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NATAL/RN
2016
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Érico Gurgel Amorim
NATAL/RN
2016
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Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila
Mamede
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ÉRICO GURGEL AMORIM
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Jacileide Guimarães (Orientadora)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
_______________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Ana Karenina de Melo Arraes Amorim (Titular interna)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
______________________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Lenina Lopes Soares Silva (Titular externa)
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte
______________________________________________________________
Profª. Drª. Jaqueline Fernandes Pontes (Suplente interna)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
______________________________________________________________
Profª. Drª. Josineide Silveira de Oliveira (Suplente externa)
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
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A todos os que convivem com a existência da “patologia”
ou da “anomalia” sem, contudo, perder a identidade do
ser singular numa sociedade plural.
5
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Célio e Selma, que são verdadeiras fontes de luz a dissipar a
escuridão de meu caminho, ensinando-me, em experiência diária, a expressão de
amor.
A Jacileide, pela paciência, cuidado e incentivo construídos de modo a me
propiciar conhecer a dimensão de aprender a aprender, despertando para novos
olhares.
A Olívia, brisa suave a me amparar e refletir conforto, segurança e coragem
para continuar a sonhar, na certeza de que o essencial é verdadeiramente invisível
aos olhos.
Aos professores e residentes do Ambulatório de oftalmologia do HUOL, pela
acolhida e auxílio durante a fase de campo, cruciais para a viabilização desta
pesquisa.
Aos professores, membros da banca examinadora desta dissertação, pela
leitura atenta e pelas contribuições.
Aos atores participantes deste estudo, que, ao permitirem o acesso às suas
realidades vivenciais, colaboraram de modo singular com o alcance dos resultados
pretendidos.
Aos professores e funcionários do Programa de Pós-graduação em Saúde
Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), pela dedicação e
facilitação do processo ensino-aprendizagem, direcionando o olhar aos focos mais
assertivos.
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
pelo incentivo à dedicação em cada fase da construção do conhecimento proposto.
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Minha esperança é imortal.
E eu repito, imortal!
Sei que não dá pra mudar o começo,
mas se a gente quiser, dá pra mudar o final.
(Elisa Lucinda)
7
RESUMO
8
ABSTRACT
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LISTA DE SIGLAS
10
LISTA DE FIGURAS
11
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
1 INTRODUÇÃO 14
2 OBJETIVOS 20
3 REVISÃO DA LITERATURA 21
3.1 Concepções sócio-históricas da deficiência visual 21
3.2 A deficiência visual na contemporaneidade 23
3.3 O normal e o patológico e o mito da normalidade 26
3.4 Saúde mental e seus determinantes sociais 29
4 METODOLOGIA 37
4.1 Local do estudo 37
4.2 Critérios de inclusão e exclusão 37
4.3 Seleção da amostra 38
4.4 Instrumentos de coleta de dados 38
4.5 Aspectos éticos 39
4.6 Tratamento e análise dos dados 39
4.7 Procedimentos metodológicos 41
4.8 Caracterização dos sujeitos de pesquisa 43
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES 44
5.1 Saúde e sofrimento psíquico no encontro com o não ver e seus
modos de andar a vida 45
5.2 A autonomia e seus desafios cotidianos 57
5.3 Interação social e suas redes de pertencimento 64
5.4 Os valores e a cultura no processo de normalização e
estigmatização 68
5.5 A educação, seus limites e possibilidades 74
5.6 A conjuntura do trabalho nos processos de inclusão e exclusão
social 77
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 86
REFERÊNCIAS 89
APÊNDICES 102
Apêndice A – Roteiro de entrevista semiestruturada 103
Apêndice B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 105
Apêndice C – Caracterização dos sujeitos 107
ANEXO 108
Anexo A – Parecer consubstanciado do Comitê de Ética em
Pesquisa 109
12
APRESENTAÇÃO
13
1 INTRODUÇÃO
14
Deste modo, entre as problemáticas relacionadas à perda visual, destacam-se
o desencadeamento de um processo de alteração emocional e psicológica que se
caracteriza basicamente por desordem de ajustamento e depressão (BAZARGAN;
HAMM-BAUGH; LEINHAAS; HEDSTROM, 1994), taxas de suicídio mais elevadas
(NAUERT, 2008) e menor expectativa de vida (SUTHERLAND; COUCH; IACONO,
2002).
Ammerman, Van Hasselt e Hersen (1986) encontraram dados que apontam
para a existência de limitações cognitivas, perfis de personalidade mal adaptada,
probabilidades de comportamento e psicopatologia em uma população de crianças
cegas. Assim, verificam que uma grande percentagem de indivíduos com cegueira
está socialmente isolada. Por exemplo, idosos com deficiência visual são mais
propensos a ser internados em instituições ou abrigos de longa permanência.
A perda da visão, nesse sentido, não está associada apenas com a
depressão, mas também pode aumentar os sentimentos de ansiedade, de baixa
autoestima e negligência do autocuidado, acarretando aumento na probabilidade de
afastamento social, isolamento, quedas e erros de medicação (AUGUSTIN et al.,
2007).
Ammerman, Van Hasselt e Hersen (1986) observam elevados níveis de
ansiedade e depressão em indivíduos com cegueira em relação aos normovisuais.
Silveira e Sequeira (2002), comparando índices de saúde mental entre estudantes
com deficiência visual e normovisuais, verificam que os indivíduos com deficiência
visual apresentam maiores distúrbios na escala de auto-adaptação e uma maior
labilidade em termos de saúde mental. Ainda nessa perspectiva, Silveira e Sequeira
(2002) verificaram a existência de comprometimento psicológico em 53% de
indivíduos com cegueira e prevalência de 27,5% nos normovisuais.
Paralelamente, a correlação da doença ocular com a ansiedade e a
depressão em indivíduos com acesso limitado ao apoio da família foi constatada por
diversas pesquisas. Além disso, o efeito da perda da visão depende do grau de
acometimento, da idade e da velocidade de aparecimento da patologia. Desta forma,
o início precoce da perda visual significativa pode ter um efeito profundo sobre o
desenvolvimento infantil, com consequências adversas para a saúde mental, com
repercussão na idade adulta (BURMEDI; BECKER; HEYL; WAHL; HIMMELSBACH,
2002; DU FEU; FERGUSSON, 2003).
15
Quanto à adaptação à perda visual, os autores Bernbaum, Albert e Duckro
(1988) estudaram os problemas visuais em diabéticos e constataram que as
alterações psicossociais são compensadas quando o déficit visual é estável. Em
outro estudo foi observado que a maioria dos sujeitos, avaliados sobre o impacto
psicológico da catarata, evidenciaram um processo de adaptação à situação de
deficiência visual (FAGERSTROM, 1991).
Em contrapartida, por meio de entrevistas em profundidade com idosos,
Heine e Browning (2004) identificaram que a má adaptação à perda visual implicou
na diminuição de socialização, com comprometimento do bem-estar físico e mental.
O comprometimento da saúde mental é um aspecto essencial da restrição de
participação na vida diária das pessoas com deficiência visual. Isso sugere que a
identificação e o tratamento de saúde mental podem contribuir para a maior
independência e envolvimento desses indivíduos nas demandas cotidianas.
De fato, há uma complexidade de problemas nos níveis psíquico, somático e
social que favorecem progressiva perda da capacidade de adaptação do indivíduo
ao meio ambiente (RIBEIRO, 2004). Por outro lado, a cegueira induz a ansiedade e
a depressão que prejudicam na adaptação social. Quando se prolongam, provocam
consideráveis níveis de dependência e isolamento.
Portanto, para as pessoas que nascem ou vem a adquirir uma deficiência, a
constituição de seu ser e sua identidade perpassam por sentimentos ambíguos e
novos conflitos compreensíveis, imersos em uma trama de relações sociais com o
meio em que estão inseridos.
Na busca por uma melhor compreensão do cotidiano do sujeito com
deficiência visual, os autores Rahi, Tadic, Keeley e Lewando-Hundt (2011)
propuseram uma entrevista de avaliação de qualidade de vida por meio de análise
temática de entrevistas com jovens deficientes visuais e foram extraídos os
seguintes domínios: relações sociais, aceitação e participação, independência e
autonomia, bem-estar psicológico e emocional, futuras aspirações e medos,
trabalho, lazer, família e o tratamento de doença ocular.
Neste direcionamento, autores como Klein, Klein, Moss e Cruickshanks
(1999), Wang et al. (2001) e Ribeiro (2004), dentre outros, abordaram fatores
determinantes à saúde mental ou deficiência visual, no entanto, a correlação ainda é
um objeto que requer problematizações.
16
De acordo com Lamoureux et al. (2004) e Popescu (2012), o estudo de
determinantes sociais de saúde mental nessa população contribui para a efetiva
intervenção técnica e social. Além disso, fornece elementos para melhor
compreender o papel que a visão cumpre no desempenho dos processos de
autonomia e inserção social.
Nestes termos, as pessoas com deficiência situam-se como sujeitos com
necessidades particulares, deslocadas das suas relações sociais e muitas vezes
indiferenciadas no que diz respeito à sua inserção de classe. Assim sendo, as
instituições de reabilitação apresentam pouca resolubilidade em relação às
necessidades de saúde da população em estudo (SOUZA; PIMENTEL, 2012).
Apenas recentemente a problemática das pessoas com deficiência saiu da
esfera privada para a vida pública, tendo suas demandas reconhecidas como uma
questão de direitos humanos (DINIZ; BARBOSA; SANTOS, 2009). Contudo, ainda
hoje, são submetidas a processos de privação coletiva, ou exclusão social, o que
nos faz compreender que a problemática da deficiência não está dissociada do
contexto sociocultural.
Em tempos de modernidade líquida, Bauman (2001) faz uma análise crítica
ao apontar que a sociedade interpreta os sujeitos com deficiência como estranhos,
indivíduos expulsos do cotidiano das pessoas comuns; são indivíduos que provocam
surpresa, inquietação, incômodo no universo homogeneizador dos ditos normais,
dos nativos, exatamente, por serem diferentes no modo de viver e de estar no
mundo! E, estigmatizá-los parece constituir uma arma conveniente na defesa contra
a inoportuna ambiguidade, a incômoda diferença do estranho.
A cultura em que vivemos e as pessoas com quem convivemos são o
substrato sobre o qual os indivíduos se constituem. E para entendermos as pessoas
com deficiência e o processo de inclusão é importante que se possa refletir sobre
nossa cultura nas questões que estamos tratando.
Neste sentido, a inclusão é hoje, sem dúvida, uma questão central em todos
os ambientes em que vivemos: nas famílias, nas escolas, no mercado de trabalho,
nos esportes, nos espaços de lazer, enfim, em todas as situações da vida do ser
humano (AMIRALIAN, 2009).
Em sintonia com esta diretriz, em julho de 2015, foi apresentada a Lei
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com
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Deficiência), a qual visa assegurar e promover, em condições de igualdade, o
exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência,
viabilizados a partir de ações efetivas do Estado, da sociedade e da família
(BRASIL, 2015).
Constatamos que esta é uma temática relevante, porém, ainda pouco
desenvolvida para a melhor resolubilidade de questões de Saúde Pública. Com isso,
o presente estudo pode colaborar para a discussão e a reflexão sobre o tema,
permitindo aos deficientes e profissionais envolvidos repensarem suas práticas,
contribuindo para transformações e inovações no campo. Outro aspecto relevante é
a pouca bibliografia disponível envolvendo a temática de saúde mental e pessoa
com deficiência visual em uma perspectiva qualitativa, como demonstramos a partir
de busca por termos como saúde mental, deficiência visual e método qualitativo, em
bases de dados eletrônicas: Medline, Lilacs, Science Direct e Scielo, no ano de
2013.
Assim, partimos do pressuposto de que as pessoas com deficiência visual
vivenciam situação de vulnerabilidade individual e social que pode predispor ao
comprometimento da sua saúde mental por vivenciarem contextos de exclusão ou
inclusão limitada para a realização de suas necessidades cotidianas.
Nesse bojo, os estudos e investigações sobre a saúde mental nestas
populações revelam-se importantes, face às dificuldades em identificar alguns
problemas comportamentais e por serem muitas vezes ignorados, estando em
desacordo com os rumos atuais por uma sociedade inclusiva de fato e de direito
(SILVEIRA; SEQUEIRA, 2002).
Considerar a inclusão social como uma condição que se fundamenta em uma
nova visão sobre o ser humano e suas interações sociais, implica mudanças de
atitudes, valores e hábitos. Trata-se de um processo complexo, lento, difícil e que
exige experimentações e discussões.
Assim, a deficiência faz parte do rol dos entre-lugares que “[...] fornecem
terreno para a elaboração de estratégias de subjetivação – singular ou coletiva – de
que decorrem novos signos de identidade e postos inovadores de colaboração e
contestação” (BHABHA, 1998, p. 20).
Na esteira desses entre-lugares, “postos inovadores de colaboração e
contestação”, situamos a justificativa do presente estudo no âmbito da sociedade
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atual, buscando conhecer o que favorece a perspectiva da inclusão social em
detrimento da histórica exclusão social vivenciada por pessoas com deficiência, em
particular, deficiência visual.
Em conformidade com a temática saúde mental e deficiência visual,
objetivamos conhecer os determinantes sociais de saúde que afetam o cotidiano de
sujeitos com deficiência visual, com ênfase na saúde mental, na perspectiva da
inclusão/exclusão social, através da investigação sobre definições técnicas e
vivências pessoais que permeiam os conceitos de normal e patológico à luz do
pensamento de Georges Canguilhem.
Este autor apresenta a noção de normatividade, segundo a qual, a partir das
infidelidades do meio, em que os organismos se inserem e interagem, novas normas
de conduta ou maneiras de engendrar os modos de andar a vida devem ser
viabilizados, a partir de um aparato jurídico normativo que garanta esta interação.
Deste modo, "homem e meio, considerados separadamente, não podem ser
normais. pois interagem em polaridade na qual a vida se constitui e subsiste”
(SANTOS; GOMES, p. 2012).
A proposta dessa dissertação insere-se na linha de pesquisa Políticas, gestão
e planejamento em saúde, do Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva da
UFRN, por propor a verificação e a análise da realidade sócio-epidemiológica no
processo saúde-doença mental de um grupo populacional inserido no seio
comunitário.
Nesta perspectiva, elencamos a seguinte questão de pesquisa: Qual a
contribuição dos determinantes sociais de saúde para entender e problematizar a
realidade social, em relação à vida das pessoas com deficiência visual, em suas
diferenças radicais na interação com a saúde mental?
O presente trabalho se estrutura a partir da delimitação de seus objetivos; em
seguida, percorre um resgate teórico dos principais elementos e arcabouços
estruturantes de uma compreensão apurada dos entornos teóricos; partindo, em
seguida, para a delimitação das etapas metodológicas utilizadas e, por fim,
apresenta os resultados encontrados e construídos a partir da pesquisa de campo.
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2 OBJETIVOS
Objetivo Geral:
• Analisar a contribuição dos determinantes sociais de saúde para entender e
problematizar a saúde mental e a interação com a vida social no cotidiano de
sujeitos com deficiência visual.
Objetivos Específicos:
• Identificar as dificuldades encontradas por deficientes visuais no contexto
social;
• Descrever as estratégias de enfrentamento empregadas em relação às
adversidades cotidianas vivenciadas; e
• Conhecer o modo como a saúde mental e o contexto social interagem,
determinando aspectos da vida da pessoa com deficiência visual com base
em suas experiências singulares.
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3 REVISÃO DA LITERATURA
Para compreender a saúde mental dos sujeitos com deficiência visual e suas
dificuldades cotidianas intimamente relacionadas, delimitamos um percurso
exploratório do estado da arte do conhecimento acerca dos temas afins. Neste
processo, partimos de um resgate dos significados sócio-históricos da cegueira e de
seus contornos culturais e ideológicos. Em seguida, estruturamos um debate a partir
do conhecimento vigente dos conceitos biomédicos da deficiência visual e a
legislação brasileira definidora e norteadora de ações inclusivas.
Em seguida, propomos um olhar aprofundado e crítico dos prenoções do
entorno social assumidas quanto ao lidar frente à anomalia e deficiência,
circunscrevendo um novo modo de olhar e atuar, ao conceber a deficiência como
uma realidade singular, permeada pela diversidade e pluralidade da vida.
Por fim, um olhar compreensivo dos conceitos de saúde mental e da realidade
social dos sujeitos com deficiência visual permitiu nos aprofundar nas múltiplas
determinações que corroboram para a persistência da segregação e marginalização
desses sujeitos, num ciclo vicioso gerador de iniquidades sociais inadmissíveis.
22
complexas, novos impedimentos corporais e deficiências surgem, os quais se
incorporam em um segmento cada vez mais expressivo (FIGUEIRA, 2014). Além
disso, a estigmatização e o preconceito em relação às pessoas com deficiência
enrijecem as relações sociais, e perpetuam uma realidade excludente. A este
exemplo, uma pesquisa nacional revelou que 96,5% dos entrevistados referiam
atitudes preconceituosas relacionadas às pessoas com deficiência (INEP, 2009).
Sendo assim, o ser deficiente visual invoca uma condição a par de padrões elegíveis
de estética e funcionalidade, o que o torna particularmente vulnerável à condutas
preconceituosas em uma sociedade marcada pelo culto ao corpo e negação da
fragilidade humana (LOPES, 2013; SILVA, 2006).
23
em quatro grupos: os cegos congênitos ou de cegueira adquirida até os cinco anos,
os de cegueira adquirida depois dessa idade, os de visão subnormal congênita e os
de visão subnormal adquirida (MASINI, 1994).
Na Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência, é discutida a
importância de um adequado sistema de informações sobre incidência e prevalência
de deficiências no Brasil, visto que será essencial para o adequado equacionamento
das questões relativas à saúde da pessoa com deficiência (BRASIL, 2009b).
As causas mais frequentes de cegueira e visão subnormal são: retinopatia da
prematuridade, catarata congênita, glaucoma congênito, atrofia óptica,
degenerações retinianas e alterações visuais corticais. A cegueira e a visão
subnormal podem também resultar de doenças como diabetes, descolamento de
retina ou traumatismos oculares (BRASIL, 2000a).
Em 2014, foi realizado um levantamento multicêntrico com 5.000 pessoas,
objetivando aferir o grau de saúde ocular da população brasileira. Entre os
entrevistados, 52% referiam ter algum problema de visão, sendo os de refração os
mais frequentes (75%), seguidos por catarata (11%), retinopatia (3%), glaucoma
(2%) e 8% não souberam apontar qual o problema de visão (LEOPOLD, 2014).
Entretanto, como consequência da distribuição desigual dos profissionais pelo
território, 23% dos brasileiros não tem acesso a oftalmologistas (CBO, 2014). Isso
explica, em parte, porque pessoas com deficiência visual são particularmente
vulneráveis a falhas em serviços tais como saúde, reabilitação, apoio e assistência
(ONU, 2011).
Com vistas à reversão deste cenário, a ONU propõe uma série de medidas a
fim de assegurar um atendimento às demandas de saúde das pessoas com
deficiência e seus familiares, entre as quais incluem uma rede de serviços
articulados ao alcance de todos e uma equipe de saúde qualificada atenta às
necessidades individuais e coletivas e às iniquidades presentes (ONU, 2011).
Por meio desta diretriz e como marco legal na busca de efetivar os direitos à
saúde da pessoa com deficiência, a Lei nº 13.146 de 2015 estabelece que a
avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial; realizada por
equipe multiprofissional e interdisciplinar e considerará tanto a limitação no
desempenho de atividades quanto à restrição de participação na vida cotidiana
(BRASIL, 2015).
24
Visando uma avaliação capaz de atender não somente aos aspectos
concernentes à biologia, mas também ao ambiente e à interação social, foi cunhada
a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) (WHO,
2001b). Esta classificação rompe com o modelo biomédico tradicional e incorpora
um olhar multidimensional e abrangente, congregando aspectos cotidianos e
situacionais da pessoa com deficiência, fornecendo um quadro mais amplo sobre a
saúde do indivíduo ou populações, por meio de uma abordagem biopsicossocial
(FARIAS; BUCHALLA, 2005), compatível com o modelo social de deficiência
contemporâneo. (GESSER; NUREMBERG; TONELI, 2012).
Na busca de se efetivar uma atenção integral voltada à pessoa com
deficiência, considerando a necessidade de iniciar precocemente as ações de
reabilitação e de prevenção de incapacidades, o Ministério da Saúde publicou a
Portaria nº 793, de 24 de abril de 2012, a qual institui a Rede de Cuidados à Pessoa
com Deficiência no âmbito do Sistema Único de Saúde. Os principais objetivos da
Rede de Atenção à Pessoa com Deficiência são: ampliar o acesso e qualificar o
atendimento às pessoas com deficiência; promover a vinculação das pessoas com
deficiência e suas famílias aos pontos de atenção; e garantir a articulação e a
integração dos pontos de atenção das redes de saúde no território, qualificando o
cuidado por meio do acolhimento e classificação de risco (BRASIL, 2012a).
Entre as diretrizes esculpidas na referida Portaria, destacam-se: a atenção
humanizada e centrada nas necessidades das pessoas por meio de cuidado integral
e assistência multiprofissional, sob a lógica interdisciplinar; a promoção da equidade;
a promoção do respeito aos direitos humanos e às diferenças e aceitação de
pessoas com deficiência, a partir do enfrentamento de estigmas e preconceitos
enraizados.
Entretanto, as evidências mostram que para as redes de atenção à saúde
funcionarem, um conjunto de atributos essenciais são indispensáveis, notadamente,
a existência de uma população e um território, definidos com amplo conhecimento
de suas necessidades e preferências, os quais determinam a oferta de serviços de
saúde e fortalecimento de ação intersetorial e abordagem dos determinantes da
saúde e da equidade em saúde (BRASIL, 2010b). Fundamentam-se, portanto, na
compreensão da atenção primária em saúde como primeiro nível de atenção,
enfatizando a função resolutiva dos cuidados primários sobre os problemas mais
25
comuns de saúde e a partir da qual se realiza e coordena o cuidado em todos os
pontos de atenção, na perspectiva de superar a fragmentação sistêmica existente
(LAVRAS, 2011).
26
ser extirpado, e a procura de sua localização é o primeiro passo para agir
(CANGUILHEM, 2009).
Por sua vez, para a concepção positivista as doenças são apenas sintomas
que refletem lesões de órgãos ou tecidos. Sua definição e divulgação baseiam-se
em números e na estatística. Deste modo, a patologia faz parte da fisiologia e a
doença deriva, quantitativamente, do estado normal, ou seja, da média da maioria
dos indivíduos (CANGUILHEM, 2009). Vejamos o que afirma Canguilem:
27
homem, mas em toda sua plenitude e exprime o esforço que a natureza exerce
sobre o homem para obter um novo equilíbrio.
A esse novo enfoque é incorporado o conceito, denominado por Canguilhem
(2009), de normatividade vital. Essa traz uma noção de plasticidade individual e
coletiva, que inclui a capacidade de enfrentamento de novas situações, a exemplo
da experiência do adoecer, da patologia ou da anormalidade. Quanto à
normatividade proximal, Canguilhem destaca:
28
vida e nele manter melhor sua própria norma em um processo de relação
intercambiável (CANGUILHEM, 2009).
Ademais, “cada vez mais, a ideia de saúde ou de normalidade deixa de se
apresentar como a ideia de conformidade a um ideal externo (atleta para o corpo,
bacharel para a inteligência)” (CANGUILHEM, 2009, p. 65). Sobre esse tema,
Canguilhem, ainda, assevera:
29
de existência dos homens no seu viver cotidiano, um viver desimpedido, um modo
de andar a vida prazeroso, seja individual, seja coletivamente.”
Essa definição traz essencialmente as dimensões subjetivas da produção de
saúde, afinando-se com as ideias e concepções atuais que caminham para a
interdisciplinaridade, na medida em que ampliam o olhar sobre os diversos aspectos
do processo saúde-doença.
Segundo Belloch e Olabarria (1993), dentre os princípios do paradigma
biopsicossocial destacam-se:
a) O corpo humano é um organismo biológico, psicológico e social, ou seja,
recebe informações, organiza, armazena, gera, atribui significados e os transmite, os
quais produzem, por sua vez, maneiras de se comportar;
b) A saúde e a doença são condições que estão em equilíbrio dinâmico; estão
codeterminadas por variáveis biológicas, psicológicas e sociais, todas em constante
interação; e
c) A etiologia dos estados de doença é sempre multifatorial. Devem-se
considerar os vários níveis etiopatogênicos e que todos eles requerem uma
investigação adequada.
Este modelo, pautado nas dimensões biopsicossociais, refletiu em
transformações no conceito de saúde, na compreensão sobre o processo saúde-
doença, na organização do sistema brasileiro de saúde pública e nas práticas
profissionais em saúde (PEREIRA; BARROS; AUGUSTO, 2011).
Outra abordagem conceitual de saúde, designada holopatogênese, foi
cunhada, com vistas à sistematização de uma teoria geral da saúde-doença, refere-
se aos diversos processos de determinação de doenças e condições relacionadas,
compondo o todo integral, a partir da compreensão de suas múltiplas facetas,
manifestações e expressões, imersos em um contexto complexo cujos saberes se
almejam conhecer (ALMEIDA FILHO; ANDRADE, 2003, p. 109).
Em consonância a esta proposta, Souza (2004) apresentou a visão holística
da saúde em que esta passa a ser compreendida como um fenômeno
multidimensional, envolvendo aspectos físicos, psicológicos e sociais,
interdependentes entre si. Ancora-se na concepção sistêmica da vida, cuja
flexibilidade é a garantia para o indivíduo ser saudável, num processo dinâmico
entre as diversas naturezas: física, mental, social, econômica ou tecnológica.
30
Assim, fica cada vez mais evidente a relação estreita entre saúde física e
mental (WFMH, 2004), sendo esta aceita como um componente essencial de saúde
dos indivíduos, famílias, sociedades e comunidades. Constata-se, portanto, que
saúde mental e física são duas vertentes da vida que estão intimamente
entrelaçadas e profundamente interdependentes (WHO, 2001a).
Neste direcionamento, de acordo com Swartz (1998), as condições físicas
têm sido consideradas reciprocamente relacionadas com a saúde emocional, social
ou espiritual da pessoa. Trata-se de uma relação complexa, na qual a saúde mental
afeta a saúde física, assim como as condições de saúde física afetam a saúde
mental (BRASIL, 2003, BRASIL, 2005). Além disso, saúde física e mental
compartilham muitos dos mesmos determinantes (RAPHAEL; SCHMOLKE;
WOODING, 2005). Todavia, ainda prevalece no mundo ocidental uma visão
dicotômica e artificial entre saúde física e mental, não compartilhada por muitas
culturas tradicionais (SWARTZ, 1998).
A explicitação dos determinantes sociais de saúde veio à tona no relatório
realizado em 1974 pelo Ministério da Saúde do Canadá, conhecido como Relatório
Lalonde e foi retomado na primeira Conferência Internacional sobre Atenção
Primária em Saúde, realizada em 1978, na VIII Conferência Nacional de Saúde; na
constituição da República Federativa do Brasil de 1988; na Lei Orgânica da Saúde,
Lei nº 8.080 de 1990 e na Comissão Nacional dos Determinantes Sociais da Saúde
– CNDSS (BRASIL, 2005b; BATISTELLA, 2007).
Os determinantes sociais da saúde incluem as condições socioeconômicas,
culturais e ambientais de uma sociedade, e se relacionam com as condições de vida
e trabalho de seus membros, como: habitação, saneamento, ambiente de trabalho,
serviços de saúde e educação, incluindo também a trama de redes sociais e
comunitárias (BATISTELLA, 2007).
O modelo de Dahlgren e Whitehead (1991) explica os mecanismos pelos
quais as interações entre os diferentes níveis de condições sociais produzem as
desigualdades em saúde, conforme ilustra a Figura 1. Tal modelo contempla desde
o individual até o nível das condições econômicas, culturais e ambientais que
predominam na sociedade como um todo, destacando a importância dos fatores não
clínicos sobre a situação da saúde dos indivíduos e das populações, permitindo a
análise da cadeia de produção social da saúde (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007;
31
GEIB, 2012). Além disso, é o modelo adotado pela Comissão Nacional sobre
Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), por sua simplicidade, fácil compreensão
e clara visualização gráfica (BUSS; PELLEGRINI FILHO, 2007; GEIB, 2012).
32
responsabilidades sociais ao Estado no intuito de garantir saúde como direito de
cidadania (SOUZA, 2004).
Promover a saúde, desse modo, é atuar para mudar positivamente os
elementos considerados determinantes da situação de saúde/doença. Em outras
palavras, envolve o reforço da capacidade individual e coletiva para lidar com a
multiplicidade de fatores que condicionam a saúde (CZERESNIA, 1999).
O interesse pela compreensão e promoção de saúde mental e o estudo de
seus determinantes tornam-se relevantes ao invocarmos suas importâncias
individual e social. Segundo a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2001a, p.1), a
saúde mental pode ser compreendida como "[...] um estado de bem-estar no qual o
indivíduo realiza as suas próprias capacidades, pode fazer face ao estresse normal
da vida, trabalhar de forma produtiva e frutífera, e é capaz de dar um contributo para
a sua própria comunidade”.
Outras definições de saúde mental referem-se a sentimentos subjetivos do
indivíduo de bem-estar, otimismo e maestria, os conceitos de resiliência, ou a
capacidade de lidar com a adversidade, e a capacidade de ser capaz de formar e
manter relacionamentos significativos (LAVIKAINE; LAHTINEN; LEHTINEN, 2001).
Embora as expressões dessas qualidades sejam diferentes conforme o contexto
coletivo e individual, e a partir de cultura para cultura, as qualidades básicas
permanecem as mesmas (STURGEON, 2015).
O termo psicossocial tem sido utilizado para referir-se à grande variedade de
fatores psicológicos e sociais que se relacionam com a saúde e a doença mental
(BINIK, 1985). Considera o autor que não existe termo mais apropriado para
descrever as características da pessoa, nomeadamente traços de personalidade,
mecanismos de defesa, estados emocionais e cognitivos, e os fatores
socioambientais como, por exemplo, as situações indutoras de estresse.
A saúde mental para cada pessoa é afetada por fatores e experiências
individuais, interação social, estruturas sociais e os recursos e valores culturais. Ela
é influenciada por experiências em todos os dias, nas famílias e nas escolas, nas
ruas e no trabalho (LAHTINEN et al., 1999). A saúde mental de cada pessoa, por
sua vez, afeta a vida em cada um destes domínios e daí a saúde de uma
comunidade ou população (WHO, 2004).
33
Assim é que saúde mental e bem-estar são influenciados não só pelos
atributos individuais, mas também pelas circunstâncias sociais em que as pessoas
se encontram e do ambiente em que vivem. Esses determinantes interagem entre si
de forma dinâmica, e pode ameaçar ou proteger o estado de saúde mental de um
indivíduo (WHO, 2012).
Neste direcionamento, os avanços na neurociência e medicina
comportamental demonstraram que, como muitas doenças físicas, distúrbios
mentais e comportamentais são resultantes de uma complexa interação entre
fatores biológicos, psicológicos e sociais (WHO, 2001a).
A evidência mais clara refere-se a riscos de doenças mentais, que no mundo
desenvolvido e em desenvolvimento estão associados com indicadores de pobreza,
incluindo os baixos níveis de educação. A associação entre pobreza e transtornos
mentais parece ser universal, ocorrendo em todas as sociedades,
independentemente do seu nível de desenvolvimento (WHO, 2001a).
Fatores como insegurança, desesperança, rápida mudança social, riscos de
violência física e problemas de saúde podem explicar a maior vulnerabilidade das
pessoas pobres em todo o país para doenças mentais (PATEL; KLEINMAN, 2003).
Problemas de saúde mental, sociais e comportamentais também podem
interagir para intensificar os efeitos de cada um no comportamento e bem-estar. O
uso de substâncias, violência e abusos de mulheres e crianças, por um lado, e os
problemas de saúde, tais como doença cardíaca, depressão, ansiedade, por outro,
são mais prevalentes e mais difíceis de lidar em condições de elevado desemprego,
baixa renda, educação limitada, condições de trabalho estressantes, discriminação
de gênero, estilo de vida pouco saudável, e violações dos direitos humanos
(DESJARLAIS; EISENBERG; GOOD; KLEINMAN, 1995).
Uma das escolhas mais importantes a serem feitas — e um fator
determinante no bem-estar de um indivíduo — diz respeito ao equilíbrio trabalho-
vida; em termos econômicos, a alocação do tempo entre a produção (pagos ou não)
e consumo (incluindo o tempo de lazer com a família e amigos). Estresse e
ansiedade são um resultado frequente para as pessoas que passam muito tempo
trabalhando, cuidando dos outros ou que operam em um ambiente de trabalho difícil
e inseguro, como o é para aqueles que são capazes e dispostos a trabalhar, mas
34
incapaz de fazê-lo por causa das circunstâncias socioeconômicas adversas (WHO,
2004).
O desemprego está associado com uma maior utilização de cuidados de
saúde e as taxas de mortalidade mais elevadas. A associação também funciona no
sentido oposto; ou seja, problemas de saúde mental são preditores significativos do
desemprego e, na sua esteira, de dívida ou de empobrecimento (OECD, 2011).
Deste modo, o desemprego é um fator de risco bem estabelecido para doenças
mentais, enquanto que o começo ou reinício do trabalho são fatores de proteção
(LUND et al., 2011).
Outra dimensão do núcleo de bem-estar individual é a própria saúde, não só
pelo seu valor de habilitação (para a realização de atividades de trabalho e lazer),
mas também o seu valor intrínseco; ou seja, as pessoas preferem ser saudáveis a
doentes. Problemas de saúde ou deficiência constituem, portanto, outro fator de
risco importante para o bem-estar psicológico, em geral e depressão em indivíduos,
em particular (PRINCE et al., 2007).
Pessoas com doença crônica ou deficiência têm um risco elevado de
marginalização social ou comunitário de atividades, particularmente os mais
estigmatizados. Soma-se a isso o fato de possuírem uma carga psicológica devido
aos desafios de viver com a doença, a exemplo de um estilo de vida alterado, o fato
de possuir uma doença prolongada ou a possibilidade de morte prematura. Isso
contribui com restrição de oportunidades e redução na capacidade produtiva, com
impacto socioeconômico (WHO, 2012).
Existe um componente de sofrimento subjetivo associado a toda e qualquer
doença, às vezes atuando como entrave às práticas preventivas de vida mais
saudáveis. Como resultante, todo problema de saúde é também de saúde mental, e
toda saúde mental é também produção de saúde (BRASIL, 2005; BEDIN;
SCARPARO, 2011).
Com vistas à libertação deste sofrimento psicológico, o indivíduo que enfrenta
uma nova condição traumática, como a aquisição de uma deficiência visual.
experimenta fases de mudanças, em um processo de aceitação e de enfrentamento,
sobrepostas à lamentação, o que Kübler-Ross (1981) denominou fases do luto
normal. Esta autora descreve cinco estágios do luto pelos quais uma pessoa pode
passar: a) negação ou isolamento; b) ira; c) barganha; d) depressão; e) aceitação.
35
Tais reações quanto à perda da visão não são lineares e nem podem ser
generalizadas, pois cada indivíduo reage e se adapta à nova condição de forma
diferenciada, conforme sua história de vida, recursos psicológicos, apoio familiar e
social, compondo subsídio pessoal e intransferível para que o sujeito consiga
reorganizar-se psiquicamente (SIMÕES, 2014; AFONSO; MINAYO, 2013; BRITO,
2009; DOURADO; COSTA, 2006).
Como observada, a subjetividade é construída no decorrer da vida, a partir
das relações sociais com toda sua riqueza, possibilidades e limitações (BOCK;
FURTADO; TEIXEIRA, 1999). Para esta compreensão e eficaz intervenção em
saúde mental é fundamental a centralidade nos usuários, como aqueles que gastam
sua vida de certos modos e não outros, que usam sua capacidade de viver para
produzir modos de caminhar na vida, sendo a saúde esta possibilidade de criar seus
mecanismos de gastar a potência de viver, logo, como produtores e portadores das
necessidades de saúde (MERHY, 2006).
Mais pesquisas sobre aspectos biológicos e sociais da saúde mental são
necessárias a fim de aumentar a compreensão de possíveis perturbações mentais e
desenvolver intervenções mais eficazes. Essa investigação deve ser realizada em
diversos contextos a fim de entender variações entre as comunidades e para
aprender mais sobre os fatores que influenciam a saúde mental de seus membros
(WHO, 2001a), a exemplo de pessoas com deficiência visual, conforme abordado na
presente pesquisa.
36
4 METODOLOGIA
A análise dos resultados foi feita com base no método de análise temática
proposto por Minayo (2008), que consiste em investigar grupos de significados que
compõem a comunicação referente ao objeto analítico almejado. A análise temática
se encaminha para a contagem de frequência das unidades de significação como
39
definidoras do caráter do discurso. A presença de determinados temas denota os
valores de referência e os modelos de comportamento presentes no discurso.
Operacionalmente a análise temática desdobra-se em três etapas: a) pré
análise: composta por leitura flutuante, constituição do corpus, formulação de
hipóteses e objetivos; b) exploração do material: por meio de codificação em
unidades de registros, construção de índices, classificação e agregação dos dados
em categorias teóricas ou empíricas; e c) tratamento dos resultados obtidos e
interpretação: trabalho com os significados obtidos e realização de interpretações
(MINAYO, 2008).
Deste modo, realizou-se inicialmente a leitura e releitura do material obtido na
entrevista. Para a organização e apresentação dos resultados, foram construídas
categorias, de acordo com as temáticas que foram surgindo das falas dos
participantes durante as entrevistas realizadas, tendo por base constitutiva as
unidades de registro inspiradas no modelo de Determinação social da saúde,
proposto por Dahlgren e Whitehead (1991). Essas unidades de registro permitiram
um ponto de partida para a convergência de temas afins, sucedendo-se as
subcategorizações afiliadas.
Para Minayo (2008), categorizações são empregadas para estabelecer
classificações, ou seja, agrupar elementos, ideias ou expressões em torno de um
conceito capaz de abranger de um modo geral qualquer tipo de análise em pesquisa
qualitativa.
Os resultados dos discursos obtidos foram analisados à luz das
conceituações de normal e patológico trazidas por Canguilhen (2006) e as
influências destas concepções no contexto sociocultural contemporâneo, com foco
nos determinantes sociais de saúde no cotidiano de sujeitos com deficiência visual.
Em suma, a saúde implica poder adoecer e sair do estado patológico. Em
outras palavras, a saúde é entendida por referência à possibilidade de enfrentar
situações novas, pela “margem de tolerância ou de segurança que cada um possui
para enfrentar e superar as infidelidades do meio”, ou ainda “um guia regulador das
possibilidades de reação” (CANGUILHEM, 2009, p. 148-149).
Ao investigar os determinantes sociais de saúde mental, fazemos uma ponte
com a atualidade das políticas públicas, saberes e práticas de saúde mental na
atualidade e resgatamos a crítica ao excesso de patologização da vida tendo como
40
finalidade destacar as invenções de saúde como estratégias de inclusão social de
sujeitos historicamente rotulados e excluídos por deficiências. Nesse sentido,
Amarante (2007), no âmbito do movimento de Reforma Psiquiátrica brasileira, refere
que:
41
posteriormente, transcritas. As gravações e transcrições das entrevistas foram
utilizadas para a análise e interpretação dos conteúdos.
O estudo piloto foi realizado com duas pessoas que obedeceram aos critérios
de inclusão propostos, sem levar em consideração o critério de idade, para a
testagem do instrumento de coleta e de sua aplicação. Tais sujeitos não integraram
a amostra por terem idade inferior à estabelecida neste estudo. Em seguida, foram
procedidos ajustes no questionário para melhor compreensão das perguntas pelos
entrevistados.
Na fase de campo, foram identificadas 17 pessoas que atendiam aos critérios
de elegibilidade, entretanto, um destes sujeitos recusou-se a participar por não
dispor de tempo hábil para a entrevista. Ao final, foram selecionadas 16 pessoas que
concordaram em participar da pesquisa e atendiam aos critérios de inclusão.
Na caracterização dos entrevistados, os mesmos foram identificados a partir
da nomenclatura adotada, a qual atribuiu o prefixo S, de sujeito de pesquisa,
seguida por número cardinal, considerando-se o sigilo dos entrevistados (vide
Apêndice C).
Os dados foram analisados e interpretados, buscando-se a construção do
conhecimento com base nos objetivos da pesquisa. Para tanto, foram
confeccionadas categorias temáticas a partir das leituras e releituras das entrevistas,
sob a ótica estruturante dos determinantes sociais de saúde, abarcados nas
unidades de registro.
Para confecção de tais unidades, foi adotado como marco conceitual o
modelo de determinação social da saúde, proposto por Dahlgren e Whitehead
(1991), por sua fácil visualização gráfica, compreensão e interpretação (BUSS;
PELLEGRINI FILHO, 2007; GEIB, 2012).
Por último, dentre os principais referenciais teóricos utilizados para a
interpretação dos conteúdos textuais provenientes das entrevistas dos sujeitos
pesquisados destacam-se: Canguilhem (2006), Goffman (1988), Küble-Ross (1981)
e Amiralian (1997).
42
4.8 Caracterização dos sujeitos de pesquisa
43
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Conhecer a saúde mental dos sujeitos que convivem com uma deficiência
visual requer um olhar sensível frente ao contexto social em que estes sujeitos estão
inseridos, como são tratados no meio social e a maneira pela qual são
condicionados a agir.
Nesta abordagem, destaca-se a contribuição de fatores individuais e
contextuais como determinantes da saúde mental e suas repercussões nos modos
de ser e andar a vida, imersos em uma trama de relações intercambiáveis: saúde
física, trabalho, condições econômicas, aspectos educacionais, interação social,
lazer, autonomia, condições de acessibilidade e valores sociais.
Ao aproximar-se da realidade vivencial dos sujeitos com uma deficiência
visual, observamos que certas características fazem parte do processo de
determinação psicossocial: história de vida, organização social e familiar, aspectos
culturais, aspectos financeiros, dentre outros, abarcados pelas múltiplas formas de
viver com a deficiência.
Assim, é que a constituição do sujeito psicológico envolve as dimensões
individual e coletiva. No âmbito individual, interações entre saúde física e mental são
identificadas.
O diagnóstico e a assimilação de uma deficiência visual repercutem na
subjetividade e antecipa novas realidades existenciais que por sua vez, requerem
abordagens de enfrentamento.
Neste ínterim, o modo de instalação, idade do acometimento, presença de
comorbidades ou de dor, o grau da deficiência e a capacidade de lidar com a
adversidade são elementos chaves na maneira pela qual a perda visual é
vivenciada.
Tendo como substrato os determinantes sociais de saúde, a partir dos
discursos provenientes das entrevistas, foram delimitadas as seguintes categorias
temáticas: Saúde e sofrimento psíquico, abordando da clínica individual às reações
emocionais no encontro com o não ver; A autonomia e seus desafios cotidianos;
Interação social e suas redes de pertencimento; Os valores e a cultura nos
processos de normalização e estigmatização; A educação, seus limites e
44
possibilidades; A conjuntura do trabalho nos processos de inclusão e exclusão
social.
Estas categorias foram construídas, buscando-se a compreensão dos modos
de vida dos sujeitos da pesquisa, com direcionamento capaz de atender com maior
fidedignidade possível aos objetivos propostos, contudo sem esgotar as múltiplas
determinações de saúde, devido à incompletude quanto à abrangência conceitual
extraída do material em análise.
5.1 Saúde e sofrimento psíquico no encontro com o não ver e seus modos de
andar a vida
45
recreação e sentimentos, tornando-se uma experiência inevitavelmente traumática
(AMIRALIAN, 1997).
Fica explícito que, no caso de deficiências adquiridas, há uma ruptura na vida
subjetiva e cotidiana do sujeito:
Desde três anos de idade eu sou ruim da vista, quase cegava. Sei
que minha mãe fez umas promessas e eu melhorei. Aí agora
começou a ficar ruim. Faz mais de 10 anos que começou a piorar. Af
Maria! Tem dias que dá vontade de me enforcar num pé de coentro,
porque é ruim demais. [...] Lá eu só vivo nas calçadas olhando pro
mundo (S5).
No começo eu tinha 18 anos, foi bem difícil sim. Eu pensava que não
ia conseguir mais arrumar alguém. A gente que é novo pensa logo
ninguém vai querer mais namorar com a gente. Pensa logo que os
amigos vai ser mesmo aquele mesmo jeito com a gente. Parei de
jogar bola. [...] Aqui e acolá quando você fica sozinho no quarto, bate
aquela tristeza, sabe. Ela bate, você fica pensando como você
enxergava de primeira, aí é difícil, sabe (S12).
46
Estudos realizados parecem mostrar que quanto mais cedo ocorre a cegueira
maior será sua influência sobre o desenvolvimento da personalidade e maior o peso
concedido à ausência da visão, enquanto que, nas cegueiras adquiridas
posteriormente, os efeitos sociais e as condições do sujeito anteriores ao evento
frustrador tornam-se preponderantes (AMIRALIAN, 1997).
Há, entre os cegos, diferenças quanto à forma de instalação súbita ou
progressiva da deficiência. Fator de grande peso nos efeitos que a cegueira produz
no desenvolvimento dos sujeitos.
Nessa tônica, S3 e S8 vivenciaram condições de perda visual súbita, seja
com intensas reações emocionais ou com ruptura na vida cotidiana e retração social.
Vejamos:
Por outro lado, S2, ao se deparar com uma forma progressiva de instalação
da deficiência visual, expressa uma maior capacidade adaptativa e de
enfrentamento positivo.
47
por meio de acesso à informação e apoio, mesmo que conviva com um estado de
contínua ansiedade pela ameaça de um perigo iminente (AMIRALIAN, 1997).
Diferenças quanto à quantidade de visão residual são referidas também como
interferentes no modo de ajustamento do sujeito às demandas cotidianas, bem como
na sua percepção de sujeito deficiente. Como demonstrado por S1, o agravamento
da deficiência trouxe nítido prejuízo no seu planejamento de vida:
49
indissociável, delineando os aspectos psicossociais e afetivos dos sujeitos em
análise, numa trama de relações intercambiáveis.
Destarte, a dor é uma experiência recorrente diante de uma alteração ocular e
expressa uma manifestação da patologia subjacente, diretamente (S11, S12 e S16)
ou em decorrência de sofrimento psíquico (S5).
Se eu dormir pro lado do olho afetado ele dói. Aqui e acolá ele ainda
dói, tem pontos ainda dentro dele (S12).
Tem horas que a gente não se sente normal, porque quando bate
aquele... Aqui acolá fica doendo, aí você fica com aquilo pra você,
assim, pensando que aquilo vai ser pro resto da sua vida. Saber que
isso é pro resto da sua vida doendo desse jeito. Aí é bem difícil a
gente encarar (S12).
51
Um estado de choque pode ser uma das primeiras reações enfrentadas
diante de uma perda de visão e geralmente vem com o diagnóstico. O indivíduo
torna-se atônito, imóvel e letárgico temporariamente, por necessitar de tempo para
absorção da ideia. S3 e S14 exemplificam este momento:
Sei lá, pra mim eu não tenho é juízo. Porque eu sou muito
alvoroçada... Se eu tiver raiva de uma coisa, dá vontade de eu logo
quebrar... Eu não tenho o juízo bem certo não (S5).
Tem hora que eu fico muito aperreada, fico sem sossego, é uma
agonia terrível. É uma coisa assim que não dá pra comparar. No dia
que eu fico preocupada com qualquer coisa, de noite eu não consigo
dormir, bolando, fico em claro. Eu fico muito preocupada, muito
nervosa porque eu não posso enxergar (S11).
Se o sonho deles é ver, que eles lutem, que ele um dia consegue.
Que Deus não dorme (S14).
53
No início eu tinha medo, angústia (S2).
O médico falou assim pá puf. Eu tava vendo tudo rosa, ele examinou
e disse... infelizmente, você vai perder a visão! Não sei se amanhã
ou daqui a uma semana... mas você vai perder a sua visão. Foi bem
traumático e ele foi logo duro. Se prepare psicologicamente e
aconselho procurar o instituto de cegos. E foi dessa forma. Eu acho
que eu fiquei mais depressivo por isso também, por não ter tido um
preparo, foi automático (S8).
Sentia desgosto de viver uma vida dessas, sem ter com quem
chamar, pra qualquer coisa né, a dor maior ainda (S9).
Eu senti desgosto, não vou mentir. Eu senti, a reação foi forte (S16).
A esposa muitas vezes diz que fico um pouco quieto, calado (S7).
54
Meu filho, a pessoa fica triste, né?. Fica pensando como era a vida
de ontem, assim, pra vida de agora né? (S13).
Tando com a visão que Deus dá, a gente se sente mais elevado, e
na situação que eu to, me sinto um cabra recuado, morto (S4).
Não é coisa boa não. Tenho sofrido muito por isso. Tem hora que me
dá um desengano, não dá vontade mais de comer. Tem dia que dá
vontade de subir num canto assim e desabar. É muito triste a pessoa
ter a sua visão e depois ser dependente de tudo (S11).
Pra falar a realidade, aqui e acolá eu ainda fico assim triste, sabe?
Aqui e acolá quando você fica sozinho no quarto, bate aquela
tristeza, sabe. Ela bate você fica pensando como você enxergava de
primeira, aí é difícil, sabe. Mas tem momento que você fica bem
triste, bem abatido. Às vezes eu cheguei até a chorar já (S12).
55
O último estágio, de aceitação ou acomodação é descrita por Kübler-Ross
(1981) como uma possibilidade de compreensão do que foi perdido, em que porção
foi esta perda e como isto influenciará a vida deste indivíduo agora com limitações
às suas ações. Desta maneira, o sujeito se torna capaz de conviver com as suas
limitações integrando-as em sua vida, como demonstrou o participante S4:
Vamos levando... E tem que sorrir, brincar... que chorar não dá jeito...
Tem que passar o dia assim mesmo, Eu tô satisfeito demais e quero
viver até quando os meus filhos já tiverem se virando... Eu só espero
isso aí, cada dia mais a rotina baixar. E a mulher diz: qualquer coisa
eu saio puxando você. E eu digo, pois eu vou precisar mesmo. Minha
força é Deus e ela é meu guia (S4).
Para tudo nós temos nosso momento, e saber que há tempo para
tudo. Esse meu tempo eu tenho que aceitar que é um tempo mais
limitado (S7).
57
Hoje, se for pegar um copo não pego direito, vou botar água no copo,
às vezes boto em outro lugar, derrubo na mesa. Agora não, que eu já
me adaptei mais, mas no começo eu batia na porta, era bem difícil
(S12).
Eu fazia as coisas, dava conta da casa toda, agora não posso fazer
tudo não (S16).
58
A dificuldade é a gente tá precisando depender das pessoas. Eu não
gosto de tá... me dê isso, me dê aquilo, tem que sempre tá pedindo,
eu não gosto (S10).
O principal obstáculo é cuidar dos meus filhos. A gente que não vê, a
melhor vontade que tem é ver e cuidar dos filhos, cuidar da casa
(S14).
A rua que eu moro tão mexendo, não dá nem pra pessoa caminhar
(S10).
Sinto dificuldade com o nível das calçadas, você chega num certo
ponto que você pensa que o final dela já é aqui, mas não, já tem sido
antes, aqui acolá você finda quase caindo (S12).
60
Agora só vivo presa dentro de casa... quando saio é caindo pra aqui
pra acolá. (S5).
Agora que pra mim mesmo eu queria era andar, caminhar, eu não
tenho condições, pra ali onde eu moro não tem condições (S10).
Tando com a visão que Deus dá, a gente se sente mais elevado, e
na situação que eu to, me sinto um cabra recuado, morto, porque eu
com minha visão atravesso um trânsito, faço muitas coisas, sem a
visão eu recuo, que não posso fazer nada (S4).
61
elementos de urbanização públicos e privados de uso coletivo sigam os parâmetros
estabelecidos pelas normas técnicas de acessibilidade da Associação Brasileira de
Normas Técnicas – ABNT (ABNT, 2004).
Deste modo, a determinação do uso dos parâmetros técnicos da ABNT,
especificada na lei, aponta a urgência da utilização de padrões nacionalmente
aplicáveis, com vistas a garantir a efetividade do direito de liberdade de locomoção,
corolário aos princípios de cidadania e justiça social. Nestes termos, a NBR 9050 de
2004, estabelece critérios técnicos e dispõem sobre os parâmetros de acessibilidade
a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos (ABNT, 2004).
Outra realidade perceptível é a falta de engajamento social nos modos de
interação com o sujeito deficiente, seja priorizando o acesso ou auxiliando uma
travessia. Esse comportamento ancora-se, muitas vezes, no desconhecimento ou na
insensibilidade para visualizar um público de invisibilidades históricas.
Do jeito que ele quer respeito, a gente deveria ter respeito também.
No semáforo, o sinal tá vermelho, e o carro já tá acelerando.
Ninguém perde dois minutos do seu tempo pra ajudar a atravessar a
rua. Eu tenho raiva disso (S8).
Eu não saio na rua sozinha. A primeira vez que eu saí uma moto ia
me matando (S14).
62
uma pessoa estragada, diminuída e desacreditada. Esse traço se impõe a atenção e
pode afastar aqueles que ele encontra.
Na contramão dessa cena, como proposta inspiradora e reconciliadora, a Lei
francesa nº 102 de 11 de fevereiro de 2005 enuncia em seu artigo 2º: “Toda pessoa
deficiente tem o direito à solidariedade do conjunto da coletividade nacional, que lhe
garanta, em virtude dessa obrigação, o acesso aos direitos fundamentais
reconhecidos a todos os cidadãos, assim como o pleno exercício de sua cidadania”
(FRANÇA, 2005).
Tal assertiva se justifica nos dizeres clarificadores de Habermas (1999 apud
TURCATTO 2010), “[...] à medida que a individuação avança, mais o sujeito
particular se envolve numa rede cada vez mais densa, e ao mesmo tempo sutil, de
dependências recíprocas e de necessidades expostas de proteção”.
Também a falta de acessibilidade urbana, de prédios e espaços interiores,
desagua nas práticas de lazer, minguando as suas possibilidades e retalhando um
elemento indispensável à promoção de saúde. São destacadas restrições para
participar de atividades de lazer, como apontam S5, S10 e S14:
63
Além disso, Santos (2004) demonstrou que a vida social e o lazer são determinantes
que podem influenciar a forma como a perda da visão é enfrentada.
No começo eu tinha 18 anos, foi bem difícil sim, eu pensava que não
ia conseguir mais arrumar alguém. A gente que é novo pensa logo
ninguém vai querer mais namorar com a gente. Pensa logo que os
amigos vai ser mesmo aquele mesmo jeito com a gente (S12).
E uma das coisas que eu fiquei assim mais surpresa infelizmente, foi
uma surpresa negativa, foi em relação às minhas amizades, porque
todas ligavam pra mim, falavam comigo, na hora que eu fiquei... né?
que eu deveria ter um apoio. Para mim, um amigo, você escolheu um
irmão. Eu tinha meus amigos como se fossem irmãos. E eu disse até
a uma de minhas amigas parece que minha cegueira é contagiosa,
porque todo mundo se afastou de mim, sabe? Todo mundo tem esse
pensamento de que penalidade e eu fiquei muito triste, por ter
64
passado por essa sozinho, sem apoio, né, das pessoas que eu tinha
como amigos. E hoje a deficiência foi até bom, porque eu to revendo
a minha vida, revendo as pessoas que realmente me dão valor né?
Infelizmente nos dedos são poucos (S1).
Mesmo jeito é a pessoa, tando bom, não quer ser acompanhado por
um doente. Porque pode ter algum problema e ele levar a culpa (S9).
Porque eles só me convidam pra cantos que eu sei que não dá pra
mim ir (S10).
65
muito. Nunca tentei sair não, assim pra festa, essas coisas, eu nunca
tentei não. Sinto falta dessa vida de antes (S14).
Sou religioso, participo do terço dos homens. Faz uns três meses
que eu não vou ao terço dos homens, exatamente porque é à noite,
aí eu fico um pouco meio acanhado diante da situação, porque me
chamam pra ler uma coisa. Mas eu participo de todos esses grupos,
de político, de futebol, religioso, católico, vou sempre à missa (S7).
68
No início, até hoje, tem gente que fica assim quando vai olhar pra
você, o foco dele é olhar pra sua doença. Às vezes também no início
tem amigos seus que vai tirar brincadeira com você, fica apelidando
você, tem vários tipos de coisa assim desse tipo (S12).
69
de mim não existisse mais. Parece que eu perdi a personalidade, sei
lá, minhas qualidades, e foi tudo resumido nessa deficiência. Pra
mim eu não tenho mais as qualidades que eu tinha (S1).
Eu mesmo pensava que eu era uma coitada, que eu não era mais
ninguém (S1).
Mas meus tios, meu irmão, minha sogra, tem esse v de me vê assim
como se eu fosse mesmo uma inválida (S1).
Tem a minoria que eu sinto que acham que eu não sou capaz de
nada (S6).
Eu acho que eles veem que eu não vejo, aí eles criaram mais amor a
mim. Eu sinto pelo tom da voz deles, parece que eles têm pena de
mim, sabe? (S14).
Algumas vezes sim, tem familiares meus que no início eles queriam
tratar diferente, só que eu não queria que eles me tratassem
diferente não. Eu queria que eles me tratassem normal, uma pessoa
normal. Me olhassem como uma pessoa normal. Eles tudo era com
cuidado em mim, não podia sair pra um canto que eram eles ali...
tratando uma pessoa mais especial. Não, eu queria ser igual a todo
mundo, queria ser tratado igual a todo mundo, visto como uma
pessoa normal (S12).
E uma das coisas que eu fiquei assim mais surpresa infelizmente, foi
uma surpresa negativa, foi em relação às minhas amizades, porque
71
todas ligavam pra mim, falavam comigo, na hora que eu fiquei né,
que eu deveria ter um apoio... Para mim, um amigo, você escolheu
um irmão. Eu tinha meus amigos como se fossem irmãos. E eu disse
até a uma de minhas amigas parece que minha cegueira é
contagiosa, porque todo mundo se afastou de mim, sabe? todo
mundo tem esse pensamento de que penalidade e eu fiquei muito
triste, por ter passado por essa sozinho, sem apoio, né, das pessoas
que eu tinha como amigos. E hoje a deficiência foi até bom, porque
eu to revendo a minha vida, revendo as pessoas que realmente me
dão valor né? Infelizmente nos dedos são poucos (S1).
As pessoas olham pra mim e dizem: não tem quem diga. As pessoas
olham pra mim e não tem quem diga que a minha visão é desse
jeito... e dizem: rapaz, você tá mentindo? Aí eu fico calado e saio de
perto, não digo que tá certo ou tá errado não. Eu me sinto um pouco
constrangido, porque a pessoa tá se desfazendo... Aí eu saio de
perto e saio na brincadeira... saio sem esculhambar, eu fico na
minha... (S4).
E ainda hoje, muitos dizem, olha, tá vendo... eles ainda não aceitam
a perda ainda (S8).
Eu acho que a dificuldade maior pra gente é essa, é não ter apoio
pra orientar as outras pessoas... (S8).
74
Destacamos, ainda, o fato de que, dos cinco entrevistados que habitam na
zona rural ou distrito, todos possuem baixa escolaridade, não ultrapassando o
ensino fundamental.
Posto isso, delineamos a fala de S2 quando infere que a partir de dificuldades
para a leitura, revelou-se o diagnóstico da perda visual, que em seu caso foi
gradativa. Além disso, tal acometimento conduziu à interrupção dos estudos.
Conforme S2 registra:
Agora tem uns que nascem com merecimento já vai melhor, né. Que
já nasce com berço de ouro, tem mais condições, tem mais ajuda e
já sobe mais no grau. Agora tem uns que já nascem com o pouco
que não tem condições, aí ele tem que seguir o rumo do pai... e finda
naquilo ali mesmo. O meu lado já foi mais curto, meu pai encostava
pedra e tive que seguir o rumo dele, porque o lado do estudo naquela
época não dava, porque ele teve dez filhos, e o que ele ganhava só
dava pra comer. E meu pai dizia, olhe eu quero que trabalhe e que
não entre na vida do mundo, e eu comecei a pegar o ritmo dele e
dediquei só ao trabalho (S4).
Porque a pessoa que não sabe ler não sabe explicar tanto. A pessoa
que sabe ler sabe explicar tudo que passa, tudo que sente (S13).
76
Minha cunhada falou que ia colocar eu no colégio, pra ver se eu
concluía o terceiro. Eu disse tá, foi quando eu fui mais me animando
(S1).
A relação da saúde com o trabalho pode ser vista sob dois enfoques: como
um problema ambiental, de acordo com a corrente clássica da Saúde Ocupacional; e
como um fenômeno coletivo, a partir das compreensões advindas pela
Epidemiologia Social (LAURELL, 1981). Neste último, segundo Possas (1989, p.
219), no centro dos elementos que contribuem para o perfil da morbimortalidade da
população, está a inserção socioeconômica, sendo essa, de um lado, mediada por
fatores vinculados ao modo de vida (estilo de vida e condições de vida) e, por outro,
pela participação na estrutura ocupacional (mercado de trabalho, condições de
trabalho e processo de trabalho).
O trabalho é uma das facetas da vida mais fortemente afetada ao se adquirir
uma deficiência, notadamente uma deficiência visual. Surgem sentimentos de
incapacidade, frustração, medo e insegurança, que combinados interferem nas
condições de ajustamento físico e psíquico à prática laboral. Por sua vez, a
inatividade retroalimenta o estado de impotência, comprometendo a saúde mental e
social.
77
Eu era um homem que não rejeitava trabalho não, toda hora era
hora. Desse tempo pra cá eu fui caindo de produção. No meu serviço
a visão não dá mais pra trabalhar, a vontade eu tenho, mas não
posso mais trabalhar, que é trabalho na pedra né. E por outro lado
acabou-se minha força e meu fôlego (S4).
Eu era babá de uma criança. Agora eu não consigo fazer nada (S15).
Para quem convive com a sua turma se acha muito mais avançado.
E se ficar sozinho, o senhor se acha um pouco caído, né, assim é o
meu caso. E ali eu vejo todos os meus amigos praticando o que eu
praticava, e não posso mais chegar, né. Eu me achei muito só.
Acostumado a tá no meio da turma, trabalhando. Porque eles são
meus amigos, mas não é mais como era, porque eu tava no meio da
comunidade trabalhando e eu comecei a me sentir só (S4).
Porque quando eu tinha minha oficina, minha casa era cheia. Em dia
de domingo, dia de sábado, eu ia pra lá, terminava, botava almoço, a
turma comia. Todo mundo chegava do trabalho pra falar logo lá. Mas
hoje não vai ninguém (S10).
Hoje não tô trabalhando mais porque não tem jeito, mas eu gosto de
trabalhar (S4).
Quero, de repente, se for pra voltar a sala de aula, pra mim fazer
uma coisa que eu sempre gostei de fazer, trocar conhecimento com
os alunos (S7).
80
dá aula em escola pública, eu to procurando meios e estudando
meios pra eu conseguir futuramente quando eu terminar o meu
curso, em dar aula igual a uma pessoa dita normal em sala de aula
(S8).
Agora tem uns que nascem com merecimento já vai melhor, né. Que
já nasce com berço de ouro, tem mais condições, tem mais ajuda e
já sobe mais no grau. Agora tem uns que já nascem com o pouco
que não tem condições, aí ele tem que seguir o rumo do pai...e finda
naquilo ali mesmo. O meu lado já foi mais curto, meu pai encostava
pedra e tive que seguir o rumo dele, porque o lado do estudo naquela
época não dava, porque ele teve dez filhos, e o que ele ganhava só
dava pra comer (S4).
82
tratamento médico, dispositivos assistivos, ou a necessidade de cuidado pessoal
(OMS, 2012).
Aoki, Oliver e Nicolau (2011), estudando as condições de vida em uma
população com deficiência no município de São Paulo, identificaram que a pobreza e
a desigualdade social foram fatores que dificultaram o acesso dessa população a
bens e serviços essenciais para a vida humana e, em alguns casos, fator que
contribuiu para a aquisição da deficiência.
Tendo em vista as pessoas com deficiência cuja inclusão não seria promovida
pelas políticas de incentivo à entrada no mercado de trabalho apenas, o Benefício
de Prestação Continuada (BPC) foi criado como um instrumento de proteção básica
para beneficiar os deficientes e suas famílias da situação de vulnerabilidade social
em decorrência do desemprego, da pobreza e do emprego informal.
Essa política social de segurança e renda garante a percepção de um salário
mínimo mensal destinado aos idosos e às pessoas com deficiência de baixa renda,
com vista a construção de uma rede de proteção social como garantia de cidadania,
reduzindo a vulnerabilidade social (JULIÃO; PAIVA; SHIMANO; CONTI; SANTOS,
2013). Os relatos que se seguem contextualizam esta realidade infringente em suas
rotinas, minorando suas possibilidades de vida digna condizentes com aquilo que se
preconiza para o alcance das necessidades materiais e de saúde, intimamente
relacionados.
83
adversidades, advindos do descuido para com os determinantes sociais de saúde.
Em última análise, a observância destes fatores contextuais promove saúde mental,
pois são peças chaves indissolúveis nas estruturas individuais, e também, micro e
macrossociais.
Como uma proposta de conciliação e síntese dos resultados e discussões
apresentados, a Figura 2, a seguir, caracteriza um panorama dos múltiplos
determinantes sociais de saúde da pessoa com deficiência sob um olhar conjugado
com vistas à atenção e garantia da saúde mental almejada.
84
anseios e potencialidades humanas frente às infidelidades do meio que nos cerca,
minimizadas ao nível do inevitável e aceitável.
Como um campo bastante polissêmico e plural, saúde mental diz respeito ao
estado mental dos sujeitos e das coletividades, condições altamente complexas,
promotoras das possibilidades da existência humana e social (AMARANTE, 2007).
Esse terreno torna-se particularmente fértil ao cultivo de articulações de saberes e
práticas com o campo da deficiência, enquanto objeto científico capaz de subsidiar o
planejamento e a reorientação dos serviços de saúde mental. Esta objetiva a
incorporação e reorganização da subjetividade, favorecendo, em última análise, a
inclusão de fato e a saúde coletiva pleiteadas.
Os atores, inseridos nessa trajetória de cuidado individual e coletivo, passam
a ser identificados como potência transformadora, capazes de esculpir com
particular significado os modos de andar a vida, tão particulares quanto à pluralidade
de fenótipos que a raça humana nos revela.
85
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
86
congênita, o sujeito constrói sua identidade sem rupturas perceptíveis, naturalizando
a diferença sensorial.
Sucede do encontro entre a subjetividade e as representações sociais da
deficiência visual o construto singular de normalidade e anormalidade vinculadas à
conceitos arraigados de limitações e possibilidades. Depreende-se que a percepção
de inconformidade com o sentir-se normal na expressão de vida cotidiana se revela
nos discursos, balizados por ideários de saúde desalinhados com a presença da
diversidade humana que lhe confere a multiplicidade de tons e cores. Esta, por sua
vez, caracteriza a variabilidade da vida, que comporta irregularidades, diferenças e
anomalias.
A libertação do cárcere em torno da deficiência visual se estabelece
descortinando o sofrimento psíquico que enevoa a relação consigo e com o outro,
restabelecendo os vínculos e as rédeas da própria vida, descaracterizando-se como
patológico para ressurgir como normativo, no processo de inclusão social. Todavia,
essa inclusão, de fato, inadiavelmente almejada e juridicamente prevista, só poderá
se concretizar à medida que os direitos universais a uma vida digna e interativa se
instaurem, permitindo o escopo da diferença na igualdade dos seres humanos que
lhes confere a existência.
Desse modo, normatividade não é adaptação; é criação de novas normas de
vida, convocando todos os outros a experimentar a diferença. Dessa experiência,
constrói-se uma sociedade receptiva e sensível ao acolhimento e convivência com a
diferença. Não mais como impotência e incapacidade, mas como oportunidade de
experimentação de novos modos de viver, alimentando uma maior capacidade de
tolerância às infidelidades do meio, constantemente vigiadas.
Com vistas a esta efetivação, considerar a implementação de currículos
capazes de contemplar a temática da deficiência em todos os níveis de ensino
proporciona uma retomada valorativa frente à diferença que nos cerca. Também, os
serviços de saúde, inclusive de apoio psicossocial, devem acolher as demandas
relativas ao sofrimento psíquico e seus desdobramentos interferentes na
homeostase social daqueles que se constituem a partir de alguma deficiência. As
famílias, igualmente, como instrumentos de amparo, acolhida e sustento, devem
esforçar-se para uma abordagem receptiva de um membro familiar com deficiência,
munindo-o de ferramentas promotoras da autoconfiança e emancipação.
87
Particularmente, os resultados saltaram aos nossos olhos, permitindo-nos
respostas, mesmo que inacabadas ao questionamento propósito de nossas
inquietações. Aferimos, em um grupamento de sujeitos, as possibilidades
inspiradoras de uma convivência pacífica com a deficiência, estampadas numa
cortina de autopercepção de normalidade e modos próprios de enfrentar os limites
individuais em uma sociedade preconceituosa.
O contributo advindo por meio de novas pesquisas poderá suprir lacunas no
tocante à compreensão de fenômenos de estigmatizações concorrentes à
deficiência visual, na perspectiva da saúde mental, tais como obesidade, pobreza,
racismo, diversidade sexual e de gênero, dentre outros.
Os desafios revelados nessa pesquisa recrutam esforços coletivos das
instâncias gestoras e de toda a sociedade, visando a promoção de saúde mental da
pessoa com deficiência visual, garantida a partir de sua plena participação no
entorno comunitário e do respeito às diferenças próprias de cada um.
88
REFERÊNCIAS
90
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100
WORLD HEALTH REPORT. WHO. Mental Health: New Understanding, New Hope.
Geneva, (Switzerland): WHO, 2001a.
101
APÊNDICES
102
APÊNDICE A – Roteiro de entrevista semiestruturada
Questões norteadoras
103
7. O que você acha da atitude dessas pessoas em relação à sua deficiência?
8. O que é ter boa saúde mental para você?
9. Como você considera o seu estado atual de saúde mental?
10. O que pode ser feito para garantir uma melhor saúde mental às pessoas
deficientes visuais?
104
APÊNDICE B – Termo de consentimento livre e esclarecido
ESCLARECIMENTOS
105
legalmente, serão devidamente ressarcidos e/ou indenizados pela pesquisadora
responsável.
Durante a coleta de dados será utilizado um instrumento específico para a
entrevista devidamente validado para os propósitos da pesquisa e coerente com os
preceitos éticos estabelecidos pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de
Saúde (CNS/MS).
Toda dúvida que você tiver a respeito desta pesquisa poderá perguntar
diretamente à Professora Dra. Jacileide Guimarães no Programa de Pós Graduação
em Saúde Coletiva (PPGSCol), localizado no Departamento de Odontologia da
UFRN, ou ainda pelo email ppgscol@dod.ufrn.br, ou através do telefone (84) 3215-
4133.
Dúvidas a respeito da ética dessa pesquisa poderão ser questionadas ao
Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL),
localizado no terceiro subsolo do hospital, ou por telefone/fax (84) 3342-5003.
Contando com a sua colaboração, agradecemos antecipadamente.
Eu,
____________________________________________________________, após ter
sido esclarecido(a) sobre os objetivos, importância e o modo como os dados serão
coletados nessa pesquisa, além de conhecer os benefícios, riscos, desconfortos e
todos os meus direitos, concordo em participar voluntariamente e autorizo a
divulgação das informações oferecidas em congressos e/ou publicações científicas,
desde que nenhum dado possa me identificar.
Natal/RN, ____ de ____________de 2015.
___________________________________________
Assinatura do participante da pesquisa
COMPROMISSO DA PESQUISADORA
___________________________________________
Prof. Dra. Jacileide Guimarães
Orientadora/pesquisadora responsável
106
APÊNDICE C – Caracterização dos entrevistados
Sujeitos Idade Localidade Zona Escolaridade Estado Renda Ocupação Início Forma de Grau
civil familiar da DV instalação da DV
S1 28 São Urbana Ensino União 2 Vendedora em 2 Abrupta Ceguei
Gonçalo do médio estável inatividade mese ra total
Amarante completo s
S2 20 Cerro Corá Rural Ensino Solteiro 1 Estudante 3 Insidiosa Visão
fundamental inativo amos subnor
incompleto mal
S3 52 Monte das Urbana Ensino Casado 3 Agricultor 20 Abrupta Visão
Gabeleiras fundamental aposentado anos subnor
completo mal
monoc
ular
S4 51 Macaíba Urbana Analfabeto União 1 Pedreiro 5 Insidiosa Visão
estável aposentado anos subnor
mal
S5 60 Campo Urbana Ensino Viúvo 3 Agricultora 10 Insidiosa Visão
Redondo fundamental aposentada anos subnor
incompleto mal
S6 26 Lagoa de Urbana Ensino Solteiro 1,5 Estudante 6 Insidiosa Visão
Pedras médio anos subnor
completo mal
S7 46 São Urbana Ensino Casado 3 Professor em 5 Insidiosa Visão
Gonçalo do superior - readaptação anos submo
Amarante Pedagogia rmal
S8 34 Natal Urbana Nível Solteiro 1,5 Estudante de 12 Abrupta Ceguei
superior licenciatura em anos ra total
incompleto Música
S9 52 Lages Distrito Ensino União 1 Agricultor 11 Insidiosa Visão
Pintada fundamental estável aposentado anos subnor
incompleto mal
S10 59 Natal Urbana Ensino Casado 2 Mecânico de 3 Abrupta Visão
fundamental refrigeração - anos subnor
incompleto Aposentado mal
S11 52 Santo Urbana Ensino Casado 2 Agricultora 6 Abrupta Ceguei
Antônio do fundamental aposentada mese ra total
Salto da incompleto s
Onça
S12 20 Serra do Rural Ensino Solteiro 1 Desempregado 2 Abrupta Visão
Mel fundamental anos subnor
incompleto mal
monoc
ular
S13 48 São José Distrito Ensino União <1 Agricultora em 3 Abrupta Visão
do Mipibu fundamental estável inatividade anos subnor
incompleto mal
S14 29 Jardim do Rural Ensino Casado 1 Do lar - BPC 4 Abrupta Ceguei
Seridó fundamental anos ra total
incompleto
S15 22 Natal Urbana Ensino Solteiro 1 Desempregada 6
fundamental - BPC mese
incompleto s
S16 54 Parnamirim Urbana Ensino União <1 Agricultor 1 ano Abrupta Visão
médio estável aposentado subnor
completo mal
107
ANEXO
108
ANEXO A – Parecer consubstanciado do Comitê de Ética em Pesquisa
DADOS DO PARECER
Número do Parecer: 1.157.507 Data da Relatoria: 24/07/2015
Apresentação do Projeto:
A presente pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa exploratória, descritiva de
abordagem qualitativa que tem como objetivo analisar a contribuição dos
determinantes psicossociais no cotidiano de sujeitos com deficiência visual. Os
sujeitos da pesquisa serão usuários do ambulatório de oftalmologia do Hospital
Universitário Onofre Lopes (HUOL), na cidade de Natal/RN. O procedimento
empregado para a coleta de dados será entrevista semiestruturada com questões
norteadoras do fenômeno investigado e a análise será realizada à luz do método de
análise temática
Objetivo da Pesquisa:
Objetivo Primário:
• Analisar a contribuição dos determinantes psicossociais no cotidiano de sujeitos
com deficiência visual. Objetivo Secundário:
• Identificar as dificuldades encontradas no contexto psicossocial por deficientes
visuais;
Descrever as estratégias de enfrentamento empregadas em relação às
adversidades cotidianas vivenciadas;
• Investigar a percepção de saúde mental de pessoas com deficiência visual com
base em suas experiências singulares.
109
Avaliação dos Riscos e Benefícios:
Riscos:
O procedimento de coleta de dados, através da entrevista semiestruturada,
oferecerá riscos mínimos à saúde dos participantes e poderá gerar pequenos
desconfortos devido ao acesso dos pesquisadores às informações compartilhadas.
Caso ocorram, estes riscos serão minimizados através das seguintes providências:
haverá permissão do participante para retirar-se da pesquisa no momento em que
este achar conveniente sem nenhum prejuízo; intervenções pontuais do
entrevistador e retomada da questão norteadora da pesquisa, a fim de reduzir
possíveis desconfortos.
Benefícios:
Os benefícios garantidos aos sujeitos da pesquisa corresponderão à ampliação dos
conhecimentos através da reflexão acerca do problema em investigação. Além
disso, a participação do sujeito contribuirá na discussão sobre o processo de
trabalho instituído e despertará para a produção de novas práticas assistenciais,
favoráveis à sustentação dos compromissos sociais com a rede de atenção em
saúde de Natal/RN
Recomendações:
Em relatoria anterior, observou-se que o cronograma de execução apresentava
período de coleta de dados anterior a apreciação e aprovação pelo CEP/HUOL,
razão pela qual recomendou-se a pesquisadora que adequasse o cronograma, bem
como apresentasse carta de comprometimento.
Tais recomendações foram atendidas e as pendências sanadas.
110