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RESUMO
O câncer apresenta uma variedade de fatores relacionados a sua manifestação, dentre eles os
fatores emocionais. Do ponto de vista emocional, o câncer pode ser visto como a expressão
somática das nossas frustrações, deixando de ser visto somente como um tumor a ser extirpado
do corpo do paciente, o que confere a doença uma dimensão maior de possibilidade de
tratamento. O presente trabalho tem por objetivo compreender o câncer a partir dos estudos da
Psicossomática e das psicoterapias corporais, mais especificamente, a Psicossomática Reichiana,
partindo da visão de homem como uma unidade psicossomática, bem como possibilitar explorar
as contribuições das psicoterapias corporais para o tratamento dos pacientes com câncer, para a
prevenção e auxílio do tratamento dessa enfermidade. Esta pesquisa tem caráter qualitativo, no
qual buscamos através de levantamento bibliográfico de textos e livros de autores, desenhar uma
visão panorâmica sobre a importância da referida abordagem para o tratamento de pacientes
oncológicos.
Introdução
1 Psicóloga Clínica e hospitalar, CRP - 21/624, Especialista em Saúde Mental - UFRJ e pós-graduanda em
Psicoterapia Corporal- CENSUPEG.
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O câncer continua sendo uma das principais causas de morte no mundo, sendo
responsável por mais de 12% dos óbitos, segundo estimativas da International Union Against
Cancer (UICC). Sua incidência cresceu 20% na última década. No Brasil, é a segunda causa de
morte por doença. A estimativa do INCA para 2018-2019 é de 600 mil novos casos no país.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a expectativa para 2030, em todo o mundo, é
de 27 milhões de novos casos e 17 milhões de óbitos.
Os casos continuam aumentando a cada ano devido a maior exposição dos indivíduos
a fatores de risco cancerígenos que interagem entre si aumentando a possibilidade de
transformações malignas nas células normais. O seu desenvolvimento envolve um grande
número de alterações nos genes das células afetadas e uma multifatorialidade nas causas, o que
torna muito difícil a contenção da doença, em alguns casos.
De acordo com o INCA, Instituto Nacional de Câncer, câncer é o nome dado a um
conjunto de mais de 100 doenças que aparecem a partir do crescimento desordenado de células
malignas, que se reproduzem de maneira desordenada, agressiva e, muitas vezes, incontrolável,
que invadem os tecidos e órgãos, favorecendo o surgimento de tumores, podendo ainda espalhar-
se para outras regiões, denominadas metástases.
Os fatores que participam na etiologia e desenvolvimento do câncer são variados,
tendo fatores externos (ambientais) e internos (genética) diretamente relacionados na oncogênese
da maioria dos casos.
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influenciam-se mutuamente. Foi com base nos trabalhos iniciais de Wilhelm Reich(1897-
1957),discípulo de Freud, rompendo com a Psicanálise, fundador da psicoterapia com ênfase no
corpo, a qual denomina-se psicoterapia reichiana ou corporal, que diversos outros teóricos
continuaram com o desenvolvimento de estudos e pesquisas sobre a relação mente-corpo e
energia ampliando o campo das psicoterapias corporais com o surgimento de várias outras
abordagens como a Análise Bioenergética, a Biodinâmica , a Biossíntese entre outras.
É importante ressaltar que a partir destas abordagens, energia, corpo e mente andam e
pulsam juntos exercendo uma importante influência sobre a raiz comum das funções psíquicas e
somáticas, inaugurando a visão energética funcional da saúde, onde se considera a dimensão
subjetiva do paciente e dos aspectos orgânicos do mesmo.
O corpo e o psiquismo formam uma unidade funcional, controlada pelo sistema
nervoso autônomo, em equilíbrio entre os sistemas simpático e parassimpático, cada um com seu
funcionamento e leis próprias mas que estão integrados em sua conexão energética. Pensando
nesse sentido, se existe uma unidade funcional, a doença orgânica estaria associada e integrada a
uma história e a um estilo de vida do indivíduo. (Nascimento, 2016)
Desta forma, podemos entender que todos os distúrbios psíquicos e emocionais
apresentam um correspondente nas alterações corporais, já que o homem passa a ser visto no seu
aspecto somato psico dinâmico, onde corpo, mente e energia fazem parte de uma única unidade
funcional. Seria necessário ter equilíbrio energético para ter uma mente saudável e um corpo
vibrante.
Entendendo que a complexidade dinâmica fisiológica do organismo se relaciona com
as dinâmicas existenciais e subjetivas, o sintoma deve ser visto como um fenômeno na sua
dimensão psicodinâmica, a partir de cada estrutura de caráter e suas defesas, e na sua dimensão
somática, expressados por alterações ou disfunções orgânicas correspondentes às suas defesas de
caráter.
Segundo Nascimento (2016),
As emoções e pensamentos também estão integrados a movimentos somáticos
(contraímos a musculatura e sentimos frio quando sentimos medo, o coração
acelera e sentimos calor quando estamos com raiva ou amorosos, por exemplo).
Então, os movimentos de funcionalidade de cada órgão vão ser influenciados,
modificados, facilitados ou impedidos pelo movimento das emoções-cognições e
vice-versa, de maneira que o organismo vais e moldando dentro nas duas vias
tanto psicossomática quanto somatopsíquica (pág. 44)
que possuem sua função defensiva para o organismo e que alteram o sistema natural da pulsação
do organismo. Estas alterações podem se apresentar a nível respiratório, circulatório, sensorial,
entre outros, e até mesmo, de outros órgãos resultantes de desequilíbrios nos nervos simpáticos e
parassimpáticos do sistema nervoso vegetativo. Estas descobertas passaram a ser a base de
compreensão das doenças psicossomáticas.
De acordo com Reich (1995), quando o organismo não pulsa mais naturalmente, a
energia se desorganiza reprimindo o sistema vegetativo, podendo facilitar a partir disto o
surgimento de alterações na estrutura dos tecidos, podendo provocar a manifestação de doenças,
como por exemplo o câncer, ou seja, todo processo que diminui a carga energética do organismo
e do seu funcionamento pode favorecer o aparecimento de biopatias. Segundo Nascimento
(2016):
Sendo assim, existiria então um terreno biopático que envolveria tanto a predisposição
genética, como questões psicodinâmicas que servem de base biológica para o aparecimento
posterior psicossomático. As questões de ordem psicodinâmicas e emocionais perpassam pela
dificuldade do indivíduo de elaboração simbólica e pelo contato também dificultado com suas
emoções.
De acordo com Nascimento (2016), o fenômeno biopático refere-se a uma
configuração patológica predominantemente somática, com pouca capacidade de elaboração
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Ainda sobre o câncer, Reich (1995) afirma que o câncer é a expressão somática mais
significativa do efeito biofisiológico da estase sexual, ou seja, o câncer é uma doença sistêmica
causada pela frustração do funcionamento sexual natural.
Entende-se então que o aparecimento do câncer inicia-se a partir do encolhimento
biopático do organismo, já que o mesmo encontra-se incapaz de realizar a pulsação de carga e
descarga, que seria um processo natural e sadio do ponto de vista orgonótico, visto que para se
ter um corpo vibrante seria necessário um equilíbrio energético. Dessa forma, o câncer seria
apenas a manifestação mais visível da doença, que surgiu a partir de um recolhimento energético
do corpo todo. O tumor local não e o câncer em si, por trás do tumor ocorre na realidade um
encolhimento do Sistema Nervoso Autônomo. Segundo Nascimento (2016)
Em relação aos estudos referentes ao câncer a luz das psicoterapias corporais Reich se
destaca com sua extensa obra a Biopatia do câncer. Destacamos nesta obra, a utilização de uma
ferramenta de pesquisa como tratamento adjuvante ao processo da orgonoterapia, o acumulador
de Orgone. Segundo ele, a caixa orgônica permitiria tratar com sucesso doenças orgânicas
graves, como o câncer.
Em seguida, relataremos algumas outras experiências e ou contribuições de outras
abordagens corporais para o tratamento de pacientes oncológicos, levando sempre em
consideração o paciente como uma unidade psicossomática e considerando que a partir do
impacto do diagnóstico e do tratamento podem surgir co-morbidades que podem comprometer
ainda mais o estado de saúde do paciente, tais como ansiedade e estados depressivos. O objetivo
é dar suporte ao tratamento médico, minimizando os efeitos das co-,morbidades emocionais e
auxiliar na recuperação, aceitação e empoderamento do tratamento.
Em uma outra perspectiva, Alexander Lowen, médico e psicoterapeuta americano,
desenvolveu uma outra abordagem corporal, a Análise bioenergética, sustentada no pressuposto
psicossomático que o corpo e mente mantém uma unidade funcional e dialética no ser humano.
(Nascimento, 2016, pág. 27)
Lowen defendeu a tese de que a história de vida de cada pessoa está inscrita no corpo
e somou aos estudos de W. Reich do funcionamento dos tipos de caráter, a leitura corporal que
permite ao terapeuta entender a dinâmica energética dos bloqueios do paciente juntamente com
toda a sua história psicodinâmica. De acordo com Seguin (2004) a consciência do corpo é um
princípio básico da bioenergética.
Podemos destacar como proposta central da Análise Bioenergética, o trabalho do
desenvolvimento do Grounding, para o auxílio ao paciente oncológico no contato com seu
corpo, estimulando a vibração e a motilidade. Para Lowen (1985)
A pessoa grounded “tem o seu lugar”, isto é, “alguém”. Num sentido mais amplo,
o grounding representa o contato de um indivíduo com as realidades básicas de
sua existência. A pessoa está firmemente plantada na terra, identificada com seu
corpo, ciente de sua sexualidade e orientada para o prazer. Estas qualidades faltam
à pessoa que está “suspensa no ar” ou na sua cabeça, em vez de estar em cima dos
próprios pés. (Pag. 23)
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equilíbrio, visto que, este diagnóstico vem trazendo muitos medos, insegurança e uma
proximidade muito intensa com o tema da morte.
Muitas pessoas podem vivenciar o recebimento deste diagnóstico como um trauma,
quase como uma sentença de morte. Por trauma podemos entender uma experiência de
sobrecarga para o organismo, que não tem o suporte para tal. No caso do câncer, esse quadro
facilita o aparecimento de outras co-morbidades que podem vir a atrapalhar a adesão ao
tratamento.
O trabalho corporal do TRE (Exercícios para liberação do trauma) foi criado por
Berceli (2010) como uma importante ferramenta de integração, alívio e elaboração das dores
psicossomáticas do choque ou trauma. Baseia-se em uma técnica indolor e simples que trabalha
no sentido de liberação das contrações criadas por um trauma ou um choque, os tremores
induzidos reverberam por todo o organismo em busca da dissolução das tensões profundas
Desta forma, podemos entender que esta seria uma importante contribuição no sentido
de promover a saúde do paciente oncológico, através da potencialização do contato com suas
emoções, vencendo as tensões crônicas do choque/trauma da doença. (Berceli, 2010).
Considerações Finais
Referências
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