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Caderno de
Notas Jurídicas
Janeiro/Julho 2023

Uma publicação do
Ayres Ribeiro Advogados

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Áreas de atuação
Cível Empresarial
Consultivo Tributário
Contencioso Tributário
Comércio Internacional
Concorrencial
Consumidor
Contencioso e Arbitragem
Mercado de capitais e instituições financeiras
Regulatório
Societário
Fusões e Aquisições

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10 anos construindo
grandes negócios lado a
lado com nossos clientes
Ayres Ribeiro Advogados é a concretização do desejo de praticar o Direito em seu mais
alto nível, para oferecer soluções seguras e eficientes a empresas e empresários.

Com esse propósito, advogados com sólida experiência, formação acadêmica de pri-
meira linha e carreiras em ascensão uniram-se na determinação de criar um endereço
de excelência para questões complexas do Direito Empresarial.

Para construir e preservar relacionamentos de longo prazo e garantir à sua equipe o


prazer de realizar aquilo para que está mais bem preparada, o Ayres Ribeiro Advogados
assume a dedicação ao entendimento das especificidades de cada cliente, questão e
causa como diretriz central da sua atuação.

O Caderno de Notas Jurídicas é uma publicação do Ayres Ribeiro Advogados que com-
pila algumas das principais análises, notas e comunicados produzidos e divulgados pela
nossa equipe com o objetivo de fomentar discussões jurídicas de alto nível.

Colaboraram nesta edição


Aleksandros Markopoulou, Claudia Abrosio, Diogo Brazioli, Flávia Silva, Gilberto Ayres
Moreira, Henrique Moura, João Rezende, Luiz Menedin, Pedro Albuquerque, Pedro Al-
meida e Rebecca Ferreto.

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Índice
Tributário
Não incidem Contribuições Previdenciárias e IRPF sobre ressarcimento de despesas de
teletrabalho.....................................................................................................................................................5
Não incide IRRF no pagamento de juros sobre empréstimos tomados no exterior para
financiamento de exportações.................................................................................................................5
Receita exclui o IPI da base de créditos de PIS e COFINS sem amparo legal.........................6
Fisco esclarece tratamento tributário de contribuintes que assumem residência no país...7
RFB limita créditos de PIS e COFINS sobre a alimentação dos trabalhadores........................8
Municípios só podem cobrar ISS sobre o valor efetivo dos serviços prestados.....................9
Os bônus de contratação e/ou retenção não são submetidos às contribuições
previdenciárias...............................................................................................................................................9
STF afasta multa isolada por compensação não homologada.................................................... 10
STF decide que decisões vinculantes interrompem coisa julgada..............................................11
STF reconhece a prescrição intercorrente no curso da execução fiscal................................. 12
Novo marco cambial flexibiliza as exigências para as remessas ao exterior...........................13
STF finaliza julgamento da Inconstitucionalidade da cobrança de ICMS na transferência
de mercadorias.............................................................................................................................................13
Aquisição de insumos na fase agrícola da agroindústria gera créditos de PIS/COFINS.... 15
Receita Federal não pode aplicar multa da ECF por discordância de entendimento......... 16
PGFN divulga nota reconhecendo os limites da tributação dos benefícios fiscais de
ICMS.................................................................................................................................................................17
ISS é devido no local do estabelecimento prestador dos serviços de planos de saúde e
serviços financeiros.................................................................................................................................... 18
RFB passa a exigir PIS/COFINS na importação de software........................................................ 18
Medida Provisória sobre preços de transferência é convertida em Lei com alterações
significativas.................................................................................................................................................. 19

Societário
CMN e BCB regulamentam o Marco Legal do Câmbio.................................................................. 21
CVM publica nova regulamentação dos fundos de investimento............................................. 22
BACEN divulga novas regras sobre capital estrangeiro no país................................................ 23
BCB apresenta nova regulação sobre capitais brasileiros no exterior.................................... 24

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Tributário
Não incidem Contribuições Previdenciárias e IRPF sobre
ressarcimento de despesas de teletrabalho
23 de Janeiro de 2023

Flávia da Fonseca Silva

Os valores pagos para ressarcimento de despesas arcadas pelos empregados com inter-
net e consumo de energia elétrica, em decorrência da prestação de serviços no regime
de teletrabalho, não devem ser incluídos na base de cálculo das Contribuições Previ-
denciárias e do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), conforme posicionamento
vinculante proferido pela Receita Federal na Solução de Consulta COSIT nº 63 de 2022.
No caso analisado pelo Fisco Federal, a consulente contribuinte atuante no ramo de
fabricação de refrigerantes e refrescos e comércio atacadista de bebidas adotou o re-
gime integral de home office para alguns dos empregados em virtude da crise ocasio-
nada pela COVID-19, ajustando o pagamento de ‘ajuda de custo mensal’ para auxiliar os
funcionários com as despesas referentes ao serviço de internet e consumo de energia
elétrica durante o período de expediente.
De acordo com o entendimento das Autoridades Fiscais, os valores pagos para ressarcir
as despesas arcadas pelos empregados em decorrência da adoção do regime de traba-
lho diferenciado, essenciais para a realização das suas atividades fora do ambiente da
empresa, não constituem contraprestação pelo trabalho em si, mas sim uma indenização
ao empregado pelos custos ocasionados pela alteração do local de prestação de ser-
viços, afastando-se, assim, a incidência dos tributos sobre a remuneração dos trabalha-
dores.
No caso de pessoa jurídica tributada com base no lucro real, os valores tratados acima
podem ser considerados ‘despesas dedutíveis’, reduzindo-se a base de cálculo do IRPJ
e da CSLL, desde que o beneficiário comprove, mediante documentação hábil e idônea,
os valores despendidos.

Não incide IRRF no pagamento de juros sobre empréstimos


tomados no exterior para financiamento de exportações
23 de Janeiro de 2023

Diogo Brazioli

Não incide Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF) em remessas ao exterior para amor-
tizar os juros de empréstimos tomados para o pré-pagamento de exportações. Esse foi o
entendimento adotado pela 2ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF) no
recente julgamento do Processo Administrativo nº 16682.720004/2018-53.

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De acordo com o artigo 1º, inciso XI, da Lei nº 9.481 de 1997, fica reduzida a zero a alí-
quota do IRRF sobre os rendimentos auferidos no país, por residentes ou domiciliados
no exterior, na hipótese de “juros e comissões relativos a créditos obtidos no exterior e
destinados ao financiamento de exportações”.
Segundo a fiscalização, no caso analisado o empréstimo tomado pela empresa teria
sido utilizado para outras finalidades e não para o fomento da exportação, visto que, no
mesmo dia da entrada dos valores a empresa teria utilizado os recursos para outros fins,
como o para realizar aporte de capital em outra empresa. Sem a destinação para a ex-
portação, a conclusão foi no sentido de que o tributo deveria ser cobrado.
Contudo, a empresa comprovou que os recursos dos empréstimos foram efetivamente
utilizados para fomentar a exportação, seguindo o previsto no o artigo 1º, inciso XI, da
Lei nº 9.481 de 1997, bem como que as exportações foram realizadas de forma regular,
inclusive ao amparo de certificação por parte dos bancos responsáveis pelas operações
de câmbio.

Receita exclui o IPI da base de créditos de PIS e COFINS sem


amparo legal
23 de Fevereiro de 2023

Aleksandros Markopoulou e Henrique Perlatto Moura

A RFB vedou ilegalmente o aproveitamento de créditos do PIS e da COFINS sobre o


IPI incidente na aquisição de bens a serem revendidos ou utilizados como insumos na
atividade econômica. A vedação ao crédito resulta unicamente do disposto no artigo
170, inciso II, da Instrução Normativa RFB nº 2.121, publicada em dezembro de 2022, sem
qualquer amparo nas Leis nºs 10.637 de 2002 e 10.833 de 2003.Segundo as referidas
leis de regência, os créditos da não-cumulatividade da Contribuição ao Programa de
Integração Social (PIS) e da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (CO-
FINS) são apurados sobre o “valor” de aquisição dos bens adquiridos, o que correspon-
de à contraprestação paga ao fornecedor.
A própria RFB reconhece – no artigo 170, caput e inciso II, da referida IN – que o Imposto
sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente na venda do bem pelo fornecedor compõe
“as parcelas do valor de aquisição”, mas, sem qualquer embasamento legal, exclui o seu
valor da base de cálculo dos créditos do PIS e da COFINS.
É importante ressaltar que a necessidade de Lei para excluir qualquer parcela da base
de cálculo dos créditos de PIS e COFINS já foi reconhecida pela própria Procuradoria
Geral da Fazenda Nacional (PGFN) por meio do Parecer nº 12.943, de 2021, por meio do
qual o órgão pacificou o entendimento favorável aos contribuintes quanto a impossibili-
dade de se excluir o ICMS da base de cálculo dos créditos das contribuições sociais sem
previsão legal. Por óbvio, o mesmo raciocínio deve prevalecer quanto ao IPI.
Ademais, a própria RFB, até a edição da referida IN, admitia a tomada de créditos do PIS
e da COFINS sobre o IPI irrecuperável, assim entendido o imposto que não pode ser
ressarcido pelos adquirentes dos bens por não se tratar de matéria-prima, produto inter-
mediário e material de embalagem.

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Em casos análogos, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu que tributos irre-
cuperáveis estão incluídos no custo das mercadorias e, por isso, declarou o direito dos
contribuintes de manter o ICMS-ST na base de cálculo dos créditos do PIS e da COFINS
(REsp 1.568.691/RS e REsp 1.428.247/RS).
Portanto, os contribuintes podem pleitear o direito de apurar créditos da não-cumula-
tividade do PIS e da COFINS sobre o valor de aquisição dos bens, nele incluído o IPI,
conforme sistemática prevista nas Leis nºs 10.637, de 2002, e 10.833, de 2003, admitidas
apenas as exclusões previstas nesta própria legislação.

Fisco esclarece tratamento tributário de contribuintes que


assumem residência no país
07 de Março de 2023

Luiz Felipe Menedin

Investidores pessoas físicas que residam no exterior e retornem ao país na condição


de residentes perdem os benefícios fiscais especiais sobre rendimentos de aplicações
financeiras, passando o Imposto de Renda na Fonte (IRF) a ser devido no caso de aliena-
ção ou resgate dos investimentos. Esse é o entendimento da Receita Federal do Brasil
(RFB) nos termos da Solução de Consulta COSIT nº 7 de 2023.
Nos termos do artigo 16 da Medida Provisória nº 2.189 de 2001, não há incidência do
IRF sobre ganhos em bolsa e é reduzida para até 10% a alíquota do imposto sobre apli-
cações financeiras de investidores não residentes no país. Vale ressaltar que, no Brasil,
os bancos e corretoras são os responsáveis por reter e recolher o imposto devido pelos
investidores domiciliados no exterior.
Por outro lado, segundo o regime geral de tributação aplicável a investidores residentes
no Brasil, incide IRF à alíquota de 15% sobre ganhos em bolsa e IRF à alíquota de até
22,5% sobre rendimentos de aplicações financeiras em geral.
Frise-se que a Solução de Consulta em questão esclareceu que, até o dia anterior à volta
definitiva do investidor ao Brasil, os rendimentos serão tributados pelo regime especial,
previsto na MP nº 2.189 de 2001, e a partir do momento em que o investidor adquire a
condição de residente no Brasil, a tributação deve seguir as mesmas regras aplicáveis a
pessoa física residente no País.
Ademais, a RFB também esclareceu que a mudança de residência fiscal do exterior para
o Brasil não exige, por si só, o recolhimento de IRF sobre os ganhos ou rendimentos,
sendo realizada a tributação apenas no momento da alienação ou resgate dos investi-
mentos. Isso representa um avanço em relação as orientações anteriores.
Essa é a primeira vez que o Fisco Federal se pronuncia sobre a situação, eliminando in-
certezas sobre o tratamento fiscal nessa situação.

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RFB limita créditos de PIS e COFINS sobre a alimentação dos


trabalhadores
15 de Março de 2023

Aleksandros Markopoulou

É garantido crédito da Contribuição para o Programa de Integração Social (PIS) e da Con-


tribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) sobre a alimentação paga
para o trabalho conforme acordos ou convenções coletivas. Contudo, com a publicação
da Instrução Normativa (IN) nº 2.121, em 20 de dezembro de 2022, a Receita Federal do
Brasil (RFB) vedou ilegalmente o aproveitamento de créditos do PIS e da COFINS sobre
dispêndios decorrentes de acordos ou convenções coletivas de trabalho.
Segundo o artigo 177, parágrafo único, da IN, somente podem ser considerados insumos,
segundo o critério da imposição legal, os bens e serviços adquiridos pela pessoa jurídica
para viabilizar as atividades dos seus empregados quando forem decorrentes de norma
legal ou infralegal, excluído aqueles decorrentes de acordos e convenções coletivas de
trabalho.
Com base nessa e outras normas, e em que pese o dispêndio ser necessário para o
trabalho, recentemente a Solução de Consulta COSIT nº 45, de 22 de fevereiro de 2023,
excluiu do conceito de insumo as despesas com a alimentação dos empregados, ainda
que decorrentes de acordos ou convenções coletivas de trabalho, negando então o di-
reito ao crédito dessas contribuições.
No entanto, essa vedação não possui nenhum amparo em lei, além de que, segundo a
tese definida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) no julgamento do REsp nº 1.221.170,
o critério da imposição legal, necessário para se enquadrar um gasto como insumo, não
se apega rigorosamente ao uso de lei em sentido estrito, mas decorre, isso sim, da obri-
gatoriedade daquele comportamento, cujo descumprimento pode sujeitar a pessoa jurí-
dica a multas ou outras sanções.
Os acordos e convenções coletivas de trabalho, assim como as leis em sentido estrito,
igualmente criam regras jurídicas gerais e abstratas, embora prevaleçam sobre as leis
quando forem com elas incompatíveis, não havendo um único motivo capaz de distinguir
o tratamento dado às despesas decorrentes de lei das decorrentes de acordos ou con-
venções coletivas de trabalho.
Desse modo, é possível defender o direito a tomada de créditos dessas contribuições
sobre as despesas com a alimentação dos empregados, especialmente quando forem
decorrentes de acordos ou convenções coletivas de trabalho (critério da imposição legal).

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Municípios só podem cobrar ISS sobre o valor efetivo dos


serviços prestados
20 de Março de 2023

Henrique Perlatto Moura

Municípios não podem cobrar ISS sobre descontos incondicionados. Este posicionamen-
to foi afirmado em recente decisão publicada no dia 7 de março de 2023 pelo Superior
Tribunal de Justiça (STJ) no Recurso Especial (REsp) nº 1.893.596, que entendeu por
afastar a cobrança de Imposto sobre Serviço (ISS) sobre descontos incondicionados con-
cedidos por instituição financeira.
O ISS é um imposto de competência municipal cobrado sobre o valor da prestação de
serviço. No curso das relações comerciais, é comum que prestadores concedam des-
contos aos consumidores, que podem ser incondicionados ou condicionados. Os des-
contos condicionados não são dedutíveis da base de cálculo do ISS, eis que houve
uma contrapartida em favor do prestador que deve ser considerada depois da cobrança
pelos serviços e emissão das notas fiscais. Não obstante, os descontos incondicionados
devem ser deduzidos da base de cálculo do ISS, eis que consistem em verdadeira redu-
ção do valor devido ao prestador em razão da prestação de serviço.
O STJ, quando do julgamento do REsp nº 1.893.596, enfrentou tanto a questão dos des-
contos incondicionados na composição da base de cálculo do ISS, como também a pos-
sibilidade de um munícipio desconsiderar o preço do serviço cobrado pelo prestador
em razão da existência de uma norma administrativa que fixava um piso para o valor da
prestação de serviço.
Nesta ocasião, a corte entendeu que não incide ISS sobre descontos incondicionados e
reafirmou que a base de cálculo do tributo é o valor da prestação, independentemente
da regulamentação existente sobre o setor econômico, eis que os descontos concedidos
não estavam vinculados à ocorrência de eventos incertos ou futuros.

Os bônus de contratação e/ou retenção não são submetidos


às contribuições previdenciárias
23 de Março de 2023

Flávia da Fonseca Silva

Não há incidência de contribuição previdenciária sobre o bônus de contratação, ou mes-


mo sobre o bônus de retenção. Este é o entendimento da Câmara Superior de Recursos
Fiscais (CSRF), definido no acórdão nº 9202-010.457.
Em linhas gerais, o bônus de contratação pode ser entendido como parcela eventual
relacionada a acordo firmado entre aquele que pretende ser empregador e aquele que
pretende trabalhar, pelo qual o primeiro se compromete a pagar determinado valor para

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que o segundo assine um contrato duradouro de trabalho. A seu turno, o bônus de re-
tenção corresponde a valor que tem por objetivo a manutenção do vínculo empregatício
em hipóteses específicas de oferta de novo emprego recebida pelo empregado que se
pretenda reter.
Considerando referidas premissas, a CSRF entendeu que, em que pese a vinculação do
bônus de contratação a um contrato de trabalho, a figura jurídica em análise se aperfeiçoa
em momento anterior à relação laboral, afastando-se, portanto, da natureza remunerató-
ria para fins previdenciários. No mesmo contexto, entendeu o colegiado administrativo
que o bônus de retenção não ostenta natureza remuneratória, posto que não decorre da
prestação de serviços propriamente dita e sim de verba para que o empregado assuma
o compromisso de manutenção de vínculo, afastando-se, assim, da base de cálculo das
contribuições previdenciárias.

STF afasta multa isolada por compensação não homologada


24 de Março de 2023

Pedro Albuquerque

O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a inconstitucionalidade da


multa isolada de 50% sobre o valor do pedido de ressarcimento indeferido e do débito
objeto de declaração de compensação não homologada pela Receita Federal do Brasil
(RFB), previstas no artigo 74, §§15º e 17º, da Lei nº 9.430 de 1996. A matéria foi discutida
no Recurso Extraordinário (RE) nº 796.939, que teve sua repercussão geral reconhecida
(Tema 736), em razão da relevância econômica e jurídica.
A multa sobre o valor do pedido de ressarcimento indeferido já havia sido revogada por
meio da Lei nº 13.137 de 2015, mas a segunda continua prevista no § 17º do artigo 74 da
Lei nº 9.430 de 1996 e é aplicada por meio de lavratura de Auto de Infração indepen-
dentemente de já ter sido aplicada a multa de 20% incidente sobre o débito que teve sua
declaração de compensação não homologada.
Ao analisar a questão, o ministro relator Edson Fachin votou pela inconstitucionalidade
da multa isolada, sobretudo por tal situação impedir o exercício de um direito subjetivo
do próprio contribuinte, qual seja, o direito de petição garantido constitucionalmente. E, a
simples falta de homologação da compensação não seria capaz de caracterizar ato ilícito
a gerar penalidade tributária.
O ministro Gilmar Mendes acompanhou o voto do relator, sob o entendimento de que
não há análise concreta da existência de má-fé adotada pelo contribuinte, enquanto os
demais ministros, por unanimidade de votos, concordaram que a sanção fere os princí-
pios constitucionais da proporcionalidade, razoabilidade e boa-fé.
Dessa forma, o STF fixou a tese de que “é inconstitucional a multa isolada prevista em
lei para incidir diante da mera negativa de homologação de compensação tributária por
não consistir em ato ilícito com aptidão para propiciar automática penalidade pecuniária”.
Diante deste reconhecimento, os contribuintes poderão pleitear o cancelamento de Au-

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tos Infração pendentes de julgamentos na esfera administrativa que exigem a referida


multa isolada. Igualmente no âmbito do Poder Judiciário, os tribunais também deverão
seguir o entendimento fixado pelo STF e anular multas que tenham tido sua exigência
questionada.

STF decide que decisões vinculantes interrompem


coisa julgada
27 de março de 2023

Henrique Perlatto Moura

Decisões proferidas pelo STF em controle concentrado de constitucionalidade e em re-


percussão geral cessam os efeitos da coisa julgada individual em sentido contrário, res-
peitados os Princípios Constitucionais da Irretroatividade e da Anterioridade. Esse foi o
entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nos temas de repercussão
geral 881 e 885, com efeitos vinculantes para todos os contribuintes.
A discussão travada nos referidos temas dizia respeito a contribuintes que obtiveram,
junto ao Poder Judiciário, coisa julgada individual que declarou a inconstitucionalida-
de da cobrança de Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) pelo fundamento de
que seria necessária Lei Complementar para sua instituição. Entretanto, em 2007, o STF
julgou a Ação Declaratória de Inconstitucionalidade (ADI) nº 15, em que decidiu que a
CSLL era sim constitucional pelo fundamento de que seria dispensável a edição de Lei
Complementar. Neste contexto, os contribuintes defendiam que deveria ser ajuizada res-
cisória para que fosse respeitado o devido processo legal, enquanto a União defendia
ser desnecessário ajuizar nova ação para fazer valer o comando vinculante proferido
pelo Poder Judiciário.
O STF entendeu, nos termos dos votos proferidos pelo ministro Roberto Barroso em am-
bos os temas, que as decisões vinculantes, proferidas em repercussão geral ou controle
concentrado de constitucionalidade, “interrompem automaticamente os efeitos tempo-
rais das decisões transitadas em julgado nas referidas relações”, assegurado o respeito
à irretroatividade, anterioridade anual e noventena, a depender da natureza do tributo.
Não obstante o respeito à irretroatividade, no caso específico da CSLL, o STF rejeitou o
pedido do contribuinte de modulação dos efeitos da decisão para o futuro. Dessa forma,
os contribuintes que desde o julgamento da ADI nº 15, em 14 de junho de 2007, não re-
colheram CSLL em razão de coisa julgada individual, poderão ser submetidos a pagar os
valores a partir de 13 de setembro de 2007, uma vez que a referida contribuição somente
se submete à anterioridade nonagesimal, desde que o Fisco Federal tenha lançado o
tributo no prazo decadencial de cinco anos.
A possibilidade de cobrar momentos pretéritos à definição dos temas de repercussão nº
881 e 885 surpreendeu os contribuintes e, por isso, deputados e senadores vêm se mo-
vimentando para aprovar um Projeto de Lei (PL) no Congresso Nacional com o objetivo
de reduzir os impactos financeiros e econômicos gerados. Por exemplo, foram encami-
nhados para votação o PL nº 512 de 2023 e o PL nº 508 de 2023, sendo que a apro-

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vação do primeiro objetiva criar um programa de regularização fiscal específico para os


contribuintes afetados, que possibilitará o pagamento em até 240 parcelas e oferecerá
descontos de até 100% de juros e multa a depender do número de parcelas, e a aprova-
ção do segundo objetiva conceder remissão do crédito tributário aos contribuintes que
tinham coisa julgada até o dia 10 de fevereiro de 2023.

STF reconhece a prescrição intercorrente no curso da


execução fiscal
11 de Abril de 2023

Pedro Albuquerque

O Supremo Tribunal Federal (STF) declarou, por meio do julgamento do RE 636.562, o


marco inicial automático da prescrição intercorrente, correspondente ao prazo de 1 ano
de suspensão e arquivamento da execução fiscal, quando não localizado o devedor ou
quando não identificados bens passíveis de penhora.
A norma jurídica em questão encontra previsão no artigo 40, §4º, da Lei nº 6.830 de 1980
(Lei de Execução Fiscal - LEF), e estaria em suposta contraposição à regra de prescrição
prevista pelo Código Tributário Nacional (CTN) no artigo 174, lei recepcionada como lei
complementar que dispõe sobre normais gerais em matéria tributária, segundo o artigo
146, inciso III, alínea “b” da Constituição Federal (CF).
No julgamento, o STF entendeu que os prazos estão relacionados, pois o prazo de 1 ano
previsto na LEF trata de mera condição processual para início do prazo prescricional
quinquenal, inexistindo óbice, portanto, para sua regulamentação via Lei Ordinária. As-
sim, ainda que a prescrição intercorrente tenha sido instituída por Lei Ordinária Federal
– a LEF –, inexiste inconstitucionalidade, pois a referida prescrição “regulamenta” a regra
prevista no artigo 174 do CTN, adaptada ao rito de execução fiscal. A Corte também
decidiu que não há necessidade de despacho ou decisão indicando o esgotamento do
prazo suspensivo de 1 ano e início do prazo prescricional de 5 anos para andamento do
feito, fluindo de forma automática.
Portanto, foi fixada a tese (tema nº 390): “É constitucional o art. 40 da Lei nº 6.830/1980
(Lei de Execuções Fiscais – LEF) tendo natureza processual o prazo de 1 (um) ano de
suspensão da execução fiscal. Após o decurso desse prazo, inicia-se automaticamente
a contagem do prazo prescricional tributário de 5 (cinco) anos”.
Com a declaração de constitucionalidade do dispositivo da lei de execuções fiscais, a
tendência é que seja garantindo um processo judicial mais célere e eficaz, evitando a
postergação imotivada do procedimento.

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Tributário • Janeiro/Julho 2023 | 13

Novo marco cambial flexibiliza as exigências para as remessas


ao exterior
18 de Abril de 2023

Aleksandros Markopoulou

Com o advento da Lei nº 14.286 de 2021, que instituiu o novo marco legal do mercado
de câmbio, passa a ser regra a possibilidade de realização de remessas ao exterior
sem a necessidade prova da retenção do Imposto sobre a Renda na Fonte (IRF) sobre
o pagamento de rendimentos a beneficiário estrangeiro, sendo mantida essa exigência
somente sobre os lucros, dividendos, juros, amortizações, royalties, assistência técnica
científica, administrativa e semelhantes.
Antes, o artigo 880 do Decreto nº 3.000 de 1999 (RIR/99) limitava indiscriminadamente
qualquer remessa de rendimentos para o exterior, exigindo de todos a prova do paga-
mento do imposto, com base no artigo 125, parágrafo único, alínea “c” do Decreto-Lei nº
5.844 de 1943 e no artigo 57, parágrafo único, da Lei nº 4.595 de 1964.
Contudo, com a lei do novo marco cambial essa proibição genérica foi revogada, não
sendo mais exigido do contribuinte a produção de prova do pagamento do imposto
para toda e qualquer espécie de remessa de rendimentos para fora do país, senão em
algumas hipóteses excepcionais, elencadas no artigo 774 do Decreto nº 9.580 de 2018
(RIR/18).
Isso porque a lei do novo marco cambial preservou o artigo 9º da Lei nº 4.131 de 1962,
que condiciona as remessas para o exterior à prova do pagamento do imposto, porém
com alcance mais restrito, atingindo somente os lucros, dividendos, juros, amortizações,
royalties, assistência técnica científica, administrativa e semelhantes, não sendo então
inteiramente livre a prática dessas operações.
Assim, se conclui que atualmente, a regra é a desburocratização, e apenas as operações
indicadas na legislação de regência dependem de comprovação do recolhimento do IRF.

STF finaliza julgamento da Inconstitucionalidade da cobrança


de ICMS na transferência de mercadorias
19 de Abril de 2023

Henrique Perlatto Moura

O Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) não incide nas opera-
ções de transferência de mercadorias entre estabelecimentos de um mesmo contribuin-
te e é garantida a manutenção dos créditos fiscais relacionados às operações anteriores
com as mercadorias ou seus insumos, bem como a transferência dos créditos para o
estabelecimento destinatário. Este foi o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF)
ao finalizar o julgamento da Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) nº 49. Além

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Tributário • Janeiro/Julho 2023 | 14

disso, em razão da modulação dos efeitos, a decisão produz efeitos a partir de 2024 e se
Estados e Distrito Federal não criarem mecanismo para viabilizar a transferência dos cré-
ditos de ICMS relativos às operações anteriores com as mercadorias objeto da remessa
entre os estabelecimentos, os contribuintes terão o direito de assim proceder em razão
do julgamento do STF.
O mérito da controvérsia da ADC 49 já estava pacificado quando o STF decidiu que não
incide ICMS na transferência entre estabelecimentos, inclusive em operações interesta-
duais. Todavia, considerando que o julgamento implicava alteração da sistemática então
vigente, os Estados ingressaram com embargos de declaração para rediscutir a situação
dos créditos de ICMS aproveitados pelos contribuintes em operações anteriores envol-
vendo as mercadorias transferidas ou seus insumos de produção, pois entendiam que
os contribuintes deveriam estorná-los como se esta fosse uma operação de circulação
de mercadorias sujeita a não incidência, conforme determina o artigo 155 § 2º, inciso II,
da Constituição Federal, e ainda com a pretensão de estabilizar as relações não litigiosas
por meio da modulação dos efeitos.
Enfim, o STF concluiu o julgamento dos embargos de declaração e reafirmou o direito
dos contribuintes de manter os créditos da não-cumulatividade do ICMS, deixando claro
que a transferência de mercadoria entre estabelecimentos não se trata de hipótese de
circulação jurídica e econômica de mercadorias com não incidência do imposto estadu-
al. Nas palavras do ministro Relator Edsosn Fachin, cujo voto foi vencedor: “(...) evidente
que devido a sua irrelevância jurídica para tributação, trata-se de hipótese integralmente
alheia ao disposto no art. 155, § 2º, II da Constituição Federal. A transferência interes-
tadual da mercadoria entre estabelecimentos de uma mesma pessoa jurídica equivale,
portanto, a mera movimentação física”.
Além disso, foram modulados os efeitos da decisão de modo que o posicionamento do
STF somente produzirá efeitos a partir de 1º de janeiro de 2024, ressalvados os contri-
buintes que tiverem questionado a exigência do imposto sobre transferências até a data
de publicação da ata de julgamento do mérito da ação, em 4 de maio de 2021. O objetivo
foi resguardar os contribuintes que possuem incentivos fiscais de ICMS oferecidos na
transferência de mercadorias e preservar as relações jurídicas não-litigiosas.
Quanto aos créditos fiscais de ICMS relativos às operações anteriores, além de declarar
o direito de manter tais valores registrados, o STF garantiu aos contribuintes o direito
de transferi-los para o estabelecimento destinatário, inclusive depois de 1º de janeiro
de 2024, ainda que não tenha havido alteração legislativa trazendo este direito para os
contribuintes.
Portanto, espera-se que os Estados e o Distrito Federal busquem disciplinar a transferên-
cia de mercadorias e dos créditos da não-cumulatividade de forma célere e transparente,
com participação da sociedade civil, de forma a reestruturar a sistemática do imposto e
os incentivos fiscais que, até então, baseavam-se na incidência do ICMS na operação de
transferência com fulcro no princípio de autonomia dos estabelecimentos.

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Tributário • Janeiro/Julho 2023 | 15

Aquisição de insumos na fase agrícola da agroindústria gera


créditos de PIS/COFINS
10 de Maio de 2023

Pedro Almeida

Os bens e serviços adquiridos como insumos da fase agrícola da produção agroindus-


trial conferem aos contribuintes o direito de apurar créditos das contribuições sociais
ao Programa de Integração Social (PIS) e para o Financiamento da Seguridade Social
(COFINS) no regime da não-cumulatividade. Este foi o entendimento da Câmara Supe-
rior de Recursos Fiscais (CSRF), responsável por pacificar o entendimento do Conselho
Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), no julgamento do processo administrativo nº
10865.902025/2013-56.
A abrangência do direito aos créditos de PIS e de COFINS na aquisição de bens e servi-
ços foi definida pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) no julgamento dos temas repetiti-
vos 779 e 780. Os referidos precedentes estabeleceram que a qualificação como insumo
deve ser aferida segundo os critérios da essencialidade e da relevância para a atividade
econômica. Entre outras formas de aferição, registre-se que será essencial tudo aquilo
que não puder ser subtraído sem prejudicar a qualidade do produto (teste da subtração),
e será relevante tudo aqui que for imposto ao contribuinte pela lei (imposição legal).
O caso analisado pela CSRF envolveu agroindústria produtora de álcool que, ao ser
fiscalizada pela Receita Federal do Brasil (RFB), teve negado o seu direito de aproveitar
créditos sobre insumos utilizados na fase agrícola para a produção da matéria-prima. A
interpretação restritiva e ilegal da RFB adotou como premissa o entendimento de que
a fase agrícola seria precedente ao processo produtivo, enquadrando todo o processo
produtivo dentro da fase industrial.
A CSRF reiterou entendimento manifestado no passado e, a partir da aplicação do pre-
cedente firmado pelo STJ, deixou claro que todos os insumos adquiridos e utilizados
no processo produtivo geram direito ao crédito para o PIS e COFINS, inclusive aqueles
relacionados à fase agrícola. Isso, porque o processo produtivo abrange todas as fases
da fabricação do produto que, no caso concreto, vão desde os gastos com adequação
e preparo do solo para o cultivo da cana de açúcar (fase agrícola), até a comercialização
do álcool e do açúcar.
Dessa forma, comprovada a essencialidade e relevância dos gastos incorridos em qual-
quer fase do processo produtivo, inclusive a fase agrícola de uma agroindústria, é plena-
mente possível o aproveitamento de créditos de PIS e COFINS no regime da não-cumu-
latividade, bem como a defesa de eventual glosa realizada pela RFB.

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Tributário • Janeiro/Julho 2023 | 16

Receita Federal não pode aplicar multa da ECF por


discordância de entendimento
24 de Maio de 2023

Pedro Almeida

É indevida a multa isolada por incorreção no preenchimento da Escrituração Contábil


Fiscal (ECF) quando fundamentada na divergência de entendimento entre o contribuinte
e a fiscalização. O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), em recente jul-
gamento, deixou claro que para fins de aplicação da penalidade a “informação incorreta”
é aquela que não reflete a realidade da operação realizada pelo contribuinte (CARF,
acórdão nº 1302-006.413 1ªSJ/3ªC/ 2ªTO).
A referida multa deve ser aplicada quando a informação do contribuinte não representa
a realidade, isto é, quando o registro está em descompasso com aquilo que foi pratica-
do. Todavia, caso a informação na ECF represente exatamente o que o contribuinte fez,
ainda que o Fisco entenda ser equivocado o que foi feito, não é possível aplicar a multa
isolada. Afinal, a informação foi fidedigna à realidade e, desta forma, a obrigação acessó-
ria cumpriu a sua finalidade de permitir a fiscalização.
O caso analisado se referia à forma de apuração do IRPJ e CSLL do período. O contri-
buinte realizou compensações do imposto pago ao exterior com estimativas mensais,
e informou na ECF exatamente o que foi realizado. O Fisco manifestou entendimento
contrário e solicitou a correção para que fosse anulada a compensação informada. Por
discordar do entendimento, o contribuinte manteve as informações e foi lavrado auto de
infração para exigir a multa de 3% prevista no artigo 8º-A, inciso II, do Decreto-Lei 1.598,
de 1977.
No processo administrativo, o contribuinte demonstrou que a informação na ECF refletia
a realidade da operação e que a mera discordância do Fisco sobre a possibilidade de se
fazer a compensação não ensejava a aplicação da multa isolada. Isso, pois, a informação
somente seria “incorreta” se, tendo havido a compensação, fosse prestada informação
diversa. Por isso o CARF afastou a penalidade e esclareceu que somente se considera
incorreta a informação que não reflete a realidade.
Entendimento diverso colocaria os contribuintes em posição de subordinação às inter-
pretações fiscais, impossibilitando o próprio exercício do devido processo legal. Isso,
pois, conforme esclareceu o voto-vencedor, ao “exigir do contribuinte a retificação de
suas declarações, para que façam refletir esse posicionamento/interpretação, sob pena
de multá-lo (como de fato o fez), o agente autuante está impondo/induzindo, via ‘sanção
política’, um comportamento ao contribuinte que ela, a fiscalização, entende como ser o
mais correto”.

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Tributário • Janeiro/Julho 2023 | 17

PGFN divulga nota reconhecendo os limites da tributação dos


benefícios fiscais de ICMS
13 de Junho de 2023

Henrique Perlatto Moura e João Pedro Rezende

O valor correspondente aos incentivos fiscais de ICMS deve transitar pelo resultado e
ser mantido em reserva de lucros, caso a sociedade beneficiária exclua tais importes da
base de cálculo do IRPJ e da CSL. Este requisito não se aplica aos benefícios de créditos
presumidos de ICMS. Esta foi a tese firmada pelo STJ quando do julgamento do Tema
1.182.
Logo após a publicação do acórdão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) relativo à tri-
butação dos benefícios fiscais do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS) pelo Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e pela Contribuição Social sobre o
Lucro (CSL), a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) divulgou nota em seu site
apresentando as suas primeiras impressões sobre o entendimento firmado pelos Minis-
tros da Corte Superior.
Em sua nota, a PGFN confirma a orientação consolidada pelo STJ no sentido de que os
contribuintes que cumpram os requisitos legais previstos no artigo 30 da Lei nº 12.973
de 2014 estão autorizados a não considerar o valor dos benefícios fiscais de ICMS na
apuração do lucro real e na base de cálculo da CSL. Ao mesmo tempo, a Procuradoria
reconhece que a legislação não mais distingue o tratamento das subvenções para inves-
timento das para custeio no âmbito do tributo estadual.
A PGFN também reforça que apenas os benefícios fiscais de crédito presumido de ICMS
não estão sujeitos aos requisitos contábeis previstos no artigo 30 da Lei nº 12.973 de
2014 para fins de não incidência do IRPJ e da CSL. Para os demais incentivos fiscais con-
cedidos pelos Estados, não poderá o contribuinte incorporar os respectivos valores ao
lucro da empresa sob pena de incidência dos referidos tributos federais, devendo man-
tê-los em reserva e utilizá-los somente para reinvestimento “na expansão ou implantação
de um empreendimento”.
No entanto, vale lembrar que o STJ fixou tese resumindo-se a condicionar a não incidên-
cia do IRPJ e da CSL apenas ao preenchimento dos requisitos contábeis de manutenção
dos recursos relacionados aos incentivos fiscais de ICMS em reserva de lucros, sem
exigir que os recursos sejam efetivamente utilizados para a expansão ou implantação de
um empreendimento.

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Tributário • Janeiro/Julho 2023 | 18

ISS é devido no local do estabelecimento prestador dos


serviços de planos de saúde e serviços financeiros
21 de Junho de 2023

João Pedro Rezende

O STF finalizou o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) n° 5835 so-


bre a definição do Município que tem competência para exigir o Imposto sobre Serviços
(ISS) no caso de serviços de planos de saúde, administração de fundos e de carteira de
cliente, administração de consórcios e de cartão de crédito ou débito e de arrendamento
mercantil (leasing).
O ministro relator Alexandre de Moraes votou para manter o entendimento já sedimenta-
do de que o ISS, em geral, deve ser recolhido ao município onde está sediado o presta-
dor de serviços. Assim, afastou a cobrança do ISS no local onde está localizado o toma-
dor dos serviços financeiros ou de planos de saúde, declarando a inconstitucionalidade
do artigo 1º da Lei Complementar n° 157 de 2016 e do artigo 14 da Lei Complementar n°
175 de 2020, bem como, por arrastamento, dos artigos 2°, 3°, 6°, 9°, 10 e 13 da Lei Com-
plementar n° 175 de 2020.
Foi destacado pelo ministro relator que, embora seja possível definir que o ISS seja re-
colhido ao município em que se encontra o tomador do serviço por questões de justiça
fiscal, a Lei Complementar n° 175 de 2020 não trouxe discrição clara de quem seria o to-
mador de serviço nas operações citadas, causando enorme insegurança jurídica quanto
ao correto destinatário do produto da arrecadação. Este entendimento foi acompanhado
pela maioria dos ministros do STF.
A maioria dos ministros também entendeu pela perda de objeto da ação em relação aos
casos de franquias e do leasing, em razão das alterações legislativas realizadas. Isto, por-
que entenderam que já há previsão clara no sentido de que a tributação deve ocorrer no
local do empreendimento prestador do serviço no caso das franquias, e em relação ao
leasing, que as normas fixam a tributação no local do tomador do serviço.

RFB passa a exigir PIS/COFINS na importação de software


29 de Junho de 2023

Diogo Brazioli

A Receita Federal do Brasil (RFB) manifestou entendimento ilegal no sentido de que a


Contribuição ao Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financia-
mento da Seguridade Social (COFINS) incidem sobre a aquisição ou renovação de licen-
ça de uso de software do exterior, independentemente de customização ou do meio em-
pregado na entrega. Esse é o entendimento da Receita Federal do Brasil (RFB) exposto
na Solução de Consulta COSIT nº 107 de 2023.

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Tributário • Janeiro/Julho 2023 | 19

Embora o posicionamento tratado acima seja apresentado como desdobramento do re-


sultado das Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) nº 1.945 e nº 5.659 pelo Supre-
mo Tribunal Federal (STF), estas não foram corretamente interpretadas pela RFB. De fato,
o que foi efetivamente decidido pelo STF é que, especificamente para fins de incidência
do Imposto sobre Serviços (ISS), as atividades de licenciamento ou cessão de direito
de uso de programas de computação são tributadas pelo tributo municipal em razão do
disposto no ‘Item 1.05’ da Lista Anexa à Lei Complementar nº 116 de 2003. Entretanto,
a definição de uma atividade como serviço tributado pelo ISS não autoriza a extensão
do entendimento para se concluir que toda e qualquer operação com softwares estará
sujeita à incidência de IRRF ou PIS/COFINS-Importação.
Com efeito, em que pese o entendimento exposto na solução de consulta, verifica-se
que não foram realizadas as necessárias distinções entre o pagamento pelo licencia-
mento do software para utilização por usuário final e a contraprestação por serviço de
informática, vez que enquanto em relação ao primeiro temos um pagamento relaciona-
do à compra e venda de um bem incorpóreo – obrigação de dar, no segundo temos o
pagamento por uma atividade oferecida pelo prestador em favor do tomador do serviço
– obrigação de fazer.
Vale lembrar que em relação ao PIS e COFINS devido na importação, o artigo 1º da Lei
nº 10.865 de 2004 estabelece que as referidas contribuições incidem na importação de
serviços do exterior, enquanto o artigo 3º da mesma lei estabelece que os tributos têm
como fato gerador o pagamento ao exterior em contraprestação por serviço prestado.
Sendo assim, não haveria que se falar em cobrança do PIS e da COFINS sobre pagamen-
to pelo licenciamento de programas de computador.
Repise-se, ao contrário do entendimento da RFB, o STF não fixou que o licenciamento
de softwares deve ser considerado como prestação de serviços para todos os fins de
direito, de modo que é ilegal a exigência das contribuições sociais sobre a cessão de
direitos, uma obrigação de fazer.

Medida Provisória sobre preços de transferência é convertida


em Lei com alterações significativas
30 de Junho de 2023

Diogo Brazioli

As regras de preços de transferência definem os valores a serem utilizados nas opera-


ções transfronteiriças entre pessoas ligadas para fins de incidência do Imposto de Renda
Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro (CSL) e foram ajustas pela
Medida Provisória (MP) nº 1.152 de 2022, convertida na Lei nº 14.596 de 2023, para fins
de harmonizar as normas domésticas ao padrão internacional estabelecido no âmbito da
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A lei em referência entrará em vigor a partir de 2024, e foi publicada com importantes
alterações realizadas pelo Congresso Nacional em relação ao texto original apresentado
pelo Governo Federal, especialmente quanto (i) às transações com commodities, (ii) apli-
cação de ajuste secundário e (iii) dedutibilidade de royalties.

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Em relação às alterações nas transações com commodities, a redação anterior trazida na


MP foi flexibilizada quanto aos parâmetros para consideração do método do Preço Inde-
pendente Comparável (PIC) como o mais adequado à operação. Com a nova redação,
a utilização do PIC será preterida se os ajustes aos comparáveis identificados afetarem
sua confiabilidade ou se a utilização de preços públicos evidenciar um resultado incom-
patível com o princípio do “arm’s length”, especialmente por derivação de condições
extraordinárias de mercado.
Importante destacar que as modificações implementadas pelo Congresso também (i)
ampliaram o rol das informações confiáveis aceitas para incluir comparáveis internos,
indo além dos preços públicos mencionados na redação original e (ii) estipularam que
outros elementos, como ativos, funções e riscos de cada entidade na cadeia de valor
devem ser considerados na determinação do método mais adequado para transações
com commodities.
Quanto ao procedimento denominado “ajuste secundário”, o qual seria para adequar a
escrituração fiscal e o resultado das pessoas jurídicas aos ajustes de preços de transfe-
rência, o Congresso Nacional promoveu a supressão integral dos dispositivos que pre-
viam e regiam sua aplicação. Esse procedimento tinha como objetivo adequar os valores
de crédito concedidos às partes relacionadas envolvidas na transação controlada em
valores que excedessem o princípio do “arm’s length”.
Por fim, foi suprimida da lei de conversão o artigo da MP que previa a indedutibilidade
de pagamentos royalties e assistência técnica, científica, administrativa ou semelhante
para fins de apuração do Lucro Real em relação às operações envolvendo beneficiários
localizados em jurisdições com tributação favorecida ou sujeitos a regimes fiscais privile-
giados ou em casos de dupla não tributação da renda.

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Societário
CMN e BCB regulamentam o Marco Legal do Câmbio
08 de Fevereiro de 2023

Rebecca Ferreto

No final de 2022, o Conselho Monetário Nacional (CMN) e o Banco Central do Brasil


(BCB) publicaram normativos com a finalidade de regulamentar as disposições contidas
na Lei nº 14.286, de 2021, que instituiu o novo marco legal do mercado de câmbio no
Brasil.
A regulação atual tem como objetivo modernizar, simplificar e consolidar as normas rela-
tivas ao mercado de câmbio brasileiro. Entre as principais inovações trazidas pela novo
marco legal do mercado de câmbio, destacam-se: (i) a autorização para realização de
compensação privada de créditos ou de valores entre residentes e não residentes; (ii) o
acréscimo de hipóteses que permitem o pagamento em moeda estrangeira de obriga-
ções exequíveis no território nacional; e (iii) a permissão às instituições financeiras brasi-
leiras a dar cumprimento a ordens de pagamento em reais recebidas ou enviadas para
o exterior, por meio da utilização de contas em reais mantidas em bancos de titularidade
de instituições domiciliadas ou com sede no exterior e que estejam sujeitas à regulação
e à supervisão financeira em seu país de origem. O intuito aqui foi favorecer o aumento
da circulação de reais no exterior, beneficiando, principalmente, a aplicação no exterior
de recursos captados no Brasil.
Para as pessoas físicas, vale mencionar as seguintes alterações: a elevação do valor que
deve ser declarado em moeda estrangeira em espécie, no ato de entrada ou saída do
país, de R$10 mil para US$10 mil (art. 14, §1º, I) e a possibilidade de realização de ope-
rações de câmbio entre pessoas físicas sem a intermediação de instituição financeira
autorizada no valor de até US$ 500 dólares (art. 19).
Trazendo os princípios norteadores da nova lei cambial, o CMN editou a Resolução nº
5.042, de 2022, que incluiu, entre outros: (i) a competição para a prestação de serviços
de operações do mercado de câmbio; (ii) o estímulo à inovação, considerando a legali-
dade das operações, e à diversidade de modelos de negócio; (iii) a redução de custos
de transação no mercado de câmbio; e (iv) a confiabilidade e a qualidade dos produtos
e serviços ofertados no mercado de câmbio.
Nessa linha, o Banco Central publicou a Resolução n° 277, de 2022, que regulamenta o
mercado de câmbio e o ingresso e a saída de valores em reais e em moeda estrangeira
do país. Entre as alterações incluídas na nova regulação, importante destacar que a for-
ma de celebração de operação de câmbio passa a ser livre (art. 2º) e fica sob a respon-
sabilidade do cliente a indicação do código da operação cambial (art. 4º).
Por fim, as instituições autorizadas pelo Banco Central poderão requisitar ou dispensar
informações e documentos comprobatórios conforme o cliente e as características da
operação. As informações sobre as operações de câmbio devem ser enviadas ao BCB

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Societário • Janeiro/Julho 2023 | 22

no mesmo dia de sua realização, sendo certo que a nova resolução permitiu que as
operações de câmbio de até US$ 50 mil, ou seu equivalente em outra moeda, sejam
informadas até o dia 5 do mês subsequente ao da sua realização.

CVM publica nova regulamentação dos fundos de


investimento
17 de Fevereiro de 2023

Rebecca Ferreto

A Comissão de Valores Mobiliários publicou a Resolução nº 175 de 2022 que dispõe


sobre a constituição, o funcionamento e a divulgação de informações dos fundos de
investimento, revogando a Instrução CVM nº 555 de 2014 e outras normas correlatas.
De forma geral, a resolução regulamenta os dispositivos da Lei de Liberdade Econômica
sobre fundos de investimento e traz alterações que se apresentam como convenientes
e oportunas no cenário atual da indústria de fundos.
No novo formato de regulação, a resolução da CVM passa a ser norma geral para fundos
de investimento e os anexos normativos referem-se às regras específicas de cada cate-
goria de fundos. Por ora, a CVM publicou o anexo normativo relativo aos fundos de inves-
timento financeiros (FIF, antigos “Fundos 555”) e o anexo normativo relativo aos fundos
de investimento em direitos creditórios (FIDC). Importante mencionar que, em caso de
conflito entre dispositivos dos anexos normativos e da resolução, prevalecem as regras
particulares dos anexos normativos.
Uma das novidades trazidas pela Resolução CVM nº 175 de 2022 é o regime de classes.
Os fundos de investimento poderão contar com classes de cotas com patrimônios segre-
gados para cada classe, isto é, cada classe terá patrimônio próprio e segregado em re-
lação às demais, não havendo um “patrimônio do fundo”, mas sim “patrimônio da classe”,
ainda que exista apenas uma única classe na estrutura (fundos de classe única). Portanto,
diferentemente do que ocorre agora, é a classe de cotas que deverá estar enquadrada
em determinada categoria, assim como ser classificada como aberta ou fechada e de
curto ou longo prazo.
As classes de cotas dos fundos poderão prever que a responsabilidade do cotista é
limitada ao valor por ele subscrito, devendo, neste caso, à denominação da classe ser
acrescido o sufixo “Responsabilidade Limitada”. A forma limitada das classes aproxima os
cotistas dos limited partners estrangeiros e tem efeitos socioeconômicos muito positivos,
ao reduzir os riscos dos cotistas a padrões controláveis de riscos financeiros.
Em relação aos prestadores de serviço dos fundos, a Resolução CVM trouxe a definição
de prestadores de serviços essenciais do fundo como sendo o administrador fiduciário
e o gestor de recursos, responsáveis pela constituição do fundo e pela contratação dos
prestadores de serviços complementares em nome do fundo. As atribuições e respon-
sabilidades de cada prestador de serviço essencial foram devidamente definidas na re-
solução, o que traz maior segurança aos cotistas e ao mercado, além de reduzir o custo
de observância do administrador (gatekeeper), que possuía um dever de fiscalização
genérico pela norma antiga.

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Sobre a carteira dos fundos, a resolução prevê expressamente que os fundos poderão
investir (i) em ativos sustentáveis, na forma de créditos de descarbonização – CBIO e
créditos de carbono, desde que no mercado regulado (e não voluntário); (ii) diretamente
(e não apenas via veículo) em criptoativos, inclusive para classes destinadas ao varejo; e
(iii) em ativos de crowdfunding e contratos de investimento coletivo (não apenas de con-
do-hotel), inclusive para classes destinadas ao varejo.
A Resolução CVM nº 175 de 2022 entra em vigor em 3 de abril de 2023, sendo que os
fundos vigentes devem se adaptar às novas regras até 31 de dezembro de 2024, com
exceção dos FIDC, que possuem prazo de adaptação até 31 de dezembro de 2023.

BACEN divulga novas regras sobre capital estrangeiro no país


27 de Fevereiro de 2023

Rebecca Ferreto

O Banco Central publicou as Resoluções nºs 278, 280 e 281 de 2022 com o objetivo
de regular Lei Cambial (Lei nº 14.286 de 2021) no que se refere ao ingresso de capitais
estrangeiros no País nas operações de crédito externo e de investimento estrangeiro
direto, bem como em relação à prestação de informações relativas a tais operações.
Segundo a nova regulamentação, os sistemas de prestação de informações passam a
ser denominados: (i) SCE-IED - Sistema de Prestação de Informações de Capital Estran-
geiro de Investimento Estrangeiro Direto, RDE-IED - em substituição ao Registro Decla-
ratório de Investimento Estrangeiro Direto; e (ii) SCE-Crédito - Sistema de Prestação de
Informações de Capital Estrangeiro – Crédito Externo, em substituição ao RDE-ROF - Re-
gistro Declaratório de Operações Financeiras.
Em linha com objetivo da Lei Cambial de modernizar, simplificar e consolidar as normas
relativas ao mercado de câmbio brasileiro, as resoluções do Banco Central ampliaram o
rol de receptores de investimento direto, incluindo qualquer sociedade, parceria, empre-
sário individual, consórcio e sociedade em conta de participação.
Nas operações de investimento estrangeiro direto, o receptor deverá prestar informa-
ções ao Banco Central em até 30 dias, na hipótese de: (i) ocorrer transferência financeira
relacionada a investidor não residente de valor igual ou superior a US$ 100 mil ou seu
equivalente em outras moedas; ou (ii) ocorrer movimentação de reorganizações socie-
tárias, cessão, permuta e conferência de quotas ou ações, conferência internacional de
quotas ou ações, reinvestimentos, distribuição de lucros e dividendos, pagamento de ju-
ros sobre capital próprio, alienação de participação etc. de valor igual ou superior a US$
100 mil ou o seu equivalente em outras moedas.
De forma periódica, as empresas com participações detidas por não residentes (pessoas
físicas e jurídicas) continuam obrigadas a prestar informações ao Banco Central. Ficam
obrigadas a prestar declaração trimestral (data-base 31 de março, 30 de junho, 30 de se-
tembro e 31 de dezembro de cada ano) as empresas que possuírem ativos totais em valor
igual ou superior a R$ 300 milhões na respectiva data-base. As empresas com ativos

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totais em valor igual ou superior a R$ 100 milhões devem apresentar declaração anual
com data-base de 31 de dezembro.
Em relação às operações de crédito externo, tanto naqueles de ingresso de recursos
no país como nas hipóteses em que estes sejam mantidos no exterior, será obrigatória a
prestação de informações quando se tratar de: (i) US$ 1 milhão (ou mais) para operações
de crédito externo, recebimento antecipado de exportação e arrendamento mercantil
financeiro externo com prazo de pagamento superior a 360 dias; (ii) US$ 500 mil (ou
mais) para operação de financiamento de importação de bens ou serviços com prazo
de pagamento superior a 180 dias; ou (iii) operações de crédito externo contratadas por
entes da Administração Pública Direta e Indireta federal, estadual, municipal e do Distrito
Federal, independentemente do valor da operação.
Vale mencionar que a Resolução nº 278 de 2022 eliminou a exigência de prestação de
informações sobre contratos entre residentes e não residentes referentes (i) ao uso ou
cessão de patentes, marcas de indústria ou de comércio, fornecimento de tecnologia,
para fins de transferências financeiras a título de royalties; e (ii) à prestação de serviços
técnicos e assemelhados, ao aluguel e afretamento e ao arrendamento mercantil (lea-
sing) operacional externo. O registro de operações das modalidades acima previstas,
formalizado previamente à vigência da resolução permanecerá disponível apenas para
fins de consulta até 31 de dezembro de 2023.
Caso não sejam enviadas informações ou sejam enviadas informações inverídicas, in-
completas, incorretas ou mesmo fora do prazo, a empresa investida poderá incorrer em
multa no valor de até R$ 250 mil, além da possibilidade de responder a possível proce-
dimento administrativo sancionador e ter seu registro suspenso, conforme Lei nº 13.506
de 2017 e Resolução BCB nº 131 de 2021. As sociedades com registro cancelado estão
impedidas de efetivar operações de câmbio, tanto para o ingresso de investimentos es-
trangeiros ao Brasil quanto para o envio de recursos para fora do país.

BCB apresenta nova regulação sobre capitais brasileiros no


exterior
01 de Março de 2023

Rebecca Ferreto

O Banco Central (BCB) publicou a Resolução nº 279 de 2022 que regulamenta a Lei
Cambial (Lei nº 14.286 de 2021) em relação ao capital brasileiro no exterior, revogando-
-se, assim, a Resolução BCB nº 3.854 de 2010.
De acordo com a nova regulação, define-se como capital brasileiro no exterior, para fins
de prestação de informação, a aplicação do capital brasileiro no exterior em qualquer
modalidade regularmente praticada no mercado internacional, inclusive derivativos, além
de financiamentos, empréstimos diretos e créditos comerciais concedidos no país a não
residentes.
Ainda, considera-se como capital brasileiro no exterior o patrimônio cuja titularidade foi

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transferida por qualquer arranjo, revogável ou não, a agente fiduciário no exterior para
administração em favor de beneficiários residentes especificados. Nesta hipótese, o re-
sidente beneficiário é o responsável pela prestação de informações perante o Banco
Central.
Os fluxos devem possuir fundamentação econômica e toda documentação deve ser
mantida pelo prazo de 10 anos, podendo o Banco Central, durante esse período, solici-
tá-la sempre que considerar necessário.
Quanto à prestação de informações do capital brasileiro no exterior, os pisos declarató-
rios e a periodicidade das declarações foram mantidos, isto é:
US$ 1 milhão para a declaração anual. O prazo de entrega é até 5 de abril.
U$100 milhões para as declarações trimestrais. O prazo de entrega é 5 de junho (data-
-base 31 de março), 5 de setembro (data-base 30 de junho) e 5 de dezembro (data-base
30 de setembro).
Caso as informações não sejam prestadas ou sejam enviadas informações inverídicas,
incompletas, incorretas ou mesmo fora do prazo, ficará a pessoa física ou jurídica passí-
vel de multa no valor de até R$ 250 mil, além da possibilidade de responder a possível
procedimento administrativo sancionador e ter seu registro suspenso, conforme Lei nº
13.506 de 2017 e Resolução BCB nº 131 de 2021.

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