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INSTITUTO SUPERIOR POLITÉCNICO DA CAÁLA

=CAÁLA=

DEPARTAMENTODE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA E


PUBLICAÇÕES

IMPLICAÇÕES JURÍDICAS DA MATERIALIZAÇÃO DO DIREITO À SAÚDE NA


PROVÍNCIA DE LUANDA

António Pedro Chissoma Domingos


Huambo, 2023

DEPARTAMENTO DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA E


PUBLICAÇÕES

IMPLICAÇÕES JURÍDICAS DA MATERIALIZAÇÃO DO DIREITO À SAÚDE NA


PROVÍNCIA DE LUANDA

RUFINO SACHOMBE CHISSUA

Monografia apresentada ao Departamento para


os Assuntos de Investigação Científica da
Faculdade de Direito do Instuto Politecnico da
Caála-Huambo, para obtenção do grau de
licenciatura em Direito, na especialidade
Jurídico-Políticas, sob orientação do Prof.Lic.
Cossengo

Huambo, 2023
DEDICATÓRIA

Tributo àqueles que me outorgaram o maior dos títulos meu pais de feliz memoria , , os
quais tenho, como excelentes modelos para a realização dos meus sonhos.

A todos os povos oprimidos pelo poder dos mais fortes.

A todas as pessoas sem mais liberdade nem dignidade.

A todas as pessoas, às quais de humano só resta a vida.

À minha querida esposa, pela amizade, companheirismo e pela força que me deu de
não desistir do meu sonho, ficando privada a minha presença.
AGRADECIMENTO

“Nenhuma batalha é invencível quando Deus é o guia”

A ilação deste trabalho não seria possível sem um conjunto de pessoas que me apoiaram
ao longo dos anos da minha formação.

Por isso, agradeço primeiramente ao todo poderoso Deus, pelo dom da vida, pela saúde
e sabedoria concedidas e, por me ter guiado durante esta jornada em direcção à tão
esperada licenciatura;

Uma sentida palavra de apreço aos meus pais irmãos que incansavelmente foram
solidários, essencialmente por compreenderem o sentido do desafio, e por serem fiéis na
devolução de seu afago ao filho solipso. E por terem suportado a minha ausência
variadíssimas vezes no seio familiar durante os 5 anos da minha formação;

À minha querida dedicada e linda esposa, Melícia Domingos, pelo companheirismo,


amizade e cumplicidade;

O meu cordial agradecimento dirige-se ao corpo docente do Instituto Superior


Poilitécnico da Caála no Huambo que, desde o primeiro momento incentivaram-me a
dar continuidade à formação;

Gostaria de agradecer penhoradamente ao meu orientador, Prof.Lic. Cossengo, pela


disponibilidade e atenção, quer seja, na paciência e confiança, bem como, na purificação
do meu trabalho de fim do curso para que tivesse menos imperfeições possíveis.

A gradeço os meus colegas da universidade, pessoas brilhantes com quem tive o


privilégio de conviver durante os 5 anos na academia;

Aos Dr.Afredo Soque, MSc Augosto Barnabé MSc . Pelagio Tatanganha, ao Dr


Manuel Caholo ao Engº Tito Chissua , ao Dr. José Chissua., meus cunhados, sobrinhos
e afilhados pelo suporte sempre oportuno e pelas palavras de apreço;

Por último, estendo os meus profundos agradecimentos ao meu grande amigo e colega
Florentino Júlio, por tudo, principalmente pelos debates que tivemos no mundo jurídico,
os mesmos tornaram-se grandes lições nas nossas vidas.
SIGLAS E ABREVIATURAS

ACNUDH – Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos

Art. – artigo

CADHP – Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos

CEDH – Convenção Europeia dos Direitos do Homem

CECOME – Centro de Compra de Medicamentos Essenciais

CPS – Cuidados Primários de Saúde

CPORMEDA – Conselho Provincial da Ordem dos Médicos em Angola

CRA – Constituição da República de Angola

CRGB – Constituição da República da Guiné-Bissau

CRM – Constituição da República de Moçambique

DAAQ – Disponibilidade, Acessibilidade, Aceitabilidade e Qualidade

DCNT – Doenças Crónicas não Transmissíveis

DUDH – Declaração Universal dos Direitos Humanos

INASA – Instituto Nacional de Saúde Pública

INS – Sistema Nacional de Saúde

LOS – Lei Orgânica da Saúde

MINSA – Ministério da Saúde

MINSAP – Ministério da Saúde Pública

MISAU – Ministério da Saúde

MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola

Nº - Número

OMA – Ordem dos Médicos de Angola


OMS – Organização Mundial da Saúde

ONU – Organização das Nações Unidas

ORMEDA – Ordem dos Médicos de Angola

Ob., cit – Obra citada

P. – Págna

PAE – Programa de Ajustamento Estrutural

PIDESC – Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais, e Culturais

PNHAS – Programa Nacional de Humanização da Assistência na Saúde

Pp. – Págnas

RHS – Recursos Humanos em Saúde

SNS – Sistema Nacional da Saúde

STP – São Tomé e Príncipe

SUS – Sistema Único de Saúde

UNIOGBIS – Gabinete Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da paz na


Guiné-Bissau
RESUMO

O presente trabalho buscou demonstrar as implicações jurídicas que estão na base da


problemática da materialização do direito à saúde e fazer uma breve abordagem das
unidades hospitalares na Província de Luanda. O enigma deste trabalho consistiu em
saber os impedimentos que norteiam a materialização do direito à saúde na Província de
Luanda; com estes impedimentos procuramos, como objectivo regedor, propor algumas
medidas que nos pareceram de maior relevo para extingui-los. Para uma melhor
abordagem do tema servir-nos-emos do método dedutivo, por entendermos ser o que
mais facilidade oferece para este tipo de trabalho; usaremos a pesquisa bibliográfica e
descritiva para obtenção das matérias aqui abordadas; no tocante a coleta de dados
servir-nos-emos do modelo misto, isto é, quanti-qualitativo, que nos nutriram de dados
sobre o estado actual do problema do nosso trabalho; como nem toda a nossa população
teve a mesma probabilidade de integrar a amostra usou-se o critério de amostragem não
probabilístico; obtivemos, finalmente, como resultado do nosso problema: a
desigualdade económica, a morosidade no atendimento aos pacientes e os obstáculos
socioeconómicos como implicações jurídicas da materialização do direito à saúde na
província de Luanda.

Palavras-chave: Direito à saúde, Assistência médica e Dignidade da pessoa


humana.
ABSTRACT

The present work looked for to demonstrate the juridical implications that are in the
base of the problem of the materialization of the right to the health and to do an
abbreviation approach of the units hospitalares in the Province of Luanda. The enigma
of this work consisted of knowing the impediments that orientate the materialization of
the right to the health in the Province of Luanda; with these impediments we sought, as
objectivo regedor, to propose some measured that seemed us of larger relief to
extinguish them. For a better approach of the theme we will serve ourselves of the
deductive method, for we understand to be that more easiness offers for this work type;
we will use the bibliographical and descriptive research here for obtaining of the matters
approached; concerning collection of data we will serve ourselves of the mixed model,
that is, quanti-qualitative, that nurtured us of data on the state actual of the problem of
our work; as nor all our population had the same probability of integrating the sample
the sampling criterion was used no probabilístico; we obtained, finally, as a result of our
problem: the inequality económica, the slowness in the service to the patients and the
obstacles socioeconómicos as juridical implications of the materialization of the right to
the health in the province of Luanda.

Word-key: Right to the health, medical aid and Dignity of human person.
INTRODUÇÃO

O direito à saúde é um primado constitucional merecedor de muita atenção, pois é


encarado como o requisito fundamental dos direitos humanos de um sistema jurídico
igualitário que pretenda garantir o bem precioso vida.

Ora a reivindicação da assistência gratuita perante à saúde para a defesa do bem


precioso vida, revela aspectos do exercício de um direito fundamental do cidadão.

Direito à saúde é parte de um conjunto de direitos chamados de direitos sociais, que têm
como objectivo a igualdade entre as pessoas. Este direito é reconhecido na Constituição
angolana, o qual dispõe ser responsável o Estado, o garantidor de promover a saúde a
todos, sendo este um direito fundamental do cidadão, de aplicação imediata.

As implicações recorrentes a direito à saúde observados na Província de Luanda


revelam-se cada vez mais preocupante, dentre eles analisaremos a desigualdade
económica, a morosidade dos profissionais no atendimento dos pacientes e as
implicações socioeconómicos por ser através delas que pairam no seio social o sentido
de que à saúde só existe para aqueles que possuem esparsos recursos financeiros.
Também analisaremos a necessidade do acesso à saúde e o princípio da dignidade da
pessoa humana.

Não significa que todos os profissionais de saúde na Província de Luanda se pactuam


com tais práticas que é a minoria. Ocorre que é notório a prática da maioria desta classe
acima mencionada.

Com este trabalho pretendemos também recomendar o nosso Estado enquanto pessoa do
bem, a reforçar cada vez mais na formação do homem novo e no incentivo a cultura
jurídica, pois queremos que o cidadão esteja imbuído de conhecimentos que lhe
permitam uma convivência social sadia, consciente dos seus direitos e deveres e
respeitador dos direitos e deveres dos outros.

9
RAZÃO DA ESCOLHA DO TEMA

O fundamento da escolha deste tema prende-se com o facto de existir na nossa


sociedade um índice elevado de corrupção, suborno e nepotismo com destaque a
Província de Luanda, os pacientes e os familiares se nada garantirem correm o risco de
virem seu parente a perder a vida no Banco de Urgência por falta de assistência médica.
Sendo uma cidade de referência, vulgo a Capital onde encontramos pessoas dotadas de
conhecimentos sobre o direito, vedaram os seus olhos como a deusa “Adque”,
normalizando a violação dos direitos fundamentais como se nada acontecesse, mas os
mais vulneráveis clamam pelos direitos que lhes é violado a olho nu. Todavia surgiu em
nós a curiosidade de saber nesta pesquisa o que está na base da problemática do direito à
saúde e a relevância da assistência medica, bem como propor medidas que eliminem as
dificuldades existentes no referido direito.

Problema Científico

Tendo em conta o título acima aludido, o problema que se coloca é o seguinte: quais
implicações apresentam o direito à saúde na Província de Luanda?

Objectivo Geral

Propor medidas que minimizem as implicações existentes no direito à Saúde na


Província de Luanda.

Objectivos Específicos

 Fundamentar os marcos teóricos da Problemática do Direito à Saúde;


 Diagnosticar as Implicações Jurídicas da materialização do Direito à Saúde na
Província de Luanda;
 Analisar os resultados obtidos da pesquisa sobre as Implicações Jurídicas do
Direito à Saúde na Província de Luanda;

Perguntas Científicas

1. Como fundamentar os marcos teóricos da Problemática do Direito à Saúde?


2. Como diagnosticar as Implicações Jurídicas do Direito à Saúde na Província de
Luanda?

10
3. Como analisar os resultados obtidos da pesquisa sobre as Implicações Jurídicas
do Direito à Saúde na Província de Luanda?

Tarefas de Investigação

1. A fundamentação teórica sobre o direito à saúde, será feita com base a consulta
bibliográfica.
2. A descrição do Direito à Saúde na Província de Luanda, será feitas com base aos
instrumentos de pesquisa e praxe jurídica.
3. A análise do estado actual das Implicações Jurídicas do Direito á Saúde na
Província de Luanda, será processado em função das técnicas aplicadas.

Objecto de Estudo

O objecto de estudo do nosso trabalho de investigação científica para o fim do curso diz
respeito ao Direito à Saúde.

Campo de Acção

Partindo da ideia de que o campo de acção é mais restrito que o objecto de estudo, a
nossa pesquisa põe a lume as Implicações Jurídicas da materialização do Direito à
Saúde na Província de Luanda.

Ideia a Defender

A ideia que se pretende defender no presente trabalho para o fim do curso relativamente
as Implicações do Direito à Saúde na Província de Luanda: trata-se de uma violação dos
direitos fundamentais do homem no que tange à saúde, vimos por essa desencorajar tais
práticas quer por parte dos profissionais da saúde tanto aos familiares dos pacientes que
têm a tendência de subornar o funcionário. Nosso propósito é contribuir para que muitos
percebam qual é a importância deste direito social e de quem é a responsabilidade de
fiscalizar para que o direito à vida se concretize a todos os cidadãos, fornecendo
medicamentos, providenciando a prestação de determinados tratamentos de forma a se
concretizar o mandamento Constitucional.

Metodologia Utilizada

A metodologia é a ciência que estuda o modo de conduzir cientificamente a


investigação, é a vida de solução sistemática dos problemas de investigação; é, portanto,

11
o estudo filosófico da actividade científica que um conhecimento geral do processo de
investigação científica constitui, da sua estrutura, dos seus elementos e dos seus
métodos. É uma reconfiguração sucessiva de procedimento de investigação que se
empregam numa ciência.1

Modelo de Investigação

A nossa investigação vai cingir-se sobre um modelo misto (quantitativo e qualitativo),


pois no desenrolar do trabalho lançaremos mão a entrevista 2 e do questionário3 para
coleta de dados e faremos a interpretação dos mesmos.

Tipo de Investigação

No presente trabalho usaremos o tipo de investigação bibliográfica e descritivo, que,


para Auriluce Pereira Castilho, Nara Rúbia Martins Borges e Vânia Tanús “é uma
pesquisa baseada na consulta de todas as fontes secundárias relativas ao tema que foi
escolhido para realização do trabalho. Abrange todas as bibliografias encontradas em
domínio do público como: livros, revistas, monografias, teses, artigos de internet, etc”.4

Técnicas a utilizar

Os instrumentos metodológicos ou técnicos de recolha de dados que iremos utilizar


neste trabalho serão a entrevista5 e o inquérito por questionário6 porque nos vão permitir
interrogar um grupo de pessoas selecionadas acerca do acesso à saúde, bem como obter
as informações desejadas.

População e a mostra

1
Sant Taciana Carlos RAMOS e Ernan Santiesteban NARANJO, Metodologia da Investigação científica,
Escola Editora, Lobito, 2014, p.13
2
A entrevista é o encontro de duas pessoas com o objectivo de obter informações a respeito de
determinado assunto, mediante uma conversa natural ou programada de forma profissional (estruturada
ou semiestruturada que intercala perguntas do roteiro e outras que surgem com o desenvolver da
entrevista).
3
Questionário – é uma técnica de coleta de dados através de uma serie ordenada de perguntas, que
devem ser respondidas por escrito, sem a presença do entrevistador. As perguntas são encaminhadas aos
informantes em formulários próprios contendo como anexo uma carta explicando o objectivo, a natureza
e a importância da pesquisa.
4
Auriluce Pereira CASTILHO, Nara Rúbia Martins BORGES e Vânia TANÚS, Manual de Metodologia
Cientifica, 2a Edição, Iles/Ulbra, Itumbiara, 2014, p. 19
5
Ibidem.
6
Ibidem.

12
Para Fernando Canastra, Frans Haanstra e Martins Vilanculo a população “é um
conjunto definido de elementos que possuem determinadas características”.7

Como nossa população elegemos 2 deputados, 4 membros do Conselho Provincial da


Ordem dos Médicos de Angola (ORMEDA), e 86 estudantes da Faculdade de Direito da
Universidade UJES Neto –Huambo.

Critério de amostragem

“Os mesmos autores definem a amostra como sendo o subconjunto do universo do qual
se estabelecem ou se estimam as características desse universo, quer dizer, é a parte
representativa de todo o universo”.8

Para a nossa amostra usou-se o critério não probabilístico, seguido de um critério


intencional, não probabilístico, pois é um processo pelo qual todos os elementos da
população não têm a mesma probabilidade de serem selecionados para integrarem a
amostra.9

Processamento

Na Assembleia Nacional em Luanda trabalhamos com uma população de 2.

No Conselho Provincial da Ordem do Médicos de Angola em Luanda Trabalhamos com


uma população de 4.

Em dois escritórios de Advogados tivemos uma população de 4.

Na Faculdade de Direito da Universidade UJES – Huambo tivemos uma população de


86.

Critério de inclusão

Para selecionarmos a população mostrada acima servimo-nos dos seguintes critérios:

 Ser Deputado
 Ser membro do Conselho Provincial da Ordem dos Médicos de Angola (OMA)
 Ser Advogado

7
Fernando CANASTRA, Frans HAANSTRA e Martins VILANCULOS, Manual de Investigação
Científica da Universidade Católica de Moçambique, Beira - Janeiro de 2015, p. 19.
8
Ibidem.
9
Ibidem.

13
 Ser estudante da Faculdade de Direito da Universidade Agostinho Neto em
Luanda

Estrutura do Trabalho

O presente trabalho de investigação científica está dividido em três capítulos, no


primeiro capítulo deste trabalho, que é a fundamentação teórica, pretende-se
demonstrar o quão fundamental é a materialização do direito à saúde, sem se esquecer
do importante Instituto da Assistência Médica; o segundo capítulo faz abordagem dos
principais factores que levam a parcela mais vulnerável da sociedade, aqueles
considerados mais necessidade economicamente, também vulneráveis processualmente,
a desistir das suas pretenções judiciais; o terceito capítulo faz a redação e análise de
dados sobre o estado actual no tocante as implicações jurídicas da materialização do
direito à saúde na Província do Huambo ; depois do terceiro capítulo encontramos as
conclusões e recomendações, finalmente a bibliografia.

Resultados esperados

Por resultados esperados entende-se por tudo o que o pesquisador visa na sua
investigação científica. Com esta investigação, pretendemos chegar aos resultados
seguintes:

 No campo teórico, pretendemos com esta investigação científica contribuir


humildemente na formação do homem novo, para que todos tenhamos
conhecimentos dos nossos direitos e deveres;
 No campo prático, a nossa pretensão vai no sentido de se criar meios que
sanem todas as implicações do direito à saúde na Província do Huambo .

14
CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1. Escopo sobre direitos fundamentais

1.1. Noção de direito fundamental

De todos os elementos usados para obter explicação, sem dúvida, revela-se


traiçoeira a idaia de definição nesta era pós-moderna, porque basicamente aduz a uma
verdade incontestável, um dogma, dá a ênfase de transmitir um axioma.

Por se conhecer o árduo e escabroso trabalho que é definir a hábil pena, se


debruçará em conceituar nas linhas subsequentes. Quando se fala em direito
fundamental, está-se na presença de direitos editados pelos poderes públicos,
positivados e desenhados sobre uma moldura especial da qual foi cunhada por
Constituição.

Na locução de Cristina Queiroz abstrai-se que, “todavia, a omnipresença


progressiva do direito editado pelos poderes públicos gera por toda a parte, uma reação
a favor da afirmaçãp do que se designa por liberdades públicas ou direitos
fundamentais”10.

Acredita-se piamente, que os ensaios sobre a fundamentalização em relação ao


direito fundamental e sua abordagem conceitual remonta de influências Aglo-saxônicas,
tal como é entendido, essa noção revela que na Inglaterra, este processo de
“fundamentalização”, “positivação” e posterior “constitucionalização” dos direitos e
liberdades começaram um pouco mais cedo.

A positivação ou também entendida como a própria fundamentalização da qual


se falou alhures, de acordo com Gomes Canotilho, significa incorporação na ordem
jurídica positiva dos direitos considerados “naturais” e “inalienáveis”, do individuo.
Completa que “é necessário assinar-lhes a dimensão de fundamental Rights colados no
cimeiro das fontes de direito”11.

10
Cristina QUEIROZ, Direitos fundamentais: teoria geral. 2ª ed. Coimbra editora. Portugal. 2010,p.17
11
J.J. Gomes CANOTILHO, Direito Constitucional e teoria da Constituição. 7ª ed. Almedina. Coimbra.
Portugal. 2008, p. 377

15
Embora se compreenda que os direitos fundamentais derivam dos direitos
naturais, porém não basta para seu reconhecimento; necessitam de reconhecimento que
passa pela positivação dos mesmos, num documento aplicável à dada ordem jurídica,
para que não sejam apenas discursos/ argumentos, etc. Precisam de positivação e devida
proteção em forma de normas cogentes que apresentem como matrizes estruturantes de
uma sociedade.

Quanto à “constitucionalização” Canotilho dá seu contributo designando-os


como sendo a incorporação de direitos subjectivos do homem em normas formalmente
básicas, subtraindo-se o seu reconhecimento e garantia à disponibilidade do legislador
ordinário12.

Sob este aspecto, a coexistência destes pressupostos mais do que um anúncio de


proteção representa a consequência de um compromisso com o futuro. Nas palavras de
Novais Reis, se extai que […] “os direitos fundamentais não devem, em rigor, ser
considerados como um entre vários dos seus elementos, mas como verdadeiro fim da
limitação jurídica do estado”13.

Estes também, por sua vez, não devem ser entendidos como uma dimensão
técno-jurídico de limitação do Estado, mas, como aflorado por Cristina Queiroz que os
direitos fundamentais devem ser antes compreendidos e intelegidos como elementos
definidores e legitimadores de toda a ordem jurídica positiva14.

No entento, no percorrer da história percebe-se que este sistema de direitos e


liberdades de caractér público quedará consignado num primeiro momento, na petição
dos direitos de 162815 “Petition of Right”, seguida da declaração de direitos, de 1689, e
num conjunto de actos do parlamento entre os quais se conta o celebre “Habeas Corpus”
(1679).

12
J.J. Gomes CANOTILHO…, p. 378. A constitucionalização tem como consequência mais a notória
proteção dos direitos fundamentais mediante o controlo jurisdicional da constitucionalidade dos actos
normativos reguladores destes direitos fundamentais devem ser compreendidos, interpretados e
aplicados como normas jurídicas vinculativas e não como trechos ostentatórios aos jeito das grandes
declarações de direitos.
13
Jorge Reis NOVAIS, Contributo para uma teoria do estado de direito. Almedina. Coimbra, Outubro,
2006, p. 76
14
Cristina QUEIROZ, ob. Cit., p. 49
15
José Tarcizio de Almeida MELO. Direito Constitucional do Brasil. Del Rey Editora. Belo Horizonte,
2008, p. 289, Assevera que neste ano ocorreu a Petição de Direitos, assinada por vários cidadãos ao
Rei, requerendo a ele que reconhecesse aos cidadãos diversos direitos. Desta feita, os cidadãos ingleses
pediram que houvesse a proibição de cortes marciais para civis.

16
1.1.1.Breve referêcia histórica do direito fundamental

Os direitos fundamentais têm sua gênese, segundo alguns doutrinadores, na


Inglaterra, tal qual Vicente Paulo, considera que é comum estabelecer-se como um
marco inicial dos direitos fundamentais a Magna Carta Inglesa (1215), que levou à
inserção desses direitos fundamentais nos textos constitucionais dos Estados modernos
ocidentais, marcado a origem das constituições liberais16.

Todavia, outros atribuem a Declaração dos Estados Americanos, imputando


assim, seu surgimento a partir desse momento. Como é o caso de Gomes Canotilho
(2008) que parte do pressusto que a positivação ou a constitucionalização dos direitos
fundamentais deu-se a partir do Virginia Bill of Rights (1776) e da Déclaration dês
Droits de l ´ Homme et du Citoyen (1789).

Desse modo, dizer que os direitos fundamentais apenas têm um aspecto


temporal, seria dissociar da figura dos próprios direitos inerentes ao ser humano como
um ser indivisível. A despeito deste terem nascidos posteriormente ao homem e
consequentemente positivados, foram necessários para garantir a proteção efetiva dos
mesmos direitos.

Vicente Paulo, escreve com a finalidade de mostrar alguns dados importantes


que aqui servem de complemento:

Assim, podemos afirmar que a história dos direitos fundamentais teve início,
propriamente, com as declarações de direitos formuladas pelos Estados
americanos no Séc. XVIII, ao afirmarem sua independência em relação a
Inglaterra, A primeira declaração foi emitida pelo Estado da Virginia, em 12 de
junho de 1776.

Posteriormente, a positivação dos direitos fundamentais ganhou concreção a


partir da Revolução Francesa de 1789, onde fora consignada de forma precisa a
proclamação da liberdade, da igualdade, da propriedade e das garantias individuais
liberais. A Revolução Francesa desempenhou o relevante papel de universalizar os
direitos fundamentais, muito embora, sendo ela produto do século XVIII, possuisse
natureza predominantemente individuais17.

16
Vicente PAULO. Aulas de Direito Constitucional, 8ª ed. Impetus. Niteroi. 2006, p. 101
17
Ibidem, p. 101

17
Este processo se desenrolou em muitos sentidos sob o manto de uma
comunidade que reclamava suas liberdades e procurava ver estabelecida de forma
concreta seus direitos. Os diversos períodos perpassados cativaram a luta por uma nova
realidade, e, pode-se compreender que desde épocas imemoriais a insatisfação pela
privação era sumamente notória,

A partir de Jonatas Machado, Paulo da Costa e Esteves Hilário, vemos que a


história inglesa contribuiu para este processo com alguns documentos de maior relevo,
como a Magna Carta de 1215, a Petition of Rights de 1628 e os Agreements os the
People, 16469, da revolução puritana republicana de Oliver Cromwell18.

De relevar aqui a petição de direitos, este instrumento que teve grande


importância, por ter lançado as propedêuticas declarações de direitos individuais. Desse
modo, conjectura José Melo19 que, este sigmificou o amadurecimento do sentido
democrático dos dias, dos quais o de maior importância é a vida.

Resta claro que, o estabelecimento das constituições escritas está diretamente ligado à
edição dos direitos do homem, como forma de coibir as arbitrariedades do Estado,
preservando um núcleo irredutível de liberdades.

1.1.2. Direitos e garantias fundamentais

Existem várias justificativas para conceituar direitos fundamentais, a despeito


de já se ter vislumbrado em nuances alhures o conceito, se perceberá que não são
siameses como justifica. Há de se considerar, em decorrência disso, a pena hábil de
Gilmar Mendes que:

Assim para os junaturalistas, os direitos do homem são imperativos do direito


natural, anteriores e superiores à vontade do Estado. Já, para os positivistas, os
direitos do homem são faculdades outorgadas pela lei e reguladas por ela.

Para os idealistas, os direitos do homem são ideais, princípios abstratos que a


realidade vai acolhendo ao longo do tempo, ao passo que, para os realistas, seriam o
resultado direto de lutas sociais e políticas20.

18
Jónatas E. MACHADO. Direito Constitucional Angolano. 2ª ed. Coimbra Editora. 2013, p. 148
19
José Tarcizio de Almeida MELO, ob Cit., p. 289
20
Gilmar Ferreira MENDES. Curso de direito Constitucional. 4ª. Ed. Atual. Saraiva. 2011, p. 113

18
Uma das maiores dificuldades para teoria dos direitos fundamentais incide sobre a
conceituação, pelo trabalho que existe em encontrar fórmulas para protegê-los devidos
as suas concepções jusfilosóficas. O que está subjacente a esta discussão ou debate é a
crispação gerada nos termos direitos humanos e direitos fundamentais. E, destes anota-
se o seguinte na fala de Paulo Vicente, que “direitos fundamentais” são aqueles direitos
objectivamente reconhecidos e positivados na ordem de determinado Estado21. Ou seja,
são disposições declatórias22. Desse modo recebem delimitação especial e
temporalmente, e podem variar de acordo alguns factores como: ideologia adotada por
um Estado, a modalidade do Estado, as espécies de valores e princípios que a
constituição consagra como luminares. No entanto conclui-se que cada Estado elege,
estabelece os seus direitos fundamentais de acordo com os seus critérios.

Em contraste com aquilo que é sobejamente conhecido como direitos humanos,


que também, Vicente, afirma que, “são aqueles reconhecidos nos documentos
internacionais, independentemente de qualquer vinculação do direito com determinada
ordem constitucional”23. São direitos inerentes ao ser humano que independem de
qualquer vínculo com determinado Estado. Estes por sua vez, pertencem a todos
simplesmente por existirem.

Por sua vez, Bacelar Gouveia, em seu estudo sobre Direito Constitucional de
Angola retrata que “os direitos fundamentais são as posições jurídicas activas das
pessoas integradas no Estado-Sociedade, exercidas por contraposição ao Estado-Poder,
positivadas no texto constitucional”[…]24

Compreende-se que, o indivíduo como elemento indispensável na condição de


membro de um Estado mantém com este múltipla relação de diversas ordens como a
subordinação deste ao Estado, também chamado por alguns doutrinadores de status
passivo, assim como em outros casos em que o indivíduo está livre da ingerência por
parte do próprio Estado chamado por status negativus; ou ainda, também quando
corresponde à possibilidade do indivíduo exigir prestações positivas do poder do

21
Vicente PAULO. ob. Cit., p. 103
22
Pedro Manuel LUÍS. Curso de Direito Constitucional Angolano. 1ª. Ed. Qualifica editora. Outubro.
2014, p. 168
23
Vicente PAULO. ob. Cit., p. 103
24
Bacelar GOUVEIA. Direito Constitucional de Angola. Instituto do Direito de Língua Portuguesa.
Lisboa/Luanda. 2014, p. 301

19
próprio Estado, intitulada por status civitatis – se apresenta como o fundamento do
complexo das pretensões estatais no interesse individual”25.

Outra grande distinção que também não se pode olvidar, aqui paira sobre o
entendimento de direitos e garantias, que muitas vezes tem sido confundida na tentativa
de guiar acabam por nublar o pensamento. A doutrina, no entanto, diferência os direitos
fundamentais de garantias fundamentais, que noutros termos é chamada de remédios
Constitucionais.

Como visto nos escritos de Vicente, “as garantias fundamentais são colocadas ou
estabelecidas pelo texto constitucional como manto de proteção de direitos
fundamentais”26. Elas também representam disposições assecuratórias27. São normas
instrumentais para garantir os direitos declarados. Destarte, a título de exemplo tem-se a
inviolabilidade do direito à vida (art. 30º28/31º29., CRA), correspondente à garantia de
vedação à pena de morte (art. 59.º, CRA)30. Outrossim, pode se verificar em outros
também, como o direito de circulação ou à locomoção (n.º 2, do art. 46.º, da CRA)31.

José Afonso da Silva, discorre sobre o assunto aduzindo que, as garantias


fundamentais, também chamadas de remédios constitucionais, estas que tem viés
constitucional, segundo o autor caracterizam-se como imposições, positivas ou
negativas aos órgãos do poder público, limitativas de sua conduta, para assegurar a
observância ou, no caso de violação, a reintegração de direitos fundamentais32.

O respeito a estes direitos tidos como fundamentais suplanta a ideia de forma


bem intencional como salienta Alexandre de Moraes que, a “previsão dos direitos
humanos fundamentais direciona-se basicamente para a proteção à dignidade humana
em seu sentido mais amplo”33.
25
Jorge MIRANDA, Manual de Direito Constitucional. Tomo IV – Direitos Fundamentais. 4ª ed,
Coimbra editora. 2008, p. 88
26
Vicente PAULO. ob. Cit., p. 103
27
Pedro Manuel LUÍS. Curso de Direito Constitucional Angolano. 1ª ed. Qualifica editora. Outubro.
2014, p. 168
28
“O Estado respeita e protege a vida da pessoa humana, que é inviolável”.
29
“1) A integridade moral, intelectual e física das pessoas é inviolável. 2) O Estado respeita e protege a
pessoa e a dignidade humanas”.
30
“É proibida a pena de morte”.
31
“2) Todo o cidadão é livre de emigrar e de sair do território nacional e de a ele regressar, sem prejuízo
das limitações decorrentes do cumprimento de deveres legais”.
32
José Afonso DA SILVA. Curso de Direito Constitucional Positivo. 34ª ed. Ver. Atual. Malheiros
editores. São Paulo, 2005
33
Alexandre MORAES. Direitos Humanos Fundamentais: teoria geral, comentários aos arts. 1º a 5º da
constituição da República Federativa do Brasil, doutrina e jurisprudência. 10º. Ed. São Paulo: Atlas.

20
Carecterísticas dos Direitos Fundamentais

Sobre as características dos Direitos Fundamentais seguimos o Professor José


Alexandrino, segundo o qual estes Direitos são34:

 “Fundamentais, porque, definido relações qualificadas do homem e do Estado,


esses direitos desenham respostas a necessidades fundamentais e constantes do
ser humano, relativas às esferas da existência, da autonmia e do poder;
 Universais, ainda que se apresentem, por vezes, atribuídos a categorias
particulares de pessoas, são direitos de todas as pessoas;
 Permanentes, na medida em que não se extinguem com a morte do respectivo
titular ou por uma decisão de valor constituinte que suprima o direito;
 Pessoais, porque estão estritamente ligados à pessoa, à sua vida e personalidade;
 Não patrimoniais, em virtude de serem direitos insusceptíveis de avaliação
pecuniária, razão pela qual são ainda intransmissíveis e inexpropriáveis;
 Indisponíveis, na medida em que o seu carácter inalienável do direito vincula
não só o Estado como o próprio titular”.
1.1.3. Direitos Fundamentais no Sistema Jurídico-Constitucional Angolano

Merece o devido destaque a guisa constitucional dos direitos fundamentais à


Constituição da República de Angola, por representar uma expressão abragente sobre
todos os cidadãos residentes e estrangeiros que estejam sob a égide da lei angolana, quer
sejam estes residentes ou não. De salientar, que não são todos os direitos constantes na
CRA que abragem os estrangeiros, por exemplo, (os estrangeiros não podem votar)…

Ademais, reputa-se necessário endossar que os direitos e garantias fundamentais


têm um carácter transcendental e extemporâneo, pois, acompanham o seu utente em
qualquer lugar que este se desloque. A despeito de algumas vezes não se observar desta
forma, mas, de uma maneira holística se estende pelo tempo.

A Constituição da República de 2010, ao arrolar os direitos e os deveres


fundamentais no seu Título II, classifica-os em grupos. Os quais elenca em sede inicial
representados no seu Título II, Capítulo II, nos seus artigos 30º e seguintes que
correspondem aos direitos que sejam diretamente ligados aos conceitos estruturantes

2013, p. 02
34
José Tarcizio de Almeida MELO. ob. Cit., p. 24.

21
como da pessoa humana, assim como, os direitos inerentes a personalidade, como se
percebe o direito à vida, à dignidade, à liberdade.

Estes que vistos no plano geral são aqueles atinentes à primeira dimensão de
direitos, e também são conhecidos pelo brocardo latino non facere, representando a
liberdade negativa. Contudo, visto como uma garantia ao cidadão e um óbice para
ingerência do Estado.

Outrossim, podem ser encontrados também os que são cunhados como


segundos em grau de colocação, sem desprimor, pois, não há hierarquia entre os direitos
fundamentais, os estatuídos no TítuloII, Capítulo III que versam sobre as liberdades
positivas, de observância obrigatória em um Estado Democrático de Direito, idealizando
a realização das condições de vida daqueles denominados hipossuficientes em
detrimento do Estado.

Esta linha mestra tem um árduo desiderato de proteção da pessoa humana em


seu aspecto mais cabal, como assevera Bacelar Gouveia que, “em nenhum outro lugar
do direito positivo estadual se pode dar, nestes termos de máxima efetividade, tanta
proteção à pessoa humana como pela consagração de direitos fundamentais”35.

Desse modo, para melhor compreensão do avocado acima se reputa a


necessidade de enquadrar esses direitos expressos em nossa Constituição como sendo
direitos de segunda e terceira dimensão respetivamente, abrangendo aqueles que
acompanham e concretizam os primeiros.

Pela relevância que denota seu tom na Constituição, e, pelo seu destacamento, dá
a entender que o interprete não pode descurar de seu alcamçe e sua dimensão axiológica
que esta recebe; embora os direitos fundamentais existam de per si, eles ganham maior
claridade excepcionalmente na figura da dignidade da pessoa humana.

Dessarte, J.J. Gomes Canotilho apresenta que, estes direitos cunhados como
fundamentais estão sob o manto de proteção, o que revela que qualquer tentativa de
explicar a realidade premente deve pautar-se por observar que “as normas
consagradoras de direitos fundamentais protegem determinados “bens” ou “domínios

35
Bacelar GOUVEIA. ob. Cit., p. 299

22
existenciais”. “Elencando-os ordenadamente como sendo: a vida, o domicílio, a religião,
a criação artística”36.

1.1.4. Direito à saúde como direito fundamental no ordenamento jurídico


angolano

O direito à saúde é encarado no ordenamento jurídico angolano como um direito


fundamental, dada a sua consagração constitucional. Segundo F.A. Gonçalves Ferreira,
“[…] a saúde é um dos direitos fundamentais do homem”37.

A Constituição de 11 de Novembro de 1975, a primeira portanto, havia


consagrado o direito à saúde no art.º 27.º38. Estava assim estabelecido um autêntico
direito social se se tiver em conta que o poder político na altura havia adoptado uma
economia planificada. Com as transformações políticas e económicas operadas no País,
a Lei n.º 23/92, de 16 de Setembro (Lei de Revisão Constitucional), insiriu a matéria
relacionada à saúde no art.º 47.º 39 com o mesmo conteúdo do anterior, tendo acrescido
no n.º 2 a iniciativa particular, isto já com a liberalização da economia. De salientar que,
tanto numa como noutra Constituição, o legislador constituinte não havia feito nunhuma
distinção entre direito de liberdade e direitos sociais.40 Na realidade, após a
independência de Angola, o poder político assim entendeu. Nesta base, António Arnaut
defende que “o modelo estatizado é aquele em que o Estado chama a si, de forma
exclusiva ou praticamente exclusiva, a titularidade e a responsbilidade do serviços e da
prestação de todos os cuidados de saúde”41

A par disso, finalmente, a CRA de 5 de Fevereiro de 2010, a prrimeira


Constituição como tal em Angola, já que anteriormente só se falava em Leis
Constitucionais, veio clarificar toda a insuficiência registada ao longo da história
constitucional angolana e especificou devidamente a destrinça entre direitos, liberdades
e garantias, de um lado, e direitos económicos, sociais e culturais, de outro lado. Inseriu
36
J.J., Gomes CANOTILHO. ob. Cit., p. 1262
37
F.A. Gonçalves FERREIRA, Moderna Saúde Pública, Fundação Calouste Gulbenkian, 2ª Edição,
1971, Lisboa, p 18
38
“O Estado promoverá as medidas necessárias para assegurar aos cidadãos o direito à assistência médica
e sanitária, bem como o direito à assistência na maternidade, na invalidez, na velhice e em qualquer
situação de incapacidade para o trabalho.”
39
“[…] 2) A iniciativa particular e cooperativa no domínio da saúde, previdência e segurança social,
exerce-se nas condições previstas na lei.”
40
João VALERIANO. Reflexões Jurídico-Políticas sobre o Princípio da Igualdade, o Direito à Saúde, os
Direitos Sociais e a Responsabilidade Civil da Admnistração Pública – os casos de Angola, Brasil e
Portugal, 1.ª Edição, Alameda da Universidade Editora, Lisboa, 2019, p. 106.
41
António ARNAUT, Economia da Saúde, 1.ª Edição, Almedina, Coimbra, 2017, p. 27.

23
no Título II, Capítulo III, no seu art.º 77.º,42 toda a matéria inerente à saúde, tal como
discriminámos na parte introdutória do nosso trabalho. Na verdade, a actual CRA, em
matéria de saúde, constitui um conjunto de normas aplicáveis às actividades cujo
objectivo é restaurar e proteger a saúde humana.

Os preceitos constitucionais supra impõem ao Estado obrigações com fins de


concretização do direito à saúde. Os cidadãos passam a exigir do Estado a garantia da
função do direito fundamental de prestação, razão pela qual o direito à saúde,
preceituado no art. 77º da CRA, tem o seu correlativo dever por parte do Estado, em
princípio.

O direito à saúde positivado é um direito fundamental do indivíduo frente ao


Estado, bem como direito do indivíduo frente aos demais da sua espécie. João Valeriano
afirma que “neste sentido, como um direito do indivíduo frente ao Estado, deve ser
aplicado tanto na função de defesa como numa função de proteção e prestação”.43

O direito à saúde exige do Estado um facere e um non facere, ou seja, não


intervenção, reflectida no respeito pela autodeterminação de cada indivíduo, e um
facere que corresponde à prática de acção e serviços que garantam a fruição plena do
direito à vida de cada indivíduo. Assim, está, nesta peugada, Cristina Queiroz, ao
afirmar que “os direitos fundamentais sociais constituem obrigações de prestação
positivas cuja satisfação consiste num facere, uma ‘acção positiva’ a cargo dos poderes
públicos”44.

Ao direito à saúde está subjacente o direito à vida. Gomes Cnotilho diz que “o
direito à vida significa não apenas direitos a viver, no sentido do direito do dispor de
condições de substência mínima e o direito a exigir das entidades estatais a adopção de
medidas impeditivas de agessão deste direito por parte de terceiros”45.

42
“1) O Estado promove e garante as medidas necessárias para assegurar a todos o direito à assistência
médica e sanitária, bem como o direito à assistência na infância, na maternidade, na invalidez, na
deficiência, na velhice e em qualquer situação de incapacidade para o trabalho, nos termos da lei.2) Para
garantir o direito à assistência médica e sanitária incumbe ao Estado: a) desenvolver e assegurar a
funcionalidade de um serviço de saúde em todo o território nacional; b) regular a produção, distribuição,
comércio e o uso dos produtos químicos, biológicos, farmacêuticos e outros meios de tratamento e
diagnóstico; c) incentivar o desenvolvimento do ensino médico-cirúrgico e da investigação médica e de
saúde. 3) A iniciativa particular e cooperativa nos domínios da saúde, previdência e segurança social é
fiscalizada pelo Estado e exerce-se nas condições previstas por lei.”
43
João VALERIANO, ob. Cit., p. 108.
44
Cristina QUEIROZ, Direitos Fundamentais…, p. 25.
45
J.J. Gomes CANOTILHO, Direito Constitucional…, p. 378

24
Sinceramente, ao direito à saúde está a génese do dever fundamental do Estado defender
e promover a saúde, conforme preceituado na alínea f) do art.º 21.º 46da CRA.

Assim sendo, a proteção pelo Estado desse direito fundamental deve ser
prioridade em qualquer sociedade e este deve ser também compreendido, interpretado e
aplicado como norma jurídica vinculativa e não como trecho ostentatório ao jeito das
grandes declarações de direitos47.

Neste diapasão, o direito à saúde emerge de uma dimensão subjectiva, ou seja,


ao tempo em que assegura ao indivíduo o direito à proteção da saúde, implica a
imposição de deveres ao Estado com fim da sua concretização48.

Angola consagrou esse princípio fundamental, no seu art. 1º, 49 como um dos
princípios fundamentais, pois não se pode falar em dignidade se não houver condições
mínimas de garantia da saúde do indivíduo. Aqui Jorge Bacelar Gouveia sentencia que
“o princípio da dignidade da pessoa humana, como relevante manifestação material do
princípio do Estado de Direito, significa, de um modo geral, que a pessoa é colocada
como o fim supremo do Estado e do Direito”50.

Desta feita, a proteção do direito à saúde manifestada no art.º 77º da CRA


preconiza a inviolabilidade do direito à vida, ao abrigo do art. 30.º da CRA.

O direito à vida, sendo um dos mais fundamentais dos direitos, é, inconciliável


igualmente para proteger a vida, sem agir da mesma forma com a saúde. António
Arnaut afirma que “um Estado com preocupações sociais procurará assegurar, na
medida do possível, a proteção da saúde aos seus cidadãos”51.

A expressão “[…] promover o bem o bem-estar e a qualidade de vida do povo,


alínea d) do art. 21º52” da CRA, comportam uma série de interpretações, dentre elas,
com certeza, a ideia de que, promovendo o bem-estar de todos, também por via

46
“f) promover políticas que permitam tornar universais e gratuitos os cuidados primários de saúde.”
47
João VALERIANO, ob. Cit., p. 109.
48
Idem, p. 110
49
“Angola é uma República soberana e independente, baseada na dignidade da pessoa humana e na
vontade do povo angolano, que tem como objectivo fundamental a construção de uma sociedade livre,
justa, democrática, solidária, de paz, igualdade e progresso social.”
50
Jorge Bacelar GOUVEIA, Manual de Direito Constitucional, Volume II, Almedina, Coimbra, 2005, p.
785.
51
António ARNAUT, ob. Cit., p. 70.
52
“d) promover o bem-estar, a solidariedade social e a elevação da qualidade de vida do povo angolano,
designadamente dos grupos populacionais mais desfavorecidos.”

25
indirecta, se estará a promover a saúde, qualidade essencial para se alcançar o bem
individual e colectivo. É sabido que o bem mais importante que o ser humano tem é a
saúde física e mental. Bens estes constitucionalmente tutelados no art. 31º nº 1, da CRA.
No mundo moderno, promover o bem de todos implica oferecer condições para o pleno
desenvolvimento humano, e a saúde é a condição primeira e primária para se alcançar
este pleno desenvolvimento humano. Falando do desenvolvimento humano, este pode
ficar comprometido pra sempre na história do indivíduo, se não lhe for garantido o
direito à saúde desde a gestação até aos primeiros anos de vida 53. Gomes Canotilho e
Vital Moreira afirmam que “não exite apenas um direito à proteção da saúde, mas
também um dever de todos promover e defender a saúde (n.º 1, 2.ª parte)”54.

João Valeriano afirma que, “o dever do Estado para com a vida de cada pessoa,
conceito integral de vida abarca um status positivo do Estado Social, ou seja, ao tempo
em que ao Estado não é permitido invadir a esfera individual, cabe a este criar os
mecanismos jurídicos e materiais para sua preservação e sobrevivência. Assim, pode-se
afirmar que a ratio do direito à saúde é tutelar o direito à vida, à integridade física e
moral, bem como o respeito pelo princípio da dignidade da pessoa humana 55. Continuo
dizendo que, “no campo da positivação do direito à saúde, a pretensão é a de se
constituir uma norma programática definidora de tarefas e fins do Estado, e ser um
direito público subjectivo, cujos indivíduos, beneficiários da norma, teriam o direito de
exigir as prestações perante o Estado. No mundo de hoje, a saúde é um direito humano
fundamental, aliás fundamentalíssimo, tão fundamental que, mesmo em países nos quais
não se prevê expressamente na Constituição, chegou a haver um reconhecimento da
saúde como direito fundamental não escrito56.

O direito à proteção e à promoção da saúde é determinante para a igualdade de


oportunidades numa sociedade livre e solidária. Assim, o direito à saúde foi assumindo
um carácter de direito social e humano e deverá ser visto como liberdade em relação às
necessidades ou à sua satisfação, tal como é referido na Declaração Universal dos
Direitos do Homem57.

53
João VALERIANO, ob. Cit., p. 111.
54
J.J. Gomes CANOTILHO e Vital MOREIRA, ob. Cit., p. 826.
55
João VALERIANO, ob. Cit., p. 112.
56
Idem, p. 114
57
Ibdem, p. 114.

26
No campo da prestação de cuidados de saúde, e de acordo com o art.º 77.º da
CRA, refere-se que todos os cidadãos têm o direito à proteção da saúde e o dever de a
proteger e salvaguardar. Este direito pode ser alcançado, nomeadamente, através de um
Serviço Nacional de Saúde universal e em princípi gratuito, de acordo com as
possibilidades económicas e as condições sociais dos cidadãos58.

1.1.5. Direito à saúde na Constituição Portuguesa

A Constituição da República Portuguesa enquadra-se em um modelo de Estado


Social e de direito democrático que além dos direitos clássicos de liberdade, contém
uma ampla gama de direitos sociais que exigem respeito por parte dos titulares políticos
da área da saúde.

O direito à saúde é um direito que possui grande preponderância frente aos


demais direitos a serem salvaguardados pelo ordenamento jurídico português, uma vez
que tem como objectivo principal tutelar a vida de cada indivíduo português.

Diante disso, o legislador originário elaborou a Constituição de Portugal, datada


do ano de 1976, trazendo no art.º 64.º (PORTUGAL, 1976) as disposições concernentes
ao tratamento do direito fundamental à saúde no território português. É necessário
evidenciar que, inicialmente, esse direito seria garantido, principalmente, pelo Estado
português, por meio do dominado Sistema Nacional de Saúde (ao qual será dedicada
seção específica) que, por sua vez, possuiria como princípios basilares a universalidade,
a gratuidade e a generalidade nos distintos tratamentos e prevenções de doenças59.

Contudo, no ano de 1989, na segunda revisão constitucional (Lei Constitucional

n.º 1/89), alterou-se o art.º 64.º n.º 2, alínea “a” da Constituição (PORTUGAL, 1976),

modificando o caráter gratuito do Sistema Nacional de Saúde, para um programa

tendencialmente gratuito60, ou seja, a partir de então, foi constitucional a cobrança de

determinada taxa mediante a realização de algum serviço público relacionado à garantia

do direito à saúde em Portugal.

58
Idem, p. 115.
59
Pedro Walicoski CARVALHO. A saúde como direito do cidadão e dever do estado: consolidação pela
via judicial. 2013. 125 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Ciência Jurídica, Universidade do Vale do
Itajaí – Univali, Itajaí, 2013, p. 9.
60
Idem, p. 10.

27
Assim, este mesmo artigo prevê que a proteção da saúde é um dever não

somente do Estado, mas também da sociedade, de maneira geral, além do fato de ser

também um direito conferido a todos os cidadãos 61. Ademais, deve-se ressaltar que a

realização da proteção à saúde não se resume somente na criação e efetivação do

programa do Sistema Nacional de Saúde, mas também existem outras políticas públicas

elabordas pelo Estado a fim de permitir uma maior e melhor garantia deste direito junto

à sociedade62, conforme é evidenciado pelo n.º 2, alínea a) uma vez que neste

dispositivo há uma série de deveres elencados pelo legislador, aos quais o Estado

português está incumbido de promover, sob pena de violar gravemnte um direito

fundamental assegurado aos cidadãos nacional e estrangeiro, situados em território

português.

Há também que se analisar o fato de nesta mesma norma contitucional haver a

expressa necessidade de a sociedade actuar ao lado do Governo de Portugal para, juntos,

promoverem uma proteção à saúde que possa ser, na maior medida possível, eficiente e

eficaz a todos os usuários de tais serviços. Outrossim, reessalta-se a intenção do

legislador de proporcionar esta actuação conjunta para que os programas na área da

saúde a serem criados consigam atender às mais distintas demandas, pertencentes a

diferentes grupos sociais.

O sistema de saúde em Portugal, conforme demostrado anteriormente, possui

como eixo principal, o Sistema Nacional de Saúde (INS), uma vez que este é o

programa de saúde constitucionalmente previsto para atender às demandas de saúde

pública em Portugal. Além disso, também foi demonstrado que este programa possui,

como um de seus princípios, o facto de ser tendencialmente gratuito (alteração realizada

61
Sofia GRISÓSTOMO, O artigo 64.º da Constituição da Repíblica Portuguesa: saúde. Sociologia,
Problemas e Práticas, Lisboa, Portugal, número especial, 2016, p. 33.
62
Idem, p. 34.

28
pela Lei Constitucional n.º 1 – PORTUGAL, 1989), com isso, dependendo da demanda

a ser pleiteada pelo indivíduo, far-se-à determinado despendimento financeiro por este

usuário do sistema público de saúde.

Pelo exposto, pode-se inferir que o sistema de saúde português possui certa

participação do capital privado em seu orçamento, sendo tal aporte dividido nos

denominados seguros de saúde. Observa-se também que o Estado não é o único agente

responsável por garantir a prestação da saúde junto à população, pois possui como gasto

64,7% do montante total dos encargos neste setor63.

A Constituição (PORTUGAL, 1976) trouxe a necessidade do SNS ser

descentralizado, bem como possuir cunho democrático junto ao âmbito administrativo,

corroborando com o fato da Constituição de 1976 restaurar a legalidade democrática,

reafirmando a democracia política de cunho liberal e pluralista64.

Com efeito, conforme dispõem o Estatuto do SNS (PORTUGAL, 1993), o SNS

é organizado por regiões de saúde que, por sua vez, se subdividem em sub-regiões,

integrados por áreas de saúde, de acordo com o art. 3º (PORTUGAL, 1993), atendendo,

com isso, o caráter descentralizado em sua administração. Contudo, o Ministério da

Saúde tem poder de influência e de indiretamente ao sistema de saúde português,

abarcando desde o usuário do sistema, até os represntantes dos órgãos directivos que

irão cordenar ações de saúde propriamente ditas.

1.1.6. Direito à saúde nas Constituições Brasileiras

63
MINISTRO DA SAÚDE. SNS “é um dos mais eficientes da Europa”. República Portuguesa XXI
Governo Constitucional.
64
Jorge MIRANDA. A originalidade e as principais caracteríticas da Constituição portuguesa.
Cuestnnoes Constitucionales, México, n.º 16, jun. 2007, p.253-280.

29
O Brasil sofreu tardiamente os efeitos referentes aos direitos sociais trazidos
pelo pós-guerra. Como Dallan assinalou, “no Brasil a incorporação constitucional dos
direitos sociais foi sobremaneira lenta”65 .

Fazendo um breve histórico do direito à saúde no contexto jurídico-


constitucional brasileiro, observa-se que as constituições de 1891 e 1986 não
mencionam expressamente o direito à saúde66, apesar de, já naquela época, o país sofrer
grandes problemas de saúde pública, causados por epidemias de doenças
infectocontagiosas, como malária, varíola, febre-amarela, peste bubônica, cólera,
tuberculose, hanseníase, parasitoses etc., combatidas apenas pelo modelo hegemônico
de saúde da época, o sanitarismo campanhista67.

As demais constituições apenas referiam-se à saúde no que tange à competência


dos entes federativos de legislar sobre defesa e proteção da saúde, além de estabelecer e
executar planos de saúde. Ainda não se enxergava a saúde como um direito fundamental
social.

A Constituição Federal de 1988 foi a primeira dentre as constituições brasileiras


a garantir o direito à saúde no rol dos direitos fundamentais. "É espantoso como um
bem extraordinariamente relevante à vida humana só agora é elevado à condição de
direito fundamental do homem. Tal previsão encontra-se no art. 6, entre os demais
direitos sociais. O conceito jurídico de saúde deve ser compreendido numa análise
sistemática da própria Constituição, sem perder de vista a noção de saúde como
completo bem-estar, de acordo com a ideia traçada pela OMS 68. A Lei Maior vinculou a
sua existência à observância de princípios, em especial o princípio da igualdade, já que
é um direito que deve ser reconhecido igualmente a todo o povo69.

Para a sua realização, o Texto Constitucional dispõe, dentro da ordem social, os


contornos da seguridade social, na qual são englobadas ações destinadas a assegurar o
direito à saúde, financiadas por toda a sociedade, de forma direta ou indireta (art. 194).
Essas ações são concretizadas mediante "políticas sociais e econômicas que visem à
65
Sueli G. DALLARI, Os Estados brasileiros e o direito à saúde. Editora Hucitec, São Paulo, 1995. p.
22.
66
Júlio C. de S. ROCHA, Direito à saúde: direito sanitário na perspectiva dos interesses difusos e
coletivos. São Paulo: LTr, 1999. p. 39.
67
Márcia F. WESTPHAL e Eurivaldo S. ALMEIDA, Gestão de serviços de saúde. Editora Edusp, São
Paulo, 2001. p. 21-22.
68
Julio C. de S. ROCHA, op. cit. p. 45.
69
Sueli G. DALLARI, ob. Cit. p. 30-31.

30
redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação" (art. 196) (grifei), e
organizadas em um sistema integral e descentralizado denominado Sistema Único de
Saúde — SUS (art. 198). Incorporou conceitos, princípios e uma nova lógica de
organização da saúde, a saber70:

 “O conceito de saúde entendido numa perspectiva de articulação entre políticas


econômicas e sociais.
 A saúde como direito social universal, derivado do exercício da cidadania plena
e não mais como direito previdenciário

 A caracterização dos serviços e ações de saúde como de relevância pública.


 Criação de um Sistema Único de Saúde (descentralizado, com comando único
em cada esfera de governo, atendido integral e participação da comunidade).

 Integração da saúde na Seguridade Social”.


Percebe-se, assim, que a Constituição Federal de 1988 definiu um arcabouço
jurídico para a promoção imediata do direito à saúde, deixando apenas alguns pontos
para serem conformados pela legislação infraconstitucional.

A Lei Orgânica da Saúde, de 19 de setembro de 1990, “dispõe sobre as


condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências”, regulando as
ações e serviços de saúde em todo o território nacional (art. 1e). Um aspecto importante
da LOS é a relação que faz entre a saúde e outros fatores, demonstrando, de acordo com
o amplo conceito de saúde proposto pela OMS, que o bem-estar físico, mental e social
de um povo depende de outras variáveis que não a mera ausência de doença.

Art. 3.º 2º A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre


outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a
renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os
níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do País.

70
Márcia F. WESTPHAL, Eurivaldo S. ALMEIDA, ob. Cit. p. 31 .

31
Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do
disposto no artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições
de bem-estar físico, mental e social.

Esse dispositivo torna claro que, para garantir o direito à saúde, é preciso realizar
um enorme espectro de políticas públicas, que vão desde a implementação dos serviços
de saúde propriamente dita, até a realização de ações relacionadas ao lazer da
população.

Ademais, o direito à saúde é garantido por uma “pluritutela normativa”, isto é,


por uma “intensa proteção em diferenciados microssistemas jurídicos”, como o Estatuto
da Criança e do Adolescente, Código de Defesa do Consumidor, Lei de Patentes (Lei n.
9.279/96), Código de Trânsito Brasileiro etc.71

Com a Constituição de 1988, o direito à saúde foi alçado à categoria de direito


subjetivo público, reconhecendo-se, pois, que o sujeito é detentor do direito que o
Estado está obrigado a garantir. Assim, compete ao Estado garantir a saúde do cidadão e
da coletividade. Entretanto, o sujeito não perde a responsabilidade de cuidar de sua
saúde e de contribuir para a saúde coletiva. Nesse sentido, Lenir Santos72 explica:

Diante do conceito afirmado pela Constituição de que “saúde é direito


de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação”.

Abandonou-se um sistema que apenas considerava a saúde pública como dever


do Estado, no sentido de coibir ou evitar a propagação de doenças que colocassem em
risco a saúde da coletividade, e assumiu-se que o dever do Estado de garantir a saúde
consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais, além da prestação
de serviços públicos de promoção, prevenção e recuperação da saúde. A visão
epidemiológica da questão saúde/doença, que privilegia o estudo de fatores sociais,
ambientais, econômicos e educacionais que podem gerar enfermidades, passou a
integrar o direito à saúde. Esse novo conceito de saúde considera seus determinantes e
condicionantes (alimentação, moradia, saneamento, meio ambiente, renda, trabalho,
educação, transporte etc.) e impõe aos órgãos que compõem o Sistema Único de Saúde
71
Julio C de S. ROCHA, ob. Cit. p. 52-53.
72
Lenir SANTOS. Direito da saúde no Brasil. Campinas: Editora Saberes, 2010, Pp. 147-148

32
o dever de identificar esses fatos sociais e ambientais, e ao governo o de formular
políticas públicas condizentes com a melhoria do modo de vida da população (art. 5º,
Lei nº 8080/90). 73

Conforme já mencionado, a Constituição Federal de 1988 inseriu, de maneira


inaugural, o direito à saúde no rol dos direitos sociais. Nos textos constitucionais
anteriores, somente os trabalhadores que contribuíam com a Previdência Social é que
teriam direito de acesso à saúde pública.

Antes da Constituição de 1988, as pessoas que não preenchessem os requisitos


exigidos para acesso à saúde pelas entidades públicas (como renda e inserção no
mercado de trabalho), ficavam completamente dependentes da iniciativa privada. 74

A Constituição Imperial de 1824 não tratava expressamente do direito à saúde,


conferindo somente a garantia dos “socorros públicos” aos cidadãos brasileiros.

A Constituição de 1891, por sua vez, suprimiu o dispositivo que garantia os


“socorros públicos”, e apresentou, em seu artigo 72, caput, uma leve e indireta proteção
sanitária ao mencionar a “segurança individual”75

Ampliando o rol dos direitos individuais e políticos, a Constituição de 1934


criou normas programáticas e atribuiu competência concorrente à União e aos Estados
para cuidarem da saúde e da assistência públicas. Adiante, garantiu, ainda, assistência
médica e sanitária aos trabalhadores e gestantes:

Art 10. Compete concorrentemente á União e aos Estados: (...) II -


cuidar da saúde e assistência públicas; ” “Art 121. A lei promoverá o
amparo da producção e estabelecerá as condições do trabalho, na
cidade e nos campos, tendo em vista a protecção social do trabalhador
e os interesses económicos do país.
73
Lenir SANTOS. ob. Cit. p. 147-148
74
Constituição Federal de 1988 no seu Art. 179. Trata da inviolabilidade dos direitos civis e políticos
dos cidadãos brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual e a propriedade, é
garantida pela Constituição do Império, pela maneira seguinte: (...)
31) A Constituição também garante os socorros públicos.
75
Constituição Imperial de 1824 no seu Art. 72. A Constituição assegura a brasileiros e a
estrangeiros residentes no país a inviolabilidade dos direitos concernentes á liberdade, á segurança
individual e á propriedade (...)

33
§ 1.º A legislação do trabalho observará os seguintes preceitos, além de outros
que melhorem as condições do trabalhador: (...) h) assistência medica e sanitária ao
trabalhador e à gestante, assegurado a este descanso antes e depois do parto, sem
prejuízo do salário e do emprego, e instituição de previdência, mediante contribuição
igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da
maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte; ”

Outros dispositivos da Constituição de 1934 fazem referência ao direito à saúde.


Por esse motivo, essa Carta costuma ser apontada como a que conferiu maior tratamento
ao tema, até o advento da Constituição Federal de 1988.

A Constituição de 1937 manteve a obrigação de a legislação trabalhista proteger


a saúde dos trabalhadores. Quanto à competência legislativa em matéria de saúde,
restringiu essa atribuição à União, deixando, contudo, a possibilidade de delegação aos
Estados.76

1.1.7. Direito à saúde na Constituição Moçambicana

O Direito da Saúde corresponde a um conjunto de normas de direito privado e


público, com objectivo principal de promoção da saúde humana, quer considerada na
perspectiva da prestação de cuidados individuais, quer enquanto bem de uma
comunidade.

A Constituição da República de Moçambique (CRM 2004), no capítulo V


referente aos direitos sociais garante, no artigo 89, a todo cidadão o direito a saúde.
Estes fazem parte do chamado grupo de direitos fundamentais de segunda geração 77, “os
direitos sociais, culturais e económicos”, que estão ligados intimamente a direitos de
prestações sociais do Estado perante o indivíduo, bem como a assistência social,
educação, saúde, cultura e trabalho.

76
Art. 137. A legislação do trabalho observará, além de outros, os seguintes preceitos: (...) l) assistência
medica e higiénica ao trabalhador e á gestante, assegurado a esta, sem prejuízo do salário, um período
de repouso antes e depois do parto; Art. 16. Compete privativamente á União o poder de legislar sobre
as seguintes matérias: (...) XXVII - normas fundamentais da defesa e proteção da saúde, especialmente
da saúde da criança.
77
Os direitos Fundamentais são classificados em gerações, sendo os da primeira geração
correspondentes aos direitos clássicos civis e políticos; os direitos sociais, económicos e culturais
correspondem a segunda geração; os de fraternidade e solidariedade em que se inclui à paz, meio
ambiente, património, etc correspondem a terceira geração e por último os da quarta geração que se
referem a institucionalização do Estado Social e compreende o direito à democracia, à informação e ao
pluralismo.

34
Moçambique é considerado como um dos países mais pobres e menos
desenvolvidos do mundo,78 com uma população estimada de 28.943.604 habitantes (em
setembro de 2016).

Em Moçambique, a assistência é feita por meio do Sistema Nacional de Saúde (SNS)


que beneficia todo o povo moçambicano tal como disposto na lei79 e o Estado
responsabiliza-se pelo acesso aos serviços de saúde para todos os moçambicanos. 80 , no
entanto o alcance do Serviço Nacional de Saúde é reduzido nas zonas rurais
comparativamente a zona urbana. (12)

O Sistema Nacional de Saúde funciona na base de gratuidade para um conjunto


de serviços de saúde e uma taxa simbólica para internamento e tratamento ambulatório,
que pelo nível de pobreza, falta de fontes de rendimento estáveis e conjugado com os
níveis de desemprego no país, os valores instituídos pelas taxas nos serviços de saúde,
por mais baixos que sejam afectam o acesso aos serviços de saúde, na medida que essa
taxa é acrescida a outros custos tais como medicamentos, consulta, transporte e
alimentação.

Para garantir que as pessoas em sociedade possam desfrutar do mais elevado


nível possível de saúde, os direitos humanos impõem aos Estados três níveis de
obrigações,81 nomeadamente obrigação de respeitar, proteger e cumprir ou implementar
o direito à saúde. A obrigação de respeitar o direito humano à saúde obriga o Estado a
não interferir ou negar o gozo do direito; o direito de proteger exige que o Estado deve
prevenir e assegurar que terceiros não impeçam a realização do direito à saúde82 e o
dever de cumprir requer que o Estado seja proactivo na garantia do acesso aos cuidados

78
Segundo dados divulgados em 2010, no período de 2008/2009, de 21,5 milhões de pessoas em
Moçambique, 55% da população vivem abaixo da linha de pobreza com cerca de meio dólar americano
por dia. Vide Ministério de Planificação e Desenvolvimento (MPD), Direcção Nacional de Estudos e
Análises de Politicas, (2010) Terceira Avaliação Nacional sobre Pobreza e Bem-Estar em Moçambique,
p. xiii; MISAU (2013) Plano Estratégico da Sector da Saúde 2014-2019, Ministério da Saúde (PDC), p.
12.
79
Art. 116 nº1 da CRM 2004 e art. 1 da Lei2/77, de 19 de Janeiro referente ao Lei do Sistema Nacional de
Saúde (SNS), que estabelece que são gratuitas as acções sanitárias de carácter profiláctico [sem no
entanto indicar na lei as situações que se enquadram nesse carácter], no art. 2 determina que “todo o
cidadão tem direito à assistência médica e medicamentosa gratuita quando em regime de internamento” e
no art.º 6 fixa que a gratuidade no tratamento ambulatório é estabelecida para os medicamentos
considerados básicos. Vide art.º 1 nº1 & nº2 da Lei 4/87, de 19 de Janeiro, que trouxe algumas alterações
a Lei do Sistema Nacional de Saúde, em particular ao seu art.º 1
80
Art.º 49 da CRM.
81
CDESC Comentário Geral Nº. 14 Paragrafo 33.
82
Esta obrigação pode ser cumprida através de medidas legislativas e monitoria dos serviços de saúde
em caso de terceirização ou privatização dos serviços de saúde.

35
de saúde, providenciando por exemplo um número suficiente de unidades hospitalares e
centros de saúde, em particular para as zonas rurais que mais necessitam.

No que concerne a obrigação de implementação do direito à saúde, as obrigações


do Estado com relação ao direito à saúde, consistem em:83

 Reconhecimento adequado do direito à saúde na legislação e políticas


nacionais;
 Acesso em termos de igualdade e sem discriminação, a todos factores
determinantes de saúde, tais como alimentação, água potável, saneamento
básico, habitação adequada;
 Providenciar nas Unidades Hospitalares Públicas serviços de saúde sexual e
reprodutiva;
 Formar adequadamente do pessoal de saúde (médicos e outros);
 Providenciar número suficiente de hospitais, clínicas e centros de saúde e
outras unidades de saúde relacionadas;
 Estabelecer instituições de aconselhamento e serviços de saúde mental.

De acordo com os princípios de Limburgo, 84 os Estados devem tomar medidas


legislativas, administrativas, judiciais, económicas, sociais e educacionais e se
necessário criar espaço para que medidas judiciais para reparação ou restituição do
direito violado. Com relação ao direito à saúde, o Comité dos Direitos Económicos e
Sociais determina que os Estados têm no mínimo que cumprir as seguintes obrigações
essenciais: (i) garantir o acesso a unidades hospitalares (centros de saúde ou outros),
bens e serviços; (ii) Providenciar medicamentos essenciais tal como definidos pela
OMS e (iii) garantir uma distribuição equitativa das unidades, bens e serviços de
saúde.85

Como afirmado, o Estado moçambicano não ratificou o PIDESC, contudo


dedicou um capítulo na Constituição da República que reflecte os princípios e normas
do PIDESC,86 e ainda, como membro da ONU, para além de estar obrigado a não agir

83
CDESC Comentário Geral Nº. 14 Parágrafo 37.
84
São princípios elaborados em 1986 pela Comissão Internacional de Juristas que ilustram as
obrigações dos Estados relacionados com os direitos económicos, sociais e culturais resultantes do
PIDESC.
85
CDESC Comentário Geral Nº. 14 paragrafo 43, alínea a), d) e c).
86
Vide Capitulo V, Direitos e Deveres Económicos, Sociais e Culturais; Vide Relatório de Moçambique
(2016) no âmbito do Mecanismo de Revisão Periódica Universal (MRPU) no período de 2011 a 2016 p.3.

36
em sentido diverso ou contra os demais instrumentos, acaba indirectamente por ficar
abrangido pelos padrões, princípios e quadro normativo daquele organismo no que
concerne aos direitos humanos, uma vez que funciona de forma integrada com as suas
várias agências e com a OMS em particular, do qual o país é membro. A ONU fixou em
2003 um entendimento comum sobre a abordagem baseada nos direitos humanos, 87 com
vista ao desenvolvimento e um conjunto de ferramentas que constituem a base do
direito à saúde que gira em torno de 4 critérios: o da disponibilidade, acessibilidade,
aceitabilidade e qualidade (DAAQ).

Pelo critério da disponibilidade considera-se que Estado cumpre com o direito à


saúde quando providencia serviços de saúde pública, instalações, bens e serviços de
saúde disponíveis e funcionais em quantidade suficiente, com profissional qualificado e
com medicamentos considerados essenciais conforme os padrões e directivas da OMS. 88
Com relação a este critério, não é necessário uma lupa, para avaliar a situação do direito
a saúde em Moçambique, porque existem vários relatórios 89 e estudos que revelam que
o país ainda não tem unidades hospitalares e sanitárias suficientes para a população. As
unidades existentes não dão resposta às necessidades da população, faltam médicos e
pessoal suficiente, quantidade insuficiente e funcionamento deficiente dos laboratórios
quer por falta de técnicos e quer por falta de instrumentos de trabalho, escassez de
medicamentos essencias e em alguns casos os custos associados.

Com relação ao critério da acessibilidade, é analisado nas suas quatro


dimensões, nomeadamente discriminação, acessibilidade física, económica e acesso à
informação. As instalações, bens e serviços de saúde devem ser acessíveis para todos no
país sem discriminação, em particular para as populações mais vulneráveis e
marginalizadas. Para a dimensão da acessibilidade física as instalações, bens e serviços
de saúde devem estar a uma distância de acesso seguro para todos os segmentos
populacionais e com acesso para pessoas com deficiência. Com relação a acessibilidade
económica, os serviços devem ser economicamente acessíveis para todos incluindo os

87
Reafirmada pelo Secretário Geral da ONU em 2008, através da Policy Decision 2008/18 que
recomendou a OMS e a as Agencias da ONU que trabalham na área da saúde para continuarem a reforçar
a sua capacidade para integrar a abordagem baseada nos direitos humanos e advogar para os direitos
humanos relacionados com a saúde.
88
CDESC Comentário Geral número 14 paragrafo 12, alínea a).
89
Relatório de Moçambique no âmbito do MRPU (2016), p. 9.

37
grupos mais empobrecidos. O acesso às instalações e serviços de saúde são em princípio
gratuitos em Moçambique.90

E por último, a dimensão do acesso a informação que implica o direito de


procurar, receber e transmitir informação relacionada com a saúde. O Ministério da
Saúde-MISAU tem feito campanhas visíveis sobre os problemas de saúde, o que é
preciso aferir e se essa informação é devidamente recebida e transmitida tendo em conta
as barreiras culturais e linguísticas e bem como tendo em conta a relação médico
paciente e pessoal de saúde e se estes não constituem a principal barreira na transmissão
da informação.91

Para o critério da aceitabilidade, que se refere ao respeito pela ética médica,


requisitos culturalmente apropriados, sensíveis ao género e às condições do ciclo da
vida,92 podemos realçar que as condições de atendimento, as enchentes e as longas filas
de espera, associado ao cansaço do pessoal de saúde, muitas vezes tem criado
dificuldades e constrangimento que resultam no mau atendimento, algumas vezes
involuntário e colocando em risco a confidencialidade dos utentes.93

Pelo critério da qualidade, os serviços e bens de saúde devem ser científicos e


medicamente apropriados e de boa qualidade, 94 constituíndo obrigação do Estado o
estabelecimento de um sistema regulatório para verificar a segurança e qualidade dos
serviços e bens, tendo em conta o risco de falsificação.

A recente avaliação de Moçambique no último relatório do Mecanismo de


Revisão Periódica Universal da ONU, o acesso da população aos serviços e
profissionais de saúde é limitado, com apenas 36% da população com esse direito
garantido, mesmo assim em um espaço de 45 minutos a pé de distância e a ratio de
profissionais de saúde/população é de 5.6 médicos para 100.000 habitantes. 95 Esses
dados dizem muito sobre a situação e do caminho que se tem que percorrer para a
realização do direito á saúde em Moçambique.
90
Sujeitos a uma taxa mínima, incluindo serviços de internamento hospitalar nos termos da Lei 2/77 de 27
de setembro de 1977. (Lei que regula a criação de taxas de internamento hospitalar).
91
CDESC Comentário Geral Nº. 14 paragrafo 12, alínea b)
92
CDESC Comentário Geral Nº. 14 paragrafo 12, alínea c).
93
Não constitui novidade e existem relatos de pessoas que foram atendidas em condições que não
permitem o respeito pela confidencialidade, em particular doentes de HIV/SIDA.
94
Não constitui novidade e existem relatos de pessoas que foram atendidas em condições que não
permitem o respeito pela confidencialidade, em particular doentes de HIV/SIDA.
95
Relatório de Moçambique (2016) no âmbito do Mecanismo de Revisão Periódica Universal (MRPU), p.
9.

38
1.1.8. Direito à saúde na Constituição da Guiné-Bissau

Pela primeira vez, o gozo mundial do direito à saúde foi plasmado na


constituição da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1946, como sendo um
direito fundamental de todos os seres humanos sem distinção de raça, religião,
convicção política, condição económica ou social. E em 1974 a Guiné-Bissau tornou-se
membro da mesma (UNIOGBIS-Secção de Direitos Humanos/ACNUDH)96.

Depois do golpe militar de 1980, o regime militar perdurou até 1984, ano em
que uma nova Constituição foi aprovada, tendo o país a um regime civil. A partir desse
momento, teve lugar uma mudança política que criou oportunidades para reformas na
CRGB. Neste sentido, os diferentes setores, em especial a saúde, tornaram-se livres para
o desenvolvimento de uma abordagem própria.

Outrossim, a Carta Africana sobre os Direitos do Homem e dos Povos de 1986,


no seu art.º 16.º exige ao Estados membros e adoção das medidas necessárias para
proteger a saúde e Protocolo da Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos,
Relativo aos Direitos das Mulheres em África, a assistência médica e os cuidados de
saúde necessários (art.º 14.º), o direito das mulheres e direitos reprodutivos (art.º 14.º e
5.º), ambos do protocolo supracitado. No âmbito nacional, a (CRGB) consagra o direito
à saúde na égide do art.º 15.º, embora não de uma forma clara. Todavia podemos
recorrer ao art.º 29.º da mesma para aplicar os princípios internacionais de proteção a
saúde97.

Entretanto, quando se fala do Sistema Nacional de Saúde importa frisar que o


Ministério da Saúde pública (MINSAP) faz parte da Secretaria de Estado da
Administração Hospitalar e do departamento governamental, que está incumbido da
tarefa de: formular, propor, coordenar e constituído em secretaria geral, inspeção geral
de saúde pública, Instituto Nacional de Saúde pública (INASA), o Centro de Compra de
Medicamentos Essenciais (CECOME) incluindo 11 do sistema de saúde e a
Administração de instituições de saúde98.

O Sistema Nacional de Saúde (SNS) guineense tem três níveis: local, regional e
central. Na base estão as estruturas de iniciativas comunitárias (Unidades de Saúde de
96
UNIOGBIS (2017). Secção de Direitos Humanos. ACNUDH. 2021.
97
Protocolo à Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos (2016), Relativo aos Direitos das
Mulheres em Africa. 2021.
98
UNIOGBIS (2017). Secção de Direitos Humanos. ACNUDH 2021.

39
Base apoiadas pelos agentes de saúde comunitária e parteiras tradicionais) que
constiuem o maior número de estruturas de prestação de cuidados de saúde. Ainda a
nível local, existem os Centros de Saúde cuja nomenclatura A, B e C os distingue
quanto à sua capacidade de intervenção (cuidados mais ou menos complexos como, por
exemplo, a realização de cirurgia nos centros de saúde A). Estes Centros de Saúde
podem ainda ser classificados em rurais e urbanos. Os centros de saúde são geridos
pelas Equipas Técnicas e pelos Comités de Gestão e a sua área de cobertura é estendida
através das equipas movéis da estratégia avançada99.

1.1.9. Direito à saúde na Constituição de São Tomé e Príncipe

A saúde em São Tomé e Príncipe (STP) enfrenta sérios problemas de natureza


estrutural, agravados por um contexto de pobreza generalizada, carência de estruturas
básicas de saneamento e água potável. O mesmo sistema replica ao seu nível e nas
diversas instâncias a carência de recursos humanos com competências de gestão, as
deficiências de governabilidade politica, que determina a mudança frequente dos
governos e ministros, e acaba por agravar a situação, impossibilitando a constituição de
um património de memória do sistema que impeça a repetição de erros (Freitas, at.al.
2010).

Após a independência em 1975, o sistema de saúde de STP sofreu algumas


alterações. Se por um lado manteve a estrutura sanitária do período colonial, com os
hospitais dentro das principais roças, por outro lado institucionalizaram-se serviços de
saúde pública de natureza preventiva, assegurada pelo Estado a nível dos distritos100.

Contudo, esta organização do sistema de saúde viria a revelar-se bastante frágil.


No início da década de 90 com a segunda Republica101 , iniciou-se o processo de
privatização das unidades produtivas agrícolas. Ao mesmo tempo verificou-se uma
compressão das despesas sociais em resultado da aplicação do Programa de
Ajustamento Estrutural (PAE). Este programa teve início em 1987, com um primeiro
apoio financeiro de 17 milhões de dólares do Banco Mundial com vista á reabilitação do
cacauzal, á diversificação da produção agrícola e a manutenção da floresta.

99
MINSAP (Ministério da Saúde Pública da República da Guiné-Bissau). (2007). Plano Nacional de
Desenvolvimento Sanitário II 2008-2017.
100
Cardoso, MANUEL, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe: Educação e Infraestruturas como factores de
desenvolvimento, Porto, Edições Afrontamento, 2007, p. 221.
101
A primeira república abrange o período do monopartidarismo, entre 1975 e 1991. A segunda
república inicia-se em 1991 e mantem-se até á atualidade.

40
Este programa tinha os seguintes objetivos:

 A estabilização macroeconómica;
 A realização de reformas estruturais;
 A melhoria da gestão do sector público;
 A reforma do sistema financeiro;
 A proteção aos grupos sociais mais vulneráveis ao impacto do PAE.

Assim, em 1998 iniciou-se um processo de Reforma do sector de saúde. Esta


reforma teve os seus princípios orientadores em políticas consubstanciadas no Programa
de Politica Nacional de Saúde, 1999, na Carta Sanitária de 2000 e o Plano de
Desenvolvimento Sanitário.

Mas, alguns fatores têm no entanto condicionado o processo de reforma, no seu


todo. Salienta-se a descontinuidade governativa, a falta de revisão e de adequação da
legislação, a ausência de um sistema de informação de gestão, bem como a falta de
recursos humanos qualificados.

São Tomé e Príncipe não dispõe de um sistema de informação e vigilância


sanitária, apesar da reforma do sector da saúde e dos documentos que a suportam. A
informação de saúde aparece dispersa, é de má qualidade e não universal; diz respeito
apenas aos programas que têm os seus próprios mecanismos de recolha de informação.
Por tudo isso, a análise de alguns indicadores que a seguir são apresentados, deverão ser
feitas com as devidas cautelas.

A Constituição da República de São Tomé e Príncipe, consagra no seu Títuto III


os Direitos Sociais e Ordem Económica, social e cultura, não obstante, consagra no seu
artigo 50-º Direito à protecção da saúde.102

1.2. O Sistema Africano de Protecção Internacional dos Direitos Humanos e dos


Povos

A necessidade de protecção dos direitos humanos em África decorre de


circunstâncias históricas específicas tais como a descolonização, a luta
102
(CRSTP). N.º 1. Todos têm direito à protecção da saúde e o dever de a defender.
N.º 2. Incumbe ao Estado promover a Saúde Pública, que tem por objectivo o bem-estar físico e mental
das populações e a sua equilibrada inserção no meio sócio-económico em que vivem, de acordo com o
Sistema Nacional de Saúde.
N.º 3. É permitido o exercício da medicina privada, nas condições fixadas por lei.

41
autodeterminação dos povos e também pelo direito à não discriminação, e a concepção
de um novo projecto de desenvolvimento económico-social.103 104
Estes temas
dominaram os trabalhos da Organização da Unidade Africana, desde 1963 (data da sua
criação, através de uma Carta), que se transformou em União Africana em 2002, até ao
final da década de 70. Em 1978, a ONU, através da sua Comissão de Direitos Humanos
incentiva e apela aquela organização à criação de um comissão regional de direitos
humanos. Em 1979, começava a preparar-se o projeto de Carta Africana de Direitos
Humanos. Os paíse africanos estavam divididos devido às suas concepções políticas de
base.105

A Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos (CADHP) seria adoptada
em 27/06/1981, em Nairobi, no Quénia, pela Conferência de Chefes de Estado e de
Governo da Organização dos Estados Africanos. Inspirada na DUDH, nos Pactos da
ONU e na CEDH, ela não deixaria de ter peculiaridades, tais como a referência aos
“valores” africanos, à concepção africana do Direito e de direitos humanos, a inovação
dos “deveres”106 a par do reconhecimento de novos direitos. Ratificada por todos os
Estados Membros da União Africana, 53 Estados, preenche uma lacuna em matéria de
proteção de direitos humanos em África.

O quadro normativo da Carta distingue por um lado, os direitos humanos


propriamente ditos, nos quais se incluem os direitos civis e políticos (artigos 2.º a 14.º
da CADHP) e também os direitos económicos sociais e culturais (15.º a 18.º), cujo
reconhecimento “é bastante modesto”,107 e por outro lado, os direitos dos povos (artigos
19.º a 26.º també, da CADHP). Estes últimos não considerados como uma categoria de
direitos humanos, podem explicar-se por razões históricas, especificamente ligadas ao
colonialismo. Destacamos de entre estes, o direito ao desenvolvimento (artigo 22.º e
103
O artigo de Isaac NGUEMA, Violence, Droits de l´Homme ete Développement en Afrique, in,
Protection des Droits de l´Homme: la perspective européenne, Carl Heymanns Verlag KG, 2000, pp.
993-1019.
104
Marcolino MOCO, Direitos Humanos,e seus Mecanismos de Protecção – As particularidades do
sistema africano, Almedina, Coimbra, 2010, p. 135.
105
Ana M. G. MARTINS. Direito Internacional dos Direitos Humanos, 1ª Edição, Almedina, Coimbra,
2017, pp. 300 e 301.
106
A concepção africana do homem não é a de um indivíduo isolado e abstrato, mas um membro
integrante de um grupo animado por um espírito de solidariedade e de dever. A dialética africana é
nenhum direito sem deveres. Cfr. de, Makau W. Mutua, The Banjul Charter and The African Cultural
Fingerprint: an evolution of Language of Duties. Virginia Journal of International Law, vol. 35 (1995),
pp. 359-364 e ainda, sobre A natureza Jurídica dos deveres individuais na Carta Africana, de Luciana
Figueiredo MAIA, in, Direitos Humanos em África, José de Melo ALEXANDRINO (coord.), Coimbra
Editora, Coimbra, 2011, pp. 145-194.
107
Afirmação de Ana M. Martins, na ob. Cit., Direito Internacional…, pp. 305.

42
parágrafos 3º e 4º do Preâmbulo). A Carta assume-se assim como a primeira a
reconhecer o direito ao desenvolvimento, como um direito humano e dos povos.

Em11/07/03 foi aprovado em 2003, um Protocolo à CADHP sobre os Direitos da


Mulher em África. Diga-se que a luta pela não discriminação, preocupação aliás bem
expressa no seu artigo 2.º, o direito à dignidade, vertido no artigo 3.º, o direito à vida, à
integridade física e à segurança, conteplados no artigo 4.º, e a natural inquietude face à
mutilação genital feminina, muito comum em África, presente na proibição do artigo
5.º/b) espelham alhuns dos objectivos explícitos neste instrumento.108

Retornando à Carta Africana, fica ainda por explicar que a autonomização dos
deveres individuais, não apenas em relação ao próximo, mas também em função da
comunidade, na linha da tradição africana (artigos 27.º a 29.º), constitui uma ruptura
com a concepção ocidental dos direitos do homem. A cláusula geral de limitação (artigo
27.º/2),109 incluída no capítulo dos deveres, aplica-se genericamente a todos os direitos,
deixando ao Estado uma larguíssima margem de apreciação, pois será sempre possível
encontrar um fim legítimo e justificativo, da sua ingerência nos direitos e liberdades do
indivíduo. Deste modo, os direitos e liberdades exercem-se no respeito dos direitos de
outrem, da segurança colectiva, da moral e do interesse comum. A CADHP não previu
uma cláusula de reservas (ou de derrogação de certos direitos), o que pode ser visto de
dois prismas, o do reforço da proteção dos direitos, que serão todos inderrogáveis,
mesmo em casos excepcionais, ou simplesmente, admitir-se a sua imperfeição técnica,
não obstante estarem já os Estados em causa, sujeitos ao regime das reservas previsto na
Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados.110

O direito à saúde vem previsto no artigo 16.º da CADHP e vem enunciado


parcimoniosamente em comparação com as fontes universais. Possui em si dois
preceitos. O primeiro atribui a toda a pessoa, o direito ao gozo do melhor estado de
saúde física e mental que for capaz de alcançar, ou melhor, estabelece um direito
subjetivo aos indivíduos. O segundo determina que os Estados-Partes se comprometem
a tomar medidas para proteger a saúde das populações, assim como a garantir
108
A Carta Africana sobre os Direitos e Bem-Estar da Criança, adoptada pela Organização da Unidade
Africana espelhava já tais preocupações. No seu artigo 3.º proibia-se a não discriminação, no seu artigo
14.º erigia-se o direito à proteção da saúde da criança, no seu artigo 16.º expressava-se a preocupação
com o combate à tortura infantil. O artigo 21.º, deixa clara a proibição de práticas culturais nocivas.
109
Elias KASTANAS, Unité et Diversité: notions autonomes et marge d´appreécciation des Etats dans la
jurisprudence de la Cour Européenne des Droits de L´Homme, Bruxelas, 1996, pp. 70 e ss.
110
Na realidade apenas a Zâmbia e o Egito formularam reservas. Em www.gddc.pt

43
assistência médica aos doentes. Relativamente ao número primeiro a Carta “quase que
se afasta do mundo jurídico para estabelecer uma proclamação destituída de qualquer
grau de vinculatividade.”111 Quanto ao número segundo, parece que a Carta contêm um
dever segundo o qual o Estado deve prover meios de promoção e proteção da saúde da
população. Nesse caso, estamos diante da vertente social, logo, prestacional do direito à
saúde, dependente da interpositio legislatoris.112

Keba Mbayé, artífice da Carta africana entende que esse dever imposto aos
Estados dificilmente será respeitado. Esperar que um Estado africano em
desenvolvimento, que não detém recursos sequer para fornecer as suas atividades mais
essenciais e elementares, vê-se na impossibilidade de poder implementar e levar a cabo
políticas sociais, especialmente no que toca à saúde, que como sabemos é um sector
muito delicado para a realidade africana.113 Fatsah Ouguergouz assevera que o respeito
por este preceito depende dos meios materiais que os Estados africanos, na sua maioria
não dispõe114, reiterando que de facto, esta disposição tem um caráter mais programático
que executório.

A Carta, na sua versão originária, institui somente um mecanismo de controlo não


jurisdicional, criando um órgão de tutela – a Comissão Africana dos Direitos do
Homem (artigo 30.º), para ser promotora dos direitos humanos, assegurando a sua
proteção em África (artigo 30.º), com a competência prevista no artigo 45.º, podendo
emitir pareceres e recomendações aos governos, interpretando todas as disposições da
CADHP. Tem desempenhado um importante papel neste domínio, designadamente em
matéria de saúde, tendo já tido oportunidade para emitir comunicações que constituem
verdadeiros atestados de mérito, acerca da violação do direito à saúde, à vida, à
integridade física.115
111
Arthur Maximus MONTEIRO, Lugar e natureza jurídica dos direitos económicos, sociais e culturais
na Carta Africana dos Direitos do Homem e dos Povos, in, Direitos Humanos em África, José de Melo
ALEXANDRINO (coord.), Coimbra Editora, Coimbra, 2011, p. 54.
112
U. Oji UMOZURIKE, The African Charter on Human and People´Rights, Kluwer Law International,
Den Hagen, 1997, pp. 47.
113
Les Droits de l´Homme en Afrique, 2.ª Ed., Pedone, Paris, 1992, pp. 207.
114
Na obra, La Charte Africaine des Droits de l´Homme et des Peuples. Une Approche juridique des
droits de l´homme entre tradition et modernité, PUF, Genève, 1993, pp. 123-124. O autor, classifica o
direito à saúde como uma obrigação de meio, o que nos parece profundamente errado. É certo que, de
acordo com a CADHP representa um dever do Estados africanos, mas quando concretizado por estes e
densificado o seu conteúdo, de modo a que a população possa usufruí-lo, aí e só aí, surge uma obrigação
de meio.
115
Comunicações da Comissão Africana dos Direitos Humanos, números: - 25/89, 47/90, 56/91, 100/93,
de 1995, Caso Free Legal Assistence Group and others vs. Zaire, condenação deste último por violações
massivas dos direitos humanos, incluindo o direito à saúde, previsto no artigo 16.º da CADHP; Com.

44
O reforço do papel da Comissão de Direitos Humanos e dos Povos, só estaria
completo com um sistema jurisdicional de controlo, o que sucederia com a criação do
Tribunal Africano dos Direitos do Homem e dos Povos. Nascido através de um
protocolo adicional à CADHP, também apelidada de Carta de Banjul, foi adoptado em
1998, e está a vigorar desde 2003, uma vez alcançadas as 15 ratificações necessárias.

O Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos, tem competência para
conhecer de todos os processos e diferendos que lhe forem submetidos e que digam
respeito à interpretação e aplicação da CADHP e do seu protocolo, e ainda, de qualquer
instrumento internacional relativo a direitos humanos “pertinente”, que tenha sido
ratificado pelos Estados em causa.116 A doutrina diverge quanto à expressão “qualquer
instrumento pertinente”, sendo para alguns a competência deste Tribunal, extensiva a
todas as Convenções Internacionais de Direitos Humanos de que os Estados sejam
parte, enquanto que para outros, aquela expressão indicia uma limitação de competência
do Tribunal às Convenções que lhe atribuírem expressa e inequivocamente jurisdição.117

O Tribunal goza de competência consultiva (nos termos do artigo 4.º do Protocolo


à CADHP) podendo emitir pareceres sobre qualquer questão jurídica relativa à Carta, ou
outro Instrumento Internacional de Direitos Humanos ratificado pelo Estado infractor.
Dispõe também de competência contenciosa indireta (depois do caso estar decidido pela
Comissão), que lhe atribui a faculdade de exame de queixas da própria Comissão, dos
Estados a esta, do Estado cujo nacional é vítima de violação de direitos, e das
Organizações Intergovernamentais Africanas. O indivíduo não tem legitimidade para
passar da Comissão ao Tribunal. A competência direta, sem passar pelo crivo da
Comissão, só sucede se o Estado alegadamente infractor reconhecer, por meio de uma
declaração adicional, a jurisdição do Tribunal para examinar petições individuais entre
os indivíduos e as Organizações não Governamentais com estatuto de observador junto
da Comissão. Só assim existirá legitimidade ativa diretamente junto do tribunal (sem
155/96, de 2001, Caso Serac vs. Nigéria, constatação da violação dos artigos 16.º, 21.º, 24.º da Carta pela
Nigéria; Com. 54/91, 61/91, 98/93, 164/97, 196/97, 210/98, de 2000, Caso Malawi African Association
and others vs. Mauritânia, em que a Comissão comprova a violação dos direitos à saúde, à vida, à
alimentação, entre outros. Vide também a Com. 241/200, de 2003, Caso Purohit and Moore vs. Gâmbia,
com a condenação pela Comissão, em virtude da violação dos direitos humanos essenciais e de primeira
geração, do regime geral da Gâmbia aplicável aos enfermos mentais. Esta é a primeira decisão de mérito
da Comissão a dar substância ao preceituado no artigo 16.º da Carta.
116
Ana Maria Guerra MARTINS, ob. cit., pp. 309.
117
Neste sentido, Ana M. Martins na mesma ob. cit. antes, Direito Internacional...pp. 309, citando ainda
em nota de rodapé n.º 711, a obra de Cristof Heyns, Le Rôle de la Future Cour africaine des Droits de L
´Homme e des Peuples, in L´Application Nationale de la Charte Africaine des Droits de L´Homme e des
Peuples, Jean-François Flauss/Elisabeth Lambert-Abdelgawad (dir.). Bruyland, 2004, pp. 241.

45
passar pela Comissão). Neste caso, o Tribunal pode conhecer o litígio ou transmiti-lo à
Comissão.118

Esta prática reduz a credibilidade do sistema. Junte-se a ela o minimalismo da


Carta de Banjul, pouco protetora dos direitos humanos dos cidadãos africanos, a
ingerência excessiva destes Estados, na esfera subjetiva e claro, a inexistência de
referências à palavra “democracia”, para nos depararmos com um tímido sistema de
proteção internacional de direitos humanos.119

1.3. A necessidade do direito à saúde como elemento do princípio da dignidade da


pessoa humana

Para melhor entendimento do conceito de dignidade cumpre-nos viajar à


filosofia de Kant, segundo a qual no reino dos fins tudo tem um preço ou uma
dignidade. Aquilo que tem um preço pode muito bem ser substituído por qualquer outra
coisa equivalente. Daí a idéia de valor relativo, de valor condicionado, porque existe
simplesmente como meio, o que se relaciona com as inclinações e necessidades gerais
do homem e tem um preço de mercado, enquanto aquilo que não é um valor relativo, e é
superior a qualquer preço, é um valor interno e não admite substituto equivalente, é uma
dignidade, é o que tem uma dignidade120.

Correlacionados assim os conceitos, vê-se que a dignidade é atributo intrínseco,


da essência, da pessoa humana, único ser que compreende um valor interno, superior a
qualquer preço, que não admite substituição equivalente. Assim a dignidade entranha e
se confunde com a própria natureza do ser humano121.

1.3.1. Pessoa humana

A filosofia Kantiana mostra que o homem, como ser racional, existe como fim
em si, e não simplesmente como meio, enquanto os seres, desprovidos de razão, têm um
valor relativo e condicionado, o de meios, eis por que se lhes chamam coisas; 122 “ao

118
Diez DE VELASCO, Instituciones de Derecho Internacional Público, 17.ª Edición, Tecnos, Madrid,
2007, pp. 704-707.
119
Vide as críticas e apontamentos de Keba Mbaye, Les Droits de l´Homme en Afrique, 2.ª Ed., Paris,
Pedone, 2002.
120
Emmanuel KANT, Fondements de la Métaphysique des Moeur, Traduzido por Victor Delbos, Librairie
Philosophique J. Vrin, París, 1992. Pp. 112-113.
121
José Afonso da SILVA, “A Dignidade da Pessoa Humana Como Valor Supremo da Democacia”, s.d p.
91.
122
Emmanuel KANT, ob. Cit., p. 104.

46
contrário, os seres racionais são chamados de pessoas, porque sua natureza já os designa
como fim em si, ou seja, como algo que não pode ser empregado simplesmente como
meio e que, por conseguinte, limita na mesma proporção o nosso arbítrio, por ser um
objecto de respeito”.123 E assim se revela como um um valor absoluto, porque a
natureza racional existe como fim em si mesma.

Assim, o homem representa necessariamente sua própria existência. Qualquer


ser racional representa sua existência, em consequência do mesmo princípio racional
que vale também para mim, é, pois, ao mesmo tempo, um princípio objectivo que vale
para outra pessoa. Daí o imperativo prático, posto por Kant: “Age de tal sorte que
consideres a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre
e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio”.124

Disso decorre que os “seres racionais estão submetidos à lei segundo a qual cada
um deles jamais se trate a si mesmo ou aos outros simplesmente como meio, mas
sempre e simultaneamente como fins em si”.125 Isso porque, “o homem não é uma coisa,
não é, por consequência, um objecto que possa ser tratado simplesmente como meio,
mas deve em todas as suas acções ser sempre considerado como um fim em si”. 126 Isso,
em suma, quer dizer que só o ser humano, o ser racional, é pessoa.

Em estudo sobre a dignidade da pessoa humana, os Professores Claudete


Carvalho Canezin e José Sebastião de Oliveira discorrem de forma interessante sobre a
temática, ensinando que o princípio da dignidade da pessoa humana é o núcleo essencial
dos direitos fundamentais e a premissa fundamental de qualquer Estado que se queira
definir e assumir como Democrático. A garantia da dignidade da pessoa humana é a
fonte ética que confere unidade de sentido, de valor e de concordância prática ao
sistema dos direitos fundamentais. A dignidade, como se sabe, constitui-se num factor
primordial à formação da personalidade humana […].127

Para Clyton Reis e Wanderson Lago Vaz, a dignidade da pessoa humana


constitui-se em uma conquista que o ser humano realizou no decorrer dos tempos,

123
Ibidem.
124
Idem. p. 105.
125
Idem. p. 111.
126
Emmanuel KANT, ob. Cit., p.106.
127
Idem. Claudete Carvalho CANEZIN e José Sebastião de OLIVEIRA, “Da Responsabilidade Civil da
Dignidade da pessoa humana na sociedade conjugal”, Revita Jurídica Cesumar – Mestrado 7º Volume
(Jan/Jun 2007), pp. 149-179.

47
derivada de uma razão ético-jurídica contra a crueldade e as atrocidades praticadas pelos
próprios humanos, uns contra os outros, em sua trajetória histórica. O facto de o
princípio da dignidade da pessoa representar uma conquista do homem torna-se ainda
mais preciosa e mais merecedora de proteção do que se tivesse sido outorgada por uma
razão divina ou natural.128

Paulo Bonavides certifica que, quando hoje, a par dos progressos hermenêuticos
do direito e de sua ciência argumentativa, estamos a falar, em sede de positividade,
acerca da unidade da Constituição, o princípio que urge referir na ordem espiritual e
matéria dos valores é o princípio da dignidade da pessoa humana.129

O direito à saúde está intimamente relacionado ao princípio da dignidade da


pessoa humana. Segundo Rizzato Nunes “é ela a dignidade, o primeiro fundamento de
todo o sistema constitucional posto e o último arcabouço da guarida dos direitos
individuais”.130 Desse modo, o referido princípio contém em si todas as demais
características da vida do indivíduo, resguardando um núcleo mínimo de condições
necessários à realização de uma vida digna e concede autonomia à vontade de cada
pessoa. É mediante o Poder Judiciário que é assegurada a efectividade dos direitos
conferidos constitucional ou infra constitucionalmente, dessa forma, sem a adequada
prestação jurisdicional impede-se a realização de todos os valores ético-jurídicos que o
referido princípio visa garantir.131 O direito à saúde é essencial à dignidade da pessoa
humana, elemento sem o qual tal princípio deixa de ter fundamento.

128
Idem. Wanderson Lago VAZ e Layton REIS, “Dignidade da pessoa humana”. Revita Jurídica Cesumar
– Mestrado 7º Volume (Jan/Jun 2007), pp. 181-196.
129
Idem. Paulo BONAVIDES, Teoria Constitucional da democracia participativa: por um Direito
Constitucional de luta e resistência, por uma nova hermenêutica, por uma repolitização da legitimidade,
Almedina, Voimbra, 2001. p. 234.
130
Idem. L. A. R. NUNES, O princípio da dignidade da pessoa humana: doutrina e jurisprudência,
AAFDL, Lisboa, 2002. 45.
131
Idem. p. 46.

48
CAPÍTULO II – IMPLICAÇÕES JURÍDICAS DA MATERIALIZAÇÃO DO
DIREITO À SAÚDE NA PROVÍNCIA DE LUANDA

2. Aspectos gerais

Depois do que se estudou acima, viremos o ponteiro da nossa bússola para


Luanda que, como é sabido é o espaço da nossa pesquisa. Sendo Angola um Estado
Democrático e de Direito, os entes estatais têm empreendido vários esforços para
propiciar o real exercício dos direitos previstos na Constituição e demais leis, entre eles,
o direito à saúde, pois, o hospital não pode ser uma instituição de carácter fechada que
apenas uma parcela da população seja beneficiada com o sistema jurídico vigente,
entrentanto, apesar desse esforço, para a melhoria do acesso as unidades hospitalares
estaduais, várias barreiras foram encontradas e até hoje persistem, de tal forma que o
direito à saúde, apesar de apresentar muitas melhoriais, continua deficitário.

Ora, a Constituição da República de Angola vigente consagra no nº 1 do seu


artigo 77-º um direito fundamental, que é o “direito à saúde”, segundo o qual “ O Estado
promove e garante as medidas necessárias para assegurar a todos o direito à assistência
médica e sanitária, bem como o direito à assistência na infância, na maternidade, na
invalidez, na deficiência, na velhice e em qualquer situação de incapacidade para o
trabalho, nos termos da lei”.

49
Neste sentido, o Estado é responsável e tem a obrigação de garantir saúde e as
condições que tornam a vida de todos sustentáveis, garantindo assim o bem-estar dos
cidadãos como membros partícipes para o exercício pleno da sua cidadania. Ainda
pode-se constatar que o direito à saúde encontra respaldo legal na Lei de Base do
Sistema Nacional de Saúde nos seus artigos 1.º e 2.º.132

Uma vez, que o Estado queira ver-nos bem, por essa razão estatuiu na CRA no
paragráfo único do art. 30.º133 o respeito e a proteção do bem vida, pertencente a pessoa
humana e que este direito é inviolável a todo custo.

Nas palavras de Jõao Valeriano, vivemos num Estado Social e Democrático de


Direito, e o Estado tem a função de dar garantias e eficácia de alguns direitos aos
cidadãos, e, nisto, os direitos fundamentais revelam-se, já no próprio sentido da palavra,
como fundamentais e como pressupostos para a vida de qualquer ser humano, pois sem
estes, não há dignidade humana.134

O direito à saúde visa tutelar o bem da vida. Assim, o cidadão tem o direito
subjectivo a prestações existenciais mínimas que lhe garantam a manutenção da vida,
sendo um dever do Estado garantir a efectividade deste direito.135

O problema do nosso trabalho assenta sobre este grande direito, pese embora por
sua razão o nosso Estado tem evidado esforços para que o direito à saúde seja igual e
acessível para todos, o certo é que este direito não se tem materializado em sua
plenitude visto que a desigualdade económica ainda é um factor que constitui obstáculo
da materialização do direito à saúde pelas razões que abaixo apresentaremos e, ligados a
ela, estão outros impedimentos como é o caso da distância geográfica, humanização, a
morosidade no atendimento dos pacientes nos hospitais estatais e obstáculos
sócioeducacionais. Assim, não fugindo da ordem, começaremos por falar da
desigualdade económica por entendermos ser o principal factor, para, posteriormente
falarmos dos outros.
132
1. “O Estado promove e garante o acesso de todos os cidadãos aos cuidados de saúde nos limites dos
recursos humanos, técnicos e financeiros disponíveis; 2. A promoção e a defesa da saúde são efetuadas
através de atividades do Estado e de outros agentes públicos ou privados, podendo as organizações da
sociedade civil se associar àquela atividade; 3.Os cuidados de saúde são prestados por serviços e
estabecimentos do Estado ou com fins lucrativos; 4. A protecção da saúde constitui um direito dos
indivíduos e da comunidade, que se efetiva pela responsabilidade conjunta dos cidadãos da sociedade e
do Estado em liberdade de procurar e de prestação de cuidados nos termos da presente lei”.
133
“O Estado respeita e protege a vida da pessoa humana, que é inviolável”.
134
João VALERIANO, ob. Cit., p. 147.
135
Idem. p. 144.

50
2.1. A desigualdade económica

A convivência em sociedade faz com que inúmeros problemas venham a surgir


no quotidiano, trazendo a necessidade de um resultado mediante a um processo legal
eficiente. O direito à saúde deve ser tratado como um direito fundamental, logo se faz
imprescindível ser efectivamente protegido e garantido pelo Estado a todos os
indivíduos de forma igualitária. A protecção da vida136, e dos demais direitos deixou de
ser uma prerrogativa do homem, mas passou a ser da colectividade, isto é, do Estado,
tendo este garantido à assistência médica e sanitária.137

A efetiva liberdade necessária ao direito à saúde, enquanto direito subjectivo,


depende do grau de desenvolvimento de cada Estado. De facto, unicamente no Estado
desenvolvido socioeconómico e culturalmente o indivíduo é livre para procurar um
completo bem-estar físico, mental e social, o direito à saúde privilegia a igualdade. As
limitações aos comportamentos humanos são postas exatamente para que todos possam
usufruir igualmente as vantagens da vida em sociedade, para preservar-se a saúde de
todos é necessário que ninguém possa impedir outrem de procurar seu bem-estar ou
induzí-lo a a adoecer.

Todavia, nem todos os cidadãos dispõem de recursos e meios financeiros.


“Primeiramente, os custos dos fármacos representam um obstáculo para a
materialização do direito à saúde, à medida que boa parte dos pacientes não possuem
condições para arcarem com as receitas que lhes são dadas”. Como é evidente, entre os
cidadãos residentes nas zonas rurais, as dificuldades económicas são notórias, o que faz
com que encontrem bairreiras na materialização deste direito”. Ao andar pelas ruas da
cidade é possível visualizar desigualdade económica, onde muitas e muitas pessoas
encontram-se em condições de extrema pobreza.138 Em todos os centros é possível
encontrar pessoas nas ruas buscando o sustento para o seu dia, através de poucas
moedas que lhes são dadas no semáforo.

O povo de Luanda é maioritariamente pobre e, como vimos, a saúde está longe


de barata apesar de ser gratuita,139 porque nem sempre os hospitais tem recursos

136
Idem. Art. 30.º da CRA
137
Idem. Art. 77.º nº 1 da CRA
138
Pode-se afirmar que há pobreza quando famílias vivem com renda familiar per capita inferior ao nível
mínimo necessário para que possam satisfazer suas necessidades básicas para se adquar ao grupo social
em que vivem.

51
suficientes para atenderem a todos os cidadãos, beneficiando apenas os que já bem
sucedidos são, pese embora não é no seu todo mas tem sido uma margem preocupante.

Nos termos do nº 1 do artigo 196 da CRA “O Estado assegura, às pessoas com


insuficiência de meios financeiros, mecanismo de defesa pública com vista a assistência
jurídica e ao patrocínio forense oficioso, a todos os níveis” e art. 195º diz no seu nº 1
que “Compete à Ordem dos Advogados a assistência jurídica, o acesso ao direito e o
patrocínio forense em todos os graus de jurisdição.

Reiteramos que o procedimento de assistência judiciária está previsto pelo


Decreto-Lei nº 15/95 de 10 de Novembro, lei ordinária que delega à Ordem dos
Advogados a tarefa de regular e organizar o funcionamento da assistência judiciária,
que é uma forma de defesa pública dos cidadãos com poucos meios económicos de
forma gratuita.

A nos referirmos a (OAA), queremos levar ao cidadão de que não importa o


quão pobre seja, sempre a uma forma de ser assistido mesmo quando não se tem valores
monetários para pagar um Advogado por essa razão existe a Ordem dos Advogados em
Angola para solucionar o problema do mais necessitados.

Com tudo isso, a preocupação do Estado angolano para com os cidadãos (pobres
e ricos) no que diz respeito a implicação económica da materialização do direito à saúde
é visível, mas este é um longo processo que, para ser completamente eliminado tem-se
muito por trabalhar, pois a pobreza ainda continua a ser um grande problema para à
saúde em Angola, pelas seguintes razões que nos apresenta o Professor Boa Ventura de
Sousa Santos140:

a) Estudos mostram que os cidadãos de menores recursos financeiros tendem a


conhecer pior os seus direitos e, portanto, a ter mais dificuldades em
reconhecer como jurídico um problema que os afecte – ignoram quer os
direitos em jogo, quer as possibilidades da sua reparação jurídica141;

139
Art. 21.º al. f) da CRA “Constituem tarefas fundamentais do Estado: promover políticas que permitam
tornar universais e gratuitos os cuidados primários de saúde”.
140
Boa Ventura de Sousa SANTOS, Pela Mão de Alice: O Social e o Político na Pós-Modernidade,
Afrontamento, Porto, 1994, apud João António Fernandes PEDROSO, Acesso ao Direito e à Justiça: um
direito…, p. 146.
141
V.g. conclui-se que quanto mais baixo é o estrato social do consumidor, maior é a probabilidade que
desconheça os seus direitos no caso de compra de um produto defeituoso.

52
b) Mesmo reconhecendo o problema como jurídico, como violação de um
direito, é necessário que a pessoa se disponha a interpor a acção. Os dados
mostram que os indivíduos das classes mais baixas hesitam muito mais que
os restantes em recorrer aos tribunais, mesmo quando reconhecem estar
perante um problema jurídico.

Nos referimos ao acesso à justiça que vem previsto no artigo 29º e as remissões
acima citados da CRA, porque pessoas há, que mesmo sabendo que seu direito à saúde
está sendo violado pelo funcionário da saúde ou mesmo segurança, e uma vez que, se o
extrato socioeconómico do cidadão for mais baixo, menos provável é que conheça um
advogado ou que tenha amigos que conheçam advogados, menos provável é que saiba
onde, como e quando constituir o advogado para efetivamente ver o seu direito
protegido e defendido.

Para concluir este ponto os Professores Mauro Cappelletti e Bryant Garth afirmam
que “aqueles que possuem uma melhor condição financeira certamente obterão um
melhor resultado, pois conseguem arcar com custas do processo e constituir bons
advogados para defenderem suas causas”.142

2.2. A distância geográfica

Começaremos por definir a distância que será: intervalo entre dois pontos, dois
lugares, dois objectos, período de tempo que medeia entre dois factos, duas ocasiões ou
épocas…143

Já a distância geográfica é entendida como o comprimento do intervalo ou


caminho entre dois ou mais lugares. A distância é a marca de uma separação, sua
travessia requer necessariamente um gasto de energia.144

O acesso da população aos serviços de saúde é um pré-requisito de fundamental


importância para uma eficiente assistência à saúde. A localização geográfica dos
serviços é um dos fatores que interferem nessa acessibibilidade. 145 O direito à Saúde
engloba inúmeros factores e pode ser analisado sob abordangens diversas. O sistema
142
Mauro CAPPELLETTI e Bryant GARTH. ACESSO À…, p. 19.
143
“Dicionário de Língua Portuguesa”
144
Ibidem.
145
R. R. TEIXEIRA, A humanização e a atenção primária à saúde. Del Rey Editora. Belo Horizonte,
2005. p. 580

53
institucional de saúde, na prática diária, apresenta dificuldades que impedem a
satisfação das necessidades de assistência à saúde da totalidade da população. Um dos
factores que contribuem para essa situação é a inacessibilidade de numerosos grupos da
população aos serviços de saúde.

Para o desenvolvimento de uma área envolve o aparecimento de uma estrutura


complexa tanto do ponto de vista do uso do solo urbano em suas múltiplas funções
(residência, sector produtivo, serviços, lazer e outros) como do ponto de vista da
circulação de bens e pessoas em face dessas funções. Pode-se afirmar que existe, no
interior dessas áreas, uma estrutura de circulação cuja lógica e racionalidade estão em
estreita dependência da própria estruturação do tecido urbano com suas funções e
hierarquias, seu perfil populacional e sua adaptação relativa ao quadro natural
preexistente.146

Desta feita, a implicação geográfica deriva daqueles obstáculos naturais ou


gerados pela implantação urbana que orientam a organização desses fluxos numa dada
estrutura de circulação, e criam “distâncias relativas” que variam do nível local para o
regional.147

As implicações geográficas identificadas em Luanda foram: vias expressas com


alto fluxo de veículos, grandes áreas degradadas, trânsito lento, bairros sem acessos,
pontes degradadas e a presença de grandes áreas fechadas.

Em Luanda a distância geográfica é acrescentada à problemática exposta


anteriormente e essa representa uma implicação palpável entre o Centro de Saúde
estadual e o corpo social. É possível identificar localidades que são totalmente excluídas
em relação ao direito à saúde, muitas destas não tem sequer um posto Médico, para
tratar questões ou situações de urgências. Seus indivíduos mostram-se invariavelmente
ignorantes para identificar situações em que seus direitos são lesados pelo Estado.

2.3. Humanização

Angola é um país que no contexto da humanização está a dar seus passos


embrionários, apesar de contemplar um conceito de saúde ampliada com respaldo dos

146
R. R. TEIXEIRA, ob. Cit., Pp. 583-597.
147
Ibidem.

54
princípios universais da saúde, debate-se com problemas que nos remetem a pensar na
politíca Nacional de Humanização à saúde.

Levantamos a questão de humanização em saúde para reflitirmos: se já somos


humanos! Porque mais humanizar? Será que chegamos ao ponto de que o tratamento
dado ao próximo seja de naturza desumana?

É uma questão, cujo fim remete-se aos profissionais da saúde e ao próximo, pois
estamos a falar de uma dialética que nos remete a uma dimensão ética e valorativa dos
humanos que necessitam de um bom tratamento no processo de acesso aos serviços
médicos tendo um servidor público com uma postura de empatia e sobretudo disponível
para servir sem desprimor.

Segundo Martin, “os profissionais de saúde, com fomento da mobilização,


formação contínua e supervisão na execução do seu exercício, aos poucos constata-se de
forma tímida alguma conscientização no atendimento a dor, a doença, ao sofrimento do
utente, […] mostrando estar cada vez mais a procura de respostas que lhes assegurem a
sua dimensão humana nas relações laborais”148

A consideração foi feita em Luanda, pela diretora do Gabinete para Cidadania e


Sociedade Civil do MPLA, representante do Ministério da Súde (2009), durante a
semana de humanização sob o lema “Um acto de cidadania e dignidade no cuidar”. De
acordo com Fátima Viegas, a preocupação com atendimento a saúde e a inserção da
humanização neste sector público, por parte do Executivo, é legitimada através do
programa Nacional de Humanização da Assistência na Saúde (PNHAS) com intenção
de promover uma nova cultura de atendimento a saúde e aprimorar as relações entre os
profissionais e pacientes, visando a melhoria da qualidade e eficácia dos serviços
prestados pelas instituições. Para o Ministério da Saúde, humanização é a valorização
dos serviços sujeitos implicados no processo de produção de saúde, sejam usuários,
trabalhadores ou gestores. É um processo moroso e amplo ao qual por vezes se oferece
resistência, pois envolve mudanças de comportamento que podem ser movidas por
sentimentos de ansiedade e medo.149

148
LM. MARTIN, A Ética e a humanização hospitalares, o mundo da saúde, 2003, P. 11.
149
MINISTÉRIO DA SAÚDE (MINSA), Política Nacional de Humanização de Assistência a Saúde,
2009.

55
Para chegarmos a materialização do direito à saúde, terá de se humanizar o
atendimento em saúde, de formas institucionais, bons gestores, mais comprometimento,
profissionais cada vez mais competente, que têm a sensibilidade de gerirem com ética e
profissionalismo o sofrimento do seu próximo, meios técnicos de diagnósticos
terapêuticos funcionais de forma íntegra e integrada, bem como medicamentosos, que
possam acudir as situações de saúde/doença de forma acessível, pontual e isenta de
qualquer valor monetário colocando a assistência dos utentes em primeiro plano e os
técnicos precisam ter melhores condições de trabalho e com ordenados de acordo o
custo de vida que se ajusta ao contexto dos novos tempos, servindo-se assim para a
valorização da sua técnica aplicada a favor dos pacientes.

2.4. A morosidade no atendimento aos pacientes nos hospitais estatais

Com a variedade de cituações que são ingressadas diariaremente nas unidades


hospitalares de Luanda é provocada uma aglomeração de pessoas. Isto, mostra o
ínfimo número de unidade hospitalar, por isso, as clinicas privadas tem sido em maior
parte frequentadas por pessoas que possuem valor monetário suficiente para pagar
pelos serviços lá prestados para que não sejam alvos da morosidade que se tem nos
hospitais estatais. Além disso, o tempo de atendimento também acaba por encarecê-la
já que a quantidade de pacientes diariamente não é proporcional ou adequado ao
número de profissionais existentes em cada hospital, assim cada profissional acaba
abarrotado de utentes, o que acaba por resultaer em atendimento demorados e
consultas sem a devida qualidade à que o indivíduo faz jus.

Neste sentido, ficou explicito que a falta de um atendimento eficaz, dificulta a


adesão dos homens nos serviços de atenção primária. Para corroborar, autores
ressaltam que “a falta de comunicação nos serviços de saúde, prejudica as relações
entre profissionais e usuários, interferindo na dinâmica do serviço. Pois, é através da
comunicação, que será possível compreender a singularidade de cada sujeito,
identificando suas fragilidades e facilitando a resolutividade de suas necessidades.”150

Em Luanda a morosidade no atendimento aos pacientes tem sido fundamento


bastante para muitos cidadãos preferirem unidades hospitalares privadas para verem
seus problemas resolvidos. Portanto como abaixo nos referiremos, é fundamental a
150
Pereira AD, Freitas HMB, Ferreira CLL, Marchiori MRCT, Souza MHT, Backes DS. Atentando para
as singularidades humanas na atenção à saúde por meio do diálogo e acolhimento. Rev. gauch. enferm.
2010;31(1):55-61.

56
criação de mais hospitais e a formação de mais profissionais da saúde, pois “uma saúde
remediada pode ser Baal Zefom”151

2.5. Obstáculos sócioeducacionais


O problema do sistema educacional afecta directamente nesse contexto, fazendo
com que a população não saiba quando os seus direitos foram lesados e não compreenda
qual o momento certo de procurar assistência, várias dessas pessoas sequer sabem se o
direito à saúde é um direito fundamental e, para piorar, nem possuem o conhecimento
de que é um direito ligado ao homem que carece de tamanha atenção pelo Estado.
Em Luanda a baixa escolaridade ainda é gritante, muitos os cidadãos não
conseguem estar informados dos seus direitos e deveres por falta de escolas e de meios
de comunicação para o efeito. Ainda temos várias localidades onde a ausência de
escolas é gritante, várias localidades os jornais não chegam e a pesar da antena
radiofónica chegar para todos, os cidadãos estão mais preocupados em sair na
madrugada em busca de sustento para os filhos. Nas zonas onde encontramos algumas
escolas, infelizmente só têm o ensino primário até o Iº Cíclo do Ensino Secundário, pois
as escolas do IIº Cíclo só estão localizadas nas sedes municipais, o que constitui outro
problema que os povos enfrentam devido a falta de meios de transporte e pecúnia para
custear a passagem, bem sabemos que em Luanda tudo por nada é táxi, dificultando
assim a obtenção de conhecimentos basilares sobre o Direito e promovendo cada vez
mais o baixo nível de escolaridade naquelas localidades. Decorre desse quadro de baixa
escolaridade e de falta de informação a inaptidão da população em geral de reconhecer
os seus direitos e de propor uma acção judicial para proporcionar a sua defesa.

151
“Beco sem saída”

57
CAPÍTULO III – REDAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

3. Redação das entrevistas e questionários aplicados


3.1. Redação da entrevista feita a quatro deputados da Assembleia Nacional
Vossas Excelências Senhores Deputados, consideram à saúde em Luanda
como uma saúde aberta para todos?
Deputados: sim.
Há muita gente na nossa sociedade que não recorre aos hospitais públicos
em Luanda para resolverem seus problemas de saúde, alegando o factor
morosidade no atendimento e falta de condições. O que está na base desta
morosidade Excelências?
Deputados: o que está na base da dita morosidade é, fundamentalmente, a falta
de profissionais de saúde, materiais de uso corrente e exiguidade de salas de
internamentos. Os pacientes nos nossos hospitais entram diariamente, porém, devido
aos factores ora invocados, cada Médico só aparece no hospital três vezes por semana
para examinar, o que significa que cada Médico aparece apenas 12 vezes por mês para
examinar.
Relativamente à insuficiência económica, apesar da existência do instituto
da Assistência Médica há quem diga que a pobreza é ainda uma barreira no acesso
à saúde nos hospitais públicos em Luanda, pois, ligado a ela está outro factor como
o socioeducacional. O que lhes parece Vossas Excelência?
Deputados: a insuficiência económica, hoje por hoje, não é, directamente, factor
impeditivo do acesso à saúde uma vez que as pessoas têm o suporte da Assistência
Médica, mas o grande endicape é a falta de cultura jurídica por parte da população que
não consegue fazer o uso dos meios postos a sua disposição.
“Quanto mais baixo é o extrato social do cidadão, maior é a probabilidade
que desconheça os seus direitos”. Vossas Excelências concordam?
Deputados: a resposta é positiva, porque tudo passa pelo conhecimento. Há leis
que atribuem direitos aos cidadãos, mas, devido ao nível de vida que esses (cidadãos)
levam e o meio social em que se encontram nas condições não permitem para que
tenham conhecimentos sobre os seus direitos e sobre as leis existentes para fazer valer
esses direitos no caso de serem lesados.

58
Vossas Excelências, já alguma vez ouviram lamentações de um (a) utente da
Assistência Médica que tenha sido violado (a) o seu direito à saúde por causa da
sua pobreza?
Deputados: este é um facto comum, mas o que as pessoas também devem saber é
que, nem todas as vezes que se recorre aos hospitais é para termos sucessos do nosso
desejo, vezes há que o direito existe, mas não está alicerçado de acordo com os
preceitos legais, portanto, nem sempre a culpa é do Médico.
3.1.2. Redação da entrevista feita aos membros do Conselho Provincial da Ordem
dos Médicos em Angola

Médicos o que é assistência médica?

CPOMA-Luanda: A assistência médica é nada mais do que tratamento de doenças,


prevenções e cuidados como a saúde, por meio de serviços farmacêuticos, médicos e
outas áreas da saúde. Ou seja, sã todos aqueles serviços que visam promover mais saúde
e bem-estar aos pacientes.

Como o cidadão pode receber assistência médica?

CPOMA-Luanda: O cidadão pode recorrer ao Hospital, ou directamente ao Posto


Médico mais próximo, e lá poderá receber assistência.

Será o número de Médicos suficiente para responder à demanda de


assistência médica? Se não existissem mecanismos de selecção que dêem prioridade
a casos específicos?

CPOMA-Luanda: Em primeiro lugar, o número de Médicos na Província é muito


ínfimo atendendo a demanda que tem lotado os nossos hospitais, por essa e outras
razões é que não tem sido possível agradar a todos os pacientes e familiares que têm
frequentado as nossas Unidades Hospitalares. Bem, caso não existisse as cores pelo qual
temos identificados com eles os pacientes, seria um caos para os pacientes quanto a nós
como funcionários, porque muitos poderiam perder as suas vidas na sala de espera.

Em termos do problema do direito à saúde os Médicos pensam que o


problema está nas leis ou nos procedimentos? E como é que a Ordem dos Médicos
tem estado a lidar com essa situação?

59
CPOMA-Luanda: O direito à saúde está a ser dificultado primeiro pela falta de
divulgação, pois muita gente ainda não sabe quais são as vias normais a seguir para
verem assegurados os seus direitos.

Outro problema são os nossos Hospitais, que, as vezes, chegam a desanimar os


cidadãos, porque têm experiências de outras pessoas conhecidas, ou delas próprias das
vezes que foram ao Hospital, ficaram decepcionados porque esperaram por sua vez, mas
vêm pessoas influentes são atendidos antes dele que já está ali desde mais cedo.

Há casos em que a pessoa está a reivindicar um direito, mas, não sabia se aquela
pessoa já tinha marcado a sua vez e depois foi preparar-se, ao regressar para o seu lugar
os que ali não estiveram dizem que estão a usar influência ou mesmo alegam sendo
corrupção por partes dos profissionais ou mesmo pelos seguranças. São situações que
muitas vezes travam os cidadãos de irem aos hospitais público. Ou a pessoa vai ao
Hospital pedir uma informação fica duas, três horas à espera, às vezes não é por culpa
do funcionário. Estes tipos de situações desencorajam as pessoas de irem aos Hospitais
estatais.

Essa morosidade no atendimento aos pacientes é por falta de profissionais ou


é devido à borocracia?

CPOMA-Luanda: Falta de profissionais, falta de meios, falta de condições e


também falta de cultura de trabalho de algumas pessoas que lá estão, e não nos
referimos apenas aos Hospitais, mas sim, em todos os serviços existentes no país. 152 Se
as vezes os enfermeiros são atendidos como são, imaginemos um simples cidadão e,
infelizmente o nosso comportamento é em função da aparência. Se uma pessoa estiver
bem vestida, há preocupação em se atender essa pessoa, mas se for um cidadão que
aparenta ser um coitado, também a nossa preocupação com ele é muito menor. Isso
também faz com que as pessoas se sintam menosprezadas pelo facto de serem coitados.

3.2. Redação da entrevista feita a quatro advogados

Ilustres advogados, já alguma vez defenderam um (a) utente que viu seu
direito à saúde violado?

Advogados: sim, algumas vezes.


152
A pessoa vai a uma instituição pública, está lá para ser atendido, mas, os profissionais nem sequer
perguntam o que é que desejas.

60
Paira no seio social a ideia de que “na prática a dedicação do advogado
indicado para representar alguém de baixa renda em juízo não seria a mesma se
tivesse sido pago”. O que têm a dizer ilustres advogados?

Advogados: esta ideia que paira no seio da sociedade é relativa, pois a dedicação
do Advogado não dependee do pagamento ou não dos honorários. Temos ainda a realçar
que a dedicação é questão de consciência, depende de pessoa para pessoa, uma vez que
a meta é ser um Advogado de renome, é necessário muita dedicação para se chegar lá,
independentemente do pagamento ou não dos honorários.

Como advogados que sois, temos aplena certeza que seus familiares têm
passado em mesmas situações que a população tem passado, atinente a assistência
médica nos hospitais públicos, como tendes reagido em tais cituações?

Advogados: esta é uma pergunta muito pertinente, bem, diante de tais situações
não temos reagido com emoção porque nunca se sabe de concreto se o que o nosso
parente disse é verdade ou não, porque existem vezes que pensamos que os nossos
direitos foram violados, que afinal de conta foi uma prioridade que o profissional da
saúde deu atendendo o grau de gravidade do outro paciente. Ora, caso seja verdade que
o direito foi violado, prosseguiremos à justiça para que tal profissional seja
responsabilizado pelos actos praticados em função de serviço.153

3.3. Redação do questionário feito aos estudante da Faculdade de Direito da


Universidade Agostinho Neto – Luanda

Quadro I

À saúde em Luanda é uma saúde aberta para todos?

Hipótese Nº de estudante questionados 86 Percentagem


Sim 28 32.5%
Não 37 43%
Provavelmente 21 24.4%

153
Imaginemos, o caso recentemente acontecido no Hospital Geral de Luanda, onde a senhora de 42 anos
faleceu por neglegência médica no passado dia 02 de Dezembro de 2022, ela veio transferida de um
Centro Médico e os colegas ali encontrados não internaram a senhora a tempo deram tantas voltas aos
familiares até que o filho teve que deixar de ser um bom cidadão e fazer confusão, porque clamava pela
vida de sua mãe, foi tão chocante e que mais uma vez mostra-nos a falta de humanização pelos
profissionais daquele Hospital. Neste casos à justiça tem de ser invocados porque o direito à vida foi
violado.

61
Qudro II

São factores que dificultam ou impedem a materialização do direito à saúde:

Hipótese Nº de estudantes questionados 86 Percentagem


Pobreza 20 23.2%
Falta de informação 27 31.39%
Morosidade no atendimento 10 11.6%
Distância geográfica 7 8.1%
Burocracia no atendimento 9 10.4%
Factores sociais 4 4.6%

Quadro III

Em Angola os que gozam da melhor assistência médica são apenas os ricos:

Hipóteses Nº de estudantes questionados 86 Percentagem


Sim 19 22%
Não 41 47.6%
Provavelmente 26 30.2%

Quadro IV

Em Angola a assistência médica é igual, tanto para ricos, quanto para pobres:

Hipóteses Nº de estudantes questionados 86 Percentagem


Verdade 37 43%
Falso 49 56.9%

3.4. Cruzamento e análise de dados

O cruzamento de dados consiste em fazer a súmula, isto é, usar todos os


instrumentos aplicados neste trabalho de investigação para através dos dados obtidos da
entrevista e do questionário, bem como da observação, possa-se chegar a um
conhecimento apurado para garantir a fidelidade e a veracidade dos resultados.

Assim sendo, para a primeira questão colocada às Vossas Excelências Senhores


Deputados da Província de Luanda na entrevista que lhes foi aplicada, responderam
positivamente que o direito à saúde em Luanda é uma saúde aberta para todos.
Analisando a resposta dada, infere-se que não é verdadeira, porque uma saúde aberta
para todos é aquela que não apresenta barreiras para ninguém na sua materialização.
Como já analisado, há diversos factores que acabam excluindo uma parcela da
população da materialização do direito à saúde.

62
Relativamente à segunda pergunta os Deputados responderam afirmativamente
que o que está na base da morosidade no atendimento aos pacientes é a falta de
profissionais da saúde, material de uso corrente e exiguidade de salas de atendimento.
Esta resposta corresponde a verdade, pois a escassez destes elementos nos nossos
Hospitais é notória.

Para a terceira pergunta responderam negativamente que a insuficiência


económica já não é directamente um factor impeditivo do direito à saúde uma vez que
as pessoas têm o suporte da Assistência Médica, mas o grande problema é a falta de
cultura jurídica por parte da população que não consegue fazer o uso dos meios postos a
sua disposição.

Quanto a esta resposta, está visível e claro que não é verdade, se a insuficiência
económica já não impede directamente a materialização do direito à saúde, é porque
indirectamente impede. Pense-se, por exemplo, em A que, sendo pobre e do Zango 5
mil queira aceder aos serviços de “Holter”154 terá de se deslocar de sua casa até ao
Hospital Maria Pia, esta deslocação envolve valores monetários, e a receita que lhe será
dada os fármacos nunca tem na farmácia do Hospital, nesse sentido terá de comprá-los.
E não nos esqueçamos que este êxame não é gratuito. Ao não conseguir pagar pelo
êxame em virtude da sua carência económica não estaria o direito à saúde a ser
impedido a A?

Quanto à quarta pergunta obtivemos dos Deputados uma resposta positiva,


afirmando que tudo passa pelo conhecimento. Há leis que atribuem direitos aos
cidadãos, mas, devido a certas situações acabam não tendo conhecimentos sobre os seus
direitos e sobre as leis existentes para os fazer valer no caso de serem lesados. Até aqui
se pode concordar, por isso, não há muito que se dizer. Para a quinta pergunta
responderam também positivamente que têm recebido vários de sujeitos
economicamente vulneráveis no Hospital de Luanda, porém, sempre assistidos por
profissionais, fazendo o uso do instituto da Assistência Médica. Por uma questão de
fórum, não há nada que contestar nesta resposta, logo, concorda-se com a resposta dada.

Na sexta e última pergunta os Deputados responderam, também, positivamente


que têm ouvido lamentações de beneficiários da Assistência Médica, culpando o

154
“Dispositivo portátil que faz a monitorização da actividade cardíaca por um período prolongado,
geralmente 24 horas. ou seja, é o êxame realizado pelo dispositivo portátil”.

63
profissional indicado para prestar a devida assistência. Acrescentaram os Deputados que
tal facto é comum quando se viole o direito, mas é preciso saber que, nem todas as
vezes que se recorre aos Hospitais é para termos sucesso do nosso desejo e nem sempre
a culpa é do Médico. Concorda-se.

Na primeira pergunta da entrevista feita aos membros do Conselho Provincial da


Ordem dos Médicos em Luanda responderam que a Assistência Médica é nada mais do
que tratamento de doenças, prevenções e cuidados como a saúde, por meio de serviços
farmacêuticos, médicos e outas áreas da saúde. Ou seja, são todos aqueles serviços que
visam promover mais saúde e bem-estar aos pacientes.

Na segunda pergunta responderam que, para receber assistência médica o cidadão


pode recorrer ao Hospital, ou directamente ao Posto Médico mais próximo, e lá poderá
receber assistência. Quanto a está questão é verdade, por mais que a assistência é
demorada mas, é feita.

Na terceira pergunta responderam negativamente que o número de Médicos na


Província é muito ínfimo atendendo a demanda que tem lotado os nossos hospitais, por
essa e outras razões é que não tem sido possível agradar a todos os pacientes e
familiares que têm frequentado as nossas Unidades Hospitalares. Bem, caso não
existisse as cores pelo qual temos identificados com eles os pacientes, seria um caos
para os pacientes quanto a nós como funcionários, porque muitos poderiam perder as
suas vidas na sala de espera. Está claro, por tanto, não há contestação da nossa parte até
aqui.

Na quarta pergunta que lhes foi formulada os membros do Conselho Provincial da


Ordem dos Médicos de Angola em Luanda concordaram que apesar de já haver
melhoria, ainda assim, entendem que o que se faz para o aumento da cultura jurídica
nos cidadãos é ainda bastante insignificante.

Na quinta e última questão, se a morosidade é por falta de profissionais ou devido


à borocracia, responderam que é por falta de profissionais, falta de meios, falta de
condições e também falta de cultura de trabalho de alguns profissionais que lá estão.
Quanto a esta resposta há convergência com os dizeres dos Médicos e, evidentemente
corresponde à verdade, logo, concorda-se.

64
No que toca à entrevista feita aos advogados, na primeira pergunta responderam
afirmativamente que já defenderam muitas vezes pessoas que se beneficiam da
assistência médica.

Na segunda pergunta, sobre a ideia que paira no seio social, segundo a qual “na
prática a dedicação do advogado indicado para representar um pobre em juízo não seria
a mesma se tivesse sido pago” responderam que esta ideia é relativa, pois a dedicação
do advogado não depende do pagamento ou não dos honorários, para acrescentar
disseram que a dedicação é questão de consciência, depende de pessoa para pessoa, uma
vez que a meta é ser um advogado de renome, é necessário muita dedicação para se
chegar lá, independentemente do pagamento ou não dos honorários.

Na quarta e última pergunta, responderam diante de tais situações não temos


reagido com emoção porque nunca se sabe de concreto se o que o nosso parente disse é
verdade ou não, porque existem vezes que pensamos que os nossos direitos foram
violados, que afinal de conta foi uma prioridade que o profissional da saúde deu
atendendo o grau de gravidade do outro paciente. Ora, caso seja verdade que direito foi
violado, prosseguiremos à justiça para que tal profissional seja responsabilizado pelos
actos praticados em função de serviço. Concorda-se.

Quanto ao questionário aplicado aos estudantes da Faculdade de Direito da


Universidade Agostinho Neto em Luanda, na primeira pergunta, se a Saúde é ou não
aberta para todos em Luanda, 32.5% dos questionados disseram sim, 43% disseram não
e 24% disseram provavelmente.

Na segunda pergunta 23.21% dos questionados disseram que o factor que impede
ou dificulta o direito à saúde em Luanda é a pobreza, afirmaram que é a falta de 31.39%
informação, 11.6% advogam que é a morosidade no atendimento, 8.1% disseram que é
a distância geográfica, 10.4% responderam que é a borocracia no atendimento e 4.6%
disseram que são factores sociais.

Na terceira pergunta, se é verdade que em Luanda os que gozam da melhor


assistência médica são apenas os ricos, 22% dos questionados disseram sim, 47.6%
disseram não e 30.2% disseram provavelmente. Na quarta e última pergunta, se em
Angola a assistência médica é igual, tanto para ricos, quanto para pobres, 43% dos
questionados disseram que é verdade e 56.9% responderam que não é verdade.

65
CONCLUSÕES

De tudo que foi dito chegamos às seguintes conclusões:

Que o direito à saúde não significa somente dar ao cidadão a possibilidade de


aceder a um hospital. Hoje o direito à saúde é muito mais abrangente do que
simplesmente abrir as portas do Hospital ao povo uma vez que inclui desde o
conhecimento e consciência dos direitos, à facilitação do seu uso, à assistência médica e
medicamentosa, por profissionais e à cultura jurídica. Se um indivíduo considerado
pobre é atendido de modo diferente ou possui uma defesa inferior àquela realizada para
um indivíduo com melhores condições financeiras, pode-se afirmar que não houve
efetivo direito à saúde.

Que realidade da saúde em Luanda, especialmente quando se considera a


pobreza, demora no atendimento hospitalar, distância geográfica que há entre os
hospitais estadual e a maioria das localidades, a borocracia no atendimento aos utentes,
os factores sociais, a falta de informação e o grau de satisfação dos usuários do sistema
de justiça, expressa uma condição bastante distante da ideal e que acaba por macular o
ideal constitucional. Ficam notórias as implicações jurídicas da materialização do
direito à saúde que precisam ser resolvidos, fazendo-se urgente a necessidade de
disponibilizar e expandir os efectivos mecanismos que possam acarretar um sistema de
saúde aberta para todos de maneira equilibrada e imparcial. Possibilitando assim a
solução de conflitos em menor tempo e com uma maior qualidade.

No trabalho de campo que se fez chegamos às seguintes conclusões: que em


luanda o que está na base da morosidade no atendimento é, fundamentalmente, a falta
de profissionais da saúde, material de uso corrente e exiguidade de salas de

66
internamentos; que apesar de já haver melhoria relacionando aos tempos passados,
ainda assim, o que se faz para o aumento da cultura jurídica nos cidadãos é ainda
insignificante, há necessidade de se fazer maior divulgação das leis, dos direitos dos
cidadãos, das vias para aceder ao direito e à saúde; que a falta de um salário digno por
parte do Estado disencentiva a entrega do profissional no caso.

Recomendações

Tendo em consideração que o objectivo da assistência médica é proporcionar


tratamentos de doenças, prevenções e cuidados com a saúde, por meio de serviços
farmacêuticos, médicos e outras áreas da saúde. Ou seja, são todos aqueles serviços que
visam promover aos pacientes mais saúde e bem-estar. Para uma melhor prestação da
actividade médica recomendamos que o Executivo, empregue mais profissionais no
Mistério da Saúde, pois poderá acabar com as debilidades que o sector encontra por
falta de profissionais para acudirem a situação de desigualdade social, favorecendo os
cidadãos mais pobres. Com desconfiança que o titular do direito violado apresenta de
perder a vida um enfermeiro estagiário para o assistir nos mais graves casos.

Que se criem mais hospitais em locais que não tenha, para se eliminar a barreira
da distância geográfica e da morosidade no atendimento dos utentes, se assim for, as
tarefas dos médicos, enfermeiros e dos demais profissionais da saúde ficam reduzidas,
trazendo ainda alegria enorme para todos os munícipes que já não poderão se deslocar
em hospitais distantes de suas localidades, reduzindo assim os custos com os
transportes; que se melhore o atendimento nos hospitais públicos para uma maior
satisfação de qualquer utente que venha precisar destes serviços.

Que se difundem com máxima urgência os meios de comunicação social para


todas as zonas; que se intensifiquem e alarguem acções de sensibilização nas
comunidades, realizando palestras e seminários sobre o Direito, promovendo-se assim a
cultura jurídica.

Que se expandam os órgãos que forneçam informações e esclareçam dúvidas e


que estejam sempre disponíveis para as demais eventualidades. Com o intuito de o

67
indivíduo se sentir mais a vontade e confiante para lutar por seus direitos e identificar o
escopo das acções possíveis em determinados casos.

Que se crie heliporto nos hospitais de grandes portes, fornecendo-os


helicopeteros para atenderem cosos de grandes urgências, porque nem sempre as
ambulância têm sido eficientes para atenderem tais casos, uma vez que as estradas de
Luanda dificilmente ficam sem engarrafamentos.

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LA Charte Africaine des Droits de l´Homme et des Peuples. Une Approche juridique
des droits de l´homme entre tradition et modernité, PUF, Genève, 1993.

MINSAP (Ministério da Saúde Pública da República da Guiné-Bissau). (2007). Plano


Nacional de Desenvolvimento Sanitário II 2008-2017.

NGUEMA, Isaac, Violence, Droits de l´Homme ete Développement en Afrique, in,


Protection des Droits de l´Homme: la perspective européenne, Carl Heymanns Verlag
KG, 2000.

UMOZURIKE, U. Oji, The African Charter on Human and People´Rights, Kluwer Law
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72
VAZ, Wanderson Lago e REIS, Layton, “Dignidade da pessoa humana”. Revita
Jurídica Cesumar – Mestrado 7º Volume (Jan/Jun 2007).

Legislações utilizadas

Constituição da República de Angola de 2010

Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948

Lei Constitucional de 1975

Lei Constitucional de 1991

Lei nº 21-b/92, de 28 de Agosto, da Assembleia Nacional – Lei de Base de Sistema


Nacional de Saúde

73
Índice
DEDICATÓRIA………………………………………………………………………..2

AGRADECIMENTO………………………………………………………………..…3

SIGLAS E ABREVIATURAS…………………………………………………………5

RESUMO………………………………………………………………………………..6

ABSTRACT…………………………………………………………………………….7

INTRODUÇÃO………………………………………………………………………...9

CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA…………………………………15

1. Escopo sobre direitos


fundamentais……………………………………………….15

1.1. Noção de direito fundamental……………………………………………………


15

1.1.1.Breve referêcia histórica do direito


fundamental……………………………...16

1.1.2. Direitos e garantias


fundamentais…………………………………………….18
1.1.3. Direitos fundamentais no Sistema Jurídico-Constitucional
angolano……...23
1.1.4. Direito à saúde como direito fundamental no ordenamento jurídico
angolano………………………………………………………………………..23

1.1.5. Direito à saúde na Constituição


Portuguesa…………………………………...27

1.1.6. Direito à saúde nas Constituições


Brasileiras………………………………….29

1.1.7. Direito à saúde na Constituição


Moçambicana………………………………..34
1.1.8. Direito à saúde na Constituição da Guiné-
Bissau……………………………..39

1.1.9. Direito à saúde na Constituição De São Tomé e Príncipe……………………40

1.2. O Sistema africano de Protecção Internacional dos Direitos Humanos e dos


Povos…………………………………………………………………………………...42

1.3. A necessidade do direito à saúde como elemento do princípio da dignidade da


pessoa humana………………………………………………………………………...46

1.3.1. Pessoa humana………………………………………………………………….47

CAPÍTULO II – IMPLICAÇÕES JURÍDICA DA MATERIALIZAÇÃO DO


DIREITO À SAÚDE NA PROVÍNCIA DE
LUANDA……………………………...50

2. Aspectos gerais…………………………………………………………………..50
2.1. A desigualdade
económica……………………………………………………....51
2.2. A distância
geográfica…………………………………………………………...54
2.3. Humanização…………………………………………………………………….55
2.4. A morosidade no atendimento aos pacientes nos hospitais
estatais…………...57
2.5. Obstáculos sócioeducacionais…………………………………………………..57

CAPÍTULO III – REDAÇÃO E ANÁLISE DOS


DADOS………………………….59

3. Redação das entrevistas e questionários


aplicados…………………………….59
3.1. Redação da entrevista feita a quatro deputados da Assembleia Nacional……
59

3.2. Redação da entrevista feita aos membros do Conselho Provincial da Ordem


dos Médicos em Angola………………………………………………………..
…………..59
3.3. Redação da entrevista feita a quatro
advogados…………………………………61

3.4. Redação do questionário feito aos estudante da Faculdade de Direito da


Universidade Agostinho Neto – Luanda……………………………………..
…...62
3.5. Cruzamento e análise de
dados…………………………………………………...63

CONCLUSÕES………………………………………………………………………..67

RECOMENDAÇÕES……………………………………..…………………………..68

BIBLIOGRAFIA……………………………………………………………………...69

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