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CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES ASSOCIADAS DE ENSINO - FAE

JOSIARA RABELLO BARTOLOMEI

JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE E AS
INTERNAÇÕES COMPULSÓRIAS DOS JOVENS
VICIADOS EM DROGAS

SÃO JOÃO DA BOA VISTA – SP


2015
JOSIARA RABELLO BARTOLOMEI

JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE E AS INTERNAÇÕES COMPULSÓRIAS DOS


JOVENS VICIADOS EM DROGAS

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Centro


Universitário das Faculdades Associadas de Ensino - FAE,
como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre
em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de vida.

Área de Concentração: Políticas Públicas.

Orientadora: Profª. Drª. Laura Ferreira de Rezende Franco.

SÃO JOÃO DA BOA VISTA - SP


2015
JOSIARA RABELLO BARTOLOMEI

Judicialização da saúde e as internações compulsórias dos jovens viciados em drogas.

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Centro Universitário das Faculdades


Associadas de Ensino - UNIFAE, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre
em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de vida.

Área de Concentração: Políticas Públicas.

Dissertação defendida e aprovada em: _____ / ________________ / 2015, pela Banca


examinadora constituída pelos professores:

___________________________________________
Profª. Drª. Laura Ferreira de Rezende Franco
UNIFAE - São João da Boa Vista - SP

___________________________________________
Prof. Dr. Aldo José Fossa Sousa Lima
PUC - São Paulo

___________________________________________
Prof. Dr. Paulo Roberto Alves Pereira
UNIFAE - São João da Boa Vista – SP
AGRADECIMENTOS

À DEUS primeiramente, causa primeira de todas as coisas, concessor paterno da oportunidade


de viver e aprender.

Ao meu Anjo de Guarda, pelo socorro prestado com certeza, através de minhas preces e
reclamações em pensamentos.

Aos meus familiares, pelo encorajamento e incentivo.

Ao meu querido marido Jairo, que sempre foi o primeiro incentivador, compreensivo,
paciente e muito otimista.

Aos meus lindos filhos, pelo carinho e compreensão que demonstraram nesta trajetória.

Aos meus atenciosos professores pelos inesquecíveis ensinamentos.

À minha querida orientadora pela firmeza, sinceridade e principalmente condução de todo o


trabalho.

Ao meu pai in memorian pelo exemplo da simplicidade.

À minha querida mãe pela coragem demonstrada em todos os dias de nossas vidas.

A todos que indiretamente contribuíram nesta tarefa: Daiane, Rafael, Charles, Cláudio e o
pessoal da Secretaria de Saúde especialmente a Maria Aparecida Brigagão e outros.

À minha fiel cachorrinha Leca, que mesmo idosa, permaneceu incansavelmente ao meu lado,
digo, embaixo da minha cadeira, por longas horas de pesquisa e estudo.

À minha querida amiga Ana Paula Aleixo Bergamo, pelo apoio, carinho e pelas gostosas
risadas por todo o Curso de Mestrado.
AUTOBIOGRAFIA DA AUTORA

Josiara Rabello Bartolomei, brasileira, casada, Procuradora Municipal concursada da


Prefeitura do Município de Espírito Santo do Pinhal - SP, natural de Andradas - Minas Gerais,
residente e domiciliada em Espírito Santo do Pinhal - SP desde a infância. Graduada em
Direito pela Fundação Pinhalense de Ensino (1993), atualmente UNIPINHAL, especializada
em Direito Processual Civil pela mesma Instituição e Direito Administrativo pela ESA,
Professora e Coordenadora do Núcleo de Práticas Jurídicas do curso de Direito do Centro
Universitário Pinhalense - Unipinhal, Presidente da Comissão Permanente Disciplinar da
Prefeitura Municipal de Espírito Santo do Pinhal - SP, foi membro Presidente da Comissão da
Mulher Advogada e membro da Comissão da OAB/SP. Contatos pelo e-mail
josiarajuridico@bol.com.br.
RESUMO

A Constituição Federal de 1988 incluiu a saúde como um direito social. Assegurar os direitos
das pessoas principalmente crianças e adolescentes é dever da família, da sociedade e do
Estado. Trata-se de uma proteção integral. O Poder Executivo, apesar da política de
atendimento instalada pelo SUS (Sistema Único de Saúde), surpreende-se diariamente com as
ordens emanadas do poder judiciário garantindo aos pacientes dependentes de álcool e drogas
a prestação do serviço, determinando internações compulsórias como forma de tratamento.
Inegável, pois, uma reflexão sobre o caráter absolutamente relevante da complexa situação de
drama social com repercussões na Justiça e na Administração Pública, e que abrange interesse
do próprio Poder Judiciário em ter meios de fazer cumprir comandos legais. Desse modo,
mostra-se indispensável à intervenção do Poder Judiciário a fim de determinar que o ente
público - Município de Espírito Santo do Pinhal - Estado de São Paulo - adote as providências
que se fizerem necessárias para disponibilização de serviço público de tratamento adequado e
recuperação de viciados em drogas aos usuários do SUS. O presente trabalho revelou que em
99 processos as famílias buscam na justiça a internação compulsória de seus familiares. As
internações para adolescentes via ação judicial são feitas em clínicas particulares pagas pelo
município, enquanto os adultos são internados pelo SUS. Não há transferências de recursos
Estaduais e os recursos Federais não cobrem os gastos. Não há políticas públicas para esse
fim e há necessidade de fortalecimento dos CAPSs, para promoção da sustentabilidade e
equilíbrio social.

Palavras chave: Internações compulsórias. Judicialização da saúde. Políticas Públicas.


Sustentabilidade.
ABSTRACT

The 1988 Federal Constitution has included the health as a social right. To assure the rights of
the people, specially children and teenagers, it is duty of the family, of society and of the
state. It is a complete protection. The executive power, despite the service installed by the
SUS (Unique System of Health), gets surprised daily by the orders emanated by the judicial
power guaranteeing to the patients addicted to alcohol and drugs the assistance of the service,
determining compulsory internalization as a form of treatment. Incontestable because a
reflection about the absolute relevant character of the complex situation of the social drama
with repercussions in the justice and in the public administration that comprehend the interest
of the judicial power in having ways to execute the legal commands. Therefore, it is shown
indispensable the intervention of the judicial power to determine that the public organ -
county of Espírito Santo do Pinhal, São Paulo State - adopt the necessary measures in order to
provide adequate public interventional service and the recuperation of drug-addicts to the
users of SUS. Present studies revealed that, in 99 judicial process, families used judicial
power to intern compulsorily their relatives. Adolescent internments, by the judicial power,
are in private clinics paid by the county whereas for adults are in state’s clinics. There is no
transfer of state´s resource, so as federal´s do not cover the expenditures. Having no public
policies it is necessary the CAPS´s reinforcement, aiming the promotion of sustainability and
social equilibrium.

Key words: Compulsory internalization. Judicialisation of health. Public policies.


Sustainability.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 14
1.1 Apresentação do tema ................................................................................................. 14
1.2 Justificativa e relevância do trabalho .......................................................................... 19
1.3 Pergunta - problema ................................................................................................... 20
1.4 Objetivos ..................................................................................................................... 20
1.4.1 Objetivo geral ................................................................................................... 20
1.4.2 Objetivos específicos ........................................................................................ 20

2 REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................... 22


2.1 Saúde e adolescência: Proteção constitucional .......................................................... 22
2.2 Adolescência e vulnerabilidade .................................................................................. 23
2.3 A internação compulsória ........................................................................................... 27
2.4 Saúde como direito fundamental ................................................................................ 33
2.5 Financiamento das ações e serviços de saúde ............................................................ 43
2.5.1 Finalidade ......................................................................................................... 43
2.5.2 Responsabilidades ............................................................................................. 44
2.5.3 Teto financeiro da assistência do Município (TFAM) ...................................... 45
2.5.4 Bases para um novo modelo de atenção em saúde ........................................... 45

3 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO ...................................................................... 47


3.1 Método ........................................................................................................................ 47
3.1.1 Desenho de estudo ............................................................................................. 47
3.1.2 Tamanho da amostra ........................................................................................ 47
3.1.3 Critério de inclusão ........................................................................................... 47
3.1.4 Critério de exclusão .......................................................................................... 48
3.1.5 Variáveis ........................................................................................................... 48
3.1.5.1 Variáveis independentes ....................................................................... 48
3.1.5.2 Variável dependente ............................................................................. 51
3.2 Material ....................................................................................................................... 52
3.3 Técnica ....................................................................................................................... 53
3.3.1 Coleta de dados ................................................................................................ 53
4 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS ........................................................................................ 55

5 RESULTADOS ............................................................................................................... 56
5.1 Elementos principais dos processos ........................................................................... 56
5.1.1 Distribuição das ações judiciais analisadas ...................................................... 56
5.1.2 Identificação da natureza da ação ..................................................................... 57
5.1.3 Demandas judiciais e antecipação de tutela ..................................................... 58
5.1.4 Posição das partes ............................................................................................. 58
5.1.5 Tempo para cumprimento da internação .......................................................... 59
5.1.6 Ano da sentença e resultado das sentenças ...................................................... 60
5.1.7 Réus no processo ............................................................................................... 60
5.1.8 Gratuidade da justiça ........................................................................................ 60
5.1.9 Representação judicial do autor da ação .......................................................... 61
5.2 Elementos médicos científicos .................................................................................. 61
5.2.1 Elementos médicos científicos - Atendimentos no CAPS - Centro de
Atendimento Psicossocial - Atendimentos após a desinternação ............................... 62
5.2.2 Das internações compulsórias dos adolescentes .............................................. 63
5.3 Elementos financeiros do Município de Espírito Santo do Pinhal - SP ..................... 64
5.3.1 Orçamento do Município - (Receita orçamentária arrecadada) ....................... 65
5.3.2 Orçamento da Secretaria de Saúde - (Somente fontes estaduais e federais) .... 65
5.3.3 Gastos efetivos com as internações compulsórias ............................................ 65

6 DISCUSSÃO .................................................................................................................... 68

7 CONCLUSÃO ................................................................................................................. 81

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 85

APÊNDICE A - Listagem dos Processos analisados conforme número no Tribunal de


Justiça de São Paulo ............................................................................................................ 92

APÊNDICE B - Instrumento de coleta de dados preenchido a cada processo


analisado ................................................................................................................................ 93
APÊNDICE C - Instrumento de coleta de dados preenchido a partir do
orçamento.............................................................................................................................. 96

ANEXO A - Autorização para realização da pesquisa..................................................... 100


LISTA DE TABELAS

TABELA 1: Distribuição no espaço e no tempo das ações judiciais (n=99) relativas a


internação compulsória determinadas pela Justiça local em face do Município de Espírito
Santo do Pinhal - SP e Secretaria de Saúde ............................................................................ 57

TABELA 2: Demandas judiciais e concessão de tutela antecipada nas ações (n=99)


proferidas pela justiça local de Espírito Santo do Pinhal - SP relativas ao ano de 2009 a
2015 ........................................................................................................................................ 57

TABELA 3: Demandas judiciais que tiveram antecipação de tutela relativas à internação


compulsória (n=99), relativos aos processos dos anos de 2009 a 2015 ................................ 58

TABELA 4: Gênero da parte interessada na internação (n=99) relativas à internação


compulsória entre os anos de 2009 a 2015 ............................................................................. 59

TABELA 5: Situação de saúde - Tipo de dependência citadas nas ações (n=99) relativos à
internação compulsória 2009-2015 ....................................................................................... 61

TABELA 6: Número de atendimento de adultos no CAPS .................................................. 63

TABELA 7: Atendimentos no CAPS para adolescentes pacientes de Internação compulsória


(n=50) .................................................................................................................................... 64
LISTA DE SIGLAS

AIDS Acquired Immune Deficiency Syndrome, que em português quer dizer Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida
CAPSs Centros de Atenção Psicossocial
CE Ceará
CF Constituição Federal
CFM Conselho Federal de Medicina
CNS Conselho Nacional de Saúde
CNJ Conselho Nacional de Justiça
CPC Código de Processo Civil
CR/88 Constituição da República de 1988
CRM Conselho Regional de Medicina
DSTs Doenças Sexualmente Transmissíveis
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
EEAN Escola de Enfermagem Anna Nery
FAE Faculdades Associadas de Ensino
FNS Fundo Nacional de Saúde
GSI Gabinete de Segurança Institucional
CONAD Conselho Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
HIV Imunodeficiência Humana
ISSN International standard serial number
MG Minas Gerais
NOB Norma Operacional Básica
OAB Ordem dos Advogados do Brasil
OMS Organização Mundial de Saúde
ONU Organização das Nações Unidas
OPAS Organização Pan Americana de Saúde
PGE Procuradoria Geral do Estado
PPI Promoção Pactuada e integrada
RS Rio Grande do Sul
SMS Sistema Municipal de Saúde
STF Supremo Tribunal Federal
STJ Superior Tribunal de Justiça
SUS Sistema único de Saúde
TFAM Teto Financeiro da Assistência do Município
TM Transtornos Mentais
Unesc Universidade do Extremo Sul Catarinense
UNIJUS Revista Jurídica da Universidade de Uberaba
UNODC United Nations Office on Drugs and Crime (Escritório das Nações Unidas sobre
Drogas e Crimes)
UTI Unidade de Terapia Intensiva
1 INTRODUÇÃO

1.1 Apresentação do tema

No atual estágio dos conhecimentos científicos sobre o direito, é predominante o


entendimento de que não há sociedade sem direito, exercendo função ordenadora,
coordenando interesses que se manifestam na vida social, de modo a organizar a cooperação
entre pessoas e conflitos, a fim de harmonizar as relações sociais e ensejar a máxima
realização dos valores humanos com mínimo de sacrifícios e desgaste (CINTRA et al., 2007).

No âmbito internacional, a partir da II Guerra Mundial, o termo judicialização foi cada vez
mais associado à ampliação dos direitos humanos fundamentais, resultando em uma notável
expansão da via judicial como mecanismo de controle dos demais poderes. Nos marcos do
constitucionalismo contemporâneo, o Poder Judiciário ganha legitimidade formal pela
Constituição e material ao proteger os direitos fundamentais (CARVALHO, 2001 apud
GOMES et al., 2014). Nesse contexto, a judicialização passa a ser compreendida como a
decisão, pelo Poder Judiciário, de questões relevantes do ponto de vista político, social ou
moral (GOMES et al., 2014).

A interface entre a psiquiatria e o Direito, embora seja necessária, é complexa e difícil, já que
enquanto a linguagem médica descreve o estado do paciente em uma escala que vai de grave a
completamente saudável, a linguagem jurídica é binária: o doente é capaz ou incapaz,
necessita ser internado ou não, oferece ou não perigo (ZEMISCHLANY 2006; BARROS e
SERAFIM, 2009).

Já a atuação do Poder Judiciário e também a do Ministério Público, orientadas a partir de


1988 por novas regras constitucionais que modificaram e expandiram suas atribuições, trazem
à tona as contradições e dilemas na garantia do direito à saúde no Brasil, colocando em xeque
não apenas o Executivo, mas o contrabalanço exercido pelo Legislativo. Ao atuar como
árbitro e defensor dos direitos e exercer sua autonomia e insulamento, o próprio Judiciário
passa a ser questionado, pois encaminha decisões que às vezes colidem com a garantia do
direito à saúde (BATISTA et al., 2009).

14
Nas internações que ocorrem no Brasil, sob o regime da Lei nº. 10.216/2001, não há previsão
para a internação psiquiátrica que passe regularmente pelo Poder Judiciário, entretanto, é
direito constitucional de qualquer pessoa a possibilidade de, a qualquer momento, questionar
judicialmente a referida internação (MACIEL, 2013).

De acordo com a legislação vigente a favor dos direitos do portador de Transtornos Mentais a
internação deve ocorrer sempre mediante apresentação de laudo médico, caracterizando a
necessidade desta (BRASIL, 2001). De acordo com Scislecki e Maraschin (2007), os
adolescentes encaminhados à internação psiquiátrica por decisão judicial devem ser aqueles
com transtornos mentais e de comportamento devido ao uso de substância psicoativa.

Há, entretanto, a necessidade de analisar e supervisionar a internação compulsória para


jovens, respeitando seus direitos, conforme Scislecki e Maraschin (2008, p. 457 apud Maciel,
2013):

Atualmente presenciamos um processo de patologização e judicialização de


determinadas categorias sociais da juventude. Tal processo, acreditamos, é
sustentado pela articulação entre os saberes médicos e jurídicos, manifestada no
próprio encaminhamento à internação psiquiátrica por determinação judicial.
Ademais, parece-nos importante enfatizar a preponderância da ordem judicial como
um procedimento destinado preferencialmente à internação psiquiátrica de jovens
usuários de drogas; assim, o jovem usuário de drogas não deve apenas receber um
tratamento médico, mas também um tratamento jurídico.

Para Crow (2006) e Barros e Serafim (2009) a essência das justificativas de uma internação
involuntária está na perda da autonomia do indivíduo decorrente de sua doença mental, que o
impede de compreender e entender o caráter desadaptativo de seu estado.

No campo da saúde coletiva pode-se observar que várias estratégias de cuidado podem ser
também entendidas como estratégias de controle da população adolescente. Grande parte dos
programas de assistência sanitária toma as transformações que ocorrem nessa faixa etária
como riscos típicos entre elas o uso de drogas (MOREIRA, 2000 apud SCISLESKI e
MARASCHIN, 2007). Assim emerge uma categoria social que demanda cuidados e
investimentos institucionais específicos.

A maioria dos países desenvolveu legislações específicas para tratamentos involuntários,


porém nenhuma dessas orientações contempla em sua totalidade os procedimentos, critérios e

15
condições e patologias que sejam aceitas sem contestações (SEGAL, 2006; BARROS e
SERAFIM, 2009).

Nesta esteira, a Lei nº. 10.216/2001 se dispõe a proteger os direitos das pessoas portadoras de
transtornos mentais e redirecionar o modelo em saúde mental [...] Assim, muito embora
algumas medidas propostas como “redirecionamentos” para assistência sejam passíveis de
questionamentos [...] é uma lei que trouxe avanços na regulamentação dos atos médicos
envolvendo pacientes portadores de transtornos mentais (BARROS e SERAFIM, 2009).

Em seu artigo 9º, trata das internações compulsórias, aquelas ordenadas pelos juízes, “a
internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, pelo juiz
competente, que levará em conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à
salvaguarda do paciente, dos demais internados e funcionários” (BARROS e SERAFIM,
2009).

Tem-se, portanto, que o paciente psiquiátrico tem o direito constitucional de um devido


processo legal de internação involuntária (sem o consentimento), ou compulsória (quando
ordenado por juiz), que deverá obedecer a prévios padrões normativos, uma vez que se trata
de evidente restrição ao direito fundamental à liberdade e não apenas de "ato médico" (ROSA
e OLIVEIRA, 2008, p. 03 apud MACIEL, 2013).

A Política Nacional sobre Drogas estabelece, dentre outros, alguns pressupostos a seguir:

- Garantir o direito de receber tratamento adequado a toda pessoa com problemas


decorrentes do uso indevido de drogas.

- Priorizar a prevenção do uso indevido de drogas, por ser a intervenção mais eficaz
e de menor custo para a sociedade.

A Lei nº. 11.343, de 23 de agosto de 2006, mais conhecida como lei de drogas, em seu Título
III, Capítulo II, dispõe em seu artigo 20 “que constituem atividades de atenção ao usuário e
dependente de drogas e respectivos familiares, para efeito desta Lei, aquelas que visem a
melhoria da qualidade de vida e a redução dos riscos e dos danos associados ao uso de
drogas”.

16
O artigo 22 da mesma lei fala que as atividades de atenção e as de reinserção social do usuário
e do dependente de drogas e respectivos familiares devem observar alguns princípios, dentre
eles, em seu inciso III, “a definição de projeto terapêutico individualizado, orientado para a
inclusão social e para redução de riscos e danos sociais e à saúde” (Lei nº. 11.343 de 2006).

Diante deste cenário, o Judiciário ao determinar que alguém nas condições de usuário ou
dependente de drogas seja internado compulsoriamente, ou seja, contra vontade, estaria indo
ou não de encontro ao que determina a lei ou a Política Nacional sobre drogas no tocante ao
pressuposto de que a prevenção seria a intervenção mais eficaz e de menor custo para a
sociedade.

Em sua dissertação de mestrado Bentes (1999); Scisleski e Maraschin (2008) apresentaram


um levantamento mostrando como paulatinamente, as instituições jurídicas passam a atuar e a
interferir na área da saúde mental de crianças e adolescentes, de tal forma que, atualmente, se
constituem em uma via importante de acesso à internação psiquiátrica.

Quando o Judiciário Brasileiro implementa uma política pública não pode-se negar o seu
papel de garantidor de direitos sociais, pois sob o enfoque do surgimento da doutrina dos
Direitos Fundamentais as funções do Juiz foram ampliadas num papel mais contundente na
defesa desses direitos.

Essa concessão judicial de direitos às pessoas que se apresentam como não contempladas pela
atuação do Estado, desconsiderando a existência de políticas públicas pertinentes, gera
distorções que conflitam com o próprio objetivo de efetivação dos direitos sociais.

A tutela das demandas individuais que buscam a realização de direitos sociais traz
consequências de caráter econômico, tais como, o deslocamento de recursos do orçamento
público para o atendimento da necessidade do particular.

Então, levando-se em consideração que na prática a saúde pública não corresponde às


previsões legais e políticas por ora instituídas, e que a despeito de estar declarada
expressamente no texto constitucional esse dever do Estado, é o Judiciário que vem
determinando essa prestatividade, através de internações compulsórias aos pacientes

17
dependentes de álcool e drogas, há, portanto, de ser evidenciado se é esse o modelo eficaz a
ser perseguido.

Neste viés Barroso (2008) enfatiza que o sistema, no entanto, começa a apresentar sintomas
graves de que pode morrer da cura, vítima do excesso de ambição, da falta de critérios e de
voluntarismos diversos. Por um lado, proliferam decisões extravagantes ou emocionais, que
condenam a Administração ao custeio de tratamentos irrazoáveis - seja porque inacessíveis,
seja porque destituídos de essencialidade -, bem como de medicamentos experimentais ou de
eficácia duvidosa, associados a terapias alternativas. Por outro lado, não há um critério firme
para a aferição de qual entidade estatal - União, Estados e Municípios - deve ser
responsabilizada pela entrega de cada tipo de medicamento. Diante disso, os processos
terminam por acarretar superposição de esforços e de defesas, envolvendo diferentes
entidades federativas e mobilizando grande quantidade de agentes públicos, aí incluídos
procuradores e servidores administrativos. Desnecessário enfatizar que tudo isso representa
gastos, imprevisibilidade e desfuncionalidade da prestação jurisdicional.

Segundo Messeder, et al. (2005) esta adequação, do ponto de vista até então externado pelo
Judiciário, parece envolver apenas as garantias constitucionais do cidadão; no entanto,
aparentemente se ignora o ponto de vista clínico e as consequências sobre a saúde do
indivíduo. Em algumas situações, o cuidado à saúde definitivamente não estará sendo
resguardado.

O SUS (Sistema Único de Saúde) com a consolidação da Reforma Psiquiátrica no Brasil foi
palco de transformações significativas nas políticas de saúde e nas ações relacionadas à
saúde mental, com a ênfase da desospitalização da assistência, privilegiando a criação de
serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico que passaram a compor a Rede de Atenção à
Saúde Mental: Centros de Atenção Psicossocial (CAPSs), leitos psiquiátricos em hospitais
gerais, oficinas terapêuticas e centros de convivência, respeitando-se as particularidades e a
necessidade de cada local (HIRDES, 2009 apud SALVATORI, p. 38, 2013).

Entretanto, apesar da política de saúde através do SUS, possuir propósitos dignos como os
acima citados, as internações psiquiátricas determinadas pelo Judiciário têm crescido
constantemente nos Municípios, gerando despesas não previamente programadas,
tratamentos (como os de internação) e não de prevenção, sem comprovação dos reais

18
resultados. Se, ao poder Judiciário importa a apuração dessa situação, à saúde pública mais
ainda, pelo fato de ser incompatível com os pressupostos da reforma psiquiátrica e da própria
Política para Atenção Integral aos Usuários de Álcool e outras drogas (SALVATORI, p. 38,
2013). Tal fenômeno merece uma investigação científica que deslinde as representações dos
juízes acerca dos casos que chegam em suas mãos, haja vista que são eles que decidem sobre
a internação compulsória.

1.2 Justificativa e relevância do trabalho

Segundo Guimarães (2007) um fenômeno que permeia essas questões e que se tornou
preocupante, tanto para a comunidade científica como para a sociedade em geral,
principalmente a partir das últimas décadas do século XX, é o consumo de drogas entre os
adolescentes, que tem apresentado altas prevalências e início cada vez mais precoce.

O Poder judiciário com legitimação constitucional tem sido atuante na defesa dos direitos e
garantias fundamentais dessas pessoas.

A judicialização da saúde começou a ocorrer com a busca pelos medicamentos


antirretrovirais, para combate ao avanço do vírus da Imunodeficiência Humana (HIV). Ela se
popularizou por meio de liminares que obrigavam o Estado a fornecer gratuitamente remédios
de alto custo que não constassem da lista do SUS. A lentidão na inclusão de certos avanços
médicos pelos SUS é criticada pelas entidades de defesa dos pacientes, STJ (SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA).

A importância deste trabalho se dá pelos seguintes motivos:

I) Atualmente várias pessoas, principalmente jovens estão sendo internados


compulsoriamente através de decisões judiciais para fins de tratamento do vício
em drogas: álcool, maconha, cocaína, crack e outros.

II) Depois do movimento chamado de “Reforma psiquiátrica” os tratamentos para


drogadição têm ênfase na desospitalização, mas as determinações para a internação

19
têm aumentado e gerado gastos inesperados para a Administração Pública
Municipal.

III) As internações feitas pelo Poder Judiciário asseguram o direito à Saúde dos jovens e
estão em desencontro ao movimento, geram um impacto nas políticas públicas, na
qualidade de vida dos pacientes.

1.3 Pergunta - problema

Quais são os gastos orçamentários da saúde decorrentes das decisões judiciais de internações
compulsórias das pessoas viciadas em drogas?

1.4 Objetivos

1.4.1 Objetivo geral

Conhecer as ações judiciais de internações compulsórias de adultos e adolescentes viciados


em drogas em Espírito Santo do Pinhal - SP, como um direito à Saúde;

Diagnosticar os gastos das ações judiciais interpostas para acesso a internações compulsórias
de adolescentes viciados em drogas no orçamento do Município de Espírito Santo do Pinhal -
SP. O alcance desses objetivos de pesquisa pode evidenciar desafios para a consolidação de
políticas públicas voltadas principalmente para adolescentes viciados em drogas.

1.4.2 Objetivos específicos

Identificar e caracterizar as ações judiciais para acesso a internação compulsória por autores,
réus e conteúdo das demandas;

20
Refletir sobre o modelo de internação compulsória de adolescentes viciados em drogas como
políticas públicas de saúde;

Conhecer o impacto do gasto causado no orçamento da saúde no Município de Espírito Santo


do Pinhal - SP, ocasionado pelo cumprimento dessas demandas judiciais.

21
2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Saúde e adolescência: Proteção constitucional

Elaborado há mais de meio século pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 1948) o
conceito formal e pioneiro de saúde corresponde a um estado de completo bem-estar físico,
mental e social que não se caracteriza unicamente pela ausência de doenças, e sim como um
direito humano. Nesse sentido Singer (1987) considera que esta formulação inclui as
circunstâncias econômicas, sociais e políticas, como também a discriminação social, religiosa
ou sexual.

Nas últimas décadas, os avanços tecnológicos e científicos, mostraram a necessidade de nova


avaliação do conceito de saúde, para que pudesse ser contemplada a complexidade de
conhecimento e a evidente necessidade de considerar o indivíduo não apenas como ser
biológico complexo, mas também um ser essencialmente social, cujos valores são diversos,
requerendo, na maioria das vezes, relações diferenciadas, sob a justa proteção do Estado e da
sociedade. Sendo a saúde um direito universal do Homem, não se deve consolidar nenhum
conceito de saúde que não expresse os princípios bioéticos de autonomia, beneficência e
justiça (FORTE, 2010).

Os direitos fundamentais da criança e do adolescente são objetos de especificação


pormenorizada na Lei nº. 8.069/1990 (BRASIL, 1990), e como observa Rivera (2005), na
hierarquia desses direitos vêm em primeiro lugar o direito à vida e à saúde, logo após o direito
à liberdade, ao respeito e à dignidade.

Criança, segundo a Convenção (ECA) (BRASIL, 1990) é todo ser humano menor de 18 anos
de idade [...] Como no Brasil, aos 16 anos a pessoa adquire relativa capacidade jurídica, o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (BRASIL, 1990) considera criança a pessoa até
12 anos incompletos, e adolescente aquela entre 12 e 18 anos de idade. Isso quer dizer que o
conceito de criança nos termos da Convenção abrange no sistema brasileiro a criança e o
adolescente (SILVA, 2007).

22
Ainda nos dizeres de Silva (2007), o artigo 227 da Constituição Federal de 1988, é por si uma
carta de direitos fundamentais da criança e do adolescente correspondentes aos previstos na
Convenção da Organização das Nações Unidas (ONU, 1945) referido artigo tem em seu caput
verdadeira declaração de direitos, enquanto os seus parágrafos indicam as providências que
visam conferir eficácia aos direitos ali prometidos.

Art. 227: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão (Redação dada pela Emenda Constitucional nº. 65, de 2010).

§ 3º - O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:


VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança, ao adolescente
e ao jovem dependente de entorpecentes e drogas afins (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº. 65, de 2010).

Assegurar os direitos da criança e do adolescente é dever da família, da sociedade e do


Estado, com absoluta prioridade (SILVA, 2007). Nessa esteira o mesmo autor expõe que
segundo o artigo 3º, do ECA (Lei nº. 8.069/1990),

...a criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à


pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei [...]
assegurando-lhes todas as oportunidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento
físico, mental, moral, espiritual e social em condições de liberdade e de dignidade.

Assim, essa categoria de cidadãos identificados a partir da idade tem assegurada a proteção na
Constituição e no Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº. 8.069/1990. Com efeito, o
ECA estabelece que a criança e o adolescente têm direito à proteção, à vida e à saúde,
mediante efetivação de políticas sociais que permitam um desenvolvimento sadio e
harmonioso, bem como têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas
humanas em processo de desenvolvimento (SILVA, 2007).

2.2 Adolescência e vulnerabilidade

A adolescência é um período crítico na vida de cada indivíduo, pois nessa fase o jovem
vivencia descobertas significativas e afirma a personalidade e a individualidade (BARROSO
et al., 2008).

23
Afirma ainda Barroso, Cavalcanti e Alves (2008) que a geração atual é considerada a mais
urbana da história; entretanto, à medida que a urbanização possibilita cada vez mais o acesso
à educação e aos serviços de saúde, os adolescentes são mais expostos aos riscos de uso de
drogas lícitas e ilícitas. Vários fatores se associam ao abuso de álcool na adolescência, a
começar pelos aspectos sócio-históricos, como a industrialização e a urbanização de décadas
recentes e a crise econômica dos anos 1980, responsável pela dificuldade de inserção do
jovem no mercado de trabalho e a consequente insatisfação de suas necessidades. Não se pode
subestimar, também, a crescente produção industrial de bebidas alcoólicas e o forte apelo dos
meios de comunicação em favor do consumo por indivíduos de todas as classes sociais.

Vários estudos alertam para a situação de vulnerabilidade dos jovens quanto ao trabalho,
sendo esse um dos contingentes populacionais que apresentam algumas das mais altas taxas
de desemprego e de subemprego no país. Eles enfrentam problemas singulares quanto à
primeira inserção no mercado, o que, em alguma medida, deve-se à exigência dos
empregadores de prova de experiência. É também uma população que tem demandado novos
enfoques da educação e qualificação profissional, não acessíveis aos jovens de famílias
pobres. De fato, as mudanças no mundo do trabalho, a desregulamentação e a flexibilização
da economia demandariam habilidades nem sempre disponíveis entre os jovens de setores
populares - como conhecimentos em informática e línguas estrangeiras - isso em contexto de
diminuição dos postos de trabalho para grande parte da população (CASTRO e
ABRAMOVAY, 2002).

Além de fatores sociodemográficos (sexo, idade, classe social), os estudos indicam associação
do uso de drogas com envolvimento parental ou familiar no consumo de álcool ou drogas, não
criação por ambos os pais, baixa percepção de apoio paterno e materno, amigos que usam
drogas, ausência de prática religiosa, bem como menor frequência à prática de esportes
(TAVARES, 2004).

Outro aspecto de importância segundo Castro e Bramovay (2002) é o lazer que pode associar-
-se tanto a estímulo como a antídoto contra violências. Os indicadores sobre equipamentos
culturais no Brasil justificam e reforçam a preocupação com a falta de espaços de lazer e de
cultura para a população jovem, em especial para aqueles em situações de pobreza.

24
Além da falta de equipamentos nas comunidades, os jovens circulam em raio restrito,
segregados nos seus bairros, não necessariamente exercendo direitos de cidadania social,
como, o benefício do uso da cidade em que vivem.

A carência de atividades de diversão na comunidade é explorada pelo tráfico que, em muitos


lugares, marca presença, ocupando um espaço deixado em aberto pelo poder público,
constituindo referência para os jovens (CASTRO e BRAMOVAY, 2002).

Ainda conforme Castro e Bramovay (2002), afetam a geração dos jovens, o desencanto, as
incertezas em relação ao futuro, o distanciamento em relação às instituições, a descrença na
sua legitimidade e na política formal, além de resistência a autoritarismos e "adultocracia".

Nesse caso, a escola e a família já não teriam a mesma referência que tiveram para outras
gerações, além de que há diversidades quanto a construções dessas referências em grupos em
uma mesma geração. Por outro lado, o apelo da sociedade de espetáculo e o apelo aos padrões
de consumo conviveriam com chamadas para a responsabilidade social e o associativismo.
Essas e outras tendências contraditórias também potencializariam vulnerabilidades negativas e
positivas (no sentido de fragilidades, obstáculos, capital social e cultural e formas de
resistência no plano ético cultural. Dessa forma, discutir juventudes pede discutir
modernidade e sua realização em distintos planos e para distintos grupos sociais (CASTRO,
2002).

No entender de Pratta e Santos (2007), crianças e adolescentes que crescem em um ambiente


que se constitui como ameaça à sua saúde psicológica podem se tornar mais vulneráveis ao
enfrentarem determinadas situações cotidianas, especialmente as ocorrências adversas.
Entretanto, nem todos os indivíduos que vivenciam situações de risco apresentam problemas
emocionais e/ou comportamentais, o que evidencia a multidimensionalidade e plasticidade
dos processos adaptativos.

De acordo com Laranjeira et al. (2008), o crescente consumo de drogas, é um problema que
aflige a sociedade de forma devastadora. Com impactos econômicos e sociais de tamanha
monta, que o transforma em um relevante problema de saúde pública, afetando
principalmente os jovens. Esse fato, associado à falta de dados sobre suas reais dimensões,

25
tem motivado pesquisas com o objetivo de criar subsídios que permitam a criação de
mecanismos eficiente no combate ao uso de substâncias psicoativas ilícitas.

Para Laranjeira et al. (2008), conhecer o padrão do consumo de substâncias psicoativas de


uma dada sociedade, é imprescindível para a implantação de programas de prevenção ao
consumo, pois as informações fornecem parâmetros para a criação de políticas públicas
voltadas à prevenção e ao tratamento, otimizando os resultados.

O principal desafio na implementação das políticas elaboradas é a captação do público-alvo,


trazer o adolescente para as unidades de saúde, a fim de otimizar o contato deste com a equipe
de saúde e assim disponibilizar os serviços de apoio, bem como facilitar o acesso à
informação (BARROSO, et al., 2008).

A inclusão social não se dá exclusivamente por meio da erradicação da pobreza. Para que um
indivíduo possa ser considerado incluído socialmente, imprescindível, além de apresentar
boas condições econômicas, que tenha acesso à educação e à saúde, que tenha respeitadas
suas liberdades e que apresente empoderamento social, por exemplo (DABULL e
STAHLHÖFER, 2013).

Verifica-se, portanto, a positivação do reconhecimento universal das crianças e adolescentes


enquanto sujeitos de direitos, tornando-se imprescindível, portanto, um ambiente social em
que seja possível a efetivação e exercício pleno desses direitos. Assim, nas palavras de
Custódio e Veronese (2009, p. 110), “o Direito da Criança e do Adolescente afirma-se no
contexto jurídico brasileiro como instrumento garantidor de transformações” (MOURA e
TRENTIN, 2013). Assim, o desenvolvimento adequado da criança e do adolescente deve estar
caracterizado em processos biológicos, psicoafetivos, cognitivos e sociais, em que são
necessários no ambiente que os cercam, uma série de condições e contrapartidas para se
efetivar esse desenvolvimento conforme prescreve a legislação.

Finalmente reafirma Moura e Trentin (2013) que a Constituição Federal de 1988 trouxe
diversas mudanças pertinentes aos direitos da criança e do adolescente. O reconhecimento dos
infantes como sujeitos de direitos, respeitada sua condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento levou à adoção da Teoria da Proteção Integral. Ao lado disso, a constituição

26
adotou também a chamada tríade, Estado, Sociedade e Família, como responsável pela
promoção e garantia dos direitos dos infantes.

Moraes, Leitão e Braga (2002) referem que as políticas de saúde não estão atuando
eficazmente em situações de reabilitação de jovens; sem falar que os poucos resultados
positivos alcançados pelos serviços especializados em reabilitação esbarram na complexidade
que envolve a realidade socioeconômica, a exclusão social, o desemprego, a falta de
perspectiva e a violência, condições identificáveis na vida dos adolescentes.

Essa problemática tem amplo alcance, envolvendo não só o adolescente, como também sua
família e seu contexto socioeconômico e cultural. Por essa complexidade, pode-se dizer que
nem toda ação de intervenção vá ter o efeito final almejado. A prevenção mostra-se como
uma das formas mais eficazes de lidar com o uso e o abuso de drogas, principalmente entre os
adolescentes. A precaução não deve se limitar a ações isoladas, mas desenvolver-se em todas
as frentes, enfatizando-se a orientação e mobilização desses adolescentes, enfocando ações de
redução de danos, reabilitação e socialização desses jovens.

As estimativas indicam que atualmente cerca de 450 milhões de pessoas no mundo sofrem de
perturbações mentais, neurobiológicas ou, psicossociais, como de problemas relacionados
com o abuso de álcool e drogas (FORTE, 2010).

Drogas como o crack, agem de maneira tão agressiva no corpo do usuário que não permitem
que ele entenda a gravidade de sua situação e o quanto seu comportamento pode ser nocivo
para ele mesmo e para os outros (LOCCOMAN, 2012).

2.3 A Internação compulsória

A Internação Psiquiátrica Compulsória prevista na Lei nº. 10.216/2001, artigo 4º e parágrafo


primeiro, aquela efetuada por determinação da autoridade judicial, quando o portador de
transtorno mental oferece risco para si, para sua família ou para a sociedade, levando-se em
conta as condições de segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos
demais internados e funcionários, por ser uma medida judicial, não podem ser legalmente
questionados, embora sobre a ótica técnica e ético-moral, mereçam discussões profundas.

27
Quaisquer que sejam as indicações das internações psiquiátricas, o Código Penal e a Lei
Federal nº. 10.216/2001 exigem que se deem em estabelecimentos com características
hospitalares, preservando a dignidade humana, garantindo ao paciente segurança e
humanização no seu atendimento, com o mínimo possível de permanência, na unidade
hospitalar e retorno ao convívio familiar e social (FORTES, 2010).

De acordo com a Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) nº. 1.598/2000 o artigo

Nenhum tratamento deve ser administrado a paciente psiquiátrico sem o seu


consentimento esclarecido, salvo quando as condições clínicas não permitirem a
obtenção desse consentimento, e em situações de emergência, caracterizadas e
justificadas em prontuário, para evitar danos imediatos ou iminentes ao paciente ou
a outras pessoas.

Parágrafo Único - Na impossibilidade de obter-se o consentimento esclarecido do


paciente, e ressalvado as condições previstas no caput deste artigo, deve-se buscar o
consentimento de um responsável legal.

A meta da internação é intervir na crise e controlá-la a fim de estabilizar os pacientes


gravemente doentes e garantir a sua segurança e das outras pessoas. Uma vez determinada a
necessidade de internação, é obrigação do médico informar ao paciente sobre a conduta
proposta, garantindo ao mesmo o direito de livre arbítrio, mesmo que, supostamente, não
compreenda o fato. Mesmo concordando com a internação, tal fato não deixa de se constituir
em certo confinamento, podendo ferir a autonomia do paciente (FORTES, 2010).

A instituição psiquiátrica, construção do século XVIII tornou-se um emblema da exclusão e


sequestro da cidadania e, até mesmo, da vida dos pacientes portadores de transtornos mentais,
sendo que estava descomprometida com o cuidado à saúde e com a reinserção psicossocial
(REIS, 2012). A reforma psiquiátrica buscou reorientar a assistência em saúde mental através
de fechamento de hospitais psiquiátricos e da criação de serviços que garantam o tratamento
substituindo o enclausuramento e a medicalização pela inserção social e pelo
comprometimento da sociedade na construção de estratégias de cuidado e promoção de vida
(REIS, 2012).

A reforma psiquiátrica brasileira avançou significativamente como política pública, com o


Projeto de Lei nº. 3.657 - que dispõe sobre a extinção progressiva dos manicômios e sua
substituição por outros recursos assistenciais e regulamenta a internação psiquiátrica

28
compulsória - dando início à progressiva mudança do modelo de atenção em saúde mental na
década de 1990. O termo “reforma psiquiátrica” não deve ser entendido simplesmente como
“desospitalização” e construção de um novo modelo ou sistema de atenção restrita ao campo
da saúde mental e coletiva, como pode erroneamente parecer em um primeiro momento. Por
reforma psiquiátrica entende-se um processo social e complexo, denominado de
desinstitucionalização, que consiste em uma estratégia teórico-prática de desmontagem do
conjunto de aparatos científicos, legislativos, administrativos, de códigos de referência e de
relações de poder que se estruturam em torno do objeto doença (FORTE, 2010).

No entanto, para Forte (2010) há situações clínicas em que a internação ainda hoje é uma
medida prudente, mesmo imperativa, devendo o médico indicá-la, quando o agir do doente
mental se manifestar em sentido inconscientemente prejudicial contra a vida ou a integridade
física e moral do próprio ser ou da pessoa do outro, procedendo-a mediante o consentimento
livre e esclarecido.

Segundo o Instituto “Crack nem pensar” e Conselho Nacional de Justiça (2011), drogas como
o crack, acarretam sérias complicações, pois ao ser fumado, é absorvido pelo pulmão e chega
ao cérebro em 10 segundos. Após a “pipada” (ato de inalar a fumaça), o usuário sente grande
prazer, intensa euforia, sensação de poder, excitação, hiperatividade, insônia, perda de
sensação de cansaço e falta de apetite. O uso passa a ser compulsivo, pois o efeito dura apenas
de 5 a 10 minutos e a “fissura” (vontade) em usar novamente a droga torna-se incontrolável.
Segue-se repentina e profunda depressão e surge desejo intenso de uso repetido imediato.
Assim, serão usadas muitas pedras em seguida para manter o efeito estimulante, trazendo
várias consequências:

 Físicas: Danos ao pulmão, associado a fortes dores no peito, bronquite e asma; aumento da
temperatura corporal com risco de causar acidente vascular cerebral; destruição de células
cerebrais e degeneração muscular, o que confere aquela aparência esquelética do usuário
frequente. Pode acarretar também inibição da fome e insônia severa.

Além disso, os materiais utilizados para a confecção dos cachimbos são muitas vezes
coletados na rua ou no lixo e apresentam risco de contaminação infecciosa, gerando potencial
elevação dos níveis de alumínio no sangue, de modo a aumentar os danos no sistema nervoso
central. São comuns queimaduras labiais, no nariz e nos dedos dos usuários.

29
 Psicológicas: Fácil dependência após uso inicial. Grande desconforto durante abstinência
gerando depressão, ansiedade e agressividade contra terceiros. Há diminuição marcante do
interesse sexual. A necessidade do uso frequente acarreta delitos, para obtenção de
dinheiro, venda de bens pessoais e familiares, e até prostituição, tudo para sustentar o
vício. A promiscuidade leva à grave risco de se contrair AIDS e outras DSTs (doenças
sexualmente transmissíveis). O usuário também apresenta, com frequência, atitudes
bizarras devido ao aparecimento de paranóia “nóia”, colocando em risco a própria vida e a
dos outros.

 Sociais: Abandono do trabalho, estudo ou qualquer outro interesse que não seja a droga.
Deterioração das relações familiares, com violência doméstica e frequente abandono do
lar. Grande possibilidade de envolvimento com criminalidade.

A ruptura ou a fragilização das redes de relação social, familiar e de trabalho normalmente


leva a aumento da estigmatização do usuário, agravando sua exclusão social. É comum que
usuários de crack matem, ou sejam mortos. E nestes casos muitas vezes há necessidade da
intervenção mediante internação.

A internação compulsória é admitida por parte das instituições.

Segundo Loccoman (2012), a internação contra a vontade do paciente está prevista no Código
Civil (BRASIL, 2001) desde 2001, pela Lei da Reforma Psiquiátrica nº. 10.216/01, (BRASIL,
2001) mas a novidade agora é que o procedimento seja adotado não caso a caso, mas como
uma política de saúde pública. “No Brasil, a desigualdade no campo da saúde é tão
expressiva, que se tornou imperativo para o Poder Judiciário atuar com bastante rigor e
precisão para impedir que o fosso entre os cidadãos se alargue ainda mais” (BARBOSA,
2013).

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), representação regional da Organização


Mundial da Saúde (OMS) no continente americano, divulgou com críticas à priorização que
tem sido feita no Brasil pela internação compulsória para o tratamento de usuários de drogas.

Um documento intitulado “Tratamento da dependência de drogas, direitos humanos e


dignidade do paciente” elaborado pela Organização Mundial de Saúde em 2008, descreve os

30
princípios gerais que orientam um tratamento de drogas [...], explicita que o “direito à
autonomia e autodeterminação, o combate ao estigma, ao preconceito e à discriminação e o
respeito aos direitos humanos devem ser observados em qualquer estratégia de tratamento
para a dependência de drogas”. O documento também aduz que “a internação compulsória é
considerada uma medida extrema, a ser aplicada apenas a situações excepcionais de crise com
alto risco para o paciente ou terceiros, e deve ser realizada em condições e com duração
especificadas em Lei. Ela deve ter justificativa clara e emergencial, além de ter caráter
pontual e de curta duração”, afirma a OPAS.

Os defensores da internação compulsória afirmam que o consumo de drogas aumentou no país


inteiro e são poucos os resultados das ações de prevenção ao uso de acordo com Relatório da
4ª Inspeção Nacional de Direitos Humanos.

Aduz-se do texto da Lei nº. 10.216/2001 (BRASIL, 2001) que redireciona o modelo de
atenção em saúde mental no Brasil, a intenção do legislador em priorizar o tratamento na
comunidade, fora da instituição hospitalar, sendo a internação psiquiátrica a última alternativa
para o tratamento (SALVATORI, 2013).

Na atualidade, em várias cidades, como é o caso do Município de Espírito Santo do Pinhal -


SP, a Justiça por meio de seus Magistrados, determina mediante liminares em ações Judiciais
para que os pacientes (geralmente adolescentes), viciados em drogas e/ou álcool, sejam
internados compulsoriamente; essa determinação ocorre em face dos Órgãos Públicos,
geralmente Secretarias de Saúde, obrigando seus gestores, (sob pena de responderem
civilmente e até criminalmente caso descumpram) a internar adolescentes para o devido
tratamento.

Segundo Reis (2012), evidencia-se os modos como os adolescentes usuários de drogas vêm
sendo investidos enquanto um grande problema social e as estratégias oferecidas para dar
conta desse problema. Embora se afirme que a violência ou o uso de drogas na adolescência
não seja algo novo, é um problema que emerge, neste momento como novidade. O inovador
não está, portanto, na questão em si, mas nas relações que se estabelecem com ela. Ainda,
conforme Reis (2012)

31
...quando olhamos para a rede de atores compostas de juízes, autos processuais,
trabalhadores sociais, pareceres, drogas, instituições de saúde, diagnósticos,
assistência social, justiça, famílias, segurança públicas e outros, não são somente os
nós da rede, mas a rede em ação que nos interessa [...] na rede não há um centro ou
um ator principal. Os processos de fabricação são distribuídos entre todos os atores,
isto é, não é somente o Judiciário que interna compulsoriamente os adolescentes -
todos os outros atores são também responsáveis pelos efeitos produzidos nessa rede.

O momento caracteriza-se pelo consumo indiscriminado de drogas, quer lícitas, quer ilícitas.
A ingestão do crack, em especial, pelo seu elevado poder lesivo, vem colocando em risco
milhares de crianças e adolescentes, seja pelo consumo direto da droga, seja pelos efeitos
indiretos, porém devastadores, no núcleo familiar (CALMOM, 2011).

Com custo relativamente baixo e alto potencial para gerar dependência química, o crack é,
dentre as substâncias entorpecentes, aquela que tem causado as consequências mais nefastas
em nossa sociedade.

A droga atinge grave e diretamente a saúde física e mental dos usuários. Mais que isso, e de
forma muito rápida, debilita laços familiares e relações sociais. Nesta medida, constitui
indiscutível fator de aumento das taxas de criminalidade, violência e outros problemas sociais.
O combate mais eficiente faz-se pela prevenção, e, para tanto, conhecimento é fundamental
(PELUZZO, 2011).

Segundo a Defensoria Pública do Estado de São Paulo, especialmente nos autos da Ação Civil
Pública sob nº. 18/2010 assim expõe

É público e notório que os viciados em drogas chegam ao que se costuma chamar de


“fundo do poço”, a ponto de suas vidas estarem constantemente em risco, em virtude
das mazelas que o vício acarreta. As pessoas que vivem ao redor do viciado,
principalmente a família, também sofrem risco de vida, diante das constantes
ameaças por parte dos próprios dependentes químicos em estados de crise por abalo
psíquico pela necessidade do uso da droga, sendo comum a prática de crimes contra
o patrimônio, realizados até mesmo dentro das próprias casas, para o sustento do
vício.

Indiscutível, assim, que um doente, viciado em drogas, que não vem a receber o
devido tratamento, vem a ser causa dos mais graves problemas sociais, visto que
vem a ser causa de desestabilização familiar, de prática de violência doméstica e de
aumento da criminalidade, sendo desnecessário juntar com a presente petição cópias
de inúmeros autos de prisão em flagrante que chegam diariamente à Defensoria
Pública (em razão do art. 306, §1°, do Código de Processo Penal) em que o preso
afirma categoricamente ter praticado crime (na maioria das vezes furto, roubo e
tráfico de drogas) com o intuito de adquirir entorpecentes para consumo.

32
O círculo vicioso derivado dessa situação (vício + crime = prisão) enseja evidente
prejuízo social em razão do fato de que o viciado que não recebe o devido
tratamento médico acaba por receber tratamento penal. O prejuízo é flagrante: o que
o Poder Público deixa de gastar com o tratamento do viciado, vem a gastar
posteriormente com a reclusão do viciado em estabelecimentos prisionais.

Verifica-se, portanto, a interligação com o campo da saúde, da justiça, das políticas públicas.

2.4 Saúde como direito fundamental

O que é “Saúde”? Não há de ser simplesmente a ausência de doença. Há de ser também o


gozo de uma boa qualidade de vida. Não se trata apenas de assistência médica, ambulatorial,
hospitalar. Vai muito além disso, porque envolve ações governamentais, destinadas a criar
ambiente sanitário saudável. Por isso mesmo a Constituição submete o direito à saúde ao
conceito de Seguridade Social. A leitura do artigo 196, da Constituição Federal de 1988
mostra que a concepção de saúde adotada não é a simplesmente curativa, aquela que visa
restabelecer um estado saudável após a enfermidade; mas a prestação social, no campo da
saúde, volta-se especialmente para os aspectos da prevenção, e não da medicina curativa. Essa
é a grande importância das normas constitucionais sobre saúde, para além, mesmo de outras
Constituições (SILVA, 2007).

A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições


indispensáveis ao seu pleno exercício (SILVA, 2007). Tanto assim que alguns autores (não
obstante sem unanimidade) já têm conferido esse caráter de fundamental ao direito à saúde,
por sua íntima correlação com o chamado direito à vida, como princípio constitucional e nesse
sentido, já se ponderou de que na verdade, o direito à saúde constitui um desdobramento do
próprio direito à vida. Logo por evidente não poderia deixar de ser considerado como um
direito fundamental do indivíduo (SILVA, 2009, p. 59).

Nesta esteira Sarlet (2012, p. 281) afirma que os direitos fundamentais a prestações
(prestacionais à saúde) são inequivocamente autênticos direitos fundamentais, constituindo
em razão disso direito imediatamente aplicável, nos termos do disposto no art. 5º, § 1º, de
nossa Constituição.

33
Ainda segundo Sarlet (2012) os direitos fundamentais devem ter sua eficácia valorada não só
sob o ângulo individualista, isto é, com base no ponto de vista da pessoa individual e sua
posição perante o Estado, mas também sob o ponto de vista da sociedade, da comunidade na
sua totalidade, já que se cuida de valores e fins que esta deve respeitar e concretizar.

De acordo com Trentin (2013, p. 66) a Constituição Federal de 1988 reconhece a saúde como
direito social e dever do Estado, buscando medidas de reorganização do setor da saúde que
viabilizem os princípios estabelecidos na Carta Constitucional para a implementação do
Sistema Único de Saúde (SUS).

Sobre o tema, destaca-se o princípio da dignidade da pessoa humana:

Dignidade da pessoa humana é um valor supremo que atrai o conteúdo de todos os


direitos fundamentais do homem, desde o direito à vida. Concebido como referência
constitucional unificadora de todos os direitos fundamentais do homem, o conceito
de dignidade da pessoa humana obriga a uma densificação valorativa que tenha em
conta o seu amplo sentido normativo-constitucional e não qualquer ideia apriorística
do homem, não podendo reduzir-se o sentido da dignidade humana à defesa dos
direitos pessoais tradicionais, esquecendo-a no caso dos direitos sociais, ou invocá-
la para construir uma “teoria do núcleo da personalidade individual”, ignorando-a
quando se trate de garantir as bases da existência humana (PINHO, 2000).

De acordo com Silva (2009, p. 98) podem ser destacados outros sistemas constitucionais, que
preveem expressamente o direito à saúde em suas cartas políticas (constituições), podendo
destacar inicialmente o direito Chinês. A constituição da República Popular da China,
aprovada em 04 de dezembro de 1982 trata da questão, de forma mais direta em dois artigos, a
saber:

Artigo 21: O Estado desenvolve os serviços médicos e de saúde, promove a


medicina tradicional chinesa, incentiva e apoia a instalação de centros médicos e de
saúde pelas unidades econômicas coletivas rurais, pelas empresas do Estado e pelas
organizações de moradores e promove atividades de saúde pública de massas, tudo
com a finalidade de proteger a saúde do povo. O Estado fomenta a cultura física e
promove as atividades desportivas das massas a fim de desenvolver as condições
físicas do povo...

Artigo 45: Os cidadãos da República Popular da China têm direito a um auxílio


material do Estado e da sociedade na velhice, na doença e na deficiência. O Estado
desenvolve os serviços de segurança social, assistência social e saúde necessários
para que os cidadãos possam gozar de tal direito.(...)

Ainda segundo Silva (2009) a Constituição da República Italiana, por sua vez, estabelece em
seu artigo 3º, um conceito de dignidade social, bastante amplo, do qual, obviamente, poder-

34
se-ia extrair o direito de respeito à vida, e em seu artigo 32 se refere à questão da saúde
pública:

Artigo 3º: Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a
Lei, sem discriminação de sexo, de raça, de língua, de religião, de opiniões políticas,
de condições pessoais e sociais. Cabe à república remover os obstáculos de ordem
social e econômica que, limitando de fato a liberdade e a igualdade dos cidadãos,
impedem o pleno desenvolvimento da pessoa humana e a efetiva participação de
todos os trabalhadores na organização política, econômica e social do país...

Artigo 32: A república tutela a saúde como direito fundamental do indivíduo e


interesse da coletividade, e garante tratamento gratuito aos indigentes. Ninguém
pode ser obrigado a um determinado tratamento sanitário, salvo disposição de lei. A
lei não pode, em hipótese alguma, violar os limites impostos pelo respeito à pessoa
humana.

Ainda dentro do direito europeu, de se destacar o tratamento que a Constituição de Portugal,


através de seus artigos 24 e 64, conferiu à preocupação com efetividade do direito à Saúde
(SILVA, 2009).

Artigo 24: (Direito à vida)


1. A vida humana é inviolável.
2. Em caso algum haverá pena de morte...

Artigo 64: (Saúde)


1. Todos tem direito à proteção da saúde e o dever de a defender e promover.
2. O direito à proteção da saúde é realizado:
a) Através de um serviço nacional de saúde universal e geral e, tendo em conta as
condições econômicas e sociais dos cidadãos, tendencionalmente gratuito;
b) Pela criação de condições econômicas, sociais e culturais que garantam a proteção
da infância, da juventude e da velhice e pela melhoria sistemática das condições de
vida e de trabalho, bem como pela promoção da cultura física e desportiva, escolar e
popular, e ainda pelo desenvolvimento da educação sanitária do povo.
3. Para assegurar o direito à proteção da saúde, incumbe prioritariamente ao Estado:
a) Garantir o acesso de todos os cidadãos, independentemente da sua condição
econômica, aos cuidados da medicina preventiva, curativa e de reabilitação;
b) Garantir uma racional e eficiente cobertura médica e hospitalar de todo o país;
c) Orientar a sua ação para a socialização dos custos dos cuidados médicos e
medicamentosos;
d) Disciplinar e controlar as formas empresariais e privadas da medicina,
articulando-as com o serviço nacional de saúde;
e) Disciplinar e controlar a produção, a comercialização e uso dos produtos
químicos, biológicos e farmacêuticos e outros meios de tratamento e diagnóstico.
4. O serviço de saúde tem gestão descentralizada e participada (BONFIM apud
SILVA, 2009).

Vale lembrar que a saúde pública no Brasil é um direito de todos e dever do Estado, devendo
ser garantida mediante políticas públicas sociais e econômicas comprometidas a redução do
risco de enfermidades e de outros agravos. A falta de serviços especializados, a dificuldade de
construção dos fluxos de encaminhamento na rede pública, as exigências impostas para

35
continuidade de tratamento e o despreparo da atenção básica para dar continência a essas
situações [...] acaba dificultando ou, em alguns casos, impossibilitando a chegada de crianças
e adolescentes usuários de drogas aos serviços de saúde mental. São esses limites encontrados
na política de saúde que têm levado a população a buscar a materialização de alguns de seus
direitos constitucionais através de estratégias do campo jurídico (REIS, 2012).

Assim, destacando-se o princípio da dignidade da vida humana como sendo uma das
condições indispensáveis à construção de uma sociedade livre, justa e solidária, visando o
bem comum (TRENTIN, 2013, p. 68).

Segundo LUCHESE (2009):

As políticas públicas em saúde integram o campo de ação social do Estado orientado


para a melhoria das condições de saúde da população a dos ambientes natural, social
e do trabalho. Sua tarefa específica em relação às outras políticas públicas da área
social consiste em organizar as funções públicas governamentais para a promoção,
proteção e recuperação da saúde dos indivíduos e da coletividade.

Para MORANDINI (2008, p. 96):

Não é demais destacar que o artigo 196, da Constituição Federal se apresenta como
um marco de relevância pública, no reconhecimento das ações a dos serviços de
saúde, cuja expressão está no Texto Constitucional em que a saúde se releva como
direito de todos e dever do Estado, ao garantir políticas sociais e econômicas que
visem a redução do risco de doenças a de outros agravos, bem como ao acesso
universal a igualitário as ações e serviços para a sua promoção, proteção e
recuperação.

Segundo Campos (2009), as políticas públicas expressam, por um lado, o reconhecimento dos
direitos sociais de cidadania que fazem parte das condições de vida das populações; e pelo
outro a proteção social como responsabilidade do Estado. Para ele, entende-se por políticas
públicas

...o conjunto de práticas e normas (programas de ação governamental) que emanam


de um ou vários atores políticos. Toda política pública tem as seguintes
características: um conteúdo, um produto, um programa ou marco geral de atuação,
uma orientação normativa, um fator de coesão, consequência de autoridade dos
atores públicos, e uma competência social que afeta os cidadãos e um território
(CAMPOS, 2009).

Portanto, apesar de existirem políticas públicas voltadas para os adolescentes e jovens e para a
saúde dos mesmos, essas parecem ser insuficientes. Dessa maneira, vem ocorrendo o

36
fenômeno da judicialização do direito à saúde, o qual os jovens viciados em drogas
especialmente o crack, por meio de suas famílias vão buscar o Poder Judiciário para verem
garantidos os seus direitos.

Segundo o que consta no último relatório mundial sobre drogas UNODC (2014), ainda
existem sérias lacunas na prestação de serviços. Nos últimos anos, apenas um em cada seis
usuários de drogas no mundo teve acesso ou recebeu algum tipo de tratamento para
dependência de drogas a cada ano, ressaltando que 200 mil mortes relacionadas a drogas
ocorreram em 2012 (FEDOTOV, 2014).

A questão das demandas de assistência à saúde foi tão grande que o Conselho Nacional de
Justiça, na data de 25 de março de 2014, mediante Portaria de número 40, criou o Comitê
Organizador do Fórum Nacional do Poder Judiciário para monitoramento e resolução das
demandas de assistência à saúde.

Segundo Silva (2007) é espantoso como um bem extraordinariamente relevante à vida


humana só na Constituição de 1988 tenha sido elevado à condição de direito fundamental do
homem. E há de informar-se pelo princípio de que o direito igual à vida de todos os seres
humanos significa também que, nos casos de doença, cada um tem direito a tratamento
condigno de acordo com o estado atual da Ciência Médica, independentemente de sua
situação econômica.

A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a


moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte,
o lazer e o acesso aos bens e serviços sociais. A implementação incompleta ou não
implementação dessas políticas, resulta em ações judiciais.

Para assegurar a efetividade de qualquer direito, não há como prescindir da alocação de todo
uma gama de recursos públicos, de uma política de segurança, entre outras medidas, os
direitos individuais implicam políticas públicas (SARLET, 2012).

Com efeito, já se fez menção, em linhas atrás, no sentido de que todos os direitos
fundamentais (...) exigem - para sua realização - um conjunto de medidas positivas por parte
do poder público, que abrangem a alocação significativa de recursos materiais e humanos para

37
a sua proteção e implementação. Assim, não há como negar que todos os direitos
fundamentais podem implicar um custo (SARLET, 2012, p. 285).

O Poder Judiciário, em todas as suas instâncias, vem se deparando com um volume cada vez
maior de ações judiciais individuais que reivindicam os mais diversos medicamentos,
insumos, tratamentos e produtos de saúde em face do Estado, como garantia do direito à saúde
resguardada constitucionalmente (DIAS, 2012).

Não obstante, o descumprimento pelo Poder Executivo no fornecimento desses


medicamentos, de certa forma apenas delega para o Judiciário a famigerada tarefa de fazer
cumprir os preceitos constitucionais, vez que como dito, trata-se de direito fundamental ao
qual o Estado não pode se furtar.

É por meio da formulação e execução de políticas públicas que o Estado, notadamente os


Poderes Legislativo e Executivo, cujos representantes foram democraticamente eleitos,
concretizam os direitos fundamentais sociais previstos na Constituição da República de 1988
(CR/88). Contudo, quando há omissão do Estado em cumprir com os direitos sociais,
econômicos e culturais garantidos pela Constituição, o Poder Judiciário vem sendo acionado
para compeli-lo, principalmente no que se refere ao direito à saúde. Cada vez mais o
fenômeno da “Judicialização da Política” ou “Politização do Judiciário” vem sendo discutido
no país, transferindo-se o foco da discussão sobre a implementação de políticas públicas da
instância político-administrativa para a judicial, e da instância coletiva para a individual, por
meio da análise judicial de casos concretos (TEIXEIRA, 2012).

Nos últimos anos, no Brasil, a Constituição conquistou, verdadeiramente, força normativa e


efetividade [...] As normas constitucionais deixaram de ser percebidas como integrantes de
um documento estritamente político, mera convocação à atuação do Legislativo e do
Executivo, e passaram a desfrutar de aplicabilidade direta e imediata por juízes e tribunais.
Nesse ambiente, os direitos constitucionais [...] e os direitos sociais em particular,
converteram-se em direitos subjetivos em sentido pleno, comportando tutela judicial
específica. A intervenção do Poder Judiciário, mediante determinações à Administração
Pública [...] (BARROSO, 2008) inclusive mediante ação judicial. Pode ocorrer de um direito
fundamental precisar ser ponderado com outros direitos fundamentais ou princípios
constitucionais, situação em que deverá ser aplicado na maior extensão possível, levando-se

38
em conta os limites fáticos e jurídicos, preservado o seu núcleo essencial. O Judiciário deverá
intervir sempre que um direito fundamental - ou infraconstitucional - estiver sendo
descumprido, especialmente se vulnerado o mínimo existencial de qualquer pessoa. Se o
legislador tiver feito ponderações e escolhas válidas, à luz das colisões de direitos e de
princípios, o Judiciário deverá ser deferente para com elas, em respeito ao princípio
democrático (BARROSO, 2008).

O Poder Judiciário, cada vez mais, vem intervindo nos assuntos relativos à garantia do direito
à saúde, uma vez que se tornou um grande espaço de reinvindicação e discussão dos usuários
e beneficiários dos sistemas de saúde. Esse fenômeno, caracterizado pela intervenção
concorrencial do judiciário com outras instâncias políticas e legislativas responsáveis pela
elaboração de políticas públicas, é descrito pelos cientistas sociais como judicialização da
saúde (SOUZA et al., 2007; SALVATORI 2013).

Ainda, segundo Salvatori (2013) os entendimentos do poder judiciário por sua vez, embasam-
-se, não somente nas Leis existentes, mas também nos argumentos das partes envolvidas nos
conflitos de interesse e nos contextos social e cultural no qual se inserem, uma vez que estão
intrincados em uma complexa rede constituída pelas políticas públicas de saúde existentes,
pelos modelos assistenciais práticos e pelos impactos econômicos e sociais resultantes das
políticas e modelos de assistência à saúde estabelecidos e do próprio processo de internação
psiquiátrica, que se influenciam reciprocamente.

Sempre que a Constituição define um direito fundamental ele se torna exigível inclusive
mediante ação judicial. O papel do Poder Judiciário, em um Estado constitucional
democrático, é o de interpretar a Constituição e as leis, resguardando direitos e assegurando o
respeito ao ordenamento jurídico. Em muitas situações, caberá a juízes e tribunais o papel de
construção do sentido das normas jurídicas, notadamente quando esteja em questão a
aplicação de conceitos jurídicos indeterminados e de princípios (BARROSO, 2008).

Silvia Badim Marques argumenta que

Se, por um lado, a crescente demanda judicial acerca do acesso a medicamentos,


produtos para a saúde, cirurgias, leitos de UTI, dentre outras prestações positivas de
saúde pelo Estado, representa um avanço ao exercício efetivo da cidadania por parte
da população brasileira, por outro, significa um ponto de tensão perante os
elaboradores e executores da política no Brasil, que passam a atender um número

39
cada vez maior de ordens judiciais, garantindo as mais diversas prestações do
Estado. Prestações estas que representam gastos públicos e ocasionam impactos
significativos na gestão pública da saúde no país.

Lei nº. 8.069, de 1990 (ECA):

Artigo 7º: A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde,


mediante a efetivação de políticas públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.

O tema versado no presente estudo envolve princípios e direitos fundamentais, como


dignidade da pessoa humana, vida e saúde. Disso resultam duas consequências relevantes. A
primeira: como cláusulas gerais que são, comportam uma multiplicidade de sentidos possíveis
e podem ser realizados por meio de diferentes atos de concretização. Em segundo lugar,
podem eles entrar em rota de colisão entre si. A extração de deveres jurídicos a partir de
normas dessa natureza e estrutura deve ter como cenário principal as hipóteses de omissão dos
Poderes Públicos ou de ação que contravenha a Constituição. Ou, ainda, de não atendimento
do mínimo existencial (BARROSO, 2008).

Geralmente o ordenamento legal de um país é regido por princípios de direito consolidados


numa Lei chamada de Constituição. É a lei fundamental de um Estado em que estão dispostos
a organização do Estado, a forma de governo, o sistema jurídico, os direitos fundamentais e as
garantias individuais, entre outras de igual majestade importância (CARVALHO, 2001). A
“Constituição” define-se como um conjunto de normas e princípios consubstanciados num
documento solene estabelecido pelo poder constituinte de um Estado (AFONSO, 2007).

No Brasil somente na Constituição Federal de 1988 o direito à saúde foi elevado à condição
de direito fundamental do homem, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao
seu pleno exercício (AFONSO, 2007). O artigo 5º, da atual Constituição Federal retrata como
se está avançado no que toca a proteção do indivíduo, ao dispor que, todos são iguais perante
a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança, e à
propriedade. O artigo 6º (Brasil, 1988), da Lei Maior, dispõe que são direitos sociais a
educação, a saúde entre outros (CARVALHO, 2001). Já em seu artigo 196 preconiza que a
saúde é direito de todos e dever do Estado, e que esse direito será garantido mediante políticas

40
sociais e econômicas, que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Nesse contexto a Lei nº. 8.080/1990 que organiza o Sistema Único de Saúde em território
Nacional, amoldando-se ao que a Constituição estabelece, dispõe em seus artigos 6º e 7º, que
entre as ações que se inserem no campo de atuação do SUS, encontra-se a de “assistência
terapêutica integral, inclusive farmacêutica” que deve ser disponibilizada à população com
observância da integralidade de assistência, entendido como “conjunto articulado e contínuo
das ações e serviços preventivos e curativos, exigidos para cada caso em todos os níveis de
complexidade do sistema” (VIANA, 2013).

Em sentido amplo e contemporâneo, saúde é, sobretudo, uma questão de cidadania e


de justiça social, e não um mero estado biológico independente do status social e
individual. Os principais documentos nacionais e internacionais acerca do tema
consagram a caracterização de saúde como um completo estado de bem-estar, e não
a mera ausência de doenças, incorporando também a concepção de que a situação de
saúde é determinada pelas condições de vida e de trabalho dos indivíduos; pela
conjuntura social, econômica, política e cultural de determinado país (SCLIAR,
2007); “por aspectos legais e institucionais relativos à organização dos sistemas de
saúde; e por valores individuais e coletivos sobre como viver bem” (AYRES, 2007).

A implementação incompleta ou não implementação dessas políticas resulta em ações


judiciais. Assim o poder Judiciário, acaba substituindo o poder Executivo na concretização de
certos direitos, por meio de mandamentos descontextualizados. Frequentemente, indica-se que
a substituição é inadequada já que faltaria ao Judiciário o instrumental para a consecução
individual da política pública, além do entendimento de lhe faltar legitimidade para atuar no
lugar do poder Executivo.

A efetivação forçada dessas políticas públicas por meio do Judiciário, centrada na lógica do
atendimento individual, parece ferir o princípio de igualdade e interesse coletivo também
previsto na Constituição.

Para Barroso (2012), a “judicialização” significa que questões relevantes do ponto de vista
político, social, ou moral estão sendo decididas, em caráter final, pelo poder judiciário.

As demandas judiciais, nesse sentido se tornaram uma constante. O número de pessoas que
recorrem ao Judiciário vem aumentando significativamente, seja na busca de medicamentos

41
não disponibilizados ou de alto custo, seja como maneira encontrada de cumprimento de
obrigações que deveriam ser originariamente realizadas pelo Executivo.

Assim, o desarranjo encontrado no atual contexto social abriu espaço para que o Judiciário
pudesse, em nome dos Direitos Individuais e Garantias Fundamentais, filhos do Princípio da
Dignidade da Pessoa Humana, atuar, determinando corriqueiramente através de mandamentos
instrumentalizados por liminares em Mandados de Segurança ou típicas Ações de obrigação
de fazer, que se cumpra, entre outras, as chamadas internações compulsórias de dependentes
de álcool e drogas e especialmente adolescentes viciados em crack.

Atualmente estão previstos três tipos de internação: voluntária, involuntária e compulsória. A


primeira pode ocorrer quando o tratamento intensivo é imprescindível e, nesse caso, a pessoa
aceita ser conduzida ao hospital geral por um período de curta duração. A decisão é tomada de
acordo com a vontade do paciente. No caso da involuntária, ela é mais frequente em caso de
surto ou agressividade exagerada, quando o paciente precisa ser contido, às vezes até com
camisa de força. Nas duas situações é obrigatório o laudo médico corroborando a solicitação,
que pode ser feita pela família ou por uma instituição. Há ainda a internação compulsória, que
tem como diferencial a avaliação de um juiz, usada nos casos em que a pessoa esteja correndo
risco de morte devido ao uso de drogas ou de transtornos mentais. Essa ação, usada como
último recurso, ocorre mesmo contra a vontade do paciente (LOCCOMAN, 2012).

Trata-se, de fato, nos dizeres de (CARDOSO, 2001) de tema verdadeiramente complexo,


tanto pelas causas, bem como pelas consequências (especialmente sociais e médicas).
Qualquer estudo a respeito de Internações compulsórias deve, portanto, exigir profunda
seriedade, ampla disponibilidade racional e mesmo espiritual, aguda sensibilidade e sentido
crítico, de forma a evitar a demagogia por um lado e o reducionismo pelo outro. Constata-se
que o mal estar nos espaços urbanos tem crescido de forma alarmante nos últimos anos no que
se refere ao problema do uso de álcool e drogas, desestruturando as pessoas com esses vícios,
a família e consequentemente a sociedade. O país vê crescer todos os dias as ruínas morais,
sociais e médicas que o fenômeno “drogas - álcool” provoca.

A sociedade tem um compromisso tanto ético, moral, quanto legal de proteger suas gerações
futuras. Adolescentes em contato com o mundo das drogas têm sido temas de manchetes,
discussões, realidade no convívio familiar e nos últimos anos, objetos de ações no Judiciário.

42
Como medida de proteção de suas próprias vidas e de terceiros têm sido internados
compulsoriamente.

Conquistar e manter o desenvolvimento sustentável significa construir sociedades que


satisfaçam suas aspirações e necessidades no presente, sem diminuir as chances de iguais
privilégios para as gerações futuras. O desenvolvimento sustentável se resume como o
processo político, participativo que integra a sustentabilidade econômica, ambiental, espacial,
social e cultural, sejam elas coletivas ou individuais, tendo em vista o alcance da manutenção
da qualidade de vida, seja nos momentos de disponibilização de recursos, seja nos períodos de
escassez, tendo como perspectivas a cooperação e a solidariedade entre os povos e as
gerações. A prevenção do uso de drogas é uma ação que contribui para a sustentabilidade do
país, pois atua na construção do autodesenvolvimento e da autoconfiança, construindo novas
práticas e valores individuais, grupais e coletivos (MASSAL e BACCELAR, 2010). Diante
desse contexto, o objetivo dessa pesquisa é descobrir quais os gastos com as internações
compulsórias dos adolescentes viciados em drogas no Município de Espírito Santo do Pinhal -
SP e traçar reflexões sobre o direito à saúde e o papel do judiciário.

2.5 Financiamento das ações e serviços de saúde

Norma Operacional Básica (NOB/96), Portaria nº. 2.203, publicada no Diário Oficial da
União, de 6 de novembro de 1996.

2.5.1 Finalidade

A presente Norma Operacional Básica tem por finalidade primordial promover e consolidar o
pleno exercício, por parte do poder público municipal e do Distrito Federal, da função de
gestor da atenção à saúde dos seus munícipes (Artigo 30, incisos V e VII, e Artigo 32,
Parágrafo 1º, da Constituição Federal, 1988), com a consequente redefinição das
responsabilidades dos Estados, do Distrito Federal e da União, avançando na consolidação
dos princípios do SUS.

43
Esse exercício, viabilizado com a imprescindível cooperação técnica e financeira dos poderes
públicos estadual e federal, compreende, portanto, não só a responsabilidade por algum tipo
de prestação de serviços de saúde (Artigo 30, inciso VII, Constituição Federal), como, da
mesma forma, a responsabilidade pela gestão de um sistema que atenda, com integralidade, à
demanda das pessoas pela assistência à saúde e às exigências sanitárias ambientais (Artigo 30,
inciso V, Constituição Federal, 1988).

Busca-se, dessa forma, a plena responsabilidade do poder público municipal. Assim, esse
poder se responsabiliza como também pode ser responsabilizado, ainda que não isoladamente.
Os poderes públicos estadual e federal são sempre corresponsáveis, na respectiva competência
ou na ausência da função municipal (inciso II do Artigo 23, da Constituição Federal). Essa
responsabilidade, no entanto, não exclui o papel da família, da comunidade e dos próprios
indivíduos, na promoção, proteção e recuperação da saúde.

Isso implica aperfeiçoar a gestão dos serviços de saúde no país e a própria organização do
Sistema, visto que o Município passa a ser, de fato, o responsável imediato pelo atendimento
das necessidades e demandas de saúde do seu povo e das exigências de intervenções
saneadoras em seu território.

Ao tempo em que aperfeiçoa a gestão do SUS (Sistema Único da Saúde), esta NOB (Norma
Operacional Básica, 1996) aponta para uma reordenação do modelo de atenção à saúde.

2.5.2 Responsabilidades

O financiamento do SUS é de responsabilidade das três esferas de governo e cada uma deve
assegurar o aporte regular de recursos, ao respectivo fundo de saúde.

Nas esferas estadual e municipal, além dos recursos oriundos do respectivo Tesouro, o
financiamento do SUS conta com recursos transferidos pela União aos Estados e pela União
e Estados aos Municípios. Esses recursos devem ser previstos no orçamento e identificados
nos fundos de saúde estadual e municipal como receita operacional proveniente da esfera
federal e ou estadual e utilizados na execução de ações previstas nos respectivos planos de
saúde e na PPI (Promoção Pactuada e Integrada) (CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE).

44
2.5.3 Teto financeiro da assistência do Município (TFAM)

É um montante que corresponde ao financiamento do conjunto das ações assistenciais


assumidas pela SMS. O TFAM é transferido, regular e automaticamente, do Fundo Nacional
ao Fundo Municipal de Saúde, de acordo com as condições de gestão estabelecidas por esta
NOB e destina-se ao custeio dos serviços localizados no território do Município
(CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE).

2.5.4 Bases para um novo modelo de atenção em saúde

A composição harmônica, integrada e modernizada do SUS visa, fundamentalmente, atingir


a dois propósitos essenciais à concretização dos ideais constitucionais e, portanto, do direito
à saúde, que são:

a. a consolidação de vínculos entre diferentes segmentos sociais e o SUS; e


b. a criação de condições elementares e fundamentais para a eficiência e a eficácia
gerenciais, com qualidade.

O primeiro propósito é possível porque, com a nova formulação dos sistemas municipais,
tanto os segmentos sociais, minimamente agregados entre si com sentimento comunitário -
os munícipes - quanto a instância de poder político-administrativo, historicamente
reconhecida e legitimada - o poder municipal - apropriam-se de um conjunto de serviços bem
definido, capaz de desenvolver uma programação de atividades publicamente pactuada. Com
isso, fica bem caracterizado o gestor responsável; as atividades são gerenciadas por pessoas
perfeitamente identificáveis; e os resultados mais facilmente usufruídos pela população
(CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE).

O segundo propósito é factível, na medida em que estão perfeitamente identificados os


elementos críticos essenciais a uma gestão eficiente e a uma produção eficaz, a saber:

a. a clientela que, direta e imediatamente, usufrui dos serviços;


b. o conjunto organizado dos estabelecimentos produtores desses serviços; e
c. a programação pactuada, com a correspondente orçamentação participativa.

45
O SUS com a consolidação da Reforma Psiquiátrica no Brasil, foi palco de transformações
significativas nas políticas de saúde e nas ações relacionadas à saúde mental, com a ênfase da
desospitalização da assistência, privilegiando a criação de serviços substitutivos ao hospital
psiquiátrico que passaram a compor a Rede de Atenção à Saúde Mental: CAPSs, (Centros de
Atendimento Psicossocial), leitos psiquiátricos em hospitais gerais, oficinas terapêuticas e
centros de convivência, respeitando-se as particularidades e a necessidade de cada local
(HIRDES, 2009; SALVATORI, p. 38, 2013).

Entretanto, apesar da política de saúde, através do SUS possuir propósitos dignos como os
acima citados, as internações psiquiátricas determinadas pelo Judiciário têm crescido
constantemente nos Municípios, gerando despesas não previamente programadas,
tratamentos (como os de internação) e não de prevenção, sem comprovação dos reais
resultados.

Se ao poder Judiciário importa a apuração dessa situação, à saúde pública mais ainda, pelo
fato de ser incompatível com os pressupostos da reforma psiquiátrica e da própria Política
para Atenção Integral ao Usuários de Álcool e outras drogas. Tal fenômeno merece uma
investigação científica que deslinde as representações dos juízes acerca dos casos que
chegam em suas mãos, haja vista que são eles que decidem sobre a internação compulsória
(SALVATORI, p. 38, 2013).

46
3 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

3.1 Método

3.1.1 Desenho de estudo

Tratou-se de estudo transversal retrospectivo, de caráter exploratório documental.

3.1.2 Tamanho da amostra

A pesquisa identificou 116 processos sobre internações compulsórias que envolveram o


Município e a Secretaria de Saúde Municipal. É conveniente esclarecer, que, o número dos
processos judiciais podem ser consultados no apêndice A. Esses números permitem a
localização no sítio eletrônico do Tribunal de Justiça de São Paulo, bem como qualquer
conferência atual e estudos que possam utilizar a mesma base de dados.

As ações de internações compulsórias foram distribuídas entre as 1ª e 2ª Varas Cíveis da


Comarca de Espírito Santo do Pinhal - SP e no Juizado Especial Cível, no período de 2009 a
2015. É possível afirmar que a pesquisa investigou a quase totalidade das ações judiciais
relacionadas às internações compulsórias em face dos adolescentes e adultos viciados em
drogas e/ou álcool existentes na base de dados do Departamento Jurídico do Município de
Espírito Santo do Pinhal - SP e Secretaria de Saúde Municipal, em que pese a possibilidade de
alguma ação não ter sido identificada pelo sistema de buscas e a exclusão das ações em
segredo de justiça.

3.1.3 Critério de inclusão

 Ações judiciais individuais ou coletivas pleiteando a internação compulsória como forma


de tratamento para os jovens usuários de drogas em que o requerido seja o Município de
Espírito Santo do Pinhal e ou sua Secretaria Municipal de Saúde.

47
3.1.4 Critério de exclusão

 Ações judiciais interpostas em face de outros entes da Federação (Estado ou União) e as


ações judiciais que estão sob o regime de segredo de Justiça.

3.1.5 Variáveis

Foram consideradas as seguintes variáveis de interesse:

3.1.5.1 Variáveis independentes

o Ações judiciais individuais ou coletivas interpostas e/ou sentenciadas pleiteando a


internação compulsória como forma de tratamento.

Em função da variável proposta, houve necessidade de apresentação de conceitos:

 Identificação das partes envolvidas na ação judicial.

 Autor/requerente: pode ser o próprio paciente (nos casos de internação compulsória são
representados por algum familiar: pai, mãe, irmãos ou avós).

 Ministério Público: órgão destinado à defesa de interesses indisponíveis do indivíduo e da


sociedade, bem como ao zelo de interesses sociais, coletivos ou difusos.

 Requerido: contra quem se ingressou com a ação judicial: Município de Espírito Santo do
Pinhal/Secretaria Municipal de Saúde.

 Tipos de ações existentes no Processo Civil:

 Conhecimento: é aquela em que a parte realiza afirmação de direito, demonstrando sua


pretensão de vê-lo reconhecido pelo poder judiciário, mediante a formulação de um

48
pedido, cuja solução será ou no sentido positivo ou no sentido negativo, conforme esse
pleito da parte seja resolvido por sentença de procedência ou de improcedência, que podem
ser classificadas como condenatórias, mandamentais, executivas lato sensu (WAMBIER,
ALMEIDA e TALAMINI, 2012).

 Execução: é a que serve de meio para a efetivação do provimento jurisdicional contido na


sentença proferida no processo de conhecimento de natureza condenatória (WAMBIER,
ALMEIDA e TALAMINI, 2012).

 Cautelar: é a que serve para preservar a realidade, proteger contra o risco de ineficácia o
resultado do processo (WAMBIER, ALMEIDA e TALAMINI, 2012).

 Ações condenatórias são aquelas em que o autor instaura processo de conhecimento


visando, além da declaração (que é a eficácia inicial da sentença), a uma condenação do
réu ao cumprimento de uma obrigação ativa ou omissiva (WAMBIER, ALMEIDA e
TALAMINI, 2012).

 Ações mandamentais: essas ações tem por objetivo a obtenção de sentença em que o juiz
emite uma ordem de autoridade, que, se não for especificamente cumprida por quem a
receba, implica em sujeição às sanções de tipo penal (WAMBIER, ALMEIDA e
TALAMINI, 2012).

Foram divididas em:

 Mandado de Segurança:

 Mandado de segurança individual - é um remédio constitucional, com natureza de ação


civil, posto à disposição de titulares de direito líquido e certo lesado ou ameaçado de lesão
por ato ou omissão de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de
atribuições do poder público. Como garantia individual está prevista na forma do artigo 5º,
LXIX, visa a amparar direito pessoal líquido e certo. Só o próprio titular desse direito tem
legitimidade (salvo substituição processual admitida) para impetrá-lo contra qualquer
autoridade pública ou contra agente de pessoa jurídica no exercício de suas atribuições

49
públicas, com o objetivo de corrigir ato ou omissão ilegal ou decorrente de abuso de poder
(SILVA, 2007).

 Mandado de Segurança Coletivo: Consta no artigo 5º, LXX. Seu conceito, assenta-se em
dois elementos: um institucional, caracterizado pela atribuição da legitimação processual a
instituições associativas para a defesa de interesses de seus membros ou associados; outro
consubstanciado no uso do remédio para a defesa de interesses coletivos (SILVA, 2007).

 Ações executivas lato sensu: são espécies de ação que contém um passo além daquilo que
a parte obtém com uma ação condenatória, ou seja, uma autorização para executar.

 Execução das ações de obrigação de fazer - é via de tutela para as pretensões a um fazer ou
não fazer, prevista no artigo 461, do Código de Processo Civil e abrange genericamente
todas as espécies de deveres que tenham por objeto a realização de uma atividade ou
abstenção de determinada conduta, neste tipo de ação o juiz expede o mandado executivo,
fixa o prazo de cumprimento e comina, ainda, multa que incidirá por dia de atraso. A multa
diária funciona como meio coercitivo para a concretização do mandado executivo
(mecanismos destinados a pressionar psicologicamente o devedor, a fim de que ele mesmo
faça a obrigação). Essa multa é conhecida como astreintes (WAMBIER, ALMEIDA e
TALAMINI, 2012).

Em todos os tipos de ações a ordem emanada pelo Juiz será deferida liminarmente em forma
de tutela antecipada ou em sentença.

 Tutela antecipada - É uma medida antecipatória que ocorre dentro da própria ação
principal, representa providências de natureza emergencial, executiva e sumária, o juiz só
irá deferi-la se restar convencido de que o quadro apresentado trará ao requerente dano
irreparável ou de difícil reparação, tem um caráter satisfativo provisório para o requerente,
pois é antecipado o provimento antes da sentença na ação (THEODORO JÚNIOR, 2007).

 Sentença - É o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos artigos 267 e 269
do Código de Processo Civil (CPC, 2013). A sentença, portanto, segundo Miranda (1974)
apud Theodoro Júnior (2007) é emitida como prestação do Estado, em virtude da obrigação

50
assumida na relação jurídica processual (processo), quando a parte ou as partes vierem a
juízo, isto é, assumirem a pretensão à tutela jurídica.

3.1.5.2 Variável dependente

 Despesa realizada pelo Município de Espírito Santo do Pinhal - SP, com as internações
compulsórias: o valor gasto com a internação compulsória do jovem dependente de drogas.
Organizado pelos anos de 2009, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014.

Em função da complexidade da variável proposta, foi necessária a subdivisão do conceito


para melhor entendimento:

a. Orçamento do Município de Espírito Santo do Pinhal - SP: o valor total da previsão das
receitas e despesas do Município de Espírito Santo do Pinhal - SP. Organizado pelos anos
de 2009, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014;

b. Orçamento do Departamento de Saúde: o valor total da previsão das receitas e despesas


do Departamento de Saúde do Município de Espírito Santo do Pinhal - SP. Organizado
pelos anos de 2009, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014;

c. Receita prevista para internações compulsórias no orçamento do Departamento de


Saúde: valores previstos dos recursos financeiros arrecadados para internação compulsória
a serem gastos pelo Departamento de Saúde do Município Espírito Santo do Pinhal - SP.
Organizado pelos anos de 2009, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014;

d. Origem dos recursos para cobrir as despesas efetivas com tratamento de internação
compulsória: de qual esfera governamental vem o recurso financeiro. Organizado pelos
anos de 2009, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014. Classificado em: recursos provenientes do
governo federal, recursos provenientes do governo estadual, recursos provenientes do
governo municipal.

51
e. Despesa gerada pela determinação do juiz: gasto gerado para atender à determinação
judicial emergencial. Classificada em: valor (em reais) e forma de internação local ou em
outra cidade (clínicas particulares).

3.2 Material

O objeto de estudo foi composto por:

Cópias dos processos judiciais referentes às ações movidas por indivíduos em face do
Município de Espírito Santo do Pinhal - SP ou em face da Secretaria de Saúde de Espírito
Santo do Pinhal - SP nos exercícios de 2009, 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014. Essas cópias de
processos judiciais se encontram no Departamento Jurídico da Prefeitura Municipal. São
cinco procuradores municipais, sendo que as ações judiciais de internações compulsórias são
distribuídas entre dois deles.

Os processos judiciais extintos e arquivados estão guardados em um arquivo físico por


número e nome do autor e cadastrado em um arquivo digital.

Os processos judiciais de internação compulsórias são cadastrados no Departamento Jurídico


e estão armazenados em arquivos, identificados como processos cíveis, são armazenados
também em arquivos eletrônicos em sequência lógica de entrada de ações que envolvem o
Município e em pastas (físicas) de cor rosa, em ordem numérica e também por nomes,
respeitada a sequência de entrada das ações e guardados em prateleiras no Departamento
Jurídico da Prefeitura Municipal.

Os orçamentos encontram-se na própria Secretaria Municipal de Saúde, o órgão encarregado


da elaboração do orçamento.

52
3.3 Técnica

3.3.1 Coleta de dados

Foram construídos dois instrumentos “APÊNDICES A e B” 2014) visando a obtenção das


informações que foram perseguidas. Os dados foram coletados por meio de instrumento
semiestruturado, contendo 40 questões, fechadas. O instrumento foi dividido em três
dimensões, de forma a buscar responder os objetivos específicos:

I - elementos principais do processo;


II - elementos médico-científicos;
III - elementos financeiros.

Um dos instrumentos foi elaborado de acordo com as especificidades das ações/processos, o


outro para aquisição de dados do orçamento da secretaria de saúde Municipal.

Desse modo, abrangeram variáveis relativas ao tipo de ação, caracterização do demandante,


sexo do sujeito afetado pela decisão, tempo para cumprimento da decisão, existência de
relatório médico, antecipação de tutela e, no outro instrumento; orçamento, receita
orçamentária para internação e despesas e origem dos recursos a cada ano.

Foi acrescentada variável como: Atendimento anterior, número de atendimentos,


encaminhamento para outras atividades, acompanhamento do tratamento de internação
cadastramento interno para controle.

A pesquisa foi realizada nos arquivos físicos e eletrônicos do Departamento Jurídico e da


Secretaria de Saúde da Prefeitura Municipal da cidade de Espírito Santo do Pinhal - SP,
prioritariamente na sala onde ficam as prateleiras com as pastas rosas inscritas como - Ações
Cíveis - Internação Judicial. Nessa área encontram-se arquivadas as pastas que contêm as
peças dos processos judiciais em que o Município de Espírito Santo do Pinhal - SP, foi citado
como corresponsável pelo provimento do bem, diga-se internar (realizar as internações
compulsórias) requerido pelos pacientes ou pelo próprio Ministério Público em juízo. O
levantamento dos dados em pastas foi feito em duas fases:

53
 A primeira fonte de pesquisa foi no arquivo eletrônico do Departamento Jurídico, onde
estão registrados o número da ação, tipo de ação e os dados do demandante e demais
documentos do processo. As palavras-chaves de busca para a pesquisa eletrônica foram:
ações cíveis e internações judiciais. Em seguida houve a busca dos dados nas pastas
(físicas) para obtenção dos documentos relacionados com cada ação de internação
compulsória (documentos processuais);

 A segunda fonte foi a Secretaria Municipal de Saúde, que cumpre a determinação judicial
(liminar e/ou sentença) de realizar as internações compulsórias em hospitais públicos ou
particulares. Ainda na Secretaria Municipal de Saúde foi realizada consulta aos dados
orçamentários.

A autorização formal para a pesquisa encontra-se no ANEXO A.

54
4 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

Os documentos coletados nos processos judiciais são de domínio público.

É importante mencionar que a pesquisa respeitou as diretrizes da resolução 466/2012 do


Conselho Nacional de Saúde e foram garantidas a privacidade e a confidencialidade dos
nomes dos internados das ações judiciais, bem como qualquer dado que possa relacioná-los a
estado e situações de saúde particulares.

55
5 RESULTADOS

A seguir, apresenta-se os resultados do estudo das ações de internações compulsórias que


foram distribuídas entre as 1ª e 2ª Varas Cíveis da Comarca de Espírito Santo do Pinhal - SP e
no Juizado Especial Cível, no período de 2009 a 2015.

5.1 Elementos principais dos processos

5.1.1 Distribuição das ações judiciais analisadas

O estudo identificou das 116 ações, que 99 possuíam os dados que interessavam por completo
ao estudo, distribuídas na Comarca de Espírito Santo do Pinhal - SP; dessas, 41 foram da 1ª
Vara Cível, 54 da 2ª Vara Cível e somente quatro ações do Juizado Especial Cível. A Tabela 1
enumera as Varas envolvidas, o número de ações distribuídas em cada uma delas e o ano
inicial da ação.

Quanto ao período de coleta de dados apesar de disponíveis desde 2009, foram identificadas
decisões sobre a temática investigada somente a partir do ano 2010 e em relação a 2015 os
processos encontram-se em andamento, sem finalização no período coletado.

56
TABELA 1: Distribuição no espaço e no tempo das ações judiciais (n=99) relativas a
internação compulsória determinadas pela Justiça local em face do Município de
Espírito Santo do Pinhal - SP e Secretaria de Saúde.
Variáveis n %

1ª Vara 41 40,59%
2ª Vara 54 53,46%
Juizado Especial 04 3,96%

Ano inicial da ação


2015* 14 13,86%
2014 43 42,57%
2013 31 30,64%
2012 21 20,79%
2011 02 1,98%
2010 02 1,98%

* Número de ações distribuídas sem outros dados.


FONTE: Base de dados do Departamento Jurídico do Município de Espírito Santo do Pinhal - SP e Secretaria de
Saúde Municipal.

5.1.2 Identificação da natureza da ação

O estudo procurou identificar a natureza da ação, detectando somente dois tipos de ações,
sendo elas: Ação de Obrigação de Fazer e Ação Civil Pública e se houve ou não a concessão
de antecipação de tutela. A Tabela 2 apresenta a quantidade e o tipo de ação judicial
interposta.

TABELA 2: Demandas judiciais e concessão de tutela antecipada nas ações (n=99)


proferidas pela justiça local de Espírito Santo do Pinhal - SP relativas ao ano de 2009 a
2015.
Variáveis n %

Natureza das ações

Obrigação de fazer 98 97,02%


Ação Civil Pública 01 0,99%

FONTE: Base de dados do Departamento Jurídico do Município de Espírito Santo do Pinhal - SP e Secretaria de
Saúde Municipal.

57
5.1.3 Demandas judiciais e antecipação de tutela

O estudo classificou as demandas judiciais de internação compulsória em que foram


concedidas antecipação de tutela para a internação (mandando internar), determinando ao
Município ou Secretaria de Saúde o tempo para cumprimento. A tabela 3 demonstra a
quantidade de ações judiciais que tiveram ou não a concessão de antecipação de tutela.

TABELA 3: Demandas judiciais que tiveram antecipação de tutela relativas à internação


compulsória (n=99), relativos aos processos dos anos de 2009 a 2015.
Variáveis n %

Antecipação de tutela

Concedida 70 69,30%
Não concedida 24 23,72%
Não solicitada ou não informada 05 4,95%

FONTE: Base de dados do Departamento Jurídico do Município de Espírito Santo do Pinhal - SP e Secretaria de
Saúde Municipal.

5.1.4 Posição das partes

O estudo procurou detalhar o gênero das partes interessadas no processo, identificando-as.


Dentre os interessados estão os familiares da pessoa a ser internada, a Prefeitura Municipal, a
Secretaria de Saúde, o Ministério Público, o próprio internado, o juízo. O beneficiado pelo
tratamento de internação é aqui identificado como a pessoa para quem se pede a internação. O
juízo corresponde à pessoa do Juiz. Outros interessados são pessoas, tais como; mãe, irmãos,
esposa, ou seja, pessoas que têm relação direta com o sujeito para quem a internação foi
solicitada.

Embora não fosse o objetivo deste trabalho, o estudo procurou caracterizar o perfil da pessoa
que estava solicitando a internação compulsória no processo judicial. A maioria das pessoas
solicitantes eram mulheres; mães, esposas ou companheiras. Quanto à pessoa afetada pela
internação, a maior parte eram homens. A tabela 4 descreve o gênero dos solicitantes da
internação, o sujeito afetado e a natureza do autor da ação.

58
TABELA 4: Gênero da parte interessada na internação (n=99) relativas à internação
compulsória entre os anos de 2009 a 2015.
Variáveis n %

Solicitante

Sexo feminino 77 76,23%


Sexo masculino 12 11,88%

Sujeito afetado pela internação

Sexo feminino 21 20,79%


Sexo masculino 78 77,22%

Natureza do autor da ação

Particular (familiar) 89 88,11%


Ministério Público 10 9,90%

FONTE: Base de dados do Departamento Jurídico do Município de Espírito Santo do Pinhal - SP e Secretaria de
Saúde Municipal.

5.1.5 Tempo para cumprimento da internação

O estudo apontou que as ações judiciais em que tiveram antecipação da tutela determinando a
internação liminarmente, estabeleceram prazos bastante curtos para cumprimento da decisão,
que variaram entre horas e dias; sendo que em 28 processos as internações eram para serem
cumpridas em 48 horas, 18 processos em cinco dias, um processo em dez dias, e o restante
dos 52 processos, estabeleceram outros prazos.

Em todas as antecipações de tutela concedidas, foram estabelecidas multas diárias


(conhecidas no mundo processual como “astreintes”) contra o Município ou a Secretaria de
Saúde Municipal (réus no processo), em caso de descumprimento, por eles, da ordem judicial
que determinava a internação compulsória no prazo.

59
5.1.6 Ano da Sentença e resultado das sentenças

Foram prolatadas cinco sentenças no ano de 2012; 17 em 2013; 33 em 2014 e 12 em 2015; 32


processos de anos variados, ainda aguardavam sentença no período da coleta. Quanto aos
resultados das sentenças, constatou-se que 34 ações tiveram julgamento procedente, três
apenas improcedentes, pois entendeu o Juízo que não havia necessidade da internação; houve
ainda, desistência ou abandono em 12 ações e 13 foram extintas sem julgamento do mérito,
por perda do objeto: falecimento da parte e casos de ausência de citação (a parte que seria
internada não foi encontrada).

Cabe destacar que para toda ação judicial há que se dar um valor à causa, sendo certo que o
valor comum encontrado foi de R$ 1.000,00 (um mil reais), com exceção da única Ação Civil
Pública, cujo autor foi o Ministério Público, para internação de adolescentes, onde deu-se à
causa o valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

5.1.7 Réus no processo

O Município foi o réu em 90 (89,1%) ações. A Secretaria de Saúde ré em cinco (4,95%)


processos e, em quatro, (3,96%) os dois em conjunto.

Da leitura das justificativas que fundamentaram as antecipações de tutela nessas ações ou


fundamentaram as sentenças, verificou-se em 100% delas é citado o artigo 196 da
Constituição Federal, considerando a saúde um direito de todos e dever do Estado.

5.1.8 Gratuidade da justiça

A gratuidade da justiça foi concedida em 82 processos (81,18%) sendo que os advogados


eram da Assistência Judiciária Gratuita (Convênio da OAB/SP com a DPE) e em apenas três
(2,97%) ações não foram concedidas.

60
5.1.9 Representação judicial do autor da ação

Em oito (7,92%) ações os autores possuíam advogado particular, em dez (9,9%) ações o autor
foi o Ministério Público. Nos demais processos, os autores possuíam advogados da assistência
judiciária gratuita.

5.2 Elementos médicos científicos

A origem da prescrição, 57,42% solicitando a internação foi na sua maioria feita pelo próprio
serviço público, e apenas 8,91% foi feita pelo serviço privado (médico particular). O estudo
descobriu que 68 ações, ou seja, 67,32% possuíam relatório médico, e 23 (22,77%) não.

O estudo verificou os tipos de drogas mais utilizados pelas pessoas. Em grande parte das
ações foi possível conhecer as principais causas das solicitações de internação compulsória
levadas à Justiça, quais sejam: abuso do uso de álcool, (associado ou não, a outras drogas),
uso de crack, cocaína, maconha, uso de múltiplas drogas, inclusive cola. Há relatos nos
pedidos de internação, em grande parte dos processos, de que por causa do uso e dependência
dessas drogas, a pessoa tornou-se violenta ou agressiva, colocando em risco a sua própria vida
e a dos outros. A tabela 5 demonstra as drogas mais usadas pelas pessoas a serem internadas.

TABELA 5: Situação de saúde - Tipo de dependência citadas nas ações (n=99) relativos à
internação compulsória 2009-2015.
Situações da saúde /Dependência n %

Dependência de múltiplas drogas * 59 58,41%


Crack 31 30,69%
Álcool e múltiplas drogas (inclusive cola) 22 21,78%
Maconha 21 20,79%
Cocaína 19 18,81%
Álcool 18 17,82%

FONTE: Base de dados do Departamento Jurídico do Município de Espírito Santo do Pinhal - SP e Secretaria de
Saúde Municipal.

Dentre as internações realizadas, 58 foram feitas pelo Sistema único de Saúde (SUS), 36 dos
internados foram atendidos no Centro de Atendimento Psicosssocial (CAPS) após a

61
Internação, destacando-se que apenas uma paciente foi internada mais de uma vez e seu
estado era de gestante.

A droga mais utilizada pelas pessoas (adultos e adolescentes) a serem internadas é o crack
(30,69%), sendo que depois do Crack, há o consumo de álcool (21,78%) associado ao uso de
outras drogas variadas (cocaína, maconha e cola) seguido da maconha (20,79%), cocaína
(18,81%) e somente álcool (17,82%).

5.2.1 Elementos médicos científicos - Atendimentos no CAPS - Centro de Atendimento


Psicossocial - Atendimentos após a desinternação

No período de 2009 a 2015 foram identificados no próprio CAPS que 42 adultos tiveram após
a desinternação de um a cinco atendimentos para continuidade do tratamento para se livrar da
dependência das drogas.

Ainda em relação aos adultos, 15 deles tiveram de 6 a 15 atendimentos posteriores à


internação e acima de 30 atendimentos; apenas dois pacientes adultos, demonstrando que
existem atendimentos depois do período da desinternação.

Outro dado interessante encontrado na pesquisa, ainda em relação aos elementos fornecidos
pela Secretaria de Saúde, onde o CAPS é vinculado, que apenas quatro adultos foram
encaminhados para outras atividades. As atividades foram: Grupos de Psicoterapia, Terapia
Individual, Oficina terapêutica, Oficina de expressão.

Os adultos são internados no Instituto Dr. Bezerra de Menezes, que possui leitos pelo SUS.
Outro elemento encontrado é de que não houve acompanhamento pelo Município durante o
tratamento da internação dos adultos. A tabela 6 aponta o número de atendimentos para os
adultos realizados no CAPS.

62
TABELA 6: Número de atendimento de adultos no CAPS.
Atendimento CAPS - Adultos n=50 %

De 1 a 5 42 41,58%
De 6 a 15 15 14,85%
De 16 a 30 0 -
Acima de 30 2 1,98%

FONTE: Base de dados do Departamento Jurídico do Município de Espírito Santo do Pinhal - SP e Secretaria de
Saúde Municipal.

5.2.2 Das internações compulsórias dos adolescentes

A pesquisa descobriu que em relação aos adolescentes, todos os 50 foram incluídos na mesma
Ação Civil Pública, proposta pelo Ministério Público da Comarca de Espírito Santo do Pinhal
- SP; 37 eram meninos e apenas 17 meninas. Todos, ou seja, 100% dos jovens foram
internados em clínica particular contratada e pagas pelo Município de Espírito Santo do
Pinhal.

A clínica que prestava o serviço no início da pesquisa situava-se na cidade de Arthur


Nogueira - SP. No final da pesquisa, o Município realizou contratação (para atender a
demanda judicial) com outra clínica particular na cidade de Descalvado.

Os jovens após a desinternação foram atendidos no início da pesquisa no CAPS I (Centro de


Atendimento Psicossocial). Depois de dezembro de 2014, com a inauguração do CAPS AD
(Álcool e Drogas), os atendimentos passaram a ser realizados nessa nova Unidade, que até
então, não existia. Houve variação apenas em relação à quantidade de atendimentos para cada
um deles conforme diagnóstico e necessidade individual, chamado de Projeto Terapêutico
Singular, para cada paciente, nas modalidades (intensivo, não intensivo e de Crises). A Tabela
7 enumera os atendimentos realizados para os adolescentes no CAPS.

63
TABELA 7: Atendimentos no CAPS para adolescentes pacientes de Internação
compulsória (n=50).
Atendimento CAPS - Adolescentes n %

De 1 a 5 23 11,5%
De 6 a 15 19 9,5%
De 16 a 30 7 3,5%
Acima de 30* 1 0,5%

*Apenas um adolescente foi atendido 34 vezes.


FONTE: Base de dados do Departamento Jurídico do Município de Espírito Santo do Pinhal - SP e Secretaria de
Saúde Municipal.

Todos os adolescentes (100%) tiveram acompanhamento durante todo tratamento de


internação, e todos possuem um cadastro interno para controle do tratamento após a
desinternação. A partir de 2014 esses jovens passaram a ser atendidos pelo CAPS AD,
inaugurado no final de dezembro na cidade de Espírito Santo do Pinhal - SP.

A pesquisa mostrou que os adolescentes são internados em clínica particular contratada pelo
Município para esse fim, sendo que o período de internação é de 06 meses e que a
desinternação deve ser obrigatoriamente comunicada ao Juiz.

Durante o período da pesquisa houve dois óbitos de adolescentes que faziam parte dos
processos em estudo.

5.3 Elementos financeiros do Município de Espírito Santo do Pinhal - SP

O estudo verificou que houve um crescimento ano a ano na receita orçamentária arrecadada
no ano de 2009 até 2014, e que no orçamento da Secretaria de Saúde levando em
consideração somente as fontes Estaduais e Federais, obteve-se também aumento crescente
entre os anos de 2009 até 2014.

64
5.3.1 Orçamento do Município - (Receita orçamentária arrecadada)*

2009 – R$ 50.876.145,20
2010 – R$ 60.879.872,16
2011 – R$ 69.501.049,26
2012 – R$ 72.313.885,52
2013 – R$ 78.076.192,97
2014 – R$ 88.230.158,43

* FONTE: Secretaria Municipal de Saúde.

5.3.2 Orçamento da Secretaria de Saúde - (Somente fontes estaduais e federais)*

2009 – R$ 4.050.284,89
2010 – R$ 4.070.821,96
2011 – R$ 5.175.390,69
2012 – R$ 5.275.668,44
2013 – R$ 6.472.853,79
2014 – R$ 7.663.121,28

* FONTE: Secretaria Municipal de Saúde.

5.3.3 Gastos efetivos com as internações compulsórias

A pesquisa possibilitou conhecer que foram transferidos Recursos Federais para o Município
(Receita orçamentária para tratamentos com internação da Secretaria de Saúde) no ano de
2009 no valor de R$ 32.724,00, mas, a despesa efetiva com as internações compulsórias em
2009 foi de apenas R$ 10.500,00.

Em 2010 a Receita orçamentária para tratamentos com internação da Secretaria de Saúde


advindos de Recursos Federais foi de R$ 29.997,00, mas, o gasto efetivo com as internações
compulsórias em 2010 foi de R$ 67.500,00, ou seja, mais que o dobro da receita.

65
A Receita orçamentária para tratamentos com internação da Secretaria de Saúde no ano de
2011 foi de R$ 32.724,00 em Recursos Federais e a despesa efetiva Municipal com
internações compulsórias foi de R$ 88.500,00, ou seja, em relação a 2009 quase triplicou o
gasto em relação à receita para esse fim.

No ano de 2012 a Receita orçamentária para tratamentos de internação da Secretaria de Saúde


foi de R$ 40.224,00 também em recursos Federais, e a despesa efetiva com internações
compulsórias foi de R$ 124.500,00. Assim o estudo mostrou ter sido o ano em que mais se
gastou com internações compulsórias determinadas pela Justiça local e que os recursos
federais recebidos nesse ano, foi três vezes menor do que o efetivo gasto. Constata-se que esse
foi o ano com mais gastos com internações compulsórias dentro do período coletado. O
estudo demonstrou que apesar do repasse de recursos federais para esse fim ter sido o maior
no ano de 2012, ainda assim, ficou aquém da necessidade em quase três vezes, ou seja, o valor
repassado daria para cobrir 1/3 das despesas ocorridas com internações.

Em 2012, foi também, o ano em que o Ministério Público ingressou com a Ação Civil Pública
para internação inicial de 16 adolescentes. Estas internações, como já dito, são realizadas em
uma clínica particular especificamente contratada pela Secretaria de Saúde para realizar os
tratamentos determinados judicialmente.

Os Recursos Federais transferidos não são específicos para o tratamento das internações dos
adolescentes. São recursos transferidos do Fundo Nacional de Saúde ao Fundo de Saúde do
Município, conforme a Programação Pactuada e Integrada, esse bloco é constituído por dois
componentes, sendo um deles o Componente Limite Financeiro da Média e Alta
Complexidade Ambulatorial e Hospitalar – MAC.

Apurou-se junto à Secretaria de Saúde que as internações dos adolescentes foram todas feitas
fora da Comarca de Pinhal em uma clínica particular, inicialmente no Município de Arthur
Nogueira e atualmente no Município de Descalvado, cujo custo mensal por adolescente
internado em 2014 era de R$ 1.700,00 (um mil e setecentos reais), havendo rotatividade de
internações, um sai outro entra no lugar.

Em 2015 o custo mensal por adolescente nesta clínica particular é de R$ 1.495,00 (um mil,
quatrocentos e noventa e cinco reais).

66
Importante destacar que nos processos, liminarmente, quando o Juiz determina a internação
pelo Município, já estabelece também, uma multa diária, que pode variar entre R$ 100,00 a
R$ 50.000,00, se não houver o cumprimento da ordem dentro do prazo estabelecido, podendo,
ainda, o gestor responder por crime de desobediência, se caracterizado o descumprimento.

A pesquisa demonstrou que, ainda que os gastos com internações em 2013 tenham sido um
pouco menores do que em 2012, ainda, assim, foram crescentes em relação aos anos de 2009,
2010, 2011; sendo a Receita orçamentária da Secretaria de Saúde em 2013 de R$ 32.724,00
em Recursos Federais e a despesa efetiva com internações compulsórias, R$ 103.200,00.

A Receita orçamentária para tratamentos com internação da Secretaria de Saúde no ano de


2014 foi R$ 32.724,00 em Recursos Federais, valor repassado, idêntico aos repasses dos anos
de 2009, 2011 e 2013, porém o gasto efetivo com as internações no ano de 2014 foi de R$
56.100,00. O estudo observou que ainda que o gasto efetivo tenha sido menor em relação aos
anos anteriores, mesmo assim o valor repassado, ficou duas vezes menor do que a necessidade
e não cobriu as despesas efetivas.

Por fim, o estudo deixou claro que as internações compulsórias foram crescendo ano a ano,
houve repasses federais também ano a ano. Os repasses não conseguiram cobrir os gastos
efetivos com as internações, exceto no ano 2009, início do período coletado.

Apesar de em 2014 o gasto efetivo ter diminuído em relação aos anos de 2010, 2011, 2012 e
2013, o repasse federal não foi suficiente. Os gastos efetivos em todos os anos, exceto 2009,
necessitaram de recursos municipais. Os recursos Municipais investidos foram maiores do
que os recursos federais recebidos. Não houve, em nenhum dos anos do período coletado,
transferências de recursos estaduais.

67
6 DISCUSSÃO

As despesas que envolvem os serviços de saúde são de elevada monta, situação encontrada no
orçamento da Secretaria de Saúde Municipal, que de R$ 4.050.284,89 em 2009 passou para
R$ 7.663.121,28 em 2014, praticamente dobrou.

Massaú e Bainy (2014) apontam que os gastos e o orçamento Municipal mostram que o
orçamento deve ser fortalecido no que se refere à Saúde.

A consequência disso é que a prestação - que inicialmente deveria se dar apenas no âmbito
administrativo - é judicializada: recorre-se ao Judiciário para conseguir o devido acesso aos
serviços de saúde, dados encontrados na Comarca de Pelotas, conforme Massaú e Bainy
(2014) onde os pedidos de internações ficaram em quarto lugar na Saúde.

A progressiva constitucionalização que os direitos sociais passaram na década de 1980,


associada aos desafios de implementar efetivamente o direito à saúde por parte do Estado, fez
com que tais direitos fossem cada vez mais submetidos ao crivo das instituições jurídicas para
sua efetivação, levando o judiciário a determinar medidas que só restam à administração
cumprir (CNJ, 2015).

A judicialização do direito à saúde, mais especificamente, tem se direcionado a diversos


serviços públicos e privados, tais como o fornecimento de medicamentos, a disponibilização
de exames e a cobertura de tratamentos para doenças. Dentre esses serviços, surgiu a
internação compulsória para tratamento de pessoas dependentes de drogas. Não é difícil
observar em qualquer governo no Brasil a existência de ações judiciais que buscam o
deferimento de pedidos sobre estes e outros assuntos. O resultado deste processo é a
intensificação do protagonismo do Judiciário na efetivação da saúde e uma presença cada vez
mais constante deste Poder no cotidiano da gestão em saúde. Seja em uma pequena comarca
ou no plenário do STF, cada vez mais o Judiciário tem sido chamado a decidir sobre
demandas de saúde, o que o alçou a ator privilegiado e que deve ser considerado quando o
assunto é política de saúde (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2015).

As internações compulsórias pelo uso abusivo de álcool e outras drogas configuram um


cenário recente, em particular nos grandes centros urbanos, nesse sentido Braga e D’Oliveira

68
(2015), fenômeno que vem ocorrendo nos últimos tempos em pequenos Municípios também,
como em Espírito Santo do Pinhal - SP. Pois bem, segundo Sousa (2012) o crack se destaca
entre as drogas que maior ruína traz para o usuário e que impõe maiores efeitos negativos para
a sociedade (OLIVEIRA; NAPPO, 2008).

A justificativa de uma internação compulsória, determinada por um juiz, sem que haja
concordância do paciente é justificada pela perda da autonomia do indivíduo devido à sua
doença, Barros e Serafin (2009), aqui associada ao consumo de álcool e drogas que levaram à
internação compulsória de vários adultos e jovens Pinhalenses, dados confirmados na região
(que compreende 25 municípios) de saúde de Piracicaba, onde número de internações
realizadas teve aumento não linear nos últimos cinco anos, nos hospitais psiquiátricos de
referência. Constatou-se que os gastos aumentaram, aproximadamente, 100% desde 2003,
principalmente nas cidades de Araras e Rio Claro (VINHA, 2011).

Ainda que haja uma programação normativa para a organização dos serviços que envolvem a
Administração Pública Municipal, principalmente para os serviços de saúde - SUS, bem
como, considerando a divisão que é de responsabilidade da União, Estado e Municípios,
(BRASIL, 1988) o direito à saúde não vem sendo considerado uma norma em que se pode
aguardar uma programação, Pepe et al. (2010) justamente por promover garantia de direito
fundamental, pois sem saúde compromete-se a própria vida (SILVA, 2007).

No que tange às internações compulsórias de natureza cível, como as que ocorrem em Pinhal
e observadas nas comarcas de Pelotas e de São Paulo, também decorrem de ordens judiciais
proferidas, em regra, após solicitação de algum familiar que não conseguiu que o Estado
espontaneamente prestasse o serviço, Taborda et al. (2014), seja por simples negativa
injustificada, seja por não disponibilizar o tratamento na rede pública de saúde. Neste último
caso, o Estado acabará sendo obrigado a custear o tratamento em algum estabelecimento da
rede médica privada (SOUSA, 2014). Ocorrência na prática encontrada em Espírito Santo do
Pinhal, visto que os jovens foram realmente internados em instituições privadas, não
localizadas no Município, com um custo atual de R$ 1.495,00 por mês, por adolescente.

Nota-se a encruzilhada em que se encontra o gestor Público Municipal, que não tem um
orçamento capaz de cobrir as demandas judiciais com serviços de saúde, incluindo-se as
internações compulsórias, dados encontrados também em Pelotas, conforme Massaú e Bainy

69
(2014), e a União e o Estado–membro devem, também, assumir com maior intensidade a
corresponsabilidade pelo aporte financeiro à saúde, quando o ente Municipal desembolsa para
além de seu orçamento a fim de atender a demanda.

Do montante das despesas municipais realizadas com recursos próprios na função saúde,
54,04% foram feitas pelos municípios da região sudeste, onde se encontra Pinhal
(BREMAEKER, 2012).

Segundo Bremaeker (2012), os Municípios que possuem população entre 20.000 a 50.000
habitantes, como é o caso de Pinhal, se posiciona em terceiro lugar no recebimento de
recursos transferidos para função saúde.

A quase totalidade dos recursos transferidos aos Municípios são provenientes do Governo
Federal, conforme Bremaeker (2012) dado confirmado nesta pesquisa.

A Constituição Brasileira amplia o conceito de saúde e as suas relações com o trabalho,


moradia e ambiente. Com a criação do SUS – conjunto de ações e serviços de saúde,
prestados por órgãos também municipais – a saúde passa a ser reconhecida como um direito
de cidadania e dever do Estado. Baseado nos princípios da universalidade, equidade e
integralidade (BRASIL, 1988) e nas diretrizes de descentralização, regionalização e
participação da comunidade, o SUS reafirma a saúde como um valor e um direito humano
fundamental, legitimado pela justiça social (FORTES, 2010).

Considerada uma norma de direito fundamental Pepe et al. (2010) deve ser aplicada direta,
imediata e de maneira integral, entendimento partilhado na prática pelo juízo da comarca de
Pinhal, justificando a medida de concessão de tutelas antecipadas, determinando ao Município
que providencie as internações das pessoas viciadas em álcool e drogas, dentre elas, muitos
adolescentes.

Com efeito, o Protocolo Adicional à Convenção Americana Sobre Direitos Humanos em


Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais - Protocolo de San Salvador, adotado em
São Salvador, El Salvador, em 17 de novembro de 1988, ratificado pela República Federativa
do Brasil em 21 de agosto de 1996, dispõe em seu artigo 10 sobre o Direito à Saúde,

70
destacando o seguinte: “Toda pessoa tem direito à saúde, entendida como o gozo do mais alto
bem-estar físico, mental e social”.

As pessoas, cuja internação foi determinada, não podem aguardar uma programação da
administração pública, sob pena de risco de vida, delas e dos que convivem com elas
(BRAGA e D’OLIVEIRA, 2015).

Nesse contexto, a garantia da internação compulsória está diretamente ligada à manutenção da


vida e da saúde, e, por esse motivo, embasou a representação de que a vida e a saúde são
direitos fundamentais decorrentes do respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana e
que devem ser garantidos pelo Estado, a despeito de questões orçamentárias e burocráticas.
Essa discussão sempre é norteada por alguns princípios de direito, com base especialmente no
princípio da dignidade da pessoa humana (SALVATORI, 2013). Uma ampliação decisiva dos
serviços de saúde pela via judicial, foi o reconhecimento do dever do Estado de concessão de
antirretrovirais para portadores de HIV/Aids (CNJ, 2015).

O Município de Espírito Santo do Pinhal - SP, desde 2009 até os dias atuais tem sido alvo da
Justiça local nas questões relativas à saúde, especificamente em relação às internações
compulsórias em face de pessoas acometidas por problemas associados ao uso de álcool e
drogas. Os agravos associados ao consumo de Crack, cocaína, maconha, cola, e álcool, são
problema ocorrido em todo o Estado de São Paulo (REUNIÃO DO COMITÊ EXECUTIVO
DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2011). Segundo a Confederação Nacional dos Municípios, o
efeito deletério do crack espalha-se por todo o território brasileiro, fato este apontado por
pesquisa realizada por aquela entidade, na qual se constatou que 98% dos municípios
enfrentam problemas ligados ao crack, sendo que o consumo da substância é considerado um
problema para 90,7% dos municípios (OBSERVATÓRIO DO CRACK, 2012).

As ações têm sido impetradas nas Varas Cíveis da Comarca de Pinhal e no juizado Especial.
Essas varas são de primeira instância, dados constatados também, pelos juízes integrantes do
COEXES (REUNIÃO DO COMITÊ EXECUTIVO DE SAÚDE DO ESTADO DE SÃO
PAULO, 2011, 2012).

71
A natureza das ações na Municipalidade é Obrigação de Fazer, apenas uma Ação Civil
Pública, movida pelo Ministério Público para internar inicialmente 16 adolescentes, e ao final
do estudo esse número chegou a 54 jovens. Dos sujeitos internados, a maioria eram homens.

A principal situação de saúde encontrada nas ações que motivaram o pedido judicial pela
internação compulsória, foi a dependência de drogas, sendo que, em mais da metade das ações
estava associada ou não ao uso de álcool. Nota-se essa ocorrência, também, na região de
Piracicaba onde os transtornos mentais e comportamentais, referentes ao uso de álcool e
outras drogas, representaram, desde 2003, a maior porcentagem do número total de
internações. Cidades como Araras, Analândia, Conchal, Engenheiro Coelho e Santa Maria da
Serra, tiveram significativo aumento por número de internações por habitantes.

Vale ressaltar que na cidade de Capivari, onde há leitos para internação em Hospital de
Referência em Álcool e Drogas, o aumento de gastos foi de aproximadamente, 400%
(VINHA, 2011).

O estudo procurou classificar as drogas mencionadas nas ações. A droga isolada mais citada
foi o crack. A dependência de álcool associado a outras drogas ocupou o segundo lugar, a
maconha terceiro lugar, seguida da cocaína. Dentre todas as internações por uso de
substâncias psicoativas na Região de Araras e Piracicaba, o consumo de álcool representa a
maior porcentagem (DATASUS, 2008).

O estudo descobriu que os relatórios médicos embasam as decisões; A ausência de relatório


médico é um dado que associado ao resultado da sentença, demonstram que a ação foi julgada
improcedente ou levou à desistência ou abandono do interessado. Nos termos do artigo 6º da
Lei nº. 10.216/01, a internação compulsória deve ser fundamentada em laudo médico. Como
na maioria das ações havia relatório médico, esse dado aponta uma grande concordância entre
a avaliação médica e a judicial (COEXES, 2012; SALVATORI, 2013; NOVAES, 2014).

Os sujeitos que mais solicitam a internação compulsória são os próprios familiares da pessoa
a ser internada por dependência de álcool e/ou drogas, a maioria são mulheres: esposas ou
mães, resultados encontrados também por Barros e Serafin (2009) e Salvatori (2013) e
apontados junto Ministério Público Estadual de Cuiabá, MPE – MT (2012) cujos pedidos de
internações compulsórias feitas pelos familiares aumentaram em 106% em relação ao período

72
anterior. Em todas as situações o estudo demonstra que o réu(s) das ações de internação
compulsória é o Município, apenas cinco processos tiveram no polo passivo a Secretaria de
Saúde, bem como em quatro processos eram os dois solidariamente, nesse sentido, Marques e
Dallari (2007); Borges e Ugá (2010).

Em nome do interesse coletivo o Ministério Público interpôs Ação Civil Pública para
internação dos adolescentes.

O dever dos entes estatais de disponibilizar adequado tratamento de saúde vem expresso no
artigo 23 da Constituição Federal, e é compartilhado pela União, pelos Estados e pelos
Municípios, sendo todos solidariamente responsáveis. Vejamos o texto legal: Art. 23. É
competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: (...).

A Emenda Constitucional nº. 29/2000, assegurou o financiamento das ações e serviços


públicos de saúde. Estabeleceu que as três esferas de governo aportem anualmente recursos
mínimos provenientes da aplicação de percentuais das receitas e determinando as suas bases
de cálculo (FNS, 2015). Os blocos de financiamento são constituídos por componentes, de
acordo com as especificidades de suas ações e os serviços de saúde pactuados (FUNDO
NACIONAL DE SAÚDE, 2015).

O recurso federal que compõe cada bloco de financiamento é transferido ao Município, fundo
a fundo, em conta única e específica, Fundo Nacional de Saúde (2015), assim o estudo
constatou que o Município de Pinhal, utiliza esse componente MAC (média e alta
complexidade) que deveria ser direcionado também para pagamentos de outras necessidades,
para cobrir somente os custos das internações compulsórias.

Em relação aos Municípios, ainda, há previsão expressa na Constituição da República de


atribuição e responsabilidade a prestação do atendimento à saúde. Diz o artigo 30, inciso VII,
que “Compete aos Municípios: (...) prestar, em cooperação técnica e financeira da União e do
Estado, serviços de atendimento à saúde da população” (CF, art. 30, VII).

Consagrando as ideias até aqui expostas, citamos os seguintes julgados:

73
Agravo internação compulsória para tratamento contra drogadição requerida pela
companheira do dependente. Município. Legitimidade passiva. 1. Em casos como o
dos autos, em que o dependente químico encontra-se em surto psicótico, é
responsabilidade do município assegurar-lhe o direito à vida e à saúde,
providenciando a internação compulsória em hospital psiquiátrico para tratamento
contra drogadição. 2. Manifesta improcedência do recurso que autoriza julgamento
monocrático. Art. 557 do CPC. Negado provimento em julgamento monocrático.
(Agravo de instrumento nº. 70020624540, sétima câmara cível, Tribunal de Justiça
do RX, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, julgado em 04/09/2007).

Agravo de instrumento. Estatuto da criança e do adolescente. Ação civil pública.


Internação compulsória. Tratamento para drogadição. Custeio da internação em
entidade privada. Responsabilidade solidária dos entes públicos. Direito à saúde
assegurado constitucionalmente. Desnecessidade de previsão orçamentária.
Ausência de violação do princípio da independência dos poderes. 1) O custeio de
tratamento em entidade privada para menor dependente químico constitui-se em
dever e, por tanto, responsabilidade do Estado in abstrato (CF, art. 23, II),
considerando-se a importância dos interesses protegidos, quais sejam, a vida e a
saúde (art. 196, CF). Desta forma, tem-se a competência comum dos entes
federativos, seja o Estado ou o Município, para assegurar tal direito. 2) Comprovada,
cabalmente, a necessidade de recebimento de assistência médico-hospitalar a
portador de dependência química, e que seus responsáveis não apresentam
condições financeiras de custeio, é devido o fornecimento pelo Município de Novo
Hamburgo, visto que a assistência à saúde é responsabilidade decorrente do art. 196
da Constituição Federal. 3) Não há falar em violação ao princípio da separação dos
poderes, porquanto ao Judiciário compete fazer cumprir as leis. 4) Tratando-se, a
saúde, de um direito social que figura entre os direitos e garantias fundamentais
previstos na Constituição Federal, impende cumpri-la independentemente de
previsão orçamentária específica. Recurso desprovido. (Agravo de Instrumento Nº.
70021804620, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José
Ataídes Siqueira Trindade, Julgado em 29/11/2007).

Doze estados norte-americanos, dentre eles a Califórnia, possuem leis específicas sobre a
internação compulsória ou involuntária. A Flórida, por exemplo, tem o Marchman Act, aprovado
em 1993. O Canadá tem legislação que permite o tratamento forçado de viciados em heroína. O
Heroin Treatment Act foi aprovado na província de British Columbia em 1978. A lei foi contestada
na Justiça, mas foi mantida posteriormente pela Suprema Corte.

A Austrália possui legislação que permite aos juízes condenar ao tratamento compulsório
dependentes de drogas que cometeram crimes. A Nova Zelândia também tem legislação que
permite à Justiça ou à família internar um dependente compulsoriamente.

A Suécia possui o Act on the Forced Treatment of Abusers, que permite a internação compulsória
de dependentes que representem risco para si próprios ou para terceiros; a lei é utilizada
principalmente para menores de idade (Portal do Governo do Estado e da Secretaria da Justiça e da
Defesa da Cidadania, 2011).

74
Em todas as ações de internação compulsória em Espírito Santo do Pinhal - SP, na prática, foi
envolvido o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), dado também encontrado em Barboza
(2014) o que demonstra sua importância na nova política da reforma psiquiátrica levando em
consideração a pessoa humana. O regulamento do SUS, instituído pela Portaria nº. 3088 de 23
de dezembro de 2011, traz diretrizes e normas reguladoras de prestação de assistência à saúde
mental, especialmente para aquelas pessoas com necessidades decorrentes do uso de crack,
álcool e outras drogas, Strasser e Santos (2014) encontraram dados idênticos apontados no
estudo. A consolidação da Reforma Psiquiátrica exige, simultaneamente, a desconstrução de
instituições de caráter asilar, com a redução gradual e programada dos leitos em Hospitais
Psiquiátricos, e a construção de serviços substitutivos, sendo os Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS) os dispositivos centrais (BRAGA e D’OLIVEIRA, 2015).

Em Espírito Santo do Pinhal - SP no início do fenômeno das internações compulsórias, não


havia ainda a figura do CAPS AD (álcool e drogas), central que foi inaugurada somente no
final de dezembro de 2014. Para cobertura da demanda inicial, ou seja, para cumprimento das
ordens emanadas do poder judiciário, a Secretaria de Saúde do Município foi instada a receber
apoio do CAPS, (que apesar de ser o modelo substitutivo ao hospital psiquiátrico) passou a
atender as determinações judiciais locais, encaminhando os pacientes adultos (via
acionamento da Central Reguladora de vagas - DSR 14), levando-os primeiramente para o PA
(pronto atendimento) em Hospital geral, para desintoxicação e após a abertura da vaga,
encaminhados ao Instituto Dr. Bezerra de Menezes, portador de leitos do SUS, para efetiva
internação. O tempo médio de internação de adultos viciados em drogas e/ou álcool é em
média de 45 dias.

Existem apenas 03 leitos para desintoxicação no Hospital local, cuja assistência é


ambulatorial (CAPS I).

Em relação aos adolescentes, o CAPS instado a apoiar no cumprimento das determinações


judiciais, encaminha-os diretamente a uma Clínica particular contratada/conveniada à
Secretaria de Saúde Municipal para esse exclusivo fim, localizada na cidade de Descalvado. O
tempo de internação de cada adolescente é de seis meses.

Em 2002, ocorreu um processo de agressiva redução dos leitos psiquiátricos inspirada na


política de desinstitucionalização de pessoas com longo histórico de internação. Com a

75
Reforma psiquiátrica que introduziu o CAPS entre outros, Strasser e Santos (2014) a ideia é
do atendimento direcionado ao paciente viciado, com a elaboração de um Projeto Terapêutico
Singular, aliado à presença da família, com objetivo de reinserção social.

Na contramão da proposta trazida pela reforma, os pacientes pinhalenses chegam através de


uma decisão judicial fundamentada em laudo médico, ressaltando que esse laudo tem sua
prescrição proveniente do próprio serviço público (57,42%), sendo então o CAPS instado a
realizar a internação e somente após a desinternação enveredar para “cuidar” daquele
paciente.

Percebe-se no estudo que após a instalação do CAPS - AD na cidade de Pinhal, o número de


internações compulsórias caíram consideravelmente em relação aos anos anteriores,
principalmente em relação a 2014, onde ocorreram 43 ações de internação, para somente 14
em 2015.

O número de reinternações é significativo Braga e D’Oliveira (2015), embora esta tenha sido
constatada em Pinhal, no patamar de 8% somente em relação aos adolescentes, dado que
contrasta com a escassez de atendimentos programados e direcionados aos jovens, na
modalidade de apenas um encontro semanal no CAPS AD.

O número de internações foi crescente de 2009 a 2014, com seu ápice em 2012, resultado
encontrado também por Salvatori (2013). Esse dado em conjunto com o ápice de maiores
internações no ano de 2012, demonstra que foi o período em as pessoas tiveram maior
conhecimento na mídia sobre seus direitos, indo em busca do Poder Judiciário para resolver
seus problemas (CNJ, 2015).

A predominância do sexo masculino nas internações, demonstram claramente que os homens


são mais vulneráveis à dependência às drogas. Todos os estudos sobre drogas analisados têm
um aspecto em comum: o uso de crack, cocaína e álcool, entre outras substâncias, é muito
superior entre os homens. Neste contexto, estudos sobre prevalência e incidência do uso de
drogas, embora com divergências nos padrões de consumo entre os países, costumam relatar
que o sexo masculino se destaca como o maior consumidor (SOUSA e OLIVEIRA, 2011).

76
O consumo feminino de drogas é menor, dados encontrados pelo Senado (2011). A tendência
de aumento, visto na expansão do consumo de crack, aliás, foi registrada para praticamente
todos os tipos de drogas, especialmente as de maior consumo, grupo em que estão álcool,
tabaco, maconha e cocaína com crescimento em cidades do interior, como em Espírito Santo
do Pinhal e Mogi Guaçu, Vargem Grande do Sul, Aguai, Conchal, Ouro Fino, entre outras
(CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS MUNICÍPIOS, 2010).

Os prazos para cumprimento das decisões variaram entre 48 horas, cinco dias, um dia e outros
variados. O prazo concedido para cumprimento da decisão, para efetivamente internar a
pessoa viciada, foi bastante curto, concessão essa, que implica ao gestor (Secretaria de Saúde)
providenciar a internação, antes mesmo de se manifestar no processo (sem ser ouvido
anteriormente).

As ações acabam por representar um volume de recursos, para cumprimento das liminares,
Campos Neto, et al. (2012) que devem ser custeados pelo Município.

Os gastos com ações judiciais triplicaram, dados também encontrados por Cabral (2014). No
ano de 2012 a Receita orçamentária em recursos federais que foram usadas para tratamentos
de internação da Secretaria de Saúde foi três vezes menor do que o efetivo gasto. Apesar do
repasse de recursos federais, ter sido o maior no ano de 2012, ainda assim, ficou aquém da
necessidade em quase três vezes, ou seja, o valor repassado daria para cobrir 1/3 das despesas
ocorridas com internações.

O crescimento do número de ações judiciais, aliado ao fato de que as decisões são


predominantemente favoráveis aos autores, comprometem gravemente o orçamento para a
saúde, vez que apesar de receber valores em recursos federais, é ausente a vinda de recursos
Estaduais, ficando ao encargo do Município de Pinhal a grande parte desse efetivo gasto.
Demonstrando claramente que o Município arca efetivamente com os gastos que não estão
programados, nesse sentido (MACHADO et al., 2011).

As informações acima comprovam a descontração e desresponsabilização pelas políticas


públicas praticadas no país. A União e os Estados criam as políticas e delegam a
responsabilidade pela execução aos Municípios, sem prestarem a cooperação técnica e
financeira necessárias para a manutenção dessas, sobrecarregando os Municípios com a

77
responsabilidade e o financiamento das mesmas. (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS
MUNICÍPIOS, 2012).

Percebe-se um alto grau de concessão de tutela antecipada, cujo fundamento é a urgência da


medida, nesse sentido Cabral (2014), Ventura et al., (2010), dados parecidos com os
encontrados nos Estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, com predomínio de
antecipações de tutelas nas ações de saúde, com respectivamente 55,3% e 74,8%
(TRAVASSOS et al., 2013).

Em relação à natureza dos autores da ação, os familiares foram os mais presentes e poucas
ações foram movimentadas pelo Ministério Público.

A gratuidade da justiça só não foi concedida em três processos, sendo então os advogados da
Assistência Judiciária Gratuita (Convênio da OAB/SP com a DPE), dado bastante parecido
com os encontrados Cabral (2014) onde identificou-se nos Estado do Rio de Janeiro a
participação da defensoria Pública na condução das ações (70,4%), Messeder (2005) e
Travassos, et al., (2013), destacando-se que em Pinhal não há Defensoria Pública, porém
existe o convênio com a Defensoria do Estado de São Paulo, para realização do atendimento
para esse fim.

Não resta dúvida de que vem ocorrendo o chamado fenômeno da judicialização da saúde. O
desespero das famílias bate às portas do judiciário em busca de um tratamento não encontrado
a contento no serviço público municipal de saúde, principalmente para os jovens, e mais
ainda, para os que se encontram viciados em drogas. Não há transferência de recursos
estaduais e os recursos federais transferidos não são para o exclusivo fim de tratamento dos
viciados em drogas. Os recursos federais transferidos para média e alta complexidade estão
sendo utilizados para pagamento das internações compulsórias. Se por um lado, parece
injustificável legitimar as medidas de internação compulsória que prive essas pessoas da
condição de sujeito de direitos e de sua autonomia e ainda geram gastos para a
Municipalidade, por outro, a Justiça não deixará de apreciar lesão ou ameaça a direito. Por
isso ao ser acionada se fundamenta nos saberes médicos e jurídicos e determina as internações
de modo a garantir um tratamento que deveria ser excepcional. As políticas públicas voltadas
para os usuários de álcool e outras drogas tem um histórico tardio e feito de modo pontual,
sem programação, chegando nesse extremo de precisar do Judiciário. Segundo Barboza

78
(2014) a real necessidade dos usuários de crack e outras drogas não é o acesso aos
dispositivos de internação, mas o acesso à políticas, programas e projetos sociais que resultem
em saúde e melhor qualidade de vida. A situação de risco social a que estão expostas essas
pessoas, bem como a inexistência do acesso a serviços extra-hospitalares e ambulatoriais que
ofereçam serviços de redução de danos e projetos terapêuticos que considerem as
singularidades de suas histórias de vida e necessidades sociais, geram impactos no orçamento
municipal.

Estamos caminhando para comemorar no Brasil quase 30 anos da Constituição Cidadã e do


Sistema Único de Saúde (SUS) e, em conjunto com o mundo civilizado, mais de 60 anos da
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Sem dúvida, fatos altamente relevantes para a
construção do respeito à condição humana.

Entretanto, observa-se ainda a necessidade de novos estudos que enfatizem o


desenvolvimento de crianças e adolescentes expostos a situações adversas como, por
exemplo, aqueles que vivem em situação de vulnerabilidade e exposição ao mundo das
drogas.

É preciso compreender melhor os aspectos psicossociais envolvidos nesse contexto, bem


como as implicações dessas experiências ao longo do ciclo vital das crianças e adolescentes,
que tornam-se adultos não produtivos e infelizes.

Sob o espírito da Declaração Universal dos Direitos Humanos - mais especificamente dos
Artigos 1° (“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.
Dotados de razão e consciência devem agir uns para com os outros em espírito de
fraternidade”), 3° (“Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal”) e
para cumprimento do que estabelece a Lei Orgânica Municipal em seu artigo 180 merecerão
atenção especial, por parte do poder público (...) os adolescentes dependentes do uso de
drogas;

Sugere-se:

 A articulação, nos âmbitos estadual e municipal, com as políticas públicas e com os


projetos da sociedade civil que atuam no campo da educação e do esporte para a

79
construção de proposições que objetivem a inclusão de pessoas com transtornos mentais
devido ao uso de álcool e drogas em projetos de resgate da autonomia e empoderamento do
indivíduo, assim como a criação e/ou fortalecimento de projetos existentes e inclusivos;

 A criação de incentivo estadual para os Municípios que acolher pessoas internadas


compulsoriamente, desinstitucionalizando o serviço e visando a apoiar a implementação e
desenvolvimento de projetos de reabilitação psicossocial e a criação e/ou
ampliação/consolidação dos serviços e das ações de base comunitária/territorial das redes
locais de atenção psicossocial;

 A inclusão, em curto prazo, do debate com a sociedade Pinhalense sobre a situação dos
adultos e principalmente dos jovens internados nas clínicas e dos adultos nos hospitais
psiquiátricos do Município, visando à pactuação de ações e metas para a implementação e
o desenvolvimento de projetos de acompanhamento da desinternação das pessoas nos
hospitais psiquiátricos e nas clínicas, considerando as necessidades de investimentos e de
articulação junto das Empresas, da sociedade civil e das escolas.

 Estabelecer um processo, de baixo para cima, com envolvimento das escolas e entidades
Civis, para compartilhar lições aprendidas na prática.

 Manter um foco bem definido nas competências dos serviços de saúde (UBS, CAPS I e
CAPS AD) já existentes dentro da administração e implantar mudanças onde há falhas.

 Estabelecer parcerias com Empresas e Entidades da Sociedade Civil que ofereçam


competências complementares.

 Criação do Conselho Municipal de políticas sobre álcool e drogas.

80
7 CONCLUSÃO

O uso de drogas como álcool, cocaína, maconha e crack tem sido fenômeno muito presente no
mundo globalizado em que vivemos, alcançando níveis alarmantes em algumas regiões do
planeta. Muitas vezes é caracterizado como desdobramento das relações familiares, culturais e
estruturais relacionadas à pobreza, falta de trabalho, de oportunidades, de estudo, sendo,
portanto, resultado de fenômeno que se configura na questão social e reflete diretamente na
qualidade de vida dos envolvidos.

Todavia, apesar da tendência de encarar o uso de drogas como um problema, reduzindo-o à


dimensão de segregação e de afastamento dos viciados, os efeitos gerados sobre o cotidiano
dos agrupamentos humanos são imensos.

A condição de um usuário de drogas pode se constituir em ameaça constante e real ao bem-


estar da família, da escola, da sociedade e principalmente da própria criança e do adolescente,
na medida em que limita as suas oportunidades de desenvolvimento, conduzindo-os, em
certas circunstâncias, à situação de criminalidade e degradação humana. Isso porque a
dependência de drogas é potencial gerador de uma série de contextos de risco ao
desenvolvimento psicossocial dos indivíduos que se encontram em processo de
amadurecimento cognitivo e emocional, constituindo fatores adversos relacionados às
vivências de exclusão social. As diversas situações no mundo do viciado podem desencadear
inúmeros problemas de saúde, incluindo a necessidade de uma internação forçada custeada na
maioria das vezes pelo Município onde mora, impactando no desenvolvimento sustentável da
cidade.

Essa é a situação que vem ocorrendo na cidade de Pinhal, na iminência de ocorrerem outros
problemas ainda mais sérios para esses dependentes químicos, a família vai em busca do
Poder Judiciário, numa espécie de “socorro jurídico” para conseguir um tratamento.

O Judiciário, por sua vez, chamado a se manifestar, determina mediante ações conhecidas
como obrigação de fazer ou Ação civil Pública, que o Município, interne em local adequado
essas pessoas. Os jovens são internados por seis meses em clínica particular, e os adultos, por
um período bem mais curto, 45 dias.

81
A internação dos adolescentes tem que ser cumprida no prazo estabelecido pelo juízo,
geralmente bastante curtos.

O não cumprimento gera multas ao Município que é o réu em praticamente todas as ações, o
que o impele a cumprir a ordem judicial, pois caso não o faça, a conta pode sair ainda mais
cara.

Na prática o Município respondeu por 116 ações durante o período de estudo. Em 99 delas, a
coleta de dados foi integral, as demais eram segredo de justiça ou não atendiam ao objetivo da
pesquisa.

Entretanto, apesar dos adolescentes serem encarados como grupo de risco, no que diz respeito
ao uso de substâncias psicoativas, os fatores que podem levá-los a utilizar drogas são
variados.

A política do governo é da mudança do modelo hospitalocêntrico para um modelo baseado na


excepcionalidade da internação e prevalência de assistência extra-hospitalar, mas é justamente
o contrário que vem ocorrendo.

Apesar do entendimento de que as internações compulsórias só devem ser utilizadas em


circunstâncias claramente definidas como excepcionais e, mesmo assim, respeitando os
direitos humanos previstos na legislação internacional, a justiça local, tem determinado que o
Município de Espírito Santo do Pinhal interne seus jovens e adultos para tratamento
relacionados ao uso de drogas, atendendo um direito constitucional.

De 2009 até 2014 essas ações foram crescendo gradativamente. Constatou-se uma
contradição: Os relatórios médicos encontrados nas ações, ou seja, origem da prescrição
médica é do próprio serviço público municipal. Assim, percebe-se que o paciente obteve um
serviço público anterior à internação, o que revela indícios de atendimento inadequado,
insuficiente ou inconstante, o que culminou na internação compulsória, que deveria ser
considerada excepcional. Assim para cumprir a determinação judicial, o Município utiliza os
valores da média e alta complexidade, recebido do Fundo Nacional de saúde e paga as
internações compulsórias.

82
As famílias, principalmente mães, esposas ou companheiras, dessas pessoas estiveram
diretamente envolvidas com esses pedidos na justiça, como uma última tentativa de tratar o
familiar dependente.

Os gastos efetivos com internações compulsórias com exceção do primeiro ano de estudo:
2009, foram crescendo significativamente ao ponto do Município ter que arcar em até três
vezes o valor recebido em recursos Federais.

Esses gastos somaram a quantia de R$ 450.300,00 (quatrocentos e cinquenta mil, e trezentos


reais), que divididos pelo número de adolescentes internados, teve um custo individual de R$
8.338,88 (oito mil, trezentos e trinta e oito reais e oitenta e oito centavos).

A receita orçamentária Federal que foi usada para também custear as internações desse
período somaram a quantia de R$ 201.117,00 (duzentos e um mil, cento e dezessete reais).

Os internados adultos foram atendidos através de leitos disponibilizados pelos SUS, o que não
impactou diretamente nos custos efetivos com internação. Para a internação deles foram
disponibilizadas vagas pelo SUS, agendadas via central de regulação (Departamento Regional
de Saúde) DRS-14, internando-os no Sanatório “Dr. Bezerra de Menezes”, que é uma
Instituição local.

Tais recursos não possuem uma programação previamente definida por serem provenientes de
decisões judiciais, que podem ou não acontecer.

O Estado de São Paulo não contribuiu no custeio das internações dos adolescentes, que foram
realizadas na integralidade por uma clínica particular localizada fora da Comarca de Espírito
Santo do Pinhal - SP, custeadas com recursos Federais e Municipais.

Percebeu-se claramente que se a ação não padecer de vícios processuais e estiver


acompanhada de relatório médico circunstanciado, é deferida a concessão da tutela antecipada
pelo juízo local, o que demonstra a inter-relação entre os saberes médicos e jurídicos.

A qualidade de vida inclui desde fatores relacionados à saúde como bem estar físico,
funcional, emocional e mental, até elementos importantes na vida das pessoas como trabalho,

83
família, amigos e outras circunstâncias do cotidiano (OMS, 1998) reflete a percepção de que
suas necessidades estão sendo satisfeitas ou, ainda, que lhe estão sendo negadas
oportunidades de alcançar a felicidade e a auto realização, com independência de seu estado
de saúde físico ou das condições sociais e econômicas.

Assim sendo, a postura do judiciário local é justamente de cumprir uma determinação


constitucional, não podendo ficar alheio a uma lacuna encontrada na sociedade na prestação
de serviço de saúde aquém das verdadeiras necessidades.

As dificuldades financeiras são reais, ficando sob a responsabilidade do Município o


pagamento final do serviço, com internações compulsórias, diligências judiciais e honorários
de sucumbências sempre devidos nos processos desse tipo.

Todavia, no caso em tela, vê-se que o Município não tem conseguido cumprir com seu dever
de bem prestar um razoável serviço de saúde pública, fruto da ausência de auxílio Estadual,
com grande carga financeira somente para a administração municipal. Assim as pessoas que
deveriam ser beneficiadas com políticas públicas, baseadas na excepcionalidade da internação
e prevalência de assistência extra-hospitalar, priorizando o atendimento em Centros de
Atenção Psicossocial - CAPS, por meio de um projeto terapêutico voltado para reinserção
social, acabem precisando do Poder Judiciário para restituir a sua cidadania.

Por fim, conclui-se que da maneira como vem sendo tratada a questão da internação
compulsória, sem fortalecimento de uma política preventiva a começar nas Unidades básicas
de saúde e fortalecimento dos CAPS acolhendo esse paciente e direcionando-o para um
tratamento contínuo, seguimos um caminho totalmente insustentável, utilizando recursos que
poderiam estar sendo usados para outros agravos, ou até mesmo, para prevenção deste
problema que afeta não só a estrutura financeira da Secretaria Municipal, mas principalmente
o equilíbrio social, com reflexos econômicos na administração municipal e na qualidade de
vida dos envolvidos.

Implantar as mudanças necessárias para sair desse cenário não é uma tarefa fácil,
mas as consequências de não implantar estas mudanças são ainda mais difíceis de
superar!

84
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91
APÊNDICE A – Listagem dos Processos analisados conforme número no Tribunal de
Justiça de São Paulo

0000770-50.2014.8.26.0180 3001023-21.2013.8.26.0180
0002175-24.2014.8.26.0180 3002204-57.2013.8.26.0180
0002536-41.2014.8.26.0180 3002205-42.2013.8.26.0180
0004674-78.2014.8.26.0180 3002621-10.2013.8.26.0180
0006005-95.2014.8.26.0180 3002081-59.2013.8.26.0180
3000494-02.2013.8.26.0180 3002677-43.2013.8.26.0180
0000934-15.2014.8.26.0180 3004321-21.2013.8.26.0180
0001359-42.2014.8.26.0180 3006515-91.2013.8.26.0180
0002536-41.2014.8.26.0180 3005298-13.2013.8.26.0180
0002533-86.2014.8.26.0180 3003037-75.2013.8.26.0180
0002726-04.2014.8.26.0180 0002163-44.2013.8.26.0180
0004989-09.2014.8.26.0180 0001418-64.2013.8.26.0180
0005209-07.2014.8.26.0180 0002158-22.2013.8.26.0180
0005126-88.2014.8.26.0180 0001473-15.2013.8.26.0180
0005771-16.2014.8.26.0180 0001347-62.2013.8.26.0180
0006072-60.2014.8.26.0180 0001043-63.2013.8.26.0180
0005978-15.2014.8.26.0180 3000361-57.2013.8.26.0180
0006026-71.2014.8.26.0180 0001570-15.2013.8.26.0180
0004881-77.2014.8.26.0180 3004025-96.2013.8.26.0180
0003634-61.2014.8.26.0180 3002719-92.2013.8.26.0180
0004293-70.2014.8.26.0180 3006469-05.2013.8.26.0180
0004164-65.2014.8.26.0180 3006708-09.2013.8.26.0180
0003765-36.2014.8.26.0180 3001409-51.2013.8.26.0180
0002537-26.2014.8.26.0180 3004551-63.2013.8.26.0180
0003796-56.2014.8.26.0180 0001156-51.2012.8.26.0180
0002535-56.2014.8.26.0180 0003468-97.2012.8.26.0180
0004153-36.2014.8.26.0180 0002320-51.2012.8.26.0180
0003880-57.2014.8.26.0180 0003304-35.2012.8.26.0180
0000391-12.2014.8.26.0180 0002807-21.2012.8.26.0180
0000188-50.2014.8.26.0180 0004512-54.2012.8.26.0180
0000852-81.2014.8.26.0180 0005311-97.2012.8.26.0180
0001012-09.2014.8.26.0180 0001906-53.2012.8.26.0180
0002283-53.2014.8.26.0180 0003822-25.2012.8.26.0180
0002184-83.2014.8.26.0180 0004759-35.2012.8.26.0180
0002158-85.2014.8.26.0180 0002367-25.2012.8.26.0180
0002401-29.2014.8.26.0180 0005824-65.2012.8.26.0180
0003274-29.2014.8.26.0180 0006172-83.2012.8.26.0180
0003745-45.2014.8.26.0180 0006911-56.2012.8.26.0180
0001605-38.2014.8.26.0180 0001452-73.2012.8.26.0180
0004564-79.2014.8.26.0180 0000784-05.2012.8.26.0180
0005439-49.2014.8.26.0180 0004447-59.2012.8.26.0180
0005596-22.2014.8.26.0180 0003901-04.2012.8.26.0180
0005679-38.2014.8.26.0180 0004821-75.2012.8.26.0180
0006067-38.2014.8.26.0180 0004590-48.2012.8.26.0180
3000345-06.2013.8.26.0180 0003555-53.2012.8.26.0180
0001949-53.2013.8.26.0180 0003745-50.2011.8.26.0180
3000116-46.2013.8.26.0180 0004124-88.2011.8.26.0180
3001103-82.2013.8.26.0180 0005456-27.2010.8.26.0180
3000681-10.2013.8.26.0180 0006046-04.2010.8.26.0180
3000756-49.2013.8.26.0180

92
APÊNDICE B – Instrumento de coleta de dados preenchido a cada processo analisado

Judicialização da Saúde e internações Compulsórias de adolescentes viciados em drogas

I – ELEMENTOS PRINCIPAIS DO PROCESSO

01. Ano inicial da ação nº. do processo: _________


2009 ( ) 2010 ( ) 2011 ( ) 2012 ( ) 2013 ( ) 2014 ( )

02. Natureza da ação:


Obrigação de fazer ( ) Ação Civil Pública ( ) Mandado de Segurança ( ) Coletivo ( )
Individual ( )

03. Sexo do sujeito afetado pela decisão: feminino ( ) masculino ( )

04. Tempo para cumprimento da determinação judicial:


48h ( ) 72h ( ) 5 dias ( ) 10 dias ( ) Outros ( )

05. Existência de relatório médico: sim ( ) não ( )

06. Houve antecipação de tutela: sim ( ) não ( )

07. Classificação da ação de conhecimento:


Condenatória ( )
Constitutiva ( )
Declaratória ( )

Executiva ( ):
obrigação de fazer ( )
ação civil pública ( )

Mandamental ( ) mandado de segurança individual ( )


mandado de segurança coletivo ( )

93
08. Natureza do autor da ação Particular ( ) Associação ( ) Ministério Público ( )

09. Gênero do autor da ação Masculino ( ) Feminino ( )

10. Representação judicial do autor da ação


Advogado particular ( ) Ministério Público ( ) Convênio OAB/PGE ( )

11. Autor com gratuidade de justiça


Sim ( ) Não ( )

12. Natureza do réu Secretaria Municipal de Saúde ( )


Município de Espírito Santo do Pinhal - SP ( )

13. Decisão interlocutória Sim ( ): liminar ( ) antecipação de tutela ( )


Não ( )

14. Resultado da decisão interlocutória


Deferimento ( ) Indeferimento ( )
Deferimento parcial ( )

15. Tempo dado pelo juiz para cumprimento da decisão


Nº. de dias: ______

16. Ano da sentença 2009 ( ) 2010 ( ) 2011 ( ) 2012 ( ) 2013 ( ) 2014 ( )

17. Resultado da sentença Procedente ( ) Improcedente ( )


Parcialmente procedente ( )

II – ELEMENTOS MÉDICO-CIENTÍFICOS

18. Origem da prescrição da internação Serviço público ( ) Serviço privado ( )

19. Internação realizada pelo SUS ( )

94
Internação realizada em clínica particular ( )
Não realizada a internação ( )

20. Atendimento no CAPS sim ( ) não ( )

21. Número de atendimentos ( )

22. Encaminhamento para outras atividades sim ( ) não ( )

23. Acompanhamento do tratamento de internação sim ( ) não ( )

24. Cadastramento interno para controle Sim ( ) Não ( )

III - ELEMENTOS FINANCEIROS

25. Valor da internação: ___________


SUS local ( ) clinica particular ( ) Outros ( )

95
APÊNDICE C – Instrumento de coleta de dados preenchido a partir do orçamento

Municipal - Judicialização da Saúde e internações Compulsórias de adolescentes viciados em


drogas

ELEMENTOS FINANCEIROS

01. Orçamento do Município


2009 __________________
2010 __________________
2011 __________________
2012 __________________
2013 __________________
2014 __________________

02. Orçamento da Secretaria de Saúde


2009 __________________
2010 __________________
2011 __________________
2012 __________________
2013 __________________
2014 __________________

03. Receita orçamentária para tratamentos com internação da Secretaria de Saúde no ano de
2009
Previsão ____________________
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________

04. Receita orçamentária para tratamentos com internação da Secretaria de Saúde no ano de
2010
Previsão ____________________

96
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________

05. Receita orçamentária para tratamentos com internação da Secretaria de Saúde no ano de
ano de 2011
Previsão ____________________
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________

06. Receita orçamentária para tratamentos com internação da Secretaria de Saúde no ano de
2012
Previsão ____________________
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________

07. Receita orçamentária para tratamentos com internação da Secretaria de Saúde no ano de
2013
Previsão ____________________
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________

08. Receita orçamentária para tratamentos com internação da Secretaria de Saúde no ano de
2014
Previsão ____________________
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________

09. Despesa efetiva com internações compulsórias


2009 __________________

97
2010 __________________
2011 __________________
2012 __________________
2013 __________________
2014 __________________

10. Origem dos recursos para cobrir as despesas efetivas com internações compulsórias ano
de 2009
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________

11. Origem dos recursos para cobrir as despesas efetivas com internações compulsórias ano
de 2010
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________

12. Origem dos recursos para cobrir as despesas efetivas com internações compulsórias ano
de 2011
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________

13. Origem dos recursos para cobrir as despesas efetivas com internações compulsórias ano
de 2012
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________

14. Origem dos recursos para cobrir as despesas efetivas com internações compulsórias ano
de 2013
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________

98
Recursos municipais _____________________

15. Origem dos recursos para cobrir as despesas efetivas com internações compulsórias ano
de 2014
Recursos federais _____________________
Recursos estaduais _____________________
Recursos municipais _____________________

99
ANEXO A – Autorização para realização da pesquisa

100
101

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