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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO GREGÓRIO SEMEDO

Lídia Dulce José Chifeta

A OBRIGAÇÃO DA PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS AO MENOR NO


ORDENAMENTO JURÍDICO ANGOLANO: “Um estudo de caso no Serviço de
Investigação Criminal”

Moçâmedes
2020
Lídia Dulce José Chifeta

A OBRIGAÇÃO DA PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS AO MENOR NO


ORDENAMENTO JURÍDICO ANGOLANO: “Um estudo de caso no Serviço de
Investigação Criminal”

Pesquisa de TCC apresentado ao Curso de


Direito, Instituto Superior Politécnico Gregório
Semedo, como requisito para obtenção do título
de Licenciada em Direito.

Orientador: Dra. Juliana Preciosa Luís da Costa

Moçâmedes
2020
Lídia Dulce José Chifeta

A OBRIGAÇÃO DA PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS AO MENOR NO


ORDENAMENTO JURÍDICO ANGOLANO: “Um estudo de caso no Serviço de
Investigação Criminal”

Pesquisa de TCC apresentado ao Curso de


Direito, Instituto Superior Politécnico Gregório
Semedo, como requisito para obtenção do título
de Licenciada em Direito.

____________________________________________
Msc. Manuel Zangado (Presidente)

____________________________________________
Msc. José Cavela Cativa (Arguente)

_____________________________________________
Dra. Juliana Preciosa Luís Da Costa (Orientadora)
4
Dedico este trabalho a minha família por me dar a
oportunidade de seguir com a minha licenciatura e fazer dos
meus sonhos uma prioridade, pois sem ela não seria possível
realizar e cumprir essa meta, sua persistência, sua fé, e
principalmente seu apoio incondicional proporcionaram sem
dúvida a concretização dessa meta.

iii
Agradecimentos

Primeiramente rendemos graças ao nosso Senhor pela vida, pela saúde física e mental
proporcionada dia após dia durante o nosso tempo de formação. Minha gratidão a aquele que
possibilitou minha existência guiou-me nas conquistas, e, principalmente, sustentou-me em
minhas derrotas, Deus, Senhor da minha vida, Pai a quem eu me dedico, mesmo pequena e
imperfeita ele me ama.

A toda minha família eu agradeço pelos momentos de encorajamento quando me


desfalecia o espírito e pelos conselhos positivos que hoje fazem de mim a mulher que a
sociedade vê e tira a sua percepção, em especial a minha ilustre orientadora Dra. Juliana
Preciosa, e a todos que directa e indirectamente contribuíram para a concretização dessa meta.

A todos o meu enorme OBRIGADO!

iv
Resumo

No presente trabalho, teremos o ensejo de abordar um pouco atinente a Obrigação de


Prestação de Alimentos ao Menor no Ordenamento Jurídico Angolano, sendo este a proposta
do tema central para a elaboração da monografia. Temos como objecto de estudo a prestação
de alimentos. O Trabalho foi dividido em três (3) capítulos, sendo o primeiro referente ao
Referencial Teórico, o segundo corresponde a Fundamentação Metodológica, diante do
terceiro capítulo procederemos a análise, discussão e interpretação dos resultados. Queremos
com o presente trabalho, ilustrar de forma precisa como é realizada a prestação de alimentos a
favor do menor nas suas mais diversas modalidades, bem como levar ao conhecimento da
sociedade, as reais consequência da falta do cumprimento da obrigação alimentar para o
menor, bem como para o próprio obrigado Podemos referir que o Direito de Família
corresponde ao ramo do Direito Civil que apresenta um grande dinamismo. Isso ocorre em
função das drásticas e céleres mudanças sociais constantes, pois, ainda que o direito de
família seja regulado por inúmeros princípios e conceitos predefinidos, merece uma maior
atenção, por tratar do instituto mais importante da sociedade. De acordo com a história da
vida humana, percebe-se que as crianças, os adolescentes, os adultos ou idosos, necessitavam
de um amparo familiar que fornecessem bens essências para sua sobrevivência. Destacam-se
assim os alimentos, que, para a maioria dos doutrinadores, é considerado tudo aquilo
necessário para a subsistência. Sendo os alimentos bastante importantes para manutenção da
vida do menor e/ou do homem em sociedade, tivemos a primazia de aqui tecer as
considerações relevantes com vista a proceder a redução significativa do incumprimento deste
tão precioso instituto jurídico.

Palavras- chave: Obrigação. Prestação. Alimentos. Menor. Ordenamento Jurídico.

v
Abstract

In the present work, we will have the opportunity to discuss the Obligation to Provide Food to
Minors in the Angolan Legal System, which is the proposal of the central theme for the
elaboration of the monograph. Our object of study is the provision of food. The work was
divided into three (3) chapters, the first referring to the Theoretical Reference, the second
corresponds to Methodological Basis, before the third chapter we will proceed to the analysis,
discussion and interpretation of the results. With this work, we want to illustrate in a precise
way how the provision of food is carried out in favor of the child in its most diverse
modalities, as well as to bring to the attention of society, the real consequences of the lack of
compliance with the maintenance obligation for the child, as well as for the thank you itself
We can say that Family Law corresponds to the branch of Civil Law that presents a great
dynamism. This is due to the drastic and rapid constant social changes, because, although
family law is regulated by numerous predefined principles and concepts, it deserves greater
attention, as it deals with the most important institute in society. According to the history of
human life, it is clear that children, adolescents, adults or the elderly, needed family support to
provide essential goods for their survival. Food stands out, which, for most teachers, is
considered everything necessary for subsistence. Since food is very important for the
maintenance of the life of the minor and / or man in society, we had the primacy to make the
relevant considerations here in order to proceed with a significant reduction of the non-
compliance of this precious legal institute.

Keywords: Obligation. Installment. Foods. Smaller. Legal Ordering.

vi
Lista de Gráficos

Gráfico 1: Designação da Amostra Quanto ao Género.............................................................47


Gráfico 2: Amostra quanto variável escalão etário...................................................................48
Gráfico 3: Medidas Adoptadas em caso de Incumprimento da Prestação de Alimento...........49
Gráfico 4: Índice do Incumprimento de prestação de Alimentos.............................................49
Gráfico 5: Consequências do Incumprimento da Prestação de Alimentos aos Menores..........50
Gráfico 6: Causas do Incumprimento da Prestação Alimentar.................................................51

vii
Abreviaturas e Siglas

Art. – Artigo.

CRA - Constituição da República de Angola

C.F - Código de Família

C.C - Código Civil

M. P - Ministério Público

SIC - Serviços de Investigação Criminal

OAA - Ordem dos Advogados de Angola

Índic

viii
e
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................1

CAPÍTULO I- REFERENCIAL TEÓRICO...............................................................................3

1.1- Origem e conceito dos Alimentos.......................................................................................3

1.2 - Pressupostos........................................................................................................................5

1.3 - Espécies..............................................................................................................................7

1.3.1 - Quanto à Natureza...........................................................................................................8

1.3.2 - Quanto à Causa Jurídica..................................................................................................9

1.3.3 - Quanto à Finalidade.......................................................................................................10

1.3.4 - Quanto ao Momento da Reclamação.............................................................................11

1.4 - Características...................................................................................................................12

1.4.1 - Direito de Personalidade................................................................................................12

1.4.2 Divisibilidade...................................................................................................................13

1.4.3 Irrenunciabilidade............................................................................................................14

1.4.4 Impenhorabilidade...........................................................................................................16

1.4.5 Imprescritibilidade...........................................................................................................16

1.4.6 Periodicidade....................................................................................................................17

1.5 - Sujeitos da Obrigação Alimentar......................................................................................18

1.7 - A Obrigação de Prestação de Alimentos ao Menor no Ordenamento Jurídico Angolano


...................................................................................................................................................23

1.7.1 - Função Social e Fonte da Obrigação de Alimentos.......................................................23

1.7.2 - Natureza jurídica dos alimentos....................................................................................25

1.8 – Do Poder Paternal nas Relações Jurídico-Alimentar.......................................................26

1.8.1 - O Exercício do Poder Paternal Durante o Casamento...................................................27

1.8.2 - O Exercício do Poder Paternal fora do Casamento.......................................................28

1.8.3 - Problemática de no Caso de Residência Alternada do Menor Dever ou não ser Fixada Pensão
De Alimentos……..................………………………………………………………. 31
ix
1.9 - Medida e Natureza Variável dos Alimentos.....................................................................34

1.10 - Execução da Obrigação de Alimentos............................................................................38

1.11 - Extinção do Direito e da Obrigação de alimentos..........................................................39

CAPÍTULO II - FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA..................................................41

2.1- Apresentação Institucional................................................................................................41

2.2 Metodologia........................................................................................................................41

2.3 População............................................................................................................................42

2.4 Amostra...............................................................................................................................42

2.5 Métodos e Técnicas.............................................................................................................40

2.5.1 Métodos............................................................................................................................44

2.5.2 Técnicas...........................................................................................................................44

2.6 Técnica de Recolha e de Tratamento de Dados..................................................................47

CAPÍTULO III: ANÁLISE, DISCUSSSÃO E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS...48

3.1 - Apresentação dos Resultados da Entrevista.....................................................................48

3.2 - Análise Dos Resultados....................................................................................................51

3.2.1 - Processos por Incumprimento da Prestação de Alimentos............................................51

3.2.2- Análise da amostragem...................................................................................................52

CONCLUSÃO..........................................................................................................................57

SUGESTÕES............................................................................................................................59

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA..........................................................................................60

APÊNDICE...............................................................................................................................61

x
xi
INTRODUÇÃO

O presente trabalho foi elaborado no âmbito do Direito da Família, sendo este o sub-
ramo do Direito Privado Civil Comum. A mesma esta constituído de princípios e normas que
visam regular as relações familiares quer no substrato pessoal como no substrato patrimonial.

O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tem como tema “A Obrigação de Prestação


de Alimentos ao Menor no Ordenamento Jurídico Angolano”, o qual foi pesquisado segundo
as regras do Instituto Superior Politécnico Gregório Semedo- Unidade Namibe.

O Direito de Família é o ramo do Direito Civil que apresenta um grande dinamismo.


Isso ocorre em função das drásticas e céleres mudanças sociais constantes, pois, ainda que o
direito de família seja regulado por inúmeros princípios e conceitos predefinidos, merece uma
maior atenção, por tratar do instituto mais importante da sociedade.

Justificativa

A escolha pelo tema tem a sua génese nos constantes relatos sócias que giram em
torno do título ora apresentado. E conforme o nosso problema científico, queremos com a
presente obra ilustrar os mecanismos legais e doutrinários que visam a reduzir de forma
gradual tais relatos.

Esperamos que da redacção do presente trabalho possa existir determinados


mecanismos técnicos que possibilitam a redução gradual do incumprimento da obrigação
alimentar, chamando atenção da comunidade académica e não só, as reais consequências que
possam coexistir pela observação desta prática que por sinal periga a vida do menor bem
como da sociedade

Problema

O alcance da presente obra tem em vista a concepção da resposta levantada como


problema científico, por sua vez consiste em saber como reduzir o elevado índice de
incumprimento na prestação de alimentos em Moçâmedes?

Objectivo Geral:

Contextualizar a obrigação da prestação de alimentos a nossa realidade.


Objecto de estudo:

Prestação de alimentos.

Objectivos Específicos:

 Identificar as modalidades de prestação e tipos de alimentos;


 Identificar o índice de incumprimento da prestação alimentar no município de
Moçâmedes;
 Descrever as diferentes formas de prestação de alimentos descritas no Código de
Família;
 Sugerir medidas com vista a reduzir o elevado índice de incumprimento da prestação
alimentar.

Estruturação do trabalho

Com este trabalho, pretende-se no primeiro capítulo intitulado Referencial Teórico


procuramos estabelecer as noções gerais e/ou fundamentais relativas a Prestação de alimentos,
entender a evolução e conceito de alimentos bem como os seus variados tipos e
características.

Posteriormente, no segundo capítulo, descreveremos a fundamentação metodológica


que nos possibilitou a elaboração técnica e teórica da nossa obra.

Já no terceiro e último capítulo daremos a conhecer acerca da análise, discussão e


interpretação dos resultados, que por via do qual conheceremos a população e a amostra a que
configura o desenvolvimento da pesquisa.

2
CAPÍTULO I - REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 - Origem e conceito dos Alimentos

Quando falamos sobre o instituto dos alimentos, devemos entender sobre sua origem,
seu conceito, os pressupostos que darão ensejo ao recebimento dos alimentos, as espécies, as
características, e os sujeitos que participarão como garantes dessa obrigação alimentar. Logo,
neste capítulo, será demonstrada a importância dos alimentos dentro do Direito de Família.

De acordo com a história da vida humana, percebe-se que as crianças, os adolescentes,


os adultos ou idosos, necessitavam de um amparo familiar que fornecessem bens essências
para sua sobrevivência. Destacam-se assim os alimentos, que, para a maioria dos
doutrinadores, é considerado tudo aquilo necessário para a subsistência.

Vimos que, antigamente, as famílias eram dominadas pelo pátrio poder, isto é, a
autoridade máxima da família era exercida pelo pai. Este, por sua vez, era quem detinha a
responsabilidade de prover o sustento de todos os membros do convívio familiar. Hoje,
entendemos que o pátrio poder se transformou em poder familiar, onde os deveres da
obrigação alimentar são de todos os parentes pertencentes ao grupo familiar, sejam
ascendentes, descendentes e afins.

Entretanto o nosso Direito Civil no passado cometeu um gravíssimo erro em se


tratando de criança e adolescente, pois não era permitido o reconhecimento dos filhos
considerados ilegítimos, ou melhor, tidos fora do casamento. Desta forma, sem uma possível
identidade, não poderiam pleitear alimentos.

Após alguns anos, os filhos tidos fora do casamento poderiam ingressar com acção de
investigação de paternidade, ainda que comprovada, não era reconhecido o parentesco. A
acção corria em segredo de justiça, e só assim aqueles tinham direito de reivindicar os
alimentos. Mas, com o advento da nossa actual Constituição, a história tomou outro rumo,
pois o princípio da igualdade entre todos os filhos, trouxe a equiparação e reconhecimento dos
filhos ilegítimos.

3
Para chegarmos aos direitos adquiridos pela evolução social, Dias (2016) traz o que
ocorreu com a prestação dos alimentos advindas do casamento, pois, em outrora, o
matrimónio era tido como algo indissolúvel. O que o dever de prestar alimentos era recíproco
entre o casal, contudo, o cônjuge exclusivamente culpado pela separação era quem devia
pagar os alimentos ao inocente. Assim, sem qualquer forma de interpretação, “o cônjuge
responsável pela separação judicial prestará ao outro, se dela necessitar, a pensão que o juiz
fixar”. Dando a entender que só o inocente que faria jus à pensão alimentícia.

Nos dias actuais com entrada em vigor da Constituição, a responsabilidade do divórcio


foi extinta, pois o direito de família não mais admite qualquer referência a causas que levaram
a dissolução do vínculo ou a identificação da culpa. O Código de Família traz a possibilidade
do ex-cônjuge, seja homem ou mulher, de pleitear alimentos quando necessário for, até que o
outro posso se reestruturar.

Com esse breve apanhado histórico, veremos o que quer dizer os alimentos, e até onde
esse direito abrange. Desta forma, Gonçalves (2017) destaca que:

“O vocábulo “alimentos” tem, todavia, conotação muito


mais ampla do que na linguagem comum, não se limitando ao
necessário para o sustento de uma pessoa. Nele se compreende
não só a obrigação de prestá-los, como também o conteúdo da
obrigação a ser prestada. A aludida expressão tem, no campo do
direito, uma acepção técnica de larga abrangência,
compreendendo não só o indispensável ao sustento, como
também o necessário à manutenção da condição social e moral
do alimentando”.

Como bem dito pelo autor acima, os alimentos vão além do necessário para o sustento
da pessoa. Mas, quanto à abrangência do conteúdo dos alimentos, Gomes (2002), vai dizer
que:

4
“Alimentos são prestações para satisfação das necessidades vitais de quem não pode
provê-las por si. A expressão designa medidas diversas. Ora significa o que é estritamente
necessário à vida de uma pessoa, compreendendo, tão-somente, a alimentação, a cura, o
vestuário e a habitação, ora abrange outras necessidades, compreendidas as intelectuais e
morais, variando conforme a posição social da pessoa necessitada. Na primeira dimensão os
alimentos limitam-se ao necessarium vitae; na segunda, compreendem o necessarium
personae. Os primeiros chamam-se alimentos naturais, os outros, civis ou côngruos”.

Quando falamos em alimentos, podemos citar os artigos 247.º a 249.º C.F, que traz a
importância dos parentes, os cônjuges ou companheiros na solidariedade familiar, ou seja, o
reconhecimento da responsabilidade jurídica aos membros de uma mesma família. Assim diz
o dispositivo: “podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os
alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social,
inclusive para atender às necessidades de sua educação”. E acrescentando -os, tratam-se da
proporcionalidade dos alimentos para com a necessidade do obrigado, e quando se tratar de
culpa será apenas os indispensáveis à subsistência.

1.2 - Pressupostos

Os alimentos são direitos e deveres de todos nós, desde que preenchido os requisitos
para tal. De início, tínhamos a obrigação alimentar sendo condicionada por um binómio:
necessidade vs. Possibilidade. Mas a doutrina reconhece até quatro pressupostos existentes
para a fixação dos alimentos.

Gonçalves (2017) elenca esses pressupostos:

a) A existência de um vínculo de parentesco sejam eles os ascendentes, descendentes,


companheiros, cônjuges, irmãos e outros;

b) Necessidade do reclamante que não tenha condições suficientes para viver de modo
compatível com sua condição social;

c) Possibilidade da pessoa obrigada, devendo prestar a devida assistência alimentar


sem que prejudique seu próprio sustento;

d) Proporcionalidade na obrigação alimentar, para que não haja prejuízo em ambas às


partes.
5
Esses pré-requisitos estão dispostos nos artigos 249.º,2 48.º, 250.º e 251.º do Código
de Família. Este primeiro dispositivo expõe que “os alimentos devem ser fixados na
proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada”. E quanto ao
segundo dispositivo, mostra-se que “são devidos os alimentos quando quem os pretende não
tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de
quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento”.

Logo, observa-se que o pleito dos alimentos está directamente relacionado ao princípio
da dignidade da pessoa humana. A intenção da prestação alimentar não é enriquecer ou
exaurir recursos das partes, mas de oferecer uma vida digna até que o reclamante possa se
estabilizar e não mais necessitar dos alimentos ofertados.

Caberá ao juiz sopesar os pressupostos para a obtenção da prestação dos alimentos,


bem como o respeito à vida digna e a integridade da pessoa humana, não somente de quem as
recebe, mas também de quem os deve. Pode o magistrado, dependendo do caso concreto,
determinar a fixação dos alimentos em valores fixos ou também variáveis, como no caso da
prestação in natura.

Quanto à situação e a possibilidade da pessoa obrigada, Monteiro (2004 apud


Gonçalves, 2017) destaca que:

“Se o alimentante possui tão somente o indispensável à


própria mantença, não é justo seja ele compelido a
desviar parte de sua renda, a fim de socorrer o parente
necessitado. A lei não quer o perecimento do alimentado,
mas também não deseja o sacrifício do alimentante. Não
há direito alimentar contra quem possui o estritamente
necessário à própria subsistência”.

Não podemos deixar de ressaltar, também, a hipótese de enriquecimento das partes,


pois são mutáveis, assim podendo haver a modificação dos alimentos a qualquer tempo. Neste
contexto “se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os
supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as
6
circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo”. Deste modo, pode o juiz
diminuir ou extinguir a obrigação alimentar, mediante a modificação da situação económica
tanto do alimentante quanto do alimentado, pois passou a ter meios próprios de sustento ou se
tem apenas o indispensável a sua subsistência.

Agora, quando o assunto são filhos, a prestação alimentar vira um dever familiar. O
magistrado fixará uma percentagem em cima do rendimento do alimentante quando este tiver
remuneração fixa. Pois, sabemos que alguns pais possuem trabalhos de natureza autónoma, e,
se for o caso, será esta comprovada por declaração de renda, movimentação bancária e de
cartões de crédito. Assim, sendo recomendável o valor fixado por quantia certa, estando
sujeita a reajustes legais.

Os pais, os avós ou quem os ajuda no dever alimentar, tem o direito de reaver a


qualquer tempo os alimentos do filho. Este, que por sinal, tem seu direito garantido até a
chegada da maioridade, podendo ser postergada no limite dos 24 anos, mas desde que esteja
efectivamente matriculado em uma instituição de ensino superior. São inúmeras as
possibilidades para a redução ou majoração do valor fixado, seja em razão do filho conseguir
sustentar-se, do desemprego do pai, do nascimento de outro filho, entre outros.

Portanto, víamos os pressupostos para a positivação do cabimento dos alimentos,


como, a necessidade, a possibilidade, o parentesco e a proporcionalidade. Quem tem recursos
suficientes para ajudar o parente, doará, mas quem tem apenas o estritamente necessário à
própria subsistência, não poderá assim o fazer.

1.3 - Espécies

Os alimentos são demandados aos parentes que não podem provê-los sozinhos. E por
se tratar de parentes, existe um vínculo afectivo familiar, e este é satisfatório para que tenha o
cumprimento da obrigação alimentar.

Entretanto, quando o vínculo não é suficiente e o parente tem recursos, mas não quer
por vontade própria fornecê-los, a pessoa prejudicada poderá ingressar com a acção de
alimentos, meio necessário para que o juiz fixe um valor ou percentual para ser pago. Só que,
os alimentos são incorporados de diversas espécies, que conheceremos mais abaixo.

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1.3.1 - Quanto à Natureza

A doutrina apresenta essa espécie em três classificações, os naturais, os civis e os


compensatórios. Os naturais, também chamado de necessários, são aqueles alimentos que
englobam tudo o que é indispensável para garantir a subsistência, ou seja, ter uma vida com
dignidade.

Acerca dos alimentos naturais, Tartuce (2016) comenta que:

“Visam somente ao indispensável à sobrevivência da pessoa,


também com dignidade. Englobam alimentação, saúde, moradia
e vestuário, sem exageros, dentro do princípio da
proporcionalidade. Eventualmente, também se inclui a educação
de menores. Esse conceito ganhou importância com o Código
Civil, pois o culpado pelo fim da união somente poderá pleitear
esses alimentos do inocente.

Já quanto aos civis, ou também nomeados de côngruos, são destinados a conservar o


padrão e a qualidade de vida do alimentando, isto é, mantendo seu status que para ter uma
condição social estável.

E por fim, quanto à espécie de alimentos compensatórios. Estes têm a finalidade de


compensar o antigo cônjuge ou companheiro em razão do fim do vínculo conjugal, evitando
assim um desequilíbrio brusco no padrão de vida. A pensão compensatória é assegurada
principalmente em razão do regime de bens, ou caso este beneficiador, enquanto não se fizer a
partilha.

E para reforçar a ideia da espécie mencionada acima, Madaleno (2017), explica que:

“O propósito da pensão compensatória ou da compensação


económica é de indemnizar por algum tempo ou não o
desequilíbrio económico causado pela repentina redução do
padrão socioeconómico do cônjuge desprovido de bens e
meação, sem pretender a igualdade económica do casal que
desfez sua relação, mas que procura reduzir os efeitos deletérios
surgidos da súbita indigência social, causada pela ausência de

8
recursos pessoais, quando todos os ingressos eram mantidos
pelo parceiro, mas que deixaram de aportar com o divórcio”.

Contudo, a espécie quanto à natureza, é umas das mais convencionais. Essa


classificação é de grande importância para o instituto dos alimentos, pois tem a finalidade
distinguir a necessidade apresentada pelo alimentado

1.3.2 - Quanto à Causa Jurídica

Com relação à causa jurídica os doutrinadores também se utilizam de três divisões,


sendo elas, legais ou legítimos, voluntários e indemnizatórios.

Nessa primeira classificação, quanto aos alimentos legítimos, estes têm natureza
obrigatória legal, pois decorrem do vínculo de parentesco, do casamento e da união de facto
(previsto no art. 249.º C.C.).

Gonçalves (2017) acrescenta que apenas alimentos legais:

“Pertencem ao direito de família. Assim, a prisão civil pelo não


pagamento de dívida de alimentos, permitida na lei, somente
pode ser decretada no caso dos alimentos previstos nos arts.
247.º C.C, III, que constituem relação de direito de família,
sendo inadminissível em caso de não pagamento dos alimentos
indemnizatórios (responsabilidade civil exdelicto) e dos
voluntários (obrigacionais ou testamentários) ”.

No que tange aos alimentos voluntários, advém de acto de vontade própria, quer dizer,
autonomia da vontade, pois quem os proporciona não tem obrigação de fazê-la. Como bem se
observa o nome, são voluntárias, ou mesmo espontâneos, podendo ocorrer por meio de
contratos (inter vivos) ou por testamento (mortis causa).

9
De acordo com Tartuce (2016):

“São aqueles fixados por força de contrato, testamento ou


legado, ou seja, que decorrem da autonomia privada do
instituidor. Esses alimentos não necessariamente decorrem de
obrigação alimentar fixada em lei. Desse modo, não cabe prisão
civil pela falta do seu pagamento, a não ser que sejam legais”.

Tem-se por últimos os alimentos indemnizatórios, conhecidos também por


ressarcitórios, são decorrentes de prática de actos ilícitos, por exemplo, remuneram a família
ou parente pela morte de um ente ou a perda da função de algum membro do corpo. No caso é
constituído um meio de indemnizar o dano causado. Valendo lembrar que essa classificação
da espécie não poderá haver prisão.

1.3.3 - Quanto à Finalidade

Com base na finalidade os alimentos dividem-se em definitivos ou regulares,


provisórios, provisionais e transitórios. Os definitivos são aqueles fixados de forma
permanente pelo juiz, ou por meio de acordo entre as partes, devidamente homologado.

Quando falamos em alimentos provisórios, quer-se dizer que são fixados de imediato
por uma acção de alimentos com pedido de liminar para que se possa comprovar o parentesco,
casamento ou união estável, mas deverá haver uma prova pré-constituída que possa
demonstrar tal facto. Por isso, o juiz por sua cognição sumária estabelece a fixação dos
alimentos antes mesmo de escutar o réu da demanda.

Muitos doutrinadores equiparam alimentos provisórios com alimentos provisionais,


porém se tem uma pequena distinção, estes são estipulados em outras acções que não seguem
o rito especial, e tem o interesse de amparar a parte que os pleiteia no decorrer da lide. Deste
modo, antecipando os efeitos da sentença definitiva.

Sobre os alimentos provisionais, Gonçalves (2017), ainda destaca que:

10
“são os determinados em pedido de tutela provisória, preparatória ou incidental, de
acção de separação judicial, divórcio, de nulidade ou anulação de casamento ou de alimentos.
Destinam-se a manter o suplicante, geralmente a mulher, e a prole, durante a tramitação da
lide principal, e ao pagamento das despesas judiciais”.

Por fim, temos os alimentos chamados transitórios, reconhecidos por jurisprudência do


Tribunal, são determinados por certo período de tempo, em favor de seu antigo cônjuge ou
companheiro, com a formação profissional, que seja considerado capaz de ingressar no
mercado de trabalho, e que necessite de auxílio financeiro somente até ganhar a sua
autonomia financeira, momento este no qual estará desobrigado da tutela do alimentante,
assim, extinguindo automaticamente a obrigação.

1.3.4 - Quanto ao Momento da Reclamação

Destacam-se aqui nessa espécie os alimentos pretéritos, actuais e futuros. Os alimentos


pretéritos são alimentos que atingiram sua prescrição, e diante disso, não poderão ser
exigidos.

Nas palavras de Tartuce (2016):

“São aqueles que ficaram no passado e que não podem mais ser
cobrados, via de regra, eis que o princípio que rege os alimentos
é o da actualidade. Repise-se que somente podem ser cobrados
os alimentos fixados por sentença ou acordo entre as partes, no
prazo prescricional de dois anos, contados dos seus respectivos
vencimentos.

O nosso ordenamento jurídico só admite os alimentos actuais e os futuros, pois


entende-se que se o alimentando conseguiu arcar com seu sustento sem auxílio do
alimentante, ainda que de forma positiva ou negativa, não poderá cobrar o alimento referente
o período anterior a propositura da acção.

Os alimentos actuais, ou chamados de presentes, são aqueles postulados na inicial


relativo às necessidades no instante da distribuição, pois são os pleiteados a contar do
ajuizamento da acção. Esses alimentos actuais duram da destruição até a sentença, pois
posterior ao pleito será fixado os alimentos definitivos.

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Temos também os alimentos futuros, conhecidos como pendentes, são os devidos
somente a começar da sentença, pois independem do trânsito em julgado da sentença que os
tenha possibilitado. Desta forma, tornando-se devidos os alimentos a partir da citação ou em
virtude de um acordo estabelecido entre as partes.

1.4 - Características

A obrigação alimentar, no âmbito das relações familiares, tem uma importante função,
que está prevista no art. 30.º da Constituição, seria então a preservação do direito à vida com
dignidade. Ocorre que essa obrigação tem várias características nos quais devemos nos atentar
para que haja o dever de solidariedade familiar.

Veremos em seguida algumas dessas características.

1.4.1 - Direito de Personalidade

O direito de personalidade é uma característica muito peculiar na obrigação alimentar,


pois visa à preservação da vida e a garantia da subsistência do indivíduo que não pode
transferir seu direito alimentar a outrem, devendo então receber o auxílio necessário para sua
manutenção.

Para acrescentar, Dias (2016), ressalta que:

“Essa mesma característica faz a pensão alimentar


impenhorável, por garantir a subsistência do alimentado.
Tratando-se de direito que se destina a prover o sustento de
pessoa que não dispõe, por seus próprios meios, de recursos para
se manter, inadmissível que credores privem o alimentado dos
recursos de que necessita para assegurar a própria
sobrevivência”.

Desta forma, constitui-se um direito pessoal, intransferível, onde sua titularidade não
pode ser passada a qualquer outro indivíduo por negócio ou por facto jurídico.

12
1.4.2 Divisibilidade

A divisibilidade está prevista no artigo 251.º do Código do Família, e aduz que “o


direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os
ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros”.
Portanto, entende-se por esse dispositivo legal que a obrigação alimentar é divisível entre
todos os parentes, isso quer dizer que a responsabilidade de prover os alimentos é dos
membros familiares mais próximos e os mais extensivos no seu grau.

Para completar esse entendimento, o dispositivo 249.º nº 2 do Código de Família, traz


que “na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos descendentes, guardada a ordem de
sucessão e, faltando estes, aos irmãos, assim germanos como unilaterais”. Então, observa-se a
ideia de sucessão na obrigação alimentar, devendo todos prestar auxílio dentro de suas
possibilidades.

Essa característica é visivelmente conjunta, pois no caso de vários parentes, todos (os
mais próximos) serão obrigados a prestar alimentos, mas deve-se lembrar de que será feito da
seguinte forma, cada devedor responderá por uma quota proporcional. Por exemplo, se um
ascendente possui dois filhos, àquele deverá exigir dos filhos em conjunto, não se limitando
apenas a um só indivíduo.

Portanto, cabe a todos os coobrigados arcar com a prestação alimentar, desde que
dentro das suas possibilidades e necessidades, por isso haverá uma ponderação entre os
recursos dos devedores para se chegar a uma proporção ideal.

O doutrinador Gonçalves (2017) adiciona ao entendimento quando diz que:

“A dívida alimentaria é distribuída não em partes


aritmeticamente iguais, mas em quotas proporcionais aos
haveres de cada um dos coobrigados, constituindo cada quota
uma dívida distinta. A exclusão, portanto, só se legitima ao nível
do exame de mérito se provada a incapacidade económica do
devedor”.

Em suma, este artigo trata-se do carácter complementar da obrigação alimentar, por


exemplo, dos avós para com seus netos. Essa situação se dá quando os pais encontram-se
13
ausentes ou impossibilitados economicamente de prover os alimentos. O dispositivo visa
resguardar e assegurar os princípios da divisibilidade e da solidariedade familiar, que estão
nitidamente presentes no nosso ordenamento jurídico.

1.4.3 Irrenunciabilidade

O direito de alimentos está directamente relacionado ao direito à vida. E o Estado é


quem tem o dever de nos garantir esse direito, fazendo-o por meio da ordem pública. A
irrenunciabilidade é um desses direitos, expondo que: “pode o credor não exercer, porém, lhe
-é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insusceptível de cessão,
compensação ou penhora”.

Nesse dispositivo, é, aparente que o Estado exerce sua função ainda que atinja somente
o direito, pois o exercício de fazê-lo é atributo do indivíduo. Na irrenunciabilidade o sujeito
de direito poderá decidir se pleiteia os alimentos ou não, porém não é direito renunciá-lo.
Sendo assim, a não postulação é entendida como a falta do exercício do direito, e não a
renúncia dele.

É válido ressaltar, quanto ao direito da irrenunciabilidade, que a doutrina tem inúmeras


formas de interpretá-lo, havendo assim divergências acerca do tema. Pois entende-se também
que a renúncia poderá ser feita quando se tratar de cônjuge ou companheiro, ficando a
irrenunciabilidade somente aos parentes.

Diante disso, foram surgindo algumas propostas para a alteração do preceito legal, mas
Tartuce (2016) se posiciona quanto a isso, dizendo que :

“As três propostas, na essência, pretendem a mesma coisa,


seguindo aquele entendimento doutrinário maioritário segundo o
qual os alimentos são renunciáveis no divórcio e na dissolução
da união estável. Em outras palavras, a irrenunciabilidade estaria
presente somente nos casos envolvendo o parentesco, em
qualquer das suas formas. Como não poderia ser diferente,
posiciono-me de forma contrária às inovações, uma vez que os

14
direitos inerentes à dignidade humana, mesmo de cunho
patrimonial, não podem ser renunciados”.

Contudo, é vedado pelo Estado o direito de renúncia, o que o indivíduo poderá fazer é
abster-se de utilizar o exercício do seu direito.

15
1.4.4 Impenhorabilidade

Outra característica da obrigação alimentar é a impenhorabilidade, que segundo a qual,


o respectivo crédito recebido pelo credor é insusceptível de penhora. Pois os alimentos são
devidos à subsistência, sendo impossível a penhora dos créditos que são destinados à
manutenção do alimentando. E com isso, Gagliano & Filho (2016) acrescentam quando dizem
que “para que um crédito seja considerável penhorável, é imprescindível que ele possa ser
objecto de uma relação passível de transferência, o que, definitivamente, não é o caso da
prestação de alimentos”. Portanto, a obrigação alimentar trata-se de um auxílio pessoal e
impenhorável, pois se destina a prover o sustento de indivíduos para que tenha uma vida
digna.

1.4.5 Imprescritibilidade

O direito de pleitear alimentos não prescreve, pois a qualquer tempo, seja no presente
ou futuro, o credor possa necessitar dele, isso quer dizer que não há prazo extintivo para os
alimentos. Logo, o alimentando poderá ingressar com acção de alimentos, desde que
preenchidos os pressupostos legais, para a obtenção do auxílio necessário a sua subsistência.

Tartuce (2016) elenca três razões para que a pretensão de alimentos não possa estar
sujeita a prescrição e a decadência. A primeira é que a acção de alimentos envolve o estado
que as pessoas se encontram; a segunda é que a acção de alimentos é acção de Direito de
Família; e a terceira é que a acção de alimentos tem natureza predominantemente declaratória.
É válido mencionar que quando o alimentando for absolutamente incapaz, sendo este menor
de 16 anos, a prescrição não existe, pois refere-se a hipótese de impedimento da prescrição.
Só poderá correr o prazo dos 2 anos quando este completar seu 16º aniversário. Entretanto, se
a pensão alimentícia for entre um dos progenitores e seus filhos, esta só começará a contar o
prazo prescricional a partir da capacidade absoluta, que são os 18 anos.

No entanto, (2011) agrega ao entendimento quando diz que:

“O direito a alimentos, contudo, é imprescritível. A qualquer


momento, na vida da pessoa, pode esta vir a necessitar de
alimentos. A necessidade do momento rege o instituto e faz
nascer o direito à acção (actio nata). Não se subordina, portanto,

16
a um prazo de propositura. No entanto, uma vez fixado
judicialmente o quantum, a partir de então inicia-se o lapso
prescricional. A prescrição atinge paulatinamente cada
prestação, à medida que cada uma delas vai atingindo o
quinquénio, ou biénio.

Logo, os alimentos podem ser pedidos a qualquer tempo desde que o credor necessite
destes para sua mantença.

1.4.6 Periodicidade

Esta última característica tem a ver com o pagamento da obrigação alimentar, que
deve ser feito de forma periódica, ou seja, o pagamento pode ser semanal, quinzenal, mensal
ou qualquer outro período, mas deve obedecer a uma habitualidade. Para assim atender à
necessidade de se prover a subsistência do alimentando.

Não se admite um valor unitário e muito menos um lapso temporal muito grande, por
exemplo, anual. Pois entende-se que o valor único poderia ocasionar penúria ao credor que
não estivesse em condições de administrar sua pensão.

A doutrinadora Dias (2016) bem esclarece essa característica, quando diz que:

“Quase todas as pessoas recebem salários ou rendimentos


mensalmente, daí a tendência de estabelecer este mesmo período
de tempo para o atendimento da obrigação alimentar. No
entanto, nada impede que seja outro lapso temporal: quinzenal,
semanal e até semestral. Essas estipulações dependem da
concordância das partes ou da comprovação, por parte do
devedor, da necessidade de que assim seja. De qualquer modo,
dispondo o encargo do prazo que tiver, em qualquer hipótese,
cabível o uso da demanda executória”.

Deste modo, o pagamento da pensão alimentícia deve ocorrer de forma periódica, para
que o alimentado tenha a garantia de uma vida digna e saudável.

17
1.5 - Sujeitos da Obrigação Alimentar

A partir do nascimento, todas as pessoas possuem o direito ao amparo alimentar


daqueles que chamamos de parentes, isto é, os membros da família que temos um vínculo
afectivo, para que possamos ter uma vida digna. Outro responsável pela entidade familiar é o
Estado, pois já que não pode arcar sozinho com toda essa responsabilidade, trouxe, então, o
dever de assegurar a todos os nossos direitos, e dividi essa obrigação com todos os
particulares.

18
O artigo 35.º da Constituição da República de Angola, aduz que “é dever da família,
da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização,
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”. Esse
dispositivo traz o entendimento do melhor interesse da criança e o do adolescente, que todos
temos os dever de prover uma vida digna a eles.

Desta forma, percebe-se que os integrantes da família têm uma co-responsabilidade


entre si. A doutrina identifica a existência de quatro grupos de parentes que estão sujeitos, em
ordem de preferência, a prestar a devida assistência a quem necessita de seus recursos, assim
temos, primeiramente, os pais e filhos, mutualmente, depois, na falta desses, os ascendentes,
conforme uma ordem de proximidade, logo após vem os descendentes, em uma ordem
sucessória, e por último os irmãos, sejam eles unilaterais ou bilaterais, sem qualquer distinção
ou preferência.

A obrigação legal de alimentos vem genericamente estatuída no artigo 249.º nºs 1 e 2.


Mas dentro do Título VIII do Código de Família, esta obrigação vem ainda mencionada no
artigo 260.º o qual estabelece o mesmo direito entre ex-cônjuges e ex-companheiros de união
de facto.

Aliás, nas relações entre cônjuges, esta previsto na lei o dever recíproco de assistência
material estipulado pelo artigo 43.º C.F., e de contribuição para os encargos da vida familiar,
com respaldo legal no artigo 46.º C.F.

Após a dissolução do casamento, pode persistir a obrigação de alimentos, quer no caso


de divórcio por mútuo acordo (artigo 85.º b) C.F.) quer no caso de divórcio litigioso conforme
a descrição do artigo 104.º nº 1 a) e artigo 111.º, ambos do Código de Família.

Nas obrigações paterno-filiais vem estabelecida, por um lado, a obrigação dos pais de
prestarem assistência (art. 131.º C.F.) e de se responsabilizarem pelos alimentos dos filhos a
luz do artigo 135.º do Código de Família.

Do lado do sujeito activo da obrigação alimentar devem distinguir-se duas situações,


de acordo com o que dispõe o artigo 248.º só poderão pedir alimentos:

19
a) Os menores

b) As pessoas que não possam pelo seu trabalho garantir o seu sustento e não
disponham de recursos.

Há portanto que distinguir entre a obrigação de alimentos a menor e a maior idade,


sendo que a primeira de carácter incondicional, ou seja, o menor tem sempre direitos a receber
alimentos, já em relação a maiores o direito a alimentos está sujeito ao condicionalismo
expresso na lei.

Aliás, da redacção do corpo do artigo 248.º que usa o termo só, se pode retirar a norma
orientadora sobre quais os maiores que tem direito a alimentos no nosso ordenamento
jurídico, estes são os que não tenham capacidade para o trabalho e simultaneamente não
disponham de recursos.

Este posicionamento legal correspondia a uma concepção de sociedade dirigida para o


socialismo em que cada cidadão tinha o direito-dever de estar inserido no mercado de trabalho
e de autonomia dos jovens a partir dos 18 anos de idade. Com o ensino superior gratuito e o
acesso garantido ao mercado de trabalho não se colocava a questão da prestação de alimentos
a filhos maiores na fase de concluir a sua formação profissional (Medina, 2013).

A transformação desta realidade leva a que se deva alterar a lei para uma melhor
protecção dos filhos maiores de 18 anos de idade, mas que necessitam de apoio dos pais para
a sua formação de ensino superior, no condicionalismo que for estatuído por lei.

A obrigação de alimentos a menores é mais extensa, e incumbe em primeiro lugar aos


pais e adoptantes e depois aos demais ascendentes em linha recta, sem qualquer limite.
Faltando aos ascendentes, a obrigação recai sobre os irmãos maiores, sejam eles germanos,
uterinos ou conseguimos, não distinguindo a lei nenhuma prioridade entre eles.

Os tios são ainda obrigados a prestar alimentos aos sobrinhos, no caso da falta dos
parentes atrás mencionados, pelo que a obrigação de alimentos entre parentes existe até ao 3º
grau da linha colateral.

20
A Convenção sobre os Direitos da Criança no seu art. 27.º nº. 2 atribui primacialmente
aos pais assegurar, dentro das suas possibilidades e disponibilidades económicas, as condições
de vida necessárias ao desenvolvimento da criança.

A obrigação de alimentos entre maiores cabe, em primeiro lugar, ao cônjuge ou ex-


cônjuge e, por extensão, aos ex-companheiros de união de facto que reúna os pressupostos
legais para o reconhecimento.

Seguem-se por esta ordem: os descendentes (e dentre eles os de grau mais próximo) os
adoptados, os ascendentes (dentre eles os de grau mais próximo) e os irmãos, também sem
distinção entre irmãos bilaterais ou unilaterais.

A obrigação de alimentos entre maiores vai só até ao 2. grau na linha colateral. A ordem
presente na lei é de natureza taxativa e cada obrigado na respectiva escala deve cumprir a
obrigação de alimentos em sucessivo e não em simultâneo.

Como a obrigação é de natureza reciproca, aquele que é hoje sujeito activo Credor da
obrigação) pode mais tarde passar a ser sujeito passivo (devedor da obrigação).

A obrigação de alimentos pode recair sobre mais de um sujeito passivo: Pai e mãe, avós
maternos e paternos, diversos irmãos maiores, etc..

A obrigação de alimentos dos pais, em favor de filhos menores, é obrigação de natureza


solidária (art. 135. do Código de Família), o que significa que o filho a pode pedir por inteiro
a um dos pais, tendo aquele que a prestar, direito de regresso em relação outro.

A lei não determina, dentro de cada classe de obrigados, qualquer prioridade a dar à linha
materna ou à linha paterna de parentesco, a este ou àquele parente quando forem mais do que
um dentro da mesma classe.

Se o credor propuser a acção contra um só parente de um determinado grau de


parentesco, este poderá ou chamar à acção os demais co-obrigados ou usar contra eles a
direito de regresso para pagamento da sua quota-parte se apurar que eles também estavam em
condições de contribuir para os alimentos.

21
O art.º 253.º do Código de Família refere-se à pluralidade de obrigados dizendo que,
quando a obrigação recair sobre mais de uma pessoa, a prestação de cada um será
proporcional à sua capacidade económica.

Dentro de cada classe de obrigados, a obrigação de alimentos não é solidária mas


proporcional à capacidade económica de cada um (art. 253. do Código de Família).

O n.º 3 do art. 249.º diz que a obrigação pode ser repartida por vários obrigados. Se
algum dos obrigados não puder satisfazer a prestação, a parte que lhe cabe acresce aos demais
(art. 253.º nº 2). A cada co-obrigado caberá uma cota proporcional à sua capacidade
económica o que desde logo não envolve uma responsabilidade solidária.

No entender da doutrina, a ordem e a hierarquia entre os obrigados só é aplicável quando


estes podem prestar integralmente os alimentos: se o obrigado mais próximo não pode prestá-
los, deve faze-lo o obrigado seguinte, se aquele só pode prestar parte, deve o seguinte prestar
o resto (Serra, 2013).

A ordem de prioridade deve ser seguida só quando se verificar a impossibilidade dos


primeiros obrigados poderão ser demandados os que se seguem. Como a prestação de
alimentos esta sujeito ao condicionalismo da capacidade económica de quem a presta, nem
sempre é possível determinar a priori qual dos co-obrigados esta em melhores condições
materiais de a satisfazer.

Estamos, porém, perante uma forma especial de concurso de devedores, a qual não se
rege stricto sensu pelas regras da obrigação conjunta. O alimentado pode requerer a prestação
de alimentos a um só dos obrigados, aquele que entende estar em situação de maior desafogo
económico para a poder prestar.

Neste caso, como vimos, cabe ao demandado fazer intervir na acção aos demais co-
obrigados para estes virem a assumir a obrigação da prestação da sua quota-parte, ou vir a
posterior exercer a acção de regresso contra eles. No caso de haver dentro duma classe de
obrigados um ou mais, que não estejam em condições de prestar alimentos, a obrigação recai
sobre os demais que integram essa mesma classe.

O alimentando é que, a nosso ver, não deve ver dificultado o direito à obtenção da pensão
de alimentos, sem duvidas de que, se o devedor escolhido não for o mais indicado sob o ponto

22
de vista da capacidade económica, este pode só vir a ser condenado a uma prestação de
acordo com a sua capacidade.

Já atrás vimos como se concretiza a obrigação de alimentos entre cônjuges, pois quando
existe coabitação essa obrigação efectua-se na participação comum nos encargos gerais da
vida familiar que visam prover às necessidades da vida material e intelectual dos membros da
família.

Essa obrigação prolonga-se havendo simples separação de facto e depois da dissolução do


casamento por divórcio-artigos 260.° e 262.°, nº 1 do Código de Família.

No caso de reconhecimento de união de facto judicial por ruptura, ele produz os mesmos
efeitos que a dissolução do casamento por divórcio (art. 126. Do Código de Família). Mas o
regime aplicável não é o mesmo que ocorre no caso de divórcio. Neste caso, o art. 111.° do
Código de Família manda atender à situação social e económica, à necessidade de educação
dos filhos e as causas do divórcio.

A disposição introduzida no artigo 264.º do código de família prevê que o pai de uma
criança já concebida, mesmo que não coabite com a respectiva mãe, esteja obrigado a prestar
alimentos durante o período de gravidez e até seis meses após o parto, pois em regra, durante
este período, a mulher não tem condições para exercer uma actividade profissional plena.

Neste caso, a obrigação de alimentos tem sua raiz no vínculo de paternidade em relação
ao nascituro e ao recém-nascido, sendo necessário que se verifiquem os demais requisitos
legais.

1.7 - A Obrigação de Prestação de Alimentos ao Menor no Ordenamento Jurídico


Angolano

1.7.1 - Função Social e Fonte da Obrigação de Alimentos

As relações jurídico- familiares caracterizam-se por serem de natureza reciproca,


solidaria e intercorrente. O grupo familiar tem entre si vínculos de diversa natureza, como o
parentesco (natural ou por adopção), o casamento, a afinidade, a união de facto ou a tutela. Os
membros do grupo familiar têm também a obrigação de prestar entre si, assistência moral e
material.

23
A obrigação de prestar alimentos é uma forma de prestação de assistência material entre
os membros da família.

No conceito de alimentos esta abrangido tudo quanto o alimentado necessita para a sua
sobrevivência e manutenção como ser social.

Há quem classifique os alimentos em naturais e civis, englobando os alimentos naturais


as necessidades naturais do alimentado (como alimentação e vestuário) e integrando os
alimentos civis outro tipo de necessidades (como habitação, instrução, e saúde, ctc.).

O artigo. 247.º. do Código de Família dá-nos o conceito de alimentos, dizendo no nº 1


que eles compreendem tudo aquilo que for necessário ao sustento, saúde, habitação e
vestuário. O n. 2 deste artigo acrescenta que nos alimentos devidos a menores se compreende
ainda a educação e instrução. A obrigação de alimentos emana do dever de cooperação e
solidariedade é instituído com a finalidade de proteger os interesses do próprio organismo
constituído pelo grupo familiar.

A obrigação de alimentos tem uma função social muito relevante, pois recaindo sobre os
membros da família, leva a que sejam estes a satisfazer as necessidades materiais dos seus
membros.

Se tal não acontecer, e se esse dever não for cumprido, a obrigação de alimentos vai
recair sobre (e vai onerar) a própria sociedade e o Estado onde esses membros carentes e
desprotegidos se encontram.

O Estado é, pois, directamente interessado em que seja devidamente cumprida a


obrigação de alimentos por aqueles que a isto estão obrigados por lei.

Em Angola, fruto da agudização da situação de guerra, deu-se em larga medida a ruptura


do próprio tecido social e grande número de famílias vivem desprovidas de bens, deslocadas
das suas áreas de residência e produção, ficando impossibilitadas de cumprir os seus deveres
familiares.

Viveu-se uma situação social de tal gravidade que não só as famílias como o próprio
Estado se viram impossibilitados de atender às necessidades alimentares de toda a população.
Neste período de crise aguda, foi necessário recorrer a comunidade internacional para
prestação de ajuda alimentar.
24
Nota-se uma deterioração do que se passava na sociedade tradicional angolana em que a
prestação de alimentos dentro da família extensa era multo preponderante.

Anteriormente, acontecia que a prestação de alimentos entre os membros da família


persistia para lá da obrigação legal e era feita de forma voluntária, por vezes entre parentes e
afins em grau afastado.

Nos países economicamente desenvolvidos a obrigação de alimentos é cada vez mais


restrita e poe-se em regra entre parentes em linha recta, cônjuge e pouco mais.

O desenvolvimento do sistema de segurança social leva a que seja o Estado através das
suas instituições de previdência e segurança social, ou as Empresas seguradoras que
concedem pensões ou subsídios por incapacidade ou reforma, permitem a subsistência das
pessoas maiores impossibilitadas de angariar recursos, sem terem de recorrer a prestações de
alimentos dentro do círculo familiar

1.7.2 - Natureza jurídica dos alimentos

A obrigação de alimentos existe ope legis, pois em regra é a lei que estabelece quem a ela
está obrigado.

Mas podem existir outras fontes desta obrigação, como o contrato e o testamento, o
instituto de falência, etc. Nestes casos a obrigação de alimentos estará regulada pelas normas
do Direito das Obrigações, do Direito Sucessório, etc.

No âmbito do nosso estudo, vamos circunscrever-nos ao direito a alimentos que nasce


dentro das relações jurídico- familiares e que resulta directamente da lei.

A obrigação de alimentos é uma obrigação de natureza estritamente pessoal, só as demais


obrigações e direitos que se inserem no Direito de Família. Embora ela se possa resolver
mediante uma prestação de valor pecuniário, ela não é de forma alguma uma obrigação de
natureza patrimonial. Trata-se, aqui, de um direito de natureza pessoal.

Esta natureza pessoal deriva do objecto e da causa da obrigação de alimentos, ela te como
objecto a protecção do direito e vida do próprio titular do direito de alimentos, pois visa
prover à sua subsistência e ao seu interesse imediato como pessoa humana. Destina-se,
exclusivamente, a satisfazer as necessidades e o sustento do alimentando. Como tal, o direito

25
a alimentos deve ser considerado como um direito fundamental da pessoa humana, integrado
no direito mais amplo que é o direito a vida.

1.8 – Do Poder Paternal nas Relações Jurídico-Alimentar

Podemos dizer que menor é todo aquele ser humano que ainda não completou dezoito
anos, mas que pode ser sujeito de quaisquer relações jurídicas, pois tem personalidade jurídica
ou capacidade de gozo de direitos, carecendo, contudo de capacidade de exercício de direitos
artigo 123.º do CC. Porém, esta incapacidade de exercício de direitos cessa com a maioridade
ou com a emancipação através do casamento entre os 16 e os 18 anos.

Ora, sofrendo o menor desta incapacidade de exercício de direitos, tal incapacidade é


suprida pelo poder paternal e subsidiariamente pela tutela (artigo 124.º do CC). O termo poder
paternal, pode ser substituído por outro conceito mais expressivo: responsabilidades parentais,
que expressa melhor a ideia de que os pais se encontram investidos de uma missão de
prossecução dos interesses do menor, em pé de igualdade com este, estando ambos os
progenitores implicados no bem-estar do filho, exercendo para o efeito os poderes legalmente
conferidos. A designação “poder paternal” é a que adoptamos neste trabalho.

O Poder Paternal surge juridicamente como efeito automático, indissolúvel e


indisponível da filiação ou adopção e como forma de suprimento da incapacidade para o
exercício de direitos e traduz-se num conjunto de faculdades legalmente atribuídas aos pais,
para as desempenharem no interesse do filho, com vista a assegurar o sustento, segurança,
saúde, educação do filho menor e administração dos bens deste.

O Poder Paternal não é um direito subjectivo dos pais sobre os filhos menores, mas é
um poder-dever, no qual os deveres dos pais devem estar antes dos seus poderes, por outro
lado, estes poderes não são intocáveis uma vez que estão sujeitos ao controlo judicial, sendo
antes poderes de protecção com vista à obtenção do interesse supremo do menor.

O Poder Paternal é irrenunciável, na medida em que os progenitores não podem


demitir-se das obrigações que a lei lhes impõe quanto aos seus filhos menores. É apodíctico o
indissociável dever jurídico do progenitor contribuir para o sustento do filho menor.

O fundamento sociológico e jurídico da obrigação de alimentos radica na natureza


vital e irrenunciável do interesse, juridicamente tutelado, que tem subjacente a

26
responsabilidade dos pais pela concepção e nascimento dos filhos. A obrigação de alimentos
aos filhos decorre da lei e da condição de pais, estando obrigados a desempenhar as suas
funções enquanto titulares do poder paternal com competência e eficiência.

Nesta conformidade, podemos referir que do poder paternal, que surge com o
nascimento da criança, mantêm-se até à maioridade ou emancipação do menor,
independentemente da manutenção ou extinção do vínculo matrimonial dos progenitores.

A titularidade das responsabilidades parentais pertence sempre aos progenitores vivos,


só assim não acontecendo na adopção. Por sua vez, os destinatários do poder paternal são os
filhos menores e não emancipados.

1.8.1 - O Exercício do Poder Paternal Durante o Casamento

Analisemos agora o exercício do poder paternal na constância do casamento; quando


há filiação estabelecida quanto a ambos os progenitores que vivam em condições análogas às
dos cônjuges ou quando há filiação estabelecida para a ambos os progenitores que não vivam
em condições análogas às dos cônjuges, mas exercem de comum acordo essas
responsabilidades.

Na constância do casamento, o exercício do poder paternal pertence a ambos os


cônjuges, o que significa que os pais exercem o poder paternal de comum acordo, como
resulta do nº 1 do artigo 3.º Código de Família e 35.º nº 3 da Constituição da República de
Angola.

O mesmo acontece na situação em que há filiação estabelecida em relação a ambos os


progenitores que vivam em condições análogas às dos cônjuges e ainda nos casos em que há
filiação estabelecida quanto a ambos os progenitores que não vivam em condições análogas às
dos cônjuges, mas que exercem de comum acordo ao do poder paternal.

Nestas situações, caso não haja acordo entre os progenitores em questões de particular
importância para a vida do menor, devem aqueles submeter ao tribunal à apreciação da
questão. Este tentará conciliá-los, se não for possível a conciliação, o tribunal decide no
interesse do menor e sempre que possível e aconselhável após a audição deste.

27
Como referimos, a regra em matéria de exercício do Poder Paternal é a do seu
exercício em comum por ambos os progenitores, conforme estabelece o artigo 139.º do
Código de Família, porém tal não obsta a que possam ser praticados actos que integrem o
exercício do poder paternal por apenas um dos progenitores, pois neste caso presume-se que o
faz de acordo com o outro progenitor, este pode elidir esta presunção demonstrando que não
deu o seu consentimento.

A regra de que os actos praticados por apenas um dos pais se presumem praticados
com o acordo do outro, compreende porém duas excepções: a primeira, no caso de a lei exigir
o consentimento expresso de ambos os progenitores, e a segunda, quando se trata de acto de
particular importância.

1.8.2 - O Exercício do Poder Paternal fora do Casamento

Vamos agora dissecar o exercício do poder paternal no caso de divórcio, separação


judicial de pessoas e bens, declaração de nulidade ou anulação do casamento, ou de filiação
estabelecida quanto a ambos os progenitores que não vivam em condições análogas às dos
cônjuges, separação de facto ou dissolução da união de facto. Em todos estes casos, a filiação
tem de estar estabelecida quanto a ambos os pais e estes têm de estar vivos.

Perante uma situação de dissociação familiar e independentemente do tipo de união


anterior entre os progenitores, o exercício conjunto do poder paternal quanto às questões de
particular importância da vida do filho, constitui o regime regra conforme rege o 148.º C.F.

Da regulação do poder paternal e da consequente obrigação de alimentos a menores,


só podemos falar em bom rigor quando, esteja estabelecida a filiação biológica ou a adopção e
tenha ocorrido o divórcio, separação judicial de pessoas e bens, declaração de nulidade ou
anulação de casamento, separação de facto, dissolução da união de facto dos progenitores ou
ainda quando há filiação estabelecida quanto a ambos progenitores que não vivam em
condições análogas às dos cônjuges e não exerçam em comum ao poder paternal, sendo que
nestes casos o poder paternal podem ser regulado por duas formas.

A primeira consiste no acordo de ambos os progenitores sujeito a homologação pelo


tribunal. Para que o acordo dos progenitores, quanto ao exercício do poder paternal, seja

28
homologado pelo tribunal é necessário que o mesmo defenda e acautele os interesses do
menor.

Nesta concomitância o mesmo deve prever não só o quantum dos alimentos devidos
ao menor e a forma de os prestar. Um acordo não previr qualquer referência à prestação
alimentar a prestar pelo progenitor não guardião não deve ser homologado, mas também fixar
o modo de exercício do poder paternal, fixar a residência do menor ou guarda alternada ou
conjunta, o regime de visitas, o regime das férias escolares e épocas festivas, a administração
do seu património se for o caso.

Concebido é que para que o divórcio seja decretado por mútuo consentimento, é
necessário que os cônjuges acordem sobre determinadas matérias, sendo uma delas o poder
paternal quando haja filhos menores, esta matéria vem regulada no artigo 109.º do Código de
Família.

Deste modo, nos processos de divórcio por mútuo consentimento instaurados na


Conservatória do Registo Civil, quando haja filhos menores e não se encontrem reguladas do
poder paternal, o Conservador do Registo Civil remete o processo ao Ministério Público
competente em razão da matéria da área da Conservatória, para que este, em trinta dias, se
pronuncie sobre o acordo. O MP, enquanto entidade fiscalizadora, a quem cabe a defesa dos
interesses dos menores, analisa o acordo e emite parecer favorável, ou desfavorável, e devolve
o processo à Conservatória do Registo Civil.

Se o parecer for favorável, o Conservador do Registo Civil marca a conferência e


decreta o divórcio após verificação dos demais requisitos, se o parecer do MP for
desfavorável, aquele notifica os requerentes para que estes alterem o acordo em conformidade
com a posição do MP ou apresentem novo acordo, o qual será novamente remetido ao MP
para este se pronunciar no prazo de 30 dias.

Se os cônjuges alterarem o acordo em conformidade com a posição do Ministério


Público ou caso este homologue o novo acordo apresentado, o Conservador marca data para a
conferência.

Caso os progenitores não alterarem o acordo, por discordarem da posição do


Ministério Público, o Conservador remete o processo ao tribunal de comarca a que pertence a
Conservatória do Registo Civil.
29
30
Frustradas as tentativas de regulação do exercício do poder paternal por acordo,
solução desejável sob todos os pontos de vista, ter-se-á de proceder à regulação do poder
paternal através do recurso à acção judicial é esta a segunda forma de regular o exercício do
poder paternal.

A decisão a proferir no âmbito desta acção ou o acordo dos progenitores alcançado na


mesma, vai versar também sobre os alimentos e a forma de os prestar, o exercício das do
poder paternal, o direito de visitas, as férias escolares e épocas festivas e tudo o que no caso
concreto possa defender e acautelar o interesse supremo do menor.

A decisão de exercício de regulação do poder paternal deve impreterivelmente fixar a


residência do menor, atribuir o exercício do poder paternal sobre as questões de particular
importância a ambos os pais, pois só em situações muito excepcionais e contrárias ao
interesse do menor haverá fundamento para não o fazer, fixar o regime de visitas, férias e
épocas festivas e o montante dos alimentos devidos ao menor pelo progenitor não residente e
a forma de os prestar.

A decisão do tribunal quanto ao exercício do poder paternal fixará a residência do


menor e os direitos de visita, após ponderação do interesse do menor, o eventual acordo dos
progenitores e a disponibilidade manifestada por cada um deles para promover relações
habituais do filho com o progenitor não residente.

Deste modo, a sentença que fixa o exercício do poder paternal deve determinar a
residência do menor com um dos progenitores, terceira pessoa ou estabelecimento de
educação e assistência, o regime de convívio (visitas) com o progenitor não residente, a
menos que, excepcionalmente, o interesse daquele o desaconselhe, e a determinação da
obrigação de alimentos a cargo do progenitor não residente (artigos 149.º C.F.).

O direito a visitas do progenitor sem a guarda é uma concretização da norma do artigo


35.º, n.º 6 da CRA, que dispõe que os filhos não podem ser separados dos pais, a não ser que
estes não cumpram os seus deveres fundamentais para com aqueles e sempre mediante
decisão judicial.

31
O regime regra da regulação do exercício do poder paternal, consistia em este ficar
apenas confiado ao progenitor com quem o menor ficava a residir, sendo possível o exercício
em comum por ambos os progenitores quanto às questões relativas à vida do filho em
condições idênticas às que vigoravam na constância do matrimónio, mas somente nos casos
em que houvesse acordo entre os pais nesse sentido.

O exercício em comum por ambos os progenitores refere-se apenas aos actos de


particular importância para vida do menor, pois a responsabilidade pelos actos da vida
quotidiana cabe exclusivamente ao progenitor com quem o filho se encontra. Ao consagrar
deste modo o instituto da regulação do poder paternal, o legislador dá como assente que o
exercício conjunto destas, mantém os pais comprometidos com o crescimento dos filhos, e por
outro lado, estando em causa um interesse público, cabe ao Estado promover, através da
previsão legal, tal imposição, em vez de deixar ao livre acordo dos progenitores determinar ou
não o exercício conjunto do poder paternal.

Qualquer alteração à regulação do poder paternal estabelecida e homologada, terá de


ser novamente avaliada pelo tribunal, pelo que, enquanto o menor não atingir a maioridade ou
for emancipado o processo de regulação das responsabilidades parentais manter-se-á em
aberto, sendo neste que tem ser requerida qualquer alteração.

Na regulação do poder paternal é o interesse do menor que deve presidir a qualquer


acordo ou decisão, colocando-se o interesse do menor acima dos interesses dos pais e sem
olhar ao que os pais ou terceiros possam sofrer com isso.

A regulação do poder paternal acautelará o interesse do menor, se permitir o convívio


de grande proximidade com ambos os progenitores e ao mesmo tempo permitir um
desenvolvimento integral e um crescimento saudável e harmonioso daquele. O incumprimento
do exercício do poder paternal pode ser crime, nos termos dos artigos 249.º e 250.º do C.P.

1.8.3 - Problemática de no Caso de Residência Alternada do Menor Dever ou não


ser Fixada Pensão De Alimentos.

Residência alternada dá-se quando o menor fica a residir de forma alternada, rotativa e
tendencialmente simétrica com cada um dos progenitores. O exercício conjunto das

32
responsabilidades parentais com alternância de residência exige por parte dos pais cooperação
constante, sendo todas as decisões relativas à educação da criança tomadas conjuntamente.

A residência alternada visa possibilitar a concretização do interesse do menor em


manter uma relação de grande proximidade com ambos os pais, com vista à salvaguarda dos
afectos.

A residência alternada do menor pode ser estipulada por acordo dos pais ou
estabelecida por imposição do tribunal. Quer do acordo, quer da decisão de mérito deve
constar o lapso temporal que o menor vive com cada progenitor.

Para que seja possível a residência alternada, devem os progenitores ter presente os
interesses do menor, acautelando que tal situação não acarreta um esforço desproporcional por
parte deste ou um prejuízo em termos de manutenção das suas rotinas.

Há quem entenda, nomeadamente psicólogos e médicos em psiquiatria infantil, que a


residência alternada pode acarretar para a criança, essencialmente se esta estiver em idade
pré-escolar, inconvenientes graves pela instabilidade que cria nas suas condições de vida e
pelas separações repetidas relativamente a cada um dos pais, para além de comprometer o
equilíbrio psicológico da criança e continuidade e unidade da sua educação.

Deste modo, a residência alternada só será recomendável se se destinar a proporcionar


ao menor o convívio com ambos os progenitores, alternadamente, por períodos temporais
mínimos, que no nosso entender não devem ser inferiores a uma semana, pois só assim será
possível acautelar a manutenção das rotinas do menor. Se forem estipulados períodos
superiores deverá ser acautelada a convivência do menor com o progenitor com quem não
está a residir naquele período.

Na nossa opinião este regime da residência alternada só será aconselhável nas


seguintes situações:

- Boas relações de diálogo e de cooperação entre os pais;

- Relação afectiva dos filhos sólida com ambos os progenitores;

- Proximidade geográfica entre as residências dos progenitores;

- Respeito e confiança mútua entre os progenitores;


33
- Consensualidade dos progenitores quanto à educação, à saúde, à religião do filho;

- Um nível de vida dos pais semelhante em termos económicos e habitacionais e

- Identidade do modo de pensar, estilos de vida e princípios.

Pois só reunidas estas condições o menor poderá eventualmente deixar de sentir ou


pelo menos minorar a instabilidade psicológica, quanto a nós, sempre latente neste regime.

Pelas razões atrás aduzidas, entendemos que fixar o regime de residência alternada
através de sentença de mérito, será desacautelador do interesse supremo do menor, pois se os
pais não foram capazes de se entender quanto à forma de regularem as responsabilidades
parentais dos seus filhos, muito menos estarão aptos para se entenderem nas questões do dia-
a-dia, não revelando, por isso, possuir as capacidades necessárias para que haja residência
alternada.

No que se refere ao direito a alimentos, no caso da residência alternada, várias


soluções são possíveis, sendo que a mais usual é, não ser fixada qualquer pensão alimentar e
cada um dos progenitores prover o sustento do menor no período em que este se encontra
consigo.

Salvo melhor opinião, não nos parece ser de seguir esta opção, isto porque, o
quotidiano nos diz que muitas vezes um dos progenitores não “abre mão” da residência
alternada, não porque queira efectivamente ter o menor consigo, mas para evitar lhe pagar
uma prestação alimentar.

Por outro lado, solução de não fixação de qualquer prestação alimentar pode dar
origem a conflitos entre os progenitores, o que sempre se pretende evitar e ainda mais quando
estamos no âmbito da residência alternada, pois se nada for estipulado, coloca-se o problema
de saber quem é responsável pelo pagamento das despesas extraordinárias, como por exemplo
as despesas escolares, as despesas de saúde, despesas extracurriculares, etc…

A acrescer a estas situações há ainda aqueles casos em que o menor não fica em
períodos rigorosamente iguais com ambos os progenitores.

Por outro lado, o princípio constitucional da igualdade jurídica dos progenitores, criou
a obrigação de ambos contribuírem para o sustento dos filhos, proporcionalmente, aos seus

34
rendimentos e proventos, sendo que, esse contributo dos pais para os alimentos dos filhos não
tem necessariamente de ser igual, antes depende dos meios e possibilidades de cada um.

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Do acabado de referir, entendemos que também no caso de residência alternada deverá
ser estipulada uma prestação alimentar mensal a favor do menor, que., embora atenda a esta
especificidade, deve ser fixada de acordo com as necessidades do menor e as possibilidades
de cada um dos progenitores, ficando consignado que um dos progenitores assumirá todas as
despesas ordinárias, à excepção da alimentação, habitação e eventualmente vestuário, e que o
outro se obriga a efectuar o pagamento de parte das despesas na proporção que for
consignada. Quanto às despesas extraordinárias, como por exemplo: intervenções cirúrgicas,
aparelhos dentários, óculos, etc.., serão todas suportadas pelos dois progenitores na proporção
que for acordada ou estabelecida pelo tribunal.

1.9 - Medida e Natureza Variável dos Alimentos

Relativamente à medida dos alimentos, dispõe o artigo 250.º, C.F. que “Os alimentos
serão proporcionais aos meios daquele que houver de presta-los e à necessidade daquele que
houver de recebê-los”.

Quando os progenitores não cumprem a sua obrigação voluntariamente, cabe aos


tribunais fixar o quantum de alimentos a pagar. Sendo que, este quantitativo há-de ter em
conta todos os critérios legais, decorrentes dos artigos 251.º e seguintes do C.F, como sejam
as necessidades do menor, as possibilidades deste de proceder à sua subsistência e as
capacidades dos pais ambos os pais.

A prestação de alimentos constitui, simultaneamente, uma obrigação do progenitor e


um direito subjectivo do filho menor, com vista à sua manutenção e desenvolvimento, pelo
que a determinação do seu quantitativo deve ser de molde a assegurar o indispensável à
subsistência do menor, sendo este um imperativo ético e social inalienável.

Na determinação do quantitativo da prestação de alimentos, há que ter em conta não só


o custo médio normal e geral da subsistência do menor, mas também as circunstâncias
especiais deste, designadamente a sua idade, o sexo, o estado de saúde, o nível de vida antes
da dissociação familiar.

O critério dos “meios do obrigado” para fixação da prestação de alimentos, previsto no


artigo 250.º do código de família, consiste apenas num dos aspectos a considerar a par das

36
necessidades do alimentando, não sendo necessário tal conhecimento para a fixação dos
alimentos, cuja orientação deve obedecer ao superior interesse do menor.

A fixação de pensão de alimentos a menores pode implicar sacrifícios por parte do


progenitor a quem aquele não foi confiado, o que, não nos choca, pois se este concebeu o
filho está obrigado legalmente ao seu sustento e manutenção.

Os menores, por motivo da sua falta de maturidade física e intelectual, tem


necessidade de uma protecção e cuidados especiais, essencialmente enquanto crianças, pois
são seres frágeis e totalmente dependentes dos pais, incumbindo a estes a protecção, sustento
e manutenção dos seus filhos, pelo que, no caso de ruptura familiar e a fim de assegurar parte
do conteúdo das responsabilidades parentais deve ser fixada uma pensão alimentar a prestar
ao menor pelo progenitor com quem este não ficou a residir habitualmente.

Os alimentos são devidos desde a propositura da acção, pois apesar da obrigação legal
já existir desde a concepção do filho, só com esta acção é o progenitor chamado à sua
obrigação de alimentos, destinando-se a acção a quantificar e especificar a sua contribuição.

A pensão de alimentos é entregue ao progenitor guardião, não por ser este quem tem
direito a recebe-la, mas apenas por ele ser o legal representante do menor, pois a pensão de
alimentos é um direito do menor e não do progenitor com quem aquele vive.

O princípio constitucional da igualdade jurídica dos progenitores, criou a obrigação de


ambos contribuírem para o sustento dos filhos, proporcionalmente, aos seus rendimentos e
proventos. Porém, as contribuições dos progenitores para os alimentos dos filhos não têm
necessariamente de ser iguais, antes dependem dos meios e possibilidades de cada um.

Deste modo, vivendo de forma economicamente desafogada, o progenitor a quem o


menor se encontra confiado, nada obsta, antes se impõe, que este participe em maior medida
do que o outro progenitor não residente, para os referidos alimentos, enquanto, quando o
progenitor a quem o menor não foi confiado tenha uma vida economicamente desafogada
deve contribuir com um montante superior ao do progenitor guardião, por um lado, porque
ficam a cargo deste todos os cuidados e assistência constante que os menores exigem e
reclamam, essencialmente se forem de tenra idade, e por outro lado, porque as suas
possibilidades económicas são maiores.

37
38
Dispõe o artigo 130.º do Código de Família que: “Os pais ficam desobrigados ao
sustento dos filhos e de assumir as despesas relativas à sua segurança, saúde e educação na
medida em que os filhos estejam em condições de suportar, pelo produto do seu trabalho ou
outros rendimentos, aqueles encargos”.

Na nossa opinião, estas normas devem ser interpretadas com alguma cautela e
parcimónia, pois tais disposições tomadas à letra, fariam recair sobre o património e a
capacidade patrimonial do menor, sem qualquer distinção entre rendimentos de capital e
rendimentos de trabalho, o peso prioritário do seu sustento, relegando a obrigação dos pais
para uma posição puramente subsidiária, ficando assim os pais totalmente desobrigados dos
encargos de sustentar e manter o filho, logo que este pelos seus rendimentos de capital ou
trabalho os pudesse satisfazer, independentemente de saber se os pais têm ou não condições
económicas de os suportar.

As citadas normas não poderão ser interpretadas no sentido de permitir que os


rendimentos dos bens dos filhos possam servir para suportar os encargos da vida familiar de
todos os membros, ou que o produto do trabalho dos filhos possa ser imediatamente utilizado
para assegurar o sustento, segurança e educação de todos os membros que vivam em
economia comum, pois tal interpretação seria no mínimo imoral e contrária ao espírito da lei,
que se mostrou bastante cautelosa.

Acresce que, as referidas normas devem ser interpretadas à luz da nossa Constituição,
mormente o disposto no seu artigo 35.º, n.º 5, sob pena da tutela da solidariedade familiar
esvaziar de sentido o princípio de que é aos pais a quem incumbe, primacialmente, a
obrigação de educar, sustentar e manter os seus filhos.

Assim, somos da opinião que, a obrigação de alimentos de pais para com os filhos
menores e em certos casos maiores, nas situações supra referidas, podem subsistir ainda que
estes (filhos) disponham de património pessoal, pois o sustento, a segurança, a saúde e
educação dos filhos é encargo dos pais, independentemente da situação económica daqueles.

Nesta conformidade, refere-se que quando a prestação de alimentos for devida ao filho
menor, deverão ser tidas em conta as suas necessidades de instrução e educação e de
manutenção do nível de vida idêntico ao do pai ou da mãe que lhe preste os alimentos.

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O artigo 251.º do Código de Família contém uma disposição inovadora, pois, quando
os alimentos foram devidos a filhos menores, o seu montante deve ser fixado entre o mínimo
de ¼ e o mínimo de ½do valor auferido pelo progenitor em causa. No cômputo desse
montante serão englobados todos os valores auferidos, nomeadamente os vencimentos,
rendimentos e outras formas de ganhos.

Neste sentido, a regra estabelecida é que quanto maior forem os recursos do obrigado,
maior será obviamente a pensão alimentar, procurando-se obstar a que o tribunal sigam a
tendência que tem vindo a predominar, de fixar pensões diminutas.

A solução legal, no caso de o obrigado não ter disponibilidade para satisfazer uma
prestação pecuniária, é a de este se oferecer para receber em sua casa o alimentado, como vem
previsto no artigo 252.º nº 2 do Código de Família.

Esta via de solução tem partir da iniciativa do obrigado, que deve requerer tal
procedimento junto do tribunal, mas tem que ser aceite voluntariamente pelo alimentado, ou
pelo seu representante legal, pois não se pode impor uma convivência familiar indesejável.

Como em regra a prestação de alimentos é requerida pela mãe relativamente ao pai,


esta forma de cumprimento da obrigação levaria a que o filho deixasse de estar entregue à
mãe para passar a conviver com o pai e uma madrasta, oque em regra não é bem aceite.

O artigo 257.º do Código de Família prevê a natureza variável da medida dos


alimentos, dizendo no seu nº 1 que ela pode ser alterada de acordo com as circunstâncias de
quem presta os alimentos. Trata-se de um princípio de ordem pública, pelo que não pode ser
objecto de renúncia.

O nº 2 do artigo 257.º acrescenta que, por essa razão, poderão ser chamadas outras
pessoas a prestar os alimentos. Pode ocorrer que depois de terem sido atribuídos os alimentos,
a pessoa que esteja obrigada a presta-los se venha a encontrar na impossibilidade de continuar
a fazê-lo, podendo transferir-se a obrigação para outro parente de grau mais afastado.

40
1.10 - Execução da Obrigação de Alimentos

A prestação de alimentos visa a prover à subsistência de uma pessoa, esta finalidade


confere-lhe especial importância de natureza social. Não é só o interesse do beneficiário que
está em jogo, mas o da sociedade, e, por conseguinte, o do próprio Estado. Está instituído o
princípio de que a falta de cumprimento da obrigação de alimentos se presume, e, salvo prova
em contrário, recai sobre o próprio obrigado.

Por esta razão, é que nos diversos sistemas jurídicos estejam previstos medidas
especificas para obter coercivamente o cumprimento da obrigação, optando por vias expeditas
de execução e prevendo sanções de natureza penal para os relapsos (Diaz-Santos, 1973).

A Lei contra Violência Domestica (LVD), Lei nº 25/11 de 14 de Junho integra o


abandono familiar como infracção criminal, definindo como qualquer conduta que
desrespeita, de forma grave e reiterada, a prestação de assistência nos termos da lei, conforme
a descrição do artigo 3.º nº 2 f) da supra-referida lei. No artigo 25.º b) da mesma, define como
crime público entre outros a falta reiterada de prestação de alimentos a criança, a qual é
punida com a pena de prisão de 2 anos, ou outra mais grave que lhe couber nos termos da
legislação.

No geral podemos dizer que a execução da obrigação de alimentos pode efectuar-se


por duas vias:

a) Por via civil, em acção executiva especial

b) Por via criminal, funcionando o pagamento das prestações como condição de ser
dispensada ou extinta a pena como acontece na legislação portuguesa e está previsto na
projectada lei penal angolana.

Como já referimos anteriormente, a obrigação de prestar alimentos é uma obrigação-


dever de interesse de ordem púbica, pelo que o seu incumprimento está sujeito a sanções
especiais, diferente das demais obrigações em geral.

O artigo 255.º C.F. prevê que pode ser feito por via judicial civil, no caso de execução
de alimentos.

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O alcance desta disposição é muito lato. Permite que por iniciativa do próprio juiz, que
pode para tal mandar o escrivão do tribunal, se investigue a existência de bens do devedor,
pedindo informações a entidades públicas e privadas para saber da situação económica e em
consequência, proceder a penhora dos bens que foram encontrados.

Neste caso o interesse público de satisfazer as necessidades do alimentado prevalece


sobre o dever de sigilo profissional a que as entidades bancarias estão adstritas da situação
económica, devendo estas prestar as informações que lhes forem solicitas para efeito de
execução coerciva da divida (Pires, 2017).

No caso de se tratar de trabalhador por conta de outrem, o nº 2 do artigo 255.º permite


que se efectue o pagamento directo entre o centro de trabalho, seja ele entidade patronal
pública ou privada e o beneficiário da pensão alimentar.

A execução da obrigação de alimentos pode seguir em simultâneo a via civil e a via


criminal, para que seja alcançado o cumprimento efectivo da obrigação, sempre tendo em
conta o interesse do benificiário e o da sociedade em geral em que ela seja devidamente
satisfeita.

1.11 - Extinção do Direito e da Obrigação de alimentos

A extinção do direito e da obrigação de alimentos pode resultar de duas ordens de


facto:

a) A verificação de facto

b) A decisão judicial

Os casos de extinção da obrigação de alimentos vêm expressamente previstos no


artigo 258.º, regulando o artigo 263.º, ambos do código de família.

O artigo 258.º nº 1 a) determina que a obrigação alimentar cessa pela morte do


obrigado ou do alimentado. Já no seu nº2 prevê que o alimentado exerça o seu direito em
relação a outros, igual ou sucessivamente obrigados.

42
Esta corresponde a consequência legal a característica pessoal do direito a alimentos,
que é intransmissível postmortem. Essa intransmissibilidade verifica-se quer em relação ao
credor dos alimentos quer em relação ao devedor dos alimentos visto que os seus direitos não
se transmitem para os seus herdeiros.

A extinção da obrigação por via de decisão judicial é aplicável a todos os demais


casos. O artigo 258.º do Código de Família menciona como casos de extinção da obrigação os
seguintes:

a) Quando o alimentado maior de idade viole gravemente os seus deveres para com o
obrigado.

b) Quando aquele que presta os alimentos não possa continuar a presta-los ou aquele
que os recebe deixe de ter necessidades dele.

A violação grave do dever pode ser apreciada pelos tribunais, sopesando as


circunstâncias de cada caso concreto e avaliando se os factos são em si graves, se revestem de
natureza dolosa ou meramente culposa.

Por fim, cessa a obrigação de alimentos, quando o obrigado deixa de poder continuar a
presta-los ou ainda quando quem os recebe deixe de ter necessidade de o receber. Num caso e
noutro, estaremos perante pressupostos legais da obrigação de alimentos que, se deixarem de
existir, vão fazer extinguir a própria obrigação.

Na verdade, a obrigação de alimentos que é de natureza variável pode ser reduzida ou


até extinta, consoante se alterem as circunstâncias económicas do obrigado e do beneficiário.

As disposições do artigo 258.º do Código de Família, são de natureza geral e são


aplicáveis a todos os casos da obrigação de alimentos.

43
CAPÍTULO II - FUNDAMENTAÇÃO METODOLÓGICA

2.1- Apresentação Institucional

Para elaboração do presente trabalho, tivemos o privilégio de proceder a entrevista


directamente a três (3) instituições distintas, nomeadamente Tribunal da Comarca de
Moçâmedes com 47 funcionários, PGR-Namibe com 47 funcionários, SIC-Namibe 198
funcionários.

2.2 Metodologia

A escolha da metodologia a ser aplicada no trabalho de fim de curso, tem sido de


acordo a relação intrínseca ao problema a ser estudado, porque é necessário ter uma análise
minuciosa da informação disponibilizada de uma pesquisa, a fim de ter uma visão ampla de
uma perspectiva consequencialista, tendo em conta o meio envolvente.

De acordo Gil (2007) apud GERHARDT & SILVEIRA (2009,) define a pesquisa
como:

Procedimento racional e sistemático que têm como objectivo


proporcionar respostas aos problemas que são propostos. A
pesquisa desenvolve-se por um processo constituído de várias
fases, desde a formulação do problema até a apresentação e
discussão dos resultados.

Nesta mesma senda, diz-se que “só inicia uma pesquisa se existir uma pergunta, uma
dúvida para qual se quer buscar a respostas” (Gerhardt & Silveira, 2009); por isso, é de
realçar que pesquisar é buscar ou procurar respostas para alguma coisa. Neste caso temos de
saber como reduzir o elevado índice de incumprimento na prestação de alimentos em
Moçâmedes?

A pesquisa utilizada neste trabalho de fim de curso é quali-quantitativa, porque esta


corresponde a uma mistura entre as características da pesquisa qualitativa e quantitativa, nesse
caso, o estudo pode ser dividido em duas partes, a primeira constituindo na recolha de dados e
análises e estatísticas deste, e a segunda numa análise subjectiva de determina problema.
44
45
2.3 População

De acordo Sebastián (2014), a população de interesse é o conjunto de elementos que


se deseja estudar em relação a algumas características de interesse, uma unidade populacional
é cada um dos indivíduos que forma a população de interesse.

Desta feita, o nosso trabalho foi elaborado com um universo populacional de 289,
resultante do somatória das instituições que serviram como campo de aplicação para
entrevista.

2.4 Amostra

Para reduzir as chances de se cometer erros durante o processo da narração do trabalho


de fim de curso, o pesquisador deve estar atento ao estabelecimento de sua amostra. Sendo
assim, nota-se que “a essência de uma boa amostra consiste em estabelecer meios para inferir,
o mais precisamente possível, as características da população através das características da
amostra” (Mattar, 1997).

Segundo Sebastián (2014), uma amostra é um conjunto de indivíduos seleccionados da


população, os dados a serem utilizados na pesquisa provem da observação e medição das
características de interesse, aplicados a todos os indivíduos da amostra seleccionada. Para tal,
usamos a amostra aleatória simples, composta por funcionários das instituições como, SIC,
PGR e do Tribunal de comarca de Moçâmedes, bem como advogados com mais de 3 anos de
efectividade, estes por sua vez, perfazem um total de 30% amostragem a que configuram o
presente trabalho conforme a tabela abaixo.

Tabela 1- Descrição da População e da Amostra

Instituições Funcionário Amostra


s
Tribunal da Comarca de 47 5
Moçâmedes
PGR- Namibe 40 5
SIC-Namibe 198 15
Escritórios de Advogados 5 5
Total

46
População Amostra
290 87 (30%)

2.5 Métodos e Técnicas

2.5.1 Métodos

Para Silva (2006), o método de investigação é o procedimento consciente e objectivo


com vista a conhecer uma determinada realidade, o que pressupõe a existência objectiva da
realidade, a possibilidade de conhecê-lo e o conhecimento provado na prática. É assim que,
para atingirmos os objectivos desejados, utilizaram-se os seguintes métodos:

Dedutivo: este método permitiu fazer análise profunda sobre a necessidade da


Existência da obrigação de prestação de alimentos, de modo a acautelamento de outros
direitos fundamentas;

Dialéctica: este método permitiu obter informações por diálogo os entrevistados;

Estatístico: com este método foi possível fazer análise estatística que possibilitou
analisar as ocorrências e frequência, em função dos dados obtidos em virtude da entrevista
apresentados em formas de gráfico.

Lógico: permitiu fazer uma análise profunda dos aspectos que norteiam A Obrigação
de Prestação de Alimentos ao Menor no Ordenamento Jurídico Angolano;

Empírico: permitiu, em função do questionário com perguntas abertas e fechadas,


obter respostas sobre as questões levantadas durante o inquérito procedido;

A análise e a síntese: foram utilizados na classificação dos dados, o que permitiu


classificar as informações úteis para o trabalho.

2.5.2 Técnicas

As técnicas como, instrumentos, ajudam na obtenção de dados e auxiliam os métodos.


Nesta perspectiva utilizou-se no presente trabalho, técnicas que possibilitaram obter a
informação directa, através dos questionário e, bem como análise de documentos de
conteúdos relacionados a obrigação da prestação de alimentos ao menor no ordenamento
jurídico angolano.
47
As técnicas documentais permitiram analisar documentos inerentes a problemática,
entre elas: dados fornecidos a partir das instituições em que se procedeu o inquérito através de
mapas ilustrativos, despachos de expediente bem como organigramas organizacionais.

Tal como a pesquisa bibliográfica que permitiu obter dados a partir de livros, arquivos,
dissertações e outros documentos que referenciam conteúdos a cerca do trabalho de pesquisa.

Entrevista: foi aplicada aos entrevistados seleccionados aleatoriamente de acordo a


amostra, com o propósito de obter informações a respeito do tema de pesquisa.

Questionário: é um conjunto de perguntas sobre os factos e aspectos de interesse na


pesquisa e cuja finalidade é obter de forma sistemática e ordenada, informação relevante
sobre a população submetida ao estudo, exigindo um cuidado especial na sua elaboração.
(Sebastián, 2014).

Levamos a cabo o presente questionário na pesquisa pelo facto de estabelecermos


parâmetros quantitativos e qualitativos em termos da amplitude do problema.

Usamos um questionário com perguntas abertas e fechadas, pois permite ao inquirido


responder com maior liberdade e nos facilitará na análise dos dados e preferiu-se o inquérito
face a face ou pesquisa pessoal que segundo Sebastián (2014), consiste na “conversa guiada
por um questionário escrito, estabelecida cara a cara entre o entrevistador e o entrevistado”.

Segundo Quivy & Campenhoudt (1995) apud Apolinário ao analisar as técnicas de


entrevistas refere que “informações e elementos de reflexão muito ricos ”, que serviram para o
desenvolvimento do estudo e para o enriquecimento da pesquisa, a par das informações
retiradas da análise documental que ajudaram na compreensão dos conceitos e no
enquadramento teórico. Contudo, pelo facto da entrevista, apresentar uma verdadeira troca de
experiência entre o sujeito pesquisador e os sujeitos pesquisados, o mesmo exercício permitiu
o câmbio de conhecimentos, onde ambas as partes exprimiram as suas percepções e as
interpretações sobre o tema.

Na colecta de dados, o pesquisador e os seus respectivos instrumentos ou técnicas


utilizadas de forma neutra, não influíram, nem modificaram a opinião, as atitudes, nem as
práticas dos entrevistados. O pesquisador respeitou a forma de ser e de pensar dos
pesquisados e mostrou-se sempre corte a neutralidade ante às respostas.

48
49
2.6 Técnica de Recolha e de Tratamento de Dados

Está técnica visou para o alcance do objectivo que, centra-se em compreender os


aspectos que norteiam A Obrigação de Prestação de Alimentos ao Menor. Dirigimos um
questionário de entrevista à instituição, fizemos uma análise quali-quantitativa, atendendo que
as questões contidas no questionário foram abertas e fechadas, no qual foram analisadas por
estatística descritiva adequada.

Para o tratamento dos dados, usamos o Programa Microsoft officeno seu módulo excel,
que nos permitiu manipular, transformar gráficos que resumam a informação obtida. No final,
faremos a comparação entre a teoria e a prática, para ver se o que está a ser feita na prática
condiz com os aspectos teóricos.

50
CAPÍTULO III: ANÁLISE, E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

3.1 - Apresentação dos Resultados da Entrevista

S.I.C.-Namibe

E 1- Para redução do incumprimento na prestação de alimentos no município de


Moçâmedes, é necessário a criação de programas e palestras sob o tema, isto através dos
órgãos de comunicação social, sensibilização, quer em locais urbanos e sub-urbanos e em
pequenas comunidade, por forma a ilustrar aos progenitores que desempando os seus filhos
estariam a contribuir para uma sociedade pobre e com pessoas com condutas desviantes,
propensas ao cometimento de crimes de natureza diversas.

E 2- Quanto as medidas adoptadas em caso de participação de um crime de violência


domestica (falta de prestação alimentar), o tribunal houve as partes envolvidas,
posteriormente estipula um valor a ser descontado mensal no progenitor, mas caso nota-se um
incumprimento das ordens por parte do progenitor ou progenitora, os descontos são feitos na
forma automática, através do banco sob a ordem do tribunal, evitando as constantes falhas na
prestação mensal.

E 3- De salientar, que as participações sobre a falta de prestação de alimentos é feita


pela parte lesada ofendida directamente no tribunal, na secção ou sala da família, e só nos
casos de incumprimento é que o tribunal baixa para o SIC como crime de desobediência para
instrução processual.

E 4- Relativamente ao índice de incumprimento de prestação de alimentos submetidos


ao SIC, de Janeiro de 2019 à Junho de 2020, o SIC registou 26 casos de incumprimento de
prestação de alimentos.

E 5- No período em alusão, dos 26 casos registados, foram remetidos a juízo 17


processos crimes por desobediência restando 9 em instrução.

E 6- Muitos processos não são remetidos em juízo quando a resolução é feita por
ambas as partes de forma pacífica e aceitáveis as condições impostas pelo tribunal.

51
E 7- Dos processos referenciados, onze (11) tiveram um desfecho positivo e seis (6)
aguardam o seu fim pelo facto de muitos progenitores não terem condições para tal, ainda por
outros não terem ou ficarem sem emprego por força do estão de calamidade que o país vive.

E 8 – O departamento de crimes contra pessoas é o órgão interno responsável para


instrução de processos desta natureza, bem como os que provêm do tribunal por
desobediência da sentença proferida pelo juiz.

E 9 – Relativamente aos casos que tiveram um desfecho negativo, o tribunal pode


atacar o património do progenitor quando se verifica que esta não cumpre com a decisão
proferida pelo tribunal.

E 10- Os casos desta natureza são instruídos pelo Tribunal na sala de família, só em
caso de incumprimento por parte de um dos progenitores é que o processo é remetido ao SIC,
propriamente no Departamento de crimes contra pessoas, para instrução por crime de
desobediência.

Juristas

E 11- A obrigação de prestação de alimentos constitui a um dever obrigatório aos


cônjuges visto que o menor ainda não possuidor de capacidade jurídica e por isso não pode
praticar certos actos para suprir suas necessidades

E 12- A justiça deve-se aplicar em todos os campos da vida social num Estado
Democrático e de Direito, para os menores nada mais senão o cumprimento da obrigação
alimentar a que os progenitores estão adstritos de cumprir

E 13- O incumprimento da prestação de alimentos contribuem para o elevado índice


de delinquência juvenil e a gravidez na adolescência.

E 14- Relativamente a realidade sociocultural do município de Moçâmedes, podemos


referir que o aumento de incumprimento da prestação alimentar esta vinculada
maioritariamente pela bigamia e poligamia

E 15- O incumprimento da obrigação da prestação de alimentos é verificado


frequentemente por se observar uma fraca descrição legal das consequências a que os agentes
deste ilícito estão adstritos.

52
Advogados

E 16- A classe dos advogados pertencentes a Ordem (OAA), pouco ou nada faz a
favor da regulação desta problemática, visto que esta entidade tem a faculdade concedida pelo
preceito normativo constitucional de participar na elaboração de normas que visam a regular a
sociedade.

E 17- Para reduzir as constantes das violações do direito a alimentos ao menor, urge a
necessidade de criação de mecanismos legais mais severos que visam a proteger o menor, de
modo a que o representante do Ministério Público para os menores possa se apoiar deles sem
passar por diversas burocracias.

E 18- Os casos desta natureza são instruídos pelo Tribunal na sala de família, só em
caso de incumprimento por parte de um dos progenitores é que o processo é remetido ao SIC,
propriamente no Departamento de crimes contra pessoas, para instrução por crime de
desobediência.

Magistrados judiciais

E 19- Na determinação ou aplicabilidade da sentença aos casos submetidos a


apreciação dos tribunais, os juízes estão subordinados aos preceitos normativos, mas tal facto
não obsta que estes decidam consoante a sua consciência, todavia os casos de prestação de
alimentos aos menores são bastantes complexos e por isso não basta se apoiar do preceito
normativo.

E 20- A lei descreve as consequências legais, mas as nossas decisões podem decretar
as consequências sociais menos abonatórias para os menores bem como a degradação da
relação familiar.

53
3.2 - Análise Dos Resultados

A abordagem circulada feita a Obrigação de Prestação de Alimentos ao Menor no


Ordenamento Jurídico Angolano, permite auferir que este é um tema de grande amplitude,
que sempre gerou e continua a gerar controvérsias na doutrina e na jurisprudência.

Quando falamos sobre o instituto dos alimentos, devemos entender sobre sua origem,
seu conceito, os pressupostos que darão ensejo ao recebimento dos alimentos, as espécies, as
características, e os sujeitos que participarão como garantidores dessa obrigação alimentar.
Logo, neste capítulo, será demonstrada a importância dos alimentos dentro do Direito de
Família.

Quando falamos em alimentos, podemos citar os artigos 247.º a 249.º C.F, que traz a
importância dos parentes, os cônjuges ou companheiros na solidariedade familiar, ou seja, o
reconhecimento da responsabilidade jurídica aos membros de uma mesma família. Assim diz
o dispositivo: “podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os
alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social,
inclusive para atender às necessidades de sua educação”. E acrescentando, tratam-se da
proporcionalidade dos alimentos para com a necessidade do obrigado, e quando se tratar de
culpa será apenas os indispensáveis à subsistência.

3.2.1 - Processos por Incumprimento da Prestação de Alimentos

De acordo com o relatório do SIC-Namibe, o índice de incumprimento de prestação de


alimentos submetidos ao SIC, de Janeiro de 2019 à Junho de 2020, o SIC registou 26 casos de
incumprimento de prestação de alimentos.

No período em alusão, dos 26 casos registados, foram remetidos a juízo 17 processos


crimes por desobediência restando 9 em instrução.

54
3.2.2- Análise da amostragem

Qual foi o género predominante na investigação do trabalho?

Para melhor caracterizar esta amostra, descreve-se que entre os entrevistados


predomina o sexo masculino com prevalência de 68%, correspondente a 20,4 da amostra,
enquanto o sexo feminino tem uma representatividade de 32% num universo de 9
entrevistados conforme ilustrado no gráfico 1 abaixo.

Gráfico 1: Designação da Amostra Quanto ao Género

Qual foi a faixa


32%
etária Masculino predominante
68% Femenino
durante a pesquisa do
trabalho?

A média de
idade situa-se nos 39 anos, num registo de idades compreendidas entre os 27 e os 53 (25%)
anos e, melhor referindo, predominantemente situada no escalão etário de 45 a 50 anos (75%),
embora ainda de referir, haja uma recusa na revelação da idade. Dados estes ilustrados no
gráfico 2 a seguir.

Gráfico 2: Amostra quanto variável escalão etário

45 a 50
25% 27 a 53

75
%

55
Quais são as medidas Adoptadas em caso de incumprimento da prestação de
alimento?

Quanto as medidas adoptadas em caso de participação de um crime de violência


domestica (falta de prestação alimentar), o tribunal houve as partes envolvidas,
posteriormente estipula um valor a ser descontado mensal no progenitor, mas caso nota-se um
incumprimento das ordens por parte do progenitor ou progenitora, os descontos são feitos na
forma automática, através do banco sob a ordem do tribunal, evitando as constantes falhas na
prestação mensal.

Das medidas acima referenciadas, 75% a que corresponde 22.5 dos enterevistados
afirmam ser mais eficaz os descontos automaticos procedidos via banco, e apenas 25% (8) dos
entrevistado afirmam ser mais eficaz a determinação dos valores estipulados pelo tribunal

Nesta conformidade, observa-se que a medida mais eficaz corresponde aos descontos
mensais automaticos segundo a nossa amostra segundo o grafico abaixo.

Gráfico 3: Medidas Adoptadas em caso de Incumprimento da Prestação de Alimento

25%
Valor estipulado
pelo tribunal
Descontos Mensais
atomaticos
75%

Qual é o índice de incumprimento de prestação de alimentos submetidos ao SIC?

As participações sobre a falta de prestação de alimentos é feita pela parte lesada


ofendida directamente no tribunal, na secção ou sala da família, e só nos casos de
incumprimento é que o tribunal baixa para o SIC como crime de desobediência para instrução
processual.

Relativamente ao índice de incumprimento de prestação de alimentos submetidos ao


SIC, de Janeiro de 2019 à Junho de 2020, o SIC registou 26 casos de incumprimento de

56
prestação de alimentos. No período em alusão, dos 26 casos registados, foram remetidos a
juízo 17 processos crimes por desobediência restando 9 em instrução a ilustração do gráfico 4.

Gráfico 4: Índice do Incumprimento de prestação de Alimentos

10 2019 2020
16

De acordo com os dados acima referenciados, nota-se que o número ainda não tão
alarmante, porem pode-se dizer que seja normal que durante dois anos se registe apenas o
total de 26 casos de incumprimento da prestação de alimentos.

Todavia, questionados os nossos entrevistados sobre o relatório concedido pelo SIC-


Namibe 75% da amostra discorda com este numero e apenas 25% concorda com o mesmo

Nesta ordem de ideia, torna-se difícil determinar com exactidão o índice concreto
relativo ao incumprimento da prestação alimentar quando se verifica que partes dos agentes
do órgão que por sinal forneceu tal dado discordam com os números referenciados

Quais são as consequências que advêm do incumprimento da prestação alimentar?

Quanto as consequências que advêm da falta do cumprimento da obrigação alimentar


dos menores, perguntado os nosso entrevistados estes descordara uns aos outros, sendo que
55% (19) apontam como principal a delinquência juvenil, para mau desenvolvimento
académico apontam 30% da amostra e apenas 5% afirmam ser gravidez precoce conforme a
ilustração do gráfico abaixo.

57
Gráfico 5: Consequências do Incumprimento da Prestação de Alimentos aos Menores

15
%
Delinquência Juvenil
Fraco Desenvolvimento
Academico
55% Gravidez Precosse
30%

Quais são as causas do incumprimento da prestação alimentar?

No tange as causa que provocam a falta de cumprimento da obrigação alimentar, 66%


dos nosso entrevistados apontam o divórcio como a maior causa e apenas 34% destes referem
que seja a bigamia ou poligamia.

Gráfico 6: Causas do Incumprimento da Prestação Alimentar

34 Divórcio
% Bigamia ou Poligamia
66%

58
CONCLUSÃO

Depois de elaborada a nossa pesquisa, tivemos a amabilidade de concluir o seguinte:

Alimentos são prestações para satisfação das necessidades vitais de quem não pode
provê-las por si. A expressão designa medidas diversas. Ora significa o que é estritamente
necessário à vida de uma pessoa, compreendendo, tão-somente, a alimentação, a cura, o
vestuário e a habitação, ora abrange outras necessidades, compreendidas as intelectuais e
morais, variando conforme a posição social da pessoa necessitada. Na primeira dimensão os
alimentos limitam-se ao necessariumvitae; na segunda, compreendem o necessarium
personae. Os primeiros chamam-se alimentos naturais, os outros, civis ou côngruos.

Os alimentos são direitos e deveres de todos nós, desde que preenchido os requisitos
param tal. De início, tínhamos a obrigação alimentar sendo condicionada por um binómio:
necessidade vs. Possibilidade. Mas a doutrina reconhece até quatro pressupostos existentes
para a fixação dos alimentos, nomeadamente:

a) A existência de um vínculo de parentesco sejam eles os ascendentes, descendentes,


companheiros, cônjuges, irmãos e outros;

b) Necessidade do reclamante que não tenha condições suficientes para viver de modo
compatível com sua condição social;

c) Possibilidade da pessoa obrigada, devendo prestar a devida assistência alimentar


sem que prejudique seu próprio sustento;

d) Proporcionalidade na obrigação alimentar, para que não haja prejuízo em ambas às


partes.

Logo, observa-se que o pleito dos alimentos está directamente relacionado ao princípio
da dignidade da pessoa humana. A intenção da prestação alimentar não é enriquecer ou
exaurir recursos das partes, mas de oferecer uma vida digna até que o reclamante possa se
estabilizar e não mais necessitar dos alimentos ofertados.

59
No que concerne a execução da obrigação de alimentos, vimos que esta pode seguir
em simultânea a via civil e a via criminal, para que seja alcançado o cumprimento efectivo da
obrigação, sempre tendo em conta o interesse do benificiário e o da sociedade em geral em
que ela seja devidamente satisfeita.

Desta forma, percebe-se que os integrantes da família têm uma co-responsabilidade


entre si. A doutrina identifica a existência de quatro grupos de parentes que estão sujeitos, em
ordem de preferência, a prestar a devida assistência a quem necessita de seus recursos, assim
temos, primeiramente, os pais e filhos, mutualmente, depois, na falta desses, os ascendentes,
conforme uma ordem de proximidade, logo após vem os descendentes, em uma ordem
sucessória, e por último os irmãos, sejam eles unilaterais ou bilaterais, sem qualquer distinção
ou preferência.

Nesta conformidade, podemos referir que para redução gradual do incumprimento da


prestação de alimentos no município de Moçâmedes, deve se ter em conto os preceitos
normativos que regulam a matéria em comento.

Segundo a entrevista realizada, podemos observar que parte significativa dos nossos
entrevistados concordam ser mais eficaz efeituar os descontos mensais automáticos a favor do
menor, com este procedimento o tribunal não teria a necessidade de proceder diversas
audiências sob o mesmo facto.

Uma outra solução apresentada pelo presente trabalho consiste na desburocratização


dos processos desta natureza, tornando-os mais simples possíveis, sem esquecer da
aplicabilidade sancionatória a coerciva do Direito aos agentes que com frequência venham a
desonerar-se das suas obrigações.

Em suma, podemos referir que para que se verifique uma redução gradual no que
tange ao incumprimento da prestação de alimentos, deve se ter em conta todos os critérios
mencionados no desenvolvimento da presente obra, a quando do exercício da paternidade em
comum, em separados bem como pela residência alternada do menor.

60
SUGESTÕES

Para que se verifique a bom rigor, de um modo prático a aplicabilidade do presente


tema no seio da sociedade, há toda necessidade de se acautelar e/ou cumprir com
determinadas sugestões, as quais tivemos a amabilidade de descreve-las abaixo:

a) O agravamento de medidas penais- a sociedade deve ser impelida de um modo


directo a prática do incumprimento da prestação alimentar, para tal, verifica-se a necessidade
de se chamar os fins da pena para uma justa regulação deste tão precioso instituto jurídico que
durante um tempo tem fragilizado a camada social.

b) Realização de Palestras e mesas redondas institucionais- Destaca-se aqui a


abordagem constante da prestação de alimentos para que os detentores ou titulares do dever
legal de alimentar conheçam as consequências sócias e legais pela inibição desta obrigação.
Por outro lado, os menores poderão conhecer com maior profundidade os seus direitos e quais
os procedimentos a tomar com a verificação do incumprimento da prestação de alimentos por
parte dos progenitores.

c) Sensibilização pela comunicação social- É necessário a criação de programas e


debates sobre o tema, isto através dos órgãos de comunicação social, com vista a sensibilizar a
sociedade, quer em locais urbanos e sub-urbanos e em pequenas comunidades, de forma a
ilustrar aos progenitores que desamparando os seus filhos, estariam a contribuir para uma
sociedade pobre e com pessoas com condutas desviantes, propensas ao cometimento de
crimes de natureza diversa.

61
Referência Bibliográfica

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Mattar, F. N. (1997). Pesquisa de marketing: Metodologia, planejamento (4º ed.). São Paulo,
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Sebastián, S. F. (2014). Amostragem Estatística. Madrid.

Varela, A. J. (2006). Direito de Família. Lisboa: Lex.

Venosa, A. C. (2011). A Família Num Estado Social Democrático e de Direito. (6ª ed.) Porto:
Ius.

62
63
APÊNDICE

64
DEPARTAMENTO JURÍDICO

A entrevista semiestruturada consiste em saber sobre a obrigação da prestação de alimentos ao


menor no ordenamento jurídico angolano, de modo a contribuir no melhoramento do processo
de elaboração de trabalho de fim de curso, para obtenção do grau de licenciatura em Direito
no Instituto Superior Gregório Semedo- Namibe. Salientando que para o mesmo não necessita
a identificação dos respondentes e os seus dados não serão divulgados, tendo apenas o intuito
de obter para essa pesquisa científica.

Questões Fundamentais

1- Como reduzir o elevado índice de incumprimento na prestação de alimentos em


Moçâmedes?

2- Quais tens sido as medidas adoptadas em caso de participação de um crime de violência


domestica, propriamente a violência domestica?

3- Com que frequência têm recebido processos ou participações com vista a resolver situações
de incumprimento de prestação de alimentos?

4- Qual é o índice do incumprimento da prestação de alimentos submetidos no SIC-


Moçâmedes nos anos 2019 a 2020?

5- Dos processos recebidos quantos foram submetidos em juízo?

6- Os processos não submetidos em juízo quais foram as causas?

7- Dos processos submetidos em juízo quantos foram decididos com positivismo?

8- Os que foram decidido negativamente oque se pode fazer?

9- Em caso de incapacidade por parte do progenitor quais as medidas tomadas?

10- Que departamento tem instruído processos desta natureza?

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