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paciente oncológico
Psycho-oncology: The Psychologist’s work with family members and the cancer patient
Abstract
Introdução Faz com que fenômenos que antes não haviam sido
experienciados ou enfrentados surjam de forma
O câncer é reconhecido como uma doença imperativa. (NEME, 2010). Diante do exposto, surge
crônico-degenerativa que atinge milhões de pessoas o seguinte questionamento: como se dáo trabalho dos
no mundo. É uma patologia que pode interferir de psicólogos frente à problemática do câncer e todo o
forma significativa na vida do sujeito e de seu familiar/ processo de adoecimento vivenciado pelo paciente e
cuidador. Neste contexto, surge a Psico-oncologia, pela sua família?
uma área de interface entre a Psicologia e a Oncologia. A fim de responder tal questionamento este
(INCA, 2014) artigo de revisão bibliográfica especializada, tem
É perceptivel, no decorrer dos anos, que o como objetivo analisar o papel da Psico-oncologia
diagnóstico do câncer tem causado desequilíbrio na trajetória do doente e da família no processo de
psicológico, tanto nas pessoas que o portam, quanto adoecimento, visando identificar as dificuldades que
em seus familiares. Ao receber um diagnóstico de uma estes vêm enfrentando ao receber o diagnóstico, nas
doença como o câncer a família poderá ser abalada diferentes fases de tratamento e evolução do câncer. Os
levando todos os seus membros a vivenciarem de forma objetivos específicos são: contextualizar a família e o
singular esse fato. Tal vivência carrega interrupções. câncer; descrever a atuação do psicólogo oncológico e
as contribuições ofertadas aos pacientes, familiares e a
Afiliação dos autores:
†
Psicóloga, Vassouras, RJ, Brasil
‡
Professora Asssistente II do Curso de Psicologia da Universidade de Vassouras, Vassouras, RJ, Brasil
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o enfrentamento de uma doença grave como o câncer, e sua doençaou, até mesmo, de encarar a gravidade da
mudando a vida do sujeito de forma singular e também doença.
todo ambiente no qual este está inserido. (DIAS; DURÁ, Na visão de Froelich(2011) o surgimento de um
2001) câncer, para o doente e sua família, pode ser considerado
Segundo Kluber-Ross (2005) no período como um divisor da existência: há sempre um antes e
da doença, os familiares desempenham papel um depois da doença, tanto para os sucessos como para
preponderante, e suas reações muito contribuem para os fracassos, tanto para as transformações positivas que
a própria reação do paciente. Logo os sentimentos de possam ocorrer como para as negativas. Neste sentido,
perda e de insegurança e a instabilidade emocional mesmo o câncer sendo uma patologia envolta por
tomarão conta da vida deste familiar/cuidador, que muitos mitos e verdades, vale ressaltar que muitos casos
passa a ter atribuições que outrora eram compartilhadas têm cura e se descobertos a tempo estes são tratáveis. A
com o sujeito adoentado. dedicação e o empenho do doente e de sua família podem
Fases, como as citadas por Kluber-Ross (2005), transformar o câncer em um ponto de transformação nas
serão vivenciadas de forma subjetiva, tanto pelo suas vidas. Assim, o adoecer de câncer vai além de um
indivíduo adoentado quanto por seu cuidador/familiar. diagnóstico sombrio, de uma perspectiva de morte; ele
Estes poderão recusar o diagnóstico, entrar em desespero poderá ser visto e enfrentado como um grande desafio
e até mesmo se aceitar nesta condição de doente ou de para o doente e sua família.
familiar/cuidador, pois ter ou ser um doente na família
é fugir do padrão da expectativa de que tudo é perfeito. A Psico-oncologia
Ambos poderão vivenciar momentos de negação, raiva,
barganha, depressão e aceitação, e poderão se questionar:
Costa (2001) argumenta que no decorrer dos
porque comigo? Na minha família? Adaptar-se e aceitar
últimos anos a psico-oncologia se constituiu como uma
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2) A formação de profissionais de saúde; dos pacientes que estão ou serão submetidos a procedimentos
3) A realização de pesquisas que possibilitem a médicos, visando basicamente àpromoção e/ou a
recuperação da saúde física e mental. Promove intervenções
sistematização dos conhecimentos produzidos e que direcionadas à relaçãomédico/paciente, paciente/família,
conduzam a novos caminhos. e paciente/paciente e do paciente em relação ao processo
Nesta perspectiva, Gimenes (2003) define a do adoecer, hospitalização e repercussões emocionais
psico-oncologia como uma área de interface entre a que emergem neste processo. (CFP, 2007, p. 21-22)
oncologia e a psicologia, tomando por base concepções
de saúde e doença inerentes ao modelo biopsicossocial. Nesta perspectiva, Neme(2010) enfatiza que
Complementando este conceito, Costa (2001) descreve equipes formadas por psicólogos começaram a ser
a psico-oncologia como um campo interdisciplinar da requisitadas pelos oncologistas, inicialmente com
saúde que estuda a influência de fatores psicológicos o objetivo de auxiliar o médico na dificuldade da
sobre o desenvolvimento, o tratamento e a reabilitação informação do diagnóstico de câncer ao paciente e a sua
de pacientes com câncer. família. Desta forma, Campos diz que:
Em síntese, Gimenes (2003, p.17) relata que a
O estigma e os mitos que envolviam o câncer puderam
psico-oncologia é uma área que “compreende todas as
ser substituídos por conhecimento e instrumentos
intervenções psicológicas possíveis no trabalho com o deenfrentamento tais como os tratamentos, grupos de
paciente com câncer e seus familiares”. autoajuda, e suporte psicossocial. A partir desses fatos foi
possívelexplorar e estudar respostas e comportamentos
A psico-oncologia reconhece que o aparecimento e a psicológicos associados ao câncer. (CAMPOS, 2010, p.61)
evolução de doenças como o câncer necessitam de um
nível de compreensão e ação que transcendam o modelo De acordo com Simonetti (2004), é preciso
biomédico-mecanicista tradicional, buscando esclarecer
os fatores biológicos e sociais implicados na gênese e
descobrir a verdade do paciente sobre a doença. Nesta
nos tratamentos do câncer, bem como elucidando os visão é fundamental que “o psicólogo trabalhe com
aspectos psicológicos envolvidos na doença, em sua o sentido das coisas, não com a verdade das coisas”
remissão ou recidiva e em seu impacto nas famílias (INCA, 2014, p. 41), elaborando estratégias precisas de
e nos profissionais de saúde. (NEME, 2010, p. 20).
um tratamento psicológico, escutando o que se passa
com o paciente, as suas histórias, expectativas, medos
Neste sentido, a psico-oncologia tornou-se uma e experiências.
importante ferramenta de promoção à saúde e avaliação Costa (2001) evidencia que o psicólogo deve
dos processos psicológicos envolvidos no surgimento e priorizar a promoção de mudanças de comportamento
desenvolvimento do câncer, e também na efetivação da relacionadas à saúde do indivíduo e de seus familiares.
qualidade de vida, na avaliação e identificação do papel Complementando, o autor relata que a experiência
psicossocial da prevenção e do tratamento do câncer. de tratamento deve se constituir em uma condição de
aprendizagem sociocomportamental e cognitiva para o
paciente.
Atuação do Psicólogo no Tratamento
Oncológico Cabe ao psicólogo demonstrar que os repertórios
decomportamentos adquiridos no contexto do tratamento
podem ser úteis em diversas situações de risco, mesmo aquelas
A psicologia é uma das profissões da saúde distantes do contexto de doenças e tratamentos médicos,
cuja inclusão em equipes de acompanhamento de a que o indivíduo for submetido. (COSTA, 2001, p.37)
pacientes com câncer é regulamentada por lei, através
da Portaria nº 3.535 do Ministério da Saúde, publicada Desta forma, o papel do psicólogo no âmbito
em 14 de outubro de 1998, que determina que toda oncológico é o de proporcionar apoio psicossocial e
equipe responsável pelo tratamento de pessoas com psicoterapêutico diante do processo de adoecimento do
câncer tenha, entre seus profissionais, um psicólogo. câncer, demostrando possíveis estratégias de auxílio para
(SAMPAIO; LOHR, 2008). um melhor enfrentamento, qualidade de vida e maiores
A atuação do psicólogo no ambiente hospitalar é expectativas de sobrevivência para os pacientes e seus
reconhecida pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) familiares. Assim, a psico-oncologia fundamenta-se em
através da Resolução nº 013/2007, a qual especifica uma atuação preventiva e humanizada com o intuito
algumas de suas atribuições: de buscar formas de tratamento dignas, favorecendo o
processo de tratamento.
[...] Atende a pacientes, familiares e/ou responsáveis
Em seus estudos, Costa (2001) explicita que a
pelo paciente; membros da comunidade dentro de sua
área de atuação; membros da equipe multiprofissional e atuação do psicólogo oncológicodeve ser pautada tanto
eventualmente administrativa, visando o bem estar físico e no apoio, no aconselhamento e na reabilitação, quanto na
emocional do paciente; [...] tendo como sua principal tarefa psicoterapia individual/grupal, facilitando a transmissão
à avaliação e acompanhamento de intercorrências psíquicas do diagnóstico e a melhor aceitação dos tratamentos e
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Sul, 2011.
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