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Olá, Artesã/Artesão

Este material foi construído com a motivação de celebrar o primeiro


aniversário do nosso Ateliê Gestáltico. Um momento de muita alegria para
nós duas, que idealizamos co-constituir um espaço de incentivo e
cuidado com a arte de ser psicoterapeuta. Somos artesãs e artesãos e
trabalhamos com a singularidade, a boa forma, o cuidado “manual” com
cada elaboração de modo que nada se repete, sempre há algo novo e
único a emergir em nosso fazer psicoterápico.

O Ateliê Gestáltico tem por princípio resgatar o que é singular na


formação continuada do psicoterapeuta, facilitando uma construção
alicerçada na teoria e prática da Gestalt-terapia. Sabemos que o
trabalho com as existências singulares e as intersubjetividades requer de
nós fino trato, não havendo produção a base de receitas, e sim algo a ser
construído em cada encontro.

Escolhemos “A construção contínua de um psicoterapeuta” como tema


para este e-book, por ser tema central e objetivo maior no nosso Ateliê
Gestáltico.

Obrigada por ser artesã/artesão do Ateliê Gestáltico conosco!


Alexandra Borges e Sâmia Gomes
A Gestalt-terapia como linha
Vamos seguir uma compreensão metafórica através de uma linha de costura...
Imagine a linha costurando tecidos, unindo partes e formando uma nova configuração. Cada ponto, alinhavo, vai
dando sustentação e forma, os pedaços de pano vão se juntando e deixam de ser apenas partes, trazendo a
percepção de um todo. Os retalhos se transformam em colcha, as partes formam uma peça.

Linha também pode ser uma referência para não nos perdermos (assim como Teseu usou um novelo para não se
perder no labirinto), a Gestalt-terapia não seria um aprisionamento, mas a linha que nos ajuda nos caminhos,
para sabermos por onde temos ido. Portanto, artesã e artesão, a Gestalt-terapia é sim nossa linha, não porque
seja a única disponível ou "a melhor", mas por ser a escolha que sentimos conforto, confiança, segurança e
identificação ao usar.

É sempre importante lembrarmos que a forma como costuramos ou por onde caminhamos enquanto a
desenrolamos pelo labirinto, é o que vai fazer toda a diferença!

Portanto, te convidamos a refletir sobre como tem sido tuas costuras com essa linha e o que te fez escolhê-la
entre tantas outras.
→ Relembra o que te fez escolher ser gestalt-terapeuta.
Como Gestalt-terapeutas, nos fundamentamos
epistemologicamente em bases muito claras ao que se refere
a singularidade de cada fazer psicoterápico, de cada
encontro terapêutico e de cada experiência existencial para
com a qual somos convocados a acompanhar.

Do existencialismo herdamos a convicção de que “a


existência precede a essência” e assim não há sentido ou
valor pré-estabelecido para uma existência. O existir
somente ganha sentido em correlação com o mundo e é
nesta relação que podemos compreender o “vir-a-ser” que
somos nós e nossos clientes/pacientes.

Da fenomenologia somos convocados a ter uma postura de


disponibilidade em relação a tudo aquilo que “se mostre” em
uma sessão e a nos dedicarmos a observar o modo “como”
esses fenômenos se mostram, sejam eles uma lembrança do
passado ou até uma expectativa futura.
O holismo nos posiciona como parte de um “todo maior que a soma de suas partes”. Temos do todo em nós,
somos tocados e tocamos nossos clientes. Como também nos posiciona o paradigma de campo.

Assim, toda nossa base teórica se faz necessária, mas não como algo fora, extra, ao ser integrada, ela se faz
parte de nós, e nos confere o cuidado e também a coragem que nos é necessária ao nos lançarmos em nosso
fazer que é dotado de improvisos como nos disse Hycner (1997, p.47):

“Parece-me que o terapeuta está em uma situação muito


semelhante a de improviso de um bom músico de jazz. É
claro que há muito treinamento nos aspectos técnicos da
música, como letra musical e tocar escalas; pode até
mesmo haver um treinamento em música clássica mais
formal. Entretanto, na situação de improviso, o treinamento
técnico se torna apenas um pano de fundo a partir do qual
o artista improvisa sua música.”
A tecitura que nos constitui psicoterapeutas
Acreditamos e temos como base importante para nossa atuação como psicoterapeutas e formadoras, que nos
construímos continuamente alicerçadas em muito estudo e processos de autoconhecimento.

Ser competente, fazer um bom trabalho, entregar para o mundo uma atuação de valor não é algo que
conseguimos com imediatismos e “atalhos”. Uma formação sólida se constrói com dedicação e investimento (não
apenas financeiro) na busca por aprender mais e com qualidade. Lidamos com o humano (não há nada mais
complexo), portanto sempre teremos o que aprender. Nosso trabalho não é só técnico, nos exige um grande
arcabouço de autoconhecimento para estarmos na relação terapêutica com inteireza, ética e cuidado
necessários.

É simples? Nem de longe. Mas é sempre importante ressaltarmos a importância deste cuidado artesanal, criativo,
minucioso e singular com o nosso fazer. Em tempos de hipervalorização dos “resultados rápidos e infalíveis”, essa
reflexão se faz necessária.
Não tem fórmula mágica!
Isso te assusta ou te tranquiliza?
Na ânsia de querer fazer o melhor possível, muitas vezes buscamos referências e trilhas, contudo
somos seres únicos vivendo com nossos clientes suas experiências singulares, o que nos impossibilita
buscar receitas que nos guiem.

Não ter fórmulas pode gerar insegurança, mas é justamente em uma formação constante, sólida,
cuidadosa e comprometida que nos alicerçamos para a entrega genuína ao novo que emerge a
cada vivência.

Concebemos a psicoterapia como uma arte, onde a cada encontro algo muito inédito é construído.
Não há um processo igual ao outro e não temos como vivê-losem ser um passo por vez.
A redeira, personagem tão marcante na cultura do estado que nos abriga,
nosso Ceará, vai construindo de movimento a movimento do bilro a sua
arte. Uma teia de entrelaçamentos e marcações com alfinetes que confere
aos fios uma nova configuração: a renda de bilro.

A renda é o resultado de movimentos que aglutinam fios,


mas também de marcos que os separam para que
a elegância da boa-forma possa alí se fazer presente.

Assim também a psicoterapia se dar,


na ousadia de reconfigurar percepções,
aglutinar recursos, discernir o que não seguirá
mais na mesma direção, construindo a
elegância de uma nova forma de ser
e estar no mundo.
Como você se sente frente a sua identidade profissional?
Como uma abordagem humanista, a Gestalt-terapia adota diretrizes que nos ajudam a discutir a noção de
identidade a partir das seguintes concepções:

• De forma ativa, autônoma e em interação com o meio, nos construímos e


reconstruímos continuamente. Portanto, não “SOMOS”, “ESTAMOS”.

• Intencionamos a realidade como participantes da experiência e, nesta, vamos


atribuindo significado e forma ao nosso modo singular de estar no mundo.

• Sempre em um processo de intersubjetividade revelamos nossa diferença e,


quanto mais nos permitimos integrá-la em nossa totalidade e maior conhecimento
tivermos do que somos, melhor uso faremos do nosso potencial criativo.
Então, para nossa abordagem, falar em identidade não é falar sobre estaticidades ou estereotipias.
É sobre conhecer-se e reconhecer-se naquilo que foi sendo construído ao longo da existência, que
deu e dará um toque singular às nossas experiências na fronteira de contato.

Cada encontro terapêutico nos toca em algum lugar, nos convida a rever partes de nós mesmos e
muitas vezes são oportunidades ricas de reconfigurarmos muitas percepções sobre nós mesmos e
nossas relações. Integrar esse aprendizado aos demais adquiridos ao longo da nossa formação é
fundamental, e um processo contínuo que acontece tanto na relação consigo mesmo, quanto na
relação com os pares, a clientela e a sociedade como um todo.

Adquirir novos conhecimentos e capacitar-se continuamente trará crescimento se, e somente se, o
profissional puder integrar com segurança o que aprendeu e reconhecer em si as habilidades e auto
confiança para atuar.
Apropriar-se de quem é você, enquanto profissional, estará sempre vinculado
como o reconhecimento de seus recursos de autossuporte, sendo este o fator
maior que pode conferir autoconfiança para lançar-se e ousar diante de cada
novo desafio profissional.

Para Perls (1981), uma homem bem integrado e seguro de si compreende a


relação entre si e a sociedade de forma a não ser tragado por ela, nem mesmo
ficar afastado completamente dela. Quando buscamos segurança em
postulados externos a nós, e não os articulamos com nossos potenciais e nossas
limitações, não temos como nos sentir seguros.
“A espontaneidade é o sentimento de estar
atuando no organismo/ambiente que está
acontecendo, sendo não somente seu artesão
ou seu artefato, mas crescendo dentro dele.”
(Perls, Hefferline,Goodman, 1997, p.182)
Para você refletir, anotar, avaliar...
• Como tem sido sua construção enquanto psicoterapeuta? Você pode
elencar sentimentos mais comuns nessa trajetória, as lembranças mais
significativas?

• Quais seus principais pontos de sustentação? O que te traz segurança?

• Reconhece os pontos alcançados e o que ainda está a ser buscado?

•Dê um título (um nome, uma frase) a como você percebe sua trajetória
profissional.
Uma costura partilhada
Em nossa vivência como artesãs e artesãos da psicoterapia, o trabalho é partilhado.
Em cada relação psicoterapêutica constitui-se uma nova configuração que não é apenas a soma das pessoas
envolvidas, há um novo campo com a abertura para o emergir de diferentes figuras e com possibilidade para
distintas compreensões. Portanto, tenhamos cuidado, enquanto psicoterapeutas, com os objetivos de nosso
trabalho. A qualidade de presença, a facilitação de processos de awareness, as intervenções cuidadosas, o
acolhimento e conhecimento precisam estar a serviço do processo do cliente e propiciando a parte que lhe cabe
nesse "entre".

Muitas vezes, na ânsia de mostrar competência e soluções, o psicoterapeuta pode se perder na tarefa de
facilitar que o cliente integre suas vivências, e assim interferir nos “alinhavos” que não são seus. Estejamos
atentas(os) ao que é nosso e ao que é do outro, com confiança e segurança no que configura o nosso fazer.
Em nossa construção profissional, acompanharemos inúmeras tecituras, com fios entrelaçados, diversas formas de
tear, mas reconhecendo sempre a diferença de que nos confere como psicoterapeutas e nossos
clientes/pacientes/consulentes.
“Ter tempo, olhar com atenção,
garimpar e colecionar
Minúsculos e insignificantes pedaços de
fios de histórias ...
Formando pequenos novelos,
reservando-os para serem usados no
momento certo do bordado;
Ficar atenta ao potencial que estes
pequenos pedaços têm, organizando-os,
classificando-os e guardando-os”
Jean Clark Juliano, 1999
Ser psicoterapeuta é ser essa artesã/ esse artesão, que tece fios das
histórias vividas e narradas pelos clientes, que vão criando uma tecitura de
sentido singular, útil a facilitação de seus processos. Organizamos os
“novelos” destes fios de histórias e, juntamente com cada cliente, tecemos
novas configurações.

Contudo precisamos ser capazes de olhar, garimpar, colecionar e


organizar nossos próprios fios. Reconhecer o potencial dos “novelos”
construídos ao longo da formação e considerar as nuances necessárias a
tecitura, continuamente buscando ampliá-las através de mais estudo,
supervisão clínica e contínuo processo de psicoterapia pessoal.
Acolhendo sua singularidade
Cada psicoterapeuta, por mais que abrace uma abordagem, tem sua forma singular de ser e fazer. O
conhecimento do que lhe é particularmente importante e possível é condição para a aceitação e o respeito ao
seu modo de ser.
Ter algumas referências em outros profissionais e um fundamento epistemológico-metodológico é fundamental,
mas não há um modo único de ser um gestalt-terapeuta. O contrário seria um contra senso à visão de homem da
nossa abordagem.
É a partir desta consciência e do que somos em nossa singularidade, que vamos nos desenvolvendo num contínuo
processo de vir a ser.

→ Reconhecendo o que nos faz únicas(os) e o que nos faz parte


para assim construirmos com segurança e autenticidade.
→ O que te distingue de outras pessoas/profissionais?

No Ateliê Gestáltico, cuidamos deste processo de formação continuada com o respeito ao modo de ser de cada
artesã e artesão e das singularidade de seus momentos, percursos e necessidades.
Referências:
HYCNER, R.; JACOB, L. Relação e cura em gestalt-terapia. São Paulo:
Summus, 1997.

JULIANO, J. C. A arte de restaurar histórias: o diálogo criativo no caminho


pessoal. São Paulo: Summus, 1999.

PERLS, F.; HEFFERLINE, R. & GOODMAN, P. Gestalt-terapia. São Paulo:


Summus, 1997.

PERLS, F. A abordagem gestáltica e testemunha ocular da terapia. Rio de


Janeiro: Zahar, 1981.
As autoras:

Alexandra Borges dos S. Silveira Sâmia Silva Gomes


(CRP 11/3576) (CRP 11/1981)

Psicóloga, Gestalt-terapeuta. Psicóloga, Gestalt-terapeuta. Mestre em


Mestranda em saúde da criança e do Educação e Saúde. Especialista em
adolescente. Especialista em Psicopedagogia. Com formação em Terapia
Neuropsicologia; em Psicopedagogia Clínica de Casal e Família e Reconfiguração do
e Institucional; em Psicologia Educacional e Campo Familiar. Autora e docente em
Escolar. Diversas formações e cursos em Gestalt-terapia. Membro diretora da
Gestalt-terapia. Autora e docente em Associação Brasileira de Gestalt-terapia e
Gestalt-terapia. Supervisora. Abordagem Gestáltica - ABG.
Sócia fundadora do Ateliê Gestáltico. Sócia fundadora do Ateliê Gestáltico.
Serviços e estudos em Psicologia
Fortaleza - CE | 2022
Instagram: @ateliegestaltico | Whatsapp: (85) 98771-0421
E-mail: gestalticoatelie@gmail.com

Diagramação: Bruno Fernandes (@brunobranding)

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