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O significado da espiritualidade no trabalho

O tema da espiritualidade no trabalho vem crescendo de forma intensa nos


últimos anos no mundo empresarial. Algo que antigamente era visto como assunto desligado
do universo organizacional, como algo religioso ou até místico, hoje se insere como uma
dimensão estratégica, na medida em que dá significado à missão da empresa e ao trabalho das
pessoas. Quando elas têm esta consciência, a conseqüência é que fluem com muito maior
facilidade os fatores mais buscados pelos executivos das organizações: a motivação, o
desempenho, o espírito de equipe, a comunicação eficaz, a qualidade, o foco no cliente, o
"estar de bem com a vida".

O foco da espiritualidade no trabalho é a busca de estados mais elevados de


consciência e o alinhamento das ações das pessoas, das equipes e das organizações com seus
propósitos e missões de vida. Temas que freqüentam o nosso dia a dia, como a ecologia,
gerenciamento de pessoas e equipes, educação, bem-estar físico e emocional adquire uma
dimensão mais elevada e ampliada quando se conectam ao tema da espiritualidade. As
abordagens holísticas, ao integrarem os avanços tecnológicos com os conhecimentos das
tradições milenares, re-ligam as pessoas, ajudando-as a deixarem o estreito paradigma
mecanicista, trazendo uma visão renovada e dando um sentido de plenitude e de unidade.
Quando trabalhamos o tema da espiritualidade no trabalho, os benefícios que podem ser
esperados são a melhoria da qualidade de vida individual e coletiva, o estímulo à situações de
crescimento e desenvolvimento, o incentivo do sentido de parceria, criatividade, cooperação e
trabalho em equipe.

A espiritualidade e as crises profissionais e pessoais

A espiritualidade se manifesta de formas aparentemente incomuns: por


exemplo, nos momentos de crise, geralmente se manifesta um sentido mais elevado de
espiritualidade, como se no momento da necessidade, o ser humano fosse buscar dentro de si
as respostas, conectando-se com os conhecimentos adquiridos anteriormente e suas
experiências de vida.

As crises nos re–ligam com dimensões ao mesmo tempo mais elevadas e mais
profundas em nossas vidas, dando a oportunidade de criarmos conexões que muitas vezes
estavam faltando em nossa existência. As crises nos obrigam a repensar nossos modos de agir,
nosso estilo de vida, nossa escala de prioridades e valores. As crises nos ensinam a nos
liberarmos de muito peso inútil que levamos em nossas "mochilas", na caminhada da vida.

Podemos dizer que estamos em crise no momento em que descobrimos que o


que pensávamos antes já não "funciona" para o momento presente. As soluções que
adotávamos, que antes resolviam determinadas situações, parecem não trazer mais os
resultados esperados. Nossa tendência é continuar tentando, tentando, com os métodos
conhecidos, mas ... não dá certo! As crises nos colocam, de tempos em tempos, diante de
coisas que precisamos repensar, disciplinar, aprender e transformar.

As crises nos convidam, geralmente de forma incisiva, a nos colocarmos


novamente em movimento. Esta é uma das maneiras de despertar o lado espiritual. Outra,
despertada ou não pelas crises, é a busca do autoconhecimento.

Os ensinamentos dos animais sobre a espiritualidade


A observação da Natureza, e em particular dos animais, nos conduz a um
sentido novo de espiritualidade, conhecido de muitas tradições milenares. Precisamos
aprender a não impedir o fluxo da vida. A cada nova situação que ela nos apresenta, saber usar
a palavra correta, utilizar a atitude mais adequada. Sem pressa, sem stress desnecessários,
canalizando nossa energia de uma forma criativa, com flexibilidade e entusiasmo. Intuir
quando é a hora de calar, de aguardar que os outros estejam atentos ao que queiramos
propor.

Quando observamos, por exemplo, uma águia, vem uma lição espiritual
importante de elevarmos nossa visão, "voarmos" alto sobre nossos problemas e termos uma
visão panorâmica da situação em que nos encontramos e assim acharmos saídas ou soluções.
E assim cada animal nos trás ensinamentos, se soubermos ser observadores atentos; e com
isto trazemos uma nova dimensão espiritual aos nossos desafios de trabalho.

Trazendo a espiritualidade ao nosso dia a dia

Espiritualidade e autoconhecimento são irmãos gêmeos, estimulando ações de


transformação pessoal e, conseqüentemente, de seus ambientes. Na medida em que a
organização desenvolve com maior clareza sua missão e visão, num processo que
gerencialmente é denominado de planejamento estratégico, estamos revelando as intenções
reais, que precisam ter uma dimensão de transcendência, de servir a uma causa maior.
Quando as pessoas se conectam a dimensão espiritual de suas tarefas do cotidiano, novos
significados surgem. Por exemplo, em qualquer relacionamento, quando olhamos a outra
pessoa como um ser em processo de evolução, semelhante a nós, fica muito mais fácil o
entendimento.

A brutal velocidade de transformação pela qual estamos passando em todos


os aspectos de nossas vidas faz com que toda a segurança que tínhamos no material e no
concreto se desvanece, como uma neblina aos primeiros raios do sol. As dimensões do
intangível começam a se tornar mais presentes, e com isto os processos de transformação
individual, empresarial, social e planetária começam a fazer sentido e tem seu lugar . Tudo
está perfeito no ritmo em que está acontecendo! É oportuno lembrar da conhecida frase de
Teilhard de Chardin "não somos seres humanos tendo experiências espirituais; antes, somos
seres espirituais tendo experiências humanas".

ESPIRITUALIDADE NO TRABALHO - parte 2

Espiritualidade no trabalho é saber conviver com a diversidade


generalizada, desde o ponto de vista das idéias até as emoções. Somente com uma
maturidade espiritual existe a possibilidade de substituir-se a comodidade de estar com a
razão para massagear o cargo, pelo sentimento de prioridades que a função exige e que a
organização precisa.

A busca pela posse da razão tem causado conflitos ao longo da história


das empresas e ainda é responsável pela perda de muitos talentos. A espiritualidade no
trabalho consiste também em usar seus sentidos tornando você um observador mais
ponderado, respeitando limites. Para isso é necessário ter sentimentos sem nenhum tipo de
preconceito, mas sem nenhum tipo de preconceito mesmo.
Com uma visão mais profunda e menos critica de tudo ao seu redor, todo
profissional desfrutará da possibilidade de relacionar-se melhor com as suas idéias e as dos
outros, buscando resultados positivos não somente nas metas, mas, também, em sorrisos e
certeza de estar agindo pelo bem, pois somente o bem sempre encontra um caminho.

Grandes espiritualistas são grandes vendedores. Sempre foi assim ao


longo da história e por isso fizeram história. Cristo tinha um bom produto e com doze
"profissionais de vendas" que acreditaram em seu produto ainda fazem história. Pessoas
espiritualizadas sabem ser aquilo que o cliente precisa no momento do contato. Um vendedor
tem de ser muitas coisas: psicólogo, corintiano (ou, até mesmo, torcer a favor do meu
Palmeiras), médico, pai...

Isto tudo, e talvez um pouco mais ainda, porque todo cliente, no fundo, se
permite estabelecer um nível de relacionamento em alguma área. Profissionais
espiritualizados sempre possuem uma opinião muito melhor formada que dará a esse contato
um acréscimo de reflexão interessante.

Esses profissionais conseguem, através do processo que chamo de


"fuçomático", dar uma boa fuçada em detalhes importantes no estabelecimento de
informações sobre o cliente e, com isso, até conseguem resgatar memórias emocionais
(aquelas que refletem coisas que o cliente gosta como, por exemplo, comer um chocolate da
Ofner toda sexta-feira e, por isso, toda sexta feira o vendedor lhe envia um chocolate da
Ofner).

Profissionais espiritualizados são muito mais sensíveis, razão pela qual os


tornam mais próximos de seus clientes e capazes de sugerir soluções em diversas áreas. A
espiritualidade extermina o interesse pelo negócio e implanta o respeito e interesse por uma
constante troca de possibilidades, com resultados positivos para ambas as partes.

Quero deixar claro que espiritualidade não é motivação. Motivação e um


estado de performance que podemos desenvolver todos os dias atuando com técnicas pré-
estabelecidas, pois somos os únicos elementos da natureza que geneticamente fomos
projetados pelo Universo com "design motivante".

A cada seis meses trocamos todos os átomos de nosso corpo. Mesmo que
você queira dormir eternamente, chega um momento em que seu corpo lhe acorda. Ele quer
atuar, pois precisa atuar, independente de sua vontade.

Criar motivos para agir na direção em que se deseja, isso é motivação.


Pessoas desmotivadas o são pelo simples fato de ainda não terem descoberto motivos para
agir. A motivação atua como um pensamento positivo que, sem ação, torna seu efeito nulo. Ela
atua na produção de endorfina no cérebro e na parte externa e física do corpo.

A espiritualidade é um processo de crescimento e maturidade da sua


essência como ser humano. Daquilo que está além do físico e habita o etéreo. Está além da
mente! Ela pode vencer a mente.

Quando sua mente sente raiva ou ódio, a espiritualidade espalha pelo seu
corpo um sentimento de perdão e livra você de tais sentimentos. A espiritualidade é a guardiã
de nosso estado de espírito.

Numa organização, enquanto a motivação incentiva à competição, a


espiritualidade incentiva ao compartilhamento. Em uma organização voltada à motivação
somente um profissional vence, enquanto numa que está voltada à espiritualidade todos os
profissionais sobem ao pódio e, melhor ainda, todos cabem nele em primeiro lugar.

Eu acredito que Espiritualidade não é uma Religião. Ela é muito maior que
isto porque ela é uma semente.

Na Religião se alguém é cristão não se interessa pelo budismo; se alguém


é budista não se interessa pelo islamismo... Já, na Espiritualidade se este alguém fosse
somente cristão perderia as belezas do budismo e do islamismo.

Espiritualidade é o centro de um universo de máxima compreensão de


nossos pecados capitais e de nossos diabinhos interiores e, ainda, de nossa verdadeira missão
neste planeta: é um movimento universal pelo bem e respeito ao próximo. A espiritualidade
não está baseada em fatos passados como as religiões, pois ela vive, a cada dia, o seu presente
e mostra o seu futuro em favor do seu próximo.

Hoje já existem muitas empresas que possuem templos religiosos para os


seus colaboradores e, até, um horário dedicado aos relativos cultos. Mas gostaria de ressaltar
um trabalho voltado à espiritualidade que constatei dentro do Exército Brasileiro, o qual atua
como motivador da força de paz da ONU e de diversas divisões nacionais. Trata-se da Escola
Preparatória de Cadetes do Exército, comandada atualmente pelo Ten. Cel. Luís Schons em
Campinas - SP - www.espcex.unicamp.br - onde realizei um trabalho motivacional com mais de
700 Cadetes, dos quais apenas 5 daqui a 40 anos serão Generais Quatro Estrelas. Ali está um
exemplo muito legal deste fato. Um espaço para que os cadetes possam exercer livremente e
com devoção a sua Religião. Bárbaro! Este é o ponto! Uma atuação ecumênica onde as
diferenças não influem nos resultados. Elas apenas fazem com que cada um colabore com
aquilo que sabe, e pode, para o todo, fazendo com que não se percam nas partes.

Será assim nas organizações que perceberem a importância do


ecumenismo ou da verdadeira espiritualidade: o todo em cada parte e cada parte no todo,
formando uma visão holística promissora, não somente para as organizações, mas para o
espaço que ocupam no planeta.

Então, se você é um profissional que está começando não dê início às suas


atividades, como muitos que vejo por aí, partindo apenas da sua necessidade.

Descubra suas verdadeiras aptidões e exercite-as, pratique a


espiritualidade, acredite em suas possibilidades, não faça nada que contrarie as normas da
ética, não tenha metas a cumprir e sim causas a desenvolver e, principalmente, tenha muito
amor à sua atividade. O seu cliente é o seu melhor produto!

- Nunca desista, nunca desista e, finalmente, nunca desista. Tente sempre!

ESPIRITUALIDADE NAS EMPRESAS – parte 3

As palavras de abertura da coleção de livros “Espiritualidade no Trabalho”, da Editora Gente,


que Maysa Marin e eu coordenamos, são:

“A espiritualidade no trabalho é um movimento amplo e crescente de busca de estados mais


elevados de consciência, que estimulem as pessoas, equipes e as organizações a identificar e
praticar ações visando tornar a empresa uma cidadã consciente em sua comunidade, região e
planeta. A espiritualidade no trabalho tem implicações diretas na relação da empresa com os
clientes, visão de resultados, liderança, gerenciamento de pessoas, ecologia, educação,
desenvolvimento e bem-estar físico, emocional e espiritual. Com isto se encorajam ações de
transformação pessoal em seus relacionamentos e em seu ambiente.”

Quando se menciona a palavra espiritualidade, em geral as pessoas entendem:

- Ah, ha, ele está falando de religião!

Esta confusão é bastante comum e leva ao estreitamento do conceito de espiritualidade. Creio


que o texto acima é muito mais abrangente a aplicável ao nosso cotidiano.

A matéria de capa da Revista Exame de 23 de janeiro de 2002 trata do tema “Deus ajuda?”,
com a pergunta complementar: a espiritualidade está em alta no mundo dos negócios. Será
mais um modismo ou vai transformar a vida das empresas?

Eu tenho uma opinião bastante clara que nós estamos em meio a um enorme processo de
transformação no mundo empresarial, e que a espiritualidade já tem um papel norteador
fundamental neste processo. Nós passamos uma grande parte do “horário nobre” de nossas
vidas nas empresas; então, é justo e previsível que busquemos também neste local privilegiado
um conjunto de significados para nossas missões de vida. Portanto, respondendo à Exame,
este não é um modismo! Como descrito na revista, é louvável e faz parte dos negócios a
postura de tantos dirigentes de empresas, que buscam aplicar, cada um à sua maneira, sua
espiritualidade no dia-a-dia de seus negócios.

Para se ter uma idéia da abrangência e penetração do tema, se pesquisarmos nos


instrumentos de busca da Internet a palavra “espiritualidade”, temos 42.700 citações. No
inglês, “spirituality” temos 2.340.000. Quando vamos para “spirituality at work”, encontramos
1980. São números significativos.

A visão mecanicista tradicional fragmenta a nossa vida em segmentos separados: nós


trabalhamos de 2a. a 6a. , e no sábado ou domingo, vamos à missa, culto ou reunião de
orações, segundo a crença de cada um. É como se o mundo dos negócios se separasse do
mundo “religioso”. A visão de espiritualidade mescla e integra estes mundos, fazendo do
ambiente empresarial um lugar privilegiado onde podemos (e devemos) praticar a
espiritualidade. O sentido de fraternidade, tão caro a todas as correntes espirituais, se
manifesta sob o nome de “trabalho de equipe” (e até “espírito de equipe”).

A estratégia de negócios pode ser denominada de “nossa missão” e nortear e fornecer


significado a todos que trabalham. O lugar de trabalho deixa de ser só um lugar para se ganhar
um salário no fim do mês ou para gerar lucros, para ter um sentido ampliado de satisfação. O
papel gerencial dos líderes passa a incorporar a dimensão humana: orientar e apoiar o
crescimento das pessoas de cada departamento, ajudando-as na realização de seus potenciais
individuais. O que antigamente era visto como assunto desligado das empresas, como algo
religioso ou até místico, hoje se insere como uma dimensão estratégica das organizações. São
as “empresas que aprendem”.

Quando as empresas e as pessoas que nela trabalham têm esta consciência, a conseqüência é
que fluem com muito maior facilidade os fatores mais buscados pelos executivos das
empresas: a motivação, o desempenho, o espírito de equipe, a comunicação eficaz, a
qualidade, o foco no cliente, o “estar de bem com a vida”. Quando trabalhamos o tema da
espiritualidade no trabalho, os benefícios que podem ser esperados são a melhoria da
qualidade de vida individual e coletiva, o estímulo à situações de crescimento e
desenvolvimento, o incentivo do sentido de parceria, criatividade, cooperação e trabalho em
equipe.

Espiritualidade e autoconhecimento são irmãos gêmeos, estimulando ações de transformação


pessoal e, conseqüentemente, de seus ambientes. Na medida em que a empresa desenvolve
com maior clareza sua missão e visão, estará revelando as intenções reais, que precisam ter
uma dimensão de transcendência, de servir a uma causa maior. Quando as pessoas se
conectam à dimensão espiritual de suas tarefas do cotidiano, novos significados surgem. Por
exemplo, em qualquer relacionamento, quando olhamos a outra pessoa como um ser em
processo de evolução, semelhante a nós, fica muito mais fácil o entendimento.

A enorme velocidade de transformação pela qual estamos passando em todos os aspectos de


nossas vidas faz com que toda a segurança que tínhamos no patrimônio, no material e no
concreto se desvanece, como uma neblina aos primeiros raios do sol. As dimensões do
intangível, do invisível e do espiritual começam a se tornar mais presentes, e com isto os
processos de transformação começam a fazer sentido e tem seu lugar . Eu começo a “ser
humano” e a fazer a diferença, a transformar os “RH´s” e a nossas empresas em humanas
quando integramos a mente e o coração, a matéria e o espírito, lembrando que O SER
HUMANO É INDIVISÍVEL

Creio que é oportuno encerrar citando Rudolf Steiner, que em Bremen em 1910, disse:

Temos que erradicar da alma todo medo e terror do que o futuro possa trazer ao homem.

Temos que adquirir serenidade em todos os sentimentos e sensações a respeito do futuro.

Temos que olhar para frente com absoluta equanimidade para com tudo que possa vir.

E temos que pensar somente que tudo o que vier nos será dado por uma direção mundial
plena de sabedoria.

Isto é parte do que temos de aprender nesta era, a saber: viver em pura confiança. Sem
qualquer segurança na existência; confiança na ajuda sempre presente do mundo espiritual.

Em verdade, nada terá valor se a coragem nos faltar.

Disciplinemos nossa vontade e busquemos o despertar interior todas as manhãs e todas as


noites.

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