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Apresentação

Pergunte ao Yogi é uma coletânea das


melhores perguntas que recebi nas caixinhas do
Instagram entre junho de 2021 e junho de 2022.

Embora estejamos falando de uma rede


social, a interação baseada em perguntas e
respostas nos faz lembrar dos satsangs, os
encontros dos discípulos com o mestre para
aprendizado da tradição.

Satsang é literalmente «encontro com a


Verdade», tradução que alude ao fato do guru ser o
portador do conhecimento que realmente importa. A
palavra «Verdade» aparece aqui com a inicial
maiúscula porque não se trata de qualquer verdade,
muito menos da «minha» verdade ou da «sua
verdade» (sobre isto, leia este artigo), mas d'A
Verdade Universal, tal como enunciada em grandes
obras da sabedoria universal como os Vedas e a
Bíblia Sagrada e repetida por muitos mestres ao
longo dos séculos: «Aham Brahmasmi» ou «Eu e o
Pai somos um».

Claro que este livro não é um satsang. Se


você quiser um satsang em forma de livro, procure o
clássico «Eu sou Aquilo», de Nisargadatta Maharaj.
Mesmo assim, este Pergunte ao Yogi foi produzido
sob a inspiração dos satsangs, com o propósito de
trazer o conhecimento do yoga para todos aqueles
que têm dúvidas, seja para sua própria prática, seja
para seu entendimento pessoal.
Não há uma ordem específica nas perguntas
aqui publicadas e os temas variam bastante. Há
perguntas sobre a prática, sobre a filosofia (o Jñana
Yoga), sobre a tradição e sobre a modernidade,
entre outros temas.

Todo o conhecimento aqui apresentado vem


do Hatha Vidya tal como o recebi de meu mestre,
Mahant Yogi Rajnath Ji Maharaj, o primeiro ocidental
a tornar-se hathayogi e responsável por trazer o
Hatha Yoga para o Brasil — a meu mestre, toda
minha gratidão.

Caso você tenha alguma dúvida que não


tenha sido esclarecida aqui neste livro, acompanhe
os perfis do Templo do Yoga nas redes sociais ou
entre em contato comigo:

Templo do Yoga
www.templodoyoga.org
templodoyoga@gmail.com
Instagram: @templodoyoga
Facebook: templodoyoga
YouTube: TemplodoYoga

Quem sabe a sua pergunta não será


publicada na próxima edição deste livro?

Boa leitura e até mais!

Christian Rocha
Junho de 2022
O yoga do ponto de vista técnico poderia
ser visto como uma técnica/ciência da
concentração?

Do ponto de vista técnico, sim, poderia.

«Yuj», a raiz da palavra yoga, alude a isso:


manter o foco, a direção, concentrar a atenção e
os esforços numa única direção.

Muitas técnicas usadas no yoga (no Hatha


Yoga, pra ser mais específico) têm essa
característica — desde os asanas até os layas.

4
Por que Vedanta e Hatha Yoga não devem ser
ensinados como complementares?

Primeiro porque não são complementares.

Vedanta e Hatha Yoga são caminhos perfeitos


dentro daquilo que cada um propõe.

Segundo porque em termos disciplinares eles


são caminhos opostos. No Vedanta não há a
noção de sadhana, não se acredita que um
fazer pode levar à libertação.

Já o Hatha Yoga, como as inúmeras tradições


tântricas, baseia-se na realização de uma
sadhana.

Shankaracharya (um dos grandes mestres do


Vedanta) dizia: «a ação não pode destruir a
ignorância porque a primeira não está em
conflito com a segunda».

5
Como posso aprender mais
sobre chakras?

Com um guru tântrico.

A leitura das escrituras tântricas ajuda; elas


trazem informações importantes sobre chakras
e sobre mudras (as técnicas que atuam
diretamente nos chakras).

Porém, como costumo dizer: se você tem um


guru, as escrituras não são necessárias; se você
não tem um guru, as escrituras não ajudarão
muito.

De todo modo, mesmo com a linguagem


obscura das escrituras, elas serão muito mais
úteis do que os livros modernos no que tange
aos chakras.

6
É normal se emocionar durante a meditação?
Pode acontecer de chorar? Tem algo errado?

Nada errado. Aliás, é bem comum isso


acontecer.

É um processo parecido com o que ocorre na


prática postural: você realiza certas posturas
que «destravam» o corpo, que eliminam
bloqueios corporais em certos pontos. Quando
isso acontece, você se sente mais flexível,
quase como se tivesse feito um «upgrade».

Isso acontece também em práticas mais


internas (como a meditação): elas desfazem os
bloqueios emocionais. Às vezes isso se
manifesta como uma alegria imensa — ananda,
os hindus diriam. Outras vezes isso se manifesta
como uma catarse — uma euforia, uma crise de
choro — que em geral é seguido de uma
sensação muito boa de paz.

A meditação tem esse poder.

7
Qual a relação entre o Tantra
(o verdadeiro) e o yoga?

O Tantra é um meio de realizar yoga.

Realizar yoga consiste em realizar aquilo que os


Vedas ensinam: a unidade entre Atman e
Brahman. A realização desta unidade pressupõe
a realização do autoconhecimento em seu
sentido mais profundo.

Há várias escolas tântricas. De uma das


principais escolas tântricas — o Siddha
Siddhanta Tantra — nasce o Hatha Yoga, que é
uma tradição que utiliza técnicas tântricas
para acelerar e intensificar o mergulho no
silêncio da meditação, que é o melhor caminho
para o autoconhecimento.

8
«Se não for para fazer yoga todos
os dias, melhor nem começar».
Você acha isso mesmo?

Acho.

Se você decide realizar uma sadhana todos os


dias e falha um dia — seja qual for o motivo —,
você está dizendo para si mesma que aquilo
não é fundamental para você. A partir daí você
vai criar um conflito interno.

Uma parte de você sentirá culpa por não ter


assumido aquela decisão a sério, o que é
emocionalmente ruim e prejudicial para quem
pretendia praticar yoga (a disciplina de silêncio
interior e autoconhecimento).

Outra parte de você achará que «não tem


problema». Você continuará a praticar quando
puder, encontrará resultados meia-boca e vai
acabar culpando o yoga, que em pouco tempo
será abandonado ou será adaptado para
melhores resultados.

9
Há alguma diferença entre
o Hatha Yoga e o yoga de Patañjali?

Sim, há.

Nos Yoga Sutras, o yoga é apenas a meditação.


Os angas são todos direcionados
exclusivamente para o samyama.

Já o Hatha Yoga é uma disciplina tântrica que


tem o objetivo de usar o prana para alinhar o
corpo e a mente com o silêncio da meditação,
para acelerar a entrada no estado meditativo e
para potencializá-lo.

O yoga de Patañjali está todo contido nos Yoga


Sutras e não chega a ser um método. O Hatha
Yoga não está limitado a uma escritura e é de
fato um método.

10
Como fazer o pranabandha?

Sente-se em silêncio, como numa meditação, e


faça respirações completas, lentas e profundas.

Tecnicamente, o foco é na máxima inspiração e


na expiração o mais lenta possível, mas sempre
sem forçar e sem causar desconforto.

Mentalize o prana descendo até o kanda.

Pronto.

Toda vez que você vir numa escritura «unir o


prana e o apana», isso é o pranabandha, que
é um dos pré-requisitos para a prática de
asanas.

11
Tenho dificuldades para manter a 1ª fase da
auto-observação (corpo). O que devo fazer?

O Hatha Yoga é como uma taça sendo


enchida lentamente.

Uma hora ela transborda e aquele néctar chega


a outros campos de sua vida.

Comece realizando a observação do corpo na


prática de asanas.

Se isso for difícil, realize a observação do corpo


na ginástica sutil (sukshma vyayama).

Se isso for difícil, realize a observação do corpo


em exercícios físicos (sthula vyayama).

Paralelamente a isso, realize a meditação todos


os dias, sempre à mesma hora. Por mais
simples e curta que sejam suas sessões de
meditação, ela ajudará a manter sua visão
limpa e a mente plácida, qualidades
fundamentais para a auto-observação.

12
Para onde devemos direcionar a atenção
durante a prática dos asanas?

Se você já está realizando asanas — prática


postural precedida por pranabandha com
permanência de 10 minutos ou mais, sem
esforço e sem desconforto —, você pode
colocar o foco mental no silêncio interior que a
prática produz. Sempre com os olhos fechados.

Isto é o mesmo que «meditar no asana».

Se sua prática é apenas postural, você pode


colocar seu foco na auto-observação corporal,
buscando dissolver o esforço e encontrar
conforto, de modo que a postura realmente
comece a produzir silêncio interior.

13
Você poderia falar um pouco
sobre tapasya?

Tapasya é traduzido normalmente como


«austeridade».

São tarefas — geralmente difíceis — passadas


diretamente de guru para chela, de forma
individual e personalizada.

Estas tarefas podem ou não ter relação com as


técnicas regulares do Hatha Yoga.

Por exemplo, o guru pode determinar ao chela


que vá meditar no meio de uma floresta todas as
madrugadas, durante alguns meses — com ou
sem chuva, com ou sem frio. Ou que realize
trabalho braçal voluntário numa instituição de
caridade — lavar banheiros, ajudar na horta etc.

O objetivo é sempre intensificar o processo


de desidentificação e promover o
desenvolvimento do chela no yoga.

14
Existem realmente «poderes ocultos»
despertos com a prática do yoga?
Quais seriam?

A tradição ensina que existem, por razões


que não vêm ao caso agora, mas não
existem.

Ocorre que o yoga pode alterar a percepção. E


isso pode causar a ilusão de ter obtido poderes
— chamados siddhis na tradição.

Há o siddhi da onipresença, da clarividência etc.


Isso está nos versos III:37-50 dos Yoga Sutras,
mas no verso III:38 Patãnjali adverte: «embora
perfeições no conceito profano, são um
obstáculo para o samadhi.»

15
Só chegando à libertação (moksha)
é que paramos de gerar karma?

Resposta curta: sim.

Resposta longa: a resposta curta é teórica.

Não sou um iluminado e a resposta ideal para


essa pergunta (e para qualquer pergunta desse
tipo) não é dada com palavras.

Diz a lenda que Ramakrishna entrava em


samadhi toda vez que alguém lhe perguntava
sobre o samadhi.

O extremo oposto disso são os «gurus


influenciadores» — há vários na Internet —, que
não demonstram nem uma gota de silêncio,
mas que são capazes de discursar por horas a
respeito de um tema.

16
A libertação (moksha) é utopia
para simples humanos?

Não, definitivamente não.

A libertação, que alguns chamam de iluminação,


é real e acessível a qualquer pessoa.

O yoga é uma das disciplinas que conduzem a


isso.

17
Consciência individual é ilusão?

Não, não é ilusão.

Entretanto, somos como a folha de uma árvore:


a folha existe como ente individual, reconhecível
e discernível de outras folhas.

Não existe uma folha igual a outra.

Mas a folha não existe desconectada da


árvore.

18
Qual a verdadeira fonte do falatório mental?

É da própria natureza da mente.

Assim como o corpo foi criado para realizar


movimentos necessários para nossa existência,
a mente também foi feita para produzir
pensamentos.

Esse falatório pode ser como um grupo de


adolescentes num shopping ou pode ser como
um monge instruindo os discípulos.

Esse falatório pode ser uma gritaria


estridente ou pode ser uma canção de ninar.

19
Por que fomos «jogados» na ilusão e agora
temos que reencontrar nossa verdadeira
natureza? Por que fomos afastados dela?

Não fomos jogados. Nós mesmos nos


jogarmos em maya.

Nós mesmos nos afastamos de nossa


verdadeira natureza.

Cada um de nós escolhe acumular véus que


vão esconder nossa verdadeira natureza —
escolhemos, inclusive, quais serão esses véus:
o trabalho, a família, os hábitos e vícios, as
obsessões.

Essa coisa kármica é sempre individual e


justa e proporcional àquilo que fazemos de
nossas vidas.

20
O que o Hatha Yoga ensina sobre anatman?

Nada.

O conceito de anatman é específico do


Budismo. Significa «não-Atman», lembrando
que nas filosofias orientais o «não» não é uma
antítese, mas um vazio, uma ausência.

Atman, por sua vez, é um conceito difícil de


compreender. Alguns traduzem como «alma»,
mas isso coloca a discussão no campo do
espiritualismo ocidental — caminho certo para
não entender nada. Encontra-se também «alma
individual», que melhora um pouquinho a
tradução, desde que se lembre da «alma
universal», que é uma das interpretações de
«Brahman».

É neste sentido que é possível entender


anatman: a rigor o conceito de anatman não se
distingue de Brahman.

21
Afinal, qual é de verdade o objetivo da
meditação?

A meditação tem três objetivos de máxima


importância:

1. Produzir silêncio interior.


2. Intensificar a auto-observação que leva à
desidentificação das coisas que você acumula
ao longo da vida.
3. Reduzir enormemente a importância que você
dá para si mesmo.

Estes três objetivos são detestados por 99%


das pessoas, até mesmo aquelas que divulgam
aos quatro ventos que amam yoga.

Se você quer realizar yoga em sua vida,


esforce-se para estar sempre naquele 1%
restante.

22
Todo sentimento é ruído mental? Tem algum
sentimento que vem direto da alma e da
consciência?

Sentimento é da mente. Não tem relação com


a alma (ou Eu, verdadeira natureza, Atman... há
vários nomes, mas nenhum deles é suficiente
para nomear o inominável).

Mesmo os sentimentos mais maravilhosos são


ruídos mentais, agitações, vrittis.

Mas a chave aqui não é eliminar os sentimentos.


Ter sentimentos é da própria vida. Só um animal
não sentiria felicidade diante do sorriso de um
bebê, de uma cantata de Bach ou de um pôr-
do-sol dourado.

A chave aqui é lembrar que o que é


percebido não é você. É fácil fazer isso com o
corpo: você percebe um dedo como um dedo e
não como você mesmo. É difícil fazer isso com
um sentimento, mas o processo de observação,
percepção e desidentificação é o mesmo.

23
O cansaço com o mundo e com pessoas
vazias é um bom motivo para ir à Índia,
tornar-me monge, isolar-me e
buscar a iluminação?

O cansaço com o mundo e com as pessoas é


uma face do tédio. O tédio não é um motivo
suficiente para mudanças drásticas na vida;
no máximo, é um sinal frágil, efêmero, de que
pode ser útil fazer alguns pequenos ajustes. Às
vezes a pessoa não precisa se recolher num
mosteiro por vários anos, às vezes a pessoa só
precisa sair de onde está por alguns minutos
todos os dias.

Entendo que às vezes esse cansaço é tão


grande que ele vai parecer algo muito profundo,
mas é da natureza do tédio manifestar-se dessa
forma.

O isolamento de que você precisa para atingir a


iluminação não depende de uma viagem de
mais de 12 mil km, mas sei que nem tudo no
yoga é apenas uma questão de isolamento.

Quando puder, dá uma olhada no livro «Depois


do êxtase, lave a roupa suja», de Jack Kornfield.

24
O yoga é conservador?

Sua pergunta pressupõe que o yoga pode ser


enquadrado em conceitos que estão num plano
diferente do plano do yoga. A primeira questão
deveria ser: existe alguma relação entre
conceitos ideológicos e disciplinas
espirituais? É evidente que não há.

Logo, o yoga em si não é conservador nem


progressista — não há nenhum sentido em
classificá-lo com base em critérios ou conceitos
que não têm relação com a prática do silêncio e
do autoconhecimento.

Porém, você pode perguntar sobre o perfil


ideológico de pessoas que têm atuação e/ou
presença pública como yogis. Na Índia, estes
são nacionalistas conservadores, na maioria —
isto vale inclusive para os nathas.

25
Afinal, o que significa de verdade
a frase «eu não sou o corpo»?

«Eu não sou o corpo» é um dos lemas da


sabedoria dos Vedas, que se baseia na idéia
de que tudo que podemos observar não
constitui nossa verdadeira natureza.

Sua verdadeira natureza é como uma lâmpada


que nunca esteve apagada, apenas esteve
encoberta por vários véus que você mesma
criou e acumulou ao longo da vida.

«Eu não sou o corpo, eu não sou a mente», nos


lembra da importância de nos desidentificarmos
de todas as coisas que podemos observar — o
corpo, a saúde e a doença, os pensamentos, as
emoções, os ideais etc.

O objetivo é chegar à resposta para a pergunta


«quem sou eu?». Esta resposta não é uma frase,
uma idéia, uma tradição, uma disciplina, mas
sim uma percepção, um despertar.

26
É correta a analogia entre o samskara e
véus que encobrem nossa percepção?

Sim, mas lembre que toda analogia é uma


síntese de semelhanças e diferenças.

A definição tradicional de samskara:


impressões ou «marcas» gravadas em nosso
subconsciente.

Todos nascemos com todos os samskaras


imagináveis — santidade, bandidagem,
coragem, covardia etc. Cada samskara pode ser
«alimentado» e é assim que a pessoa se torna
santo ou bandido. Cada ação cria um vasana,
que é o nome desse «alimento» dos samskaras.

Contudo, o objetivo do yoga não é alimentar os


«samskaras bons», mas sim dissolver os
samskaras (isto é, remover os véus), sejam
bons ou ruins.

27
É possível eliminar o ego?
O que fazer para pelo menos diminui-lo?

Não, não é.

Ter um ego é parte da natureza humana.

É como ter um corpo. Você não elimina o corpo,


você vive com ele da melhor forma possível.

Com o ego é a mesma coisa.

Não é possível diminui-lo, mas é possível


«educá-lo» para que ele o ajude nesta vida e,
principalmente, para que você mantenha o
discernimento (viveka) e a auto-observação
(sarva darshan) e viva realmente na
consciência de ter um ego, não de ser um
ego.

28
Existe relação entre yoga e
o taoyin do Taoísmo?

Não há relação (parentesco, raízes em


comum), mas há semelhanças entre o taoyin e
o sukshma vyayama, a ginástica do corpo sutil,
disciplina que prepara para o Hatha Yoga.

Assim como no taoyin, no sukshma vyayama o


objetivo também é desenvolver consciência
corporal, respiratória e energética (prânica).

29
Gostaria de saber o que você acha do
caminho Yoga Integral de Sri Aurobindo.

O Yoga Integral é mais um dos inúmeros


sistemas modernos de «yoga» que foram
criados ao longo do séc. XX a partir de uma
colagem de elementos da ginástica indiana,
da medicina e da psicologia ocidentais e do
esoterismo que décadas mais tarde daria
origem à cultura New Age.

30
Como conciliar a agitação da vida familiar
com as práticas de yoga?

Se você é responsável por sua família:


reduzir e fragmentar o tempo de prática, para
que fique mais fácil realizá-la diariamente.

Buscar cantos da casa que são pouco usados,


onde talvez seja possível encontrar momentos
de solidão e silêncio. Se couber na sua rotina:
acordar uma ou duas horas antes de todos para
praticar — as duas horas que precedem o
nascer do sol são especialmente propícias para
isso.

Se você é dependente de sua família:


esqueça a prática por um tempo e dedique-se
integralmente à obtenção de independência e
à libertação de sua família. Só depois disso
você conseguirá ter tempo e espaço para
dedicar-se ao yoga.

31
Qual a importância do Silêncio
para quem já chegou à libertação?

Para o indivíduo liberto — o jivanmukta, aquele


que sabe quem ele é, aquele que atingiu
moksha, a libertação, que alguns chamam de
iluminação —, o silêncio é «o lugar» em que
ele vive.

O silêncio está para o jivanmukta assim como


a água está para o peixe.

32
É comum ter visões durante a meditação?
Estas visões são ruídos mentais, os vrittis?

Sim, é comum.

As visões são «reverberações» dos vrittis


tentando resistir ao silêncio da meditação.

Nada deve ser feito em relação a isso além de


manter-se em meditação, isto é, num estado de
absoluta serenidade e de contemplação.

33
Não agüento mais pessoas que me procuram
para aprender só ginástica. Queria ensinar o
correto, mas ainda dependo desses alunos.
O que faço?

Ser procurada por pessoas que não fazem idéia


do que o yoga é não é o fim do mundo.

Vejo mais como uma oportunidade de


renascimento, um momento de ajustar o
vocabulário e o modo de se apresentar à
sociedade, ao mercado, aos alunos, enfim.

O ensino de ginástica postural é importante. É


bem difícil realizar asanas sem algum preparo
físico.

A diferença não é tanto de conteúdos, mas de


nomenclatura e de método. Esse conteúdo é e
continuará sendo importante e necessário para
muitas pessoas.

34
Sinto frustração quando vejo alguns
«professores de yoga» ensinando errado.
Como posso lidar com isso?

Em relação a essas pessoas, não há muito o


que fazer. Elas são livres para ensinar o yoga
que consideram correto.

Claro que você também é livre para acessá-las e


dizer-lhes o que você considera correto, mas
isto só rende bons frutos quando essas pessoas
nos pedem isso.

Em relação a você, o que você pode fazer é


manter sua prática. Lembre-se sempre das
suas motivações, dos seus objetivos. Só está
a passeio nesta vida quem despreza a própria
vida.

Se você quer entrar em conflito com pessoas


que não têm interesse no que você tem a dizer,
não espere ser recebido de braços abertos.
Como eu disse no início, você é livre para fazer
isso (svecchachara), mas module as
expectativas e observe suas emoções.

35
Onde entra o conceito de pratyahara na
Chaturanga Sadhana, a prática de quatro
passos do Hatha Yoga?

Como anga isolado, não entra. Porém,


pratyahara permeia toda a Chaturanga
Sadhana.

Por exemplo, asanas não seriam asanas


sem um trabalho de introspecção, de
direcionamento dos sentidos para dentro,
cada vez menos para aquilo que não é e
cada vez mais para aquilo que é.

Na Chaturanga Sadhana pratyahara é uma


qualidade presente em todos os angas.

36
Qual é a importância de praticar sempre no
mesmo tapete? Qual o material mais
recomendado?

A importância é de ordem apenas de ordem


higiênica.

Tradicionalmente, o material mais recomendado


era a pele de tigre ou pele de antílope. Como
isso é impossível para 99,9% das pessoas, vale
a mesma recomendação que há para roupas:
prefira materiais naturais, que sempre serão
mais gentis para a pele e evitarão bloqueios
energéticos.

Se isto parecer desimportante, passe ao critério


prático, como aderência, conforto, facilidade de
limpeza, isolamento térmico (dependendo do
piso em que você vai praticar) etc. Neste caso,
um tapete de PVC basicão já resolve e tem
baixo custo.

37
O que mudou em sua vida após o yoga?

Quase tudo.

1. Forte redução das tensões físicas e


emocionais e aumento da capacidade de lidar
com essas tensões, nas poucas vezes em que
elas surgem.

2. Forte redução da gritaria interna, que me


levava a afetações de sentimentalismo.

3. Redução da timidez e do «levar-se a sério


demais».

4. Autoconsciência.

Em resumo, quase tudo ficou melhor com o


yoga.

38
O que seria exatamente a kundalini e como
ela se relaciona com prana, com o chi, jing,
shen?

Kundalini é o nome popular do prana que sobe


pelo canal central da coluna — o sushumna.

O prana é um conceito muito abrangente e é


o nome genérico da «energia» que está
presente em tudo.

Alguns interpretam o prana como «energia vital»


ou «sopro de Deus», mas estes conceitos são
limitantes, pois o prana não se aplica apenas
aos seres vivos. Em resumo, não há um
«exatamente» quando se trata de explicar o
prana.

Sei pouco sobre os Três Tesouros do Taoísmo


(chi, jing e shen), mas, até onde consigo
entender, estas três «forças» poderiam ser
entendidas como ramificações do prana.

39
Seria o Ashtanga de Patanjali uma
preparação para o Hatha Yoga? Seria
praticado em conjunto? Qual a relação
entre as duas coisas?

O correto é dizer que o Hatha Yoga é que


prepara para o yoga tal como descrito por
Patañjali nos Yoga Sutras.

Esta idéia fica mais clara se considerarmos que


a sadhanas que os gurus nathas ensinam no
Hatha Yoga (o Chaturanga Sadhana) não é para
a vida toda, mas a meditação é.

Ninguém deve ficar praticando asanas e


pranayamas a vida toda. Já a meditação você
começa em seu primeiro dia no yoga e não
deve parar nunca.

Diz a lenda que até Shiva medita todos os


dias.

40
Asana e pranayama existem no Hatha Yoga e
também no yoga de Patanjali. Essas técnicas
são executadas da mesma forma nos dois
«sistemas»?

Não.

Em Patañjali tudo gira em torno da meditação e


o asana é apenas o «assento», o
posicionamento firme e confortável para a
meditação.

No Hatha Yoga o asana também é isso, mas


não é apenas isso. Entre outros objetivos, o
asana no Hatha Yoga visa transformar o
praticante numa «estátua que respira», criar
no corpo a mesma estabilidade que se quer
criar na mente.

Mesma coisa para pranayama.

41
De que maneira a prática de japa
pode auxiliar na meditação?

Japa é simplesmente «repetição».

Em geral é usado com mantras, mas pode ser


aplicado a qualquer coisa que possa ser
repetida indefinidamente, como as ginásticas
indianas (vinyasa, suryanamaskar etc.).

No caso da meditação, japa mantra (mental ou


oral) pode ser um artifício útil para evitar a
dispersão mental, para criar dharana (que é o
início da meditação).

42
O que pode me dizer sobre Buda e sua
importância para quem pratica o yoga?

Buddha foi um mestre iluminado.

Está acima de qualquer aprovação ou


reprovação e acima de qualquer opinião.

A meta de todo yogi é meditar como um


Buda.

43
Seria bom eu começar com o Sukshma
Vyayama? Como faço para aprender as
posturas de Sukshma Vyayama?

Várias práticas diferentes cabem no Sukshma


Vyayama: Qi Gong, Tai Chi, Suryanamaskar,
Ritos Tibetanos, alguns sistemas modernos que
se baseiam em vinyasa.

Em geral, são práticas que vão coordenar


movimentos corporais e respiração e que
estimulam introspecção e autoconsciência.

Caso decida começar com o suryanamaskar —


o que é um ótimo começo, aliás — recomendo
o livro «The Ten Point Way to Health», que está
disponível no site do Templo do Yoga. Este livro,
publicado em 1928, foi o principal responsável
pela popularização do suryanamaskar como
ginástica e disciplina para a saúde.

44
Sou professor mas não tenho flexibilidade,
não consigo demonstrar algumas posturas
aos meus alunos. O que devo fazer?

A única preocupação que um professor deve ter


com relação aos aspectos corporais da prática é
ensinar seus alunos que yoga não tem
NENHUMA relação com alongamento.

Se isto é um problema para você como


professor, trata-se de algo a ser resolvido
internamente, por meio de meditação e auto-
observação.

Integre essa dor à sua sadhana.

45
Durante a meditação devo deixar a língua
colada no céu da boca ou solta?

A atitude física ideal durante a meditação é


de relaxamento. Isso vale para todas as
partes do corpo.

O único esforço necessário é para manter-se


sentada e para manter a coluna numa posição
que permita a respiração lenta, profunda e
confortável.

Alguns professores ensinam que a coluna


precisa estar reta durante a meditação, que a
língua deve tocar o céu da boca etc. Estas
coisas só são aceitáveis se você puder realizá-
las sem esforço algum.

46
Como compreender verdadeiramente,
por meio da experiência, o que é o prana?

Esta compreensão só vem com a prática do


pranayama, que começa depois do domínio
de asanas.

E a prática de asanas começa com


permanências longas, de pelo menos 10
minutos.

Qualquer compreensão obtida antes disso


será meramente intelectual, sem nenhum
proveito para seu desenvolvimento como yogi.

Consulte um guru de Hatha Yoga e persevere


na realização da Chaturanga Sadhana.

47
Como lidar com os vrittis,
as agitações mentais?

Comece no denso e só depois passe para o


sutil.

As agitações não são só mentais, são


também físicas e respiratórias.

Uma prática consistente de asana constrói a


base física e respiratória com a qual será muito
mais fácil lidar com os vrittis durante a
meditação.

Asana é o seu corpo dizendo para sua mente:


«cara, fica quietinho aí que vai ficar tudo
bem».

48
Tenho muita dificuldade para
estabelecer uma rotina diária de yoga.
Como posso lidar com isso?

Fica mais fácil quando estabelecemos uma


rotina que realmente cabe no nosso dia-a-dia.

Se você não dispõe de uma hora por dia, talvez


disponha de 30 minutos.

Se não dispõe de 30 minutos por dia, talvez


disponha de 15 minutos.

Só pense em aumentar o tempo de prática


diária depois de 21 dias sem interrupções.

49
Me tornei dependente de mantras.
Não consigo praticar sem escutar mantras.
Tudo bem praticar desse jeito?

Se você pratica sozinho, em sua casa, você


pratica como quiser. Se quiser usar música
sertaneja para praticar, isso é escolha e
responsabilidade sua.

Mas eis a visão tradicional:

Mantra no início da prática, tudo bem, desde


que seja só o OM, que ajuda a criar
introspecção.

Mantra como som ambiente durante uma prática


é um artifício justificável quando o ambiente
externo é barulhento.

Se um professor usa o mantra durante a aula


sem a necessidade de atenuar ruídos externos,
então isso é um sinal de que ele não sabe o que
é mantra e para que serve.

50
Cada vez mais impressionada com a
amoralidade do universo do Hatha Yoga.
É assim mesmo?

O fato é o seguinte: o Hatha Yoga situa-se


num plano totalmente desconectado das
relações humanas. O erro está em tentar
associar o yoga e o Hatha Yoga à moral, aos
hábitos e aos costumes.

Como dizia meu mestre: um assunto que não


pode ser resolvido por uma pessoa totalmente
isolada numa cabana e afastada do mundo, não
faz parte do universo do Hatha Yoga.

A amoralidade do Hatha Yoga é só isso: um


lembrete de que tudo se resolve
internamente. Não há nada que precise ser
resolvido externamente, muito menos em
relações sociais.

51
Ramana Maharshi era um
exemplo de Advaita Vedanta?

Ramana Maharshi é Ramana Maharshi.

Foi um grande liberto, um santo indiano, um


mestre do silêncio. Único.

Fim.

Mas, sim, podemos considerar que seus


ensinamentos estão alinhados com o princípio
da não-dualidade, exatamente como expressos
na tradição do Advaita Vedanta.

52
Como encontrar o mestre?
Posso ascender praticando
meditação sozinha, sem um mestre?

Para encontrar o mestre, você deve procurá-lo,


sempre seguindo aquela máxima: «pelos frutos
o conhecereis».

Quando encontrá-lo, conheça seus


ensinamentos e seus discípulos, busque
referências.

É possível desenvolver-se sozinha por meio


da meditação, mas leva muito tempo.

Ramana Maharshi seguiu esse caminho da


meditação solitária e levou cerca de três
décadas para chegar à libertação.

No Hatha Yoga é possível reduzir muito esse


tempo, mas você precisará de um mestre que
a oriente.

53
Qual a importância da postura do cadáver
(savasana) e qual o melhor momento para
praticá-la?

Savasana é realizado sempre no final da


prática de asanas.

Savasana cria a total descontração física,


necessária para que o prana circule
livremente pelas nadis (que foram
desobstruídas com a prática de asanas.).

É uma forma de garantir que o prana esteja


presente em todo o corpo, algo necessário para
a prática de pranayamas.

Pode ser usado também ao final de uma prática


de sukshma vyayama ou mesmo de sthula
vyayama, mas sem o mesmo efeito prânico.

54
É mesmo ruim usar props (blocos, cinto
etc.)? De que forma o uso de props prejudica
a prática?

Sim, é ruim.

O principal problema dos props é limitar a


experiência que o praticante tem com o
próprio corpo.

Por exemplo, se a pessoa tem dificuldades de


realizar trikonasana, existem dois caminhos:

1. Sem props, ela irá abrandar a postura até


encontrar conforto e estabilidade. Depois
poderá voltar ao trikonasana.

2. Com props, ela usa um tijolo como apoio


para a mão inferior e consegue realizar a
postura.

No primeiro caso ela teve a experiência da


postura e de preparação para o asana. No
segundo caso ela teve a experiência do uso do
tijolo e tornou-se dependente desse objeto.

55
Qual a diferença entre o Advaita Vedanta
e o Advaita Tantra?

Em teoria nenhuma, tanto que muitos mestres


de Advaita Tantra às vezes são (erroneamente)
classificados como Advaita Vedanta (veja o caso
de Nisargadatta Maharaj, que era um tântrico,
mas que muita gente classifica como Advaita
Vedanta), pois o fundamento é o mesmo: o
não-dualismo que vem dos Vedas.

Porém, quando se trata de responder a


pergunta: «o que devo fazer para perceber o
Eu Sou?», as duas correntes darão respostas
bastante diferentes.

O Advaita Vedanta dirá que você deve participar


dos satsangs, estudar as escrituras e meditar.
O Advaita Tantra dirá que além daquelas três
coisas é importante realizar uma sadhana de
técnicas tântricas (corpo, respiração, prana
etc.).

No fim das contas, isso resulta em tempos


diferentes para chegar à libertação.

56
Na sua concepção, os professores da
atualidade não ensinam Hatha Yoga. Eles
estão errados? Não praticam nem ensinam
o Hatha Yoga?»

Esses professores nem sabem o que é Hatha


Yoga porque nunca foram instruídos por um
hathayogi.

O conhecimento que essas pessoas têm de


Hatha Yoga veio de livros publicados nos
últimos 80 anos. Nestes livros vemos apenas a
mistura de ginástica postural e misticismo New
Age vedantinizado.

Se o objetivo desses professores é ensinar


yoga e Hatha Yoga, sim, estão todos errados.

Se o objetivo delas é ensinar apenas técnicas de


ginástica e de bem-estar, essas pessoas
poderiam estar corretas se fossem sinceras e
honestas a respeito disso.

57
Há um ponto em comum na busca pelo
transcendente que torna universais as
diversas tradições?

Apenas seus pressupostos antignósticos.

Entre esses pressupostos destaco as idéias de


que aquilo que chamamos de «eu» tem pouco
valor e de que qualquer coisa que se possa
conhecer ou compreender nesta vida
depende exclusivamente da vontade de Deus.

Todas as tradições sérias ensinam isso —


apenas o vocabulário muda.

A oração cristã é isso, a meditação também é,


mesmo em religiões ateístas como o Budismo.

58
Na tradição do yoga a meditação segue uma
técnica; o resultado da meditação muda
conforme a técnica?

Não existe «tradição do yoga», existem tradições


de yoga. O Hatha Yoga, de origem tântrica, é
uma delas.

Existem outros yogas de origem tântrica e


existem yogas com outras origens.

Dentro dos diversos yogas a técnica de


meditação varia pouco e é no geral aquilo
que Patañjali explicou: introspecção, foco,
foco perpetuado, dissolução no silêncio.

Para ser yoga tem que ter a meditação (yoga é


meditação) com o objetivo de entrar no silêncio
e libertar-se.

Em resumo: só é meditação se o resultado


(obtido ou buscado) for a libertação
(moksha).

59
Na oração e na meditação há um ponto de
dissolução, um por via positiva
e um por via negativa?

De algum modo sim.

De um modo geral, na oração você está ali


ativamente querendo estabelecer uma
comunicação com Deus. Na meditação, você
está em silêncio, cada vez menos preocupado
com «você», aceitando qualquer coisa que Ele
lhe ofereça.

Diz o ditado: quando oramos, Deus escuta;


quando meditamos, Deus responde.

Eu iria além e diria que a meditação é uma


condição para a oração: quem se identifica
com o imanente, com o corpo, com as
emoções, acaba orando para pedir coisas,
como dinheiro, relacionamentos etc.

A noção de entrega — essencial no yoga, no


Cristianismo e em diversas tradições
espirituais — só faz sentido se há
desidentificação.

60
O sexo no Tantra é um tipo de «yoga a dois»?
O que chegou ao Ocidente é uma
degeneração disso?

Não existe «yoga a dois».

O que vemos no Ocidente não é sequer uma


degeneração.

Degeneração significa que há pelo menos uma


origem, raiz ou base correta. Não há nem isso.

«Sexo tântrico» é invenção de instrutores de


ginástica mística (yoga moderno) para
conseguir parceiros sexuais.

Vale lembrar que yogis devidamente iniciados


e ligados à tradição fazem voto de celibato e
que na Índia o sexo fora do casamento é um
tabu maior do que entre católicos.

61
O que fazer para ser mais disciplinada?

Disciplina é conseqüência de motivação, isto é,


ter um motivo, um propósito, algo que a mova
numa determinada direção.

Portanto, o primeiro passo para ter disciplina


é enxergar essa direção e, principalmente, a
linha de chegada, o fim da busca ou, ainda,
aonde você espera chegar fazendo o que faz.

Só se consegue isso com um guru. Ele é o


norte, ele é o topo da montanha, ele é quem lhe
dá o vislumbre do ponto de chegada.

Este é o começo.

62
Pranabandha, sukshma vyayama, savasana,
pranayama, samyama... Esses seriam os
elementos de uma aula que respeita a
tradição?

«Uma aula que respeita a tradição» é uma


contradição em termos porque não existe «aula
de Hatha Yoga».

Existe a orientação direta do mestre para o


discípulo. Às vezes esse encontro pode incluir a
transmissão de conhecimentos (como numa
aula), mas não há regra quanto a isso.

Além disso, não há no Hatha Yoga práticas com


vários angas seqüenciados. Pranayama, por
exemplo, só é realizado depois que o praticante
concluiu o aprendizado de asanas.

Mas podemos considerar que uma prática de


asanas que começa e termina com meditação
já é um bom começo.

63
Qual sua opinião sobre Krishnamacharya?

Foi um bom instrutor de ginástica.

Sei que algumas pessoas vão torcer o nariz para


essa opinião, mas acreditem:

1. Pesquisei o assunto.
2. Estou sendo generoso.

Quem tiver dúvidas, recomendo que faça sua


pesquisa. Se houver dúvidas, me chame que terei
prazer em explicar.

64
Por que sirshasana é considerado um mudra
e não um asana?

Porque no Hatha Yoga todas as inversões


(como a do sirshasana, a inversão sobre a
cabeça) têm como objetivo deslocar o prana
no sushumna para os chakras superiores —
de acordo com a anatomia sutil e com o Hatha
Vidya, asana não funciona para esse fim.

Dá pra realizar uma postura invertida como


asana? Tecnicamente sim, mas não recomendo
permanecer 10 minutos ou mais em sirshasana.

Se você não for realizar as posturas invertidas


como mudras (sempre sob orientação de um
mestre) prefira realizá-las como a maioria das
pessoas as realiza: como ginástica mesmo, com
permanências curtas, de no máximo 2 minutos.

65
O que é Dharma?

Dharma é simplesmente «lei».

Os Dez Mandamentos bíblicos são «dharma».


As leis de um país são «dharma».

De forma mais ampla, é possível entender


dharma como «cumprir aquilo que é sua
obrigação», como um pai cujo dharma é
alimentar e criar os filhos, como um profissional
cujo dharma é realizar seu trabalho de forma
correta e honesta.

Deste entendimento vem a expressão «cumprir


o seu dharma», que implica a distinção entre
certo e errado. Esta distinção obviamente
existe, por mais que as pessoas apelem a
slogans como «não há certo ou errado» etc.

66
Por que buscar a iluminação se a morte do
complexo corpo-mente irá acontecer de
qualquer forma?

Porque a conquista de moksha significa


deixar de ser escravo do corpo-mente.

Isto elimina o sofrimento e proporciona paz e


quietude nesta vida.

Paz, quietude e moksha são frutos da


meditação, que é o único meio que o ser
humano tem para receber o que Deus tem a
oferecer.

Além disso, busca-se moksha também por


compaixão, para ajudar pessoas no processo
de libertação.

67
O yoga tem origem no Tantra (tradição pré-
ariana) e não nos Vedas?

O yoga tem origem em Shiva — lembrando


que os hindus não distinguem história, religião e
mitologia; para eles é tudo uma coisa só.

Mas, colocando o pé no chão: tudo no


hinduísmo vem dos Vedas — inclusive o yoga
e o Tantra.

Cronologicamente: primeiros os Vedas, depois


o yoga, depois o Tantra (que é medieval, não
pré-ariano). Desta ordem cronológica não é
possível deduzir uma relação causal.

Vale lembrar que «tantra» significa «tecer» ou


«tecido», uma alusão à continuação e
perpetuação dos ensinamentos originais
contidos nos Vedas.

68
O que fazer para melhorar a qualidade das
formações em yoga?

Primeiro, eliminando qualquer necessidade


ou importância de um diploma. Segundo,
com o acompanhamento direto, pessoal e
constante do guru.

Sei que isso não é viável comercialmente, mas é


como escrevi uma vez: uma das melhores
formas de transmitir mal o yoga é depender
dele financeiramente.

Claro que esta resposta pode variar em função


do contexto em que ela foi proposta. Há dois
contextos diferentes:

1. O da ginástica mística (yoga moderno), em


que certificações são importantes.

2. O do Hatha Yoga tradicional, em que sequer


existem certificações.

69
Por que é tão difícil manter a disciplina diária
da meditação?

Porque quem pode «manter a disciplina» é o


corpo-mente, cuja natureza é alteridade,
agitação, vrittis.

Você não altera essa natureza, você a observa


sem reagir até que ela naturalmente cesse.
Quando você tenta alterar essa natureza, você a
reforça.

Claro que faz parte desta equação o fato de


nascermos e vivermos num mundo em que a
meditação e a autotransformação para a
transcendência são menosprezadas e mal
compreendidas. Por isso, modificar ambientes
externos e internos pode ajudar.

70
Poderia falar mais sobre como não esperar
retorno financeiro como professora de yoga?

«Professora de yoga» é uma carreira, uma


profissão. Você está colocando seu tempo e
seu esforço em algo que pode ajudar outras
pessoas. É natural e justo esperar ser paga
por isso.

Uma atitude anti-natural e até injusta com você


mesma é colocar tempo e esforço no ensino do
yoga e não esperar retorno financeiro.

Algo diferente de sua condição de professora de


yoga é sua condição de yogini, de alguém que
se dedica ao yoga para obter o conhecimento
de si mesma e a libertação. Isto não tem relação
com suas conquistas profissionais e financeiras.

Se as coisas vão bem, você observa e medita,


sem perder a conexão com o silêncio interior.
Se vão mal, você também observa e medita.

71
Yoga cura doenças?

Yoga, não.

Hatha Yoga, sim, por meio das técnicas


preparatórias (sukshma vyayama e shatkarmas)
e dos pranayamas.

Se você se refere às modalidades de ginástica


mística (os sistemas de yoga moderno como
Iyengar Yoga, Ashtanga Vinyasa Yoga, Hatha
Vinyasa etc.), elas podem melhorar a saúde
assim como outros tipos de ginástica e
atividades físicas.

72
Você saberia dizer se entre os chineses há
algo similar a Yoga?

O Budismo Ch'an e o Taoísmo, duas


tradições em que a meditação para a
transcendência é fundamental.

Se você se refere ao uso de técnicas do corpo-


mente, algumas artes marciais como o Kung Fu
e o Tai Chi e práticas como o QiGong têm com
o Budismo Ch'an e com o Taoísmo uma relação
parecida com a que as técnicas tântricas do
Hatha Yoga têm com o Yoga.

73
Qual a importância dos chakras no yoga?

No yoga, nenhuma.

Yoga é apenas meditação e você não depende


de nenhum conhecimento de chakras para
realizá-lo da forma adequada.

No Hatha Yoga, muita importância.

Todo o conhecimento do Hatha Yoga baseia-se


na idéia (que para os tântricos é um fato) de que
temos oito chakras relacionados ao fluxo de
prana no corpo e que a capacidade de
perceber quem somos de verdade é
potencializada pela ativação desses chakras.

74
Se os termos em sânscrito não podem
ser traduzidos e interpretados,
como entendê-los?

Depende de seus objetivos e de seu 'status' no


yoga.

Se você é um iniciante que só quer meditar para


dar uma relaxada, o termo «meditação» é
suficiente para tudo o que você vai aprender e
fazer.

Se você está estudando e quer tornar-se


professor de yoga, o termo «meditação» será
muito insuficiente — você precisará entender
termos como samyama, dharana, dhyana,
samadhi e distingui-los do genérico
«meditação» etc.

Não apenas isso: você precisará vivenciar cada


uma destas coisas para chegar a um
entendimento razoável de cada uma delas.

Ter um guru ajuda muito neste processo.

75
Como praticar corretamente o pranabandha?

A técnica em si é bem simples e alguns até vão


pensar: «ué, só isso?» Sim, só isso:

Inspirar lenta e intensamente pelas narinas,


percebendo o deslocamento do diafragma
para baixo, visualizando mentalmente o
kanda.

Mas há algumas sutilezas. Por exemplo: o


movimento do diafragma para cima e para baixo
ao respirar às vezes é confundido com o
movimento da barriga para fora e para dentro; é
um erro comum para quem não tem consciência
corporal e respiratória.

Lembre que o pranabandha já é uma técnica


específica do Hatha Yoga. Por isso pressupõe-
se que para realizá-lo o praticante já cumpriu
todas as práticas de preparação, como o
sukshma vyayama. É o sukshma vyayama que
proporciona consciência corporal e respiratória.

76
Quais são e quando são
indicados os shatkarmas?

Resumidamente, as seis purificações:


1 – Dhauti: sistema digestivo (6 técnicas
diferentes, algumas com 3 ou 4 subdivisões); 2
– Basti: cólon (2); 3 – Neti: limpeza nasal (2); 4 –
Nauli: abdômen (1); 5 – Tratak: olhos (1); 6 –
Kapalabhati: crânio (4)

De acordo com a tradição, o hathayogi já é


uma pessoa pura e por isso não precisa dos
shatkarmas.

São recomendados para iniciantes como


preparação para o Hatha Yoga.

Alguns devem ser feitos todos os dias, como o


jihva dhauti (limpeza da língua).

Outros, apenas se sentir algum desequilíbrio de


saúde, como os neti e os basti.

77
Invertidas vêm no começo ou no final da
prática? Vejo muitas opiniões diferentes a
respeito...

No Hatha Yoga: inversões são mudras, que só


podem ser feitos depois que você concluiu seu
aprendizado de asanas e pranayamas.

Portanto, não são feitos nem antes nem


depois de uma prática de posturas ou de
respiração, mas à parte, isoladamente.

Nos sistemas modernos: você pode fazer


inversões como ginástica, «plantar bananeira»,
que é o que se faz em todas as escolas de yoga
hoje em dia, de preferência no final de sua
prática de posturas, não antes.

78
Existe alguma técnica no Ocidente análoga
ao hathayoga/yoga?

Ao Hatha Yoga, não.

Até daria pra forçar a barra e encontrar


analogias entre o xamanismo tântrico, de onde
nasce o Hatha Yoga, e alguns xamanismos
ocidentais, mas isto seria viagem mental das
brabas.

Ao yoga, sim, mas só se considerarmos a


prática de meditação sem seus fundamentos
teóricos, filosóficos e ontológicos.

Neste caso encontraremos semelhanças com as


práticas meditativas dos monges franciscanos,
beneditinos/trapistas, entre outros.

Mas isto também é viagem mental.

79
Sem um guru, como saber se concluí o
aprendizado de asanas?

Não tem como, mas, caso queira tentar, você


precisará se pautar em algumas «sensações» ou
«sinais de desempenho», como estes:

1. O aspecto postural do asana dá lugar ao


aspecto meditativo.

2. A respiração torna-se ainda mais lenta do que


já era no sukshma vyayama (práticas posturais
preparatórias), sem perder a naturalidade —
pesquise «kevala kumbhaka».

3. Você se torna «a estátua que respira»


inclusive para quem vê de fora.

Considerando que tradicionalmente são 84


asanas e que asana só é asana se for realizado
com permanências de 10 minutos por pelo
menos três semanas, chegar ao ponto indicado
nos três itens acima costuma exigir no mínimo
três anos de prática diária.

80
Quantos níveis existem no samadhi?
Você atinge e libera outro como
acontece em videogames?

São sete níveis de samadhi.

Os seis primeiros são «com semente» — sabija


samadhi. O sétimo é «sem semente» — nirbija
samadhi.

A diferença entre eles é a intensidade com


que você preserva traços da individualidade.

A comparação com videogames, por esquisita


que possa parecer, faz sentido — na verdade
isso acontece com toda a sadhana do Hatha
Yoga, desde os asanas: você conclui um anga
e com isso torna-se apto a realizar o próximo.

81
O mindfulness e o flow seriam distorções de
alguma técnica do Hatha Yoga?

Sim, são distorções.

Apesar disso, podem ser muito úteis para


atender as demandas específicas de pessoas
que por diversos motivos não querem ou não
podem se dedicar às práticas e aos
conhecimentos tradicionais.

O mindfulness («atenção plena») é uma


simplificação do samyama (a meditação tal
como entendida no yoga).

O flow é uma adaptação dos asanas, que pode


ser usada como sukshma vyayama, como
preparação para o Hatha Yoga.

82
O que é o sofrimento na visão do yoga?

Na visão do yoga, o sofrimento surge da


união (identificação, samyoga) com os
objetos percebidos.

Quando você acha que você é o seu corpo,


você terá muitas preocupações no sentido de
conservá-lo em boas condições (ginásticas,
dietas, procedimentos estéticos etc.) e sofrerá
muito quando o declínio inevitável vier com a
velhice.

O mesmo ocorre com a mente (pensamentos,


emoções) e com qualquer outra coisa que você
chamar de «eu».

Isto é explicado no início do capítulo 2 dos


Yoga Sutras e é objeto de estudo e de
satsangs em diversas tradições do yoga.

83
Como surgiram o Tantra e o Hatha Yoga?

O Tantra é um conjunto de tradições


espirituais criadas (a maioria na Idade Média)
com o objetivo resgatar o conhecimento
original dos Vedas, os livros mais antigos do
Hinduísmo.

De acordo com algumas tradições tântricas,


esse conhecimento estaria se perdendo e se
tornando cada vez menos acessível às pessoas
por causa do excesso de dogmas e
formalidades do Vedanta.

O Hatha Yoga nasce em uma dessas


tradições tântricas, o Siddha Siddhanta
Tantra, também conhecido como Natha
Sampradaya (de onde, aliás, vem o sufixo –nath
que alguns mestres levam no nome).

84
Kriya yoga é um caminho de
meditação legítimo?

Se você se refere ao sistema criado por Shyama


Charan Lahiri e difundido por Yogananda, nunca
tive contato direto com suas práticas.

Não considero adequado opinar sobre esse


sistema com base em conhecimentos teóricos
encontrados na Internet.

Desde que produza silêncio interior e torne o


indivíduo mais consciente sobre sua
verdadeira natureza e sobre sua ligação com
Deus, todo caminho de meditação é legítimo.

85
Como a tradição tântrica dos nathas vê as
incorporações mediúnicas na Umbanda,
Kardecismo etc.?

Existem inúmeros rituais no tantrismo natha.


Alguns deles seriam confundidos pelos leigos
com os rituais das religiões africanas.

Apesar disso, os tântricos nathas nada dizem


a respeito da espiritualidade de outras
tradições/religiões. Eles apenas se opõem a
qualquer tentativa de misturá-las com o yoga.

Claro que não há nenhum problema se o


inventor deixar claro que a mistureba é sua
própria invenção — mas sei que honestidade
nunca foi o forte dos sincretistas.

86
Numa aula de Hatha Yoga devemos
relaxar entre cada asana?

Não, porque ao realizar asanas já se


pressupõe que o praticante esteja em
permanente estado de descontração física.
O relaxamento não é algo a ser feito depois de
um asana, mas uma qualidade que permeia
toda a prática de asanas.

Como ação, como fazer, o relaxamento é algo


desenvolvido nas etapas de preparação para o
Hatha Yoga, como na prática postural (posturas
com permanências curtas) dos sistemas de
ginástica mística.

Porém, ao final da prática de asanas e de


pranayamas recomenda-se deitar em savasana
para permitir a livre circulação do prana no
corpo. Visto de fora por um leigo, isso será
entendido como «relaxamento», mas o propósito
é um pouco diferente.

87
Tantra Yoga existe?

Sim. O Hatha Yoga é um Tantra Yoga, nascido


no Siddha Siddhanta Tantra (aka Natha
Sampradaya).

O detalhe aqui é que não existe «o» Tantra


Yoga. Cada tradição tântrica terá o seu Tantra
Yoga.

Vale lembrar: «XYZ+Yoga» significa que XYZ


será usado como meio de conduzir o indivíduo
para a meditação, que será realizada com três
objetivos: autoconhecimento, mergulho no
Silêncio Profundo e libertação.

Se não tiver a meditação como eixo principal


ou se a meditação não for realizada com
esses três objetivos, não dá pra ser chamado
de yoga.

88
Para praticar asanas como asanas você
recomenda alguma seqüência?

Sim: Vrikshasana – Trikonasana – Bhujangasana


– Paschimottanasana – Matsyendrasana –
Savasana.

Tradicionalmente quem diz o que você deve


praticar é o guru.

Mas se você não tem um guru, comece com o


básico, com posturas que você conseguirá
manter com conforto e absoluta imobilidade por
pelo menos 10 minutos.

Este é o critério.

Mas não subestime as preparações. Só pense


nos asanas se você já desenvolveu consciência
corporal e respiratória em práticas posturais
mais curtas (<2min.), como as do Sukshma
Vyayama.

Saiba mais: 017 Microsadhana para iniciantes

89
Qual o método mais fácil e
eficaz de meditação?

O Hatha Yoga.

Os métodos modernos de meditação são fáceis,


mas eles transformam a prática em algo
exclusivamente mental e por isso não são
eficazes. Não existe a mente como um ente
isolado do corpo, da respiração e do prana.

O Hatha Yoga vai do mais denso para o mais


sutil e inclui o corpo e o prana no processo de
aquietamento mental. Talvez não seja o
caminho mais fácil, mas certamente é o mais
eficaz.

No meu canal do YouTube, procure o vídeo 013


Meditação: simples, direto e definitivo. Ali falo
um pouco mais sobre isso.

90
Hatha Yoga é para um estilo de vida saddhu,
certo? Existe alguma tradição que ensine o
Hatha Yoga de modo secular?

Sim, é para quem quer tornar-se saddhu. Se


existisse um «Hatha Yoga secular», seria
contraditório.

Mas há saddhus que oferecem alternativas


pra que esses ensinamentos possam ser
colocados em prática na vida de não-
iniciados.

Claro que «alternativa» significa adaptar, desviar-


se do caminho original. A diferença importante
aqui é que os saddhus que ensinam assim
deixam claro o que é a tradição e o que é a
adaptação. Assim o discípulo tem condições
de escolher.

Rajnath, meu mestre, fazia isso aqui no Brasil. O


russo Matsyendranath também faz isso. Eu
mesmo, embora não seja um saddhu, procuro
desenvolver um trabalho desse tipo.

91
Qual sua opinião sobre a
meditação com japa mala?

Meditação com japa mala, com música, com


mantra, com vela, com mandala, com sino
tibetano, com incenso, com didgeridoo etc.:
todas estas práticas são auxílios para
iniciantes que não conseguem meditar. São
formas de trazer a atenção para perto de onde
estamos e reduzir as chances da mente
dispersar.

São válidas e úteis exatamente dessa forma —


como auxílios — mas não chegam a ser a
meditação tal como entendida pelos yogis.

Qualquer «meditação com» ou «meditação


para» pressupõe que a sua mente
permanecerá conectada com algo que está
fora de você.

Alimentar essa conexão é uma forma de não


meditar.

92
O que significa quando começamos a sentir
as sensações meditativas?

Não sei exatamente o que você está chamando


de «sensações meditativas», por isso vou supor
que você está se referindo àqueles momentos
em que a meditação deixa de ser algo difícil e
passa a ser algo muito agradável. Quando isso
acontece, você quer meditar cada vez mais.

Isso é um sinal de que você está seguindo na


direção correta, mas ainda está longe do fim.

Minha recomendação é que você aproveite essa


disposição para meditar cada vez mais e
continue se dedicando à prática.

93
Yoga é só meditação mesmo e mais nada?

Sim.

Talvez você pergunte: e os asanas? e os


pranayamas?

As técnicas são os degraus que levam à


meditação.

Se você só realizar as técnicas e não meditar,


isso o torna um bom ginasta, um bom praticante
de 'welness', não um yogi.

Se você só meditar e não realizar as técnicas,


você pode até demorar, mas vai se tornar um
bom yogi.

94
O que devo ler pra começar
a entender o yoga?

Leia os meus artigos e livros.

Entre meus artigos, há três que considero bons


para quem está começando:
1. Yoga para quem nunca praticou yoga
2. A biblioteca do praticante de yoga
3. Perguntas fundamentais

Leia-os com atenção e me chame se tiver


alguma dúvida.

Se você se refere a livros famosos e escrituras


sagradas, recomendo que evite os livros
modernos e comece com os «Yoga Sutras» —
mas antes dê uma olhada no artigo A biblioteca
do praticante de yoga pra entender o porquê
dessa recomendação.

95
Como lidar com asanas difíceis?
Desanima quando não consigo fazer...

Siga a orientação de seu guru.

Se você estiver praticando sozinha, não faça os


asanas difíceis. Persevere na prática dos
asanas que você considera fáceis, domine-os
até que eles se tornem tão naturais como um
«jogar-se num sofá», até que você se sinta como
«uma estátua que respira». Depois, se for o
caso, você volta aos asanas difíceis.

Mas lembre: a prática de asanas não é para


ser um desafio, mas sim uma entrega, uma
descontração total (corporal e mental).

O desânimo decorrente de uma dificuldade é


um tensionamento, uma resistência, energia
desperdiçada, ruído mental — um dos objetivos
da prática de yoga é abandonar essas coisas.

96
Acordar para meditar no horário de
Brahmamuhurta é mesmo necessário?

Para quem não sabe o que é o


Brahmamuhurtha: é o período de 96 minutos
(quatro ghatikas) que precedem o nascer do
sol.

Dizem que nesse horário a mente está mais


serena e mais propensa à meditação.

Se você é iniciada, sim, é necessário meditar


no Brahmamuhurtha.

Se você pratica o yoga de forma secular, não


é necessário, mas altamente recomendado,
inclusive por se tratar de um período em que
costuma haver muito silêncio.

Dependendo de onde e com quem você mora,


fica difícil encontrar silêncio em outros horários
do dia — falei disso no meu vídeo 028 no
YouTube, na pergunta sobre vida familiar.

97
Por quais linhas de yoga você passou até
chegar ao Hatha Yoga dos nathas?

Se você se refere às inúmeras variações do


yoga postural moderno, foram estas: Iyengar
Yoga, Ashtanga Vinyasa Yoga, «Hatha Yoga
contemporâneo» (aka «Hatha Yoga de
academia», Sattva Yoga (linha criada pelo
chileno Gustavo Ponce), Swásthya Yôga.

Vale notar que nenhuma delas funciona


realmente como yoga, como disciplina
meditativa, como meio de silenciar a mente.

Apesar disso, algumas funcionariam (se se


propusessem a isso) razoavelmente bem como
Sukshma Vyayama, isto é, como preparação
para o Hatha Yoga. É o caso do Sattva Yoga e
do Swásthya Yôga.

98
Qual pranayama ideal ou mais usado e se
tem um tempo mínimo para ser feito?

Não existe «pranayama ideal». Existem


pranayamas que são mais importantes para
certas finalidades.

Por exemplo, os dosha pranayama são


importantes para iniciantes, para equilibrar a
saúde. Os dhyana pranayama são fundamentais
para a introspecção, independentemente do
nível.

Mas se fosse necessário apontar o pranayama


mais importante, sem dúvida seria o kevala
kumbhaka, que, de tão poderoso, também é
classificado como mudra.

Em geral, o tempo mínimo para cada


pranayama é de 2 horas (80 repetições). Abaixo
disso, é exercício respiratório apenas, sem
importância do ponto de vista prânico.

99
Para uma pessoa comum, qual
a melhor forma de não cair nas
armadilhas do corpo e da mente?

Auto-observação (sarva darshan) somado ao


questionamento constante «quem sou eu?»
(Atma Vichara) e à reafirmação de que o que
você pode observar por definição não é você
(neti-neti). Estas três coisas somadas são o
próprio yoga.

Difícil para iniciantes, mas é aí que as técnicas


entram, em especial a meditação: quanto mais
você «exercitar» e vivenciar o silêncio, mais fácil
realizar yoga quando não estiver fazendo
técnicas.

100
Quais os asanas recomendados para quem
está começando sem um professor?

Nenhum.

Quem está começando sem professor não


deve fazer asanas — as posturas feitas com
permanência de pelo menos 10 min. para criar
imobilidade total e liberar o prana.

Em vez disso, faça Saudação ao Sol e


ginástica isométrica com permanências curtas
(máx. 2 min.) em posturas fáceis. É uma
preparação para os asanas. Depois de três
meses fazendo isso todos os dias, procure um
mestre que possa orientá-lo nos asanas.

Tem um post aqui no Instagram do Templo do


Yoga e um vídeo no meu canal do YouTube
chamado Microsadhana, talvez ajudem.

101
Você critica bastante o yoga moderno. Afinal,
qual é o problema desse tipo de yoga?

Tem um artigo que publiquei uns anos atrás no


site do Templo do Yoga que tem exatamente
esse título. Dá uma olhada lá, mas adianto o
principal ponto: o yoga moderno é apenas
ginástica envernizada com misticismo New
Age.

O yoga moderno não é apenas diferente do


yoga. O yoga moderno é oposto ao yoga. O
yoga moderno reforça no praticante tudo que o
yoga se dispõe a dissolver: o apego ao mundo
material, ao corpo e às emoções, a auto-estima
e a noção de um «eu» desconectado de Deus.

Apesar disso, o yoga moderno é muito bom


para a saúde e para o desenvolvimento
corporal. Se for bem conduzido, pode servir
como preparação para o yoga.

102
Qual sua opinião sobre o Prof. Hermógenes
na história do yoga no Brasil?

Não dá pra opinar sobre uma realidade


histórica. Dá pra estudá-la, entendê-la,
identificar seus efeitos no presente e entender
até que ponto esses efeitos poderão ajudá-la
em sua própria busca.

No caso de Hermógenes, o que sabemos pelos


livros, biografias e pesquisas acadêmicas é isto:

Era um autodidata que aprendeu yoga a partir


de publicações estrangeiras. Escreveu um livro
sobre Hatha Yoga mas nunca recebeu
orientação de um hathayogi. Ensinava o yoga
como terapia e prática de bem-estar, duas
coisas que com facilidade tornam-se obstáculos
para quem busca a libertação (iluminação), mas
que podem ser úteis como preparação para o
yoga.

103
O que fazer após acabar a prática espiritual
tendo maior desfrute dos efeitos?

Tornar a prática espiritual algo permanente.

As práticas de auto-observação (Sarva


Darshan), auto-questionamento «quem sou eu?»
(Atman Vichara) e meditatividade (unmani,
nirodha) podem ser realizadas a qualquer
hora, em qualquer lugar.

Se você se refere às técnicas (asana,


pranayama etc.), vale o mesmo, pois estas só
fazem sentido se levam você àquelas três
práticas.

104
É correto um guru cobrar para ensinar yoga?
Um caminho espiritual não deveria ser
comercializado...

Claro que é correto.

Ensinar e orientar num caminho espiritual é


algo que envolve muita responsabilidade,
muito estudo e muito trabalho. É evidente que
um guru precisa receber algo em troca, seja
uma doação, uma mensalidade ou um trabalho
voluntário.

Na Índia, gurus e ashrams recebem doações


espontâneas que tornam desnecessário cobrar
mensalidades ou quetais. É cultural.

Na maior parte do Ocidente, onde a cultura é


diferente, cria-se uma relação comercial — e
não há qualquer problema nisso.

Nem relógio trabalha de graça.

105
Qual sua opinião sobre o Mestre DeRose?

DeRose entendia a coisa e quase chegou lá.


Para você ter uma idéia, é dele uma das
melhores traduções dos Yoga Sutras para o
português.

Teria sido o maior do Brasil e um dos


grandes yogis do Ocidente se não fosse tão
apegado às próprias invenções.

106
Existem nathas que não são sadhus?

Sim, existem.

Sadhu é a pessoa que abdica de sua vida


anterior para dedicar-se exclusivamente ao
caminho de libertação. A expressão «monge
renunciante» é bastante adequada aqui.

Mas há nathas que se casam, constituem


família, têm seus trabalhos — em resumo,
levam uma vida relativamente comum, apenas
reservam uma parte do dia para realizar sua
sadhana.

107
Por que o “yoga” e não outro caminho
para o autoconhecimento?

Escolha pessoal apenas.

Autoconhecimento é introspecção, meditação e


silêncio. O yoga — mais especificamente o
Hatha Yoga — mostrou-se mais eficiente, rápido
e seguro para me levar a essas três coisas.

Existem muitos outros caminhos que levam


ao autoconhecimento. A escolha pessoal
depende muito do perfil físico, intelectual e
emocional de quem busca o autoconhecimento.

108
Como não ser só mais um professor de
práticas de bem-estar e relaxamento?

Entendendo (e ensinando) o verdadeiro papel


dessas práticas no yoga.

Quase todo mundo precisa de yoga, mas a


maioria só vai chegar lá depois que aprender
bem-estar e relaxamento. Estas duas coisas
atenuam os conflitos com o corpo e com a
mente.

Se o aluno já está meditando razoavelmente


bem, não é necessário manter essas práticas.
Neste caso é possível passar para o yoga de
fato.

O aluno pode querer ficar a vida inteira no


bem-estar e no relaxamento? Claro que pode,
mas todo professor de yoga tem condições
de mostrar que isso é uma gota comparado
com o oceano do yoga.

109
Como começar do zero absoluto? Não sei
nada e fico perdida com tanta informação...

Se você tem acesso a um mestre, siga as


orientações dele. Se você não tem, medite.

Se você começar com a meditação, todas as


outras coisas serão construídas aos poucos e
de acordo com as necessidades que você vai
perceber durante a própria prática.

Começando com a meditação você construirá


as bases de sua vida de yoga e
compreenderá melhor tudo o que irá
aprender depois, inclusive as técnicas que
muitas pessoas usam apenas como ginástica.

110
Tantra realmente é isso tudo?
Quem pratica yoga deve estudar o Tantra?

Sim e sim.

O Hatha Yoga nasceu no Tantra. Técnicas do


Hatha Yoga como asanas e pranayamas são
técnicas tântricas. Quem escolhe praticar o yoga
com base nessas técnicas precisa conhecer a
visão original a respeito dessas técnicas, que
é muito diferente da visão moderna.

111
Sinto dores na lombar
quando faço algumas posturas.
Será que é melhor eu parar de fazer yoga?

Não.

O yoga pode continuar como yoga — isto é,


como meditação e autoconhecimento,
práticas que não têm relação com
performance ou limitações físicas.

Quanto à dor na lombar, se isso ocorre ao fazer


posturas específicas, pare de fazer essas
posturas e faça as que não causam dor. Ao
realizar a prática postural, coloque todo seu foco
em duas coisas: relaxamento e consciência
respiratória.

Se a dor ocorre em vários outros momentos,


não apenas na prática de posturas, procure um
médico.

112
O que você acha do Kriya Yoga?

Já me fizeram esta pergunta aqui. Repito a


resposta: Kriya Yoga é uma versão moderna e
simplificada do Hatha Yoga. Se você não tem
acesso ao Hatha Yoga, pode ser uma boa
forma de se preparar para quando tiver.

Mas vou dizer uma coisa importante pra todos


que ainda pensam em perguntar minha opinião
sobre método X ou Y, sobre professor X ou Y:
pelos frutos o conhecereis.

Antes de pedir a minha opinião, procure saber


o que esses métodos e professores estão
produzindo, o que eles ensinam, que tipo de
yogis eles geram. Se tem silêncio interior, paz
profunda e verdadeiros meditadores, então
estão na direção correta.

113
Ok, você sempre diz que yoga é meditação.
Mas dá pra ficar em forma com
as técnicas do yoga?

Um pouquinho, dá. Mas é bem pouquinho


mesmo.

As técnicas do yoga não foram feitas para


ficar em forma. Elas foram feitas para quem
quer meditar.

Dá pra usá-las como ginástica? Dá, mas não vai


ser aquelas coisas. Pode ser útil pra sair do
sofá, como preparação pra atividades que
realmente poderão transformar seu corpo.

Se você quer ficar em forma — perder


gordura, definir músculos, ganhar um
tanquinho etc. — faça musculação.

114
Professores de yoga que envolvem opiniões
políticas contundentes nas postagens de
redes sociais, o que acha disso?

Se não associam essas opiniões ao yoga e à


sua atuação como professores de yoga, não
vejo problema. São pessoas comuns emitindo
suas opiniões numa rede social. Hoje em dia
todo mundo tem opinião sobre quase tudo. É da
natureza humana.

Se associam essas opiniões ao yoga, são


enganadores que não merecem ser levados a
sério como professores de yoga, muito
menos como yogis.

115
O que significa dominar o asana para poder
passar para a prática de pranayama?

Dominar uma técnica (não apenas os asanas)


significa chegar a um ponto em que a
realização da técnica deixou de ser algo a ser
feito de forma pensada e elaborada e passou
a ser algo inerente à sua própria existência,
algo tão natural quanto andar ou beber água.

Quando se chega a este ponto, «fazer asana»


deixa de ser algo pensado, elaborado,
construído e passa a ser «algo que acontece».
É a partir deste ponto que você pode parar de
«fazer asana» e passar aos pranayamas.

116
No seu primeiro livro encontrei um
termo que desconheço, «dvadashanta».
Poderia explicar?

Dvadashanta é literalmente «ao final dos doze».


Dva (dve)=dois, dasha=dez, -anta=final,
conclusão. Trata-se de uma técnica de laya.

Laya é quarto e último conjunto de técnicas do


Hatha Yoga — lembrando que
metodologicamente a prática do Hatha Yoga é
dividida em quatro partes, a Chaturanga
Sadhana: asana, pranayama, mudra e laya.

Os laya são técnicas bastante avançadas,


que têm como objetivo elevar o
somaatmakaojas (a.k.a. kundalini) aos chakras
superiores. É o ápice do Hatha Yoga.

117
Qual sua orientação para
aprimorar pranabandha?

Como toda técnica, pranabandha pode ser


aprimorado pela própria prática: faça sempre
que puder, de modo a torná-lo tão natural
quanto respirar.

Além de muito simples, pranabandha é uma


«não-técnica», uma «sintonização», uma forma
de lembrá-lo da energia sutil e de sua
importância na prática do Hatha Yoga — estas
características tornam ainda mais fácil realizar
pranabandha a todo momento, em qualquer
lugar, sem a necessidade de «parar para
praticar».

Saiba mais:
036 Perfeição técnica e o pranabandha
034 Pranabandha

118
O que é consciência, dentro
da visão de um yogi?

No português, consciência pode ser uma


capacidade de ver a realidade e ao mesmo
tempo o aparato mental que exerce essa
capacidade — respectivamente, «ter
consciência» e «a consciência».

Essa distinção, em português, já é suficiente


para entender que não há um equivalente para
«consciência» no yoga que dê conta
simultaneamente desses dois significados.

No sânscrito, o mais próximo de «ter


consciência» é viveka, o discernimento, a
capacidade de distinguir o que é e o que não é.
Para «a consciência» temos buddhi, que é
uma das partes da mente, é a percepção
pura, não maculada pela noção de um eu
isolado da realidade.

119
Como colocar em prática a filosofia do yoga?

Entendendo que não existe uma «filosofia do


yoga» desconectada da prática e lembrando
que a cada idéia, a cada teoria correspondem
inúmeras formas de realização no plano prático.

Dica: a meditação é a prática que condensa


TODA a assim chamada «filosofia do yoga».

No yoga, a divisão entre teoria e prática é


apenas para iniciantes, para fins didáticos. No
yoga, tudo que você lê, estuda e assimila em
nível intelectual tem relação com «o fazer que
conduz ao não-fazer».

120
Você já disse que Saudação ao Sol não é
yoga, mas dá pra usar mesmo assim?

Claro que sim.

Saudação ao Sol é uma ginástica excelente


(Sthula Vyayama). Se for conduzida e realizada
com cuidado, pode ser muito útil para
desenvolver consciência corporal e
respiratória (Sukshma Vyayama) e até mesmo
para praticar a auto-observação em nível
corporal (Pinda Darshan).

Todas estas coisas são preparações


importantes para o Hatha Yoga.

121
Como o yoga pode ajudar na depressão?
(Se é que pode)

Se a causa da depressão for bioquímica, o


yoga ajuda pouco. Neste caso, é bom envolver-
se seriamente com atividades físicas e tomar
medicamentos — nos dois casos com
orientação profissional.

Se a causa for psicológica, o yoga será muito


útil. Meu mestre, Rajnath, dizia: «depressão é a
tristeza da culpa sentida quando sabemos que
não vivemos como deveríamos ou como
desejamos.»

Com o yoga — a meditação, principalmente


— esse mecanismo mental de culpa, tristeza
e desejo se torna cristalino. Nas palavras de
Nisargadatta: «somos escravos do que não
conhecemos; daquilo que conhecemos somos
mestres».

122
Qual a diferença da meditação budista pra
meditação do yoga em termos de técnica?

Primeiro é importante lembrar que não existe um


budismo único, mas budismos — compare, por
exemplo o Zen e o Bön. Portanto, os
apontamentos aqui serão bem genéricos.

Há poucas diferenças: olhos semiabertos e


maior atenção à postura e à respiração no
budismo, olhos fechados e menor atenção à
postura e à respiração no yoga (que já foram
‘preparados’ antes com asanas e pranayama e
por isso não precisam mais ser objetos de
atenção durante a meditação).

Lembre, ainda, que técnica é para aquilo que


você não é, para quem ainda tem dificuldades
para lidar com a mente e com o corpo. Quando
a meditação realmente começa a funcionar
como meditação, a técnica deixa de ser
importante.

123
É verdade que praticar asanas
invertidos durante o ciclo menstrual
prejudica o ciclo dos vayus?

Não.

Por partes, o que é ensinado pelos


hathayogis:

1. Não há relação direta entre o corpo denso


(órgãos, músculos etc.) e o corpo sutil
(chakras, vayus etc.).
2. Não existem asanas invertidos. Existem
posturas invertidas que são usadas na
construção do viparita karani mudra.
3. Mudras só devem ser praticados sob
orientação do guru e sempre depois de
concluir o aprendizado de asanas e
pranayamas.
4. Se você tem saúde, não há restrições
importantes para a prática postural durante
o período menstrual. Mantenha o bom
senso e a auto-observação.

124
Como saber do nível em que vc se encontra
na meditação de forma resumida?

Patañjali deu a dica:

1. Dharana é a concentração simples: é o nível


mais grosseiro da meditação, trata-se de
manter o olhar fixo num objeto simples ou
manter a mente fixa num objeto imaginado.
2. Dhyana é a concentração continuada.
Começa quando você sente que a
meditação se tornou fácil, agradável e
principalmente desejável. Você realmente
quer a meditação como quem está com
sede e quer um copo de água.
3. Samadhi é a dissolução e aqui me abstenho
de explicações — se você estiver neste
terceiro e último nível, você vai saber.

125
As pessoas evoluem, o mundo evolui.
Por que o yoga não deveria evoluir?

A evolução nem sempre é boa. Uma doença


evolui. Um bolor evolui. Uma praga de
gafanhotos evolui.

Só o imanente evolui. O transcendente está


além da evolução e da involução, além dos
movimentos.

O yoga aponta para a transcendência. Quanto


mais sofrer adaptações — com o pretexto de
alinhar-se com as transformações deste mundo
—, mais distante da transcendência e mais
preso à imanência.

126
Tentei ler o Hatha Yoga Pradipika mas não
entendi muita coisa. Insisto? Desisto?

Se você quiser ler algo tradicional, leia os


Yoga Sutras e vá sem pressa, sempre
mantendo o foco em sua prática de meditação
— sem a qual não é possível assimilar os
ensinamentos contidos nas escrituras
tradicionais.

Recomendo também o livro «Eu sou Aquilo»,


de Nisargadatta Maharaj, e o meu livro «Yoga
para Adultos».

Depois você pode voltar ao Hatha Yoga


Pradipika. Caso precise de orientação, me
chame e conversamos sobre isso.

127
A verdade é que a maioria das pessoas não
tem interesse em yoga...

Não entendi se isso era para ser uma pergunta


ou uma dúvida.

Mas você tem razão.

As pessoas não têm interesse em yoga por


um simples motivo: as pessoas não têm
interesse em silêncio, em ficar quieto, em
olhar para dentro.

Tudo no mundo atual produz alteridade, ruído,


agitação. Se, mesmo vivendo num mundo
assim, você prefere o silêncio e o
autoconhecimento, considere-se especial.

Não desperdice isso, medite muito.

128
Pode falar um pouco sobre
pranayamas pra iniciantes?

Antes de pensar em pranayamas, pense em


desenvolver consciência respiratória por
meio de sukshma vyayama, as ginásticas sutis
de preparação para o Hatha Yoga, como a
Saudação ao Sol, os vinyasas e a prática
postural simples – sempre com foco na
respiração. Com esta base será possível iniciar-
se nos asanas e com o domínio dos asanas
você poderá iniciar-se nos pranayamas.

Não pule etapas. Tentar passar para os


pranayamas sem a base do sukshma vyayama e
dos asanas o fará perder tempo e expor-se a
riscos desnecessários.

129
Vejo muita gente falando que
o yoga é uma filosofia milenar.
Quando as técnicas surgiram?

Estima-se que as técnicas do Hatha Yoga, de


origem tântrica, tenham surgido entre os
sécs. XI (quando teria nascido Gorakshanath)
e XV (Hatha Yoga Pradipika: séc. XIV).

A maioria das técnicas não se enquadraria na


definição de «milenar» (mil anos de existência
ou mais), mas nos Yoga Sutras (escrito em
algum período entre os anos 100 a.C e 200 d.C.)
já há a menção a técnicas de yoga.

Por fim, a «filosofia» do yoga é realmente


milenar. As menções ao yoga como meditação,
como busca da transcendência, já aparecem
nos Vedas, cuja composição teria começado
entre 2000 e 1500 a.C.

130
Yoga só funciona se for feito todo dia?

Se você se refere ao yoga real, entendido


como a prática de meditação para a busca do
silêncio e da transcendência, sim, precisa ser
diário e para a vida toda.

Se você se refere às técnicas de origem


tântrica, como asanas, pranayamas etc., elas
também precisam ser realizadas todos os dias,
mas por períodos de tempo muito específicos.

Se você se refere à ginástica postural e a


outros exercícios como Saudação ao Sol,
vinyasa e alongamentos, aí depende da
orientação de seu professor de educação física
— porque aqui já saímos do campo do yoga.

131
Qual a verdadeira importância das
técnicas de purificação do yoga?

Para situar: as técnicas de purificação do yoga


são procedimentos do Ayruveda usados no
Hatha Yoga, onde são chamados de «bhuta
shuddhi» (purificação dos elementos) e
«shatkarmas» (seis ações).

Pela tradição, o hathayogi é considerado um


indivíduo puro e por isso não precisa realizar
técnicas de purificação. Já o leigo que
pretende tornar-se hathayogi é considerado
impuro e por isso precisa realizar os
shatkarmas e os bhuta shuddhi, que fazem
parte das preparações para o Hatha Yoga.

132
Quem está no yoga precisa
cantar mantras pra deuses hindus?

Se você fosse indiano, sim.

Na Índia, o yoga sempre está ligado aos ritos


devocionais (pujas) dedicados a deuses hindus,
o que inclui os «mantras cantados» (kirtan e
bhajan). Um dos mais conhecidos é o Gayatri.
Porém, essa obrigatoriedade tem relação com
as particularidades sociais, culturais e religiosas
da Índia.

Para não-indianos que querem o yoga apenas


para si mesmos (ou seja, que não pretendem
se tornar gurus), a prática dispensa os
mantras cantados e também a crença em
deuses hindus.

133
Qual a função do pranayama kapalabhati?

Kapalabhati é um dhyana pranayama. Como o


nome sugere, trata-se de um pranayama de
meditação, que facilita a obtenção de kevala
kumbhaka (considerado o pranayama mais
elevado e importante de todos). Como outros
dhyana pranayama, deve ser praticado depois
que já se completou o aprendizado dos asanas
e dos dosha pranayama (os pranayama
específicos para equilibrar os doshas).

134
Se uma pessoa não se importa com um
governante que polui rios e desmata, essa
pessoa pode meditar muito que o seu karma
será muito pesado. Yoga não é meditar. Yoga
é viver unido com Deus e com a justiça.

«Importar-se com um governante» é caminhar


na direção oposta à do yoga.

Yoga é tornar-se indiferente ao que é


imanente (política e noticiários, por exemplo)
e agarrar-se ao transcendente.

Isso está explicado aqui:


037 Política e yoga

Manter-se atualizado sobre alguns assuntos e


agir a respeito deles pode ser bom e necessário,
mas realizar yoga não depende disso. Ao
contrário: o apego ao imanente é garantia de
nunca compreender o transcendente.

Tem um monte de gente que defende a


natureza e a justiça social que está
profundamente doente com depressão ou
ansiedade. Não são yogis iluminados, são gente
que tem zero interesse em meditação e
autoconhecimento.

135
O que é o tal do sexo tântrico? Existe isso?

Existe como invenção de falsos mestres. Só.

Mas uma explicação curta:

1. As escrituras tântricas falam de Shiva e


Shakti.
2. Shiva é representado na iconografia
tradicional como um homem forte e
másculo; Shakti, com uma mulher linda e
delicada.
3. Se somarmos 1 e 2 é fácil pensar em
«energia masculina» e «energia feminina» e
sexualizar o Tantra.

136
Trabalho, família... sem tempo
pra praticar... Alguma dica?

Poucas.

A primeira é saber que qualquer prática de


auto-desenvolvimento exige algum sacrifício.

A segunda é fragmentar e ajustar seu tempo


de prática, buscando horários e períodos
alternativos. Em vez de praticar por uma hora
numa sessão à noite, talvez você só consiga 10
minutos de manhã e 15 minutos à noite. Já é
algo.

Terceiro, lembrar que um pouquinho de yoga


(meditação) todos os dias é mais importante
do que uma sessão completa de 1 ou 2 horas
apenas uma vez por semana.

Talvez o vídeo do link abaixo ajude.


028 Pergunte ao Yogi

137
Fisiologicamente, qual os benefícios de
praticar a retenção de ar nos exercícios
respiratórios?

Em geral, as retenções (sempre cheias, nunca


vazias) ajudam a equilibrar o pH e os níveis de
oxigênio.

Além disso — passando para os benefícios


psicofísicos — as retenções melhoram a
disposição física associada à respiração (no
popular, «melhorar o fôlego») e acalmam sem
entorpecer.

É sempre bom lembrar que esses efeitos não


são o foco da prática do yoga, embora alguns
possam ajudar a saber se as técnicas estão
sendo realizadas de forma correta.

138
No Hatha Yoga a finalidade é silêncio
e relaxamento, certo? É inadequado
buscar atingir metas?

Silêncio e relaxamento são «metas


intermediárias», meios para chegar às
práticas realmente importantes — a
meditação e a auto-observação.

Não é inadequado buscar atingir metas. Ao


contrário, é natural e necessário. Como diz o
ditado, se você não sabe aonde quer chegar,
qualquer caminho serve. Se você decide se
dedicar ao caminho do yoga, sua meta é
nirodha, unmani, samadhi e moksha. Sua
sadhana precisa apontar para estas coisas.

139
Dá pra ficar rico ensinando yoga?

Raro, mas não impossível.

Depende de um monte de coisas sem relação


com o yoga: qualidade e formatação de
conteúdos e produtos, divulgação, público-alvo,
recursos humanos e físicos, organização e
planejamento etc.

E depende também de sua capacidade de


observar o personagem sem se identificar com
ele — porque sucesso ou fracasso,
enriquecimento ou empobrecimento são
coisas que acontecem com o personagem,
não com quem você realmente é.

140
É normal ter visões depois que
se começa a praticar yoga?

Sim, é.

Quando você começa a praticar as ginásticas


preparatórias para o yoga (vyayama), ao
descansar o corpo pode produzir micro-
tremores. É uma reação natural, como uma
‘faxina’, uma liberação de tensões acumuladas.

As visões são o mesmo fenômeno, mas na


mente, que também acumula tensões. Nos
primeiros estágios da meditação essas
tensões tendem a ser ‘purgadas’ e podem se
manifestar como ‘visões’.

Não é nada de outro mundo. É apenas mais


um objeto a ser testemunhado em silêncio.

141
O que você acha do Ashtanga
de Patthabi Jois?

O Ashtanga de Patthabi Jois não tem nada de


Ashtanga, o yoga de oito passos, como
definido por Patañjali nos Yoga Sutras. Não
chega sequer a ser um «ekanga», um yoga de
um único passo, porque a prática corporal do
sistema de Jois é dinâmica, sem permanência,
totalmente diferente da prática de asanas no
yoga.

Apesar disso, é uma excelente prática física,


que pode funcionar como Sthula Vyayama
(ginástica comum) ou mesmo como Sukshma
Vyayama (ginástica sutil) e como preparação
para o yoga.

142
Qual a melhor leitura para
quem está começando?

Nenhuma.

Quem está começando precisa colocar o foco


na prática — vyayama e meditação
principalmente. A leitura vem depois que
você já adquiriu alguma vivência do yoga.

Começar o yoga com leituras vai encher sua


mente com mais e mais idéias. Pode ser útil
para entender alguns aspectos da chamada
«filosofia do yoga», mas só depois que você
começou a assimilar o yoga com o corpo e com
a respiração.

Neste ponto este artigo poderá ser útil:


A biblioteca do praticante de yoga

143
O nível onde estou reflete em
meu comportamento?

Toda sadhana parte do pressuposto de que o


que você faz externamente de algum modo
ecoa internamente. Se isto é verdade, é
impossível que o contrário não o seja. O que
você faz internamente de algum modo ecoa
externamente. Lembre de Ramakrishna
entrando em samadhi quando alguém lhe
perguntava sobre samadhi.

Porém, isso não é uma regra. Viver em


silêncio interior profundo, consciente do Si
Mesmo, não significa que externamente você
será um monumento de paz e serenidade.
Significa apenas que você se mantém lúcido a
respeito de quem você é e a respeito das
agitações da mente e do corpo. Lembre de
Jesus expulsando os vendilhões aos pontapés.

144
Uma prática que não me torna uma pessoa
melhor, deveria ser desprezada?

Depende do que você está considerando


«pessoa melhor».

Se você refere ao melhoramento físico, sim. Se


uma pessoa começa a praticar sukshma
vyayama e não percebe nenhum
desenvolvimento físico, há algo errado aí. Isso é
especialmente válido para iniciantes. Pesquise
«vajra deha».

Se você se refere ao melhoramento moral e ao


desenvolvimento de virtudes (altruísmo,
bondade, justiça etc.), não. Yoga não tem
nenhuma relação com o comportamento
social, com «fazer o bem».

145
Qual é a sensação de chegar à
libertação que ensina o yoga?
Como fica a vida depois disso?

Externamente a vida não muda quase nada.

Pode melhorar, pode piorar, continua sendo a


vida externa de sempre. Você não desenvolve
super-poderes.

Você continua sendo uma pessoa comum, que


precisa trabalhar, dormir, se alimentar, pagar
contas, cuidar de si e da família.

Internamente, os sofrimentos emocionais


deixam de ter importância e acabam
desaparecendo. E sobre isso, aliás, vale muito
a pena ler um livro chamado «Depois do êxtase,
lave a roupa suja», de Jack Kornfield.

146
Qual a relação do Samkhya com o yoga?
Como funciona a cosmogonia dele?

Samkhya e Yoga são dois dos seis darshanas


(tradições espirituais e filosóficas) daquilo que
se costuma chamar de Hinduísmo.

Alguns autores entendem esses darshanas


como pares complementares, como se um
tratasse do entendimento da realidade e o outro
tratasse dos meios para se chegar a esse
entendimento. É o que muitos autores dizem
sobre Samkhya e Yoga. Esta idéia de
complementaridade é obviamente falsa
porque pressupõe que os darshanas não são
completos em si mesmos.

Em resumo: Samkhya e Yoga têm inúmeros


pontos de cruzamento em suas cosmogonias (a
explicação sobre cosmogonia fica para um
outro momento, porque é muito longa), mas são
sistemas completos e independentes.

147
A bebida sagrada Soma pode ser
comparada a Ayahuasca? O que
os Nathas pensam a respeito?

Sim.

Ayahuasca e soma são enteógenos,


substâncias psicoativas que produzem
alterações na consciência. Da etimologia,
«enteógeno» é «en-teos-genese», algo como
«criar Deus dentro», uma alusão à abertura da
consciência para a presença de Deus. Outros
enteógenos conhecidos são a psilocibina
(cogumelo) e o peyote (cacto).

O que os nathas pensam dos enteógenos é o


mesmo que outros hindus pensam: funcionou
para os primeiros mestres (rishis), que
escreveram os Vedas, pode funcionar para
outras pessoas, desde que usados em
condições muito específicas, com a
orientação de um guru.

148
É verdade que alguns mestres podem induzir
uma experiência de samadhi no discípulo?

Sim.

Assim como o ambiente faz diferença na


realização da sadhana, assim como é
importante evitar a companhia de pessoas que
não compreendem o valor do Silêncio (v. Hatha
Yoga Pradipika I:15-16), a presença do mestre
realizado também é importante.

Lembre que nas tradições espirituais, «guru» é


«aquele que traz a luz e dissipa as trevas» ou,
ainda, «aquele que é pesado [robusto,
profundo] o suficiente para conduzir-se pelo mar
de Samsara». Ele encarna e emana o Silêncio.
Ele é o Silêncio.

149
A energia cósmica entra pelo coronário ou
pelo bulbo raquidiano?

A pergunta combina um conceito obscuro


(«energia cósmica») com elementos da
anatomia e da fisiologia convencionais.

Associações desse tipo são viagens mentais


produzidas a partir da ciências tradicionais,
da Teosofia e da cultura New Age. Estas
viagens não têm nenhuma relação com o yoga
e são obstáculos para quem está no yoga pela
meditação, pelo Silêncio e pelo conhecimento
do Si Mesmo.

150
O que um yogi faz com a tristeza?

O mesmo que faz com a alegria e com


qualquer outra emoção: observa em silêncio.

Emoções são emanações da mente, que


precisam ser neutralizadas (v. Yoga Sutras I:2)
sem esforço. Essas emanações «caem» quando
a pessoa pára de reagir a elas. Isto se
conquista por meio do silêncio e da
observação contemplativa. São como
cachorrinhos pulando ao nosso redor: se você
não fizer nada com eles, em algum momento
eles vão parar de pular.

No caso das emoções, a observação silenciosa


é o que chamamos no Hatha Yoga de Kama
Darshan, que é uma das partes do Sarva
Darshan.

151
Não tendo tempo, como posso
adaptar a Chaturanga Sadhana de uma
forma que me ajude na meditação?

1. Pratique o que couber em sua rotina


diária. Se você só pode realizar um (01)
asana a cada dia, faça isso. Pouca prática
sempre será melhor do que nenhuma
prática. A Microsadhana que explico no link
abaixo, por exemplo, é uma forma de
simplificar e abreviar a prática do primeiro
anga (asanas).

2. Saiba aonde você quer chegar com sua


prática. É melhor andar devagar na direção
correta do que andar rápido na direção
errada.

152
Quais são os critérios que determinam
quando o praticante está apto a passar
de um anga para outro?

Primeiro, o cumprimento das técnicas que


compõem as práticas (sadhanas) e das práticas
que compõem cada parte (anga) do yoga.

Segundo, a avaliação objetiva: o guru


conversará com o discípulo sobre resultados e
dificuldades e observará seu desempenho.

Por fim, há a avaliação subjetiva: a vivência e


a emanação do silêncio são perceptíveis no
discípulo que se dedica da forma correta à
prática e às orientações do guru.

153
Você já passou pelos três parinamas?

Só pra situar quem desconhece o termo:


parinama significa evolução ou
transformação. No yoga, parinamas são as
transições dos três estágios da meditação: de
dharana para dhyana o parinama é
chittasyaekagrata parinama, de dhyana para
samadhi é samadhi parinama, de samadhi para
moksha é nirodha parinama. Passar por um
parinama é instalar sua meditação num silêncio
cada vez mais profundo.

Sobre a pergunta: passei pelo primeiro


parinama (de dharana para dhyana), tive
lampejos do segundo e sigo me dedicando
para ter chance de chegar ao terceiro.

154
Qual a razão para a confusão de
nomes entre bhastrika e kapalabhati?

Falta de conhecimento do que é o pranayama


de acordo com seus criadores, os
hathayogis.

Há instrutores famosos que dizem que


kapalabhati é uma suavização do bhastrika.
Outros atribuem a confusão aos regionalismos.
Nada disso faz sentido. São invenções de
pessoas que desconhecem o Hatha Yoga e que
acham que pranayama é exercício respiratório e
mais nada.

Bhastrika é um dosha pranayama, para a saúde;


kapalabhati é um dhyana pranayama, para
meditação. Confundir os nomes leva à
confusão de técnicas, o que pode prejudicar
a saúde física e mental do praticante.

155
Já li que que meditação é parte integrante do
acervo de técnicas do yoga e que sem as
demais técnicas, tentar meditar pode ser
prejudicial. O que você pensa disso?

Organizando: o yoga é a própria meditação,


realizada com o objetivo de silenciar a mente
e libertar o indivíduo do sofrimento.

Aquilo que muitas pessoas chamam de


«técnicas do yoga» são as técnicas tântricas que
vieram do Hatha Yoga: asanas, pranayamas etc.
Todas essas técnicas preparam para a
meditação e a potencializam. Todos os «yogas»
modernos, que possuem técnicas além da
meditação, são derivações do Hatha Yoga.

Para pessoas saudáveis, meditar sem antes


realizar técnicas como asanas e pranayamas
só traz um prejuízo: perda de tempo.

A potencialização da meditação obtida por meio


das técnicas do Hatha Yoga é também uma
aceleração. Sem a prática consistente dessas
técnicas o praticante leva mais tempo até
encontrar o pleno silêncio da meditação.

156
Índice remissivo
(os números correspondem às páginas do livro)

Advaita Vedanta 52, 56 Comportamento 144,


Advaita Tantra 56 145
Alma 21 Consciência 18, 119
Atman 21 Conservadorismo 25
Anatman 21 Definições 4
Apana 11 Depressão 122
Asana 13, 41, 47, 48, DeRose 106
55, 63, 80, 87, 89, 96, Dharma 66
101, 116 Disciplina 9, 62, 70
Ashtanga 40, 142 Doença 72
Aurobindo, Sri 30 Dor 112
Autoconhecimento 108 Dvadashanta 117
Auto-observação 12, 13, Ego 28
104 Emoção 7, 23, 151
Ayahuasca 148 Energia cósmica 150
Benefícios do yoga 38, Ensino 34, 35, 45, 57,
138 109
Bhastrika 155 Enteógenos 148
Brahmamuhurta 97 Escrituras 6
Brahman 21 Espiritualidade 86
Buda 43 Evolução 126
Buddhi 119 Família 31, 137
Budismo 73, 123 Filosofia do yoga 120,
Celibato 61 147
Chakras 6, 74 Fitness 114
Chaturanga sadhana Flexibilidade 45
36, 152 Flow 82
Formação 69
Ginástica 34, 114 Mindfulness 82
Guru 53, 80 Modernidade 30, 79, 82,
Hatha Yoga 5, 8, 10, 12, 91, 98, 102, 128
21, 36, 40, 51, 79, 84, Moksha 16 ,17, 67, 146
88, 90, 91, 98, 111 Moral 51, 145
Hatha Yoga Pradipika Mudra 65, 78
127 Neti neti 26
Hermógenes 103 New Age 57, 102, 150
História do yoga 130 Nisargadatta Maharaj
Ideologia 25, 135 127
Individualidade 18 Om 50
Integral, Yoga 30 Oração 60
Inversão 78, 124 Parinama 154
Isolamento 24 Patañjali 10, 15, 40
Japa 42 Patthabi Jois 142
Japa mala 92 Política 115, 135
Jivanmukta 32 Prana 11, 39, 47
Kanda 11 Pranabandha 11, 63, 76,
Kapalabhati 134, 155 118
Karma 20 Pranayama 41, 47, 99,
Kornfield, Jack 24, 146 116, 129, 134, 138, 155
Krishnamacharya 64 Prática 9, 31, 46, 49, 50,
Kriya 85, 113 54, 55, 62, 63, 87, 89,
Kundalini 39 96, 97, 101, 104, 110,
Laya 117 112, 118, 120, 128, 131,
Leitura 95, 117, 127, 137, 139, 141, 152, 153
143 Pratyahara 36
Mantra 50, 133 Profissão 34, 35, 45, 57,
Maya 20 69, 71, 75, 105, 109, 140
Meditação 7, 22, 33, 40, Props 55
42, 46, 53, 59, 60, 70, Purificação 77, 132
90, 92, 93, 94, 110, 123, Ramakrishna 16
125, 154, 156 Ramana Maharshi 52
Menstruação 124 Religião 86, 133
Mestre 53, 149 Riqueza 140
Sadhana 14, 24, 63, 80, Sushumna 39
100, 107, 116, 139, 153, Tantra 6, 8, 61, 68, 84,
154 88, 111, 136
Sadhu 107 Taoísmo 29, 39, 73
Samadhi 16, 81, 149 Taoyin 29
Samkhya 147 Tapasya 14
Samskara 27 Tapete 37
Samyama 125 Tédio 24
Sânscrito 75 Técnica 4, 156
Savasana 54 Tradição 58
Secularismo 91 Tristeza 151
Sexo 61, 136 Unidade 58
Shankaracharya 5 Vayu 124
Shatkarma 77, 132 Vedanta 5
Siddhis 15 Vedas 26, 68
Silêncio 32, 149 Visões 141
Sirshasana 65 Viveka 119
Sofrimento 83 Vrittis 19, 23, 33, 48, 70,
Soma 148 83, 141
Sthula vyayama 12 Yoga Sutras 15, 40, 83,
Sukshma vyayama 12, 95, 127
29, 44, 121, 129 Yogananda 85
Suryanamaskar 44, 121 Yuj 4
Templo do Yoga
www.templodoyoga.org

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