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UNIVERSIDADE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS

FACULDADE DE DIREITO

HUAMBO

DEPARTAMENTO DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA E PUBLICAÇÕES

A PROBLEMÁTICA DA RESPONSABILIDADE CRIMINAL DOS


PROFISSIONAIS DE SAÚDE À LUZ DO ORDENAMENTO JURÍDICO
ANGOLANO.

A CANDIDATA:

EUGÉNIA NACHIPUCO KANJONGO

HUAMBO, 2022
EUGÉNIA NACHIPUCO KANJONGO

A Problemática da Responsabilidade Criminal dos Profissionais de Saúde à


Luz do Ordenamento Jurídico Angolano

A presente monografia é para obtenção do grau de Licenciatura em Direito


na Faculdade de Direito da Universidade José Eduardo dos Santos, na área
Jurídico-Civil.

A licencianda: Eugénia Nachipuco Kanjongo

O Orientador: MSc. Afonso Simão do Nascimento

HUAMBO, 2022
DEDICATÓRIA

Dedico essa monografia ao meu pai, Zeferino Kanjongo (in memorian). A minha querida
mãe, Helena Nachipuco Cassinda, que prestou um apoio incansável para que tudo hoje fosse
uma realidade. Aos meus irmãos: Aurélio, Inês, Adriana, Júlia, Angelina, Chane e
Enivaldo, que são os meus grandes motivadores.
AGRADECIMENTO

Agradeço a Deus todo poderoso, pelo dom da vida e por guardar-me até aqui. À Direcção da
Faculdade de Direito, de modo particular aos Docentes que ao longo da minha formação não
pouparam esforços na transmissão dos conhecimentos de forma sábia e paciente. Ao MSc.
Afonso Simão do Nascimento, meu orientador pela atenção, carinho e paciência na
elaboração deste trabalho.

Aos meus colegas e ao meu grupo de estudo QLC a quem eu devo momentos de alegria e
diversão e pelo apoio permanente na interpretação de vários temas de estudo, que de alguma
forma ajudaram na minha formação. A todos que directas ou indirectamente contribuíram
para que a minha formação em direito fosse uma realidade, o meu profundo e sincero
agradecimento, em especial ao Sr Manuel meu companheiro, o meu muito obrigada, pelo
apoio moral e não só e aos meus Cunhados a quem endereço o meu muito obrigada.
FICHA CATALOGRÁFICA

KANJONGO, Eugénia Nachipuco

A Problemática da Responsabilidade Criminal dos Profissionais de Saúde à Luz do


Ordenamento Jurídico Angolano.

Trabalho de fim de curso para a obtenção do grau de Licenciatura em Direito na


especialidade de ciências Jurídico – Civis.

Orientador: MSc. Afonso Simão do Nascimento

Palavras-Chave: Direito; Saúde; Responsabilidade Criminal; Profissionais; Pacientes.


84 Páginas.
EPÍGRAFE

“O homem saudável é aquele que possui um estado mental e Físico em perfeito equilíbrio”

Hipócrates.
SIGLAS E ABREVIATURAS

CEDPE- Código de Ética e Deontologia do Profissional de Enfermagem.


Art.º - Artigo.

CDEM- Código de Deontologia e de Ética Médica.

CP- Código Penal.

CRA- Constituição da República de Angola.

CPP- Código de Processo Penal.

Ed- Edição.

Ibidem- Na mesma obra e mesma página.

Idem- Mesma obra, mesmo autor e página

diferente. P- Página.

PP. – Páginas.

Lda- Limitada.

CC- Código

Civil.

CPP- Código Penal Português.

CPB- Código Penal Brasileiro.

CPC- Código de Processo

Civil. N.º - Número.

OMS - Organização Mundial da Saúde.

ONU – Organização das Nações Unidas.

Apud. – Junto a. Ou citado por.

SIC- Serviços de Investigação Criminal.

Ob. Cit. – Obra Citada.

MP- Ministério Público.


RESUMO

O presente trabalho discorre sobre a problemática da responsabilidade criminal dos


profissionais de saúde à luz do ordenamento jurídico angolano. Tendo em conta a pertinência
deste bem como as características do problema definiu-se a natureza quali-quantitativa. Teve
como objectivos específicos: Fundamentar Teoricamente, a Responsabilidade Criminal dos
Profissionais de Saúde à Luz do Ordenamento Jurídico Angolano; Descrição da dogmática da
Responsabilidade Criminal dos Profissionais de Saúde; Analisar os resultados obtidos e
elaborar propostas para a sua efectivação. Os principais resultados foram: pouca fiscalização;
conhecimento e denúncia. É importante referir que a responsabilidade criminal consiste na
obrigação de reparar o dano causado na ordem moral e social, cumprindo a pena estabelecida
na lei aplicada por um tribunal competente. E a falta de fiscalização dos serviços faz com que
os profissionais de saúde violem os direitos dos pacientes, e o facto de as pessoas não terem
conhecimento sobre os seus direitos, faz com que os profissionais saiam impunes. Face ao
panorama apresentado sobre a problemática da responsabilidade criminal dos profissionais de
saúde à luz do ordenamento jurídico angolano, faz-se mister uma mudança, não só na
estrutura física dos hospitais públicos, quanto à qualidade e rigor na prestação dos serviços de
saúde, melhorando assim a assistência médica medicamentosa. Em função disso recomenda-
se, que haja mais fiscalização nos hospitais públicos; que haja profissionais de saúde
especializados e com ética para que atendam os pacientes e utentes da melhor forma possível;
que as unidades hospitalares propiciem um ambiente favorável; Propõe-se também que os
profissionais de direito ministrem palestras, seminários entre outras actividades, para que se
cultive na população aspectos da cultura jurídica; que o Ministério Público nas suas palestras
ajude a divulgar esse tipo de crime.
Palavras Chave: Direito; Saúde; Responsabilidade Criminal; Profissionais; Pacientes.
ABSTRACT

This paper discusses the issue of criminal liability of health professionals in light of the
Angolan legal system. Taking into account the relevance of this as well as the characteristics
of the problem, the quali-quantitative nature was defined. Its specific objectives were: To
theoretically substantiate the Criminal Responsibility of Health Professionals in light of the
Angolan Legal System; Description of the Dogmatics of Criminal Responsibility of Health
Professionals; Analyze the results obtained and elaborate proposals for the realization of its
criminal responsibility. The main results were: Little inspection; knowledge and denounces. It
is important to note that criminal responsibility consists of the obligation to repair the damage
caused to the moral and social order, serving the penalty established by law applied by a
competent court. And the lack of inspection of services causes health professionals to violate
patients' rights, and the fact that people are not aware of their rights, causes professionals to
get away with it. Given the panorama presented on the issue of criminal liability of health
professionals in light of the Angolan legal system, a change is needed, not only in the physical
structure of public hospitals, as to the quality and rigor in the provision of health services,
improving thus the medical assistance with medication. As a result, it is recommended that
there be more inspection in public hospitals; that there are specialized and ethical health
professionals to assist patients and users in the best possible way; that hospital units provide a
favorable environment; It is also proposed that legal professionals give lectures, seminars,
among other activities, so that aspects of legal culture can be cultivated in the population; that
the Public ministry in their speeches help to publicize this type of crime.

Keywords: Law; Health; Criminal Liability; Professionals; Patients.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................................10
SECÇÃO I - PROBLEMA CIENTÍFICO..........................................................................12
1. Ideia a defender................................................................................................................12
1.2. Objectivo geral e Específicos........................................................................................12
1.2.1. Objectivo geral...........................................................................................................12
1.2.2. Objectivos específicos................................................................................................12
1.3. Tarefas científicas.........................................................................................................13
1.4. Justificativa do tema......................................................................................................13
1.5. Objectivo do estudo......................................................................................................13

SECÇÃO II – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.................................................14


1. Métodos de investigação..................................................................................................14
1.1. Técnicas de colecta de dados........................................................................................14
1.2. Estatística......................................................................................................................15
1.3. Tipos de pesquisas........................................................................................................15
1.4. Modelos de pesquisas....................................................................................................16
2. População e amostra.........................................................................................................16
2.1 Critério de amostragem..................................................................................................17
2.2. Resultados esperados....................................................................................................17

CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.............................................................18


1. Problemática da responsabilidade criminal - breve história da responsabilidade criminal.
............................................................................................................................................. 18
1.2. Noções gerais de responsabilidade criminal..................................................................19
1.3. Pressupostos da responsabilidade criminal....................................................................22
1.3. Classificação dos pressupostos......................................................................................22
1.4. Elementos do crime........................................................................................................23
2. Crime doloso e classificação do dolo...............................................................................24
2.1. Crimes Omissivos..........................................................................................................25
2.2. Elementos do Facto Omisso...........................................................................................26
2.3.O tipo de Ilícito dos Crimes por Omissão de Socorro...................................................28
2.4. Formas do Tipo..............................................................................................................28
2.4.1 Objecto.........................................................................................................................29
2.4.2 Formas de Cometimento do Crime............................................................................29
3. Princípios norteadores da responsabilidade criminal.......................................................30
3.1. Intervenção do direito penal na efectivação e do direito à saúde...................................32
3.2. Breve história do direito à saúde...................................................................................33
3.3. Noção de saúde e direito à saúde..................................................................................36
3.3.2 Direito a Saúde............................................................................................................37
4. Circunstâncias que impedem a concretização do direito à saúde....................................38
4.1. Importância do direito à saúde......................................................................................40
4.2. Direito à saúde como direito fundamental....................................................................41
4.3. Parecer constitucional do direito à saúde em Angola...................................................43
4.4. Responsabilidade civil, noção geral..............................................................................45
4.4.1 Modalidade de responsabilidade civil..........................................................................47
CAPÍTULO II – DESCRIÇÃO DA DOGMÁTICA DA RESPONSABILIDADE
CRIMINAL DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE..............................................................49

1. Responsabilidade criminal dos profissionais de saúde no código penal de 1886 e de


2020......................................................................................................................................49
2. Extinção da Responsabilidade Criminal..........................................................................52
3. Responsabilidade criminal um estudo comparado no ordenamento (angolano, português
e brasileiro)..........................................................................................................................53
3.1. Responsabilidade criminal no Brasil à luz do código penal brasileiro..........................54
3.2. Responsabilidade criminal em Portugal à luz do código penal português.....................55
3.3. Responsabilidade criminal em Angola à luz do código penal angolano........................57
3.3.1. Responsabilidade criminal das pessoas colectivas......................................................56
4. O direito do paciente e a responsabilidade do profissional da saúde...............................58
5. A posição do profissional da saúde segundo a ética e deontologia profissional..............61

CAPÍTULO VI - ANÁLISE E DISCUSSÕES DOS RESULTADOS................................63


1. Discussões dos resultados...............................................................................................63
2. Análise dos resultados.....................................................................................................65
2.1. Exposições dos resultados obtidos pelo Questionário..................................................65
2.2. Apresentação do resultado da entrevista......................................................................70

CONCLUSÃO....................................................................................................................73
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................76
ANEXOS
INTRODUÇÃO
Apesar da constituição angolana prever o direito à saúde e assistência médica para todos os
cidadãos angolanos, ainda é recorrente a violação destes direitos pelos profissionais de saúde
(médicos e enfermeiros) o que demonstra falta de ética e deontologia profissional por parte
destes, ferindo, assim, a própria lei e a integridade física (e não só) da pessoa humana. Da
falta de responsabilização para estes tipos de crime resultam os maltratados diários pelos
profissionais de saúde. Por falta de conhecimento da lei e do que dela resulta, o cidadão é
submetido a tais maus-tratos.

É sabido que um dos principais, problemas com os quais, actualmente, a sociedade angolana
vive, é a constante inobservância dos direitos humanos e do cidadão (direito à vida e saúde).
O asseguramento da saúde consta da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1945,
que define que todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe e a
sua família, saúde e bem-estar inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos
e os serviços sociais indispensáveis. Ou seja, o direito à saúde é indissociável do direito à
vida, que tem por inspiração o valor de igualdade entre as pessoas.

Logo, o direito à saúde é um Direito Fundamental, e a generalidade das literaturas apresenta-


os como pilares de uma sociedade e, consequentemente de qualquer Constituição, daí serem
invioláveis. Consideramos, portanto, relevante abordar a matéria, por estar directamente
ligada ao Direito à Vida previsto no Art.º 30.º da CRA Conjugado com o Art.º 3.º da
Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Nos dias de hoje tem sido constante as reclamações dos utentes por serem mal tratados ao
procurarem o serviço de saúde nos nossos Hospitais Públicos. Embora a saúde seja um direito
do paciente e um dever de o profissional de Saúde garantir que o mesmo seja assegurado,
cumprindo assim os preceitos éticos da profissão, (prestar assistência aos doentes, familiares
ou comunidade, sem descriminação de qualquer natureza e respeitar os Direitos dos pacientes,
com base o (artigo 9.º as alíneas a), d) e g) do Código de Deontologia do Profissional de
Enfermagem). Essa atitude, não só viola a lei, mas também constitui infracção criminal,
punível com prisão, por esta e muitas outras razões achou-se conveniente tratar de um tema
não menos importante do direito constitucional, civil e criminal, isto é a problemática da
responsabilidade criminal dos profissionais de saúde à luz do ordenamento jurídico Angolano.

1
O estudo em questão (A Problemática da Responsabilidade Criminal dos Profissionais de
Saúde à Luz do Ordenamento Jurídico Angolano) é baseado na realidade angolana, no actual
Código Penal, Processo Penal, bem como na Constituição de Angola e Leis Complementares.
Motivou-nos a abordar o tema, o elevado índice de reclamações dos utentes por verem o seu
direito à saúde violado e sentirem-se inabilitados de agir pela falta de orientação e certeza do
seu direito, em alguns casos por negação da assistência pelos profissionais em serviço naquele
momento, esses acontecimentos são constantes nos hospitais públicos , e as pessoas
envolvidas não são responsabilizadas, por esta razão julgamos ser pertinente abordarmos
sobre esse tema nessa investigação, de formas a darmos um modesto contributo nas
resoluções de conflitos dessa natureza, que por sinal já vem tipificado no Art.º 209.º do CP.
O presente estudo, traz o âmbito jurídico e fáctico que devem modular a interpretação das
normas, penais, civis e constitucionais, e o papel que o Poder Judiciário desempenha e pode
desempenhar na outorga mais efectiva do direito à saúde em Angola, sendo que constitui um
problema social e a falta de assistência constitui um crime, sendo punível com prisão,
esperamos nós que com a publicação do novo Código Penal haja maior rigor na aplicação
efectiva do Direito à Saúde.
Não obstante a isso importa salientar que o presente trabalho, tem como estrutura uma
Introdução e Três Capítulos, sendo que o primeiro capítulo consta a Fundamentação Teórica,
o segundo refere-se à Descrição da dogmática da responsabilidade criminal e o último
capítulo refere-se à Fundamentação metodológica que são as análises e discussões dos
resultados.

1
SECÇÃO I - SITUAÇÃO PROBLEMÁTICA
No nosso país verifica-se constantes reclamações por parte dos pacientes e utentes,
relativamente a violação de direito à saúde, por esta razão tivemos como situação
problemática na nossa pesquisa o Direito à Saúde em Angola.

1. PROBLEMA CIENTÍFICO
Quais são as circunstâncias que impedem a concretização da tutela do Direito à Saúde?

1.2. IDEIA A DEFENDER


Com este trabalho pretende-se defender, o direito à saúde a fim de que os profissionais sejam
responsabilizados criminalmente quando violar tal direito, porque entendemos que o Direito à
Saúde não tem tido a protecção que deveria, por verificar-se constantes violações por parte de
pessoas que têm capacidade para o fazer, como por pessoas que não dispõem de meios para o
efeito. Quanto a esta ideia defendemos que haja maior fiscalização por parte das autoridades
competentes, no sentido de prestar-se os serviços de Saúde de forma digna.
Quanto à segunda ideia, pretendemos que o Estado através dos seus órgãos, esteja na linha da
frente afim de que tal Direito seja protegido, sendo que constitui um dos fins do Estado
assegurar a todos o direito à assistência médica e sanitária, bem como o direito à assistência
na infância, na maternidade, na invalidez, na deficiência, na velhice e em qualquer situação de
incapacidade para o trabalho, nos termos da lei, com base no art. 77º. da CRA.

1.2. OBJECTIVO GERAL E ESPECÍFICOS

1.2.1. OBJECTIVO GERAL


Compreender de maneira precisa a problemática da Responsabilidade Criminal dos
Profissionais de Saúde à Luz do Ordenamento Jurídico Angolano.

1.2.2. OBJECTIVOS ESPECÍFICOS


● Fundamentar Teoricamente, a Responsabilidade Criminal dos Profissionais de Saúde à
Luz do Ordenamento Jurídico Angolano;
● Descrever a dogmática da Responsabilidade Criminal dos Profissionais de Saúde;
● Analisar os resultados obtidos e elaborar propostas para a sua efectivação.
1.3. TAREFAS CIENTÍFICAS

1
● A fundamentação teórica sobre a Problemática da Responsabilidade Criminal dos
Profissionais de Saúde à Luz do Ordenamento Jurídico Angolano, foi feita com base na
doutrina e na lei.
● A descrição da dogmática da Responsabilidade Criminal dos Profissionais de Saúde à
Luz do Ordenamento Jurídico Angolano foi feita por intermédio de doutrina e na lei.
● A análise dos resultados foi feita com base nos dados obtidos e conhecimentos
doutrinários.

1.4. JUSTIFICAÇÃO DO TEMA.


Ao longo de anos, verificam-se muitas reclamações feitas por pacientes ou utentes de serviços
de saúde, passíveis de Responsabilização Criminal, os mesmos sofrem por violações do seu
direito à saúde, e algumas vezes por não lhes ser prestados assistência a tempo, e muitos
desses não conseguem fazer nada, por não conhecerem normas jurídicas ligadas à protecção
do Direito à Saúde e outros por não saberem onde dirigir-se ou qual órgão competente para
resolução de tais conflitos.
O interesse da pesquisa deriva da constatação do elevado índice de reclamações dos utentes
por verem o seu direito à saúde violado e sentirem-se inabilitados de agir pela falta de
orientação e certeza do seu direito, em alguns casos por negação da assistência pelos
profissionais em serviço naquele momento, esses acontecimentos são constantes nos hospitais
públicos , e as pessoas envolvidas não são responsabilizadas, por esta razão julgamos ser
pertinente abordarmos sobre esse tema nessa investigação, de formas a darmos um modesto
contributo nas resoluções de conflitos dessa natureza.

1.5. OBJECTO DE ESTUDO

Constitui objecto de estudo no presente trabalho: o Direito à Saúde.

1
SECÇÃO II - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

1. MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO

Assim sendo, ‟ o método é visto como um conjunto de actividades sistemáticas e racionais


que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objectivo - conhecimentos válidos
e verdadeiros - traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do
cientista”1. Porém para elaboração do trabalho em causa, diligenciou-se como pontos
orientadores, métodos de ordem teórica e prática, que nos ajudou no processo de investigação,
assentes em métodos sólidos2 tais como:

● Método analítico-sintético – permitiu-nos analisar de maneira precisa as várias


contribuições de autores sobre o nosso tema, e dessa análise extraiu-se conclusões necessárias
para sua elaboração.
● Método histórico-lógico que nos permitiu fazer uma abordagem sobre o tema,
colocando os vários parecer que estão na base da problemática da responsabilidade criminal
dos profissionais de saúde à luz do ordenamento jurídico angolano.
● Método prático-empírico é aquele capaz de sustentar ou dar suporte ao trabalho de
investigação científica são:
a) Questionário
b) Entrevista

1.1. TÉCNICAS DE COLECTA DE DADOS

Sendo as técnicas de recolha de dados, todos aqueles instrumentos metodológicos que nos
permitem a colheita de informações, capazes de sustentar e dar um suporte ao trabalho de
investigação científica. Mas para a elaboração deste trabalho usamos o questionário,
entrevista estruturada, e a análise documental atendendo a complexidade do tema em questão.

Questionário

O questionário sendo um instrumento de colecta de dados, composta por um número mais ou


menos elevado de questões apresentadas por escritos às pessoas tendo por objectivo o
conhecimento de opiniões concretas, sem a presença do entrevistador e informante. A sua

1
Marina de Andrade MARCONI, Fundamentos de metodologia científica, 5º Edição, atlas, São Paulo, 2003,
p., 83.
2
Ibidem.

1
importância e a necessidade de obter respostas, tentando despertar o interesse do receptor, no
sentido de que ele preencha e devolva o questionário dentro de um prazo razoável.3

Todavia é digno realçar que o questionário ora submetido foi feito numa linguagem clara e
sem gírias. Contudo o questionário foi dirigido essencialmente a pacientes e utentes de
serviços de saúde.

Entrevista

A entrevista não sendo uma mera conversa, mas sim uma conversa orientada com objectivos
definidos, é vista como um encontro entre duas ou mais pessoas, a fim de que uma delas
obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de
natureza profissional, que circunscreve na recolha de dados para suportar a pesquisa por meio
de um inquérito ao informante; dados estes que não podem ser encontrados em registros ou
fontes documentais, somente podem ser fornecidos por certas pessoas, dotadas de fortes
probabilidades de serem verdadeiras e obtêm-se conclusões que possibilitará quantificar e
processar os instrumentos aplicados na pesquisa.4

1.2. ESTATÍSTICA

Constitui um importante auxílio à investigação, considerando-se, portanto, que as explicações


obtidas deste método não podem ser consideradas absolutamente verdadeiras. Mas dotadas de
uma boa probabilidade de serem verdadeiras, neste caso efectua-se a contagem, verificação e
obtêm-se conclusões do questionário realizado; possibilitará quantificar e processar os
instrumentos aplicados na pesquisa.5

1.3. TIPOS DE PESQUISAS

Para realização desse trabalho utilizamos a pesquisa bibliográfica, descritiva exploratória.

Bibliográfica, é visto como conjunto de materiais escritos, gravados, mecânicos ou


electromecânicos, que contêm informações já elaboradas e publicadas por outros autores. Por

3
Cleber Cristiano PRODANOS, Metodologia do Trabalho Científica, Disponível em Google Acadêmico,
2013, p., 60.
4
Idem, p., 62.
5
Ibidem.

1
ser aquela que nos permitiu desenvolver a investigação a partir de estudos já efectuados por
outros6.
Descritiva, A fim de analisar e dar resposta ao problema em análise. Quando o pesquisador
apenas registra e descreve os factos observados sem interferir neles. Visa descrever as
características de determinada população ou fenómeno ou o estabelecimento de relações entre
variáveis. Envolve o uso de técnicas padronizadas de colecta de dados:
Questionário e observação sistemática. Assume, em geral, a forma de levantamento.7
Exploratória, quando a pesquisa se encontra na fase preliminar, tem como finalidade
proporcionar mais informações sobre o assunto que vamos investigar, possibilitando sua
definição e seu delineamento, isto é, facilitar a delimitação do tema da pesquisa; orientar a
fixação dos objectivos e a formulação das hipóteses ou descobrir um novo tipo de enfoque
para o assunto. Assume, em geral, as formas de pesquisas bibliográficas e estudos
de caso. A pesquisa exploratória possui planejamento flexível, o que permite o estudo do tema
sob diversos ângulos e aspectos. Em geral, envolve: levantamento bibliográfico;- entrevistas
com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; análise de
exemplos que estimulem a compreensão.8

1.4. MODELOS DE INVESTIGAÇÃO

Para melhor desenvolvimento do presente trabalho de investigação científica optamos e


usamos o modelo misto, ou seja, (quali - quantitativo) lançamos mão a este modelo, que
privilegia o desenvolvimento da pesquisa orientado para a procura de factos ou causas dos
fenómenos. Porém este tipo de método privilegia o recurso a procedimento estatístico que se
traduz em números de opiniões e informações ao serem analisados, utilizando técnicas
estatísticas.9

6
Maria da Piedade ALVES Metodologia Científica, Escola editora, Lisboa, 2012, p 42.
7
Cleber Cristiano PRODANOS, Ob. Cit, p., 52.
8
Ibidem.
9
Elizeth Ferreira Real de Oliveira PEDRO, Metodologia de investigação Científica, Editora do Porto, 2014, p.,
89.

1
2. POPULAÇÃO E AMOSTRA
Sendo a população um conjunto de seres animados ou inanimados que apresentam
características comuns10. Neste, entretanto, tivemos como público-alvo: pacientes e utentes.

Importa realçar que a amostra foi representada por 40% da população, que é um subconjunto
do universo ou seja, a amostra é constituída por um conjunto de sujeitos retirados de uma
população constituída a amostragem num conjunto de operações que permitam escolher um
grupo de sujeitos ou qualquer outro elemento representativo da população estudada11.
A Fim, de serem seleccionadas como amostra aleatória. Portanto, seleccionou-se
aleatoriamente 150 pessoas, dentre elas pacientes/utentes e não só.

2.1. CRITÉRIO DE AMOSTRAGEM

Optamos pela amostragem probabilística, sendo o critério aleatório simples sendo que todos
os intervenientes da amostra têm a probabilidade de conhecimento, podendo assim a
população seleccionada integrar a amostra.

2.2. RESULTADO ESPERADO


● No campo teórico com esta investigação pretendemos de forma humilde, ser suporte
para consulta na Faculdade de Direito e não só.
● No campo prático, queremos contribuir para que a sociedade, sobretudo os
profissionais de saúde saibam que a não assistência médica e a violação de direito a saúde
constitui crime passível de responsabilidade criminal, por isso o Estado através dos seus
órgãos seja o primeiro garante para que o direito à saúde seja prestado de forma digna.

10
Marina de Andrade MARCONI, Ob. Cit, p., 221.
11
Idem, p., 222 e ss.

1
CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1. PROBLEMÁTICA DA RESPONSABILIDADE CRIMINAL - BREVE


HISTÓRIA DA RESPONSABILIDADE CRIMINAL

Durante muitos anos a medicina desenvolveu-se num contexto misterioso e mágico, as


doenças tinham origem divina e o médico era uma espécie de sacerdote, alguém que tinha o
poder de actuar e salvar vidas. Os conhecimentos médicos, e o desenvolvimento da ciência
mantiveram-se estagnados durante centenas de anos e só com os avanços técnicos e
científicos do Renascimento se criaram as condições para o surgimento de uma verdadeira
ciência médica, melhorando assim os serviços de saúde. 12

Na visão da escola clássica, uma vez que os indivíduos agem conscientemente no


cometimento do crime, têm inteira responsabilidade pelos seus actos, por isso, são moral e
juridicamente imputáveis. As liberdades de opção, a liberdade de escolha entre o bem e o mal,
os fazem responsáveis, dessa forma, devem sofrer as consequências pela prática destes actos.
O crime não é um ente de facto, mas um ente jurídico, uma relação entre a pessoa ofendida e
o ofensor. É uma expressão inteiramente formal, de modo que a pena se apresenta como um
castigo ou forma de repreensão, decorrência lógica e merecida da acção de quem, podendo e
devendo, não quis evitar o mal praticado a outrem13

Segundo o autor NELSON FERREIRA LEITE, a responsabilidade criminal dos profissionais


de saúde, por não assistência médica, é problema de ordem jurídica e não médica, como aliás
reconheceu o Congresso realizado em Genebra, em 1907, salientando que ao perito médico
compete, apenas, pronunciar-se sobre a realidade e a natureza das perturbações mentais dos
acusados. Já o segundo sistema o método psicológico apresenta o defeito de permitir arbítrio
na resolução judicial, correndo-se o risco de se admitir um extensivo reconhecimento da
irresponsabilidade do agente, contrário ao que a ordem jurídica diz. De tal modo,
relativamente ao terceiro sistema, que é o método bio psicológico ou misto, é o que menos
inconvenientes apresenta, por isso tem merecido a preferência de grande parte das legislações
penais, inclusive a nossa. Nessas legislações costuma-se mencionar, sinteticamente, os
estados de natureza análoga que excluam ou possam excluir a imputabilidade ou

12
Sófia FIDALGO, Responsabilidade Penal Por Negligência No Exercício Da Medicina Em Equipe,
1ºEdição, Coimbra, Coimbra Editora,2008, pp.,13-14.
13
Idem, p., 15.

1
responsabilização, fornecendo aos juízes os elementos psicológicos e jurídicos que devem
guiá-los na apreciação e resolução de tais conflitos. Torna-se, assim, a questão da
imputabilidade, para ser bem resolvida, dependente da colaboração de peritos médicos. Mas,
como ela é, sobretudo, jurídica, cabe aos juízes a última palavra, e os laudos periciais servem,
apenas, de elementos informadores de sua livre convicção.14

A primeira e grande elaboração dogmática-sistemática do crime surgiu nos finais do séc XIX
e princípios do séc. XX. Os seus principais construtores foram Liszt e Beling. Como primeira,
clara e bem estruturada teorização da infracção criminal, compreende-se a razão pela qual
passou a ser designada por teoria clássica do crime. Esta teoria foi o ponto de referência e o
ponto de partida de todo o processo histórico de desenvolvimento e aprofundamento da
dogmática ou doutrina da infracção penal.15

1.2. Noções gerais da responsabilidade criminal

Relativamente a esse tema segundo MARIA PAULO LEITE diz que as pessoas foram
ganhando maior consciência dos seus direitos, não só neste, como noutros domínios da vida
social, têm por vezes uma expectativa exagerada em relação a infalibilidade da ciência e da
técnica pelo que reagem mal à limitação que a doença significa e à própria inevitabilidade da
morte, perdeu-se a relação pessoal e de confiança que existia entre o médico que era o médico
de uma família e de uma vida, com o aumento de aparelhos cada vez mais complicados e
perigosos e a necessidade de dividir tarefas, cria uma cadeia de informação terrível e arriscada
ao paciente aumentando assim o índice de factores lesivos ao paciente.16

Por outro lado, não se deve esquecer que a actividade médica é exercitada por homens que
carregam consigo as limitações próprias da condição humana, com imperfeições, deficiências
e contradições. Decorrem daí os erros, as negligências, as imprudências, as imperícias e até as
condutas dolosas, que marcam a linha divisória entre o bom actuar médico, técnico-
cientificamente válido e ético-juridicamente correcto, e o actuar médico contrário à técnica, às

14
Nelson Ferreira LEITE, O conteúdo jurídico da responsabilidade penal, Brasil, Disponível em:
Google Acadêmico, 2017, p., 221.
15
Américo Taipa de CARVALHO, Direito Penal Parte Geral Questões Fundamentais Teoria Geral do Crime l,
Lisboa, Coimbra Editora, 2011, p., 243.
16
Maria Paulo LEITE, O erro em Medicina e o Direito Penal, Coimbra, Coimbra Editora, 2018, p., 18.

1
ciências, à razão, à prudência, à diligência, à competência e ao empenho solidário, que merece
indiscutível censura ético-jurídica e profissional.17

É compreensível, portanto, que, por se tratar de actividade profissional sujeita à erros é visível
que ocorram no seu importante, difícil e complexo exercício condutas eticamente reprováveis
e juridicamente condenáveis. Tais condutas podem representar verdadeiras excepções no
quotidiano da medicina, mas pela gravidade e nocividade do dano daí resultante, exigem a
justa repressão, seja em nível de justiça corporativa (julgamento pelos próprios pares, através
dos Conselhos Regional de Medicina), seja pela própria justiça estatal comum, civil ou
criminal, através dos Tribunais.18

Diz-se que alguém é responsável criminalmente, pela prática de um acto reputado


delituoso, quando deve responder por ele perante o poder jurídico. A violação da
norma penal cria para o poder judicial uma "pretensão punitiva". Mas, a
responsabilidade pressupõe, como condição fundamental, certos factos sem os quais
ela não pode ocorrer, factos esses que devem ser ilícitos, puníveis e culposos. É
indispensável que o agente aquém se atribui a prática do acto punível seja imputável
considerado punível por lei (Art. 17.º do CP). Essa capacidade, entretanto, pressupõe
a existência de dois fundamentais requisitos: a) que tenha o agente atingido certo
grau de desenvolvimento intelectual, isto é, que esteja em condições de lhe poder
atribuir a responsabilidade pela infracção ( Art. 9.º do CPC). A imputabilidade
significa, assim, a possibilidade de se atribuir a determinada pessoa a culpa (lato
sensu) de certo procedimento ou facto considerado crime. Imputabilidade também é
considerada como o comportamento certo grau de desenvolvimento intelectual ou
seja imputável; b) que possua liberdade de vontade com relação ao primeiro
requisito, as opiniões são unânimes. Tanto na doutrina como nas legislações se
reconhece, pacificamente, que o indivíduo precisa contar com certo grau de
maturidade intelectual para ter uma exacta representação das consequências dos seus
actos no mundo externo. Só após adquirir capacidade Judiciária é que o indivíduo
estará em condições de poder apreciar a ilicitude da sua conduta. Já com relação ao
segundo requisito, a liberdade da vontade as controvérsia são profundas e
irreconciliáveis. Para muitos a liberdade da vontade se confunde com o livre arbítrio,
que consiste na faculdade de escolher ou não escolher, sem outro motivo que a
própria vontade.19

17
João José LEAL, Exercício da Medicina e Responsabilidade Criminal, Disponível em Google
Acadêmico, 2016, p., 1.
18
Idem, p., 2.
19
Nelson Ferreira LEITE, Ob. Cit, pp., 281-282.

2
Na perspectiva do autor, VINÍCIO RIBEIRO entende o crime como o conjunto de
pressupostos de que depende a aplicação ao agente de uma pena ou de uma medida de
segurança criminal.20

Para que possamos entender o que é crime, temos que recorrer à doutrina, uma vez que o
Código Penal não trouxe em si essa definição. Há vários conceitos de crime, conceitos
materiais, conceitos formais e conceitos analíticos. Os conceitos materiais analisam o crime
somente em seu aspecto externo. O crime é a acção que gera perigo, ou dano, a qualquer dos
bens jurídicos tutelados pelo Estado”. Essa corrente entende que crime é um facto ou
comportamento contrário à lei.21

Um pouco mais, procura-se saber qual é o princípio da definição de crime, sendo tal centro a
lesão que o crime causa à pessoa. ANA PATRÍCIO enumera que “sob o aspecto formal,
crime é um facto típico e antijurídico, sendo a culpa e o dano pressuposto da pena”, para
outros doutrinadores, crime é a contrariedade do facto com a moral. “O crime é a conduta
humana que lesa ou põe em perigo um bem jurídico protegido pela lei penal”. Tanto os
conceitos formais quanto os materiais não conseguem apresentar o crime em todos os
aspectos, não nos permitem ter um entendimento mais profundo sobre o que seja crime, por
isso surgiram os conceitos analíticos que decompõem o crime em diversos aspectos para que
se entenda o crime em diferentes aspectos.22

O direito da responsabilidade médica coloca problemas de várias ordens muito


complexas e de natureza interdisciplinar. O direito substantivo e o direito adjectivo
(processual) devem ser analisados de forma integrada. Para além disso, deveremos
tomar em conta não apenas as exigências do Direito Civil, do Direito Processual
Civil, mas também o Direito Constitucional, o Direito Disciplinar, o Direito dos
Seguros e da Segurança Social bem como o Direito Criminal. Finalmente, o
moderno Direito da responsabilidade médica só pode ser compreendido por quem
acompanhe as mutações ou relação médico-paciente no decorrer do século XX,
quem analise as modificações das valorações sociológicas, a mudança do modelo
Hipocrático, o recuo do princípio da beneficência face à emergência do princípio da
autonomia do paciente, a cientifização da medicina e as actuais delimitações
económicas nos sistemas de saúde.23

20
Vinício RIBEIRO, Código de Processo Penal, Notas e Comentários, Coimbra, Coimbra Editora, 2013, p., 29.
21
Ana Patrícia Rodrigues PIMENTE, Direito Penal I, p.,27.
22
Idem, p., 26.
23
André Gonçalo Dias PEREIRA, Direito dos Pacientes e Responsabilidade Médica, Coimbra, Disponível
em: Google Acadêmico, 2012, p.,47.

2
1.3. Pressupostos da responsabilidade criminal

A afirmação da existência de pressupostos do crime surgiu na Ciência do Direito Penal, com a


obra de Manzini. Este grande mestre sustentava que o crime, bem como o facto que o
constituem, podem pressupor alguns elementos, positivos ou negativos, ou circunstâncias, que
constituem antecedentes necessários de sua noção. Distinguia assim, elementos ou
antecedentes, em pressupostos do crime e pressupostos do facto. Os primeiros seriam
elementos jurídicos anteriores à execução do facto, positivos ou negativos, a cuja subsistência
ou insubsistência é condicionada a configuração de determinado crime. Pressupostos do crime
seriam, assim, antecedentes lógico-jurídicos, exigidos para que o facto seja imputável pelo
título que se considera. A ausência de tais pressupostos determinaria a configuração de outra
espécie de crime. Assim, por exemplo, a ausência de participação no crime antecedente é
pressuposto da receptação e do favorecimento, pois a participação levaria o agente a
responder como co-autor no crime precedente. Pressupostos do facto seriam elementos
jurídicos ou materiais anteriores à execução do facto, cuja subsistência é necessária para que o
facto previsto pela norma constitua crime. Se faltam tais pressupostos, o facto deixa de ser
punível, motivo pelo qual representam eles condições de sua ilegitimidade.24

Em regra, a responsabilidade Criminal sobre os profissionais da saúde pressupõe a existência


de um facto prejudicial e o nexo de causalidade entre o facto e dano. O facto prejudicial é
constituído pelo facere (acção) e non facere (omissão). Outro elemento da responsabilidade é
por causa da desatenção, à negligência e à inobservância dos regulamentos por parte dos
profissionais.25

1.3.1 CLASSIFICAÇÃO DOS PRESSUPOSTOS

Na visão do autor AFONSO SIMÃO DO NASCIMENTO, diz que um dos pressupostos da


responsabilidade médica é a desatenção, negligência e a inobservância dos regulamentos, que
no caso é o código de ética e deontologia profissional. Resta abaixo citar os pressupostos da
responsabilidade criminal, ou seja os elementos exigidos para que se considere que um
comportamento ilícito, é por conseguinte passível de responsabilidade criminal.26

24
Heleno Cláudio FRAGOSO, Pressupostos do Crime e Condição Objectiva de Punibilidade, Rio de Janeiro,
Disponível em: Google Acadêmico, 1962, p.,1.
25
Afonso Simão do NASCIMENTO, Responsabilidade Civil Médica no Ordenamento Jurídico
Angolano, Huambo, Tipografia Lousanense Lda, 2019, p., 51.
26
Ibidem.

2
1- Acção que tem de ser humana, ou seja, um comportamento por parte de uma pessoa
que seja dominado pela vontade de cometimento do facto ilícito.
Na perspectiva do autor AFONSO SIMÃO DO NASCIMENTO “diz-se que acção típica
significa, corresponder a um dos tipos da parte especial do código em princípio, pois algumas
disposições da parte geral alargam esses tipos. Ou seja, uma acção é típica quando se
enquadra a um tipo legalmente punível”.27
2- A tipicidade resulta da análise de uma conduta realizada no plano concreto e de seu
posterior enquadramento na previsão abstrata de um comportamento descrito no tipo, a
tipicidade nada mais é do que a subsunção da conduta concreta na conduta abstratamente
prevista no tipo. 28
3- Ilicitude, depois de se ter uma acção ou um tipo, importa saber se é ilícita a mesma
acção, culposa e punível, que são os outros elementos da definição de Crime.
4- Culpa é a imputação que se realiza ao agente por praticar uma conduta que criou uma
reacção. Em sentido estrito é quando o agente não quer praticar o crime, mas age com
imprudência, negligência ou imperícia, em estilhaçar o dever objectivo de cuidado, gerando a
infracção penal. Em sentido amplo, a culpa é a responsabilidade que une o agente à conduta.
5- Punibilidade- é a consequência do crime, ou seja, quando se pratica o facto típico,
ilícito e culposo, aquele comportamento descrito na lei em abstracto é concretizado com a
punição da pessoa pela prática do facto punitivo.

1.4. SÃO ELEMENTOS DO CRIME

Na visão do professor TIAGO ROBERTO, diz que para que um facto seja considerado crime
é necessário que se observe alguns elementos necessários que vamos abaixo citar, entendemos
que a acção do agente deve estar revestida desses elementos.29

a) Conduta: o que importa é o modo e a forma imprópria com que o agente age e não o
fim, já que este mesmo fim, é na maioria das vezes ilícito.
b) Dever de cuidado objectivo: é a obrigação de cometer actos com atenção necessária
para não resultar em dano aos bens jurídicos alheios. O profissional de saúde ao praticar
determinado acto deve pratica-lo com o devido cuidado afim de evitar resultados danosos.

27
Afonso Simão do NASCIMENTO, Ob. Cit, p., 51.
28
Cezar Roberto BILENCOURT, Trado de Direito Penal, Brasil, Saraiva Editora, Brasil, 2013, p., 12.
29
Tiago RIBEIRO, Elementos Subjectivos do Tipo Penal e os Limites Fronteiriços Entre o Dolo Eventual e
a Culpa Consciente, Brasil, Disponível em: Google Acadêmico, 2017, p., 5.

2
c) Resultado: é no resultado que ocorrerá a materialização do ilícito penal culposo, visto
que só a inobservância do dever de cuidado não é suficiente para configurar o ilícito penal. O
resultado determina também o ilícito penalmente relevante e culposo.
d) Previsibilidade: é a probabilidade de o agente distinguir que o resultado pode ocorrer;
o agente prevê o resultado dos seus actos. O profissional de saúde na realização de
determinado acto deve ter a capacidade de prever que esse acto pode provocar lesões
irreparáveis ao paciente ou utente, o que pode ser evitado pelo mesmo, se ter um
comportamento aceite naquele momento evitando,
e) Tipicidade: necessidade expressa previsão legal da modalidade culposa.

2. CRIME DOLOSO E CLASSIFICAÇÃO DO DOLO

O Crime doloso está previsto no artigo 12.º do Código Penal, e para que o agente cometa um
crime doloso é mister que ele tenha a voluntariedade e consciência do acto a ser praticado,
podendo este ser comissivo ou omissivo.

Aprofundando um pouco mais sobre o dolo do agente, é sabido que a doutrina expõe várias
espécies, sendo eles:30

1. Dolo directo ou determinado: é aquele em que o agente quer praticar o crime,


isto é, a partir do momento em que ele pratica o verbo do tipo penal em busca de sua
finalidade;
2. Dolo indirecto ou indeterminado: neste caso, existe a seguinte ramificação:
a) O dolo eventual, que ocorre quando o agente assume o risco de produzir resultado não
querido, ou seja o autor não espera que com aquele comportamento produzirá um resultado
inesperado e o dolo alternativo, ocorre no momento em que o agente exterioriza seus actos
com vários intuitos, ou seja, no caso de crime contra a pessoa, para ele tanto faz ferir ou matar
a vítima;31 ( Art. 12.º N.º 2 da CP)
b) Dolo específico: ocorre quando o agente pratica acto ou actos com a finalidade de
consumar a sua finalidade delictiva especial, geralmente o tipo penal vem com a expressão:
“com o fim de,” por exemplo, no crime de extorsão mediante sequestro (Artigos: 425.º, 174.º

30
Márcio R. MARQUIS, Os Caracteres e Elementos do Conceito Analítico do Crime, Rio de Janeiro,
Disponível em Google Acadêmico, 2017, p., 10.
31
Idem, p., 11.

2
do CP), quando o agente pratica o verbo do tipo com a finalidade de receber vantagem como
condição de preço ou resgate;32
3. Dolo geral, dolo sucessivo ou “aberratio causae”: ocorre quando o agente ao praticar
um crime supõe que já o consumo, porém, prática um novo facto que realmente faz consumar
o delito, por exemplo, o agente dá um tiro na vítima, e achando que ele está morto, enterra o
corpo, para ocultar sua conduta criminosa, vindo à vítima a falecer asfixiada por ter sido
colocada em meio pulverulento;33
4. Dolo genérico: é a vontade de realizar a conduta tipificada na lei penal, sem um fim
especial:34
a) Dolo natural: pressupõe-se o pleno domínio da consciência, isto é, da conduta, e o
pleno domínio da vontade. Essa espécie de dolo é adoptada pela Teoria Finalista da Acção,
pois seu principal objectivo é a finalidade do agente. O fim é que determina o dolo o autor
está consciente da prática do crime.35
b) Dolo de dano: é a intenção de causar efectiva lesão ao bem jurídico tutelado, por
exemplo, no latrocínio, o agente ao matar a vítima e depois roubar, teve o dolo de dano no
acto de matar e roubar. Aí a intenção do autor é causar dano numa coisa e não numa pessoa
física.36
c) Dolo de perigo: é a intenção de expor a risco o bem jurídico tutelado, por exemplo, no
crime rixa, quando várias pessoas se agridem mutuamente, neste caso em Direito Processual
Penal é chamado de Conexão Intersubjectiva por Reciprocidade, pois há vários agentes
praticando o mesmo crime uns contra os outros. O autor age com o fim de por em risco uma
coisa e não a pessoa em si.37

2.1. CRIMES OMISSIVOS


A omissão será assim uma abstenção da actividade que o agente poderia e deveria ter levado a
cabo por forma a evitar a ofensa do bem jurídico tutelado, é um non facere penalmente

32
Márcio R. MARQUIS, Ob. Cit, p., 11.
33
Idem, p., 12.
34
Ibidem.
35
Idem, p., 13.
36
Ibidem.
37
Ibidem.

2
relevante. Essencial para haver omissão será o não ter agido da forma imposta pela lei e por
essa falta de acção ofender-se ou colocar em perigo de lesão o bem jurídico.38
Dessa forma, para que estejamos perante uma omissão para o Direito Penal, é necessário que
haja um comportamento omissivo por parte do agente alvo de um juízo axiológico de desvalor
justificado por uma norma incriminadora, enquanto instância comparativa que dita o que deve
ser feito (ou o que é esperado que seja). Não sendo um simples “nada fazer”, a omissão penal
traduz-se antes num “não fazer o esperado ou determinado” pela norma penal, pois “é esta
referência normativa que constitui a omissão em entidade jurídico-penalmente relevante”.39

2.2. ELEMENTOS DO FACTO OMISSIVO


Relativamente aos crimes omissivos a esse tema a professora MARIA SOFIA MARRA, diz
que é necessário que se verifique alguns elementos, que correspondem aos crimes omissivos.
40

1. Corresponde sempre à não realização de um dever imposto por lei;


2. Pressupõe a identificação do dever que impõe a realização da acção;
3. Determinação do sujeito obrigado ao seu cumprimento;
4. Capacidade do sujeito obrigado para a realização da acção cumpridora do dever jurídico
que sobre ele recai;
5. O sujeito deve conhecer a circunstância que lhe impõe o dever, assim como o seu conteúdo
e voluntariamente não o cumprir, manifestando assim dolo na sua não actuação ou poder ter
conhecimento desse dever e cumpri-lo, não actuando neste caso com o cuidado devido,
manifestando negligência.
A omissão jurídica ou penalmente relevante divide-se em dois tipos de crime, os crimes de
omissão pura ou própria e os crimes de omissão impura ou imprópria (também designados por
crimes de comissão por omissão).
Os crimes omissivos puros ou próprios, são aqueles caracterizados pela simples abstenção de
agir, são crimes de mera actividade, sendo que a omissão da conduta devida lesa ou coloca em
perigo o bem jurídico tutelado pela norma. 41

38
Jorge de Figueiredo DIAS, Direito Penal: Parte Geral, Tomo I, Questões Fundamentais, a Doutrina Geral
do Crime, Coimbra, Coimbra Editora, 2012, pág. 905.
39
Ibidem.
40
Marisa Sofia Marra Todo BOM, Crimes Omissos: A sua Admissibilidade na Instigação,
Coimbra. Universidade de Direito de Coimbra, 2015, p.,7.
41
Idem,
2
Os crimes omissivos puros ou próprios são compostos por quatro elementos essenciais que
vamos aqui mencionar que são:
1. Situação típica geradora do dever de agir;
2. Imposição do dever de agir;
3. Não realização da acção imposta;
4. Capacidade para agir.
Nos crimes omissivos puros ou próprios, a situação típica geradora do dever de agir assim
como o seu conteúdo, encontram-se normalmente expressos na letra da lei42.
Na visão de MARISA SOFIA, os crimes omissivos impuros ou impróprios, embora também
se caracterizem pela falta de actuação, a lei considera tal omissão a causa de um resultado
descrito no tipo de crime cometido, não porque seja o acto omissivo que provoca o evento,
mas porque o agente não pratica o acto a que estava obrigado, por forma a evitar que tal
resultado se produza43.
E estes crimes omissivos impuros ou impróprios são compostos por seis elementos essenciais
que são: 44
1. Situação típica geradora do dever de agir;
2. Imposição legal de agir;
3. Posição de garante por parte do seu autor;
4. Capacidade de acção do autor;
5. Não realização da acção imposta pelo dever de garante;
6. Produção de um resultado equivalente ao que seria produzido pela acção;

Segundo o critério tradicional ou critério do resultado o crime de omissão pura ou omissão


própria, também designado por "crime de mera actividade" traduz-se na omissão de uma
actividade exigida pela lei, este esgota-se na desobediência a uma norma imperativa. Para que
este exista é indiferente que este advenha resultado. Nas palavras de MARIA LEONOR
ASSUNÇÃO "A infracção é o desvalor que se cumpre em si mesmo, independentemente da
lesão de um interesse externo à norma e por esta protegida. Os crimes de omissão própria são
verdadeiramente os únicos delitos formais ou delitos sem resultado."45

42
Marisa Sofia Marra Todo BOM, Ob. Cit, p., 7.
43
Idem, p., 9.
44
Ibidem.
45
Idem, p., 10.

2
Na perspectiva de FIGUEIREDO DIAS o crime de omissão impura ou imprópria, o agente
com a sua inactividade causa um resultado, que poderia também produzir-se através de uma
conduta activa, sendo que para estes exige-se um especial dever de garante da não produção
de um resultado, não podendo portanto ser considerado autor de um crime de omissão
imprópria um qualquer indivíduo, mas apenas aquele sobre o qual recaia tal dever jurídico.46
FIGUEIREDO DIAS entende que deve concluir-se que “o critério fundamental de distinção
entre crimes de omissão puros e impuros passa pela circunstância decisiva de os impuros,
diferentemente dos puros, se não encontrarem descritos em um tipo legal de crime, tornando-
se indispensável o recurso à cláusula de equiparação contida no art.8.º do CP para resolver
correctamente os problemas do círculo dos autores idóneos e da caracterização do seu dever
de garantia.”47

2.3. O TIPO DE ILÍCITO DOS CRIMES POR OMISSÃO DE SOCORRO


Este crime vem previsto no art.º 207.º conjugado com o art.º 208.º todos da CP, diríamos que
o de relevante aqui é que é bem claro no tipo, é o facto de definir como crime a não prestação
de assistência a determinadas pessoas em determinadas situações em que não haja risco
pessoal fazê-lo. E do ponto de vista ético consideramos uma falta, que constitui uma violação
ao dever comunitário, que é, admite-se, ser crucial para um tecido social saudável.

2.4. FORMAS DO TIPO


A lei introduz elementos subjectivos especiais necessários para caracterizar o injusto do
facto, a intenção especial consistente na finalidade de não prestar auxílio à pessoa vítima de
acidente, calamidade ou qualquer outra situação susceptível de pôr em perigo a vida, a
integridade física ou liberdade de qualquer pessoa.
Esses elementos subjectivos são essenciais para configurar todo e qualquer crime definido
como dolo como elemento do tipo subjectivo geral, responsável pela produção da acção
típica.

a) Introduz elemento objectivo a situação específica de prejudicar outrem, ou de colocar


em perigo a vida de uma pessoa, mas é um elemento objectivo de natureza, política, social,
pessoal ou outras que devem existir como intenção especiais no psiquismo do agente. Assim,
conforme a teoria do crime, a existência dessas intenções especiais nos processos psíquicos do

46
Jorge de Figueiredo DIAS, Ob. Cit, p., 916.
47
Ibidem.

2
agente é suficiente para o cometimento do crime , a consumação material do crime é
importante para determinação da medida legal da pena , como para efeitos de participação.48

2.4.1. OBJECTO
1. O objecto material do crime de omissão de socorro é a pessoa sobre a qual vai incidir
o dano.
2. Objecto jurídico do crime de omissão de socorro entendem que há dois objectos
jurídicos a proteger com base no Artigo 207º. CP. Considera-se como objecto jurídico
protegido principal ou imediato- a vida e a integridade física colectivas;
3. O objecto jurídico secundário ou mediato é a normal e regular prestação dos serviços
de saúde. Portanto, o crime de omissão de socorro protege dois bens jurídicos: os direitos
individuais e colectivos (Vida) e a regular prestação dos serviços de saúde, por isso considera-
se como um crime de dupla subjectividade jurídica.49

2.4.2. FORMAS DE COMETIMENTO DO CRIME

O crime de omissão de socorro é um crime cometido na forma consumada, essa consumação é


material. A omissão de socorro é um crime do tipo material, pelo facto de ser um crime de
resultado.

Uma importante observação a ser considerada acerca do crime de omissão de socorro, não é a
solidariedade humana, mas a vida e a saúde. A solidariedade humana, ao contrário, consistiria
em meio suficiente para atingir o fim da norma, qual seja a protecção do objecto jurídico vida
e saúde. Isso é de particular importância para o raciocínio que viemos construindo acerca da
necessidade ou não do Direito Penal para protecção de bens jurídicos à luz do Princípio da
Intervenção Mínima, do ponto de vista epistemológico faz diferença se o que a lei pretende
proteger é a vida e saúde ou promover solidariedade, diremos que não.50

48
Maria Pinhão COELHO, Crimes por Omissão, São Paulo, Instituto Brasileiro de Ciências Criminais,
2020 Pp., 2-3.
49
Rodrigues GONZALES, Crimes por Omissão Elementos do Tipo, São Paulo, Âmbito Jurídico,2012, Pp., 3- 4.
50
Wiliam Ferreira da CUNHA, Ultima Ratio da Lei Penal e o Crime de Omissão de Socorro, Brasil, Revista
Jus Navigandi, 2021, p., 33.

2
3. PRINCÍPIOS NORTEADORES DA RESPONSABILIDADE CRIMINAL

O mais importante princípio do Direito Penal é o Princípio da Legalidade, ou da


Anterioridade Penal, que surgiu das idéias de Beccaria e foi utilizado pela primeira vez na
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.51

Classificação dos Princípios norteadores da responsabilidade criminal:

1. Princípio da legalidade (Art. º 1.º do CP)


Este princípio diz que todos os actos praticados pelo MP devem ser baseados numa lei. 52
‘’O princípio da legalidade, é o princípio segundo o qual nenhum facto pode ser considerado
crime e nenhuma pena pode ser aplicada, sem que antes desse mesmo facto tenham sido
instituídos por lei o tipo de delito e a sua respectiva pena. O princípio da legalidade é um
princípio de sujeição ou subordinação das pessoas, órgão e entidades à lei, as medidas de
segurança e todos os actos praticados pelo Ministério Público devem basear-se na lei. ( Art .
1. º do CP conjugado com o art. 6.º da CRA )’’.

2. Princípio da referência constitucional- chama-se princípio da congruência ou da


analogia substancial entre a ordem axiológica constitucional e a ordem legal dos bens
jurídicos protegidos pelo direito penal. Desta máxima, que só raramente se encontra
consagrada de forma expressa nos textos constitucionais, onde valha a cláusula da
estadualidade de direito social decorre justamente a exigência da necessidade e
subsidiariedade da intervenção jurídico-penal.53

3. Princípio da culpa é o princípio segundo o qual, como se sabe, em caso algum pode
haver pena sem culpa ou a medida da pena ultrapassar a medida da culpa. Vale acentuar que
não existe qualquer contradição entre este princípio e a afirmação precedente, conforme a
qual o momento inicial e decisivo de legitimação da pena reside numa ideia de prevenção
geral positiva. Com efeito, o princípio da culpa não vai buscar o seu fundamento axiológico,

51
Luciana Avila Zanotele PENHEIRO, Direito Penal I: Fundamento e Prática Judicial, Brasil,
UNITINS, 2006, p., 11.
52
1. Só pode ser punido criminalmente o facto descrito e declarado passível de pena por lei anterior ao momento
da sua prática; 2. Só pode ser aplicada medida de segurança a estados de perigosidade cujos pressupostos
estejam fixados em lei anterior à sua verificação; 3. Não é permitido o recurso à analogia nem à interpretação
extensiva para qualificar um facto como crime, para definir um estado de perigosidade ou para determinar a pena
ou a medida de segurança que lhes correspondem.
53
Jorge De Figueiredo DIAS, Direito Penal Português Parte Geral, Coimbra, Coimbra Editora, 2013, p.,72.
3
aliás irrenunciável, a uma qualquer concepção retributiva da pena, antes sim ao princípio da
inviolabilidade da dignidade pessoal. 54

4. Princípio da socialidade ou da solidariedade, se o princípio da culpa exprime as


exigências que a vertente liberal do Estado de Direito faz à política criminal, a sua vertente
social, conduz à aceitação de um quarto princípio que pode ser designado como princípio da
socialidade ou solidariedade. Segundo este princípio ao Estado que faz uso do seu ius
puniendi incumbe, em compensação, um dever de ajuda e de solidariedade para com o
condenado, proporcionando-lhe o máximo de condições para prevenir a reincidência e
prosseguir a vida no futuro em cometer crimes55

5. Princípio da preferência pelas reacções não detentivas, resulta de que as medidas


de segurança não detentivas só tenham lugar quando as não detentivas se relevem
inadequadas ou insuficientes à prevenção. E, dificilmente, a exigência de que a execução das
penas e medidas detentivas, quando, apesar de tudo, deva ter lugar, ocorre com um sentido
decisivamente virado para a socialização do delinquente. 56

6. Princípio vitimológico, tem como objectivo perceber quais os tipos de delito em que
a participação da vítima não é importante e também os custos de sua reacção. Com a
vitimologia se pode traçar uma prevenção vitimária, principalmente para os casos em que a
vítima integra grupos de risco. Até porque se detalhar melhor, reitere-se os reais motivos de
uma infracção, levando-nos a evitar as chamadas cifras negras, fruto do medo de se denunciar
que acompanha boa parte das vítimas.57

Na verdade, a vitimologia preconiza um modelo para a vítima no cenário punitivo,


estabelecendo não só uma mudança de discurso, mas também a adopção de um estilo
integrador que dá mais contorno garantístico ao direito penal, tornando-o verdadeiramente
ressocializado.58

54
Jorge De Figueiredo DIAS, Ob. Cit, p., 73.
55
Idem, p., 74.
56
Idem, p., 75.
57
Gostavo Noronha De AVILA, Criminologia e Política Criminal, Brasil, ONPEDI, 2016, p., 7.
58
Noronha De AVILA, Ob. Cit, p.,7.

3
3.1. INTERVENÇÃO DO DIREITO PENAL NA EFECTIVAÇÃO DO DIREITO À
SAÚDE

Muitas pessoas quando não conseguem ter o seu direito assegurado, pelas normas
estabelecidas nas leis e directrizes do Poder Público, a alternativa que lhes restam é accionar o
poder judicial para concretizar a acção pretendida. O Estado quando se nega em prestar
serviços básicos, diante do argumento de escassez de recursos para a manutenção desses
direitos fundamentais, torna inevitável a intervenção do poder judicial. O Poder Judicial deve
actuar como o controle da legalidade, fazendo a correcta aplicação da lei, para que o direito
seja efectivado. 59

Na visão do nosso autor, diz que diante do princípio da igualdade, o direito fundamental à
saúde, visa atender a todos que necessitam e não somente alguns que são beneficiados com
esse direito. Cabe ao poder judicial assumir um papel mais politizado, de forma que não
apenas julgue o certo e o errado conforme a lei, mas sobretudo examine se o poder
discricionário de legislar está cumprindo a sua função de implementar os resultados
objectivados pelo Estado Social. Ou seja, não se atribui ao poder judicial faculdade de criar
políticas públicas, mas sim a responsabilidade de garantir a execução daquelas já
estabelecidas nas leis constitucionais ou ordinárias. Dessa forma, exige-se um poder
Judiciário “intervencionista” que realmente possa controlar a ineficiência das prestações dos
serviços básicos e exigir a concretização de políticas sociais eficientes, não podendo as
decisões da Administração Pública se distanciar dos fins almejados pela Constituição. 60

Diz-se que a medicina não é uma ciência exata, e há um conjunto de princípios e regras
fundamentais que os profissionais da saúde devem seguir na sua actuação. Por outro lado, a
dificuldade de prova (relacionada com a dificuldade de imputação do resultado à conduta do
agente) não pode, obviamente, ser convocada para afirmar a irresponsabilidade do prestador
de cuidados de saúde em situações em que se verifiquem violações dos princípios elementares
da actuação médica.61

O direito não pode ser visto como um conjunto de normas a partir das quais se obtém, por
dedução, em termos abstractos, recorrendo a uma racionalidade avante. Esta perspectiva
positiva está hoje ultrapassada.
59
Karina Ambrozio CORREA, Direito à Saúde: A Responsabilidade do Estado e a Judicialização da
Saúde, Brasil, Academia do Curso de Direito do Norte de Apucarana, 2012, p., 12.
60
Idem, p., 12.
61
Sónia FIDALGO, Ob. Cit, p., 32.

3
A tudo isto acresce ainda, FIGUEIREDO DIAS, o inegável interesse que deve ter o médico
em que o próprio Direito exija uma completa responsabilidade: não só porque, fazendo-o, o
Direito estará a revestir de particular dignidade a actividade profissional médica da dignidade
que, na lição de Hegel, acompanha a liberdade e responsabilidade, como ainda porque a
relação de confiança que é indispensável ao exercício da medicina será assegurada e reforçada
na medida daquela responsabilidade.

Segundo SÓNIA FIDALGO, a actividade médica é uma actividade que se desenvolve num
contexto de risco e, atendendo à natureza dos bens jurídicos que podem ser afectados no
decurso de uma intervenção médica, a vida, a integridade e a liberdade pessoal do paciente, o
direito penal não pode deixar de intervir. Se o médico na sua actuação cometer uma violação e
consequentemente, não melhorar ou prejudicar a saúde do paciente ou descurar o seu
consentimento para a intervenção em causa, lesa bens jurídicos penalmente protegidos, e
como tal, poderá vir ser penalmente responsabilizado por homicídio, ofensa à integridade
física ou intervenções e tratamentos médico-cirúrgicos arbitrários.62

3.2 BREVE HISTÓRIA DO DIREITO À SAÚDE

A compreensão da história de qualquer fenómeno social é de suma importância para o seu


enquadramento no tempo. A premissa fundamental para se adoptar o direito à Saúde como
direito subjectivo é considerar a evolução da consagração dos direitos fundamentais frente aos
modelos constitucionais, uma vez que a preocupação em protegê-los acompanhou os homens
através dos tempos63.

O homem sempre teve a necessidade de abrigo e de saúde do mesmo modo que as diversas
gerações sempre lutaram pelos mais básicos direitos da pessoa humana.
Após movimentos, lutas e revoluções, os direitos e liberdade individuais passaram a constituir
um ideal a ser alcançado por todos e as cartas políticas das nações passaram a ser repositório
máximo dessas garantias fundamentais. 64
Na constituição, duas vertentes do mesmo direito são asseguradas integralmente: os direitos
humanos individuais, aqueles que protegem o indivíduo contra possíveis arbitrariedades do
Estado e garantem o direito à vida, à segurança, à igualdade de tratamento perante a lei, à
liberdade, ao voto e à elegibilidade e os direitos humanos sociais que são direitos dos

62
Sónia FIDALGO, Ob. Cit, p., 32.
63
Afonso Simão do NASCIMENTO, Ob. Cit, p.3.
64
Izamba KAPALU, O Direito à Saúde na Constituição Angolana e Brasileira: um estudo comparado,
Brasil, Revista Cadernos Ibero-Americanas de Direito Sanitário, 2016, p., 220.

3
indivíduos e grupos de indivíduos que devem ser assegurados pelo Estado. São eles: o direito
à assistência social, o direito ao salário mínimo, o direito ao trabalho, o direito à educação e o
direito à saúde, esses direitos sociais a que Bobbio definiu como direitos de 2ª geração têm a
saúde individual e colectiva como direito inerente aos seres humanos, devendo ser garantido a
todos sem excepção.65

A complexidade do tema acompanha a evolução da sociedade humana desde os tempos


antigos, considerando a saúde como valor para qualquer pessoa, independentemente da sua
época e da sua colectividade. Nesses últimos tempos, o fenómeno do Direito à Saúde assina as
suas bases, as inovações da sociedade actual no âmbito de melhorar a qualidade de vida de
seres humanos. Há necessidade de protecção e defesa da saúde, de ordem pública e interesse
social nos termos da lei.66
O paciente dos nossos dias está disposto a levar o seu médico ao tribunal. Este paciente tem,
em primeiro lugar, elevadas expectativas face à medicina e, se algo não decorre em
conformidade com os seus desejos, entra em processo de crítica e de acusação. O médico foi
desmistificado; a profissão médica foi “desmistificada”. Escreve HANS-GEORG
GADAMER: “O médico não é mais a figura com o mistério dos poderes mágicos.” 67
Na visão do nosso autor IZAMBA KAPALU, são constante e natural preocupação histórica
dos povos a busca de um ideal de saúde, para o fortalecimento do grupo e até mesmo por
instinto de preservação da espécie humana, tantas vezes ameaçada por lutas fratricidas,
guerras de conquista e epidemias de carácter destrutivo. O surgimento de médicos, ao lado
dos "mágicos", curandeiros ou feiticeiros, data dos primórdios da humanidade, com notícias
que remontam ao ano 4.000 a.c, entre os Súmenos, na Mesopotamia.
Bem se conhece, pelos relatos bíblicos, o cuidado dos judeus com a circuncisão dos infantes,
que, ao lado de preceito religioso, apresenta indisfarçável preocupação higiénica e preventiva.
Entre os gregos, o incentivo a práticas desportivas certamente se ligava à ideia de equilíbrio
orgânico, pelos elementos "força" e "beleza", para o almejado equilíbrio entre corpo e alma, a
que se somaram os conhecimentos científicos e a notória actuação empírica do mestre
Hipócrates (o "Pai da Medicina"). Das mais remotas origens, perpassando pelo período algo
trevoso da Idade Média, ressurgiu com mais vigor o trato da saúde das pessoas como
componente de força do trabalho, desde que instaurada a sociedade industrial, nos tempos

65
Izamba KAPALU, Ob. Cit, Pp., 220-233.
66
Idem, p., 222.
67
André Gonçalves Dias PEREIRA, Ob. Cit, p.,18.

3
modernos. Sobre o alvo da medicina "curativa" aliou-se o ideal da "prevenção", que tomou
corpo com o chamado "Estado do bem-estar social" (welfare state), para garantia de iguais
condições de digna existência a todos os membros da sociedade.68
Daí nasceu, como órgão integrante da Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização
Mundial da Saúde (OMS), em 1946, passando a influenciar positivamente nas legislações
próprias de cada Estado.
Na sociedade angolana, a história de saúde confunde-se com a história da exploração da maior
riqueza do país: o diamante. A colónia refém dos interesses da Coroa Portuguesa e seus
sucessivos governos tinha na companhia Diamong que explorava seus recursos naturais à
exaustão, sua única fonte de serviços e acções de saúde.69

Um crescimento mais consistente verificou-se no número de formações ou centros


hospitalares e unidades de saúde. Hospitais, maternidade, dispensários-enfermarias,
dispensários (para o atendimento ambulatorial do paciente), postos sanitários e postos de
socorro. Na primeira década de funcionamento da companhia Diamang eram cinco as
instituições existentes: três hospitais, um dispensário e um posto sanitário. Este número
subiria para 31 em 1935, atingindo 94 em 1962 e 133 em 1970 com 11 hospitais, oito
maternidades, quatro dispensários-enfermarias, dois dispensários, 14 postos sanitários e 94
postos de socorro.70

Com base em campanhas de profilaxia a Diamang conseguiu penetrar em áreas isoladas que
administrativa ou militarmente não conseguiria. Os habitantes da região passaram a estar sob
a protecção e influência da companhia, outorgando-lhe uma maior possibilidade de
incorporação na força de trabalho.71

Após a Segunda Guerra Mundial os ventos da história começaram a mudar. A Inglaterra e o


imperialismo perdiam a hegemonia que até então tinha. Inúmeras colónias, por todo o globo,
começaram a obter independência, como as do sudoeste asiático nos anos 1940 e 1950 e da
África nos anos 1960, no entanto, Portugal do Estado-novo mantinha a sua política colonial e
utilizava a Diamang e seu serviço de saúde casos exemplares da colonização portuguesa. Na

68
Izamba KAPALU, Ob. Cit, p., 223.
69
Ibidem.
70
Idem, p., 223.
71
Ibidem.

3
data de 4 de Fevereiro de 1961, constituiu-se a luta armada de libertação nacional e para a
independência de Angola.72

3.3 NOÇÃO DE SAÚDE E DIREITO À SAÚDE

3.3.1 SAÚDE

Diz-se que o actual conceito de saúde, alarga-se da definição puramente somato-psíquica para
fundamentar-se em um objectivo de "qualidade de vida" que depende de todo um conjunto de
direitos inerentes às pessoas humanas e ao ambiente em que se situam. Há um bloco sistêmico
de condições a preservar para que se alcance o bem-estar individual e social. Com esses
parâmetros, conclui Germano Schwartz, em preciosa monografia sobre o tema, que a saúde
pode ser conceituada como: "um processo sistêmico que objectiva a prevenção e cura de
doenças, ao mesmo tempo que visa a melhor qualidade de vida possível, tendo como
instrumento de aferição a realidade de cada indivíduo e pressuposto de efectivação a
possibilidade desse mesmo indivíduo ter acesso aos meios indispensáveis ao seu particular
estado de bem-estar".73
A saúde é um estado de bem-estar inerente a todo ser humano; essencial para a execução de
outros direitos, como por exemplo, no que diz respeito a efectivação de uma vida digna.
Cuidados de saúde são, actualmente, a expressão de cuidado profissional e institucionalizado,
garantido a todos, em Portugal, por via da Constituição da República Portuguesa, que no
Artigo 64 prescreve o direito à protecção da saúde. Porém, essa garantia confronta-se com a
complexidade das dimensões política, económica e jurídica deste direito- melhor dizendo tem
sido predominante a leitura económica, em dois eixos principais: o controlo das despesas e o
aumento do financiamento. Face à complexidade da questão da saúde percebe-se que (…) as
questões que se levantam não podem deixar de ter a sua raiz na ética tal como a sua plena
adequação prática a tem na esfera do entendimento que a sociedade tem de si própria e do
ordenamento político e jurídico com que se dota. Desde o nível das decisões pessoais –
quanto à própria saúde ou aos cuidados de saúde a prestar a outros – até às decisões relativas à
sociedade e às suas estruturas, encontram-se zonas problemáticas onde se inscrevem
interrogações do domínio dos fundamentos éticos.74

72
Izamba KAPALU, Ob. Cit, pp., 224-225.
73
Euclides Benedito de OLIVEIRA, Direito à Saúde: Garantia e Protacção Pelo Poder Judiciário,
Brasil, pp.,37-38.
74
Jorge Sinde MONTEIRO, Curso Completo de Direito da Saúde, Responsabilidade Civil, Penal e Profissional,
Lisboa, Centro de Estudo Judiciário, 2012, p.,18

3
A saúde é condição primária de uma vida com dignidade e, dado o carácter relevante da
dignidade da pessoa humana, este princípio vem consagrado constitucionalmente, em Angola
como um princípio fundamental.75

3.3.2 DIREITO À SAÚDE

Se a Constituição de um país reconhece o Direito à vida e assegura à todos o direito à


integridade corporal e física, automáticamente está reconhecer o Direito à Saúde, e o nosso
ordenamento, não foge à regra, o Direito à Vida é consagrado na nossa Constituição no
Art. 30º, entendemos nós que a saúde é vida e só há vida quando há saúde, então não é só
responsabilidade do profissional da saúde, e sim do Estado porque entendemos nós que
constitui um dos fins do estado garantir a todos a assistência médica sanitária. (Art. 77º da
CRA). Os preceitos supra têm como fundamento a vida, por ser um bem jurídico fundamental
sobre o qual o direito à saúde está subjacente à vida em si, protegida por vários diplomas da
ordem jurídica de ambos os Estados.76
No ordenamento jurídico Angolano, existe um preceito processual (correspondência entre o
direito e a acção) ao abrigo do art. 2.º do CPC, comando este inerente às acções judiciais
como forma de concretização do direito à saúde em casos de violações, conforme preceituam
os artigos 29.º n.º 5, e 77.º, ambos da CRA, cujo título plasma o acesso ao direito e a tutela
jurisdicional efectiva.77
O Direito à saúde é classificado como direito fundamental de segunda geração, que são
aqueles que exigem um comportamento positivo do Estado. De acordo com os ensinamentos
de Paulo Bonavides: são os direitos sociais, culturais e econômicos bem como os direitos
colectivos ou de colectividades, introduzidos no constitucionalismo das distintas formas de
Estado social, depois que germinaram por obra da ideologia e da reflexão antiliberal deste
século. Nasceram abraçados ao princípio da igualdade, do qual não se podem separar, pois
fazê-lo equivaleria a desmembrá-los da razão de ser que os ampara e estimula.”78
O direito à saúde, além de se qualificar como direito fundamental e possuir como objectivo a
garantia de uma vida digna a todos, representa consequência constitucional indissociável do

75
João VALERIANO, Reflexões Jurídico-Política Sobre o Princípio da Igualdade, O Direito à Saúde, Os
Direitos Sociais e a Responsabilidade Civil da Administração Pública- Os Casos de Angola, Brasil e Portugal,
Lisboa, AAFDL Editora, 2019, p., 202.
76
Idem, p., 194.
77
Ibidem.
78
Luana Cavalcante VILASBOAS, A Judicialização da Concretização do Direito à Saúde, Salvador,
Disponível em: Google Acadêmico,2017, p., 3.

3
direito à vida, vez que a falta de saúde pode ser responsável directa pelo fim da vida de uma
pessoa ou, ao menos, comprometer a plenitude desta. Não existe vida digna sem direito à
saúde.79

Por seu turno, OLIVEIRA ASCENSÃO defende o conceito de Direito da Bioética, querendo
referir-se ao ‘Direito da Vida’, incluindo a Ecologia. Para além de uma nomenclatura
epistemologicamente defeituosa (pois confunde duas ordens normativas: o Direito e a Ética),
fica por esclarecer que avanço jus-científico se consegue com a falta de preocupação com
uma correta delimitação dogmática das figuras. Por seu lado, o Direito da Saúde ou mesmo o
Biodireito apenas se conseguirá afirmar como um campo de estudos, sem coerência
dogmática própria.80

4. CIRCUNSTÂNCIAS QUE IMPEDEM A CONCRETIZAÇÃO DO DIREITO À


SAÚDE

Como se sabe, existindo dentro do ordenamento norma jurídica que estabeleça o direito de
alguém, e havendo resistência para satisfazer a pretensão do titular do direito, será o caso de
averiguar qual instrumento será adequado para que a norma irradiadora do direito seja
actuada. Sendo assim, não basta localizar e identificar o direito em questão, mas, visando a
sua efectividade, achamos necessário identificar qual o meio processual idôneo à sua
concretização, que durante a nossa pesquisa chegou-se a conclusão que esse meio chama-se
denúncia, porque determinados crimes só se tornam público após a denúncia. E o direito à
saúde não foge dessa regra, sem que haja o impulso processual da parte lesada não se terá
conhecimento que alguém lhe foi violado o seu direito à saúde, ou não lhe foi prestado
assistência.

‘’A concretização do direito à saúde é um ideal a ser persistentemente buscado, sobretudo


porque são muitos os obstáculos para que ela aconteça. Esses obstáculos ou, dizendo de outro
modo, as causas de sua inefectividade, são bastante variados, não sendo possível, desse modo,
entender o problema sob uma perspectiva unidimensional. Qualquer tentativa nesse sentido
estará fadada ao insucesso. Por isso, mesmo sem pretensão de exaurir o assunto ou de oferecer
resposta pronta e acabada para problema de tão elevada complexidade, o estudo procura
demonstrar que a inefectividade do direito fundamental à saúde decorre de uma pluralidade de

79
Luana Cavalcante VILASBOAS, Ob. Cit, p., 3.
80
André Gonçalo dias PEREIRA, Direito dos Pacientes e Responsabilidade Médica, p., 41. Apud Oliveira

3
Ascensão.

3
causas, nomeadamente: custo da prestacção do direito à saúde e a escassez de recursos; falta
de vontade política, à qual se vincula a corrupção; a falha na formação do médico e, também,
a própria judicialização da saúde, que parece um remédio que, pela alta dosagem, tem virado
veneno’’.81

‘’para a concretização do direito à saúde, o Estado angolano tem a tarefa de promover


programas de assistência integral à saúde de crianças e adolescentes. Admitida assim, a
participação das entidades não governamentais, nos termos do art.º 21.º alínea i) da CRA).
Em qualquer sociedade, independentemente do seu desenvolvimento, à saúde padece
enfermidades profundas, fazendo com que o direito à saúde, enquanto direito fundamental
social, não tenha a total efectivação conforme os cânones constitucionais’’.
Assim, PAULO BONAVIDES, clarifica que, “sem a concretização dos direitos sociais, não
se poderá alcançar jamais a sociedade livre, justa e solidária”. Tal como refere o art.º 1.º da
CRA. A saúde enquanto premissa básica do exercício da cidadania é de suma relevância para
a sociedade, pois diz respeito à qualidade de vida como consagração constitucional, nos
termos da alínea d) do art.º 21.º, da CRA, cujo escopo se consubstancia como forma
indispensável no âmbito dos direitos fundamentais sociais.
Os direitos fundamentais sociais, ou prestacionais, mais concretamente o direito à saúde,
configura-se como um dos elementos que marcam o constitucionalismo social no tocante à
existência, no texto constitucional, de direitos à prestação de cuidados, direitos estes que
impõem um dever ao Estado, que passam a exigir de enquanto propiciador da liberdade
humana através de uma efectiva garantia e eficácia do direito fundamental prestacional à
saúde. Neste sentido, JORGE REIS NOVAIS diz que “[…] a realização do Estado social e
democrático de direito pressupõe a preservação dos valores e princípios que,
independentemente da época, permitem clarificar um Estado como Estado de Direito. Isso
implica que a garantia dos direitos fundamentais dos cidadãos continua a ser considerada
como o fim do Estado Social” 82.

81
Alexandro Conceição Dos SANTOS, Concretização do Direito à Saúde na Sociedade, Centro
Universitário Salesiano de São Paulo, Lorena, 2018, p., 55.
82
João VALERIANO, Ob. Cit, p.,130 ss.

3
O que está na base da não concretização da tutela efectiva do direito à saúde em Angola,
estudos feitos apontam no seguinte:

1- Falta de condições de Trabalho;


2- Falta de fiscalização dos
Serviços; 3- Profissionais não
qualificados;
4- Preconceito;
5- Falta de ética profissional.

Da estatística feita 40% dos inquiridos responderam ser a falta de fiscalização dos
profissionais de saúde, que está na base da não concretização efectiva do direito à saúde, o
que causa uma prestação precária dos serviços de saúde e constantes violações dos mesmos.

4.1 IMPORTÂNCIA DO DIREITO À SAÚDE

O direito à saúde é um instituto susceptível de se observar em todas as sociedades e


Constituições, e é importante tanto no âmbito social como no âmbito familiar, no elenco de
pessoas vinculadas a prestar o Direito à Saúde figuram o Médico e o Enfermeiro Entendemos
nós ser importante estudar sobre o Direito à Saúde na vertente de responsabilidade Criminal,
porque apesar de ser tarefa dos profissionais da saúde, prestar assistência aos pacientes, é
necessário que o Estado sendo uma pessoa de bem, assegure a todos o mesmo direito, dando
condições dignas, porque só teremos um Estado desenvolvido quando se tem pessoas
saudáveis no mesmo. Diz Hipócrates “ O homem saudável é aquele que possui um estado
mental e Físico em perfeito equilíbrio”83.

O Direito à saúde é de extrema importância verdadeiramente, não existe vida plena quando
falta ao indivíduo saúde, razão pela qual os Estados modernos implementam políticas sociais
com fim de satisfazer as necessidades básicas dos seus cidadãos, essencialmente. E para
salvaguardar o direito à saúde vezes há em que outros direitos podem ser restringidos,
respeitando-se sempre o princípio da proporcionalidade.84

O direito à saúde é importante porque trata-se de Direito Fundamental, aprendemos durante a


nossa formação que os direitos fundamentais são os pilares de uma sociedade ou de uma
Constituição e são invioláveis, por isso consideramos nós importante esse direito por estar

83
Segundo Henrique CAIRUZ, Texto Hipocráticos: O doente, o médico e a doença, p., 24, Apud Hipócrates.

4
84
João VALERIANO, Ob. Cit, p., 201.

4
directamente ligado ao Direito à Vida, previsto no Art. 30.º da CRA Conjugado com o Art. 3.º
da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

O direito à Saúde é de extrema importância não só por ser um direito fundamental, e o mesmo
enquadra-se nos direitos humanos como vem sendo plasmado no Art. 3.º da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, porque saúde é vida e à ninguém deve-se retirar a vida por
negligência ou por falta de assistência , é importante que se estude sobre isso porque
entendemos nós que as pessoas sabem da importância da Saúde dentro de uma família e
Sociedade só não sabem, que quando não lhes é prestada de forma digna é passível de uma
responsabilização criminal (Art. 75.º da CRA) , e o nosso estudo tem fundamento aí ,
despertar as pessoas sobre um tema que pouco se fala , Direito à Saúde e a importância do
mesmo dentro da sociedade, tem sido um bicho de sete cabeça é importante que a Sociedade
Angolana desperte nesse sentido o Direito à Saúde e um dever do Estado, e o mesmo é
executado através dos órgãos representativos do Estados a Saúde é indispensável dentro de
qualquer relação familiar ou social.

4.2. DIREITO À SAÚDE COMO DIREITO FUNDAMENTAL

Os Direitos Fundamentais são os direitos ou as posições jurídicas activas das pessoas


enquanto tais, individual ou institucionalmente, consideradas, assentes na Constituição
formal, seja na Constituição material. 85 Segundo CRISTINA QUEIROZ os direitos
fundamentais são direitos constitucionais, que não devem em primeira linha ser
compreendidos numa dimensão técnica de limitação do poder do Estado.

Afirmar que o direito à saúde é um direito fundamental significa, acima de tudo, que ele
vincula os Poderes Públicos, obrigando o Estado a fazer todo o possível para promover a
saúde. Nem mesmo a Teoria da Reserva do Possível deve impedir a concretização do direito à
saúde, tendo em vista que não se pode limitar a garantia aos direitos fundamentais em função
de um interesse financeiro, que deve ser secundário.86

A doutrina classifica os direitos fundamentais em gerações ou dimensões, levando em


consideração a cronologia em que foram conquistados e a natureza que se reveste. Cumpre
ressaltar que não ocorre alternância ou substituição gradativa de uma dimensão para outra,

85
Zeferino CAPOCO, Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Benguela, Escolar Editora, p.,263.
86
Fernanda Silva BUENO, A Concretização do Direito à Saúde Pelo Poder Judiciário, Centro Universitário de
Brasília, Brasília, 2014, p.,9.
4
mas sim um processo cumulativo, de complementaridade. Os direitos vão sendo reconhecidos
e inseridos no ordenamento jurídico conforme o evoluir da história. 87
Os direitos de primeira
dimensão, como o próprio nome já diz, foram os primeiros a constar no instrumento
normativo constitucional e se referem a liberdades individuais. Caracterizam-se por
contestarem uma abstenção do Estado, uma proibição de abuso de poder. Os direitos de
segunda dimensão são os direitos sociais e econômicos, bem como os direitos colectivos ou
de colectividade.

Trata-se de direitos positivos, isto é, que impõem ao Estado uma obrigação de fazer. Aqui se
enquadra o direito à saúde, ora objecto de estudo. Os direitos de terceira dimensão são os
direitos individuais, ou seja, que não pertencem a ninguém isoladamente, mas a várias
pessoas. Para ALEXANDRE DE MORAES, englobam o direito a um meio ambiente
equilibrado, uma saudável qualidade de vida, ao progresso, à paz e à autodeterminação dos
povos.88

Na visão de FERNANDA SILVA BUENO, a dignidade da pessoa humana tem estreita


relação com os direitos fundamentais, figurando como o centro em torno do qual gravitam
esses direitos, proporcionando-lhes um carácter sistemático. Pode ser considerada como o
fundamento dos direitos fundamentais, ou seja, o princípio jurídico básico que justifica
logicamente a existência de tais direitos.89

A dignidade da pessoa humana é considerada uma qualidade inerente a todo ser humano, um
atributo próprio, e não um direito imposto exclusivamente pelo ordenamento jurídico. Assim,
se define a dignidade da pessoa humana como a: Qualidade intrínseca de cada ser humano que
o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade,
implicando, neste sentido, um complexo de direito e deveres fundamentais que assegurem a
pessoa tanto contra o todo e qualquer acto de cunho degradante e desumano, como venham a
lhe garantir as condições existenciais para uma vida saudável, além de propiciar e promover
sua participação activa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em
comunhão com os demais seres humano. A dignidade da pessoa humana é pré-jurídica, sendo
condição indissociável do ser humano que o difere dos demais seres. E, enquanto dimensão

87
Fernanda Silva BUENO, Ob. Cit, p., 10.
88
Idem, p., 11.
89
Idem, p., 12.
4
não-patrimonial, a dignidade da pessoa humana, visa a protecção da pessoa, da personalidade
humana, daquilo que se reconhece como atributo específico, ou a qualidade de ser humano.90

Os direitos fundamentais são, nesta dimensão, direitos absolutos, imutáveis e


intemporais, inerentes à qualidade de homem dos seus titulares, e constituem o
núcleo restrito que se faz sentir em qualquer ordem jurídica, impondo-se, desta
forma, não apenas contra o Estado, mas também aos particulares.91

4.3 PARECER CONSTITUCIONAL DO DIREITO À SAÚDE EM ANGOLA

Em 1975, 11 de Novembro é declarada a independência de Angola e em 1992, o direito à


assistência médica e medicamentosa, passou a constar na Constituição do país no (Art.77.º) E
este direito é visto em várias vertentes que achamos não menos importante elencar por
fazerem parte da matéria relativa aos direitos fundamentais são as seguintes:

4.3.1 Direito à saúde como direito de garantias fundamentais:

Art. 21º, d) promover o bem-estar, a solidariedade social e a elevação da qualidade de vida do


povo angolano, designadamente dos grupos populacionais mais desfavorecidos;

Art. 21º, f) promover políticas que permitam tornar universais e gratuitos os cuidados
primários de saúde

Art. 21º, i) Efectuar investimentos estratégicos [...] na educação, na saúde, na economia


primária [...]

O direito à saúde tem um conteúdo mínimo que, à semelhança do que sucede com os direitos,
liberdades e garantias, constitui o núcleo duro intangível e absolutamente não suprimível, e
parece claro que à busca dessa prestação mínima necessária à preservação da própria vida,
pode o Estado ser demandado em juízo independentemente da intervenção legislativa.92

4.3.2 Vertente Direito à Saúde:

Art.77º. O Estado promove e garante as medidas necessárias para assegurar a todos o direito à
assistência médica e sanitária, bem como o direito à assistência na infância, na maternidade,

90
Fernanda Silva BUENO, Ob. Cit, p., 13.
91
José Carlos V. ANDRADE, Os Direitos Fundamentais – na Constituição Portuguesa de 1976, pp., 12-13.
92
João VALERIANO, Ob. Cit, p., 199.

4
na invalidez, na deficiência, na velhice e em qualquer situação de incapacidade para o
trabalho [...]

4.3.3 Dever do Estado Frente à Saúde: É dever do Estado pelo facto de que a
concretização do direito à saúde depende da vontade política do Estado, e a sua materialização
é feita na base do princípio da reserva do possível, nos termos do art. 28.º n.º 2, da CRA.93
4.3.4 Participação no Sector Privado:
Art.77º n. º 3 A iniciativa particular e cooperativa nos domínios da saúde, previdência e
segurança social é fiscalizada pelo Estado e exerce-se nas condições previstas na lei.

Na visão de IZAMBA KAPALU a Constituição angolana garante uma protecção à saúde das
crianças, dos idosos e dos deficientes. De forma especial o texto constitucional garante
assistência à deficiência na velhice. Isto tem grande importância especialmente pelas pessoas
que ficaram deficientes em função dos ferimentos da longa guerra civil angolana. Ainda hoje,
a população mais carente é vítima das granadas enterradas nas superfícies dos terrenos, que ao
explodir, têm ceifado vidas, quando não deixam indivíduos adultos e crianças deformados.

O dever do Estado angolano em função da saúde é de garantir serviços de assistência em todo


o território nacional. Como Angola é um Estado unitário, os serviços de saúde prestados nas
províncias são de obrigação do Estado, também é obrigação do Estado angolano o controle e
fiscalização de produtos médicos e biológicos para a saúde bem como o controle de doenças.

Para que um direito fundamental individual seja reconhecido como tal é necessário que esteja
regulamentado na forma de Constituição dentro de um Estado, essa protecção terá a forma de
um direito subjectivo. Se a protecção for de todos os indivíduos dentro da colectividade, e
cada membro protegido não puder ser individualizado de forma concreta, teremos o direito
objectivo como forma de protecção.94

O sentido nesse ponto levantado no âmbito da nossa pesquisa é de tratar do Direito à Saúde
como Direito Fundamental, entendemos nós que são direitos importantes que deve ter uma
maior atenção por parte dos órgãos competentes, para que seja assistido a todos de forma
digna.

93
João VALERIANO, Ob. Cit, p., 201.
94
Carolina Leite de CAMARGO, Saúde: um direito essencialmente fundamental, Brasil, Disponível em:
Google Acadêmico, 2017, p., 1.

4
J.J. CANOTILHO considera os direitos fundamentais como “raiz antropológica”, essencial,
que reflecte na legitimidade da Constituição impondo ao Poder Político uma responsabilidade.
“Esta dimensão da universalidade e de intersubjectividade reconduz-nos sempre a uma
referência aos Direitos do Homem”. Embora, os desafios param a efetivação do Direito à
saúde são de origens diversas; para se entender como se dá o processo de banalização desse
Direito, na actual irresponsabilidade vertente, precisa-se pensar e admitir primeiramente o que
se concebe como Direito à saúde, Direito à vida e qual a fixação, ou nuclear essencial destes
dois princípios.

Segundo ALBERTO MARLON WEICHERTE, o direito à saúde é um direito fundamental,


presente na Segunda Dimensão de direitos fundamentais, posto que está inserido nos direitos
sócias e como tal deve ser preservado a todas as pessoas. Sem a efectivação do direito à
saúde, diversos outros direitos são violados. Actualmente existem diversos mecanismos que
visam coibir o Poder Públicos a efectivar os direitos referentes ao bem-estar de cada um.

4.4 RESPONSABILIDADE CIVIL, NOÇÃO GERAL

Tem sido várias as situações que levariam uma pessoa a ser responsabilizada e
consequentemente a reparar um dano causado a outrem, no caso de danos patrimoniais,
físicos ou mesmos psicológicos.

E esses actos ou conduta lesante tem duas origens uma interna (endógena) quando dominada
pela vontade do seu autor, ou exógena, como nos casos decorrentes da mera negligência. 95

A responsabilidade civil é indubitavelmente um dos mais palpitantes e problemas da


actualidade jurídica, ante a sua surpreendente expansão no direito moderno e os seus reflexos
nas actividades humanas, contratuais e extracontratuais, e no prodigioso avanço tecnológico,
que impulsiona o progresso material, gerador de utilidade e de enormes perigos à integridade
da vida humana.96

A responsabilidade civil é a obrigação que a lei impõe a alguém de reparar o dano causado a
outrem, ou seja, consiste na necessidade imposta pela lei a quem causa prejuízos à a outrem
de colocar o ofendido na situação em que estaria sem a lesão. Visa tornar indene, sem dano,

95
Afonso Simão do NASCIMENTO, Ob. Cit, p.,10.
96
Maria Helena DINIZ, Curso de Direito Brasileiro: Responsabilidade Civil, Brasil, Disponível em:
Google Acadêmico, 2017, p., 3.

4
visa colocar a vítima na situação em que estaria sem a ocorrência do facto danoso (Artigos
483.º e 562.º do CC. Conjugado com os Artigos 75.º e 76.º do CPP).

A responsabilidade civil consiste então numa obrigação de indemnização, a qual pode nascer,
desde logo, como consequência do incumprimento definitivo, mora, cumprimento defeituoso
ou porventura, pela violação de um direito absoluto (direito real ou de direito de
personalidade) que no nosso tema nos levaria no Direito à Vida como direito de
personalidade, assim como diz o art. 66º do CC. Só tem personalidade jurídica aquele que
nasce completo e com vida.

A resposta a um leque de questões impõe-se à nossa reflexão: Poderá o Direito da Medicina


afirmar-se como um ramo especial, com uma dogmática autónoma? Autonomia que se afirma
em razão da matéria e em razão do quid específico metodológico? Haverá uma racionalidade
específica que permita distinguir a “Ciência do Direito da Medicina” já face ao campo das
Responsabilidades Profissionais, já face ao Direito da Reparação dos Danos Pessoais?97
Muitas obras tratam da responsabilidade médica juntamente com a responsabilidade dos
Advogados, dos Notários, dos Arquitectos, dos Contabilistas e outros profissionais. Contudo,
facilmente se compreende que estas responsabilidades profissionais visam sobretudo o
domínio dos danos patrimoniais, incluindo dos danos puramente patrimoniais ou puramente
económicos, ao passo que o Direito da Medicina, de que a responsabilidade civil médica é um
dos seus capítulos, visa em primeira linha a tutela de bens jurídicos pessoais, dos direitos de
personalidade, e adquire especial relevo a compensação de danos não patrimoniais. Não se
nega, porém, que alguns institutos nascidos no âmago das responsabilidades profissionais não
venham a ser adoptados pelo Direito da Medicina, com as devidas adaptações, como o dever
de informação, ou o instituto de perda de chance ou o conceito de obrigações de meio e de
obrigações de resultado.98
Também o Direito da reparação de danos pessoais, que abrange o direito rodoviário, o direito
dos acidentes de trabalho e das doenças profissionais, não abrange, com a subtileza
necessária, a especificidade do Direito da Medicina. Trata-se de objectos de estudo jurídico
que partem de um ponto de vista distinto. No Direito Médico, o paciente tem interesse na
relação social e jurídica e o médico visa “cuidar” do doente e não o mero lucro económico.
Numa palavra: o Direito da Medicina deve considerar o plus de solidariedade existencial que

97
André Gonçalo dias PEREIRA, Ob. Cit, p. 41
98
Idem, p., 42.

4
deve caracterizar a relação médico-paciente e que ultrapassa a mera primacial outo
antropológica relação de cuidado-perigo do direito dos acidentes rodoviários e laborais.99

4.4.1 MODALIDADE DE RESPONSABILIDADE CIVIL

A responsabilidade civil não pode ser confundida com a responsabilidade moral nem com a
responsabilidade criminal nem sequer com a responsabilidade disciplinar. Podendo existir
todos estes tipos de responsabilidade, em regra a sua regulamentação é tratada em termos
distinto.100

1. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJECTIVA

Em termos históricos, a responsabilidade civil objectiva tem a sua génese na revolução


industrial, com o processo de mecanização dos meios de produção. Tal facto ocorreu devido
ao aumento dos danos sem culpa que se verificavam no meio industrial, e que reclamavam
reparação efectiva. As injustiças irreparáveis das vítimas, bem como a impossibilidade de
provar a culpa, justificam a responsabilidade civil objectiva. A mesma visa facilitar a
indemnização do lesado, mesmo que o dano não possa ser imputado ao comportamento
culposo de uma pessoa. 101

A responsabilidade civil objectiva ou pelo risco verifica-se sempre que alguém é obrigado por
lei a reparar um dano independentemente da culpa.

A responsabilidade civil objectiva teve o seu cerne ou surgimento em matéria do direito de


trabalho, relativamente aos acidentes de trabalho, não se podia obrigar o lesado a provar a
culpa do autor o que seria não dar uma protecção adequada e até deixá-lo desprotegido. A
responsabilidade objectiva estendeu-se hoje a uma forte tendência no sentido de aumentar a
sua extensão, como é o caso da responsabilidade pelo risco constam dos artigos 499.º a 510.º
do CC.102

2. RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJECTIVA

A responsabilidade civil subjectiva dimana de actos ilícitos e culposos do agente, sendo o


regime regra do nosso ordenamento jurídico. O regime regra da responsabilidade civil baseia-

99
André Gonçalo dias PEREIRA, Ob. Cit, p., 43.
100
António Vicente MARQUES, Direito das Obrigações Volume l, Portugal, Polis Editora, 2008, p.,205.
101
Vide Afonso Simão do NASCIMENTO, Responsabilidade Civil Médica no Ordenamento Jurídico
Angolano, p.,12.
102
Carlos Alberto B. Burity da SILVA, Teoria Geral do Direito Civil, Angola, Ed: Faculdade de Direito da
UAN, 2015, p.,180.

4
se na obrigação de reparar os danos provocados a outrem pelo autor da lesão que age
ilicitamente e com dolo ou culpa.103

Para que haja uma responsabilidade civil subjectiva na visão do nosso legislador no artigo
483.º do CC, é necessário que se verifique alguns elementos como: acção humana, a ilicitude,
a culpa, o dano e o nexo de causalidade.

103
Carlos Alberto B. Burity da SILVA, Ob. Cit, p.,15.
4
CAPÍTULO II DESCRIÇÃO DA DOGMÁTICA DA RESPONSABILIDADE
CRIMINAL DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

1. RESPONSABILIDADE CRIMINAL DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE NO


CÓDIGO PENAL DE 1886 E DE 2020

1.1 RESPONSABILIDADE CRIMINAL NO CÓDIGO DE 1886

Relativamente a este ponto importa dizer que a Responsabilidade Criminal dos Profissionais
de saúde na aplicação do Direito à Saúde, não era tipificada neste código. Na visão de
TERESA PIZARRO BELEZA, ser uma acção típica significa que ela tem de corresponder a
um dos tipos da parte do Código em princípio, pois algumas disposições da parte geral
alargam esses tipos. Uma acção é típica, quando corresponde nos seus traços essenciais, a um
tipo legal de crime, ou seja, a uma definição de crime como, em princípio, existia na parte
especial do código.104

Começaríamos por dizer que apesar da nossa constituição prever o Direito à Vida no Art 30.º
e o Dever do Estado em prestar a Assistência Médica a todos no Art. 77.º, não diríamos o
mesmo no anterior código em que o Direito à Saúde não era tipificado ou seja não era
considerado crime a sua violação, não obstante a isso sendo que o anterior código era proibido
a aplicação da lei por analogia no art 18.º. O mesmo só considerava crime o que era punível
por lei penal e a recusa à assistência por profissionais de saúde baseando-se no anterior código
não era considerada crime ( Art. 1.º do CP Anterior).

Na visão do autor JOÃO VALERIANO, o direito a protecção da saúde não é um privilégio,


mas sim um dever do Estado, defendendo-se e promovendo-o.105

1.2 RESPONSABILIDADE CRIMINAL DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE À LUZ


DO CÓDIGO PENAL DE 2020

O paciente não tem direito à cura. Tendo em conta os conhecimentos da medicina e as


circunstâncias de tempo e de lugar, pode apenas exigir-se ao médico que faça tudo o que
estiver ao seu alcance para melhorar o estado de saúde do paciente. E nem sempre que há um
prejuízo para a saúde do doente existirá responsabilidade penal, para que haja

104
Teresa Pizarro BELEZA, Direito Penal, Porto, AAFDL, 1979-1985, p., 19.
105
João VALERIANO, Ob. Cit, p., 203.

4
responsabilidade penal é necessário que com sua conduta o médico preencha um tipo legal de
crime.106

Relativamente a esse ponto nos interessa dizer que o nosso actual código já tipifica como
crime a não assistência pelo profissional de saúde (art. 209.º do CP), o que podemos afirmar
que já é crime não prestar assistência, além de tipificar também no Art. 9.º Responsabilidade
Criminal das Pessoas Colectivas o que não era previsto no anterior código, que consideramos
um avanço significativo no Direito Penal Angolano. As clínicas também já podem, com base
a esse novo código ser responsabilizadas criminalmente por violação do direito à saúde, ou
por negação de assistência médica a um paciente ou utente.

O instituto da responsabilidade sempre pautou a convivência do homem em sociedade. No


Direito, transita em diferentes esferas: civil, penal e administrativa. Não há uma distinção
substancial entre o ilícito civil, administrativo e penal, senão uma escolha, pela lei, para
estabelecer qual do Direito irá conferir solução eficaz e suficiente para evitar ou reparar o
dano temido.107
O facto gerador da responsabilidade depende da natureza da norma jurídica que impõe o
dever violado pelo agente, pois uma mesma conduta pode incidir de forma simultânea nas três
esferas, caracterizando violação à lei administrativa, penal e civil.108

1.2 RESPONSABILIDADE CRIMINAL EM MATÉRIAS DE SAÚDE NO CÓDIGO


PENAL DE 2020

Um dos avanços significativos desse novo código é o que nos propusemos a abordar, que é a
responsabilidade criminal em matéria de saúde que já vem tipificado no actual código que
vamos elencar aqui alguns dos artigos que falam sobre esse assunto.
“A responsabilidade criminal ocorre quando o agente age ou deixa de agir incorrendo numa
norma penal já prevista em lei.”

106
Sónia FIDALGO, Ob. Cit, p.,34.
107
Idem, p.,34.
108
Luís Carlos Pelizari ROMERO, A Instituição da Responsabilidade Sanitária Pela Via Legal, Brasil,
Disponível em: Google Acadêmico, 2013, p,.2.

5
1.2.1 ARTIGO 207.º
(Impedimento a prestação de socorro)
Relativamente a este ponto importa dizer que o art. 207.º do CP, expressa a penalidade e os
termos, em que o profissional é responsabilizado quando negar a um paciente ou utente um
serviço de saúde, pondo assim em perigo a vida desta pessoa. 109

1.2.2 ARTIGO 208.º


(Omissão de auxílio)
Segundo expressa no art. 208.º a omissão será assim uma abstenção da actividade que o
agente poderia e deveria ter levado a cabo por forma a evitar a ofensa do bem jurídico
tutelado, é um non facere penalmente relevante.110 Assim a omissão será o não ter agido da
forma imposta pela lei, por essa falta de acção o agente ofende ou coloca em perigo, lesando
assim o bem jurídico tutelado.111

1.2.3 ARTIGO 209.º


(Recusa de assistência por profissional de saúde)
O direito à saúde como vem expresso no art 77.º da CRA é um direito de todos e à ninguém
pode ser negado a assistência, por esta razão achamos, importante falar neste trabalho sobre
essa matéria, já o artigo 209.º vem expresso que o profissional de saúde não pode negar a

109
Quem impedir que seja prestado socorro a pessoa em situação de perigo de vida, de ofensa à sua integridade
física, à sua liberdade ou socorro destinado a combater um sinistro ou acidente que represente perigo para a
segurança das pessoas é punido com a pena de prisão de 1 a 5 anos, se pena mais grave não lhe couber por força
de outro preceito penal.
110
1. Quem, podendo fazê-lo sem grave risco para a vida, a integridade física ou a liberdade, suas ou de terceiro,
deixar de prestar auxílio à pessoa vítima de acidente, calamidade pública ou qualquer outra situação susceptível
de pôr em perigo a vida, a integridade física ou a liberdade de qualquer pessoa, ou deixar de pedir à autoridade
pública o socorro necessário para afastar o perigo, é punido com a pena de prisão até 1 ano ou com a de multa
até 120 dias.
2. Se a omissão descrita no número anterior for a causa de doença grave da pessoa carecida de auxílio, ou da
sua morte, a pena é de prisão até 2 anos.
3. Se a situação de perigo tiver sido criada pelo omitente, a omissão é
punida: a). Com pena de prisão de 1 a 3 anos, no caso do n.º 1;
b). Com a pena de prisão de 2 a 8 anos, no caso do n.º 2.
111
Jorge de Figueiredo DIAS, Ob. Cit, p., 905.

5
prestação de assistência a um paciente ou utente, porque incorre num crime passível de
responsabilidade criminal.112

2. Extinção da Responsabilidade Criminal


Relativamente a este ponto não existe qualquer responsabilidade, que não pode ser extinta e a
responsabilidade criminal dos profissionais de saúde não foge à regra, e os artigos a seguir
explicam os casos que a responsabilidade criminal é extinta.

2.1 Prescrição do Procedimento Criminal


2.1.1 ARTIGO 129.º CP
(Prazos de prescrição)
Esse artigo expressa os prazos de prescrição da responsabilidade criminal, prescreve pelas
razões elencadas no artigo seguinte nos seus números 1 a 4, o procedimento criminal pode
extinguir no caso, em que o paciente ou o utente mesmo ter visto o seu direito violado, fica no
silêncio, ou seja não dá causa ao procedimento criminal.113

112
1. O profissional de saúde que, de modo ilegítimo, recusar prestar assistência médico-medicamentosa, em
caso de perigo para a vida do paciente, é punido com pena de prisão até 3 anos ou com a de multa até 360
dias, se pena mais grave não lhe couber por força de outra disposição legal.
2. A unidade sanitária que recusar a intervir para salvar uma pessoa em risco de vida é punida com multa até 240
dias, sem prejuízo da aplicação de pena acessória.

113
1. O procedimento criminal extingue-se, sem prejuízo do disposto no n.º 4, por efeito de prescrição, logo
que sobre a prática do crime tiverem decorrido os seguintes prazos:
a) 15 anos, quando se tratar de crimes puníveis com pena de prisão cujo limite máximo for superior a 10 anos;

b) 10 anos, quando se tratar de crimes puníveis com pena de prisão cujo limite máximo for igual ou superior a 5
anos, mas que não exceda 10 anos;

c) 5 anos, quando se tratar de crimes puníveis com pena de prisão cujo limite máximo for igual ou superior a 1
ano, mas inferior a 5 anos;

d) 2 anos, nos casos restantes.


2. Para efeito do disposto no número anterior, na determinação do máximo da pena aplicável a cada crime
são tomados em conta os elementos que pertençam ao tipo de crime, mas não as circunstâncias agravantes ou
atenuantes.

3. Quando a lei estabelecer para qualquer crime, em alternativa, pena de prisão ou de multa, só a primeira
é considerada para efeito do disposto neste artigo.

4. São imprescritíveis os crimes de genocídio, os crimes contra a humanidade e os crimes de terrorismo


e terrorismo internacional.

5
2.1.2 ARTIGO 130.º CP
(Início do prazo)
O prazo do procedimento criminal dá início com a consumação do facto, ou seja, assim que o
profissional de saúde consumar o facto ilícito e culposo, imediatamente dá início o prazo do
procedimento criminal. Assim, logo que o profissional consumar o crime no caso, violar o
direito do paciente ou negar a prestação da assistência a um utente, começa imediatamente a
contar o prazo do procedimento criminal.114
O N. º3) do Art.130.º da CP diz o seguinte: quando for relevante a verificação de
resultado não compreendido no tipo de crime, o prazo de prescrição só corre a partir
do dia em que aquele resultado se verificar. Neste caso estamos falando de um crime
de resultado quando o crime só ocorre após se verificar o resultado, por exemplo um
paciente que lhe é negado o direito de ser assistido e o mesmo está em condições
graves e acaba por morrer, neste caso resultado é a morte do paciente por não
prestação do serviço de saúde no momento que precisava.115

E o número N. º4) do mesmo art diz: nos crimes cometidos contra crianças, a
prescrição só se completa 1 ano depois do dia em que os ofendidos atingirem os 18
anos. Nesse caso, importa dizer que, se o paciente for um menor a prescrição só
completará um ano após o menor completar 18 anos.116

3. RESPONSABILIDADE CRIMINAL UM ESTUDO COMPARADO NO


ORDENAMENTO (ANGOLANO, PORTUGUÊS E BRASILEIRO)

A responsabilização penal das pessoas jurídicas é um dos assuntos mais polémicos


do direito penal moderno, pois vários países incorporaram em suas legislações essa
possibilidade, em descompasso com a opinião dos mais prestigiados doutrinadores
nacionais e estrangeiros. Contudo, a responsabilidade colectiva ou de um grupo não
foi estranha às legislações antigas. Embora o direito romano tenha negado a
capacidade delitiva das pessoas jurídicas, o direito germânico a admitia. Os juristas
medievais eram favoráveis à responsabilidade penal da pessoa jurídica: “Bartholus

114
N.º 1- O prazo de prescrição do procedimento criminal corre desde o dia em que o facto se tiver consumado.
N.º 2 O prazo de prescrição só corre nos seguintes casos:
a). Nos crimes permanentes, desde o dia em que cessar a consumação;

b). Nos crimes continuados e nos crimes habituais, desde o dia da prática do último acto;
c). Nos crimes não consumados, desde o dia da prática do último acto de execução;

d). No caso de cumplicidade atende- O se sempre, para efeitos deste artigo, ao facto do autor
115
Délcio Vieira COIMBRA, Código Penal Angolano Novo, Lisboa, Lisbon, 2021, p.,91.
116
Ibidem.
5
de Saxoferrato, pós-glosador, traçou o destino dos quatro séculos posteriores
trasladando ao direito penal a teoria da ficção e construindo uma falsa capacidade
delitiva da universidade, que se converteu na communis opinio, até o início do
século XVIII”. 117

3.1 RESPONSABILIDADE CRIMINAL NO BRASIL À LUZ DO CÓDIGO PENAL


BRASILEIRO

A responsabilidade penal da pessoa jurídica é um dos temas mais recorrentes e polêmicos da


doutrina penal. Embora a ideia de punição colectiva seja antiga, somente no final do século
XX a responsabilidade penal da pessoa jurídica adquiriu os contornos legais e dogmáticos
necessários para sua efectiva aplicação pelos tribunais. Vários países, incluindo o Brasil,
adoptaram essa medida, como forma de incrementar a intervenção penal, especialmente nas
actividades econômicas, tomadas em sentido amplo. As inovações legislativas, contudo, são
duramente criticadas pela doutrina penal, que resiste ao conceito de culpabilidade que não
seja puramente individual. Por isso, um estudo comparado pode servir de guia para sua
regulação no Brasil, de acordo com o sistema penal garantista preconizado pela Constituição
da República.118

Na visão de LUÍS AUGUSTO até meados de 1990, o Brasil era adepto do dogma de que a
pessoa jurídica não pode cometer crimes. O art. 25.º do CPB/1890 explicitava que a
responsabilidade penal era exclusivamente pessoal.

“Art. 25.º do CPB, diz que a responsabilidade penal é exclusivamente pessoal.

§ único: Nos crimes em que tomarem parte membros de corporação, associação ou sociedade,
a responsabilidade penal recairá sobre cada um dos que participarem do facto criminoso”.

Os crimes directamente relacionados com os actos médicos são aqueles que podem ocorrer
em virtude de desídia do profissional enquanto exerce sua profissão. Obviamente, o carácter
criminal desses casos deriva da lesão à saúde do paciente. O crime de homicídio culposo é um
exemplo destes. O Código Penal prevê o facto de matar alguém, mediante culpa, como
conduta punível. A culpa, segundo CELSO DELMANTO, não cuida da finalidade da conduta

117
Luís Augusto SANZO, Responsabilidade da Pessoa Jurídica: um estudo comparado, Brasil, Revista dos
Tribunais, 2017, p.18
118
Idem, p.,2.

5
(que quase sempre é lícita), mas da não-observância do dever de cuidado pelo sujeito,
causando o resultado” não desejado e classificado como crime.119

O artigo 132.º do CPB prescreve que configura delito expor a vida ou a saúde de outrem a
perigo directo e iminente.

Pena – detenção, de três meses a um ano, se o facto não constitui crime mais grave.

§ único: A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de


outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em
estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais.

3.2 RESPONSABILIDADE CRIMINAL EM PORTUGAL À LUZ DO CÓDIGO


PENAL PORTUGUÊS

Originalmente, o Código Penal português, no art. 11.º, consagrava a responsabilidade


individual com ressalvas, ou seja, permitindo que o legislador indique em certos tipos penais a
responsabilidade dos entes colectivos. Com base nesse permissivo, as leis que criaram as
infracções (antieconómicas) e “crimes cibernéticos” previam a responsabilidade penal das
pessoas jurídicas. Posteriormente, várias modificações no dispositivo ampliaram a
responsabilidade penal da pessoa jurídica, introduzindo um verdadeiro sistema de imputação
penal dos entes colectivos em Portugal. A actual redacção do art. 11.º estabeleceu o princípio
da especialidade e os pressupostos básicos para essa imputação: crime realizado em nome e
no interesse colectivo por pessoas que ocupem posição de liderança na pessoa colectiva ou
por quem aja sob autoridade dessas pessoas em virtude de deveres de vigilância e controle.

Art. 11.º CPP (Responsabilidade das pessoas singulares e colectivas)

1 – Salvo o disposto no número seguinte e nos casos especialmente previstos na lei, só as


pessoas singulares são susceptíveis de responsabilidade criminal.

2 – As pessoas colectivas e entidades equiparadas, com excepção do Estado, de pessoas


colectivas no exercício de prerrogativas de poder público e de organizações de direito
internacional público, são responsáveis pelos crimes previstos nos artigos 152.º e 152.º , nos
artigos 159.º e 160.º, nos artigos 163.º a 166.º, quando cometidos: a) Em seu nome e no
interesse colectivo por pessoas que nelas ocupem uma posição de liderança; ou b) Por quem

119
Núria Dervich PRATES, Responsabilidade Penal do Médico e o Processo Penal, Brasil, Disponível
em: Google Acadêmico,2003, p.,4.

5
aja sob a autoridade das pessoas referidas na alínea anterior em virtude de uma violação dos
deveres de vigilância ou controlo que lhes incumbem”.

O exercício da medicina nem sempre se moldou nos termos que conhecemos actualmente.
Não será necessário recuarmos muitos anos para nos depararmos com uma medicina envolta
em mistério e magia onde o desempenho do médico não era visto como uma tarefa vulgar,
mas antes como algo imaculado. “O médico era uma espécie de sacerdote, que fazia um
juramento religioso para entrar num grupo fechado de homens sagrados, as doenças tinham
origem divina e o médico era alguém que tinha o poder de atuar sobre a vida e a morte”. A
medicina era, pois, tida como uma arte sagrada e assim a responsabilidade que eventualmente
decorreria dos actos médicos cingia-se a uma responsabilidade religiosa e moral, não jurídica.
O médico retratava o homem que era por muitos respeitados, prezado, estimado e por tantas
vezes e em diversas situações recheado. Mas ao longo do tempo a Medicina sofreu grandes
alterações e avanços técnicos e científicos que conduziram a mais e melhores conhecimentos
médicos e que permitiram que se tornasse numa verdadeira ciência. O conceito de médico
também não estagnou, foi evoluindo e hoje em dia as pessoas já não procuram um só médico
capaz de responder a todas as suas aflições sabendo da existência de médicos especializados em
determinadas áreas e que lhes transmitem maior segurança no diagnóstico e tratamento do
problema de que padecem no momento. A própria actividade médica organizou-se dessa forma,
transformando-se em algo mais complexo, observando-se uma espécie de ramificação.120

O nº 1 do artigo 4.º do Regulamento de Deontologia Médica Português (Regulamento nº


707/2016) diz que qualquer intervenção na área da saúde deve ser efectuada na observância
das normas e obrigações profissionais, bem como das regras de conduta aplicáveis ao caso
concreto, leia-se, segundo as leges artis. O médico deve exercer a sua profissão de acordo
com as leges artis, com o maior respeito pelo direito à saúde das pessoas e da comunidade .
Assim, parece entender-se, que não pode ser responsabilizado criminalmente o médico que
quando no âmbito de uma intervenção médico-cirúrgica actue segundo as leges artis e sem
criar perigo para a saúde, corpo, ou vida do paciente, concluindo-se ou não a intervenção ou
tratamento com sucesso.” 121

120
Cristina Isabel Moreira MOGO, Responsabilidade Penal das Equipas Médica, Lisboa, Escola de
Lisboa, 2017, p.,10.
121
Idem, p.,13.

5
3.3 RESPONSABILIDADE CRIMINAL EM ANGOLA À LUZ DO CÓDIGO PENAL
ANGOLANO

A responsabilidade criminal consiste na obrigação de reparar o dano causado na ordem moral


da sociedade, cumprindo a pena estabelecida na lei aplicada por tribunal competente.

3.3.1 RESPONSABILIDADE CRIMINAL DAS PESSOAS COLECTIVAS


ARTIGO 9.º CP
(Responsabilidade penal das pessoas colectivas)

1. As pessoas colectivas, com excepção do Estado e das organizações internacionais


de direito público, são susceptíveis de responsabilidade criminal.122

2. As pessoas colectivas e equiparadas, ainda que irregularmente constituídas, são


responsáveis pelas infracções cometidas em seu nome, por sua conta e no seu
interesse, ou em seu benefício, a título individual ou no desempenho de funções,
pelos seus órgãos, representantes, ou por pessoas que nela detenham uma posição de
liderança.123

3. As pessoas colectivas referidas no número anterior são ainda responsáveis por


crimes cometidos em seu nome, por sua conta e no seu interesse, ou em seu
benefício, por pessoas singulares que actuem sob a autoridade das pessoas referidas
no número anterior, sempre que o crime se tenha tornado possível em virtude de
uma violação dolosa dos deveres de vigilância ou controlo que às últimas
incumbem.124

4. Quando a lei determina a responsabilização de pessoas colectivas enquanto tais,


deve entender-se que se trata de pessoas colectivas ou de meras associações de
facto.

5. A responsabilidade penal das pessoas colectivas e equiparadas não exclui a


responsabilidade individual dos respectivos agentes nem depende da
responsabilização destes. 125

6. A responsabilidade penal das pessoas colectivas e equiparadas é excluída quando


o agente tiver actuado contra ordens ou instruções expressas da entidade competente
para o efeito.126

7. A transmissão, a cisão e a fusão não determinam a extinção da responsabilidade


penal das pessoas colectivas, respondendo pela prática do crime:

122
Délcio Vieira COIMBRA, Ob. Cit, p., 24.
123
Ibidem.
124
Ibidem.
125
Idem, p., 25.
5
126
Ibidem.

5
a) A pessoa colectiva ou equiparada em que a transmissão ou a fusão tiver sido
efectivada;

b). As pessoas colectivas ou equiparadas que resultaram da cisão.

8. Se as multas ou indemnizações forem aplicadas a uma entidade sem


personalidade jurídica, responde por elas o património comum e, na sua falta ou
insuficiência, solidariamente, o património de cada um dos respectivos membros,
sócios, associados ou integrantes.127

3.3.2 ARTIGO 10.º CP

(Actuação em nome de outrem)

Segundo o Código Penal, é punido quem actua como titular de órgãos de um ente colectivo ou
em representação legal ou voluntária de outrem, ainda que não concorram nele, mas sim na
pessoa em nome da qual actua, as qualidades ou relações requeridas pelo tipo legal de
crime.128

Relativamente a esse ponto enquadro ao nosso tema as pessoas colectivas no caso concreto
por estarmos falando de responsabilidade criminal dos profissionais da saúde, porque existes
entidades do sector privado que exercem e prestam actividades de saúde, achamos importante
falar aqui das Clínicas, e os artigos acima mencionados falam da responsabilidade criminal
das pessoas colectivas, que é um novo avanço nesse actual código. O anterior código dizia no
Art. 20.º que somente podem ser criminosos os indivíduos que têm a necessária inteligência e
liberdade (Pessoas Físicas) .

4. O DIREITO DO PACIENTE E A RESPONSABILIDADE DO PROFISSIONAL DA


SAÚDE

Segundo ANDRÉ GONÇALO DIAS PEREIRA, a emergência dos direitos dos pacientes é
uma das marcas da evolução das últimas décadas no contexto cultural das sociedades
ocidentais. Por toda a Europa tem-se registado uma intensa actividade legislativa, quer ao
nível nacional, quer ao nível internacional e comunitário. Nos anos subsequentes à
publicação, em 1994 muitos países produziram legislação sobre esta matéria.129

127
Délcio Vieira COIMBRA, Ob. Cit, p.,25.
128
É punido quem actua como titular de órgãos de um ente colectivo ou em representação legal ou voluntária
de outrem, ainda que não concorram nele, mas sim na pessoa em nome da qual actua, as qualidades ou relações
requeridas pelo tipo legal de crime.
129
André Gonçalo dias PEREIRA, Ob. Cit, p., 42.

5
Actualmente, em todos os países do velho Continente e, em geral, pelo Mundo, o paciente
tem o direito a ser informado, a fazer uma escolha informada em relação ao tratamento e a
consentir ou a recusar um tratamento proposto. Este direito ao consentimento informado
constitui a expressão mais clara do princípio da autonomia em vários países europeus, uma
lei, normalmente uma lei sobre os direitos dos pacientes ou sobre o consentimento informado,
atribui aos familiares (cônjuge, companheiro, filhos, pais, etc.) o direito de representar a
pessoa que se encontra em estado de incapacidade. O paciente tem, pois, o direito a ser
informado, a fazer uma escolha esclarecida em relação ao tratamento e a consentir ou a
recusar um tratamento proposto. Este direito ao consentimento informado constitui a
expressão mais clara do princípio da autonomia que marca a Bioética dos nossos dias.130
Vários autores vêm defendendo soluções mais radicais, que passam por uma mudança de
sistema. Mudança que pode ser total, com o abandono do sistema de responsabilidade médica,
como aconteceu na Nova Zelândia ou nos países escandinavos, criando sistemas de seguro de
compensação de danos pessoais (público no primeiro país ou privado no segundo grupo de
países). Mudança de alcance mais limitado no caso da França em que se procurou, desde
2002, dinamizar os processos de compensação dos danos, apostando na resolução
extrajudicial do conflito e se garantiu um sistema de responsabilidade objectiva para os
grandes incapacitados, vítimas de certas actividades médicas.131
Na relação médico-paciente identificamos como direitos de personalidade especialmente
relevantes, como os principais eixos estruturais sobre os quais se deve edificar uma
genuinamente humana relação entre o profissional de saúde e a pessoa doente, os seguintes:
Em primeiro lugar, o respeito pela vida da pessoa (art. 70.º n.º1 do CC ) e o consequente
dever de respeito das leges artis. Outros países avançaram com alterações pontuais, ora
atendendo a certas especialidades médicas mais gravemente afectadas pela responsabilidade
médica, ou certos danos corporais mais graves, como os danos neurológicos.132

Com efeito, a doutrina mais atenta regista que o sistema tradicional, fundado na procura da
culpa individual do médico que concretamente terá causado o dano ao paciente não atinge os
seus objectivos, nem ao nível da função ressuscitaria, nem preventiva, nem mesmo no plano
sancionatório. 133

130
André Gonçalo dias PEREIRA, Ob. Cit, p.,43.
131
Ibidem.
132
Idem, p., 60.
133
Idem, p., 61.

5
Concluindo com a Escola de Edimburgo de Direito Médico, quer os médicos, quer os
pacientes vêem o actual sistema de compensação do dano causado por actividades médicas
como sendo lento, traumático e com graves custos sociais, em rigor, um sistema de que
apenas os advogados beneficiam. E concluem: O crescimento da responsabilidade médica nas
últimas décadas tem conduzido a uma reacção defensiva ou receosa por parte dos médicos.
Estes profissionais pretendem evitar o risco de ser alvo de uma acção judicial, com todos os
inconvenientes, pessoais, sociais e profissionais que isso acarreta, mesmo que, no final,
venham a ser absolvidos.134

O conceito de medicina defensiva refere-se a práticas médicas realizadas apenas com o


objectivo de evitar acções de responsabilidade por má prática ou com o fim de conseguir uma
defesa no caso de uma acção ser proposta. Trata-se, portanto, do conjunto de práticas médicas
que visa evitar a possibilidade de acções de responsabilidade médica. Assim, as respostas são
tomadas em primeira linha com o objectivo de evitar a responsabilidade e não tanto o de
beneficiar o paciente, os médicos podem requerer testes, procedimentos, consultas ou evitar
doentes ou procedimentos de alto risco principalmente (mas não necessariamente apenas) para
reduzir a sua exposição ao risco de responsabilidade por má prática. Esta realidade constitui
um dos efeitos menos desejáveis do aumento da litigância médica, pois aumenta os custos dos
cuidados de saúde e pode expor os pacientes a riscos desnecessários. 135 A litigância conduz à
medicina defensiva, à não aprendizagem com erro, à perda de empatia dos médicos com os
seus doentes e a uma crescente frieza na relação médico doente e ao aumento dos custos em
saúde, com a prescrição de exames desnecessários. 136

134
Izamba KAPALU, Ob. Cit, p., 13.
135
André Gonçalo dias PEREIRA, Ob. Cit, p., 45.
136
Ibidem.

6
5. A POSIÇÃO DO PROFISSIONAL DA SAÚDE SEGUNDO A ÉTICA E
DEONTOLOGIA PROFISSIONAL

A enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde do ser humano e da colectividade.


Actua na promoção, protecção recuperação da saúde e reabilitação das pessoas, respeitando os
preceitos éticos legais. (Art. 1.º do Código de Deontologia do Profissional de Enfermagem).

O profissional da Saúde não é se não o próprio médico e o enfermeiro, é deles que depende o
cumprimento do Direito à Saúde, é o enfermeiro o primeiro a ter contacto com o paciente é
ele que fará os preparos iniciais, quer isso dizer que os erros ou a má conduta algumas vezes
advém do próprio enfermeiro, por ser ele que encaminha o paciente ao médico.

E neste ponto queremos trazer alguns deveres do profissional, bem como os actos que
levariam o profissional a uma infracção. O profissional da saúde deve ter um posicionamento
exemplar, e uma atitude digna de um ser que tem em sua posse a vida humana, um
profissional mal posicionado coloca em risco a sociedade, porque só há sociedade saudável,
quando as pessoas que a constituem forem saudáveis, por isso o profissional da saúde tem um
papel muito importante na sociedade. A vida humana é o coração da sociedade, podemos
assim dizer porque é o homem que faz a sociedade, sociedade doente igual a Estado doente.

A deontologia médica é um instrumento jurídico-legal que estabelece princípios e regras a


serem observados por todos os médicos no exercício da sua profissão (art. 1.º do CDEM)

A luz do art. 6.º do CDEM são deveres dos médicos em relação a deontologia médica os
seguintes:

1. O exercício da arte médica é uma missão eminentemente humanitária.


2. O médico zela em todas as circunstâncias a saúde das pessoas e da colectividade. Para
cumprir com esta missão o médico presta toda a atenção a arte médica (...);

O Direito Médico ou o Direito da Medicina não é um ramo do direito com um


estatuto especial para médicos ou que visa conceder privilégios a estes profissionais.
Antes pelo contrário, visa promover uma relação de confiança num encontro de
autonomias partilhadas, em que a cidadania esteja presente também aqui, nestes
domínios da intimidade e do encontro em situação de vulnerabilidade dos pacientes.
Confiança que faz parte da terapêutica e cujos frutos de franca humanidade fazem da
medicina uma “arte”, que desde o Fedro de PLATÃO, às passagens bíblicas elevam
e dignificam essa nobre profissão. Este é um ramo do direito em que as ligações à
ética são muito fortes. Interessa aqui salientar a importância que a deontologia

6
profissional pode ter na responsabilidade civil. Trata-se de uma ordem normativa
complementar, cujo contributo na relação jurídica médico – paciente e na
responsabilidade civil constituem uma realidade salutar. Afirmou o Tribunal
Constitucional alemão, numa decisão fundamental relativa à responsabilidade
médica: “A ética profissional médica não está apartada do direito. Ela é eficaz por
toda a parte e continuamente nas relações jurídicas do médico e do paciente. Aquilo
que a ética médica exige do profissional, é adoptado pelo direito como dever
jurídico.137

137
André Gonçalo dias PEREIRA, Ob. Cit, p., 44.

6
CAPÍTULO III: ANÁLISE E DISCUSSÕES DOS RESULTADOS

O nosso estudo fez referência à responsabilidade criminal dos profissionais de saúde na


aplicação do direito à saúde à luz do ordenamento jurídico angolano. A análise de dados do
estudo feita através da triangulação dos três instrumentos de recolha de dados e técnicas
estatísticas resultados como: inquérito sob a forma de questionário e um guião de entrevista
que foi enviado ao Serviço de Investigação Criminal do Huambo. Como expressam Battisti e
Battisti.138
O objectivo do inquérito foi com o intuito de sabermos dos pacientes ou utentes, se já
ouviram falar do direito à saúde, sua importância, razões pelas quais os profissionais não são
responsabilizados, as razões que têm estado na base da não concretização efectiva do direito à
saúde e o órgão competente para resolução em caso de não assistência e violação do direito à
saúde.

1. DISCUSSÕES DOS RESULTADOS

Importa referir aqui os objectivos da nossa pesquisa que são três, que vamos aqui citar.
1. Fundamentar Teoricamente, a Responsabilidade Criminal dos Profissionais de Saúde à
Luz do Ordenamento Jurídico Angolano, relativamente a este objectivo como vem elencado
no primeiro capítulo faz referência a fundamentação teórica da responsabilidade criminal
como diz SOFIA FIDALGO, durante muitos anos a medicina desenvolveu-se num contexto
misterioso e mágico as doenças tinham origem divina e o médico era uma espécie de
sacerdote, alguém que tinha o poder de actuar sobre a vida e morte. Os conhecimentos
médicos mantiveram-se estagnados durante centenas de anos e só com os avanços técnicos e
científicos do Renascimento se criaram as condições para o surgimento de uma verdadeira
ciência médica. 139

2. Descrever a dogmática da Responsabilidade Criminal dos Profissionais de Saúde, essa


descrição baseou-se em vários pareceres de diferentes autores e ordenamentos, destacando o
Brasil, Portugal e Angola, vimos que o tema da responsabilidade criminal é importante em
todos os ordenamentos jurídico, já que não há crime sem pena e pena sem crime, importa

138
Battisti, I.D.E e Battisti, G. Métodos Estatísticos: Apresentação, Dispónivel em:
ht://Bibliodigital.unijui.edu.br:8080/.xmlui/bitstream/handle/.123456789/277/M%C3%A9todos%20esta%C3%A
Dsticos.pdf,2018, p.,5.

6
139
Sófia FIDALGO, Ob. Cit, Pp.,13-14.

6
dizer que no nosso entender, qualquer um deles que tenha capacidade judiciária deve ser
responsabilizado por actos lesivos a outrem, falando nisso vimos que. A responsabilidade
Criminal da pessoa jurídica é um dos temas mais recorrentes e polêmicos da doutrina penal.
Embora a ideia de punição colectiva seja antiga, somente no final do século XX a
responsabilidade Criminal da pessoa jurídica adquiriu os contornos legais e dogmáticos
necessários para sua efectiva aplicação pelos tribunais. Vários países, incluindo o Brasil,
adoptaram essa medida, como forma de incrementar a intervenção penal, especialmente nas
actividades econômicas, tomadas em sentido amplo. As inovações legislativas, contudo, são
duramente criticadas pela doutrina penal, que resiste ao conceito de culpabilidade que não
seja puramente individual. Por isso, um estudo comparado pode servir de guia para sua
regulação no Brasil, de acordo com o sistema penal garantista preconizado pela Constituição
da República.140

A referida descrição dogmática nos trouxe uma outra visão relativamente à matéria de
responsabilidade criminal, realçando os profissionais, e a esse ponto nos interessa dizer que o
nosso actual código já tipifica a não assistência pelo profissional de saúde como crime no art.
209.º do CP, além de tipificar também no Art. 9.º Do CP Responsabilidade Criminal das
Pessoas Colectivas o que não era previsto no anterior código, que consideramos um avanço
significativo no Direito Penal Angolano. Com isso podemos dizer que tanto os profissionais
de saúde de um hospital Público como de um hospital privado (Clínicas) à luz desse novo
código já podem ser responsabilizados criminalmente por não prestação de assistência a um
paciente ou por violação do seu direito à saúde.

3. Analisar os resultados obtidos e elaborar propostas para a efectivação da


responsabilidade criminal dos profissionais de saúde. Relativamente a este objectivo usamos
duas técnicas para responder o mesmo que são: Questionário e Entrevista que vamos
apresentar de seguida.

140
Sófia FIDALGO, Ob. Cit, p., 2.

6
2. ANÁLISE DOS RESULTADOS

2.1 Exposições dos resultados obtidos pelo


Questionário Tabela n. º1

Resposta Pergunta n.º 1 – Todos nós temos direito à Percentagem


saúde sabia disso?
Sim 46 30.66%
Não 19 12.66%

Fonte: Elaboração própria (2021)

Quanto a primeira pergunta 46 dos inquiridos responderam SIM, que equivale a 30.66% e 19
responderam NÃO, equivalente a 12.66%.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde é um estado de completo bem-
estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade!
Desta definição, comunga ANTÓNIO ARNAUT ao dizer que é um conceito amplo,
verdadeiramente revolucionário, ligado à concretização dos demais direitos sociais, para ele
ausência de doença, visa a obtenção de uma situação de bem-estar físico e social.

Tabela n. º2
Pergunta n.º2 – Por intermédio de quem
Resposta Percentagem
ouviu falar?
Escola 25 16.66%
Rádio 10 6.66%

Fonte: Elaboração própria (2021)

Quanto a segunda pergunta, 25% dos inquiridos responderam na escola, o que corresponde a
16.66% e 10 responderam na rádio o que corresponde a 6.66%.
Diante desta questão podemos aferir que os órgãos de comunicação precisam falar mais sobre
o assunto, promovendo palestras que tratem sobre essas matérias convidando, Procuradores e
Advogados.

6
Tabela n. º3

Pergunta n.º3 – Alguma vez já lhe foi violado o Percentagem


Resposta
direito à saúde?
Sim 55 36.66%
Não 5 3.33%
Muitas vezes 10 6.66%

Fonte: Elaboração própria (2021)

Quanto a terceira pergunta, 55% dos inquiridos responderam SIM, o que equivale a 36.66%, 5
respondeu NÃO, equivalente a 3.33% e 10 responderam Muitas vezes o que corresponde a
6.66%.
O direito à saúde é um direito fundamental social, essencial à dignidade da pessoa humana,
que visa assegurar a todos os cidadãos, independentemente da sua condição económica e
social, o acesso a serviços de saúde e de protecção social com qualidade.

Tabela n. º4
Pergunta n. º4 – Onde foi violado o seu Direito
Resposta Percentagem
à saúde?
Hospital Público 60 40%
Hospital Privado 5 3.33%

Fonte: Elaboração própria (2021)


Quanto a quarta pergunta, 60% dos inquiridos responderam que foi no Hospital Público, o que
corresponde a 40% e 5 responderam que foi no hospital privado o que corresponde a 3.33%.
O que deu para notar que a maior parte dos crimes dessa natureza são verificados nos
hospitais públicos.

6
Tabela n. º5

Pergunta n.º5 Sabia que existe um órgão que


Resposta Percentagem
defende o direito à saúde ?
Sim 25 16.66%
Não 46 30.66%

Fonte: Elaboração própria (2021)

Quanto a quinta questão 25 dos inqueridos responderam sim o que corresponde a 16.66% e 46
responderam não, o que corresponde a 30.66%.

Relativamente a esta questão notamos que a população não tinha conhecimento da existência
de um órgão que defende o direito à saúde.

Tabela n. º6

Resposta Pergunta n.º6 Se sim qual é o órgão ? Percentagem


Direcção do Hospital 55 36.66%
SIC 25 16.66%

Fonte: Elaboração própria (2021)


Quanto a sexta pergunta 55 dos inquiridos responderam Direcção do Hospital o que
corresponde a 36.66% e 25 responderam SIC o que corresponde a 16.66%,

Tratando-se de crime os órgãos competentes para resolução é o SIC, traduz falta de


conhecimento do órgão por parte dos inquiridos.

Tabela n. º7

Pergunta n.º7 Por quais razões os profissionais de


Resposta saúde não são responsabilizados por violações dos Percentagem
direito à saúde dos pacientes ?
Falta de Denúncia 46 30.66%
Falta de conhecimento de
55 36. 66%
onde se dirigir

Fonte: Elaboração própria (2021)

6
Relativamente a Sétima questão 46 dos inquiridos responderam falta de denúncia o que
corresponde a 30.66% e 55 responderam falta de conhecimento de onde dirigir-se que
corresponde a 36.66%.

Mais uma vez propomos para que haja uma prestação de saúde de forma digna é necessário
que os órgãos competentes fiscalizem, e para que haja responsabilização dos profissionais de
saúde é necessário que a população ajude denunciando tais infracções.

Tabela n. º 8

Pergunta n.º8 O que achas que tem estado na


Resposta base da não concretização efectiva do direito à Percentagem
saúde em Angola?
Falta de condições de trabalho 5 3.33%
Falta de Fiscalização 40 26.66%
Todas Opções 60 40%

Fonte: Elaboração própria (2021)

Quanto a oitava questão, 60 dos inquiridos responderam ser todas opções, o que corresponde
a 40%, 40 responderam ser a falta de fiscalização, o que corresponde a 26.66%, e 5
responderam falta de condições de trabalho, o que corresponde a 3.33%.
Contudo, é digno salientar que do questionário aplicado aos pacientes e utentes de serviços de
saúde, conclui-se que no que concerne à primeira (1) questão, o de saber se sabiam que todos
têm direito à saúde, 30.66% dos inquiridos dizem saber ou ouvir falar. E 12.66% dizem não
saberem ou ouvir falar de tal realidade. Pelo que é nosso entendimento que na nossa
sociedade por ser uma área em que encontramos pessoas com nível de escolaridade alto e,
estes conhecerem sobre a existência do direito à saúde, outras pessoas com um nível de
escolaridade baixo, daí desconhecerem, pelo que entendemos perfeitamente. Como o nível de
conhecimento é considerável, por via disso, obtivemos tal resultado.
No tocante à segunda (2) pergunta a de saber onde ouviram falar sobre o direito à saúde,
16.66% dos inquiridos disseram que ouviram falar na Escola, mesmo, pelo que entendemos
ser anormal pelo facto de que a lei é clara em referir que ninguém pode ser denegado à
assistência médica, independentemente da cor, raça, religião ou da situação em que este se
encontre. E achamos nós que, se tal situação aconteceu, importa realçar que tal atitude é
reprovável. Ao passo que 6.66% afirmaram ser na Rádio o local onde ouviu falar. Precisamos

6
promover palestras, debates, e os meios de comunicação precisam começar a falar sobre o
assunto porque há pouco conhecimento da população sobre o direito à saúde que lhes é
assistido.
Já a terceira (3) pergunta está ligada com o direito à saúde que alguma vez já foi violado. Em
relação a essa questão, importa dizer que dos 55 seleccionados que corresponde a 36.66% dos
inquiridos afirmam categoricamente que já lhes foi violado o direito à saúde. Também
entendemos tal situação em função das razões invocadas na primeira questão, pelo facto de
nem todos sabem que o direito à saúde é um direito de todos e deve ser prestado de forma
igual à todos. O resultado obtido satisfaz as nossas pretensões.
Nesta quarta (4) questão, pretendemos saber sobre o local onde o seu direito à saúde foi
violado 100% das pessoas inquiridas. 40% dos pacientes e utentes dizem que foi no Hospital
Público onde viram os seus direitos serem violados e não poderem fazer nada. 3.33% dos
inquiridos afirmam ter sido numa instituição privada. Pelo que, entendemos que os nossos
hospitais precisam de mais fiscalização, principalmente os profissionais para que o índice de
violações e maus tratos baixem. É dever do Estado promover e garantir o acesso de todos os
cidadãos, no que concerne à assistência médica e medicamentosa, mas também é dever do
Estado fiscalizar as prestações dessas assistências.
Aqui na quinta (5) questão, queremos saber dos inquiridos se sabiam que existe um órgão que
defende o direito à saúde, das pessoas inquiridas 16.66% responderam sim, enquanto que
30.66% responderam Não, o que traduz pouco conhecimento da população sobre o órgão que
defende esses conflitos, que por sinal é passível de Responsabilização Criminal.
Na sexta (6) questão queríamos saber dos que responderam sim sobre a existência do órgão
que defende o direito à Saúde qual é 36.66% dos inquiridos responderam ser Direcção do
Hospital, enquanto que 16.66% dos inquiridos responderam ser o SIC, o que mais uma vezes
confirma que a população não conhece ou não sabe que o SIC é que resolve problemas
relativos a crimes.
Enquanto que a sétima (7) questão sobre quais razões os profissionais de saúde não são
responsabilizados 30.66% dos inquiridos responderam ser a falta de denúncia, enquanto que
36.66% dos inquiridos responderam ser a falta de conhecimento de onde se dirigir, com isso
concluímos que precisamos promover actividades, para que a população conheça os órgãos de
justiça e o papel que cada um desempenha na sociedade.
Relativamente a oitava (8) e última questão diz respeito ao que tem estado na fase da não
concretização efectiva do Direito à saúde em Angola, 3.33% dos inquiridos responderam a

7
falta de condições de trabalho, 26.66% responderam falta de fiscalização e 40% respondeu
Todas Opções o que ao nosso entender podemos concluir a não concretização efectiva do
direito à saúde deve-se a falta de fiscalização e falta de condições de trabalho.

2.2. Apresentação do resultado da entrevista

No que concerne à entrevista, fizemos um guião de entrevista dirigido ao Director do Serviço


de Investigação Criminal do Huambo. Por agora, nos convém transcrever no presente trabalho
a entrevista feita.
Começamos por apresentar o tema, e dessa apresentação das suas respostas começou por
parabenizar sendo um tema pouco falado na nossa sociedade, o que traduz pouco
conhecimento sobre o mesmo por parte da população.
O entrevistado da pergunta feita se tem havido queixas relativamente aos profissionais de
saúde por omissão, violação de direito à saúde ou por erros, disse que não, e com base ao
código penal revogado nada se falava, e não existia queixas, e a falta de fiscalização,
conhecimento e denúncias, todos estes factores são as principais condicionantes ou limitações
que levam por vezes a não desejada responsabilização.
O entrevistado ainda sublinhou com base na pergunta feita, se já existem alguns processos
dessa natureza, afirmou não existir no serviço de investigação criminal processo de
responsabilização criminal ligado aos profissionais de saúde, o que traduz falta de denúncia
das pessoas lesadas.
Disse ainda que falar do direito à saúde é falar de um direito fundamental onde existem
muitas desigualdades, principalmente falar dos profissionais de saúde.
No final, o entrevistado faz uma avaliação no que concerne à assistência médica e às
condições de saúde, dizendo ser razoável. O entrevistado justificou dizendo razoável porque
não existe trabalho perfeito e que diante de uma acção por mais justa que seja haverá quem
não ficará satisfeito, ou seja, é difícil agradar toda gente.
Em suma, sublinhou o entrevistado que, por vezes, ouvimos reclamações de que os pacientes
ou utentes estão a ser maltratados, mas nunca chegam até ao SIC prestar queixa. A falta de
conhecimento jurídico sobre a matéria, faz com que muitos profissionais fiquem impune,
porque a população não sabe que existe um órgão que protege e resolve problemas dessa
natureza responsabilizando criminalmente os profissionais de saúde.
Na verdade, a falta de fiscalização dos serviços de saúde também têm contribuído na má
prestação dos cuidados de saúde. Daí a voz gritante haver mais rigor na fiscalização, e

7
responsabilizar os profissionais no sector de saúde, de modo a retirar esse pensamento de que
os profissionais não são passíveis de responsabilização por erros ou mal conduta, isso de
algum modo aumenta as violações conscientes dos mesmos, porque não existe a pena como
medida de reeducar o agente para que não volte a cometer e os outros para que tenham
conhecimento de que se cometer o mesmo ilícito também não ficarão em pune.
De forma geral, conclui-se que dos resultados obtidos do questionário e da entrevista,
aprouve-nos concluir o seguinte:
Que o direito à saúde é um direito fundamental e social não temos mais dúvidas; todavia, o
nosso maior desafio é efectivar esse direito nos pacientes e utentes de serviços de saúde, com
particular realce nos hospitais públicos, mas mais do que efectivar, é concretizá-lo. Se
pensarmos numa perspectiva egoísta, compartilharemos a ideia de um sistema nacional de
saúde para os que recorrem aos hospitais públicos e os que vão às clínicas, mas não é isso que
queremos com esse trabalho. Não podemos deslembrar que a tarefa de efectivar o direito à
saúde e responsabilização dos profissionais de saúde é árdua, desafiadora, e pior quando
falamos de Angola, um país em a maior parte da população não tem conhecimentos jurídicos,
que complica ainda mais na efectivação da responsabilização criminal, a população não sabe
onde dirigir-se a fim de prestar queixa.
Precisamos utilizar a linguagem que constrói pontes de fraternidade, pontes que auxiliarão no
conhecimento e entendimento da população na perspectiva do direito à saúde.

Portanto, do questionário e da entrevista feita constatou-se que existe uma grande dificuldade
no que tange ao conhecimento e cultura jurídica, concretamente a responsabilidade criminal
dos profissionais de saúde, relativamente à violação de assistência médica. Gostaríamos de
ver a fiscalização nos hospitais. Entendemos que o principal entrave para a não
responsabilização criminal dos profissionais de saúde é a falta de conhecimento jurídico
porque só conhecendo os preceitos jurídicos começaremos a denunciar, e a falta de denúncia
no lugar certo por parte da população, contribui para as constantes violações.

PROPOSTAS E ACÇÕES

Do estudo realizado, das técnicas aplicadas e das conclusões práticas de que se chegou,
achamos alguns factores que influenciam na não responsabilização dos profissionais de saúde.
As limitações ou condicionantes que resultam da problemática da Responsabilidade Criminal
dos Profissionais de Saúde à Luz do Ordenamento Jurídico Angolano, concretamente na

7
assistência médica e violação de direito à saúde são concretamente a falta de denúncia, falta
de fiscalização no que tange aos profissionais de saúde, falta de conhecimento jurídico por
parte da população, e os locais onde algumas vezes o lesado remete a queixa é incompetente
em razão da matéria, causando assim uma morosidade no processo e o lesado acabada
desistindo do processo, o que traduz falta de conhecimento da população do órgão competente
para resolução de conflitos dessa natureza.
Porquanto, julgamos conveniente apresentar algumas propostas que consideramos
importantes, com a finalidades de ajudar as entidades competentes a implementar, a fim de
melhorar e prevenir com maior eficácia e rigor à assistência médica, para que ponhamos em
prática aquilo que a constituição emana sobre os direitos fundamentais, concretamente no que
tange ao direito à saúde por ser um pressuposto inelutável à vida. Diante desta situação toda,
somos de elencar a aplicação das seguintes medidas:

⮚ Que a PGR organize, colóquios para elevar a cultura jurídica aos pacientes e utentes, em
prestar queixas e reclamações nas instituições de justiça quando estes virem os seus direitos
violados;
⮚ Que a Inspecção de Saúde melhore os mecanismos de controlo à assistência médica e
medicamentosa de forma a responsabilizar os médicos e enfermeiros por não prestar
assistência médica aos pacientes e utentes, a fim de chamar a responsabilidade não só ao
Estado como também dos demais profissionais de saúde pela omissão.
⮚ Que os Órgãos de Fiscalização sejam mais presentes nos Hospitais, para que haja mais rigor e
eficiência nas prestações de serviços de saúde.

DO PONTO DE VISTA DOS RECURSOS HUMANOS PROPOMOS:

Que se criem mecanismos de haver fiscalizadores regulares no sector da saúde de modo a


evitar a má assistência médica e violação do direito à saúde pois a má prestação do direito à
saúde aos pacientes, por vezes não resulta da vontade própria do profissional de saúde daquele
estabelecimento, mas sim por falta de condições de trabalho, falta de fiscalização dos
serviços.
Por fim, toda a sociedade deve ajudar o Estado, crucialmente as famílias, na denúncia de
actos criminais, praticados pelos profissionais de saúde quer sejam membros de família ou
mesmo nossos vizinhos. Só assim vamos reduzir os índices elevados de má prestação e
violação do direito à saúde, no que concerne à assistência e condições de saúde dos pacientes
e utentes.

7
CONCLUSÃO

No presente trabalho abordou-se sobre a problemática da responsabilidade criminal dos


profissionais de saúde à luz do ordenamento jurídico angolano.
Dos resultados obtidos e das pesquisas feitas vimos que em regra, a responsabilidade criminal
dos profissionais de saúde pressupõe a existência de um facto prejudicial e o nexo de
causalidade entre o facto e dano e dessa análise obtivemos os seguintes resultados que
consideramos ser satisfatórios para nossa pesquisa e deram respostas aos objectivos onde
36,66% dos inquiridos disseram que já lhes foi violado o seu direito à saúde, 40% dos
inquiridos diz que foi num Hospital Público que viu seu direito sendo violado. Assim
relativamente às razões que impedem a concretização do direito à saúde 40% dos inquiridos
dizem que é a falta de condições de trabalho, fiscalização dos serviços é que estão na base da
não concretização efectiva do direito à saúde, o que acaba por fazer com que não haja
mudança no atendimento por parte dos profissionais de saúde. Por fim, toda a sociedade deve
ajudar o Estado, crucialmente as famílias, na denúncia de actos criminais, praticados por
profissionais de saúde quer sejam membros de família ou mesmo nossos vizinhos, só assim
poderá haver uma redução considerável no índice elevado de má prestação e violação do
direito à saúde, no que concerne à assistência e condições de saúde dos pacientes e utentes.
O conceito de saúde sofreu diversas intervenções ao longo dos últimos 100 anos, pois foi
conceituada a partir de diversas visões do mundo, numa construção social e histórica, saindo
do conceito simples de ausência de doença para um conceito amplo com várias dimensões,
tais como biológica, comportamental, social, ambiental, política e económica. Hoje, o
conceito adoptado mundialmente é o da Organização Mundial da Saúde (OMS) que define a
saúde como: um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas
na ausência de doença ou de enfermidade. A saúde é uma exigência da dignidade da pessoa
humana, razão pela qual o Estado Social deve implementar políticas tendentes à sua
concretização. O direito à saúde é uma situação que precisa ser revisto e repensado, em
especial no que concerne à assistência médica e medicamentosa que por sinal já vem previsto
no art. 209.º do CP, onde vem a punibilidade do profissional que não prestar a assistência a
um paciente ou utente.
Assim como vimos SOFIA FIDALGO, durante muitos anos a medicina desenvolveu-se num
contexto misterioso e mágico as doenças tinham origem divina e o médico era uma espécie de

7
sacerdote, alguém que tinha o poder de actuar sobre a vida e morte. 141 Sobre a dogmática da
responsabilidade criminal dos profissionais de saúde com base os diferentes autores e
ordenamentos, destacando o Brasil, Portugal e Angola, chegamos a conclusão que o tema da
responsabilidade criminal é importante em todos os ordenamentos jurídico, já que não há
crime sem pena e pena sem crime, que no nosso entender, qualquer um deles que tenha
capacidade judiciária deve ser responsabilizado por actos lesivos a outrem, falando nisso
vimos que a responsabilidade criminal da pessoa jurídica é um dos temas mais recorrentes e
polêmicos da doutrina penal. Embora a ideia de punição colectiva seja antiga, somente no
final do século XX a responsabilidade Criminal da pessoa jurídica adquiriu os contornos
legais e dogmáticos necessários para sua efectiva aplicação pelos tribunais. Vários países,
incluindo o Brasil, adoptaram essa medida, como forma de incrementar a intervenção penal,
especialmente nas actividades econômicas, tomadas em sentido amplo. As inovações
legislativas, contudo, são duramente criticadas pela doutrina penal, que resiste ao conceito de
culpabilidade que não seja puramente individual. Por isso, um estudo comparado pode servir
de guia para sua regulação no Brasil, de acordo com o sistema penal garantista preconizado
pela Constituição da República.142 Assim a referida descrição dogmática nos trouxe uma
outra visão relativamente à matéria de responsabilidade criminal, realçando os profissionais, e
a esse ponto nos interessa dizer que o nosso actual código penal já tipifica a não assistência
pelo profissional de saúde como crime no art. 209.º, além de tipificar também no Art. 9.º
Responsabilidade Criminal das Pessoas Colectivas o que não era previsto no anterior código,
que consideramos um avanço significativo no Direito Penal Angolano. Com isso, concluímos
que tanto o profissional de saúde de um hospital Público como de um hospital privado
(Clínicas) à luz desse novo Código Penal já pode ser responsabilizado criminalmente por não
prestação de assistência a um paciente ou por violação do seu direito à saúde.
Face ao panorama apresentado sobre a problemática da Responsabilidade Criminal dos
Profissionais de Saúde à Luz do Ordenamento Jurídico Angolano, faz-se mister que haja
maior fiscalização nos serviços de saúde, que pode ser uma vantagem para diminuir as
constantes reclamações dos pacientes e utentes no que concerne a violação do seu direito à
saúde. As leis devem ser cumpridas e numa sociedade como a nossa que pouco se fala sobre
direitos e deveres, nos torna ignorantes, mas nada obsta que se cumpra, mesmo não tendo
conhecimento da mesma, com isso queremos concluir que é necessário cultivarmos na

141
Sófia FIDALGO, Ob. Cit, Pp.,13-14.
142
Ibidem, p., 2.

7
população aspectos da cultura jurídica, porque da pesquisa feita notou-se também pouco
conhecimento por parte da população sobre a matéria em estudo, não sabendo o órgão
competente para resolução de tais conflitos nem onde prestar queixas, o que traz uma
frustração por parte das pessoas lesadas por não verem os seus direitos salvaguardados e viu-
se que esse problema deve-se pelo facto da população prestar queixa a um órgão
incompetente em razão da matéria causando assim uma morosidade na resolução e desistência
por parte da pessoa lesada.

Recomendações
Recomenda-se às entidades competentes o seguinte:

⮚ Que haja mais fiscalização nas unidades de saúde em geral, principalmente nos hospitais
públicos;
⮚ Que haja profissionais de saúde especializados e com ética para que atendam os pacientes e
utentes da melhor forma possível;
⮚ Que as unidades hospitalares devam propiciar um ambiente favorável;
⮚ Propõem-se também que os profissionais de Direito, ministrem palestras, seminários, para que
ajudem a expandir a cultura jurídica na população em geral;
⮚ Que o MP nas suas palestras ajude a divulgar na população aspectos da cultura jurídica.

Limitações
A vida é cheia de surpresas e o futuro é incerto, por vezes, fazemos previsões para a
realização de certos objectivos, todavia, algumas vezes esses objectivos frustram-se por não
conseguirmos alcançar. Com relação às limitações encontradas durante a pesquisa, salienta-se
a escassez de material bibliográfico que trate do tema em questão, o que implica, assim,
infortúnios para o aprofundamento do mesmo. Ainda, houve dificuldades na colecta de dados
pelo facto de o nosso trabalho incidir sobre a problemática da responsabilidade criminal dos
profissionais de saúde à luz do ordenamento jurídico angolano, por ser um tema muito
complexo, por questão de alegada falta de segurança, há pouca disponibilidade das
informações, não só das pessoas lesadas, mas das pessoas que têm contacto directo com a
situação, pela complexidade do mesmo.

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WEICHET, Marlon Alberto. O Direito à Saúde e o Princípio da Integralidade. Brasil:
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LEGISLAÇÕES:
Constituição Angolana
Código Civil Angolano
Código Penal Angolano de 88
Código Penal Actual
Código de Processo Penal
Código Penal Português
Estatuto da Ordem dos Médicos de Angola.
Código Deontológico e de Ética Médica.
Anexo 1 – Questionário
Na elaboração do questionário optamos pelas perguntas fechadas, também designadas
limitadas ou alternativas fixas, porque são aquelas que o informante escolhe entre duas
opções: sim ou não.

Pelo que, o paciente ou utente apenas só poderá assinalar com um x a questão em causa.
UNIVERSIDADE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS

FACULDADE DE DIREITO-HUAMBO

DEPARTAMENTO PARA OS ASSUNTOS DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA E


PUBLICAÇÕES

TEMA: A PROBLEMÁTICA DA RESPONSABILIDADE CRIMINAL


DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE À LUZ DO ORDENAMENTO
JURÍDICO ANGOLANO

Caro paciente ou utente de serviços de saúde, ajuda-nos a responder com sinceridade as


seguintes questões no presente questionário, pois a sua opinião é muito importante para o
sucesso da referida pesquisa para obtenção do grau de Licenciatura em Direito.

Obs: Não é de carácter obrigatório preencher a pergunta referente aos dados pessoais

Género: Feminino ( ) Masculino ( ) Profissão:


Grau de Escolaridade: I Ciclo ( ) Ensino Médio II
Ciclo ( ) Ensino Superior( ) Nunca Estudou( ) Outros( )

1- Todos nós temos direito à saúde sabia disso? Sim ( ) ou Não ( )


2- Por intermédio de quem ouviu falar ? Amigos ou Familíar ( ) Rádio( )
Escola( )
3- Alguma vez já lhe foi violado o direito à saúde? Sim ( ) ou Não ( ) Muitas
vezes ( )
4- Se sim onde foi ? Hospital Público( ) Ou Privado ( )
5- Sabia que existe um órgão que defende o direito à saúde? Sim ( ) ou Não ( )
6- Se sim qual é? SIC( ) Direcção do Hospital ( )
7- Por quais razões os profissionais de saúde não saõ responsabilizados por
violações dos direito à saúde dos pacientes? Falta de Denúncia( ) Falta de conhecimento
de onde se dirigir( )
8- O que achas que tem estado na base da não concretização efectiva do direito à
saúde em Angola? Falta de condições de trabalho( ) Falta de Fiscalização( )
O MEU MUITO OBRIGADA!!
Anexo 2– Entrevista

Procedeu-se à elaboração de um guião de entrevista tendo em atenção a realização das


perguntas, para que fosse possível uma exploração dos tópicos com mais pertinência e
assim dar resposta aos objectivos do estudo.

A entrevista realizar-se-á numa sala disponibilizada pelo SIC, podendo ser realizada numa
sala de visitas, sendo necessário saber os horários de visitas para não prejudicar o bom
funcionamento do SIC e da própria entrevista.
UNIVERSIDADE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS

FACULDADE DE DIREITO-HUAMBO

DEPARTAMENTO PARA OS ASSUNTOS DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA E


PUBLICAÇÕES

TEMA: RESPONSABILIDADE CRIMINAL DOS PROFISSIONAIS DE


SAÚDE À LUZ DO ORDENAMENTO JURÍDICO ANGOLANO

Caro entrevistado, ajuda-nos a responder com sinceridade e seriedade as questões


que se seguem na presente Entrevista, pois a sua opinião é muito importante para o
sucesso da referida pesquisa para obtenção do grau de Licenciatura em Direito.

Guião de Entrevista

1- Como eram resolvidos os casos de responsabilidade criminal dos profissionais de saúde


à luz do CP penal passado, e se tem havido queixas por parte de pessoas lesadas?

2- Tem alguns processos aqui, relativamente a essa problemática?

3- O que tem estado na base das poucas participações da população quando os seus direitos
são violados?

4- Alguma vez um profissional foi responsabilizado criminalmente por violação do direito


à saúde de um paciente ou utente, ou por negar assistência?

O MEU MUITO OBRIGADA!

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