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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

O YOGA COMO INSTRUMENTO DE ATIVAÇÃO DO BEM ESTAR EM


PACIENTES ONCOLÓGICOS INFANTOJUVENIS

SOFIA VARGAS BREVES

Rio de Janeiro/RJ
2020
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SOFIA VARGAS BREVES

O YOGA COMO INSTRUMENTO DE ATIVAÇÃO DO BEM ESTAR EM


PACIENTES ONCOLÓGICOS INFANTOJUVENIS

Trabalho acadêmico apresentado no curso de Graduação em


Psicologia da Universidade Estácio de Sá como instrumento
de pesquisa no campo da psicologia hospitalar e do esporte.

Rio de Janeiro/RJ
2020
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SUMÁRIO

1. Introdução.................................................................................................4

2. Capítulo 1: O câncer e a deterioração da saúde mental pelo estresse.....5

3. Capítulo 2: Yoga: sua história e funcionalidade........................................9

4. Capítulo 3: Yoga e a saude mental..........................................................15

5. Considerações finais................................................................................22

6. Bibliografia...............................................................................................23
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1. INTRODUÇÃO
O contexto hospitalar pode gerar impactos na vida da pessoa que está internada. Quando
essa internação se dá por um período maior de duração, como em um caso de câncer, esse
paciente que está exposto a essa experiência traumática e invasiva, tende a vivenciar de forma
mais intensa e duradoura os impactos físicos, psicológicos e intelectuais gerados pelas
incertezas, desconforto de estar em um ambiente que muitas vezes causa medo, dor e privação
de sua liberdade, do contato com amigos, familiares, o âmbito escolar ou profissional e das suas
atividades recreativas, estando em uma posição de passividade, a mercê das ordens e atos de
uma equipe médica, além de ter que lidar com a ameaça constante de morte.
O câncer é uma doença desafiadora, na qual é normal que os pacientes fiquem com o
emocional abalado, uma vez que já estão fragilizados fisicamente. É um momento no qual pode
ocorrer uma mudança nas prioridades de vida dos pacientes, onde busca-se o bem estar, físico
e mental; se mostrando importante e até necessário que sejam oferecidos recursos para que os
pacientes possam passar por essa experiencia de uma forma menos traumática e com menos
prejuízos para sua vida. (Bernardi, Amorim, Salaroli, & Zandonade, 2019)
A terapia cognitiva comportamental é uma abordagem psicologica desenvolvida por
Aaron T. Beck, que compreende que a parte cognitiva e a parte comportamental das pessoas
possuem uma relaçao em que uma influencia diretamente a outra, que as crenças sobre si
proprio, sobre os outros e sobre o mundo, interferem no pleno funcionamento e na forma como
os individuos se posicionam frente a vida e as situações. Realizando intervenções cognitivas e
comportamentais afim de auxiliar o individuo a encontrar novas formas mais assertivas de
funcionamento. Aaron Beck teve contato com a tecnica chamada de Mindfulness, ao perceber
os efeitos que essa pratica gerava no ser humano em sua totalidade, provomeu a inserção nas
terapias cognitivas desse intrumento, e dessa forma abrindo caminho para que outras
ferramentas fossem avaliadas e implementadas como coadjuvantes no auxilio de pessoas com
as mais diversas necessidades dentro do campo da psicologia. (Wright, Basco, & Thase, 2008)
O Yoga é um sistema milenar de origem Indiana, com base filosófica e prática, que tem
dentre seus objetivos o autoconhecimento, autopercepção e uma melhora da qualidade mental,
emocional, fisico, energético e comportamental, levando o praticante a se direcionar para o
presente, estabelecendo uma conexão entre corpo e mente, utilizando o corpo como instrumento
para alcançá-la através de relaxamento, exercícios respiratórios, meditação e alongamentos
suaves; sendo uma pratica positiva, por considerar o indivíduo em sua totalidade e auxiliando
a lidar com as adversidades da vida. (Saraswati, 2018)
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Esse estudo sistemático de cunho explicativo, que tem como objetivo através de uma
revisão bibliográfica, analisar os efeitos beneficos que a prática do yoga pode oferecer aos
pacientes infantojuvenis em tratamento oncológico. Essa constatação será realizada atravez da
autopercepçao, nos níveis de bem-estar, que é uma concepção subjetiva, ou da permanência do
estresse, aonde se faz presente, principalmente a ansiedade, concomitantemente com as
repercussões fisicas e psicológicas. Com o intuído de que essa ciência milenar, seja uma
ferramenta incorporada por esse grupo de pessoas, a fim de trazer melhorias no decorrer do seu
tratamento.

2. Capítulo 1: O câncer e a deterioração da saúde mental pelo estresse


O câncer constitui a segunda causa de morte em crianças, adolescentes e jovens adultos
da população Brasileira, segundo dados de 2018 do Instituto Nacional do Câncer José Alencar
Gomes da Silva (INCA). Segundo estudos, as taxas de ocorrência de câncer infanto-juvenil
apresentaram aumento por volta de 1% ao ano em crianças e 1,5% em adolescente, no período
de 1970 a 1999. (Feliciano, Santos, & Pombo-de-Oliveira, 2018)
Analises mostraram que entre os anos de 2001 e 2010, a taxa de incidência em crianças
de zero a quatorze anos foi de 140, 6 por milhão, sendo os tipos de câncer mais frequentes a
leucemia (46,4 por milhão), seguido por tumores no Sistema nervoso central (28,2 por milhão)
e linfomas 915,2 por milhão); e em adolescentes de quinze a dezenove anos de 185,3 por
milhão, estando em primeiro lugar os linfomas (41,8 por milhão) e em segundo os tumores
epiteliais e melanomas (39,5 por milhão). Entre os anos de 2009 a 2013, constatou-se que a taxa
média de mortalidade ajustada por idade observada foi de 32,07 por milhão na faixa etária de
0-14 anos, 44,22 por milhão na faixa etária de 0-19 anos, 54,01 por milhão na faixa etária de
15-19 anos, e 66,97 por milhão na faixa etária de 15-29 anos. Entre as principais causas de
morte por câncer em crianças com idade entre 0-14 anos, as leucemias foram o tipo de câncer
de maior mortalidade (14,94 mortes por milhão) seguido pelos tumores do SNC (10,26 mortes
por milhão). (Feliciano, Santos, & Pombo-de-Oliveira, 2018)
Em 2012, a Organização Mundial de Saúde (OMS), registrou 14,1 milhões de novos
casos de câncer e 8,2 milhões de mortes por essa patologia; estimativas do Instituto Nacional
do Câncer Jose Alencar Gomes da Silva (INCA), apontam para a ocorrência de 420 mil novos
casos no biênio de 2018-2019, sem contar com o câncer de pele não melanoma. Além do
pressuposto da OMS de que em 2030 serão 23,6 milhões de novos casos, com altas taxas de
mortalidade. (Mutti, et al., 2018) Nos países desenvolvidos, as taxas de incidência e de
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tipologias com maior manifestação variam de acordo com a região, estilos de vida, acesso a
saúde e outros fatores, nos países em desenvolvimentos, as taxas de mortalidade por câncer são
em menores proporções devido a maiores incidências de mortes ocasionadas por doenças
infecciosas. Estudos ainda não conseguem com precisão determinar os fatores causais do
câncer, sugerindo que a predisposição genética, imunologia, hereditariedade, agentes
genotoxicos, exposição ambiental, campos eletromagnéticos e radiações ionizantes e outros
fatores podem vir a influenciar no surgimento dessa patologia. (Feliciano, Santos, & Pombo-
de-Oliveira, 2018)
Segundo o Sistema de Informação de Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM), em
2014 essa doença representou para a população Brasileira, a oitava causa de óbitos em crianças
de zero a quatro anos e a primeira em crianças e adolescentes de cinco a dezenove anos. Nos
Estados Unidos da América e na Argentina, as taxas são semelhantes ao Brasil, sendo a segunda
causa de morte entre crianças de zero a quatorze anos e entre cinco a quatorze anos nesses dois
países, estando abaixo apenas das causas externas. Dados apontam que até os cinco anos de
idade, é o período de maior incidência da doença, e sendo predominado por meninos, sendo aos
oito anos a idade média de início ao tratamento. (Mutti, et al., 2018)
O câncer é uma doença definida como a multiplicação desordenada de células atípicas,
essas neoplasias variam de acordo com a histologia, raça, idade, sexo, tipo histológico e o
aparecimento em diferentes lugares no corpo, desde a pele, até órgãos viscerais e ossos. As
neoplasias em crianças e adolescentes tem seus aspectos morfológicos, lugares de origem e
comportamento diferente das neoplasias em adultos, sendo necessário ser estudadas
separadamente. O diagnostico acaba por ser complexo, uma vez que o reconhecimento dos
sinais dessa doença são comuns e frequentes em outras doenças na infância como febre,
vômitos, sangramentos, emagrecimento, dor óssea generalizada, palidez e adenomegalias
generalizadas; dificultando o diagnóstico precoce, agravos da doença e início do tratamento,
além de que algumas regiões apresentam déficit em acessibilidade a medicamentos,
suprimentos e equipamentos para a realização das intervenções necessárias; dessa forma,
quanto mais tarde for o diagnóstico e o avanço da doença, menores são as chances de cura e
aumentam as chances de sequelas decorrentes do tratamento que é altamente agressivo. (Mutti,
et al., 2018)
A quimioterapia foi apontada como a intervenção mais empregada entre os pacientes
infanto-juvenis, podendo ser associada a outras intervenções ou como tratamento isolado.
Sendo vivenciado o medo e a tristeza concomitantemente a esperança e expectativa de melhora
e cura, esse conflito é presente tanto nos pacientes como nos familiares que cuidam
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integralmente dos mesmos; a radioterapia por sua vez, esteve sempre correlacionada a
quimioterapia ou a cirurgia, por necessitar de uma prudência maior e por ocasionar efeitos
tardios, sendo cada vez menos empregada. Todo esse processo requer cuidados constantes e
sendo recorrente a necessidade de múltiplas internações e por períodos extensos, sendo um
desafio tanto para a criança e família como para a equipe medica que muitas vezes encontra
resistências por parte do paciente em decorrência das diversas mudanças na rotina da criança,
estrutura familiar e limitações; provocando sentimentos como medo, angustia, revolta,
amadurecimento precoce, tensão e sobrecarga, além da necessidade de auxílio para atividades
básicas que o paciente anteriormente já realizava sozinho como hábitos de higiene e
alimentação. (Mutti, et al., 2018)
O ambiente hospitalar vem sendo estudado pro diversos autores por ser um local de certa
forma intimidador por submeter os pacientes a procedimentos investigativos, dolorosos e/ou
invasivos, não possuir privacidade, uma quebra brusca de rotina e ser atravessado
constantemente por regras que já são desafiadoras para adultos e se mostram ainda mais
desafiadoras para as crianças que repentinamente e muitas vezes sem saber ao certo o que estão
fazendo ali e o que irá acontecer, são separadas dos seus amigos, familiares e perde o direito de
brincar livremente, andar, correr, gritar, dentro outros atos comuns a esse período de
desenvolvimento, estando em uma posição de submissão; podendo até mesmo gerar danos ou
prejuízos no desenvolvimento dessas crianças, demonstrando uma necessidade de humanização
e intervenções com proposito de amenizar esse momento e trazendo maior qualidade de vida.
(Parcianello & Felin, 2018)
Segundo os autores Carvalho e Begnis (2006), Chiattone (2003c) e Straub (2005), esses
períodos prolongados de intervenções e principalmente os de internação, quanto mais longos
forem, maiores são os prejuízos e as chances de provocarem traumas, em razão de sua
autoestima estar comprometida, pode haver culpa por estar demandando acompanhamento dos
pais que tem que se ausentar de suas obrigações para estar junto do paciente e outras razoes já
mencionadas. Os prejuízos mais frequentes, segundo (ANGERAMI-CAMON et al., 2003a;
CHIATTONE, 2003c; JEAMMET et al., 2000; STRAUB, 2005) estão relacionados a
desregulação do sono, perda de apetite, de peso, crescimento, parada ou regressão no
desenvolvimento, agressividade e hostilidade, instabilidade emocional, manifestações
psicossomáticas, desorientação, distúrbios comportamentais, carência afetiva, revolta e
sentimento de vingança pelo sofrimento dos procedimentos, dificuldade para aprender
habilidades e regressão ou perda em habilidades antes dominadas. (Parcianello & Felin, 2018)
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Além do enfrentamento da morte, a criança pode passar por um estranhamento e


desintegração da sua figura frente as perdas e modificações corporais advindas dos
procedimentos enfrentados, o medo da separação e a ideia de abandono dos familiares também
são fatores que elevam os níveis de ansiedade e estresse nesses pacientes e dificuldade de
aceitação da situação. O comportamento que a criança e o adolescente apresentam, reflete a
forma como a mesma esta lidando e as estratégias de enfrentamento e adaptação que ela possui
para situações estressoras no geral; essas manifestações dependem de condições como a idade,
compreensão do diagnostico, a forma que a família e a equipe medica lidam com a doença e
interagem com essa criança, anseio de recuperação e as circunstancias psíquicas. (Parcianello
& Felin, 2018)
O estresse é uma maneira automática e complexa que o organismo tem de manejar as
situações possivelmente desestabilizantes e ameaçadoras, de caráter adaptativo. Possuindo a
função imprescindível de manter o estado de alerta ao perigo que estar se apresentando ou para
preparar para situações importantes, sendo uma função imprescindível para a sobrevivência,
sendo danoso para a saúde quando repetido em demasiada frequência ou intensidade. (Caballo,
2007) Quando em estresse, o corpo sofre mudanças e reações psicológicas, mentais, hormonais
e físicas com intuito de entrar em ação para se sustentar e proteger de forma rápida e eficiente;
os sintomas dessas modificações estão vinculados ao fluxo sanguíneo aumentado para as áreas
mais importantes do corpo como o cérebro. (MALAGRIS & DIAS, 2019)
Apesar do estresse estar muito presente atualmente, devido ao estilo de vida da
população, ele esteve presente durante todas as épocas, tendo modificação apenas nos fatores
geradores, até mesmo para se manter eficiente para o organismo. (MALAGRIS & DIAS, 2019)
Os Episódios de estresse presentes na natureza, como se deparar com um predador, são eventos
passageiros, que dão ao corpo um tempo de recuperação antes de outro evento; na atualidade,
muitas vezes os estressores não são biológicos e sim psicológicos e de forma contínua,
impulsionando as mesmas reações biológicas antigas. (Goleman & Davidson, 2017)
A amigdala realiza a função de radar para ameaças do cérebro, realizando uma
checagem de perigo ou segurança quando recebe algum sinal vindo dos sentidos. Ao identificar
ameaças, dispara a função de lutar-fugir-paralisar que o cérebro possui, sendo estimulada a agir
devido ao cortisol e adrenalina secretados. A amigada possui um papel dual por estar conectada
ao cérebro, em relação as reações emocionais intensas e ao processo atencional; por essa razão
a atenção é direcionada para ameaças em potencial, assim a ansiedade e a distração são
mecanismos presentes, voltando-se de forma persistente ate o ponto de fixação quando algo
gera preocupação ou estressa. (Goleman & Davidson, 2017)
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O estresse ocorre em quatro etapas, a primeira etapa consiste na fase de alerta, sendo
uma maneira favorável para o corpo produzindo hormônios como a adrenalina que prepara o
corpo para enfrentar possíveis ameaças, se a situação permanecer ou se o organismo não
consegue se adaptar adequadamente, entra a segunda fase que é chamada de resistência, onde
o corpo se mantem ativo para enfrentar e ser capaz de se recuperar dos danos decorrentes da
situação; se o corpo consegue se adaptar ou o fator estressante para, ele volta ao equilíbrio
normal, se não, inicia a terceira fase chamada de quase exaustão, onde é possível que se inicie
um adoecimento devido ao grande desgaste sofrido, apesar do desgaste, ainda é capaz de
realizar funções como trabalhar; inicia-se a quarta fase caso o estresse se mantenha, essa fase é
chamada de exaustão, que ocorre quando é demandado mais do corpo do que ele pode suportar,
sobrecarregando mente e corpo, ocasionando prejuízos sérios a saúde, podendo resultar em
transtornos psicológicos e doenças físicas como gastrite, hipertensão, depressão e ansiedade,
sendo as que o indivíduo já possuía predisposições. Os sintomas variam de acordo com a fase
na qual a pessoa se encontra, na natureza das situações, como frio, fome e dor, na intensidade
com que ocorrem, na idade da pessoa, no momento de vida e nas técnicas de manejo que a
pessoa possui. (MALAGRIS & DIAS, 2019)

3. Capítulo 2: Yoga: sua história e funcionalidade


O Yoga que conhecemos atualmente, foi desenvolvido como uma parte de uma
civilização que existiu há mais de dez mil anos atrás na Índia e em todo o mundo, conhecida
como civilização Tântrica. O Yoga é considerado como a ciência de viver positivamente ou
viver bem, uma vez que tem a pretensão de ser inserido na vida cotidiana. Promovendo o
funcionamento do individuo em sua totalidade, passando pelos aspectos físico, a vitalidade, a
mente, as emoções, o psíquico e o espiritual. Essa ciência tendo seu desenvolvimento e
evolução de forma lenta, através de grandes sábios de todo o mundo, constantemente tendo sua
essência ocultada ou explicada por meio de símbolos, analogias e idiomas. (Saraswati, 2018)
Patanjali foi o primeiro a codificar um sistema de yoga de forma unificada e
compreensiva, em seu tratado conhecido como Yoga-Sûtra; comumente conhecido como o
caminho dos oito passos, formado por Yama, que se refere a ética e moral desde pensamentos
a atos como a não violência com si mesmo e com os outros, honestidade e respeito; Niyama,
que se refere a autodisciplina, incluindo a higiene própria e do ambiente, adoção de postura
positiva diante das situações, o cumprimento das tarefas, e autoexame para o
autoconhecimento; Asana, que se refere as posturas físicas; Pranayama, compreendido como o
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controle respiratório para o cultivo da vitalidade; Pratyahara, sendo a retirada dos sentidos para
uma dissociação da consciência do mundo externo, voltando-se para dentro; Dharana,
representando a concentração através do direcionamento da mente que abre caminho para os
dois últimos passos; Dhyana, que é a meditação que tem um único foco e Samadhi, sendo o
processo de identificação e fusão com a consciência pura conhecido como êxtase. (Saraswati,
2018)
Podendo definindo o Yoga como a “restrição dos turbilhoes da consciência”,
simbolizando a concentração da atenção no objeto que estiver sendo instrumento de
contemplação e excluindo todo e qualquer outro ao seu redor; não se restringindo a impedir o
surgimento de pensamentos, sendo a concentração no corpo em sua totalidade, em que desfruta
do aquietamento do ser total. (Feuerstein, 2015)
O Hatha-Yoga, também conhecido como Yoga vigoroso é um produto da época
medieval e uma dentre tantas linhas de Yoga, tendo sua origem através do Tantra com objetivo
que também esta presente em outras linhas, a autorrealização, transcendência e unificação com
a energia cósmica, entretanto a tecnologia psicoespiritual dessa linha faz uso e busca
desenvolver as potencialidades do corpo físico, sendo o principal instrumento, preparando o
mesmo para resistir a força e pesos que venham a se apresentar ao longo da trajetória ate chegar
a realização transcendente. Esses estados de êxtase ou realizações transcendentais comumente
são interpretados como questões unicamente mentais, interpretação essa que não é realista,
esses estados de consciência podem chegar a produzir um efeito significativo sobre o sistema
nervoso e no corpo em geral. (Feuerstein, 2015)
Carl Gustav Jung em sua obra “Psicologia e religião Oriental” contendo um capítulo
sobre o Yoga e o Ocidente, faz uma reflexão respeito da disciplina psicológica que as práticas
religiosas e filosóficas preveem, sendo um método de higiene mental. Contendo dentro de seus
múltiplos processos, uma higiene fisiológica que superior aos exercícios de ginastica e
respiração que são comuns, não se restringindo a uma prática mecanicista e cientifica,
englobando a parte filosófica. (Yogananda, 1981)

Seu objetivo é fazer com que as amplas funções corporais estejam em pleno
funcionamento, de modo que proporcionem o bem estar completo do corpo, passando do físico
para os níveis mentais e emocionais. Os Yogasanas habitualmente são interpretados como uma
modalidade de ginastica, porem, são técnicas que posicionam o corpo de formas que propiciam
o relaxamento, a consciência, a concentração e a meditação. Fazendo parte desse processo o
desenvolvimento de uma saúde física adequada através de alongamento, massageamento e
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estimulação dos órgãos internos, através de Asanas que tem o reconhecimento por seus efeitos
que ocorrem acerca das glândulas, órgãos internos e pela alteração da atividade eletroquímica
no sistema nervoso. (Saraswati, 2018)
Na ciência yogue, entende-se que a rigidez corporal como uma consequência do
bloqueio do prana, energia vital ou força de vida que tem forma ligação com o ar, sendo uma
forma mais sutil que o oxigênio; que ao retomar seu fluxo saudável, as toxinas são retiradas do
sistema, garantindo a saúde adequada do corpo por completo. Os asanas tem como objetivo
suavizar esses bloqueios, relaxando tensões mentais de forma somato-psiquicamente, partindo
do nível fisiológico para o nível mental. Tal como quando devido a estresses e repressões a
parte superior do tórax pode vir a ser comprimida, ocasionando um funcionamento limitado dos
pulmões, diafragma e do processo respiratório do individuo, podendo vir a gerar doenças que
deixam o sujeito enfraquecido e comprometem sua qualidade de vida como a asma. (Saraswati,
2018)
Nas escrituras sagradas chamadas de Hatha Yoga Pradipika, o asana é tido como a parte
primeira no caminho do Yoga, para que através da realização dos asanas o individuo consiga
atingir a estabilidade física e mental, conquistando leveza ao movimentar seus membros e se
libertando de doenças. Essa prática mantem o bom funcionamento do corpo físico, quando o
mesmo já se encontra saudável e viabiliza um melhor desempenho para aquele que se apresenta
com alguma debilitação. (Saraswati, 2018)
A mente e o corpo não são elementos isolados, apesar da tendência de se pensar e se
comportar como se fossem. A mente é a forma sutil do corpo e o corpo é a forma grosseira da
mente, integrando e promovendo a harmonia entre os dois ao realizar a prática de Asanas. Tanto
o corpo como a mente armazenam bloqueios e tensões, os bloqueios mentais sem exceção,
possuem um equivalente no corpo físico, uma tensão muscular ou outras manifestações, e assim
é também com os bloqueios corpóreos que encontram equivalências mentais. (Saraswati, 2018)
Ao se praticar de forma adequada, produz um relaxamento mental e corporal de forma
progressiva, tonificação do sistema nervoso autonômico, das funções hormonais e da atividade
dos órgãos internos. (Saraswati, 2018) Foram criadas em sua maioria, com a intensão através
da harmonização da força vital, desencadear o equilíbrio, fortalecimento e a curar em amplas
dimensões. Refletindo sobre as dimensões terapêuticas que o Hatha-Yoga possui desde o seu
início, tornando-se em uma profissão que atualmente vem ganhando espaço no yoga chamada
“yogaterapia”. (Feuerstein, 2015) A Yogaterapia somática foi um método desenvolvido por
Joseph LePage, busca auxiliar na condução do contato mais profundo com si mesmo e de uma
consciência corporal mais ampla e ajustada a realidade, com intuito de diminuir os sintomas e
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as patologias dessas pessoas que procuram esse método, que de forma significativa são
portadores de diversas doenças psíquicas e físicas. (Danucalov & Simões, 2018)
Os efeitos que essa pratica proporciona durante e após a sua realização, vem sendo
pesquisados por cientistas e doutores ao redor do mundo, os resultados dessas pesquisas
revelam que os asanas, posturas; pranaymas, exercícios respiratórios; mudras, são a
combinação de movimentos, gestos, atitudes ou selos de forma sutil podendo envolver todo o
corpo ou apenas feito com as mãos; e bandha, ação física de segurar, apertar ou fechar o fluxo
respiratório e energético afim de redirecionar com intenções especificas; são meios poderosos
de recuperar e manter um bom estado de saúde tanto físico quanto mental. (Saraswati, 2018)
A ciência médica considera o yoga como uma forma de terapia que demonstra um bom
desempenho pois consegue conduzir de forma eficaz ao equilíbrio entre o sistema nervoso e o
sistema endócrino, que dessa forma produz influência nos outros sistemas e órgãos, englobando
o organismo no geral. Os Asanas de torção de coluna por exemplo, melhoram esse fluxo
energético em Samana, a região ao redor do umbigo, nutrindo órgãos como pâncreas, rins,
estomago, intestino delgado, fígado, vesícula biliar, aliviando desordens associadas e
rejuvenescendo os tecidos. (Saraswati, 2018)
Um Asana de torção de coluna que possui o nome em Sânscrito de Meru Wakrasana, e
tendo a tradução para a língua Portuguesa de torção de coluna, é realizado com o praticante
sentando-se com as pernas esticadas, girando o tronco levemente para a direita e colocando a
mão direita atrás do corpo com os dedos apontados para trás, próxima do glúteo esquerdo.
Posicionando a mão esquerda atrás do corpo, próxima do glúteo direito e o mais próxima
possível da mão direita. Flexionando o joelho esquerdo, para posicionar o pé na lateral externa
do joelho direito, utilizando os braços como apoio, girando a cabeça e o tronco para a direita
ate o limite do confortável, o cotovelo direito pode ser levemente flexionado, olhando por cima
do ombro direito ao girar o pescoço ate o limite possível. Os glúteos permanecem no solo, a
coluna se mantem esticada verticalmente durante toda a execução. Voltando a centralizar o
corpo e relaxando por alguns segundos antes de repetir essa postura, repetindo a execução em
média cinco vezes para cada lado. (Saraswati, 2018)
Como se exemplifica na figura abaixo.
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(АЮРВЕДА, 2020)
Foi através de posturas de imitação dos animais que os Rishis identificaram a
possibilidade de enfrentar os desafios da natureza mundana por conta própria; Asanas como a
imitação da lebre ou posição da lua, que é conhecido em Sânscrito por Shashankasana,
influencia-se o fluxo de adrenalina que é responsável pelo mecanismo de luta e fuga, regulando
o funcionamento das glândulas adrenais além de tonificar os músculos da região pélvica e das
costas, aliviando tensões na coluna vertebral, nervo ciático e desordens do aparelho reprodutor
tanto do homem quanto da mulher. (Saraswati, 2018)
Esse Asana é realizado sentando-se sobre os joelhos, mantendo os dedos grandes dos
pés encostados e os calcanhares separados, as costas e a cabeça em linha reta, alongando
verticalmente, com as palmas das mãos sobre as coxas acima dos joelhos. Relaxando de olhos
fechados e mantendo a postura, ao inspirar eleva-se os braços esticados acima da cabeça,
abrindo os ombros, ao expirar flexiona-se o tronco a frente partindo do quadril, mantendo os
braços e cabeça alinhados com o tronco. Ao finalizar o movimento de flexão, as mãos e testa
devem tocar o solo a frente dos joelhos, se possível ao mesmo tempo. Dobrando levemente os
braços, deixando os cotovelos tocarem o solo para que se relaxe totalmente. Podendo reter a
respiração por ate cinco segundo na posição final. Após, de forma simultânea inspirando e
elevando braços e tronco voltando para a posição de alinhamento vertical, expirando abaixando
os braços e retornando à posição inicial. Repetindo essa postura entre três a cinco vezes,
podendo permanecer na postura por alguns minutos, dependendo do objetivo que o praticante
esteja desejando alcançar.
O Asana se exemplifica abaixo.
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(Vazhga Valamudan, 2020)

Os Asanas de equilíbrio promovem o desenvolvimento muscular e postural adequado,


além de induzir o equilíbrio físico, do sistema nervoso e minimizando os movimentos
inconscientes, trazendo consciência do corpo e seu funcionamento, uma vez que essas posturas
desenvolvem o cerebelo, que é o centro cerebral controlador do dos trabalhos do corpo em
movimento. Requerendo um esforço significativo e energia por parte do praticante para
executa-los com estabilidade, trabalhando a concentração e equilíbrio dos níveis emocional,
mental, psíquico e ajudando a remover o estresse e ansiedade ao longo do processo, quando os
níveis tensionais se encontram muito elevados, recomenda-se que essas posições sejam
mantidas por longos tempos ate o limite do possível. Entendesse que nas primeiras tentativas,
esses Asanas possam ser desafiadores e de difícil execução, vindo a exigir a disciplina e
persistência para alcançar e ir progredindo em seus objetivos; entretanto, o corpo possui a
capacidade de adaptação, sendo notório o progresso em apenas algumas semanas de execução
regular. (Saraswati, 2018)
O Asana conhecido em Sânscrito como Eka Pada Pranamasana e tendo sua tradução
para a Língua Portuguesa de posição de saudação em uma perna, é uma dentre tantas posturas
de equilíbrio, que além dos benefícios mencionados anteriormente, trabalha o fortalecimento
das pernas, tornozelos e pés. Sendo realizada com o praticante inicialmente em pé com os dois
pés unidos e os braços na lateral do corpo, focando o olhar em um ponto fixo à frente, na altura
dos olhos. Flexionando a perna direita, segurando o tornozelo e colocando a sola do pé direito
na coxa esquerda, com o calcanhar próximo do períneo e o joelho direito apontando
lateralmente. Segurando o calcanhar ate que o corpo esteja equilibrado e consiga colocar as
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mãos em posição de saudação, unindo as palmas a frente do peito ou com os braços esticados
acima da cabeça com as palmas unidas, chegando na posição final. Desfazendo a postura,
voltando a posição inicial e repetindo para o lado oposto, realizando em média três vezes para
cada lado.
Como é exemplificado abaixo.

(Pinterest, 2020)

Carl Gustav Jung em uma reflexao sobre o yoga no Ocidente, refere-se ao Yoga como
um metodo apropriado e perfeito para unir mente e corpo, se tornando uma unidade
inquestionavel, em que a pratica se torna ineficiente ao ser tratada apenas como posturas,
deixando de lado os fundamentos nos quais essa ciencia se baseia. Sendo extraordinariamente
completa ao combinar o fisico e o espiritual. (Yogananda, 1981)

4. Capítulo 3: Yoga e a Saúde mental


Swami Sivananda de Rishikesh traz uma definição de yoga como a integração e
harmonia entre os pensamentos, palavras e ações ou como a integração entre a cabeça, coração
e mãos. Através dessa prática é desenvolvida a consciência e inter-relação dos níveis emocional,
mental e físico, atingindo um nível mais elevado de consciência e autoconhecimento é possível
perceber como um distúrbio em um desses níveis afeta os outros. (Saraswati, 2018)
Conforme a respiração ou força vital ganham espaço pelo corpo, da mesma forma a
atenção tem um ganho significativo, gerando experiencias cada vez mais sutis. A prática
simultânea de asanas e do controle respiratório fornece a dessensibilização progressiva mental
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e fisicamente, que dessa forma interdita os sentidos aos estímulos externos ao individuo.
(Feuerstein, 2015)
A essência do Yoga está muito mais presente no processo respiratório do que na
intensidade na qual as posturas são realizadas, ou seja, o yoga pode ser praticado por qualquer
ser que saiba respirar. Através da respiração consciente e da concentração no corpo, a mente se
afasta das preocupações externas, deveres e obrigações e se volta para o presente momento.
Uma das tantas razões para essa prática ter efeitos tão restauradores está na constatação de que
por mais que essa concentração dure poucos instantes, existe a realidade do momento presente,
e que todas as vezes em que se volta para o presente, uma parte dessas preocupações e tensões
é deixada de lado. Sendo possível e no inicio sendo significativamente provável, sem perder de
vista a importância a importância de passar pela experiencia, perceber o processo que acontece
e que a redução dos níveis de estresse ocorrem de forma mais frequente e com maior duração
de tempo. (Brown, 2017)
Ao encontrar seu centro em um Asana, o indivíduo está aprendendo a perceber seu
centro em outros campos da sua vida, ao aprender a se manter corretamente em um Asana, está
sendo treinada a forma de manejar as futuras ocorrências em sua vida. (Brown, 2017). A ciência
Yogue representa para variadas pessoas, uma forma de se manter saudável e ter bem-estar em
sua vida em meio ao estresse proporcionado pelo estilo de vida da sociedade atual. Utilizando
Asanas para a remoção dos incômodos físicos que são gerados ao longo do dia como
consequência da postura que seu trabalho requer e usando as técnicas de relaxamento em busca
de encontrar descanso nos momentos de intervalo de sua rotina. (Saraswati, 2018)
Epiteto, um filosofo grego, há séculos afirmou que não são os acontecimentos que
causam as angústias, e sim a forma que os enxergamos. Os níveis de hormônios do estresse
como o cortisol, aumentam proporcionalmente a forma que vemos os desagrados, sendo
prejudicial, uma vez que ao ser ampliado de forma crônica, o nível de cortisol causa impactos
deletérios como aumentar o risco de morte através de uma doença cardíaca. (Goleman &
Davidson, 2017). Ter a vida dominada pela adrenalina significa uma carga para o físico, sendo
desagradável para a psique e agredindo o eu emocional. Sendo necessários encontrar maneiras
de lidar e diminuir essa questão. O yoga com suas posturas, técnicas respiratórias exercícios de
respiração e a meditação, ajudam a suavizar e se desprender dessas tensões de forma assertiva.
(Brown, 2017)
Embora esteja incorporada em outras correntes filosóficas, a meditação faz parte da
essência do yoga, sendo frequente a associação da prática da meditação ao yoga. A meditação
não se resume a estar sentado em Padmasana; postura conhecida na Língua Portuguesa como
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posição de lótus, que é feita sentando com as pernas esticadas a frente do corpo, flexionando de
forma lenta cuidadosa uma perna, apoiando o peito do pé sobre a coxa oposta, a planta do pé
deve estar voltada para cima e o calcanhar deve estar perto do osso púbico. Quando estiver
confortável, dobra a outra perna colocando o pé sobre a coxa oposta. Com a cabeça e coluna
alinhadas verticalmente, com os ombros relaxados e as mãos apoiadas nos joelhos de forma que
os braços estejam relaxados. (Saraswati, 2018) podendo ser feita durante a realização de
Asanas, durante um caminhar, almoçar ou fazer outras atividades; o yoga ressalta a importância
de se manter sempre vigilante aos pensamentos. (Danucalov & Simões, 2018)
Como na figura abaixo

(MysticalBee, 2020)

O programa conhecido pelo mundo como Mindfulness-Based Stress Reduction


(Redução do Estresse Baseada em Mindfulness) foi desenvolvido por Jon Kabat-Zinn, doutor
em biologia molecular por Harvard; ao perceber em retiros de meditação, que uma das técnicas
meditativas, conhecida como processo de varredura, que consiste em focar a respiração com
objetivo de conseguir se concentrar para esquadrinhar de forma sistemática as sensações
corporais, da cabeça aos pés por diversas vezes; essa técnica requerem imobilidade durante as
praticas que podem demorar de minutos a horas, exigindo muita disciplina do praticante e
gerando sensações de dor ate mesmo insuportáveis, que se dissolvem em puras sensações; que
essa técnica poderia ajudar pacientes de dores crônicas que não apresentavam melhoras apenas
com a mudança de posturas e recorrendo a narcóticos debilitantes para o alivio em parte desses
desconfortos. Auxiliando a separarem as partes cognitivas e emocionais que estavam contidas
nas experiencias com a dor da sensação pura. Trazendo de forma adaptada, sendo realizada com
os participantes deitados ao invés de sentados, entrando em contato com partes cruciais do
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corpo de forma sistemática e realizando a varredura partindo do dedão do pé esquerdo até o


topo da cabeça. Registrando, investigando e transformando a relação com as sensações mesmo
que desagradáveis. (Goleman & Davidson, 2017)
Um antigo estudo sobre o impacto da Redução do estresse baseada em mindfulness na
reação ao estresse, realizado por Philippe Goldin e James Gross em um grupo de pacientes com
transtorno de ansiedade social, constatou que a técnica Mindfulness Awareness, percepção
atenta da respiração diminuiu a atividade amigdalar e fortaleceu a atividade das redes atentivas
do cérebro, que os próprios participantes relataram menor reatividade ao estresse. (Goleman &
Davidson, 2017)
Através de uma regularidade de entorno de trinta horas em um período acima de oito
semanas de prática de Mindfulness, mostrou-se que a amigdala que é um nódulo-chave nos
circuitos de estresse do cérebro, teve sua atividade adormecida frente a apresentação de imagens
ameaçadoras e ate mesmo de situações gerais da vida. Apresentando relação entre o aumento
da pratica e da diminuição da reatividade a eventos estressores; praticantes regulares conseguem
resistir a níveis mais elevados de dor e reagir de forma mais sutil ao estresse, sendo
correlacionado a uma conectividade funcional aumentada entre as áreas pré-frontais que regem
as emoções e as áreas da amigdala que gere o estresse, sucedendo em menor reatividade.
(Goleman & Davidson, 2017)
Médicos holandeses constataram que a meditação não produz efeitos clínicos de retirar
a causa biológica de doenças, porem ajuda no processo pois o alivio da dor é ocasionado pela
forma com que o paciente aprende a conviver com a dor, reduzindo os sintomas subjetivos,
sendo imprescindível que se mantenha a pratica diária por meses e ate anos seguintes afim de
que os efeitos no emocionais e consequentemente físicos sejam mantido prosperando.
(Goleman & Davidson, 2017)
Aaron Beck, fundador da terapia cognitiva, conheceu a mindfulness juntamente com
sua esposa, com o intuito de que a meditação auxiliasse no preparo mental e possivelmente
físico para a cirurgia na qual ela seria submetida. Sendo sugerido que esse foi um marco no
início da integração entre mindfulness e a terapia cognitiva, surgindo o movimento da Terapia
Cognitiva Baseada em mindfulness. Foi relacionado por Tara Bennett-Goleman, a meditação
com o princípio da terapia cognitiva conhecido como descentramento, que consiste no processo
de observação de pensamentos e sentimentos sem fazer uma identificação excessiva com eles,
revisando o sofrimento que está se manifestando. (Goleman & Davidson, 2017)
Por meio de uma pesquisa realizada pelo psicólogo John Teasdale, Zindel Segal e Marka
Williams, foi identificado que casos de pacientes em estado depressivo severo nos quais os
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medicamentos e ate mesmo os tratamentos de eletrochoque não estavam produzindo melhoras,


a meditação reduziu à metade os níveis de reincidência. E posteriormente, pesquisadores
concluíram que a mindfulness tinha a possibilidade de reduzir a ansiedade, depressão e até
mesmo a dor, de forma semelhante ao uso de medicamentos, sendo positivo pois não possui os
efeitos colaterais que esses remédios geram, se mostrando um tratamento alternativo viável para
enfermidades. (Goleman & Davidson, 2017)
No decorrer do século XX houve a evolução de técnicas de relaxamento, sendo
considerada como uma intervenção psicológica pertinente devido ao incitamento por parte da
terapia e modificação do comportamento, vindo a serem vistas como ferramenta de
transformação comportamental e como parte complementar de outras técnicas como a
dessensibilização sistemática. Apesar da habitual interpretação do relaxamento como algo
puramente fisiológico, é um sistema psicofisiológico no qual o fisiológico e o psicológico
interagem como partes integrantes do mesmo processo. (Caballo, 2007)
Durante o relaxamento, ao atingir o estado de tranquilidade, o nível de ativação
fisiologia fica significativamente menor do que habitualmente, chegando a um nível mínimo,
ativando dessa maneira o sistema nervoso parassimpático que tem a função de conservar a
energia do organismo. Podendo ser visto pelo ângulo dessa ativação fisiológica estar
caracterizando um estado diferente de quando emoções intensas são apresentadas, em que a
qualidade emocional esta intimamente ligada na intensidade em que essa ativação se manifesta.
Berson (1975) interpreta o relaxamento como uma forma biológica de resposta contraria ao
estresse, tendo a possibilidade de ser aprendida e transformada em uma ferramenta pessoal
importante no combate aos efeitos negativos gerados pelo estresse. (Caballo, 2007)
Aaron T. Beck foi o pioneiro no desenvolvimento completo de teorias e métodos para
empregar interferências nos níveis cognitivo e comportamental em pessoas com transtornos
emocionais. Desenvolvendo a terapia cognitivo comportamental, que entende que a parte
cognitiva influencia diretamente nas emoções e nos comportamentos, e que os padrões
comportamentais afetam as emoções e os padrões de pensamento, estando intimamente
relacionados. Segundo Dalai Lama (1999), formos capazes de reorientar os pensamentos e
emoções, reorganizando nosso comportamento, então teremos a capacidade de lidar com os
sofrimentos de forma mais branda e até mesmo diminuindo ou impedindo seu surgimento.
(Wright, Basco, & Thase, 2008)
Para Beck, os padrões disfuncionais de pensamento sobre si próprio, os outros e o
mundo, acarretam em padrões comportamentais desadaptativos; entendendo o papel
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fundamental da cognição no comportamento e manejo nas situações, e sua relação com


diversos transtornos psiquiátricos.
A terapia cognitivo comportamental tem como objetivo oferecer ferramentas para que
o paciente seja capacitado a manejar de forma mais assertiva as situações desafiadoras,
esclarecendo e trabalhando com o paciente em cima do seu modelo cognitivo, patologia e
padrão de funcionamento. (Wright, Basco, & Thase, 2008)
A terapia cognitiva comportamental faz uso de uma ampla gama de técnicas com
objetivos diversos, dentre essas ferramentas esta presente o relaxamento progressivo de
Jacobson; a técnica adaptada se baseia nas que foram realizadas por Wolpe (1973) e Bernstein
e Borkovec (1973), que tem um período menor de duração do que a técnica de Jacobson que
durava em media noventa sessões; Trazendo a consciência para o paciente do objetivo e relação
com as necessidades do paciente, o que será realizado em cada sessão e a relevância da
regularidade dessa pratica. (Caballo, 2007)
O relaxamento progressivo significa aprender a tensionar e relaxar os diversos grupos
musculares do corpo, compreendendo quando um musculo se encontra relaxado ou tensionado.
Para que ao ter tornado esse aprendizado um hábito, a pessoa seja capaz de identificar agilmente
nos acontecimentos rotineiros, quando o corpo está mais tenso do que é preciso, ao identificar
é dado o sinal para que o corpo relaxe automaticamente.
Ocorrendo de forma gradual para que a tanto a pessoa como o corpo aprendam de forma
a internalizar o processo; na primeira sessão a condução é iniciada pelos braços e mãos; na
segunda sessão são os olhos, couro cabeludo, a testa e o nariz; na terceira, a boca e as
mandíbulas; na quarta, o pescoço; na quinta, os ombros, o peito e as costas; na sexta, o abdômen;
na sétima, os pés e as pernas; e na oitava, a sequencia completa de músculos ou somente relaxar
sem tensionar partes especificas, relaxando o corpo integralmente. Os períodos de
tensionamento durando entre cinco e sete segundos, ficando entre trinta e quarenta segundos
relaxando para repetir ate completar cerca de vinte minutos de pratica com acompanhamento
do profissional que auxiliara caso ocorra alguma dificuldade. Com a recomendação de praticar
desacompanhado por no mínimo trinta minutos diariamente, não existindo um tempo máximo
de duração, pois quanto mais prática, é melhor para o corpo. Esse conhecimento de tensionar
por vontade própria determinado musculo e relaxar, contribui para que a pessoa estenda para
sua vida cotidiana, realizando o relaxamento diferencial. (Caballo, 2007)
Outra ferramenta que a Terapia cognitiva comportamental faz uso que pode auxiliar
nesse caminho de redução do estresse e da ansiedade, é a respiração diafragmática. Possuindo
semelhança com os Pranayamas, conhecidos como exercícios de controle respiratório que o
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Yoga dispõe, manuseando a respiração por meio da inspiração, expiração, retenção interna e
retenção externa do ar para influenciar o fluxo tanto dos canais energéticos como do sistema
respiratório, promovendo uma expansão da capacidade respiratória e da ativação e regulação
da energia ou força vital. (Saraswati, 2018)
Um dentre muito desses exercícios é o Sheetkari Pranayama, que em Português significa
respiração sibilante; sendo realizado sentando-se na posição meditativa da preferencia do
praticante, fechando os olhos e deixando o corpo relaxado, separando os lábios, expondo os
dentes cerrados, a língua podendo ser mantida normal ou dobrada contra o palato. Inspirando
lenta e profundamente através dos dentes, no final da inspiração fechando a boca e expirando
pelo nariz controladamente.
Como exemplificação abaixo.

(Tirun Gopal, MD, 2020)


A capacidade de voltar a atenção para o corpo ao decorrer da prática consiste em uma
pausa positiva dos turbilhoes de pensamento e preocupações cotidianas, elucidando
parcialmente a razão pela qual as pessoas se sentem revigoradas após uma prática de Yoga.
(Brown, 2017). O Yoga não é exclusivamente exercícios físicos a fim de conquistar uma boa
forma física, é um instrumento para se constituir uma nova forma de viver, integrando as
realidades externa e interna ao trabalhar fisicamente o estresse mental. O sistema Ioguico foi
elaborado com a intenção de oferecer as pessoas a liberdade interior , conquistando a felicidade,
e bem-aventurança. (Danucalov & Simões, 2018) Essa nova forma de conduzir a vida que não
se limita a parte intelectual, que através da pratica vivencial direta se transforma em
conhecimento vivo. (Saraswati, 2018).

“Yoga não pode promover uma cura para a vida, mas é um método comprovado para
lidar com a vida” (Saraswati, 2018).
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da presente revisão bibliográfica, foi possível perceber que o câncer é uma
doença que tem alta incidência na população Brasileira e na população mundial, com índice de
mortalidade elevado em todas as faixas etárias e diversas formas de manifestação em relação
aos sintomas e áreas de surgimento da patologia no corpo. Possui um tratamento
demasiadamente invasivo, com efeitos colaterais, procedimentos dolorosos e que requer cautela
e cuidados recorrentes. O período de hospitalização para tratamento ocasiona perdas e prejuízos
na vida dos pacientes em geral e principalmente quando esses pacientes são crianças e
adolescentes que precisam diariamente lutar com a ameaça eminente da morte, perda de sua
rotina e mudanças físicas e emocionais; aumentando dessa forma os níveis de estresse.
A adesão e adaptação aos tratamentos e relações interpessoais podem ser afetadas
negativamente dependendo da maneira que o paciente interpreta e lida com o processo.
Ressaltando a importância da implementação de técnicas que auxiliem e amenizem de forma
humana, trazendo mais qualidade de vida, aumentando a percepção de bem-estar subjetivo e
minimizando os efeitos que o estresse gera no individuo como um todo.
O estresse apesar de ser um mecanismo de defesa que o corpo possui, quando presente
em altos níveis e em episódios recorrentes, pode gerar danos à saúde física, mental e emocional,
além de intensificar doenças já manifestas e o surgimento de outras das quais o indivíduo já
possuía predisposição. Sua intensidade e recorrência variando sempre de acordo com fatores de
natureza externa e os fatores internos da pessoa.
Evidenciando dessa forma, a necessidade da implementação de instrumentos como o
yoga, que por ser um sistema milenar complexo que possui uma gama de ferramentas para
trabalhar os níveis físico, mental e emocional, onde atua através de sutis mudanças
comportamentais trazendo mais mobilidade, leveza aos movimentos e consciência das funções
corporais, contribuindo na ocorrência de modificações na parte cognitiva e na mudança da
percepção que o indivíduo tem acerca das situações desafiadoras, da realidade na qual se
encontra e na visão que tem de si próprio, das outras pessoas e do mundo; afim de auxiliar esses
pacientes no controle das possíveis comorbidades oriundas do tratamento médico e
posteriormente nos contratempos que surgem no decorrer da vida.
São necessários novos estudos para averiguar de maneira empírica os indicativos de
melhoria do bem-estar subjetivo em pacientes oncológicos infanto-juvenis que
simultaneamente ao tratamento médico, pratiquem de forma auxiliar, regularmente alguns
exercícios de yoga, meditação e relaxamento.
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6. BIBLIOGRAFIA
(21 de 11 de 2020). Obtido de Vazhga Valamudan:
http://vaazhgavaiyagam.blogspot.com/2016/07/shashankasana-hare-pose.html
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