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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL NORDESTE MINEIRO

INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR INTEGRADO

BEATRIZ DE JESUS MARQUES

A (IM)POSSIBILIDADE DE EXTINÇÃO DO DEVER DE PRESTAR ALIMENTOS À


LUZ DA DECLARAÇÃO DE INDIGNIDADE PREVISTA NO CÓDIGO CIVIL
BRASILEIRO

Teófilo Otoni
2020
BEATRIZ DE JESUS MARQUES

A (IM)POSSIBILIDADE DE EXTINÇÃO DO DEVER DE PRESTAR ALIMENTOS À


LUZ DA DECLARAÇÃO DE INDIGNIDADE PREVISTA NO CÓDIGO CIVIL
BRASILEIRO

Monografia para a obtenção do grau de


bacharel em Direito, apresentada ao
Instituto de Ensino Superior Integrado da
Fundação Educacional Nordeste Mineiro.
Orientador: Prof.ª Me. Cristiane Afonso
Soares Silva

Teófilo Otoni
2020
BEATRIZ DE JESUS MARQUES

A (IM)POSSIBILIDADE DE EXTINÇÃO DO DEVER DE PRESTAR ALIMENTOS À


LUZ DA DECLARAÇÃO DE INDIGNIDADE PREVISTA NO CÓDIGO CIVIL
BRASILEIRO

Monografia apresentada ao INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR INTEGRADO –


FENORD como requisito para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Teófilo Otoni, _____ de ___________ de 2020.

Banca Examinadora

________________________________________
Prof.ª Cristiane Afonso Soares Silva
Professor Orientador – IESI/FENORD

________________________________________
Professor Examinador
IESI/FENORD

________________________________________
Professor Examinador
IESI/FENORD
RESUMO

Palavras-chaves: Indignidade. Declaração. Extinção. Dever de prestar alimentos.


5

ABSTRACT

The presentwork...

(...)

Keywords: Civil responsability. Consumeraccident. Informationaddiction.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO………………………………………………………………....................6
2 DOS ALIMENTOS.....................................................................................................8
2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PRESTAÇÃO ALIMENTAR.....................................8
2.2 ASPECTOS CARACTERÍSTICOS DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR.....................11
2.2.1 Caráter Personalíssimo..................................................................................11
2.2.2 Futuridade........................................................................................................11
2.2.3 Imprescritibilidade...........................................................................................12
2.2.4 Irrenunciabilidade............................................................................................13
3 DA INDIGNIDADE...................................................................................................14
3.1 PREVISÃO...........................................................................................................14
3.2 A APLICAÇÃO DA INDIGNIDADE NO DIREITO DE FAMÍLIA.............................14
3.3 A INDIGNIDADE ENQUANTO CAUSA DE EXTINÇÃO DO DEVER DE PRESTAR
ALIMENTOS...............................................................................................................16

4 EXCEÇÃO À EXTINÇÃO DO DEVER DE PRESTAR ALIMENTOS POR


INDIGNIDADE............................................................................................................18

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................20

REFERÊNCIAS..........................................................................................................22
6

1 INTRODUÇÃO

O presente projeto visa analisar o instituto da indignidade, que traz um rol


taxativo, porém abrange as mais diversas situações intrínsecas nas relações sociais
atualmente.

A palavra sucessão, em seu sentido amplo, representa uma relação de ordem,


justaposição, sequência de fatos ou de coisas.Na relação de sucessão, o indivíduo
em situação indigna possui a capacidade de ser herdeiro ou legatário, porém é
impedido de permanecer nesse status por motivos de ordem legal.

Indignidade, segundo o clássico conceito de Barros Monteiro, “constitui a pena


civil, cominada a herdeiro acusado de atos criminosos ou reprováveis contra o de
cujus”. (Monteiro, 2003, p. 62).

Nessa linha de raciocínio, a prática de atos considerados desonrosos,


menosprezos ou delituosos, seja ela numa herança ou outro tipo de situação, rompe
toda a presunção de qualquer vínculo afetivo entre a figura do legatário e a do credor
da prestação.

É majoritária e mais coerente a corrente que acredita que a exclusão por


indignidade trata-se de uma sanção civil, pois analisa-se tendo como base a boa-fé
objetiva, um dos pilares do Direito Civil contemporâneo.

O inciso I do art. 1.814 do Código Civil atual trata-se de uma inovação quanto ao
código antigo, visto que este somente previa e trazia expressas possibilidades de
indignidade quando o ato fosse cometido exclusivamente contra o hereditando. O
legislador civil, então, agiu de maneira acertada em proteger a família, pois insta
salientar que qualquer ofensa aos parentes do hereditando irá atingi-lo, ainda que
indiretamente.

Do ponto de vista doutrinário, tem se atentado, também, ao enquadro do instituto


da indignidade nos casos de auxílio, instigação e induzimento ao suicídio, visto que
ninguém pode dispor da vida de seu semelhante, seja ele quem for.Já quanto ao
ponto de vista legislativo, a exclusão do herdeiro ou legatário só será reconhecida
mediante sentença declaratória transitada em julgado.
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Assim, não resta dúvidas que, embora o ato constitua causa de exclusão e crime
de grande repulsa, como no caso de um homicídio doloso, ainda que o infrator seja
condenado criminalmente por tal delito, não poderá ser declarado indivíduo indigno
sem antes ser submetido ao devido processo legal.

Conforme defendido por Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka (p. 01,
2007), considera-se a indignidade como uma causa de escusabilidade do dever de
alimentar e também como causa de exclusão do direito à herança ou à sucessão.
Porém, o Código Civil e a doutrina tratam a “conduta indigna” como um tipo de
prática que é suficiente retirar um outro direito de grande relevância para sua
subsistência ou para a preservação dos interesses patrimoniais do credor de
alimentos ou do herdeiro, defendendo o âmago das relações do direito privado.

A finalidade desse trabalho é demonstrar que, embora o instituto da indignidade


seja amplamente abordado, ainda existem divergências quanto ao momento e à
maneira de aplicação do mesmo, visto que as situações são inúmeras e bastante
distintas.

Logo, é sabida a relevância do assunto em questão, tendo em vista se tratar da


proteção do Princípio da Solidariedade no seio familiar. E, mesmo já havendo
jurisprudências sobre esse assunto, é preciso que haja um maior entendimento
acerca deste instituto e seus desdobramentos.
8

2 DOS ALIMENTOS

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR

A priori, a expressão “alimentos” remete a um significado vasto e sua


origem é dada do princípio da dignidade da pessoa humana, pilar da Constituição
Federal. Logo, a prestação alimentar encontra-se elevada a um patamar distinto: o
de direito fundamental.
Para o direito, alimento não significa somente o que assegura a vida.
A obrigação alimentar tem um fim precípuo: atender às necessidades de
uma pessoa que não pode prover a própria subsistência. O código civil não
define o que sejam alimentos. Preceito constitucional assegura a crianças e
adolescentes direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura e à dignidade (CF/227). Quem sabe aí se possa
encontrar o parâmetro para a mensuração da obrigação alimentar. Talvez o
seu conteúdo possa ser buscado no que entende a lei por legado de
alimentos (art. 1.920/CC): sustento, cura, vestuário e casa, além de
educação, se o legatário for menor. (DIAS, 2009, p. 459 apud BRAMBILLA,
2016)

Nesse ínterim, vislumbramos que os alimentos não podem ser


simplesmente tratados como mero sustento, pois incluem também aspectos como
lazer, saúde, vestuário, educação, direito à profissionalização etc.
Pela própria natureza humana, existem inúmeras necessidades que se
encontram presentes desde o nascimento e perduram até a morte, e a pessoa que é
responsável pelas necessidades de outrem, deve garantir a satisfação das mesmas.
Porém, como passou a observar-se uma dificuldade em se cumprir de maneira
efetiva tal dever, ocorreu a inserção do dever alimentar como princípio do
ordenamento jurídico familiar. Portanto, a responsabilidade, que inicialmente era
estatal, transferiu-se aos membros da família.

Nos primórdios da civilização romana a palavra família, ora era usada para
designar a reunião de pessoas unidas por parentesco civil (agnatio), que
viviam sobre a pátria potestas, nelas incluídas a mulher e os filhos, ora para
abranger, além daquelas pessoas, os escravos e o próprio patrimônio do
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pater, que tinha a autoridade diretiva da família. (PEREIRA, 1988, p. 345


apud BRAMBILLA, 2016)

Não se tem ao certo um momento que definiu esse estabelecimento, mas


o reconhecimento ganhou força quando o vínculo de sangue estabelecido entre os
membros de uma família passou a ser considerado mais enfaticamente,
transformando-se a visão que era outrora apresentada (CAHALI, 2009. p. 42).
O primeiro Código Civil brasileiro, que fora instituído pela Lei 3.071
consoante com a Constituição Federal de 1891, tratou do dever alimentar em vários
aspectos:
Art. 231. São deveres de ambos os cônjuges:
(...)
III. Mutua assistência.
IV. Sustento, guarda e educação dos filhos.

No que dizia respeito ao dever do marido na relação familiar e sua


manutenção, segue outra disposição deste mesmo código:
Art. 233. O marido é o chefe da sociedade conjugal, função que exerce com
a colaboração da mulher, no interesse comum do casal e dos filhos (arts.
240, 247 e 251). (Redação dada pela Lei nº 4.121, de 1962).
Compete-lhe:
(...)
IV - prover a manutenção da família, guardadas as disposições dos arts.
275 e 277. (Redação dada pela Lei nº 4.121, de 1962).

Além dos artigos supracitados, o antigo Código Civil brasileiro dispunha


sobre os alimentos em seu capítulo VII, colocando-os inseridos no âmbito das
relações de parentesco. Nesse sentido, o art. 396 alegava que: “de acordo com o
prescrito neste capítulo podem os parentes exigir uns dos outros os alimentos de
que necessitem para subsistir”. Ademais, o art. 397 elencava que “o direito á
prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os
ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de
outros”.
Com o Código sucessor ao de 1916, novas interpretações e várias
alterações sobre o tema discutido foram instituídas.
10

O Decreto lei n. 3200 de 1941 (Lei de Proteção à Família) instituiu o


desconto em folha de pagamento, Lei n. 883 de 1949 que cuidou dos
alimentos provisionais em favor do filho ilegítimo, a Lei n. 5.478 de 1968 que
dispõe sobre a ação de alimentos, Lei do divórcio que alterou diversos
dispositivos da Lei n. 883 de 1949, o Código de Processo Civil de 1973
também disciplinou a execução de alimentos. Em um tempo mais recente
podemos também destacar a Lei n. 8.560 de 1992 que regula a investigação
de paternidade dos filhos havidos fora do casamento, Lei n. 8.648 de 1993
que fez acrescentar o parágrafo único no artigo 399 do Código Civil de
1916. (MENEZES, 2011, p. 29 apud BRAMBILLA, 2016)

Após o advento do Código Civil de 2002, o dever de sustento foi


estabelecido com pilar do dever de alimentos. Nesse ínterim, dispõe o art. 1566, IV:

Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:

I - fidelidade recíproca;

II - vida em comum, no domicílio conjugal;

III - mútua assistência;

IV - sustento, guarda e educação dos filhos;

V - respeito e consideração mútuos.

Ao se discutir sobre o tema dever, há a presunção de um direito implícito,


que surgiria em razão do direito, advindo de uma relação de parentesco, pertencente
a outrem. Nesse sentido:
Para prover aos pais o desempenho eficaz de suas funções, a lei provê os
genitores do poder familiar, com atribuições que não se justificam senão por
sua finalidade. São direitos a eles atribuídos para lhes permitir o
cumprimento de suas obrigações em relação à prole. Não há poder familiar
senão porque deles se exigem obrigações que assim se expressam:
sustento, guarda e educação dos filhos. (CAHALI, 2009, p. 339 apud
BRAMBILLA, 2016)

Pelo exposto, concluímos que a evolução histórica do instituto da


obrigação alimentar permitiu que fosse conferido o título de essencial ao mesmo,
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pois tem como objetivo garantir pelo menos a subsistência mínima ao indivíduo que
depende de outrem, literal e incondicionalmente.

2.2 ASPECTOS CARACTERÍSTICOS DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR

No âmbito do Direito Civil, a obrigação alimentar encontra-se prevista nos


arts. 1.695 a 1.710, e é conceituada como toda e qualquer necessidade, ainda que
básica, que o ser humano possuir para viver em sociedade. Tal conceito é bem
amplo, visto que não significa somente os alimentos propriamente ditos.

2.2.1 Caráter Personalíssimo

O fato de o direito alimentar ser personalíssimo significa que é inerente à


própria pessoa que necessita, característica que é levada em conta para assegurar a
subsistência da mesma. A obrigação que decorre desse direito não é transmissível,
pois advém de uma ligação de parentesco entre uma pessoa e outra (o credor e o
devedor de alimentos).
A transmissibilidade torna-se impossível tanto através de negócio jurídico
quanto de fato jurídico. Tal regra não se confunde com a possibilidade de demais
parentes, subsidiariamente, serem chamados para a prestação ou com a
responsabilidade de prestações de alimentos vencidos até a data do óbito do credor
de alimentos, feita de maneira sucessória.

2.2.2 Futuridade

O aspecto de futuridade no instituto do dever alimentar é substancial.


Insta salientar que os alimentos tem como objetivo a manutenção da pessoa que os
recebe, destinando-se, assim, ao futuro e inexigindo-se ao passado.
Esse assunto está presente também no Código de Processo Civil, que,
em seus arts. 911 a 913, aborda a execução de alimentos no âmbito processual.

Art. 911. Na execução fundada em título executivo extrajudicial que


contenha obrigação alimentar, o juiz mandará citar o executado para, em 3
(três) dias, efetuar o pagamento das parcelas anteriores ao início da
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execução e das que se vencerem no seu curso, provar que o fez ou


justificar a impossibilidade de fazê-lo.

Parágrafo único. Aplicam-se, no que couber, os §§ 2º a 7º do art. 528 .

Art. 912. Quando o executado for funcionário público, militar, diretor ou


gerente de empresa, bem como empregado sujeito à legislação do trabalho,
o exequente poderá requerer o desconto em folha de pagamento de pessoal
da importância da prestação alimentícia.

§ 1º Ao despachar a inicial, o juiz oficiará à autoridade, à empresa ou ao


empregador, determinando, sob pena de crime de desobediência, o
desconto a partir da primeira remuneração posterior do executado, a contar
do protocolo do ofício.

§ 2º O ofício conterá os nomes e o número de inscrição no Cadastro de


Pessoas Físicas do exequente e do executado, a importância a ser
descontada mensalmente, a conta na qual deve ser feito o depósito e, se for
o caso, o tempo de sua duração.

Art. 913. Não requerida a execução nos termos deste Capítulo, observar-se-
á o disposto no art. 824 e seguintes, com a ressalva de que, recaindo a
penhora em dinheiro, a concessão de efeito suspensivo aos embargos à
execução não obsta a que o exequente levante mensalmente a importância
da prestação.

Com isso, em relação ao aspecto de futuridade, não há justificativa


alguma para que pretenda-se pugnar alimentos de maneira retroativa.

2.2.3 Imprescritibilidade

O direito aos alimentos é imprescritível, ainda quando o mesmo não seja


exercido por longo período. Porém, tais prestações tem o prazo prescricional de dois
anos, conforme o art. 206, §2º do Código Civil:

Art. 206. Prescreve:


(...)
§ 2º Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir
da data em que se vencerem.
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Existem também algumas hipóteses em que não há de se falar em


contagem de prescrição. Nesse sentido, o art. 197 do Código Civil dispõe que:

Art. 197. Não corre a prescrição:

I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;

II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;

III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a


tutela ou curatela.

Diante do exposto, temos o aspecto da imprescritibilidade como


característico da obrigação alimentar e seus efeitos.

2.2.4 Irrenunciabilidade

Assim como as peculiaridades presentes nos demais aspectos, a


irrenunciabilidade do direito não se resume à mera dispensa dos alimentos, tornando
a discussão mais aprofundada.
O art. 1.707 do Código Civil veda expressamente a renúncia aos
alimentos:
Art. 1.707. Pode o credor não exercer, porém lhe é vedado renunciar o
direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão,
compensação ou penhora.

Porém, apesar de a legislação ser clara quanto à essa vedação, existem


posicionamentos doutrinários que divergem da idéia estabelecida pelo legislador.
Segundo a doutrinadora Maria Berenice Dias, “os cônjuges e companheiros podem
renunciar aos alimentos. Porém, uma vez renunciado o direito pela parte, esta não
poderá pleitear o direito em um momento posterior” (DIAS, 2013, n.p apud
PORTUGAL, 2017, p. 35).

3 DA INDIGNIDADE
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3.1 PREVISÃO

Os primeiros rascunhos de indignidade no Brasil começaram a surgircomo


projetos de lei, em alguns momentos da história que contribuíram para a instituição
do código brasileiro.
A indignidade encontra-se prevista no art. 1.814 do Código Civil:

Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:

I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso,


ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge,
companheiro, ascendente ou descendente;

II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou


incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou
companheiro;

III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor


da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade.

Todas essas hipóteses de exclusão, de acordo com o art. 1.815 do CC,


serão declaradas por sentença.

3.2 A APLICAÇÃO DA INDIGNIDADE NO DIREITO DE FAMÍLIA

A morte, apesar de indesejada, é matéria jurídica inevitável, trazendo


conseqüências à diversas pessoas. Ela é abordada de diferentes maneiras, incluindo
no âmbito dos efeitos patrimoniais.
Nesse sentido, os arts. 1.784 a 1.790 do Código Civil:

Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos


herdeiros legítimos e testamentários.

Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido.

Art. 1.786. A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade.

Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao


tempo da abertura daquela.
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Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos


herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem
compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o
testamento caducar, ou for julgado nulo.

Art. 1.789. Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da


metade da herança.

Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do


outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união
estável, nas condições seguintes:

I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à


que por lei for atribuída ao filho;

II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a


metade do que couber a cada um daqueles;

III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da


herança;

IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.

O instituto da indignidade guarda equiparação com uma sanção civil que


encontra-se prevista na lei aplicada contra aquela que comete atos ofensivos à
pessoa ou aos interesses da herança.
O Direito Sucessório se baseia na afeição que deve ter existido entre
herdeiro e de cujus, caso aquele tenha menosprezo, ódio ou pratica atos
delituosos ou reprováveis contra este, nada mais justo que, como forma de
punição, privá-lo da herança. (MONTEIRO, 2009, n.p., apud BORGES;
BARROS; DIAS; VELOSO, 2019)

Insta salientar que as possibilidades de exclusão por indignidade não são


somente as elencadas nos arts. supracitados, existindo também a possibilidade de
um descendente deserdar um ascendente, conforme exemplificado no art. 1.963 do
Código Civil:

Art. 1.963. Além das causas enumeradas no art. 1.814 , autorizam a


deserdação dos ascendentes pelos descendentes:

I - ofensa física;
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II - injúria grave;

III - relações ilícitas com a mulher ou companheira do filho ou a do neto, ou


com o marido ou companheiro da filha ou o da neta;

IV - desamparo do filho ou neto com deficiência mental ou grave


enfermidade.

Esses delitos autorizam a aplicação de tal hipótese, pois incluem-se


também nas questões conceituais acerca do poder familiar e do instituto da
indignidade.

3.3 A INDIGNIDADE ENQUANTO CAUSA DE EXTINÇÃO DO DEVER DE PRESTAR


ALIMENTOS

Nesse âmbito, a indignidade encontra-se pautada não limitada aos pais e


filhos e como razão para cessação do dever de prestar alimentos.

Nesse ínterim, temos o elencado no parágrafo único do art. 1.708 do


Código Civil:

Art. 1.708. Com o casamento, a união estável ou o concubinato do credor,


cessa o dever de prestar alimentos.

Parágrafo único. Com relação ao credor cessa, também, o direito a


alimentos, se tiver procedimento indigno em relação ao devedor.

Ademais, Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka (2007, p. 03 e 04


apud ) exemplificou e classificou os casos chamados “indignos”, presentes no
Código Civil:

Os casos de indignidade são, portanto e no conjunto dos dispositivos


mencionados, divididos em cinco categorias:

a) ofensa física (Art. 1.962, I; Art. 1.963, I), tentativa de homicídio ou


homicídio consumado (Art. 1.814, I);

b) calúnia (Art. 1.814, II) ou injúria (Art. 1.962, II; Art. 1.963, II);

c) violência ou fraude contra ato de última vontade (Art. 1.814, III);

d) relações ilícitas com cônjuge do prestador de alimentos (Art. 1.962, III;


Art. 1.963, III); e
17

e) desamparo (Art. 1.962, IV; Art. 1.963, IV)”.

Diante o exposto, concluímos que a aplicação nas relações alimentares é


feita com a observância de diversos requisitos e situações que ensejam na
configuração do instituto da indignidade.

4 EXCEÇÃO À EXTINÇÃO DO DEVER DE PRESTAR ALIMENTOS POR


INDIGNIDADE

Por fim, faz-se necessária a apresentação da hipótese de exceção do


dever de prestar alimentos por indignidade. Tal hipótese ocorre nos casos em que
somente é diminuída a proporção, não excluindo o dever.
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O previsto no parágrafo único do art. 1.708 pode dar resultado à redução


ou à exoneração da pensão alimentícia, com a configuração de uma quantia
indispensável à subsistência de quem a receber.

Conforme essa posição, podemos destacar a jurisprudência a seguir:

ABANDONO DAS FILHAS. PROCEDIMENTO INDIGNO.


ART. 1.708, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CC. ANALOGIA COM ART. 1.638, II,
DO CC. CONDUTA MITIGADA DIANTE DAS PARTICULARIDADES DO
CASO. PRESSUPOSTO SUBJETIVO CARACTERIZADO, MAS COM
ALIMENTOS LIMITADOS AO ESTRITAMENTE NECESSÁRIO. II –
DERRAME CEREBRAL E INCAPACIDADE PARA O TRABALHO.
NECESSIDADES MINIMAMENTE DEMONSTRADAS. CONSIDERÁVEL
PROVENTOS PREVIDENCIÁRIO DAS ALIMENTANTES.
POSSIBILIDADES CARACTERIZADAS. FIXAÇAO DOS ALIMENTOS EM
7% DO BENEFÍCIO PARA CADA ALIMENTANTE. PROPORCIONALIDADE
ATENDIDA. III – SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA, SEM EQUIVALÊNCIA DE
DERROTAS. REDISTRIBUIÇAO. GRATUIDADE. SUSPENSAO. ART. 12.
DA LEI N. 1.050/60. IV – SENTENÇA REFORMADA. RECURSO PROVIDO
EM PARTE. I – Não obstante o abandono material e moral da prole possa
caracterizar o "procedimento indigno" a que alude o parágrafo único do
art. 1.708 do Código Civil, por analogia ao art. 1.638, II, também do Diploma
Civil, não há falar na cessação da obrigação alimentar das filhas aos pais
quando as particularidades do caso mitigam tal ausência, recomendando no
caso apenas a limitação aos alimentos necessários, a teor do enunciado n.
345 das Jornadas de Direito Civil. II – Demonstradas, ainda que
minimamente, as necessidades do alimentando em razão da incapacidade
laboral decorrente dos sérios problemas de saúde por que passou
(principalmente o derrame cerebral), e as possibilidades das filhas
alimentantes que, embora tenham gastos próprios relevantes, percebem
pensão previdenciária em valor considerável, mostra-se razoável a fixação
de alimentos em 7% (sete por cento) de tais proventos, de forma a garantir
os alimentos necessários e preservar o pouco que resta da solidariedade
familiar entre as partes. III – "Na hipótese de cada litigante ser, em parte,
vencedor e vencido, os ônus sucumbenciais hão de ser distribuídos entre
ambos de modo a refletir a procedência parcial dos pedidos, nos termos do
artigo 21 do Código de Processo Civil." (TJSC, Apelação Cível, de Joinville.
Rel. Des. LUIZ CARLOS FREYESLEBEN, j. em 22/03/2007).
19

A depender do caso concreto os requisitos e aplicações se modificam,


podendo ser, como origem da indignidade, a conduta do devedor de alimentos. Tal
instituto poderá ser provado nos autos da ação ou de exoneração, cabendo ainda
provas emprestadas de outras ações.

Caso o indivíduo seja considerado indigno para a herança que provem da


sucessão, este também será para fins de pleitear alimentos de quem quer que seja.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

À luz de todo o exposto, buscou-se explanar e discutir a percepção


legislativa, doutrinária e jurisprudencial acerca do instituto da indignidade no âmbito
do dever de prestar alimentos.
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Os alimentos são uma alternativa que se faz necessária àquelas pessoas


que encontram-se tristes com a dor da desconstituição e perda da família que
idealizaram, ficando abandonadas à sua própria sorte.

O direito, nesse caso, faz o papel do guardião e provedor dos direitos e


das chances de uma nova perspectiva, permitindo que os indivíduos usufruam de
sua liberdade, mas, ainda sim, sem deixar de atribuir a cada um seu dever e lugar
diante às situações. Isso é feito levando em consideração a tutela das partes, tanto
as prejudicadas quanto as beneficiadas.

Destarte, a sociedade é dotada de um alto nível de respeito à existência


de determinados direitos, dada a desinformação quanto à eles, principalmente aos
alimentares.

Existem as pessoas que contam com a sorte de possuírem um lar para


retornarem aos familiares e buscarem seu auxílio quando tudo se esvai, mas a
maioria não se encontra na mesma situação.

Nesse sentido, os alimentos vem como uma válvula de salvação para os


que deles necessitam, porém dotados de requisito para sua concessão. Com isso,
viemos com a análise do instituto da indignidade frente às prestações alimentícias
sucessórias, razão de extinção das mesmas.

A indignidade vem a ser uma ação dolosa, que é declarada por meio de
um processo judicial. O familiar só se verá frente a esse processo caso desrespeite
seu papel na família, agindo com má-fé e falta de cuidado para com os seus.

Por fim, visa salientar que faz-se correto o Código Civil e demais leis
complementares que instituíram e caracterizaram tal instituto, visto que também
trouxeram casos de exceção ao mesmo. Essas exceções nos permitem pontuar as
peculiaridades do caso concreto, com o objetivo de analisar se os alimentos se
fazem justos ou não à determinada pessoa, instaurando, assim, a pacificação da
sociedade pelo meio judiciário.
21

REFERÊNCIAS

ALDROVANDI, Andrea; FRANÇA, Danielle Galvão de. Transmissibilidade da


obrigação alimentar. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 8, n.
62, 1 fev. 2003. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/3716. Acesso em: 10 jul.
2020.

BRAMBILLA, Pedro Augusto de Souza. A origem e evolução das prestações


alimentares. Comentários sobre os alimentos compensatórios Conteudo Juridico,
22

Brasilia-DF: 09 jul 2020. Disponivel


em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/45821/a-origem-e-evolucao-das-
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