Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE E AS
INTERNAÇÕES COMPULSÓRIAS DOS JOVENS
VICIADOS EM DROGAS
___________________________________________
Profª. Drª. Laura Ferreira de Rezende Franco
UNIFAE - São João da Boa Vista - SP
___________________________________________
Prof. Dr. Aldo José Fossa Sousa Lima
PUC - São Paulo
___________________________________________
Prof. Dr. Paulo Roberto Alves Pereira
UNIFAE - São João da Boa Vista – SP
AGRADECIMENTOS
Ao meu Anjo de Guarda, pelo socorro prestado com certeza, através de minhas preces e
reclamações em pensamentos.
Ao meu querido marido Jairo, que sempre foi o primeiro incentivador, compreensivo,
paciente e muito otimista.
Aos meus lindos filhos, pelo carinho e compreensão que demonstraram nesta trajetória.
À minha querida mãe pela coragem demonstrada em todos os dias de nossas vidas.
A todos que indiretamente contribuíram nesta tarefa: Daiane, Rafael, Charles, Cláudio e o
pessoal da Secretaria de Saúde especialmente a Maria Aparecida Brigagão e outros.
À minha fiel cachorrinha Leca, que mesmo idosa, permaneceu incansavelmente ao meu lado,
digo, embaixo da minha cadeira, por longas horas de pesquisa e estudo.
À minha querida amiga Ana Paula Aleixo Bergamo, pelo apoio, carinho e pelas gostosas
risadas por todo o Curso de Mestrado.
AUTOBIOGRAFIA DA AUTORA
A Constituição Federal de 1988 incluiu a saúde como um direito social. Assegurar os direitos
das pessoas principalmente crianças e adolescentes é dever da família, da sociedade e do
Estado. Trata-se de uma proteção integral. O Poder Executivo, apesar da política de
atendimento instalada pelo SUS (Sistema Único de Saúde), surpreende-se diariamente com as
ordens emanadas do poder judiciário garantindo aos pacientes dependentes de álcool e drogas
a prestação do serviço, determinando internações compulsórias como forma de tratamento.
Inegável, pois, uma reflexão sobre o caráter absolutamente relevante da complexa situação de
drama social com repercussões na Justiça e na Administração Pública, e que abrange interesse
do próprio Poder Judiciário em ter meios de fazer cumprir comandos legais. Desse modo,
mostra-se indispensável à intervenção do Poder Judiciário a fim de determinar que o ente
público - Município de Espírito Santo do Pinhal - Estado de São Paulo - adote as providências
que se fizerem necessárias para disponibilização de serviço público de tratamento adequado e
recuperação de viciados em drogas aos usuários do SUS. O presente trabalho revelou que em
99 processos as famílias buscam na justiça a internação compulsória de seus familiares. As
internações para adolescentes via ação judicial são feitas em clínicas particulares pagas pelo
município, enquanto os adultos são internados pelo SUS. Não há transferências de recursos
Estaduais e os recursos Federais não cobrem os gastos. Não há políticas públicas para esse
fim e há necessidade de fortalecimento dos CAPSs, para promoção da sustentabilidade e
equilíbrio social.
The 1988 Federal Constitution has included the health as a social right. To assure the rights of
the people, specially children and teenagers, it is duty of the family, of society and of the
state. It is a complete protection. The executive power, despite the service installed by the
SUS (Unique System of Health), gets surprised daily by the orders emanated by the judicial
power guaranteeing to the patients addicted to alcohol and drugs the assistance of the service,
determining compulsory internalization as a form of treatment. Incontestable because a
reflection about the absolute relevant character of the complex situation of the social drama
with repercussions in the justice and in the public administration that comprehend the interest
of the judicial power in having ways to execute the legal commands. Therefore, it is shown
indispensable the intervention of the judicial power to determine that the public organ -
county of Espírito Santo do Pinhal, São Paulo State - adopt the necessary measures in order to
provide adequate public interventional service and the recuperation of drug-addicts to the
users of SUS. Present studies revealed that, in 99 judicial process, families used judicial
power to intern compulsorily their relatives. Adolescent internments, by the judicial power,
are in private clinics paid by the county whereas for adults are in state’s clinics. There is no
transfer of state´s resource, so as federal´s do not cover the expenditures. Having no public
policies it is necessary the CAPS´s reinforcement, aiming the promotion of sustainability and
social equilibrium.
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 14
1.1 Apresentação do tema ................................................................................................. 14
1.2 Justificativa e relevância do trabalho .......................................................................... 19
1.3 Pergunta - problema ................................................................................................... 20
1.4 Objetivos ..................................................................................................................... 20
1.4.1 Objetivo geral ................................................................................................... 20
1.4.2 Objetivos específicos ........................................................................................ 20
5 RESULTADOS ............................................................................................................... 56
5.1 Elementos principais dos processos ........................................................................... 56
5.1.1 Distribuição das ações judiciais analisadas ...................................................... 56
5.1.2 Identificação da natureza da ação ..................................................................... 57
5.1.3 Demandas judiciais e antecipação de tutela ..................................................... 58
5.1.4 Posição das partes ............................................................................................. 58
5.1.5 Tempo para cumprimento da internação .......................................................... 59
5.1.6 Ano da sentença e resultado das sentenças ...................................................... 60
5.1.7 Réus no processo ............................................................................................... 60
5.1.8 Gratuidade da justiça ........................................................................................ 60
5.1.9 Representação judicial do autor da ação .......................................................... 61
5.2 Elementos médicos científicos .................................................................................. 61
5.2.1 Elementos médicos científicos - Atendimentos no CAPS - Centro de
Atendimento Psicossocial - Atendimentos após a desinternação ............................... 62
5.2.2 Das internações compulsórias dos adolescentes .............................................. 63
5.3 Elementos financeiros do Município de Espírito Santo do Pinhal - SP ..................... 64
5.3.1 Orçamento do Município - (Receita orçamentária arrecadada) ....................... 65
5.3.2 Orçamento da Secretaria de Saúde - (Somente fontes estaduais e federais) .... 65
5.3.3 Gastos efetivos com as internações compulsórias ............................................ 65
6 DISCUSSÃO .................................................................................................................... 68
7 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 81
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 85
TABELA 5: Situação de saúde - Tipo de dependência citadas nas ações (n=99) relativos à
internação compulsória 2009-2015 ....................................................................................... 61
AIDS Acquired Immune Deficiency Syndrome, que em português quer dizer Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida
CAPSs Centros de Atenção Psicossocial
CE Ceará
CF Constituição Federal
CFM Conselho Federal de Medicina
CNS Conselho Nacional de Saúde
CNJ Conselho Nacional de Justiça
CPC Código de Processo Civil
CR/88 Constituição da República de 1988
CRM Conselho Regional de Medicina
DSTs Doenças Sexualmente Transmissíveis
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
EEAN Escola de Enfermagem Anna Nery
FAE Faculdades Associadas de Ensino
FNS Fundo Nacional de Saúde
GSI Gabinete de Segurança Institucional
CONAD Conselho Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
HIV Imunodeficiência Humana
ISSN International standard serial number
MG Minas Gerais
NOB Norma Operacional Básica
OAB Ordem dos Advogados do Brasil
OMS Organização Mundial de Saúde
ONU Organização das Nações Unidas
OPAS Organização Pan Americana de Saúde
PGE Procuradoria Geral do Estado
PPI Promoção Pactuada e integrada
RS Rio Grande do Sul
SMS Sistema Municipal de Saúde
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
SUS Sistema único de Saúde
TFAM Teto Financeiro da Assistência do Município
TM Transtornos Mentais
Unesc Universidade do Extremo Sul Catarinense
UNIJUS Revista Jurídica da Universidade de Uberaba
UNODC United Nations Office on Drugs and Crime (Escritório das Nações Unidas sobre
Drogas e Crimes)
UTI Unidade de Terapia Intensiva
1 INTRODUÇÃO
No âmbito internacional, a partir da II Guerra Mundial, o termo judicialização foi cada vez
mais associado à ampliação dos direitos humanos fundamentais, resultando em uma notável
expansão da via judicial como mecanismo de controle dos demais poderes. Nos marcos do
constitucionalismo contemporâneo, o Poder Judiciário ganha legitimidade formal pela
Constituição e material ao proteger os direitos fundamentais (CARVALHO, 2001 apud
GOMES et al., 2014). Nesse contexto, a judicialização passa a ser compreendida como a
decisão, pelo Poder Judiciário, de questões relevantes do ponto de vista político, social ou
moral (GOMES et al., 2014).
A interface entre a psiquiatria e o Direito, embora seja necessária, é complexa e difícil, já que
enquanto a linguagem médica descreve o estado do paciente em uma escala que vai de grave a
completamente saudável, a linguagem jurídica é binária: o doente é capaz ou incapaz,
necessita ser internado ou não, oferece ou não perigo (ZEMISCHLANY 2006; BARROS e
SERAFIM, 2009).
14
Nas internações que ocorrem no Brasil, sob o regime da Lei nº. 10.216/2001, não há previsão
para a internação psiquiátrica que passe regularmente pelo Poder Judiciário, entretanto, é
direito constitucional de qualquer pessoa a possibilidade de, a qualquer momento, questionar
judicialmente a referida internação (MACIEL, 2013).
De acordo com a legislação vigente a favor dos direitos do portador de Transtornos Mentais a
internação deve ocorrer sempre mediante apresentação de laudo médico, caracterizando a
necessidade desta (BRASIL, 2001). De acordo com Scislecki e Maraschin (2007), os
adolescentes encaminhados à internação psiquiátrica por decisão judicial devem ser aqueles
com transtornos mentais e de comportamento devido ao uso de substância psicoativa.
Para Crow (2006) e Barros e Serafim (2009) a essência das justificativas de uma internação
involuntária está na perda da autonomia do indivíduo decorrente de sua doença mental, que o
impede de compreender e entender o caráter desadaptativo de seu estado.
No campo da saúde coletiva pode-se observar que várias estratégias de cuidado podem ser
também entendidas como estratégias de controle da população adolescente. Grande parte dos
programas de assistência sanitária toma as transformações que ocorrem nessa faixa etária
como riscos típicos entre elas o uso de drogas (MOREIRA, 2000 apud SCISLESKI e
MARASCHIN, 2007). Assim emerge uma categoria social que demanda cuidados e
investimentos institucionais específicos.
15
condições e patologias que sejam aceitas sem contestações (SEGAL, 2006; BARROS e
SERAFIM, 2009).
Nesta esteira, a Lei nº. 10.216/2001 se dispõe a proteger os direitos das pessoas portadoras de
transtornos mentais e redirecionar o modelo em saúde mental [...] Assim, muito embora
algumas medidas propostas como “redirecionamentos” para assistência sejam passíveis de
questionamentos [...] é uma lei que trouxe avanços na regulamentação dos atos médicos
envolvendo pacientes portadores de transtornos mentais (BARROS e SERAFIM, 2009).
Em seu artigo 9º, trata das internações compulsórias, aquelas ordenadas pelos juízes, “a
internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz
competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à
salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários” (BARROS e SERAFIM,
2009).
A Política Nacional sobre Drogas estabelece, dentre outros, alguns pressupostos a seguir:
- Priorizar a prevenção do uso indevido de drogas, por ser a intervenção mais eficaz
e de menor custo para a sociedade.
A Lei nº. 11.343, de 23 de agosto de 2006, mais conhecida como lei de drogas, em seu Título
III, Capítulo II, dispõe em seu artigo 20 “que constituem atividades de atenção ao usuário e
dependente de drogas e respectivos familiares, para efeito desta Lei, aquelas que visem a
melhoria da qualidade de vida e a redução dos riscos e dos danos associados ao uso de
drogas”.
16
O artigo 22 da mesma lei fala que as atividades de atenção e as de reinserção social do usuário
e do dependente de drogas e respectivos familiares devem observar alguns princípios, dentre
eles, em seu inciso III, “a definição de projeto terapêutico individualizado, orientado para a
inclusão social e para redução de riscos e danos sociais e à saúde” (Lei nº. 11.343 de 2006).
Diante deste cenário, o Judiciário ao determinar que alguém nas condições de usuário ou
dependente de drogas seja internado compulsoriamente, ou seja, contra vontade, estaria indo
ou não de encontro ao que determina a lei ou a Política Nacional sobre drogas no tocante ao
pressuposto de que a prevenção seria a intervenção mais eficaz e de menor custo para a
sociedade.
Quando o Judiciário Brasileiro implementa uma política pública não pode-se negar o seu
papel de garantidor de direitos sociais, pois sob o enfoque do surgimento da doutrina dos
Direitos Fundamentais as funções do Juiz foram ampliadas num papel mais contundente na
defesa desses direitos.
Essa concessão judicial de direitos às pessoas que se apresentam como não contempladas pela
atuação do Estado, desconsiderando a existência de políticas públicas pertinentes, gera
distorções que conflitam com o próprio objetivo de efetivação dos direitos sociais.
A tutela das demandas individuais que buscam a realização de direitos sociais traz
consequências de caráter econômico, tais como, o deslocamento de recursos do orçamento
público para o atendimento da necessidade do particular.
17
dependentes de álcool e drogas, há, portanto, de ser evidenciado se é esse o modelo eficaz a
ser perseguido.
Neste viés Barroso (2008) enfatiza que o sistema, no entanto, começa a apresentar sintomas
graves de que pode morrer da cura, vítima do excesso de ambição, da falta de critérios e de
voluntarismos diversos. Por um lado, proliferam decisões extravagantes ou emocionais, que
condenam a Administração ao custeio de tratamentos irrazoáveis - seja porque inacessíveis,
seja porque destituídos de essencialidade -, bem como de medicamentos experimentais ou de
eficácia duvidosa, associados a terapias alternativas. Por outro lado, não há um critério firme
para a aferição de qual entidade estatal - União, Estados e Municípios - deve ser
responsabilizada pela entrega de cada tipo de medicamento. Diante disso, os processos
terminam por acarretar superposição de esforços e de defesas, envolvendo diferentes
entidades federativas e mobilizando grande quantidade de agentes públicos, aí incluídos
procuradores e servidores administrativos. Desnecessário enfatizar que tudo isso representa
gastos, imprevisibilidade e desfuncionalidade da prestação jurisdicional.
Segundo Messeder, et al. (2005) esta adequação, do ponto de vista até então externado pelo
Judiciário, parece envolver apenas as garantias constitucionais do cidadão; no entanto,
aparentemente se ignora o ponto de vista clínico e as consequências sobre a saúde do
indivíduo. Em algumas situações, o cuidado à saúde definitivamente não estará sendo
resguardado.
O SUS (Sistema Único de Saúde) com a consolidação da Reforma Psiquiátrica no Brasil foi
palco de transformações significativas nas políticas de saúde e nas ações relacionadas à
saúde mental, com a ênfase da desospitalização da assistência, privilegiando a criação de
serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico que passaram a compor a Rede de Atenção à
Saúde Mental: Centros de Atenção Psicossocial (CAPSs), leitos psiquiátricos em hospitais
gerais, oficinas terapêuticas e centros de convivência, respeitando-se as particularidades e a
necessidade de cada local (HIRDES, 2009 apud SALVATORI, p. 38, 2013).
Entretanto, apesar da política de saúde através do SUS, possuir propósitos dignos como os
acima citados, as internações psiquiátricas determinadas pelo Judiciário têm crescido
constantemente nos Municípios, gerando despesas não previamente programadas,
tratamentos (como os de internação) e não de prevenção, sem comprovação dos reais
18
resultados. Se, ao poder Judiciário importa a apuração dessa situação, à saúde pública mais
ainda, pelo fato de ser incompatível com os pressupostos da reforma psiquiátrica e da própria
Política para Atenção Integral aos Usuários de Álcool e outras drogas (SALVATORI, p. 38,
2013). Tal fenômeno merece uma investigação científica que deslinde as representações dos
juízes acerca dos casos que chegam em suas mãos, haja vista que são eles que decidem sobre
a internação compulsória.
Segundo Guimarães (2007) um fenômeno que permeia essas questões e que se tornou
preocupante, tanto para a comunidade científica como para a sociedade em geral,
principalmente a partir das últimas décadas do século XX, é o consumo de drogas entre os
adolescentes, que tem apresentado altas prevalências e início cada vez mais precoce.
O Poder judiciário com legitimação constitucional tem sido atuante na defesa dos direitos e
garantias fundamentais dessas pessoas.
19
têm aumentado e gerado gastos inesperados para a Administração Pública
Municipal.
III) As internações feitas pelo Poder Judiciário asseguram o direito à Saúde dos jovens e
estão em desencontro ao movimento, geram um impacto nas políticas públicas, na
qualidade de vida dos pacientes.
Quais são os gastos orçamentários da saúde decorrentes das decisões judiciais de internações
compulsórias das pessoas viciadas em drogas?
1.4 Objetivos
Diagnosticar os gastos das ações judiciais interpostas para acesso a internações compulsórias
de adolescentes viciados em drogas no orçamento do Município de Espírito Santo do Pinhal -
SP. O alcance desses objetivos de pesquisa pode evidenciar desafios para a consolidação de
políticas públicas voltadas principalmente para adolescentes viciados em drogas.
Identificar e caracterizar as ações judiciais para acesso a internação compulsória por autores,
réus e conteúdo das demandas;
20
Refletir sobre o modelo de internação compulsória de adolescentes viciados em drogas como
políticas públicas de saúde;
21
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Elaborado há mais de meio século pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 1948) o
conceito formal e pioneiro de saúde corresponde a um estado de completo bem-estar físico,
mental e social que não se caracteriza unicamente pela ausência de doenças, e sim como um
direito humano. Nesse sentido Singer (1987) considera que esta formulação inclui as
circunstâncias econômicas, sociais e políticas, como também a discriminação social, religiosa
ou sexual.
Criança, segundo a Convenção (ECA) (BRASIL, 1990) é todo ser humano menor de 18 anos
de idade [...] Como no Brasil, aos 16 anos a pessoa adquire relativa capacidade jurídica, o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (BRASIL, 1990) considera criança a pessoa até
12 anos incompletos, e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade. Isso quer dizer que o
conceito de criança nos termos da Convenção abrange no sistema brasileiro a criança e o
adolescente (SILVA, 2007).
22
Ainda nos dizeres de Silva (2007), o artigo 227 da Constituição Federal de 1988, é por si uma
carta de direitos fundamentais da criança e do adolescente correspondentes aos previstos na
Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU, 1945) referido artigo tem em seu caput
verdadeira declaração de direitos, enquanto os seus parágrafos indicam as providências que
visam conferir eficácia aos direitos ali prometidos.
Assim, essa categoria de cidadãos identificados a partir da idade tem assegurada a proteção na
Constituição e no Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº. 8.069/1990. Com efeito, o
ECA estabelece que a criança e o adolescente têm direito à proteção, à vida e à saúde,
mediante efetivação de políticas sociais que permitam um desenvolvimento sadio e
harmonioso, bem como têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas
humanas em processo de desenvolvimento (SILVA, 2007).
A adolescência é um período crítico na vida de cada indivíduo, pois nessa fase o jovem
vivencia descobertas significativas e afirma a personalidade e a individualidade (BARROSO
et al., 2008).
23
Afirma ainda Barroso, Cavalcanti e Alves (2008) que a geração atual é considerada a mais
urbana da história; entretanto, à medida que a urbanização possibilita cada vez mais o acesso
à educação e aos serviços de saúde, os adolescentes são mais expostos aos riscos de uso de
drogas lícitas e ilícitas. Vários fatores se associam ao abuso de álcool na adolescência, a
começar pelos aspectos sócio-históricos, como a industrialização e a urbanização de décadas
recentes e a crise econômica dos anos 1980, responsável pela dificuldade de inserção do
jovem no mercado de trabalho e a consequente insatisfação de suas necessidades. Não se pode
subestimar, também, a crescente produção industrial de bebidas alcoólicas e o forte apelo dos
meios de comunicação em favor do consumo por indivíduos de todas as classes sociais.
Vários estudos alertam para a situação de vulnerabilidade dos jovens quanto ao trabalho,
sendo esse um dos contingentes populacionais que apresentam algumas das mais altas taxas
de desemprego e de subemprego no país. Eles enfrentam problemas singulares quanto à
primeira inserção no mercado, o que, em alguma medida, deve-se à exigência dos
empregadores de prova de experiência. É também uma população que tem demandado novos
enfoques da educação e qualificação profissional, não acessíveis aos jovens de famílias
pobres. De fato, as mudanças no mundo do trabalho, a desregulamentação e a flexibilização
da economia demandariam habilidades nem sempre disponíveis entre os jovens de setores
populares - como conhecimentos em informática e línguas estrangeiras - isso em contexto de
diminuição dos postos de trabalho para grande parte da população (CASTRO e
ABRAMOVAY, 2002).
Além de fatores sociodemográficos (sexo, idade, classe social), os estudos indicam associação
do uso de drogas com envolvimento parental ou familiar no consumo de álcool ou drogas, não
criação por ambos os pais, baixa percepção de apoio paterno e materno, amigos que usam
drogas, ausência de prática religiosa, bem como menor frequência à prática de esportes
(TAVARES, 2004).
Outro aspecto de importância segundo Castro e Bramovay (2002) é o lazer que pode associar-
-se tanto a estímulo como a antídoto contra violências. Os indicadores sobre equipamentos
culturais no Brasil justificam e reforçam a preocupação com a falta de espaços de lazer e de
cultura para a população jovem, em especial para aqueles em situações de pobreza.
24
Além da falta de equipamentos nas comunidades, os jovens circulam em raio restrito,
segregados nos seus bairros, não necessariamente exercendo direitos de cidadania social,
como, o benefício do uso da cidade em que vivem.
Ainda conforme Castro e Bramovay (2002), afetam a geração dos jovens, o desencanto, as
incertezas em relação ao futuro, o distanciamento em relação às instituições, a descrença na
sua legitimidade e na política formal, além de resistência a autoritarismos e "adultocracia".
Nesse caso, a escola e a família já não teriam a mesma referência que tiveram para outras
gerações, além de que há diversidades quanto a construções dessas referências em grupos em
uma mesma geração. Por outro lado, o apelo da sociedade de espetáculo e o apelo aos padrões
de consumo conviveriam com chamadas para a responsabilidade social e o associativismo.
Essas e outras tendências contraditórias também potencializariam vulnerabilidades negativas e
positivas (no sentido de fragilidades, obstáculos, capital social e cultural e formas de
resistência no plano ético cultural. Dessa forma, discutir juventudes pede discutir
modernidade e sua realização em distintos planos e para distintos grupos sociais (CASTRO,
2002).
De acordo com Laranjeira et al. (2008), o crescente consumo de drogas, é um problema que
aflige a sociedade de forma devastadora. Com impactos econômicos e sociais de tamanha
monta, que o transforma em um relevante problema de saúde pública, afetando
principalmente os jovens. Esse fato, associado à falta de dados sobre suas reais dimensões,
25
tem motivado pesquisas com o objetivo de criar subsídios que permitam a criação de
mecanismos eficiente no combate ao uso de substâncias psicoativas ilícitas.
A inclusão social não se dá exclusivamente por meio da erradicação da pobreza. Para que um
indivíduo possa ser considerado incluído socialmente, imprescindível, além de apresentar
boas condições econômicas, que tenha acesso à educação e à saúde, que tenha respeitadas
suas liberdades e que apresente empoderamento social, por exemplo (DABULL e
STAHLHÖFER, 2013).
Finalmente reafirma Moura e Trentin (2013) que a Constituição Federal de 1988 trouxe
diversas mudanças pertinentes aos direitos da criança e do adolescente. O reconhecimento dos
infantes como sujeitos de direitos, respeitada sua condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento levou à adoção da Teoria da Proteção Integral. Ao lado disso, a constituição
26
adotou também a chamada tríade, Estado, Sociedade e Família, como responsável pela
promoção e garantia dos direitos dos infantes.
Moraes, Leitão e Braga (2002) referem que as políticas de saúde não estão atuando
eficazmente em situações de reabilitação de jovens; sem falar que os poucos resultados
positivos alcançados pelos serviços especializados em reabilitação esbarram na complexidade
que envolve a realidade socioeconômica, a exclusão social, o desemprego, a falta de
perspectiva e a violência, condições identificáveis na vida dos adolescentes.
Essa problemática tem amplo alcance, envolvendo não só o adolescente, como também sua
família e seu contexto socioeconômico e cultural. Por essa complexidade, pode-se dizer que
nem toda ação de intervenção vá ter o efeito final almejado. A prevenção mostra-se como
uma das formas mais eficazes de lidar com o uso e o abuso de drogas, principalmente entre os
adolescentes. A precaução não deve se limitar a ações isoladas, mas desenvolver-se em todas
as frentes, enfatizando-se a orientação e mobilização desses adolescentes, enfocando ações de
redução de danos, reabilitação e socialização desses jovens.
As estimativas indicam que atualmente cerca de 450 milhões de pessoas no mundo sofrem de
perturbações mentais, neurobiológicas ou, psicossociais, como de problemas relacionados
com o abuso de álcool e drogas (FORTE, 2010).
Drogas como o crack, agem de maneira tão agressiva no corpo do usuário que não permitem
que ele entenda a gravidade de sua situação e o quanto seu comportamento pode ser nocivo
para ele mesmo e para os outros (LOCCOMAN, 2012).
27
Quaisquer que sejam as indicações das internações psiquiátricas, o Código Penal e a Lei
Federal nº. 10.216/2001 exigem que se deem em estabelecimentos com características
hospitalares, preservando a dignidade humana, garantindo ao paciente segurança e
humanização no seu atendimento, com o mínimo possível de permanência, na unidade
hospitalar e retorno ao convívio familiar e social (FORTES, 2010).
De acordo com a Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) nº. 1.598/2000 o artigo
6º
28
compulsória - dando início à progressiva mudança do modelo de atenção em saúde mental na
década de 1990. O termo “reforma psiquiátrica” não deve ser entendido simplesmente como
“desospitalização” e construção de um novo modelo ou sistema de atenção restrita ao campo
da saúde mental e coletiva, como pode erroneamente parecer em um primeiro momento. Por
reforma psiquiátrica entende-se um processo social e complexo, denominado de
desinstitucionalização, que consiste em uma estratégia teórico-prática de desmontagem do
conjunto de aparatos científicos, legislativos, administrativos, de códigos de referência e de
relações de poder que se estruturam em torno do objeto doença (FORTE, 2010).
No entanto, para Forte (2010) há situações clínicas em que a internação ainda hoje é uma
medida prudente, mesmo imperativa, devendo o médico indicá-la, quando o agir do doente
mental se manifestar em sentido inconscientemente prejudicial contra a vida ou a integridade
física e moral do próprio ser ou da pessoa do outro, procedendo-a mediante o consentimento
livre e esclarecido.
Segundo o Instituto “Crack nem pensar” e Conselho Nacional de Justiça (2011), drogas como
o crack, acarretam sérias complicações, pois ao ser fumado, é absorvido pelo pulmão e chega
ao cérebro em 10 segundos. Após a “pipada” (ato de inalar a fumaça), o usuário sente grande
prazer, intensa euforia, sensação de poder, excitação, hiperatividade, insônia, perda de
sensação de cansaço e falta de apetite. O uso passa a ser compulsivo, pois o efeito dura apenas
de 5 a 10 minutos e a “fissura” (vontade) em usar novamente a droga torna-se incontrolável.
Segue-se repentina e profunda depressão e surge desejo intenso de uso repetido imediato.
Assim, serão usadas muitas pedras em seguida para manter o efeito estimulante, trazendo
várias consequências:
Físicas: Danos ao pulmão, associado a fortes dores no peito, bronquite e asma; aumento da
temperatura corporal com risco de causar acidente vascular cerebral; destruição de células
cerebrais e degeneração muscular, o que confere aquela aparência esquelética do usuário
frequente. Pode acarretar também inibição da fome e insônia severa.
Além disso, os materiais utilizados para a confecção dos cachimbos são muitas vezes
coletados na rua ou no lixo e apresentam risco de contaminação infecciosa, gerando potencial
elevação dos níveis de alumínio no sangue, de modo a aumentar os danos no sistema nervoso
central. São comuns queimaduras labiais, no nariz e nos dedos dos usuários.
29
Psicológicas: Fácil dependência após uso inicial. Grande desconforto durante abstinência
gerando depressão, ansiedade e agressividade contra terceiros. Há diminuição marcante do
interesse sexual. A necessidade do uso frequente acarreta delitos, para obtenção de
dinheiro, venda de bens pessoais e familiares, e até prostituição, tudo para sustentar o
vício. A promiscuidade leva à grave risco de se contrair AIDS e outras DSTs (doenças
sexualmente transmissíveis). O usuário também apresenta, com frequência, atitudes
bizarras devido ao aparecimento de paranóia “nóia”, colocando em risco a própria vida e a
dos outros.
Sociais: Abandono do trabalho, estudo ou qualquer outro interesse que não seja a droga.
Deterioração das relações familiares, com violência doméstica e frequente abandono do
lar. Grande possibilidade de envolvimento com criminalidade.
Segundo Loccoman (2012), a internação contra a vontade do paciente está prevista no Código
Civil (BRASIL, 2001) desde 2001, pela Lei da Reforma Psiquiátrica nº. 10.216/01, (BRASIL,
2001) mas a novidade agora é que o procedimento seja adotado não caso a caso, mas como
uma política de saúde pública. “No Brasil, a desigualdade no campo da saúde é tão
expressiva, que se tornou imperativo para o Poder Judiciário atuar com bastante rigor e
precisão para impedir que o fosso entre os cidadãos se alargue ainda mais” (BARBOSA,
2013).
30
princípios gerais que orientam um tratamento de drogas [...], explicita que o “direito à
autonomia e autodeterminação, o combate ao estigma, ao preconceito e à discriminação e o
respeito aos direitos humanos devem ser observados em qualquer estratégia de tratamento
para a dependência de drogas”. O documento também aduz que “a internação compulsória é
considerada uma medida extrema, a ser aplicada apenas a situações excepcionais de crise com
alto risco para o paciente ou terceiros, e deve ser realizada em condições e com duração
especificadas em Lei. Ela deve ter justificativa clara e emergencial, além de ter caráter
pontual e de curta duração”, afirma a OPAS.
Aduz-se do texto da Lei nº. 10.216/2001 (BRASIL, 2001) que redireciona o modelo de
atenção em saúde mental no Brasil, a intenção do legislador em priorizar o tratamento na
comunidade, fora da instituição hospitalar, sendo a internação psiquiátrica a última alternativa
para o tratamento (SALVATORI, 2013).
Segundo Reis (2012), evidencia-se os modos como os adolescentes usuários de drogas vêm
sendo investidos enquanto um grande problema social e as estratégias oferecidas para dar
conta desse problema. Embora se afirme que a violência ou o uso de drogas na adolescência
não seja algo novo, é um problema que emerge, neste momento como novidade. O inovador
não está, portanto, na questão em si, mas nas relações que se estabelecem com ela. Ainda,
conforme Reis (2012)
31
...quando olhamos para a rede de atores compostas de juízes, autos processuais,
trabalhadores sociais, pareceres, drogas, instituições de saúde, diagnósticos,
assistência social, justiça, famílias, segurança públicas e outros, não são somente os
nós da rede, mas a rede em ação que nos interessa [...] na rede não há um centro ou
um ator principal. Os processos de fabricação são distribuídos entre todos os atores,
isto é, não é somente o Judiciário que interna compulsoriamente os adolescentes -
todos os outros atores são também responsáveis pelos efeitos produzidos nessa rede.
O momento caracteriza-se pelo consumo indiscriminado de drogas, quer lícitas, quer ilícitas.
A ingestão do crack, em especial, pelo seu elevado poder lesivo, vem colocando em risco
milhares de crianças e adolescentes, seja pelo consumo direto da droga, seja pelos efeitos
indiretos, porém devastadores, no núcleo familiar (CALMOM, 2011).
Com custo relativamente baixo e alto potencial para gerar dependência química, o crack é,
dentre as substâncias entorpecentes, aquela que tem causado as consequências mais nefastas
em nossa sociedade.
A droga atinge grave e diretamente a saúde física e mental dos usuários. Mais que isso, e de
forma muito rápida, debilita laços familiares e relações sociais. Nesta medida, constitui
indiscutível fator de aumento das taxas de criminalidade, violência e outros problemas sociais.
O combate mais eficiente faz-se pela prevenção, e, para tanto, conhecimento é fundamental
(PELUZZO, 2011).
Segundo a Defensoria Pública do Estado de São Paulo, especialmente nos autos da Ação Civil
Pública sob nº. 18/2010 assim expõe
Indiscutível, assim, que um doente, viciado em drogas, que não vem a receber o
devido tratamento, vem a ser causa dos mais graves problemas sociais, visto que
vem a ser causa de desestabilização familiar, de prática de violência doméstica e de
aumento da criminalidade, sendo desnecessário juntar com a presente petição cópias
de inúmeros autos de prisão em flagrante que chegam diariamente à Defensoria
Pública (em razão do art. 306, §1°, do Código de Processo Penal) em que o preso
afirma categoricamente ter praticado crime (na maioria das vezes furto, roubo e
tráfico de drogas) com o intuito de adquirir entorpecentes para consumo.
32
O círculo vicioso derivado dessa situação (vício + crime = prisão) enseja evidente
prejuízo social em razão do fato de que o viciado que não recebe o devido
tratamento médico acaba por receber tratamento penal. O prejuízo é flagrante: o que
o Poder Público deixa de gastar com o tratamento do viciado, vem a gastar
posteriormente com a reclusão do viciado em estabelecimentos prisionais.
Verifica-se, portanto, a interligação com o campo da saúde, da justiça, das políticas públicas.
Nesta esteira Sarlet (2012, p. 281) afirma que os direitos fundamentais a prestações
(prestacionais à saúde) são inequivocamente autênticos direitos fundamentais, constituindo
em razão disso direito imediatamente aplicável, nos termos do disposto no art. 5º, § 1º, de
nossa Constituição.
33
Ainda segundo Sarlet (2012) os direitos fundamentais devem ter sua eficácia valorada não só
sob o ângulo individualista, isto é, com base no ponto de vista da pessoa individual e sua
posição perante o Estado, mas também sob o ponto de vista da sociedade, da comunidade na
sua totalidade, já que se cuida de valores e fins que esta deve respeitar e concretizar.
De acordo com Trentin (2013, p. 66) a Constituição Federal de 1988 reconhece a saúde como
direito social e dever do Estado, buscando medidas de reorganização do setor da saúde que
viabilizem os princípios estabelecidos na Carta Constitucional para a implementação do
Sistema Único de Saúde (SUS).
De acordo com Silva (2009, p. 98) podem ser destacados outros sistemas constitucionais, que
preveem expressamente o direito à saúde em suas cartas políticas (constituições), podendo
destacar inicialmente o direito Chinês. A constituição da República Popular da China,
aprovada em 04 de dezembro de 1982 trata da questão, de forma mais direta em dois artigos, a
saber:
Ainda segundo Silva (2009) a Constituição da República Italiana, por sua vez, estabelece em
seu artigo 3º, um conceito de dignidade social, bastante amplo, do qual, obviamente, poder-
34
se-ia extrair o direito de respeito à vida, e em seu artigo 32 se refere à questão da saúde
pública:
Artigo 3º: Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a
Lei, sem discriminação de sexo, de raça, de língua, de religião, de opiniões políticas,
de condições pessoais e sociais. Cabe à república remover os obstáculos de ordem
social e econômica que, limitando de fato a liberdade e a igualdade dos cidadãos,
impedem o pleno desenvolvimento da pessoa humana e a efetiva participação de
todos os trabalhadores na organização política, econômica e social do país...
Vale lembrar que a saúde pública no Brasil é um direito de todos e dever do Estado, devendo
ser garantida mediante políticas públicas sociais e econômicas comprometidas a redução do
risco de enfermidades e de outros agravos. A falta de serviços especializados, a dificuldade de
construção dos fluxos de encaminhamento na rede pública, as exigências impostas para
35
continuidade de tratamento e o despreparo da atenção básica para dar continência a essas
situações [...] acaba dificultando ou, em alguns casos, impossibilitando a chegada de crianças
e adolescentes usuários de drogas aos serviços de saúde mental. São esses limites encontrados
na política de saúde que têm levado a população a buscar a materialização de alguns de seus
direitos constitucionais através de estratégias do campo jurídico (REIS, 2012).
Assim, destacando-se o princípio da dignidade da vida humana como sendo uma das
condições indispensáveis à construção de uma sociedade livre, justa e solidária, visando o
bem comum (TRENTIN, 2013, p. 68).
Não é demais destacar que o artigo 196, da Constituição Federal se apresenta como
um marco de relevância pública, no reconhecimento das ações a dos serviços de
saúde, cuja expressão está no Texto Constitucional em que a saúde se releva como
direito de todos e dever do Estado, ao garantir políticas sociais e econômicas que
visem a redução do risco de doenças a de outros agravos, bem como ao acesso
universal a igualitário as ações e serviços para a sua promoção, proteção e
recuperação.
Segundo Campos (2009), as políticas públicas expressam, por um lado, o reconhecimento dos
direitos sociais de cidadania que fazem parte das condições de vida das populações; e pelo
outro a proteção social como responsabilidade do Estado. Para ele, entende-se por políticas
públicas
Portanto, apesar de existirem políticas públicas voltadas para os adolescentes e jovens e para a
saúde dos mesmos, essas parecem ser insuficientes. Dessa maneira, vem ocorrendo o
36
fenômeno da judicialização do direito à saúde, o qual os jovens viciados em drogas
especialmente o crack, por meio de suas famílias vão buscar o Poder Judiciário para verem
garantidos os seus direitos.
Segundo o que consta no último relatório mundial sobre drogas UNODC (2014), ainda
existem sérias lacunas na prestação de serviços. Nos últimos anos, apenas um em cada seis
usuários de drogas no mundo teve acesso ou recebeu algum tipo de tratamento para
dependência de drogas a cada ano, ressaltando que 200 mil mortes relacionadas a drogas
ocorreram em 2012 (FEDOTOV, 2014).
A questão das demandas de assistência à saúde foi tão grande que o Conselho Nacional de
Justiça, na data de 25 de março de 2014, mediante Portaria de número 40, criou o Comitê
Organizador do Fórum Nacional do Poder Judiciário para monitoramento e resolução das
demandas de assistência à saúde.
Para assegurar a efetividade de qualquer direito, não há como prescindir da alocação de todo
uma gama de recursos públicos, de uma política de segurança, entre outras medidas, os
direitos individuais implicam políticas públicas (SARLET, 2012).
Com efeito, já se fez menção, em linhas atrás, no sentido de que todos os direitos
fundamentais (...) exigem - para sua realização - um conjunto de medidas positivas por parte
do poder público, que abrangem a alocação significativa de recursos materiais e humanos para
37
a sua proteção e implementação. Assim, não há como negar que todos os direitos
fundamentais podem implicar um custo (SARLET, 2012, p. 285).
O Poder Judiciário, em todas as suas instâncias, vem se deparando com um volume cada vez
maior de ações judiciais individuais que reivindicam os mais diversos medicamentos,
insumos, tratamentos e produtos de saúde em face do Estado, como garantia do direito à saúde
resguardada constitucionalmente (DIAS, 2012).
38
em conta os limites fáticos e jurídicos, preservado o seu núcleo essencial. O Judiciário deverá
intervir sempre que um direito fundamental - ou infraconstitucional - estiver sendo
descumprido, especialmente se vulnerado o mínimo existencial de qualquer pessoa. Se o
legislador tiver feito ponderações e escolhas válidas, à luz das colisões de direitos e de
princípios, o Judiciário deverá ser deferente para com elas, em respeito ao princípio
democrático (BARROSO, 2008).
O Poder Judiciário, cada vez mais, vem intervindo nos assuntos relativos à garantia do direito
à saúde, uma vez que se tornou um grande espaço de reinvindicação e discussão dos usuários
e beneficiários dos sistemas de saúde. Esse fenômeno, caracterizado pela intervenção
concorrencial do judiciário com outras instâncias políticas e legislativas responsáveis pela
elaboração de políticas públicas, é descrito pelos cientistas sociais como judicialização da
saúde (SOUZA et al., 2007; SALVATORI 2013).
Ainda, segundo Salvatori (2013) os entendimentos do poder judiciário por sua vez, embasam-
-se, não somente nas Leis existentes, mas também nos argumentos das partes envolvidas nos
conflitos de interesse e nos contextos social e cultural no qual se inserem, uma vez que estão
intrincados em uma complexa rede constituída pelas políticas públicas de saúde existentes,
pelos modelos assistenciais práticos e pelos impactos econômicos e sociais resultantes das
políticas e modelos de assistência à saúde estabelecidos e do próprio processo de internação
psiquiátrica, que se influenciam reciprocamente.
Sempre que a Constituição define um direito fundamental ele se torna exigível inclusive
mediante ação judicial. O papel do Poder Judiciário, em um Estado constitucional
democrático, é o de interpretar a Constituição e as leis, resguardando direitos e assegurando o
respeito ao ordenamento jurídico. Em muitas situações, caberá a juízes e tribunais o papel de
construção do sentido das normas jurídicas, notadamente quando esteja em questão a
aplicação de conceitos jurídicos indeterminados e de princípios (BARROSO, 2008).
39
cada vez maior de ordens judiciais, garantindo as mais diversas prestações do
Estado. Prestações estas que representam gastos públicos e ocasionam impactos
significativos na gestão pública da saúde no país.
No Brasil somente na Constituição Federal de 1988 o direito à saúde foi elevado à condição
de direito fundamental do homem, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao
seu pleno exercício (AFONSO, 2007). O artigo 5º, da atual Constituição Federal retrata como
se está avançado no que toca a proteção do indivíduo, ao dispor que, todos são iguais perante
a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, e à
propriedade. O artigo 6º (Brasil, 1988), da Lei Maior, dispõe que são direitos sociais a
educação, a saúde entre outros (CARVALHO, 2001). Já em seu artigo 196 preconiza que a
saúde é direito de todos e dever do Estado, e que esse direito será garantido mediante políticas
40
sociais e econômicas, que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Nesse contexto a Lei nº. 8.080/1990 que organiza o Sistema Único de Saúde em território
Nacional, amoldando-se ao que a Constituição estabelece, dispõe em seus artigos 6º e 7º, que
entre as ações que se inserem no campo de atuação do SUS, encontra-se a de “assistência
terapêutica integral, inclusive farmacêutica” que deve ser disponibilizada à população com
observância da integralidade de assistência, entendido como “conjunto articulado e contínuo
das ações e serviços preventivos e curativos, exigidos para cada caso em todos os níveis de
complexidade do sistema” (VIANA, 2013).
A efetivação forçada dessas políticas públicas por meio do Judiciário, centrada na lógica do
atendimento individual, parece ferir o princípio de igualdade e interesse coletivo também
previsto na Constituição.
Para Barroso (2012), a “judicialização” significa que questões relevantes do ponto de vista
político, social, ou moral estão sendo decididas, em caráter final, pelo poder judiciário.
As demandas judiciais, nesse sentido se tornaram uma constante. O número de pessoas que
recorrem ao Judiciário vem aumentando significativamente, seja na busca de medicamentos
41
não disponibilizados ou de alto custo, seja como maneira encontrada de cumprimento de
obrigações que deveriam ser originariamente realizadas pelo Executivo.
Assim, o desarranjo encontrado no atual contexto social abriu espaço para que o Judiciário
pudesse, em nome dos Direitos Individuais e Garantias Fundamentais, filhos do Princípio da
Dignidade da Pessoa Humana, atuar, determinando corriqueiramente através de mandamentos
instrumentalizados por liminares em Mandados de Segurança ou típicas Ações de obrigação
de fazer, que se cumpra, entre outras, as chamadas internações compulsórias de dependentes
de álcool e drogas e especialmente adolescentes viciados em crack.
A sociedade tem um compromisso tanto ético, moral, quanto legal de proteger suas gerações
futuras. Adolescentes em contato com o mundo das drogas têm sido temas de manchetes,
discussões, realidade no convívio familiar e nos últimos anos, objetos de ações no Judiciário.
42
Como medida de proteção de suas próprias vidas e de terceiros têm sido internados
compulsoriamente.
Norma Operacional Básica (NOB/96), Portaria nº. 2.203, publicada no Diário Oficial da
União, de 6 de novembro de 1996.
2.5.1 Finalidade
A presente Norma Operacional Básica tem por finalidade primordial promover e consolidar o
pleno exercício, por parte do poder público municipal e do Distrito Federal, da função de
gestor da atenção à saúde dos seus munícipes (Artigo 30, incisos V e VII, e Artigo 32,
Parágrafo 1º, da Constituição Federal, 1988), com a consequente redefinição das
responsabilidades dos Estados, do Distrito Federal e da União, avançando na consolidação
dos princípios do SUS.
43
Esse exercício, viabilizado com a imprescindível cooperação técnica e financeira dos poderes
públicos estadual e federal, compreende, portanto, não só a responsabilidade por algum tipo
de prestação de serviços de saúde (Artigo 30, inciso VII, Constituição Federal), como, da
mesma forma, a responsabilidade pela gestão de um sistema que atenda, com integralidade, à
demanda das pessoas pela assistência à saúde e às exigências sanitárias ambientais (Artigo 30,
inciso V, Constituição Federal, 1988).
Busca-se, dessa forma, a plena responsabilidade do poder público municipal. Assim, esse
poder se responsabiliza como também pode ser responsabilizado, ainda que não isoladamente.
Os poderes públicos estadual e federal são sempre corresponsáveis, na respectiva competência
ou na ausência da função municipal (inciso II do Artigo 23, da Constituição Federal). Essa
responsabilidade, no entanto, não exclui o papel da família, da comunidade e dos próprios
indivíduos, na promoção, proteção e recuperação da saúde.
Isso implica aperfeiçoar a gestão dos serviços de saúde no país e a própria organização do
Sistema, visto que o Município passa a ser, de fato, o responsável imediato pelo atendimento
das necessidades e demandas de saúde do seu povo e das exigências de intervenções
saneadoras em seu território.
Ao tempo em que aperfeiçoa a gestão do SUS (Sistema Único da Saúde), esta NOB (Norma
Operacional Básica, 1996) aponta para uma reordenação do modelo de atenção à saúde.
2.5.2 Responsabilidades
O financiamento do SUS é de responsabilidade das três esferas de governo e cada uma deve
assegurar o aporte regular de recursos, ao respectivo fundo de saúde.
Nas esferas estadual e municipal, além dos recursos oriundos do respectivo Tesouro, o
financiamento do SUS conta com recursos transferidos pela União aos Estados e pela União
e Estados aos Municípios. Esses recursos devem ser previstos no orçamento e identificados
nos fundos de saúde estadual e municipal como receita operacional proveniente da esfera
federal e ou estadual e utilizados na execução de ações previstas nos respectivos planos de
saúde e na PPI (Promoção Pactuada e Integrada) (CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE).
44
2.5.3 Teto financeiro da assistência do Município (TFAM)
O primeiro propósito é possível porque, com a nova formulação dos sistemas municipais,
tanto os segmentos sociais, minimamente agregados entre si com sentimento comunitário -
os munícipes - quanto a instância de poder político-administrativo, historicamente
reconhecida e legitimada - o poder municipal - apropriam-se de um conjunto de serviços bem
definido, capaz de desenvolver uma programação de atividades publicamente pactuada. Com
isso, fica bem caracterizado o gestor responsável; as atividades são gerenciadas por pessoas
perfeitamente identificáveis; e os resultados mais facilmente usufruídos pela população
(CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE).
45
O SUS com a consolidação da Reforma Psiquiátrica no Brasil, foi palco de transformações
significativas nas políticas de saúde e nas ações relacionadas à saúde mental, com a ênfase da
desospitalização da assistência, privilegiando a criação de serviços substitutivos ao hospital
psiquiátrico que passaram a compor a Rede de Atenção à Saúde Mental: CAPSs, (Centros de
Atendimento Psicossocial), leitos psiquiátricos em hospitais gerais, oficinas terapêuticas e
centros de convivência, respeitando-se as particularidades e a necessidade de cada local
(HIRDES, 2009; SALVATORI, p. 38, 2013).
Entretanto, apesar da política de saúde, através do SUS possuir propósitos dignos como os
acima citados, as internações psiquiátricas determinadas pelo Judiciário têm crescido
constantemente nos Municípios, gerando despesas não previamente programadas,
tratamentos (como os de internação) e não de prevenção, sem comprovação dos reais
resultados.
Se ao poder Judiciário importa a apuração dessa situação, à saúde pública mais ainda, pelo
fato de ser incompatível com os pressupostos da reforma psiquiátrica e da própria Política
para Atenção Integral ao Usuários de Álcool e outras drogas. Tal fenômeno merece uma
investigação científica que deslinde as representações dos juízes acerca dos casos que
chegam em suas mãos, haja vista que são eles que decidem sobre a internação compulsória
(SALVATORI, p. 38, 2013).
46
3 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
3.1 Método
47
3.1.4 Critério de exclusão
3.1.5 Variáveis
Autor/requerente: pode ser o próprio paciente (nos casos de internação compulsória são
representados por algum familiar: pai, mãe, irmãos ou avós).
Requerido: contra quem se ingressou com a ação judicial: Município de Espírito Santo do
Pinhal/Secretaria Municipal de Saúde.
48
pedido, cuja solução será ou no sentido positivo ou no sentido negativo, conforme esse
pleito da parte seja resolvido por sentença de procedência ou de improcedência, que podem
ser classificadas como condenatórias, mandamentais, executivas lato sensu (WAMBIER,
ALMEIDA e TALAMINI, 2012).
Cautelar: é a que serve para preservar a realidade, proteger contra o risco de ineficácia o
resultado do processo (WAMBIER, ALMEIDA e TALAMINI, 2012).
Ações mandamentais: essas ações tem por objetivo a obtenção de sentença em que o juiz
emite uma ordem de autoridade, que, se não for especificamente cumprida por quem a
receba, implica em sujeição às sanções de tipo penal (WAMBIER, ALMEIDA e
TALAMINI, 2012).
Mandado de Segurança:
49
públicas, com o objetivo de corrigir ato ou omissão ilegal ou decorrente de abuso de poder
(SILVA, 2007).
Mandado de Segurança Coletivo: Consta no artigo 5º, LXX. Seu conceito, assenta-se em
dois elementos: um institucional, caracterizado pela atribuição da legitimação processual a
instituições associativas para a defesa de interesses de seus membros ou associados; outro
consubstanciado no uso do remédio para a defesa de interesses coletivos (SILVA, 2007).
Ações executivas lato sensu: são espécies de ação que contém um passo além daquilo que
a parte obtém com uma ação condenatória, ou seja, uma autorização para executar.
Execução das ações de obrigação de fazer - é via de tutela para as pretensões a um fazer ou
não fazer, prevista no artigo 461, do Código de Processo Civil e abrange genericamente
todas as espécies de deveres que tenham por objeto a realização de uma atividade ou
abstenção de determinada conduta, neste tipo de ação o juiz expede o mandado executivo,
fixa o prazo de cumprimento e comina, ainda, multa que incidirá por dia de atraso. A multa
diária funciona como meio coercitivo para a concretização do mandado executivo
(mecanismos destinados a pressionar psicologicamente o devedor, a fim de que ele mesmo
faça a obrigação). Essa multa é conhecida como astreintes (WAMBIER, ALMEIDA e
TALAMINI, 2012).
Em todos os tipos de ações a ordem emanada pelo Juiz será deferida liminarmente em forma
de tutela antecipada ou em sentença.
Tutela antecipada - É uma medida antecipatória que ocorre dentro da própria ação
principal, representa providências de natureza emergencial, executiva e sumária, o juiz só
irá deferi-la se restar convencido de que o quadro apresentado trará ao requerente dano
irreparável ou de difícil reparação, tem um caráter satisfativo provisório para o requerente,
pois é antecipado o provimento antes da sentença na ação (THEODORO JÚNIOR, 2007).
Sentença - É o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos artigos 267 e 269
do Código de Processo Civil (CPC, 2013). A sentença, portanto, segundo Miranda (1974)
apud Theodoro Júnior (2007) é emitida como prestação do Estado, em virtude da obrigação
50
assumida na relação jurídica processual (processo), quando a parte ou as partes vierem a
juízo, isto é, assumirem a pretensão à tutela jurídica.
Despesa realizada pelo Município de Espírito Santo do Pinhal - SP, com as internações
compulsórias: o valor gasto com a internação compulsória do jovem dependente de drogas.
Organizado pelos anos de 2009, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014.
a. Orçamento do Município de Espírito Santo do Pinhal - SP: o valor total da previsão das
receitas e despesas do Município de Espírito Santo do Pinhal - SP. Organizado pelos anos
de 2009, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014;
d. Origem dos recursos para cobrir as despesas efetivas com tratamento de internação
compulsória: de qual esfera governamental vem o recurso financeiro. Organizado pelos
anos de 2009, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014. Classificado em: recursos provenientes do
governo federal, recursos provenientes do governo estadual, recursos provenientes do
governo municipal.
51
e. Despesa gerada pela determinação do juiz: gasto gerado para atender à determinação
judicial emergencial. Classificada em: valor (em reais) e forma de internação local ou em
outra cidade (clínicas particulares).
3.2 Material
Cópias dos processos judiciais referentes às ações movidas por indivíduos em face do
Município de Espírito Santo do Pinhal - SP ou em face da Secretaria de Saúde de Espírito
Santo do Pinhal - SP nos exercícios de 2009, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014. Essas cópias de
processos judiciais se encontram no Departamento Jurídico da Prefeitura Municipal. São
cinco procuradores municipais, sendo que as ações judiciais de internações compulsórias são
distribuídas entre dois deles.
52
3.3 Técnica
53
A primeira fonte de pesquisa foi no arquivo eletrônico do Departamento Jurídico, onde
estão registrados o número da ação, tipo de ação e os dados do demandante e demais
documentos do processo. As palavras-chaves de busca para a pesquisa eletrônica foram:
ações cíveis e internações judiciais. Em seguida houve a busca dos dados nas pastas
(físicas) para obtenção dos documentos relacionados com cada ação de internação
compulsória (documentos processuais);
A segunda fonte foi a Secretaria Municipal de Saúde, que cumpre a determinação judicial
(liminar e/ou sentença) de realizar as internações compulsórias em hospitais públicos ou
particulares. Ainda na Secretaria Municipal de Saúde foi realizada consulta aos dados
orçamentários.
54
4 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS
55
5 RESULTADOS
O estudo identificou das 116 ações, que 99 possuíam os dados que interessavam por completo
ao estudo, distribuídas na Comarca de Espírito Santo do Pinhal - SP; dessas, 41 foram da 1ª
Vara Cível, 54 da 2ª Vara Cível e somente quatro ações do Juizado Especial Cível. A Tabela 1
enumera as Varas envolvidas, o número de ações distribuídas em cada uma delas e o ano
inicial da ação.
Quanto ao período de coleta de dados apesar de disponíveis desde 2009, foram identificadas
decisões sobre a temática investigada somente a partir do ano 2010 e em relação a 2015 os
processos encontram-se em andamento, sem finalização no período coletado.
56
TABELA 1: Distribuição no espaço e no tempo das ações judiciais (n=99) relativas a
internação compulsória determinadas pela Justiça local em face do Município de
Espírito Santo do Pinhal - SP e Secretaria de Saúde.
Variáveis n %
1ª Vara 41 40,59%
2ª Vara 54 53,46%
Juizado Especial 04 3,96%
O estudo procurou identificar a natureza da ação, detectando somente dois tipos de ações,
sendo elas: Ação de Obrigação de Fazer e Ação Civil Pública e se houve ou não a concessão
de antecipação de tutela. A Tabela 2 apresenta a quantidade e o tipo de ação judicial
interposta.
FONTE: Base de dados do Departamento Jurídico do Município de Espírito Santo do Pinhal - SP e Secretaria de
Saúde Municipal.
57
5.1.3 Demandas judiciais e antecipação de tutela
Antecipação de tutela
Concedida 70 69,30%
Não concedida 24 23,72%
Não solicitada ou não informada 05 4,95%
FONTE: Base de dados do Departamento Jurídico do Município de Espírito Santo do Pinhal - SP e Secretaria de
Saúde Municipal.
Embora não fosse o objetivo deste trabalho, o estudo procurou caracterizar o perfil da pessoa
que estava solicitando a internação compulsória no processo judicial. A maioria das pessoas
solicitantes eram mulheres; mães, esposas ou companheiras. Quanto à pessoa afetada pela
internação, a maior parte eram homens. A tabela 4 descreve o gênero dos solicitantes da
internação, o sujeito afetado e a natureza do autor da ação.
58
TABELA 4: Gênero da parte interessada na internação (n=99) relativas à internação
compulsória entre os anos de 2009 a 2015.
Variáveis n %
Solicitante
FONTE: Base de dados do Departamento Jurídico do Município de Espírito Santo do Pinhal - SP e Secretaria de
Saúde Municipal.
O estudo apontou que as ações judiciais em que tiveram antecipação da tutela determinando a
internação liminarmente, estabeleceram prazos bastante curtos para cumprimento da decisão,
que variaram entre horas e dias; sendo que em 28 processos as internações eram para serem
cumpridas em 48 horas, 18 processos em cinco dias, um processo em dez dias, e o restante
dos 52 processos, estabeleceram outros prazos.
59
5.1.6 Ano da Sentença e resultado das sentenças
Cabe destacar que para toda ação judicial há que se dar um valor à causa, sendo certo que o
valor comum encontrado foi de R$ 1.000,00 (um mil reais), com exceção da única Ação Civil
Pública, cujo autor foi o Ministério Público, para internação de adolescentes, onde deu-se à
causa o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).
60
5.1.9 Representação judicial do autor da ação
Em oito (7,92%) ações os autores possuíam advogado particular, em dez (9,9%) ações o autor
foi o Ministério Público. Nos demais processos, os autores possuíam advogados da assistência
judiciária gratuita.
A origem da prescrição, 57,42% solicitando a internação foi na sua maioria feita pelo próprio
serviço público, e apenas 8,91% foi feita pelo serviço privado (médico particular). O estudo
descobriu que 68 ações, ou seja, 67,32% possuíam relatório médico, e 23 (22,77%) não.
O estudo verificou os tipos de drogas mais utilizados pelas pessoas. Em grande parte das
ações foi possível conhecer as principais causas das solicitações de internação compulsória
levadas à Justiça, quais sejam: abuso do uso de álcool, (associado ou não, a outras drogas),
uso de crack, cocaína, maconha, uso de múltiplas drogas, inclusive cola. Há relatos nos
pedidos de internação, em grande parte dos processos, de que por causa do uso e dependência
dessas drogas, a pessoa tornou-se violenta ou agressiva, colocando em risco a sua própria vida
e a dos outros. A tabela 5 demonstra as drogas mais usadas pelas pessoas a serem internadas.
TABELA 5: Situação de saúde - Tipo de dependência citadas nas ações (n=99) relativos à
internação compulsória 2009-2015.
Situações da saúde /Dependência n %
FONTE: Base de dados do Departamento Jurídico do Município de Espírito Santo do Pinhal - SP e Secretaria de
Saúde Municipal.
Dentre as internações realizadas, 58 foram feitas pelo Sistema único de Saúde (SUS), 36 dos
internados foram atendidos no Centro de Atendimento Psicosssocial (CAPS) após a
61
Internação, destacando-se que apenas uma paciente foi internada mais de uma vez e seu
estado era de gestante.
A droga mais utilizada pelas pessoas (adultos e adolescentes) a serem internadas é o crack
(30,69%), sendo que depois do Crack, há o consumo de álcool (21,78%) associado ao uso de
outras drogas variadas (cocaína, maconha e cola) seguido da maconha (20,79%), cocaína
(18,81%) e somente álcool (17,82%).
No período de 2009 a 2015 foram identificados no próprio CAPS que 42 adultos tiveram após
a desinternação de um a cinco atendimentos para continuidade do tratamento para se livrar da
dependência das drogas.
Outro dado interessante encontrado na pesquisa, ainda em relação aos elementos fornecidos
pela Secretaria de Saúde, onde o CAPS é vinculado, que apenas quatro adultos foram
encaminhados para outras atividades. As atividades foram: Grupos de Psicoterapia, Terapia
Individual, Oficina terapêutica, Oficina de expressão.
Os adultos são internados no Instituto Dr. Bezerra de Menezes, que possui leitos pelo SUS.
Outro elemento encontrado é de que não houve acompanhamento pelo Município durante o
tratamento da internação dos adultos. A tabela 6 aponta o número de atendimentos para os
adultos realizados no CAPS.
62
TABELA 6: Número de atendimento de adultos no CAPS.
Atendimento CAPS - Adultos n=50 %
De 1 a 5 42 41,58%
De 6 a 15 15 14,85%
De 16 a 30 0 -
Acima de 30 2 1,98%
FONTE: Base de dados do Departamento Jurídico do Município de Espírito Santo do Pinhal - SP e Secretaria de
Saúde Municipal.
A pesquisa descobriu que em relação aos adolescentes, todos os 50 foram incluídos na mesma
Ação Civil Pública, proposta pelo Ministério Público da Comarca de Espírito Santo do Pinhal
- SP; 37 eram meninos e apenas 17 meninas. Todos, ou seja, 100% dos jovens foram
internados em clínica particular contratada e pagas pelo Município de Espírito Santo do
Pinhal.
63
TABELA 7: Atendimentos no CAPS para adolescentes pacientes de Internação
compulsória (n=50).
Atendimento CAPS - Adolescentes n %
De 1 a 5 23 11,5%
De 6 a 15 19 9,5%
De 16 a 30 7 3,5%
Acima de 30* 1 0,5%
A pesquisa mostrou que os adolescentes são internados em clínica particular contratada pelo
Município para esse fim, sendo que o período de internação é de 06 meses e que a
desinternação deve ser obrigatoriamente comunicada ao Juiz.
Durante o período da pesquisa houve dois óbitos de adolescentes que faziam parte dos
processos em estudo.
O estudo verificou que houve um crescimento ano a ano na receita orçamentária arrecadada
no ano de 2009 até 2014, e que no orçamento da Secretaria de Saúde levando em
consideração somente as fontes Estaduais e Federais, obteve-se também aumento crescente
entre os anos de 2009 até 2014.
64
5.3.1 Orçamento do Município - (Receita orçamentária arrecadada)*
2009 – R$ 50.876.145,20
2010 – R$ 60.879.872,16
2011 – R$ 69.501.049,26
2012 – R$ 72.313.885,52
2013 – R$ 78.076.192,97
2014 – R$ 88.230.158,43
2009 – R$ 4.050.284,89
2010 – R$ 4.070.821,96
2011 – R$ 5.175.390,69
2012 – R$ 5.275.668,44
2013 – R$ 6.472.853,79
2014 – R$ 7.663.121,28
A pesquisa possibilitou conhecer que foram transferidos Recursos Federais para o Município
(Receita orçamentária para tratamentos com internação da Secretaria de Saúde) no ano de
2009 no valor de R$ 32.724,00, mas, a despesa efetiva com as internações compulsórias em
2009 foi de apenas R$ 10.500,00.
65
A Receita orçamentária para tratamentos com internação da Secretaria de Saúde no ano de
2011 foi de R$ 32.724,00 em Recursos Federais e a despesa efetiva Municipal com
internações compulsórias foi de R$ 88.500,00, ou seja, em relação a 2009 quase triplicou o
gasto em relação à receita para esse fim.
Em 2012, foi também, o ano em que o Ministério Público ingressou com a Ação Civil Pública
para internação inicial de 16 adolescentes. Estas internações, como já dito, são realizadas em
uma clínica particular especificamente contratada pela Secretaria de Saúde para realizar os
tratamentos determinados judicialmente.
Os Recursos Federais transferidos não são específicos para o tratamento das internações dos
adolescentes. São recursos transferidos do Fundo Nacional de Saúde ao Fundo de Saúde do
Município, conforme a Programação Pactuada e Integrada, esse bloco é constituído por dois
componentes, sendo um deles o Componente Limite Financeiro da Média e Alta
Complexidade Ambulatorial e Hospitalar – MAC.
Apurou-se junto à Secretaria de Saúde que as internações dos adolescentes foram todas feitas
fora da Comarca de Pinhal em uma clínica particular, inicialmente no Município de Arthur
Nogueira e atualmente no Município de Descalvado, cujo custo mensal por adolescente
internado em 2014 era de R$ 1.700,00 (um mil e setecentos reais), havendo rotatividade de
internações, um sai outro entra no lugar.
Em 2015 o custo mensal por adolescente nesta clínica particular é de R$ 1.495,00 (um mil,
quatrocentos e noventa e cinco reais).
66
Importante destacar que nos processos, liminarmente, quando o Juiz determina a internação
pelo Município, já estabelece também, uma multa diária, que pode variar entre R$ 100,00 a
R$ 50.000,00, se não houver o cumprimento da ordem dentro do prazo estabelecido, podendo,
ainda, o gestor responder por crime de desobediência, se caracterizado o descumprimento.
A pesquisa demonstrou que, ainda que os gastos com internações em 2013 tenham sido um
pouco menores do que em 2012, ainda, assim, foram crescentes em relação aos anos de 2009,
2010, 2011; sendo a Receita orçamentária da Secretaria de Saúde em 2013 de R$ 32.724,00
em Recursos Federais e a despesa efetiva com internações compulsórias, R$ 103.200,00.
Por fim, o estudo deixou claro que as internações compulsórias foram crescendo ano a ano,
houve repasses federais também ano a ano. Os repasses não conseguiram cobrir os gastos
efetivos com as internações, exceto no ano 2009, início do período coletado.
Apesar de em 2014 o gasto efetivo ter diminuído em relação aos anos de 2010, 2011, 2012 e
2013, o repasse federal não foi suficiente. Os gastos efetivos em todos os anos, exceto 2009,
necessitaram de recursos municipais. Os recursos Municipais investidos foram maiores do
que os recursos federais recebidos. Não houve, em nenhum dos anos do período coletado,
transferências de recursos estaduais.
67
6 DISCUSSÃO
As despesas que envolvem os serviços de saúde são de elevada monta, situação encontrada no
orçamento da Secretaria de Saúde Municipal, que de R$ 4.050.284,89 em 2009 passou para
R$ 7.663.121,28 em 2014, praticamente dobrou.
Massaú e Bainy (2014) apontam que os gastos e o orçamento Municipal mostram que o
orçamento deve ser fortalecido no que se refere à Saúde.
A consequência disso é que a prestação - que inicialmente deveria se dar apenas no âmbito
administrativo - é judicializada: recorre-se ao Judiciário para conseguir o devido acesso aos
serviços de saúde, dados encontrados na Comarca de Pelotas, conforme Massaú e Bainy
(2014) onde os pedidos de internações ficaram em quarto lugar na Saúde.
68
(2015), fenômeno que vem ocorrendo nos últimos tempos em pequenos Municípios também,
como em Espírito Santo do Pinhal - SP. Pois bem, segundo Sousa (2012) o crack se destaca
entre as drogas que maior ruína traz para o usuário e que impõe maiores efeitos negativos para
a sociedade (OLIVEIRA; NAPPO, 2008).
A justificativa de uma internação compulsória, determinada por um juiz, sem que haja
concordância do paciente é justificada pela perda da autonomia do indivíduo devido à sua
doença, Barros e Serafin (2009), aqui associada ao consumo de álcool e drogas que levaram à
internação compulsória de vários adultos e jovens Pinhalenses, dados confirmados na região
(que compreende 25 municípios) de saúde de Piracicaba, onde número de internações
realizadas teve aumento não linear nos últimos cinco anos, nos hospitais psiquiátricos de
referência. Constatou-se que os gastos aumentaram, aproximadamente, 100% desde 2003,
principalmente nas cidades de Araras e Rio Claro (VINHA, 2011).
Ainda que haja uma programação normativa para a organização dos serviços que envolvem a
Administração Pública Municipal, principalmente para os serviços de saúde - SUS, bem
como, considerando a divisão que é de responsabilidade da União, Estado e Municípios,
(BRASIL, 1988) o direito à saúde não vem sendo considerado uma norma em que se pode
aguardar uma programação, Pepe et al. (2010) justamente por promover garantia de direito
fundamental, pois sem saúde compromete-se a própria vida (SILVA, 2007).
No que tange às internações compulsórias de natureza cível, como as que ocorrem em Pinhal
e observadas nas comarcas de Pelotas e de São Paulo, também decorrem de ordens judiciais
proferidas, em regra, após solicitação de algum familiar que não conseguiu que o Estado
espontaneamente prestasse o serviço, Taborda et al. (2014), seja por simples negativa
injustificada, seja por não disponibilizar o tratamento na rede pública de saúde. Neste último
caso, o Estado acabará sendo obrigado a custear o tratamento em algum estabelecimento da
rede médica privada (SOUSA, 2014). Ocorrência na prática encontrada em Espírito Santo do
Pinhal, visto que os jovens foram realmente internados em instituições privadas, não
localizadas no Município, com um custo atual de R$ 1.495,00 por mês, por adolescente.
Nota-se a encruzilhada em que se encontra o gestor Público Municipal, que não tem um
orçamento capaz de cobrir as demandas judiciais com serviços de saúde, incluindo-se as
internações compulsórias, dados encontrados também em Pelotas, conforme Massaú e Bainy
69
(2014), e a União e o Estado–membro devem, também, assumir com maior intensidade a
corresponsabilidade pelo aporte financeiro à saúde, quando o ente Municipal desembolsa para
além de seu orçamento a fim de atender a demanda.
Do montante das despesas municipais realizadas com recursos próprios na função saúde,
54,04% foram feitas pelos municípios da região sudeste, onde se encontra Pinhal
(BREMAEKER, 2012).
Segundo Bremaeker (2012), os Municípios que possuem população entre 20.000 a 50.000
habitantes, como é o caso de Pinhal, se posiciona em terceiro lugar no recebimento de
recursos transferidos para função saúde.
A quase totalidade dos recursos transferidos aos Municípios são provenientes do Governo
Federal, conforme Bremaeker (2012) dado confirmado nesta pesquisa.
Considerada uma norma de direito fundamental Pepe et al. (2010) deve ser aplicada direta,
imediata e de maneira integral, entendimento partilhado na prática pelo juízo da comarca de
Pinhal, justificando a medida de concessão de tutelas antecipadas, determinando ao Município
que providencie as internações das pessoas viciadas em álcool e drogas, dentre elas, muitos
adolescentes.
70
destacando o seguinte: “Toda pessoa tem direito à saúde, entendida como o gozo do mais alto
bem-estar físico, mental e social”.
As pessoas, cuja internação foi determinada, não podem aguardar uma programação da
administração pública, sob pena de risco de vida, delas e dos que convivem com elas
(BRAGA e D’OLIVEIRA, 2015).
O Município de Espírito Santo do Pinhal - SP, desde 2009 até os dias atuais tem sido alvo da
Justiça local nas questões relativas à saúde, especificamente em relação às internações
compulsórias em face de pessoas acometidas por problemas associados ao uso de álcool e
drogas. Os agravos associados ao consumo de Crack, cocaína, maconha, cola, e álcool, são
problema ocorrido em todo o Estado de São Paulo (REUNIÃO DO COMITÊ EXECUTIVO
DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2011). Segundo a Confederação Nacional dos Municípios, o
efeito deletério do crack espalha-se por todo o território brasileiro, fato este apontado por
pesquisa realizada por aquela entidade, na qual se constatou que 98% dos municípios
enfrentam problemas ligados ao crack, sendo que o consumo da substância é considerado um
problema para 90,7% dos municípios (OBSERVATÓRIO DO CRACK, 2012).
As ações têm sido impetradas nas Varas Cíveis da Comarca de Pinhal e no juizado Especial.
Essas varas são de primeira instância, dados constatados também, pelos juízes integrantes do
COEXES (REUNIÃO DO COMITÊ EXECUTIVO DE SAÚDE DO ESTADO DE SÃO
PAULO, 2011, 2012).
71
A natureza das ações na Municipalidade é Obrigação de Fazer, apenas uma Ação Civil
Pública, movida pelo Ministério Público para internar inicialmente 16 adolescentes, e ao final
do estudo esse número chegou a 54 jovens. Dos sujeitos internados, a maioria eram homens.
A principal situação de saúde encontrada nas ações que motivaram o pedido judicial pela
internação compulsória, foi a dependência de drogas, sendo que, em mais da metade das ações
estava associada ou não ao uso de álcool. Nota-se essa ocorrência, também, na região de
Piracicaba onde os transtornos mentais e comportamentais, referentes ao uso de álcool e
outras drogas, representaram, desde 2003, a maior porcentagem do número total de
internações. Cidades como Araras, Analândia, Conchal, Engenheiro Coelho e Santa Maria da
Serra, tiveram significativo aumento por número de internações por habitantes.
Vale ressaltar que na cidade de Capivari, onde há leitos para internação em Hospital de
Referência em Álcool e Drogas, o aumento de gastos foi de aproximadamente, 400%
(VINHA, 2011).
O estudo procurou classificar as drogas mencionadas nas ações. A droga isolada mais citada
foi o crack. A dependência de álcool associado a outras drogas ocupou o segundo lugar, a
maconha terceiro lugar, seguida da cocaína. Dentre todas as internações por uso de
substâncias psicoativas na Região de Araras e Piracicaba, o consumo de álcool representa a
maior porcentagem (DATASUS, 2008).
Os sujeitos que mais solicitam a internação compulsória são os próprios familiares da pessoa
a ser internada por dependência de álcool e/ou drogas, a maioria são mulheres: esposas ou
mães, resultados encontrados também por Barros e Serafin (2009) e Salvatori (2013) e
apontados junto Ministério Público Estadual de Cuiabá, MPE – MT (2012) cujos pedidos de
internações compulsórias feitas pelos familiares aumentaram em 106% em relação ao período
72
anterior. Em todas as situações o estudo demonstra que o réu(s) das ações de internação
compulsória é o Município, apenas cinco processos tiveram no polo passivo a Secretaria de
Saúde, bem como em quatro processos eram os dois solidariamente, nesse sentido, Marques e
Dallari (2007); Borges e Ugá (2010).
Em nome do interesse coletivo o Ministério Público interpôs Ação Civil Pública para
internação dos adolescentes.
O dever dos entes estatais de disponibilizar adequado tratamento de saúde vem expresso no
artigo 23 da Constituição Federal, e é compartilhado pela União, pelos Estados e pelos
Municípios, sendo todos solidariamente responsáveis. Vejamos o texto legal: Art. 23. É
competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: (...).
O recurso federal que compõe cada bloco de financiamento é transferido ao Município, fundo
a fundo, em conta única e específica, Fundo Nacional de Saúde (2015), assim o estudo
constatou que o Município de Pinhal, utiliza esse componente MAC (média e alta
complexidade) que deveria ser direcionado também para pagamentos de outras necessidades,
para cobrir somente os custos das internações compulsórias.
73
Agravo internação compulsória para tratamento contra drogadição requerida pela
companheira do dependente. Município. Legitimidade passiva. 1. Em casos como o
dos autos, em que o dependente químico encontra-se em surto psicótico, é
responsabilidade do município assegurar-lhe o direito à vida e à saúde,
providenciando a internação compulsória em hospital psiquiátrico para tratamento
contra drogadição. 2. Manifesta improcedência do recurso que autoriza julgamento
monocrático. Art. 557 do CPC. Negado provimento em julgamento monocrático.
(Agravo de instrumento nº. 70020624540, sétima câmara cível, Tribunal de Justiça
do RX, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, julgado em 04/09/2007).
Doze estados norte-americanos, dentre eles a Califórnia, possuem leis específicas sobre a
internação compulsória ou involuntária. A Flórida, por exemplo, tem o Marchman Act, aprovado
em 1993. O Canadá tem legislação que permite o tratamento forçado de viciados em heroína. O
Heroin Treatment Act foi aprovado na província de British Columbia em 1978. A lei foi contestada
na Justiça, mas foi mantida posteriormente pela Suprema Corte.
A Austrália possui legislação que permite aos juízes condenar ao tratamento compulsório
dependentes de drogas que cometeram crimes. A Nova Zelândia também tem legislação que
permite à Justiça ou à família internar um dependente compulsoriamente.
A Suécia possui o Act on the Forced Treatment of Abusers, que permite a internação compulsória
de dependentes que representem risco para si próprios ou para terceiros; a lei é utilizada
principalmente para menores de idade (Portal do Governo do Estado e da Secretaria da Justiça e da
Defesa da Cidadania, 2011).
74
Em todas as ações de internação compulsória em Espírito Santo do Pinhal - SP, na prática, foi
envolvido o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), dado também encontrado em Barboza
(2014) o que demonstra sua importância na nova política da reforma psiquiátrica levando em
consideração a pessoa humana. O regulamento do SUS, instituído pela Portaria nº. 3088 de 23
de dezembro de 2011, traz diretrizes e normas reguladoras de prestação de assistência à saúde
mental, especialmente para aquelas pessoas com necessidades decorrentes do uso de crack,
álcool e outras drogas, Strasser e Santos (2014) encontraram dados idênticos apontados no
estudo. A consolidação da Reforma Psiquiátrica exige, simultaneamente, a desconstrução de
instituições de caráter asilar, com a redução gradual e programada dos leitos em Hospitais
Psiquiátricos, e a construção de serviços substitutivos, sendo os Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS) os dispositivos centrais (BRAGA e D’OLIVEIRA, 2015).
75
Reforma psiquiátrica que introduziu o CAPS entre outros, Strasser e Santos (2014) a ideia é
do atendimento direcionado ao paciente viciado, com a elaboração de um Projeto Terapêutico
Singular, aliado à presença da família, com objetivo de reinserção social.
O número de reinternações é significativo Braga e D’Oliveira (2015), embora esta tenha sido
constatada em Pinhal, no patamar de 8% somente em relação aos adolescentes, dado que
contrasta com a escassez de atendimentos programados e direcionados aos jovens, na
modalidade de apenas um encontro semanal no CAPS AD.
O número de internações foi crescente de 2009 a 2014, com seu ápice em 2012, resultado
encontrado também por Salvatori (2013). Esse dado em conjunto com o ápice de maiores
internações no ano de 2012, demonstra que foi o período em as pessoas tiveram maior
conhecimento na mídia sobre seus direitos, indo em busca do Poder Judiciário para resolver
seus problemas (CNJ, 2015).
76
O consumo feminino de drogas é menor, dados encontrados pelo Senado (2011). A tendência
de aumento, visto na expansão do consumo de crack, aliás, foi registrada para praticamente
todos os tipos de drogas, especialmente as de maior consumo, grupo em que estão álcool,
tabaco, maconha e cocaína com crescimento em cidades do interior, como em Espírito Santo
do Pinhal e Mogi Guaçu, Vargem Grande do Sul, Aguai, Conchal, Ouro Fino, entre outras
(CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS, 2010).
Os prazos para cumprimento das decisões variaram entre 48 horas, cinco dias, um dia e outros
variados. O prazo concedido para cumprimento da decisão, para efetivamente internar a
pessoa viciada, foi bastante curto, concessão essa, que implica ao gestor (Secretaria de Saúde)
providenciar a internação, antes mesmo de se manifestar no processo (sem ser ouvido
anteriormente).
As ações acabam por representar um volume de recursos, para cumprimento das liminares,
Campos Neto, et al. (2012) que devem ser custeados pelo Município.
Os gastos com ações judiciais triplicaram, dados também encontrados por Cabral (2014). No
ano de 2012 a Receita orçamentária em recursos federais que foram usadas para tratamentos
de internação da Secretaria de Saúde foi três vezes menor do que o efetivo gasto. Apesar do
repasse de recursos federais, ter sido o maior no ano de 2012, ainda assim, ficou aquém da
necessidade em quase três vezes, ou seja, o valor repassado daria para cobrir 1/3 das despesas
ocorridas com internações.
77
responsabilidade e o financiamento das mesmas. (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS
MUNICÍPIOS, 2012).
Em relação à natureza dos autores da ação, os familiares foram os mais presentes e poucas
ações foram movimentadas pelo Ministério Público.
A gratuidade da justiça só não foi concedida em três processos, sendo então os advogados da
Assistência Judiciária Gratuita (Convênio da OAB/SP com a DPE), dado bastante parecido
com os encontrados Cabral (2014) onde identificou-se nos Estado do Rio de Janeiro a
participação da defensoria Pública na condução das ações (70,4%), Messeder (2005) e
Travassos, et al., (2013), destacando-se que em Pinhal não há Defensoria Pública, porém
existe o convênio com a Defensoria do Estado de São Paulo, para realização do atendimento
para esse fim.
Não resta dúvida de que vem ocorrendo o chamado fenômeno da judicialização da saúde. O
desespero das famílias bate às portas do judiciário em busca de um tratamento não encontrado
a contento no serviço público municipal de saúde, principalmente para os jovens, e mais
ainda, para os que se encontram viciados em drogas. Não há transferência de recursos
estaduais e os recursos federais transferidos não são para o exclusivo fim de tratamento dos
viciados em drogas. Os recursos federais transferidos para média e alta complexidade estão
sendo utilizados para pagamento das internações compulsórias. Se por um lado, parece
injustificável legitimar as medidas de internação compulsória que prive essas pessoas da
condição de sujeito de direitos e de sua autonomia e ainda geram gastos para a
Municipalidade, por outro, a Justiça não deixará de apreciar lesão ou ameaça a direito. Por
isso ao ser acionada se fundamenta nos saberes médicos e jurídicos e determina as internações
de modo a garantir um tratamento que deveria ser excepcional. As políticas públicas voltadas
para os usuários de álcool e outras drogas tem um histórico tardio e feito de modo pontual,
sem programação, chegando nesse extremo de precisar do Judiciário. Segundo Barboza
78
(2014) a real necessidade dos usuários de crack e outras drogas não é o acesso aos
dispositivos de internação, mas o acesso à políticas, programas e projetos sociais que resultem
em saúde e melhor qualidade de vida. A situação de risco social a que estão expostas essas
pessoas, bem como a inexistência do acesso a serviços extra-hospitalares e ambulatoriais que
ofereçam serviços de redução de danos e projetos terapêuticos que considerem as
singularidades de suas histórias de vida e necessidades sociais, geram impactos no orçamento
municipal.
Sob o espírito da Declaração Universal dos Direitos Humanos - mais especificamente dos
Artigos 1° (“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.
Dotados de razão e consciência devem agir uns para com os outros em espírito de
fraternidade”), 3° (“Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”) e
para cumprimento do que estabelece a Lei Orgânica Municipal em seu artigo 180 merecerão
atenção especial, por parte do poder público (...) os adolescentes dependentes do uso de
drogas;
Sugere-se:
79
construção de proposições que objetivem a inclusão de pessoas com transtornos mentais
devido ao uso de álcool e drogas em projetos de resgate da autonomia e empoderamento do
indivíduo, assim como a criação e/ou fortalecimento de projetos existentes e inclusivos;
A inclusão, em curto prazo, do debate com a sociedade Pinhalense sobre a situação dos
adultos e principalmente dos jovens internados nas clínicas e dos adultos nos hospitais
psiquiátricos do Município, visando à pactuação de ações e metas para a implementação e
o desenvolvimento de projetos de acompanhamento da desinternação das pessoas nos
hospitais psiquiátricos e nas clínicas, considerando as necessidades de investimentos e de
articulação junto das Empresas, da sociedade civil e das escolas.
Estabelecer um processo, de baixo para cima, com envolvimento das escolas e entidades
Civis, para compartilhar lições aprendidas na prática.
Manter um foco bem definido nas competências dos serviços de saúde (UBS, CAPS I e
CAPS AD) já existentes dentro da administração e implantar mudanças onde há falhas.
80
7 CONCLUSÃO
O uso de drogas como álcool, cocaína, maconha e crack tem sido fenômeno muito presente no
mundo globalizado em que vivemos, alcançando níveis alarmantes em algumas regiões do
planeta. Muitas vezes é caracterizado como desdobramento das relações familiares, culturais e
estruturais relacionadas à pobreza, falta de trabalho, de oportunidades, de estudo, sendo,
portanto, resultado de fenômeno que se configura na questão social e reflete diretamente na
qualidade de vida dos envolvidos.
Essa é a situação que vem ocorrendo na cidade de Pinhal, na iminência de ocorrerem outros
problemas ainda mais sérios para esses dependentes químicos, a família vai em busca do
Poder Judiciário, numa espécie de “socorro jurídico” para conseguir um tratamento.
O Judiciário, por sua vez, chamado a se manifestar, determina mediante ações conhecidas
como obrigação de fazer ou Ação civil Pública, que o Município, interne em local adequado
essas pessoas. Os jovens são internados por seis meses em clínica particular, e os adultos, por
um período bem mais curto, 45 dias.
81
A internação dos adolescentes tem que ser cumprida no prazo estabelecido pelo juízo,
geralmente bastante curtos.
O não cumprimento gera multas ao Município que é o réu em praticamente todas as ações, o
que o impele a cumprir a ordem judicial, pois caso não o faça, a conta pode sair ainda mais
cara.
Na prática o Município respondeu por 116 ações durante o período de estudo. Em 99 delas, a
coleta de dados foi integral, as demais eram segredo de justiça ou não atendiam ao objetivo da
pesquisa.
Entretanto, apesar dos adolescentes serem encarados como grupo de risco, no que diz respeito
ao uso de substâncias psicoativas, os fatores que podem levá-los a utilizar drogas são
variados.
De 2009 até 2014 essas ações foram crescendo gradativamente. Constatou-se uma
contradição: Os relatórios médicos encontrados nas ações, ou seja, origem da prescrição
médica é do próprio serviço público municipal. Assim, percebe-se que o paciente obteve um
serviço público anterior à internação, o que revela indícios de atendimento inadequado,
insuficiente ou inconstante, o que culminou na internação compulsória, que deveria ser
considerada excepcional. Assim para cumprir a determinação judicial, o Município utiliza os
valores da média e alta complexidade, recebido do Fundo Nacional de saúde e paga as
internações compulsórias.
82
As famílias, principalmente mães, esposas ou companheiras, dessas pessoas estiveram
diretamente envolvidas com esses pedidos na justiça, como uma última tentativa de tratar o
familiar dependente.
Os gastos efetivos com internações compulsórias com exceção do primeiro ano de estudo:
2009, foram crescendo significativamente ao ponto do Município ter que arcar em até três
vezes o valor recebido em recursos Federais.
A receita orçamentária Federal que foi usada para também custear as internações desse
período somaram a quantia de R$ 201.117,00 (duzentos e um mil, cento e dezessete reais).
Os internados adultos foram atendidos através de leitos disponibilizados pelos SUS, o que não
impactou diretamente nos custos efetivos com internação. Para a internação deles foram
disponibilizadas vagas pelo SUS, agendadas via central de regulação (Departamento Regional
de Saúde) DRS-14, internando-os no Sanatório “Dr. Bezerra de Menezes”, que é uma
Instituição local.
Tais recursos não possuem uma programação previamente definida por serem provenientes de
decisões judiciais, que podem ou não acontecer.
O Estado de São Paulo não contribuiu no custeio das internações dos adolescentes, que foram
realizadas na integralidade por uma clínica particular localizada fora da Comarca de Espírito
Santo do Pinhal - SP, custeadas com recursos Federais e Municipais.
A qualidade de vida inclui desde fatores relacionados à saúde como bem estar físico,
funcional, emocional e mental, até elementos importantes na vida das pessoas como trabalho,
83
família, amigos e outras circunstâncias do cotidiano (OMS, 1998) reflete a percepção de que
suas necessidades estão sendo satisfeitas ou, ainda, que lhe estão sendo negadas
oportunidades de alcançar a felicidade e a auto realização, com independência de seu estado
de saúde físico ou das condições sociais e econômicas.
Todavia, no caso em tela, vê-se que o Município não tem conseguido cumprir com seu dever
de bem prestar um razoável serviço de saúde pública, fruto da ausência de auxílio Estadual,
com grande carga financeira somente para a administração municipal. Assim as pessoas que
deveriam ser beneficiadas com políticas públicas, baseadas na excepcionalidade da internação
e prevalência de assistência extra-hospitalar, priorizando o atendimento em Centros de
Atenção Psicossocial - CAPS, por meio de um projeto terapêutico voltado para reinserção
social, acabem precisando do Poder Judiciário para restituir a sua cidadania.
Por fim, conclui-se que da maneira como vem sendo tratada a questão da internação
compulsória, sem fortalecimento de uma política preventiva a começar nas Unidades básicas
de saúde e fortalecimento dos CAPS acolhendo esse paciente e direcionando-o para um
tratamento contínuo, seguimos um caminho totalmente insustentável, utilizando recursos que
poderiam estar sendo usados para outros agravos, ou até mesmo, para prevenção deste
problema que afeta não só a estrutura financeira da Secretaria Municipal, mas principalmente
o equilíbrio social, com reflexos econômicos na administração municipal e na qualidade de
vida dos envolvidos.
Implantar as mudanças necessárias para sair desse cenário não é uma tarefa fácil,
mas as consequências de não implantar estas mudanças são ainda mais difíceis de
superar!
84
REFERÊNCIAS
AYRES, J.R.C.M. Uma concepção hermenêutica de saúde. Physis, Rio de Janeiro, vol. 17,
nº. 1, p. 43-62, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/physis>. Acesso em 16 abr. 2014.
BARROS, D.M. de; SERAFIM, A.P. Parâmetros legais para internação involuntária no
Brasil. 2009. Disponível em: <http://www.hcnet.usp.br/ipq/revista/vol36/n4/175.htm>.
Acesso em 15 nov. 2014.
BOLETIM DO INSTITUTO DE SAÚDE. vol. 12, nº. 3. Dez. 2010. ISSN 1512 /-7529.
BRASIL. Lei nº. 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das
pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde
85
mental. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm>.
Acesso em 04 jul. 2014.
BRASIL. Lei nº. 11.343/2006. Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas
- Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de
usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não
autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências. Disponível
em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em 06 jul. 2014.
BRASIL. Lei nº. 8.080/1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e
recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá
outras providências. Disponível em: <www.planalto.gov.br/http://jus.com.br/revista/texto/
19240/a-judicializacao-da-saude-atuacao-do-poder-judiciario-para-efetivacao-de-garantia-
constitucional#ixzz2WNzcNqXH>. Acesso em 03 de set. 2014.
BRASIL. Projeto de Lei nº. 3.657, de 12 de setembro de 1989. Dispõe sobre a extinção
progressiva dos manicômios e sua substituição por outros recursos assistenciais e regulamenta
a internação psiquiátrica compulsória. Brasília, DF: Câmara.
BREMAECKER, F.E.J. de. As Despesas Municipais com a Função Saúde em 2010. Estudo
Técnico nº 179. Disponível em <http://www.oim.tmunicipal.org.br/abre_documento.
cfm?arquivo=_repositorio/_oim/_documentos/B78FB434-AB81-2710-8ADB753713836966
15082012052345.pdf&i=2023>. Acesso em 26 set. 2015.
CAMPOS, F.H.P. In: Resposta Social das Políticas Públicas de Saúde na Perspectiva dos
Idosos. Estudo UFRJ. Tese. Rio de Janeiro: UFRJ/EEAN, 2009.
86
CARDOSO, M.C. Artigo. “Droga” Um problema de saúde pública. vol. III nº. 4. Jul./Ago.
2001.
CARVALHO, G.S. In: Revista Imesc, nº. 3, 2001. pp. 87-93. Drogas no contexto do Direito
Penal Brasileiro.
CINTRA, A.C.; GRINOVER, A.P.; DINAMARCO, C.R. Teoria Geral do Processo. 23ª ed.
Malheiros Editores.
DINIZ, D.; MEDEIROS M.; SCHWARTZ, D.; IDA V. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro,
28(3):479-489. Mar. 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_pdf&
pid=S0102-311X2012000300008 &lng=pt&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 14 jan. 2014.
87
FEDOTOV, Y. In: Lançamento do relatório Mundial sobre drogas 2014 em Viena em 26
Jun. 2014.
GONÇALVES, M.V.R. Novo Curso de Direito Processual Civil. 2ª ed., v. III, São Paulo:
Saraiva, 2009.
GUIMARÃES J.L.; GODINHO, P.H.; CRUZ, R.; KAPPANN, J.; TOSTA JÚNIOR, L.A.
Consumo de drogas psicoativas por adolescentes escolares de Assis. SP. Rev. Saúde
Pública. 2004; 38(1):130-2.
MACIEL, A.L. Aspectos Gerais sobre Internação Compulsória em saúde mental nos
últimos 10 anos: Revisão Bibliográfica. Monografia-Unesc.
MARQUES, S.B. Judicialização do Direito à Saúde. Rev. Dir. Sanitário. vol. 9, nº. 2, p. 65-
72. São Paulo Jul./Out. 2008, p. 65.
MENEGUZZO, M.; FIORANI, G.; KEINERT, T.M.M. Direito à saúde, auditorias cívicas e
sustentabilidade no Sistema Nacional de Saúde na Itália. Boletim do Instituto de saúde.
2010.
88
MESSEDER, A.M.; CASTRO, C.G.S.O. de; LUIZA, V.L. Mandados judiciais como
ferramenta para garantia do acesso a medicamentos no setor público: a experiência do
Estado do Rio de Janeiro. Brasil. Disponível em: <http://www.scielosp.org/pdf/csp/v21n2/
19.pdf>. Acesso em 19 abr. 2014.
MORAES, L.M.P.; LEITÃO, G.C.M.; BRAGA, V.A.B. Uso de drogas por adolescentes:
construção de conceitos. In: SOUZA, A.M.A.; BRAGA, V.A.B.; FRAGA, M.N.O. Saúde,
saúde mental e suas interfaces. Fortaleza-CE: Pós-Graduação DENF/UFC/FFOE, FCPC;
2002. p. 93-100.
NETO, O.H.C.; LOPES COELHO, T.; FERRÉ, F.; ACURCIO, F.A.; CHERCHIGLIA, M.L.;
GURGEL ANDRADE, E.I. Variáveis jurídicas e de saúde no deferimento de liminares
por medicamentos em Minas Gerais. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=
S0034-89102014000500808&script=sci_arttext&tlng=pt>. Acesso em 04 set. 2015.
OLIVEIRA, L.G.; NAPPO, S.A. Caracterização da cultura de crack na cidade de São Paulo:
Padrão de uso controlado. Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/rsp/v42n4/6645.pdf>.
Acesso em 27 set. 2015.
PELUSO, A.C. Conselho Nacional de Justiça. In: Cartilha Sobre o Crack. Disponível em:
<http://www.tjdft.jus.br/publicacoes/manuais-e-cartilhas/cartilha_crack.pdf>. Acesso em 24
out. 2014.
89
REIS, C. dos. (Falência familiar) + (Uso de drogas) = risco e periculosidade: a
naturalização jurídica e psicológica de jovens com medida de internação compulsória.
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós Graduação em Psicologia Social e
Institucional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/10183/60735>. Acesso em 24 de ago. 2014.
SARLET, I.W. A eficácia dos Direitos Fundamentais. 11ª ed. Livraria do Advogado, 2012.
SCLIAR, M. História do conceito de saúde. Physis, Rio de Janeiro, vol. 17, nº. 1, 2007.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo>. Acesso em 21 de abr. 2014.
SILVA, J.A. da. Comentário Contextual à Constituição. São Paulo:Malheiros, 2007. p. 767
TAVARES B.F.; BÉRIA, J.U.; LIMA, M.S. Fatores associados ao uso de drogas entre
adolescentes escolares. Rev. Saúde Pública 2004 dez.; 38(6):787-96.
90
TEIXEIRA, T.C.; PACHECO, P.V. A judicialização do direito à saúde e o princípio da
reversa do possível: necessidade de uma interpretação sistemática da Constituição. In:
Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, nº. 85, fev. 2011. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8957&revista_cader
no=9>. Acesso em 06 de mar. 2014.
VENTURA, M.; SIMAS, L.; PEPE, V.; SCHRAMM, F. In: Physis. vol. 20, nº. 1, Rio de
Janeiro. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=
S0103-73312010000100006>. Acesso em 16 de jun. 2014.
WAMBIER, L.R.; TALAMINI, E.; ALMEIDA, F.R.C. Teoria geral do Processo. Curso
avançado de Processo Civil. 4ª ed. Revista dos Tribunais.
91
APÊNDICE A – Listagem dos Processos analisados conforme número no Tribunal de
Justiça de São Paulo
0000770-50.2014.8.26.0180 3001023-21.2013.8.26.0180
0002175-24.2014.8.26.0180 3002204-57.2013.8.26.0180
0002536-41.2014.8.26.0180 3002205-42.2013.8.26.0180
0004674-78.2014.8.26.0180 3002621-10.2013.8.26.0180
0006005-95.2014.8.26.0180 3002081-59.2013.8.26.0180
3000494-02.2013.8.26.0180 3002677-43.2013.8.26.0180
0000934-15.2014.8.26.0180 3004321-21.2013.8.26.0180
0001359-42.2014.8.26.0180 3006515-91.2013.8.26.0180
0002536-41.2014.8.26.0180 3005298-13.2013.8.26.0180
0002533-86.2014.8.26.0180 3003037-75.2013.8.26.0180
0002726-04.2014.8.26.0180 0002163-44.2013.8.26.0180
0004989-09.2014.8.26.0180 0001418-64.2013.8.26.0180
0005209-07.2014.8.26.0180 0002158-22.2013.8.26.0180
0005126-88.2014.8.26.0180 0001473-15.2013.8.26.0180
0005771-16.2014.8.26.0180 0001347-62.2013.8.26.0180
0006072-60.2014.8.26.0180 0001043-63.2013.8.26.0180
0005978-15.2014.8.26.0180 3000361-57.2013.8.26.0180
0006026-71.2014.8.26.0180 0001570-15.2013.8.26.0180
0004881-77.2014.8.26.0180 3004025-96.2013.8.26.0180
0003634-61.2014.8.26.0180 3002719-92.2013.8.26.0180
0004293-70.2014.8.26.0180 3006469-05.2013.8.26.0180
0004164-65.2014.8.26.0180 3006708-09.2013.8.26.0180
0003765-36.2014.8.26.0180 3001409-51.2013.8.26.0180
0002537-26.2014.8.26.0180 3004551-63.2013.8.26.0180
0003796-56.2014.8.26.0180 0001156-51.2012.8.26.0180
0002535-56.2014.8.26.0180 0003468-97.2012.8.26.0180
0004153-36.2014.8.26.0180 0002320-51.2012.8.26.0180
0003880-57.2014.8.26.0180 0003304-35.2012.8.26.0180
0000391-12.2014.8.26.0180 0002807-21.2012.8.26.0180
0000188-50.2014.8.26.0180 0004512-54.2012.8.26.0180
0000852-81.2014.8.26.0180 0005311-97.2012.8.26.0180
0001012-09.2014.8.26.0180 0001906-53.2012.8.26.0180
0002283-53.2014.8.26.0180 0003822-25.2012.8.26.0180
0002184-83.2014.8.26.0180 0004759-35.2012.8.26.0180
0002158-85.2014.8.26.0180 0002367-25.2012.8.26.0180
0002401-29.2014.8.26.0180 0005824-65.2012.8.26.0180
0003274-29.2014.8.26.0180 0006172-83.2012.8.26.0180
0003745-45.2014.8.26.0180 0006911-56.2012.8.26.0180
0001605-38.2014.8.26.0180 0001452-73.2012.8.26.0180
0004564-79.2014.8.26.0180 0000784-05.2012.8.26.0180
0005439-49.2014.8.26.0180 0004447-59.2012.8.26.0180
0005596-22.2014.8.26.0180 0003901-04.2012.8.26.0180
0005679-38.2014.8.26.0180 0004821-75.2012.8.26.0180
0006067-38.2014.8.26.0180 0004590-48.2012.8.26.0180
3000345-06.2013.8.26.0180 0003555-53.2012.8.26.0180
0001949-53.2013.8.26.0180 0003745-50.2011.8.26.0180
3000116-46.2013.8.26.0180 0004124-88.2011.8.26.0180
3001103-82.2013.8.26.0180 0005456-27.2010.8.26.0180
3000681-10.2013.8.26.0180 0006046-04.2010.8.26.0180
3000756-49.2013.8.26.0180
92
APÊNDICE B – Instrumento de coleta de dados preenchido a cada processo analisado
Executiva ( ):
obrigação de fazer ( )
ação civil pública ( )
93
08. Natureza do autor da ação Particular ( ) Associação ( ) Ministério Público ( )
II – ELEMENTOS MÉDICO-CIENTÍFICOS
94
Internação realizada em clínica particular ( )
Não realizada a internação ( )
95
APÊNDICE C – Instrumento de coleta de dados preenchido a partir do orçamento
ELEMENTOS FINANCEIROS
03. Receita orçamentária para tratamentos com internação da Secretaria de Saúde no ano de
2009
Previsão ____________________
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________
04. Receita orçamentária para tratamentos com internação da Secretaria de Saúde no ano de
2010
Previsão ____________________
96
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________
05. Receita orçamentária para tratamentos com internação da Secretaria de Saúde no ano de
ano de 2011
Previsão ____________________
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________
06. Receita orçamentária para tratamentos com internação da Secretaria de Saúde no ano de
2012
Previsão ____________________
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________
07. Receita orçamentária para tratamentos com internação da Secretaria de Saúde no ano de
2013
Previsão ____________________
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________
08. Receita orçamentária para tratamentos com internação da Secretaria de Saúde no ano de
2014
Previsão ____________________
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________
97
2010 __________________
2011 __________________
2012 __________________
2013 __________________
2014 __________________
10. Origem dos recursos para cobrir as despesas efetivas com internações compulsórias ano
de 2009
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________
11. Origem dos recursos para cobrir as despesas efetivas com internações compulsórias ano
de 2010
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________
12. Origem dos recursos para cobrir as despesas efetivas com internações compulsórias ano
de 2011
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________
13. Origem dos recursos para cobrir as despesas efetivas com internações compulsórias ano
de 2012
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________
14. Origem dos recursos para cobrir as despesas efetivas com internações compulsórias ano
de 2013
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
98
Recursos municipais _____________________
15. Origem dos recursos para cobrir as despesas efetivas com internações compulsórias ano
de 2014
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________
99
ANEXO A – Autorização para realização da pesquisa
100
101