pela separação judicial deveria prestar ao outro, se dela necessitar, a
pensão que o juiz fixasse. (DIAS, 2021)

Em síntese, o culpado pela separação não podia pleitear alimentos, pretensão


assegurada exclusivamente a quem não havia dado causa ao fim da união. Apenas
o inocente fazia jus à pensão alimentícia. Desse modo, a demanda envolvia a
averiguação da causa do rompimento da vida em comum. O autor da ação, para ser
contemplado com alimentos, precisava provar, além da necessidade, tanto sua
inocência como a culpa do réu. Até a simples iniciativa judicial de buscar a separação
excluía o direito de pleitear alimentos. (DIAS, 2021)

A legislação que regulamentou a união estável (Lei 8.971/1994, 1.º e Lei


9.278/1996, 7.º) concedeu aos conviventes situação privilegiada, se confrontada ao
casamento. O encargo alimentar não estava condicionado à postura dos parceiros
pelo fim da união. A ausência do elemento culpa pelo término do convívio limitava o
âmbito de cognição da demanda de alimentos, se comparada com a ação decorrente
da relação de casamento, que exigia a prova de inocência. Tal incongruência foi
reconhecida pela jurisprudência como nítida afronta ao princípio da isonomia: como
casamento e união estável têm origem em um vínculo afetivo, nada justifica a
distinção. Como a Justiça não consegue conviver com o imponderável, nem dar
tratamento diferenciado e mais restritivo a direitos de igual natureza, foi dispensada
a averiguação da culpa quando a lide envolvia alimentos ao cônjuge. (DIAS, 2021)

Com a EC 66/10, foi eliminado de vez o instituto da culpa no âmbito do Direito


das Famílias. O divórcio, como única forma de pôr fim ao casamento, não comporta
qualquer referência a causas ou identificação de responsabilidades. No período de
vigência do Código Civil de 1916, o dever alimentar era regrado em distintos diplomas
legais e de modo diferenciado. A lei civil disciplinava os alimentos que decorriam do
vínculo de consanguinidade e da solidariedade familiar. A Lei do Divórcio e a
legislação da união estável regulavam os alimentos derivados do dever de mútua
assistência. O Código Civil atual (1.694 a 1.710), não distingue a origem da obrigação,
se decorrente do poder familiar, do parentesco, do rompimento do casamento ou da
união estável. (DIAS, 2021)

3. Espécies:

Segundo a doutrina de Rolf Madaleno (2022), em razão do interesse do Estado


na proteção da família como base da sociedade, o instituto dos alimentos é
considerado de ordem pública, ao menos em relação aos credores menores e
incapazes, estando amparado o direito alimentar no princípio da solidariedade
humana e reconhecendo a legislação civil o recíproco direito aos alimentos entre
parentes, cônjuges ou companheiros, para que desfrutem de um modo de vida
compatível com sua classe social, sendo os alimentos classificados segundo os
seguintes critérios jurídicos:

3.1. Quanto à sua natureza:

São considerados naturais quando respeitam ao estritamente necessário à


sobrevivência do alimentando, assim compreendido o que for absolutamente
indispensável à vida, como a alimentação, a cura, o vestuário e a habitação, e tendo
em mira o mínimo indispensável para o alimentando sobreviver. (MADALENO, 2022)

Alimentos civis ou côngruos são aqueles destinados à manutenção da


categoria social do credor de alimentos, incluindo a alimentação propriamente dita, o
vestuário, a habitação, o lazer e necessidades de ordem intelectual e moral, cujos
alimentos são quantificados em consonância com as condições financeiras do
alimentante. (MADALENO, 2022)

O Código Civil regula os alimentos naturais e côngruos no caput do artigo


1.694, ao ordenar a possibilidade de os parentes, cônjuges ou companheiros pedirem
uns aos outros alimentos dos quais necessitem para viver de modo compatível com
a sua condição social, a serem fixados em valores. (MADALENO, 2022)
Alimentos naturais se circunscrevem a cobrir o vital para a vida, aquilo que se
faz estritamente indispensável para a subsistência do alimentando, sem levar em
conta a sua condição social nem seus hábitos de vida. Estes alimentos regulados pelo
artigo 1.694 do Código Civil com base conjugal ou convivencial ou parental e entre
estes alicerces existem diferenças pontuais. Os alimentos dos vínculos afetivos são
créditos provenientes de um dever de manutenção imposto aos cônjuges ou unidos
estavelmente, pelo mútuo dever de assistência (CC, arts. 1.566, inc. III, e 1.724), e
que são estabelecidos diante da ruptura da relação e apenas se houver uma situação
de necessidade abre lugar para a pensão alimentícia. (MADALENO, 2022)

Com relação aos alimentos derivados da filiação existe uma maior amplitude
de deveres que aparecem vinculados ao poder familiar, enquanto menores e
incapazes os filhos, têm seus pais o dever de lhes prestar toda ordem de assistência,
moral e material, mediante a contribuição direta dos progenitores se convivem no
mesmo lar com seus filhos, ou este dever será atendido mediante a fixação de uma
prestação alimentícia com conteúdo bem mais amplo do que teria uma obrigação
alimentar entre parentes maiores e capazes. (MADALENO, 2022)

No que diz respeito aos cônjuges, até o advento da Emenda Constitucional


66, de 13 de julho de 2010, o artigo 1.704 do Código Civil assegurava os alimentos
apenas indispensáveis à sobrevivência, se o consorte alimentando fosse declarado
culpado pela separação judicial, desaparecendo a pesquisa da causa separatória
com a Emenda Constitucional 66/2010, que aprovou o divórcio direto e não causal
como forma objetiva de dissolver o casamento, desvinculando os alimentos da
pesquisa por uma culpa conjugal, reduzindo o direito alimentar apenas à hipótese de
efetiva necessidade, e o direito a uma sobrevivência digna e proporcional, escorada
na solidariedade assistencial. (MADALENO, 2022)

Trata-se de percepção sociológica de reconhecimento da solidariedade como


base da família, em que cada integrante familiar é devedor de todos os seus membros
pelos benefícios que recebeu do grupo, com cuidados, alimentos, educação,
formação herança cultural, social, pecuniária, desvelos etc. e a obrigação alimentar é
uma maneira de pagar e de cobrar e equilibrar os proveitos e as perdas surgidas ao
longo da vida familiar, e que não se apagam ou se compensam apenas pela causa
que originou o fim do casamento, que a vida matrimonial registra invariavelmente,
alegrias e dissabores que constroem uma relação afetiva forjada sempre por dois
personagens. (MADALENO, 2022)

3.2. Quanto à causa jurídica:

Os alimentos podem resultar da lei, da vontade do homem ou do delito. São


legítimos quando oriundos da lei e são devidos em virtude dos vínculos de
parentesco, pelo direito sanguíneo, ou por decorrência do casamento e da união
estável, todos derivando do Direito de Família (CC, art. 1.694). (MADALENO, 2022)

Os alimentos identificados como voluntários derivam de uma declaração de


vontade, que pode ser contratual, quando a pessoa se obriga a pagar
espontaneamente alimentos para outrem, ou quando tem como causa a morte do
alimentante, ajustados através de legado de alimentos, em cédula testamentária (CC,
art. 1.920). (MADALENO, 2022)

Estes alimentos decorrem de um contrato ou de um legado de alimentos


manifestado em um testamento e podem ser temporários ou vitalícios, fixando os
contratantes ou o testador o seu montante, que pode ser pago em prestações
mensais, semestrais ou anuais, ou qualquer outra forma, e se na hipótese do legado
o testador não estabelecer a soma, cabe ao juiz fixar o valor da verba alimentar,
adotando os critérios próprios de arbitramento de uma pensão alimentícia, consoante
o binômio, ou a ponderação entre a necessidade de quem recebe e a possibilidade
do onerado. (MADALENO, 2022)

Os alimentos provenientes do testamento, ao contrário dos alimentos


contratuais, nascidos de um acordo bilateral, surgem da vontade unilateral do
testador, que cria uma relação de obrigação entre o onerado e o legatário, cujo objeto
é a exata prestação de alimentos e este legado deve definir a quantia a ser paga, sua
periodicidade, tempo de duração do legado de alimentos, causa de extinção e
qualquer outra circunstância que afete a obrigação, sempre tendo em mira que a
obrigação alimentar não pode superar as forças da herança (CC, art. 1.792).
(MADALENO, 2022)
Os alimentos voluntários pertencem ao direito das obrigações e os
provenientes do testamento derivam do Direito das Sucessões, tendo ambos origem
em ato espontâneo de disposição, já que a obrigação foi assumida por contrato ou
por legado e não por sentença, o que se verifica no Código de Processo Civil o qual
prevê a execução de alimentos fundada em título executivo extrajudicial que contenha
obrigação alimentar (art. 911). (MADALENO, 2022)

Só os alimentos pertencentes ao Direito de Família permitem a prisão civil pelo


não pagamento injustificado, nos termos do artigo 5º, inciso LXVII, da Constituição
Federal, e previstos nos artigos 1.566, inciso III, e 1.694 e seguintes do Código Civil,
todos eles vinculados às relações de família, incluídos os alimentos gravídicos
estabelecidos com base na Lei 11.804/2008, em conformidade com as conclusões da
V Jornada do STJ de Direito Civil, de agosto de 2011, e previstas no Enunciado 522.
(MADALENO, 2022)

Os alimentos indenizatórios e voluntários, como tampouco os alimentos


previstos no parágrafo único do artigo 4º da Lei 5.478/1968 (Lei dos Alimentos), que
cuidam da entrega de parte da renda líquida dos bens comuns, administrados pelo
devedor no regime da comunhão universal de bens, integram o procedimento do
cumprimento da sentença que foi mantido no vigente diploma processual para
sentença que condene ao pagamento de prestação alimentícia ou de decisão
interlocutória que fixe alimentos (CPC, art. 528). (MADALENO, 2022)

Deve ser registrado que os alimentos indenizatórios do ato ilícito representam


uma forma de ressarcir o dano causado pelo delito e são previstos pelos artigos 948,
inciso II, e 950 do Código Civil, e por seu turno, os alimentos voluntários, ofertados
de forma espontânea, por contrato ou legado são passíveis de revogação por
ingratidão do donatário (CC, art. 557, inc. IV). A indenização é estipulada por meio de
uma pensão mensal a ser fixada com base nos ganhos comprovados da vítima,
calculada durante sua provável sobrevida e no caso de ela sofrer ferimento ou ofensa
à saúde que lhe acarrete redução laboral temporária ou permanente, a pensão será
fixada na proporção da redução de sua capacidade de trabalho. Entretanto, não
devem ser confundidos os alimentos do Direito de Família com a prestação de
alimentos da responsabilidade civil, até porque a indenização do artigo 948 do Código
Civil não se restringe aos alimentos devidos às pessoas que eram sustentadas pela
vítima. Deve ser consignado que serão credores destes alimentos ressarcitórios
quaisquer pessoas, independentemente de vínculo de parentesco, conquanto
comprovem haver sofrido um dano pessoal, iure proprio, porque recebiam assistência
exclusiva da vítima. A indenização pelo ato antijurídico tem natureza mista de Direito
de Família e de Obrigações, cuja origem é compensatória e não meramente
alimentar. Basta considerar que a condenação no pagamento da pensão alimentícia
do ato ilícito é calculada pelos rendimentos da vítima e não pelas condições do
causador do dano, não sendo utilizado o binômio da possibilidade do alimentante,
como acontece no Direito de Família (CC, art. 1.694, § 1º), “ainda que a sentença seja
inexequível, uma vez que o devedor não tem condições de suportar sequer as custas
processuais”. (MADALENO, 2022)

3.3. Quanto à finalidade:

Os alimentos são classificados em definitivos ou regulares, provisórios ou


sendo judicialmente reivindicados em tutela antecipada.

Alimentos regulares ou definitivos são aqueles estabelecidos pelo juiz na


sentença ou por homologação em acordo de alimentos firmado entre o credor e o
devedor, não significando dizer que se trate de alimentos definitivos e sem
possibilidade de futura revisão, se houver modificação na situação financeira de quem
os supre, ou na de quem os recebe (CC, art. 1.699; CPC, art. 505, inc. I; e Lei
5.478/1968, art. 15). Também integram este rol de alimentos definitivos aqueles
oriundos das transações relativas a alimentos celebradas perante o Promotor de
Justiça ou Defensor Público (Lei 11.737/2008), e por estes referendados, consoante
artigo 13 do Estatuto da Pessoa Idosa (Lei 10.741/2003). (MADALENO, 2022)

Os alimentos provisórios são arbitrados liminarmente pelo juiz ao despachar a


ação de alimentos proposta pelo rito especial da Lei 5.478, de 25 de julho de 1968,
sendo exigida a prévia prova do parentesco, do casamento ou da obrigação de
alimentar (art. 2º da Lei 5.478/1968). O rito especial da Lei de Alimentos não
contemplava as uniões estáveis, destituídas de prévia prova do vínculo afetivo como
entidade familiar, tratando-se de relacionamentos nascidos na informalidade, mas
estas questões foram eliminadas com o advento do Código Civil de 2002, restando
explícito o direito material dos companheiros aos alimentos (CC, art. 1.694), ao lado
dos parentes e cônjuges, sendo aplicáveis a eles, no que couberem, os demais
artigos relativos a alimentos (CC, arts. 1.694 a 1.770), quer se trate de cônjuges e
companheiros. Os alimentos provisórios são devidos até a decisão final, inclusive na
pendência de recurso extraordinário e especial (Lei 5.478/1968, art. 13, § 3º) e pelo
disposto no artigo 13 da Lei de Alimentos sua aplicação também tem lugar nas ações
de revisão de alimentos. O Centro de Estudos Jurídicos do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul na sua 34ª orientação dispõe que alimentos provisórios fixados após
a citação não retroagem à data desta, o que somente ocorre com os definitivos, de
modo que ocorrendo majoração dos alimentos, a respectiva decisão judicial é
retroativa à data da citação, mas se há redução da verba alimentar não é possível
cobrar a diferença a maior dos alimentos provisórios, circunstância que restou
consolidada com a edição da Súmula 621 do STJ ao prescrever que: “Os efeitos da
sentença que reduz, majora ou exonera o alimentante do pagamento retroagem à
data da citação, vedadas a compensação e a repetibilidade”. (MADALENO, 2022)

Os alimentos em tutela provisória (em caráter de provimento liminar) possuem


a função de garantir a subsistência do credor de alimentos durante a tramitação da
ação principal de divórcio ou da ação específica de alimentos, inclusive para o
pagamento das despesas judiciais e dos honorários de advogado. Pelo sistema do
Código de Processo Civil, o gênero tutelas provisórias abarca as seguintes espécies:
(i) urgência; e (ii) evidência. Para efeitos de pedido de alimentos durante a tramitação
do processo principal de separação judicial, divórcio ou de alimentos, estes podem
ser reivindicados em tutela provisória de urgência, antecipada ou incidental, tendo em
vista que os alimentos são fornecidos para permitirem a manutenção do alimentante
durante a pendência do processo principal, e podem ser concedidos no bojo da
própria ação de conhecimento. (MADALENO, 2022)

Consequência natural dos alimentos é a possibilidade de serem pedidos em


tutela provisória, com caráter de urgência e de forma antecipada, em procedimento
antecedente ou incidental, nos termos e na forma dos artigos 294, 300 e 303 do CPC,
ou podem ser requeridos desde logo em pleito incidental cumulando o pedido de
separação, ou de divórcio, com o de alimentos. De acordo com o inciso I, do § 1º, do
artigo 303 do Código de Processo Civil, se os alimentos forem concedidos em tutela
antecipada, o autor deverá aditar a petição inicial, promovendo, por exemplo, o pedido
principal de divórcio cumulado com alimentos definitivos que já foram
antecipadamente deferidos, sem que seja necessário fazer um novo processo.
(MADALENO, 2022)

Os alimentos liminares podem ser revistos a qualquer tempo, assim como


podem ser revogados nos autos onde foram fixados. Pressupostos para a concessão
da tutela antecipada Pelas normas do CPC, para a concessão da antecipação da
tutela é preciso existir fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, que
será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito
e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo e, em sede de alimentos,
geralmente precisam ser antecipados. Também acrescem a seus requisitos o da
prova inequívoca e a do juízo de verossimilhança da alegação, não no sentido de se
tratar de uma verdade absoluta, demonstrada de modo incontroverso e incontestável,
mas, uma prova robusta, capaz de aproximar a percepção do julgador ainda em sede
de cognição sumária, de uma probabilidade muito grande de verdade daquilo que
está sendo alegado. São pressupostos que precisam sempre ser demonstrados para
a concessão da tutela o risco de dano irreparável ou de difícil reparação concessivo
da tutela antecipada há de ser concreto e não hipotético, assim como precisa ser
iminente, presente e pontual, porque sendo um risco distanciado, ou de menor
probabilidade, não faz sentido antecipar a tutela judicial que bem poderá aguardar a
decisão final da sentença a ser proferida na demanda ajuizada. Em sede de cognição
sumária a verdade não é definitiva e a qualquer momento pode ser demonstrado por
uma das partes o equívoco das premissas sobre as quais o julgador fundamentou seu
despacho liminar, provocando a reversão da decisão proferida, que tratou de
antecipar um direito normalmente apreciado ao final da ação, mas adiantado em
provimento temporário para evitar a ocorrência de danos irreparáveis. (MADALENO,
2022)

Não obstante o caráter provisório da tutela de urgência concedida de forma


antecipada, sua revogação depende do surgimento de um fato novo, capaz de
convencer o julgador a revogar a medida ou modificá-la em decisão fundamentada
(CPC, art. 304), isso se não for cassada a decisão interlocutória mediante a
interposição do pertinente recurso do agravo. (MADALENO, 2022)
3.4 Quanto ao momento em que são reclamados:

No que diz respeito ao momento em que são reclamados, os alimentos podem


ser distinguidos entre pretéritos e futuros.

Futuros são os alimentos prestados em decorrência de decisão judicial e são


devidos desde a citação do devedor (Lei 5.478/68, art. 13, § 2º). Já os alimentos
pretéritos são os anteriores ao ingresso da ação e que não são devidos por não terem
sido requeridos, isto porque os alimentos vencidos são aqueles fixados a partir da
propositura da ação, presumindo a lei não existir dependência alimentar quando o
credor nada requer, embora não seja descartada a possibilidade de ajuizamento de
uma ação de indenização para o ressarcimento de gastos operados com a
manutenção de filho comum, mas este ressarcimento em nada se confunde com a
pensão alimentícia. (MADALENO, 2022)

Os alimentos pretéritos são relacionados às prestações fixadas judicialmente


e não pagas pelo devedor dos alimentos, e que podem ser objeto de ação de
cumprimento de sentença, enquanto não estejam prescritas, no prazo de dois anos
(CC, art. 206, § 2º). Os créditos pensionais vencidos e não pagos podem ser cobrados
pela eleição da prisão civil do artigo 528 do Código de Processo Civil, limitado às três
últimas prestações (CPC, art. 528, § 7º), em execução de alimentos quando fundada
em título extrajudicial (CPC, art. 911) ou cumprimento de 11.3. 11.3.1 sentença que
reconheça a exigibilidade de obrigação de prestar alimentos (CPC, art. 528, § 8º).
(MADALENO, 2022)

A jurisprudência consolidou entendimento no sentido de admitir o rito de


coação pessoal do artigo 5º, inciso LXVII, da Constituição Federal, e do artigo 528, §
7º, do Código de Processo Civil, somente com referência às três prestações
alimentícias em atraso, além de mandar protestar o pronunciamento judicial, em
reforço coativo (CPC, art. 528, § 1º), abarcadas ainda as prestações vencidas no
curso do processo, como expressamente referido pelo artigo 528, § 7º, do Código de
Processo Civil, enquanto as demais parcelas vencidas em período anterior aos três
últimos meses devendo ser cobradas em outra demanda executiva, a qual deve ser
empreendido o rito da penhora, haja vista terem perdido a função de imediata
subsistência alimentar, cujo entendimento havia sido consolidado na Súmula 309 do
STJ. (MADALENO, 2022)

4. Alimentos gravídicos:

A Lei 11.804/2008, em atenção à teoria concepcionista, reconhece o direito


aos alimentos do nascituro, cuja garantia se dá desde a sua concepção e não apenas
condicionado ao seu nascimento com vida, como é a compreensão da teoria natalista,
que só confere o direito alimentar com o nascimento do concebido. (MADALENO,
2022)

Os alimentos gravídicos representam uma pensão alimentícia reclamada pela


gestante para cobrir as despesas adicionais do período de gravidez e que sejam dela
decorrentes no período compreendido entre a concepção e o parto, inclusive as
despesas referentes à alimentação especial, assistência médica e psicológica,
exames complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições
preventivas e terapêuticas indispensáveis, conforme prescrição médica (Lei
11.804/2008, art. 2º), pois não seria justo que apenas a gestante arcasse com os
custos e as responsabilidades da gravidez. (MADALENO, 2022)

Os alimentos gravídicos são devidos a partir da concepção e não após a


citação do réu, como chegou a ensaiar o texto vigente, que neste ponto mereceu veto
presidencial, para obviar manobras que evitassem a citação do devedor alimentar. O
juiz deve ser convencido da paternidade por meio da existência de indícios, fixando
então os alimentos gravídicos que perdurarão até o nascimento da criança, sendo
sopesadas para a fixação do montante alimentar as necessidades da parte autora e
as possibilidades financeiras dos genitores e não somente da parte ré, como sugere
o artigo 6º da Lei 11.804/2008, até porque o parágrafo único do artigo 2º estabelece
que os alimentos gravídicos devem levar em conta a contribuição que também deverá
ser dada pela mulher grávida. Após o nascimento com vida, os alimentos ficam
convertidos em pensão alimentícia em favor do menor até que uma das partes solicite
a sua revisão, como inclusive se pronunciou o Superior Tribunal de Justiça. Estes
alimentos possam ser revisados depois do nascimento, agora sim, também
considerando o padrão social, econômico e financeiro do alimentante, desde que haja
iniciativa processual para a revisão dos alimentos que deixam de ser gravídicos com
o nascimento do credor e se convertem em pensão alimentícia e esta é associada à
condição social do alimentante. (MADALENO, 2022)

Para a fixação dos alimentos gravídicos é suficiente a existência de indícios da


paternidade, das chamadas presunções de fato (hominis), pelas quais as
observações fáticas adquirem certo valor probatório, ou dispensam maior segurança
na prova efetiva da relação de filiação. Evidentemente o juiz deve se ater a indícios
fortes, capazes de levá-lo à presunção da paternidade, como ocorre com fotografias,
escritos públicos e particulares, bilhetes, prova testemunhal, declarações e
depoimentos, sendo presumida a paternidade no caso de a gestante ser casada com
o réu e em todas as demais hipóteses ventiladas no artigo 1.597 do Código Civil,
mesmo quando rompida a sociedade conjugal e nas situações de inseminação
artificial homóloga ou heteróloga, existindo prévia autorização do marido, como
também passam a ser presumidas, ao menos do companheiro, todas as paternidades
advindas de preexistência de uma união estável que possa ser antecipadamente
comprovada, por força da presunção de paternidade atribuída a todas as mulheres,
casadas ou não (Lei 13.112/2015). (MADALENO, 2022)

É ônus da mulher grávida colacionar os indícios que apontem para a alegada


paternidade, diante da impossibilidade de ser exigida prova negativa por parte do
indigitado pai. Também foi vetada a realização do exame em DNA durante a
gestação, diante do risco imposto ao feto com a retirada de material genético.
Originariamente estava prevista a responsabilidade objetiva da autora da ação pelos
danos materiais e morais causados ao réu pelo resultado negativo do exame pericial
de paternidade, cujo dispositivo foi vetado por se tratar de norma intimidadora, eis
que criaria hipótese de responsabilidade objetiva pelo simples fato de a ação dos
alimentos gravídicos não ser exitosa, importando, portanto, na possibilidade de
devolução dos valores pagos, dentre outras responsabilidades. Contudo, tal veto não
descarta ser apurada a responsabilidade subjetiva da autora da ação, uma vez
provado o dolo ou a culpa ao apontar o réu indevidamente como sendo o genitor do
nascituro. É de cinco dias o prazo para defesa do réu, contado de sua citação, embora
os alimentos sejam devidos desde a concepção e se não apresentar defesa o silêncio
enseja a admissão da paternidade, condicionada, evidentemente, ao nascimento com
vida do nascituro. (MADALENO, 2022)

Por sua vez, Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona (2022), ao ensinarem sobre os
alimentos gravídicos, assinalam que se trata de instituto inserido pela Lei n.
11.804/2008, e consiste no “direito de alimentos da mulher gestante”, os quais
compreendem “os valores suficientes para cobrir as despesas adicionais do período
de gravidez e que sejam dela decorrentes, da concepção ao parto, inclusive as
referentes à alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames
complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições
preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o
juiz considere pertinentes”, referindo-se “à parte das despesas que deverá ser
custeada pelo futuro pai, considerando-se a contribuição que também deverá ser
dada pela mulher grávida, na proporção dos recursos de ambos”, tudo na forma dos
seus arts. 1º e 2º. A referida norma pacifica questão que já vinha sendo há muito
reconhecida na jurisprudência e na doutrina especializada, da possibilidade de
outorga de alimentos ao nascituro, como forma de garantir um regular
desenvolvimento da gestação e adequado parto.

Quanto à nomenclatura adotada pela Lei em comento, Silmara Juny Chinellato


adverte que Lei n. 11.804/2008 apresenta um neologismo desnecessário e
inaceitável, porquanto os alimentos são fixados para uma pessoa e não para um
estado biológico da mulher, desconhecendo que o titular do direito a alimentos é o
nascituro, e não a mãe. Em outros termos, seria mais adequada a designação
“alimentos do nascituro”. (apud STOLZE; PAMPLONA, 2022)

Em suma, convencido da existência de indícios da paternidade, a teor do art.


6º da Lei, o juiz fixará os alimentos gravídicos que perdurarão até o nascimento da
criança, sopesando as necessidades da parte autora e as possibilidades da parte ré.
Após o nascimento com vida, os alimentos gravídicos ficam convertidos em pensão
alimentícia em favor do menor até que uma das partes solicite a sua revisão. Note-se
que, para efeito de fixação da verba, são suficientes “indícios da paternidade”, não se
exigindo prova cabal pré-constituída. Por óbvio, se a paternidade, posteriormente, for
oficialmente negada, poderá o suposto pai voltar-se, em sede de ação de regresso,
contra o verdadeiro genitor, para evitar o seu enriquecimento sem causa.(STOLZE;
PAMPLONA, 2022)

Ainda no que diz respeito aos alimentos gravídicos, faz-se importante


apresentar a lição de Maria Berenice Dias (2021). Para a referida autora, a Lei n.
11.804/2008 deveria ser chamada de subsídios gestacionais, inclusive por enumerar
as despesas que precisam ser atendidas da concepção ao parto, a saber:
alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames complementares,
internações, parto, medicamentos e demais prescrições preventivas e terapêuticas
indispensáveis a critério do médico.

Trata-se de rol não é exaustivo, pois o juiz pode considerar outras despesas
pertinentes. De qualquer modo, são despesas com a gravidez e não correspondem a
todas as despesas da gestante. Ressalta-se, em acréscimo, que a legitimidade ativa
para a ação é da gestante, que promove a ação em nome próprio. Não é necessário
cumular a ação investigatória de paternidade. O foro competente é o do domicílio da
gestante (CPC 53 II). Basta o juiz reconhecer a existência de indícios da paternidade
para a concessão liminar dos alimentos, não sendo suficiente a mera imputação da
paternidade, sem historiar a autora as circunstâncias fáticas. Mas os indícios não
podem ser exigidos com muito rigor. No impasse entre a dúvida pelo suposto pai e a
necessidade da mãe e do filho, a dúvida deve ser superada em favor da necessidade.
A lei concede ao réu o prazo de resposta de cinco dias (7.º). De qualquer modo, nada
impede que o juiz fixe outro prazo, mas a tendência é a designação de audiência
preliminar, a partir de quando começa a fluir o prazo de resposta. Não é cabível pedido
de suspensão da execução até a realização do exame de DNA. (DIAS, 2021)

Caso os alimentos provisórios sejam indeferidos, ou ocorrendo o nascimento


enquanto tramita a demanda,o processo não será extinto. A ação não perde o objeto,
porque a própria lei determina a transformação do encargo a favor do recém-nascido.
Cabe ao juiz fixar os alimentos ao filho, em face do fato modificativo ocorrido (CPC
493). Extinguir o processo e impor ao filho que promova nova ação deslocaria o termo
inicial da obrigação alimentar, o que viria em prejuízo do credor, pois os alimentos
definitivos retroagem somente à data da citação (Lei de Alimenttos 13, §2.º). Cabe,
apenas, mandar retificar a autuação. (DIAS, 2021)
Divergem doutrina e jurisprudência sobre o termo inicial dos alimentos
gravídicos: a concepção, o ajuizamento da ação ou o despacho que deferiu os
alimentos. Em face do seu caráter indenizatório, melhor é a tese de que são devidos
a partir da concepção, porém esta tese não vingou nos tribunais, que estabelece a
data da fixação, tal como determina o art. 4º da Lei de Alimentos. Caso a mãe não
saiba quem é o pai, não pode ingressar com a ação contra mais de um provável
genitor. Afinal, não há indícios da paternidade. (DIAS, 2021)

No entanto, em caso de violência sexual praticada por dois ou mais homens,


possível colocar todos como réus. Forma-se um litisconsórcio passivo eventual. Até
ser identificado quem é o genitor, a obrigação alimentar deve ser paga por todos os
réus da ação, de forma solidária. Para a concessão dos alimentos, não é necessária
a prova da necessidade da gestante. Caso ela faça jus a alimentos para si, pode
cumular os dois pedidos: alimentos para ela e alimentos gravídicos. Ainda que o valor
dos alimentos deva atentar às possibilidades do alimentante, o encargo não guarda
proporcionalidade com os seus ganhos, tal como ocorre com os alimentos devidos ao
filho. Existe um limite: as despesas decorrentes da gravidez. Além do pagamento de
prestações mensais, é possível impor o atendimento de encargos determinados,
como, por exemplo, exames médicos. Na hipótese de gestação por substituição, pode
a gestante ingressar com ação de alimentos gravídicos contra as pessoas que
firmaram o termo de consentimento informado e irão assumir o vínculo parental. A
verba fixada a favor da mãe se transforma em alimentos para o filho quando de seu
nascimento. A mudança da titularidade do crédito não precisa ser requerida pela
autora nem deferida pelo juiz. Como ocorre a mudança da natureza do encargo, é
necessário o atendimento do critério da proporcionalidade, segundo as condições
econômicas do genitor. Isso porque o encargo decorrente do poder familiar tem
parâmetro diverso, devendo garantir o direito do credor de desfrutar da mesma
condição social do devedor (CC 1.694). Desse modo, nada impede que sejam
estabelecidos valores diferenciados, vigorando um montante para o período da
gravidez e outro valor a título de alimentos ao filho, a partir do seu nascimento.
Embora os parâmetros do encargo sejam outros, fixados os alimentos gravídicos,
mesmo ocorrendo a transformação em favor do filho, possível a revisão dos
alimentos, sem a exigência da alteração do parâmetro possibilidade/necessidade.
Ainda que o pedido seja de alimentos, a causa de pedir da ação é a paternidade. Na
hipótese de o genitor não contestar a demanda, ou se insurgir somente quanto ao
valor do encargo, caso não efetive o registro do filho quando de seu nascimento, a
procedência da ação autoriza a autora a pedir a expedição do mandado de registro,
sendo dispensável a instauração do procedimento de averiguação da paternidade ou
a propositura da ação investigatória para o estabelecimento do vínculo parental. Mas
não se tem notícia de que tal tenha sido deferido nem ao menos requerido. (DIAS,
2021)

Na hipótese de interrupção da gestação, como nos casos de aborto


espontâneo, os alimentos restam extintos, descabendo, no entanto, qualquer
reembolso ou restituição dos valores pagos. Apesar de a lei consagrar que os
alimentos gravídicos sejam custeados pelo pai (2.º parágrafo único), tal não afasta a
aplicação supletiva da lei civil, que impõe a obrigação complementar a outros
obrigados em caráter subsidiário. Logo, comprovada a impossibilidade do suposto
genitor de arcar com o encargo, é possível exigir alimentos gravídicos dos avós, com
base no Código Civil (1.696 e 1.698) e em toda a construção jurisprudencial e
doutrinária sobre o tema até agora desenvolvida. Havendo inadimplemento, é
possível a execução do encargo, inclusive pelo rito da coação pessoal (CPC 528). Na
hipótese de a gestante não ter pleiteado os alimentos durante o período da gestação,
nada impede que, após o nascimento, pleiteie o reembolso das despesas que
integram o encargo que a lei atribui ao genitor. Ainda que não se trate de ação de
alimentos a competência é das Varas de Família. O ponto que gera maiores
questionamentos diz com a possibilidade de a paternidade ser afastada. A
preocupação é recente, mas este risco sempre existiu, ao menos desde o momento
em que a Justiça passou a fixar alimentos provisórios nas ações investigatórias de
paternidade, mediante indícios do vínculo parental. Mesmo que os alimentos sejam
irrepetíveis, em caso de improcedência da ação cabe identificar a postura da autora.
Restando comprovado que ela agiu de má-fé ao imputar ao réu a paternidade, há o
dever de indenizar, cabendo, inclusive, a imposição de danos morais. Eventual pedido
indenizatório deve ser dirigido contra a gestante que propôs a ação e não contra a
criança, mesmo que já tenha ocorrido o seu nascimento. (DIAS, 2021)

Tema 02: Alimentos – Classificação; Características; Aspectos polêmicos,


relevantes e práticos; Procedimento.

Você também pode gostar