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Linha também pode ser uma referência para não nos perdermos (assim como Teseu usou um novelo para não se
perder no labirinto), a Gestalt-terapia não seria um aprisionamento, mas a linha que nos ajuda nos caminhos,
para sabermos por onde temos ido. Portanto, artesã e artesão, a Gestalt-terapia é sim nossa linha, não porque
seja a única disponível ou "a melhor", mas por ser a escolha que sentimos conforto, confiança, segurança e
identificação ao usar.
É sempre importante lembrarmos que a forma como costuramos ou por onde caminhamos enquanto a
desenrolamos pelo labirinto, é o que vai fazer toda a diferença!
Portanto, te convidamos a refletir sobre como tem sido tuas costuras com essa linha e o que te fez escolhê-la
entre tantas outras.
→ Relembra o que te fez escolher ser gestalt-terapeuta.
Como Gestalt-terapeutas, nos fundamentamos
epistemologicamente em bases muito claras ao que se refere
a singularidade de cada fazer psicoterápico, de cada
encontro terapêutico e de cada experiência existencial para
com a qual somos convocados a acompanhar.
Assim, toda nossa base teórica se faz necessária, mas não como algo fora, extra, ao ser integrada, ela se faz
parte de nós, e nos confere o cuidado e também a coragem que nos é necessária ao nos lançarmos em nosso
fazer que é dotado de improvisos como nos disse Hycner (1997, p.47):
Ser competente, fazer um bom trabalho, entregar para o mundo uma atuação de valor não é algo que
conseguimos com imediatismos e “atalhos”. Uma formação sólida se constrói com dedicação e investimento (não
apenas financeiro) na busca por aprender mais e com qualidade. Lidamos com o humano (não há nada mais
complexo), portanto sempre teremos o que aprender. Nosso trabalho não é só técnico, nos exige um grande
arcabouço de autoconhecimento para estarmos na relação terapêutica com inteireza, ética e cuidado
necessários.
É simples? Nem de longe. Mas é sempre importante ressaltarmos a importância deste cuidado artesanal, criativo,
minucioso e singular com o nosso fazer. Em tempos de hipervalorização dos “resultados rápidos e infalíveis”, essa
reflexão se faz necessária.
Não tem fórmula mágica!
Isso te assusta ou te tranquiliza?
Na ânsia de querer fazer o melhor possível, muitas vezes buscamos referências e trilhas, contudo
somos seres únicos vivendo com nossos clientes suas experiências singulares, o que nos impossibilita
buscar receitas que nos guiem.
Não ter fórmulas pode gerar insegurança, mas é justamente em uma formação constante, sólida,
cuidadosa e comprometida que nos alicerçamos para a entrega genuína ao novo que emerge a
cada vivência.
Concebemos a psicoterapia como uma arte, onde a cada encontro algo muito inédito é construído.
Não há um processo igual ao outro e não temos como vivê-losem ser um passo por vez.
A redeira, personagem tão marcante na cultura do estado que nos abriga,
nosso Ceará, vai construindo de movimento a movimento do bilro a sua
arte. Uma teia de entrelaçamentos e marcações com alfinetes que confere
aos fios uma nova configuração: a renda de bilro.
Cada encontro terapêutico nos toca em algum lugar, nos convida a rever partes de nós mesmos e
muitas vezes são oportunidades ricas de reconfigurarmos muitas percepções sobre nós mesmos e
nossas relações. Integrar esse aprendizado aos demais adquiridos ao longo da nossa formação é
fundamental, e um processo contínuo que acontece tanto na relação consigo mesmo, quanto na
relação com os pares, a clientela e a sociedade como um todo.
Adquirir novos conhecimentos e capacitar-se continuamente trará crescimento se, e somente se, o
profissional puder integrar com segurança o que aprendeu e reconhecer em si as habilidades e auto
confiança para atuar.
Apropriar-se de quem é você, enquanto profissional, estará sempre vinculado
como o reconhecimento de seus recursos de autossuporte, sendo este o fator
maior que pode conferir autoconfiança para lançar-se e ousar diante de cada
novo desafio profissional.
•Dê um título (um nome, uma frase) a como você percebe sua trajetória
profissional.
Uma costura partilhada
Em nossa vivência como artesãs e artesãos da psicoterapia, o trabalho é partilhado.
Em cada relação psicoterapêutica constitui-se uma nova configuração que não é apenas a soma das pessoas
envolvidas, há um novo campo com a abertura para o emergir de diferentes figuras e com possibilidade para
distintas compreensões. Portanto, tenhamos cuidado, enquanto psicoterapeutas, com os objetivos de nosso
trabalho. A qualidade de presença, a facilitação de processos de awareness, as intervenções cuidadosas, o
acolhimento e conhecimento precisam estar a serviço do processo do cliente e propiciando a parte que lhe cabe
nesse "entre".
Muitas vezes, na ânsia de mostrar competência e soluções, o psicoterapeuta pode se perder na tarefa de
facilitar que o cliente integre suas vivências, e assim interferir nos “alinhavos” que não são seus. Estejamos
atentas(os) ao que é nosso e ao que é do outro, com confiança e segurança no que configura o nosso fazer.
Em nossa construção profissional, acompanharemos inúmeras tecituras, com fios entrelaçados, diversas formas de
tear, mas reconhecendo sempre a diferença de que nos confere como psicoterapeutas e nossos
clientes/pacientes/consulentes.
“Ter tempo, olhar com atenção,
garimpar e colecionar
Minúsculos e insignificantes pedaços de
fios de histórias ...
Formando pequenos novelos,
reservando-os para serem usados no
momento certo do bordado;
Ficar atenta ao potencial que estes
pequenos pedaços têm, organizando-os,
classificando-os e guardando-os”
Jean Clark Juliano, 1999
Ser psicoterapeuta é ser essa artesã/ esse artesão, que tece fios das
histórias vividas e narradas pelos clientes, que vão criando uma tecitura de
sentido singular, útil a facilitação de seus processos. Organizamos os
“novelos” destes fios de histórias e, juntamente com cada cliente, tecemos
novas configurações.
No Ateliê Gestáltico, cuidamos deste processo de formação continuada com o respeito ao modo de ser de cada
artesã e artesão e das singularidade de seus momentos, percursos e necessidades.
Referências:
HYCNER, R.; JACOB, L. Relação e cura em gestalt-terapia. São Paulo:
Summus, 1997.