Terceira Civilização - Edição 469 - 01/09/2007 - pág.
41 - Estudo
Terceira Civilização - Estudo
[2] A verdadeira herança:
Por Daisaku Ikeda
Acabei de ler atentamente sua carta.
Respondendo sua questão, a suprema Lei
da vida e da morte que é transmitida pelo
Buda para todos os seres vivos é o
Myoho-rengue-kyo. Os cinco caracteres
do Myoho-rengue-ky foram transmitidos
por Sakyamuni e Muitos Tesouros, os dois
budas da Torre de Tesouro, para o
Bodhisattva Práticas Superiores, dando
continuidade a uma herança ininterrupta
desde o infinito passado.
(Os Escritos de Nitiren Daishonin [END], v. 3,
p. 173.)
A carta “A herança da suprema Lei da vida”
foi escrita em resposta a uma pergunta
formulada por Sairen-bo, um ex-sacerdote
de elevada erudição da escola Tendai, que
se tornou seguidor de Daishonin na Ilha de
Sado. Tudo indica que Sairen-bo havia-lhe
perguntado sobre “a herança da suprema
Lei da vida e da morte”, termo utilizado
pela doutrina esotérica da escola Tendai
na época.
“Acabei de ler atentamente sua carta”
(END, v. 3, p. 173), escreve Daishonin,
indicando que havia examinado e
estudado profundamente as questões que
preocupavam Sairen-bo, que deve ter
escrito em detalhes sobre os ensinos que
aprendera até então e exposto seus
próprios pensamentos e reflexões.
Daishonin o deixa ciente de que leu e
compreendeu sua pergunta. Nessa atitude,
percebemos claramente a benevolência
do mestre em responder às questões ou
preocupações dos discípulos.
Myoho-rengue-kyo é a Lei suprema
da vida e da morte
Em resposta à pergunta de Sairen-bo,
antes de mais nada, Daishonin esclarece o
ponto essencial: que a suprema Lei da vida
e da morte transmitida pelo Buda é o
Myoho-rengue-kyo (END, v. 3, p. 173). Essa
declaração afirma que o ensino supremo
que possibilita a todas as pessoas vencer
os sofrimentos da vida e da morte não é
outro senão o Myoho-
rengue-kyo (a Lei Mística). Para
fundamentá-la, Daishonin estabelece dois
pontos principais ao longo do escrito.
Primeiro, ele revela a legitimidade da
herança do Sutra de Lótus, observada
quando os budas Sakyamuni e Muitos
Tesouros1 confiam a Lei de
Myoho-rengue-kyo ao Bodhisattva Práticas
Superiores,2 o líder dos Bodhisattvas da
Terra. Neste artigo, gostaria de analisar a
importância desse ponto.
Segundo, Daishonin considera em que
sentido o Myoho-rengue-kyo é o ensino
supremo para superar os sofrimentos do
nascimento e da morte. No transcorrer
dessa análise, ele revela que o nascimento
Patrícia Mayumi Dias da Costa (59363-0) / pág. 1.

e a morte de todos os seres, o surgimento
e a extinção de todos os fenômenos,
constituem a vida e a morte como funções
de Myoho-rengue-kyo. Em outras palavras,
todos os fenômenos que ocorrem, todos
os nascimentos e mortes, representam
transições ou instantes de aparição e
extinção que integram o ritmo da grande
Lei universal. Precisamos reavaliar o
significado do nascimento e da morte no
contexto da vida humana com base numa
perspectiva abrangente da existência.
Neste artigo e nos subseqüentes, gostaria
de analisar essa questão.
A legitimidade da herança do Sutra de
Lótus
Em seguida, Nitiren Daishonin diz: “Os
cinco caracteres do Myoho-rengue-kyo
foram transmitidos por Sakyamuni e Muitos
Tesouros, os dois budas da Torre de
Tesouro, para o Bodhisattva Práticas
Superiores”. (END, v. 3, p. 173.) Nessa frase,
ele esclarece que, em termos de
legitimidade da herança,
Myoho-rengue-kyo é a Lei suprema capaz
de libertar as pessoas dos sofrimentos do
nascimento e da morte e que por essa
razão deve ser transmitida. Em outras
palavras, ele afirma que a suprema
legitimidade do Myoho-rengue-kyo reside
no fato de ser o ensino ou Lei transferido
de Sakyamuni e Muitos Tesouros — que
estão sentados lado a lado na Torre de
Tesouro — para o Bodhisattva Práticas
Superiores, durante a Cerimônia no Ar do
Sutra de Lótus.
Nessa cerimônia, os budas e bodhisattvas
de todo o Universo — provenientes das
dez direções e das três existências do
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passado, presente e futuro — reúnem-se
diante dos budas Sakyamuni e Muitos
Tesouros. É uma cerimônia solene,
realizada em escala gigantesca e em torno
da enorme Torre de Tesouro adornada
com sete tipos de tesouro e que é
suspensa no ar.
Nos séculos que sucederam a morte do
Buda, poucas pessoas indagaram por que
e para quem a cerimônia foi conduzida.
Somente Nitiren Daishonin enfocou essas
perguntas de forma direta e as interpretou
com base em sua própria vida.
Qual foi o propósito da Cerimônia no Ar?
Concretizar o grande desejo do Buda da
iluminação universal. Para realizar esse
objetivo, era fundamental que os
habitantes deste mundo, na era impura
após a morte do Buda, pudessem atingir a
iluminação. Dessa forma, a Cerimônia no Ar
foi uma solenidade em que essa missão da
iluminação universal foi confiada aos
Bodhisattvas da Terra. Pelo fato de a
consecução do estado de Buda implicar
fundamentalmente na superação dos
sofrimentos de nascimento e morte, a
verdadeira herança, que é a Lei suprema
da vida e da morte, encontra-se na
Cerimônia no Ar, onde tem lugar essa
transferência.
Recapitulando, no início do escrito,
Daishonin afirma primeiro que
Myoho-rengue-kyo é a Lei suprema da
vida e da morte, que constitui a herança
transmitida pelo Buda. Como fundamento,
menciona que essa herança foi confiada
ou legada ao Bodhisattva Práticas
Superiores por Sakyamuni e Muitos
Tesouros. Essas passagens iniciais
Patrícia Mayumi Dias da Costa (59363-0) / pág. 2.

parecem estar designadas a ressaltar a
legitimidade da herança do
Myoho-rengue-kyo.
Gostaria de esclarecer esse ponto
considerando os papéis específicos
desempenhados por Sakyamuni, Muitos
Tesouros e Práticas Superiores.
As funções de Sakyamuni, Muitos
Tesouros e Práticas Superiores
1. Buda Sakyamuni: A retidão e a
propriedade da Lei
O primeiro ponto a ser considerado sobre a
cerimônia é: quem realizou a transferência?
Pelo fato de a Lei ter sido transferida
diretamente de Sakyamuni — o Buda do
mundo saha e, também, o Buda eterno
que atingiu a iluminação no remoto
passado —, significa que é o ensino correto
que liberta as pessoas que habitam o
mundo saha cheio de conflitos e dos
sofrimentos do nascimento e da morte.
Como descreve o 16o capítulo do Sutra de
Lótus, “Revelação da Vida Eterna do Buda”,
Sakyamuni é o Buda eterno, inseparável da
Lei Mística eterna. É também um buda que
vive na realidade do mundo saha e que
age incessantemente para propagar a Lei.
Por isso, podemos acreditar e aceitar que a
Lei transferida por Sakyamuni é a Lei
fundamental que liberta todos os seres
dos sofrimentos do nascimento e da morte
e que lhes possibilitam atingir o estado de
Buda. Pode-se dizer que, quando
Sakyamuni — como Buda que atingiu a
iluminação no remoto passado — transfere
o Myoho-rengue-kyo, ele estabelece
inequivocamente que este é o ensino
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correto e apropriado para conduzir todas
as pessoas à iluminação.
2. Buda Muitos Tesouros: A universalidade
da Lei
Segundo, a função de Muitos Tesouros é
testemunhar a universalidade dos
princípios do Sutra de Lótus. De acordo
com este sutra, Muitos Tesouros é um
buda de um passado extremamente
remoto que, desde seu ingresso no
nirvana, aparece infalivelmente nos
lugares em que o Sutra de Lótus é exposto
para dar testemunho de sua veracidade (cf.
The Lotus Sutra [LS], cap. 11, p. 171). A
cerimônia de transferência é realizada com
a presença de Muitos Tesouros sentado ao
lado do Buda Sakyamuni. Em certo
sentido, a aparição de Muitos Tesouros
serve para mostrar a verdade universal do
Myoho-rengue-kyo, a herança que o Buda
Sakyamuni confiou ao Bodhisattva Práticas
Superiores.
3. Bodhisattva Práticas Superiores: Um
praticante ativo que possui, manifesta e
propaga a Lei
O terceiro ponto é a existência de pessoas
que realmente propaguem o
Myoho-rengue-kyo após a morte de
Sakyamuni. Por que a Lei é transferida ao
Bodhisattva Práticas Superiores? Por que
essa responsabilidade não é confiada aos
bodhisattvas do ensino teórico ou aos de
outros mundos que se reuniram na
Cerimônia no Ar?3 Esses são pontos
extremamente importantes que nos levam
a considerar quem está qualificado para
propagar a Lei Mística após a morte do
Buda.
Patrícia Mayumi Dias da Costa (59363-0) / pág. 3.

Os bodhisattvas do ensino teórico e os
bodhisattvas de outros mundos possuíam
aparência e porte esplêndidos, e
inspiravam respeito e reverência aos seres
vivos. No entanto, não eram os seguidores
que receberam instrução do Buda no
remoto passado, ou seja, não tinham a
posse da Lei que foi originalmente exposta
naquele momento. Eram bodhisattvas que,
para atingir o estado de Buda, ainda
precisavam realizar incontáveis aeons de
prática budista, isto é, tinham de eliminar
os desejos mundanos dos nove mundos.
Esses bodhisattvas não foram aceitos na
hora da transferência da Lei porque não
incorporavam o princípio da possessão
mútua dos Dez Mundos. Em outras
palavras, eles se destacavam por diversas
características físicas e espirituais, eram
amplamente respeitados, mas não podiam
atuar como líderes autênticos, capazes de
despertar as pessoas para sua natureza de
Buda e guiá-las à iluminação. Nesse
sentido, há uma enorme diferença entre a
visão fundamental da iluminação
defendida pelos Bodhisattvas da Terra e a
que defendem os bodhisattvas do ensino
teórico e os de outros mundos.
A Lei fundamental para atingir o estado de
Buda reside na vida de cada pessoa, na
forma inata e primordial. Assim sendo, sua
existência somente pode ser transmitida
aos outros mediante a interação pessoal e
o esforço de fazer os semelhantes
tomarem consciência de sua natureza de
Buda inata.
O ensino do Sutra de Lótus também
descreve que Práticas Superiores é um
bodhisattva que foi devidamente instruído
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como discípulo do Buda Sakyamuni desde
o remoto passado. Conseqüentemente, ele
conhece a Lei que foi exposta
originalmente. O Myoho-rengue-kyo
somente pode se revelar como ensino
supremo, capaz de libertar todas as
pessoas dos sofrimentos do nascimento e
da morte, quando é propagado pelos
Bodhisattvas da Terra e quando o
Bodhisattva Práticas Superiores lidera a
propagação.
Dessa forma, na transmissão da herança na
Cerimônia no Ar, temos três componentes:
1) a retidão e propriedade da Lei; 2) a
universalidade da Lei; e 3) a existência de
um praticante ativo. A herança, transmitida
nesse contexto, constitui a Lei suprema da
vida e da morte que pode eliminar todos
os sofrimentos da humanidade.
Despertar as pessoas para a verdade
mística inata em sua vida
A seguir, Daishonin diz que os cinco
caracteres do Myoho-rengue-kyo que
Sakyamuni e Muitos Tesouros confiam ao
Bodhisattva Práticas Superiores
constituem uma herança ininterrupta
desde o infinito passado (cf. END, p. 173).
Isso, de certa forma, esclarece o
significado de o Bodhisattva Práticas
Superiores ter sido incumbido de manter e
conduzir a herança da Lei. Antes de tudo,
“uma herança ininterrupta desde o infinito
passado” implica que a vida do Bodhisattva
Práticas Superiores está originariamente
dotada do Myoho-rengue-kyo, a Lei
Mística eterna.
No início de “Sobre atingir o estado de
Buda nesta existência”, Daishonin escreve:
Patrícia Mayumi Dias da Costa (59363-0) / pág. 4.

“Essa verdade [a verdade mística que
sempre existiu inerentemente em todos os
seres vivos] é Myoho-rengue-kyo”. (END, v.
1, p. 1.) Todos os seres vivos são, em
essência, entidades do
Myoho-rengue-kyo, que é a verdade
originalmente inerente. Porém, devido à
escuridão ou ignorância inata, as pessoas
comuns dos Últimos Dias da Lei vivem
presas à ilusão e não compreendem a
verdade de sua própria vida. Por causa
dessa ignorância, elas não podem superar
os sofrimentos do nascimento e da morte.
É justamente quando acreditamos no
poder fundamental de nossa vida e
manifestamos a verdade mística inerente
em nós que podemos transcender os
sofrimentos do nascimento e da morte. A
nobre missão dos Bodhisattvas da Terra —
liderados por Práticas Superiores — é
ensinar, revelar e abrir a Lei Mística, a Lei
intrínseca à vida e a fonte de todos os
poderes, pelo bem das pessoas imersas na
ilusão.
No 15o capítulo do Sutra de Lótus,
“Emergindo da Terra”, consta que, antes de
a terra se abrir para dar passagem aos
Bodhisattvas da Terra, eles “viviam no
mundo do espaço vazio sob o mundo
saha” (LS, cap. 15, p. 213). O que é,
exatamente, esse “espaço vazio sob o
mundo saha”? O Grande Mestre Tient’ai da
China o descreve como “o recôndito mais
profundo da natureza essencial dos
fenômenos e nos princípios budistas mais
supremos e profundos” (Gosho Zenshu, p.
563). Em outras palavras, isso quer dizer
que os Bodhisattvas da Terra vivem num
estado idêntico ao Myoho-rengue-kyo, a
verdade mística inerente à vida, e que
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emergem dessa condição para
manifestar-se no mundo real.
A “herança ininterrupta desde o infinito
passado” indica que o Bodhisattva Práticas
Superiores está sempre em unicidade com
a Lei Mística eterna. Isso é o que lhe
possibilita manifestar a verdade mística
inerente à vida das pessoas e abrir o
caminho para que todos os seres se
libertem dos sofrimentos do nascimento e
da morte.
Quando examinamos essa herança do
infinito passado num nível mais profundo e
mesmo prático, certas características
fundamentais do Bodhisattva Práticas
Superiores e dos Bodhisattvas da Terra se
destacam. Primeiro, em termos do
significado prático dessa herança, o
Bodhisattva Práticas Superiores tem o
poder da sabedoria para manifestar a Lei
Mística em sua própria vida. Isso quer dizer
que ele pode manifestá-la à vontade e em
qualquer momento. Segundo, dispõe do
poder da prática para propagar a Lei. Ou
seja, pode propagá-la mesmo nas eras de
maior perversidade e corrupção. Esses
dois poderes são vitais no momento de
fazer a herança da suprema Lei da vida e
da morte fluir na vida das pessoas neste
mundo saha.
O poder do coração de manifestar a
Lei Mística
Gostaria de lembrar que o Bodhisattva
Práticas Superiores se sobressai por seu
poder ou capacidade de manifestar o
Myoho-rengue-kyo. O poder que nos
possibilita evidenciar a verdade mística
inerente à vida é a força da sabedoria para
Patrícia Mayumi Dias da Costa (59363-0) / pág. 5.

romper a escuridão ou a ignorância e, em
última análise, equivale à iluminação do
Buda.
Dos bodhisattvas presentes na Cerimônia
no Ar, somente Práticas Superiores — cuja
missão é liderar a manifestação da Lei —
está dotado com esse poder supremo da
sabedoria. Seu nome, Práticas Superiores,
deve-se precisamente à sua excelência
incomparável na prática. Os incontáveis
Bodhisattvas da Terra que o seguem
podem adquirir a mesma sabedoria que
ele possui mediante o princípio de
“substituir a sabedoria pela fé”.4 Nesse
sentido, pode-se dizer que os Bodhisattvas
da Terra se sobressaem pelo poder de sua
fé. Dessa forma, sua verdadeira natureza
torna-se muito mais clara quando os
observamos do ponto de vista dos
poderes de sua sabedoria e de sua fé, ou
seja, considerando o poder do coração ou
a força espiritual.
O ensino do Sutra de Lótus indica que os
Bodhisattvas da Terra foram discípulos de
Sakyamuni desde o remoto passado de
sua iluminação original, e que a partir
desse momento foram rigorosamente
instruídos. Sua capacidade lhes permite
tomar consciência da Lei para a qual o
Buda se iluminou, a dedicar-se a
propagá-la.
Em “O objeto de devoção para a
observação da mente”, numa análise
dessas características dos Bodhisattvas da
Terra, Daishonin cita grandes mestres
budistas da China como Tient’ai, Miao-lo e
Tao-hsien.5 Ele declara (END, v. 5, p. 211):
Terceira Civilização - Edição 469 - 01/09/2007 - pág. 41 - Estudo
“[O Buda disse sobre os Bodhisattvas da
Terra:] ‘Estes são meus discípulos que
estão destinados a propagar a Lei’”.
(Tient’ai, Palavras e Frases do Sutra de
Lótus.)
“Os filhos propagam a Lei do pai,
beneficiando o mundo”. (Miao-lo,
Anotações sobre “Palavras e Frases do
Sutra de Lótus”.)
“A Lei contida nele [no Sutra de Lótus] é a
que foi estabelecida há incontáveis kalpa
e, por esse motivo, foi confiada àqueles
que haviam sido discípulos do Buda
incontáveis kalpa no passado”. (Tao-hsien,
Suplemento de “Palavras e Frases do Sutra
de Lótus”.)
Com base nessas frases, Daishonin
reafirma que os bodhisattvas dos ensinos
provisórios e teóricos não possuíam a
suprema Lei e, portanto, não podiam surgir
nos Últimos Dias para propagá-la (cf. END,
v. 5, p. 214-215). Nesse contexto, é óbvio
que estar de posse da Lei suprema não
significa somente possuir a verdade
mística inerente à própria vida. Significa
sobressair-se no poder do coração para
romper a escuridão e a ignorância e
manifestar a verdade mística. Esse é um
requisito essencial para revelar a verdade
mística em nossa vida e ensiná-la aos
demais, mesmo numa época de grande
impureza. É somente nos esforços das
pessoas que a herança da suprema Lei da
vida e da morte flui.
Por essa razão, em outro de seus escritos,
numa análise do que distingue os
Bodhisattvas da Terra dos outros
bodhisattvas exemplares dos ensinos
Patrícia Mayumi Dias da Costa (59363-0) / pág. 6.

teóricos e de outros mundos, como Sons
Maravilhosos, Manjushri e Rei dos
Remédios, Daishonin cita o fato de os
primeiros serem “aqueles que firmaram
completamente sua decisão”. (The
Writings of Nichiren Daishonin [WND], v. 1,
p. 953.)
A prática de propagar a Lei e o seu
poder
Além de se destacarem no poder do
coração ou espírito de manifestar a Lei
Mística, outra característica dos
Bodhisattvas da Terra é que eles se
distinguem pelo poder de sua prática de
propagar a Lei Mística. Na essência dessa
prática poderosa, existe o juramento de
realizar o Kossen-rufu. Esse juramento é a
chave para propagar a Lei neste mundo
saha após a morte do Buda.
No 21o capítulo do Sutra de Lótus, “Os
Poderes Místicos do Buda”, os
Bodhisattvas da Terra, liderados por
Práticas Superiores, juram propagar
ativamente a Lei na era em que o Buda já
não mais estiver presente. Esse juramento
torna-se a força motriz que nutre o poder
de uma prática dirigida à propagação do
ensino, num mundo conturbado e numa
era de corrupção.
Numa sociedade em que o mal prolifera, a
ignorância ou escuridão que envolve a vida
das pessoas são profundas e Bodhisattvas da Terra, entremos em ação!”
generalizadas. Por isso, aqueles que
propagam a Lei Mística, certamente
enfrentarão perseguições e obstáculos. O
poder para mudar e vencer a corrente
contaminada de uma era assim reside num
firme juramento de propagar a Lei.
Terceira Civilização - Edição 469 - 01/09/2007 - pág. 41 - Estudo
O 15o capítulo do Sutra de Lótus,
“Emergindo da Terra”, explica claramente
que os Bodhisattvas da Terra possuem o
poder da prática para sustentar com
coragem a tarefa da propagação numa era
de perversidade. O sutra descreve as
características desses bodhisattvas e diz
que eles são “firmes em propósito e
intento” (o que corresponde ao juramento
inquebrantável); “têm o poder da
perseverança” (que corresponde à força de
sobrepujar as dificuldades) e “são hábeis
em perguntas e respostas difíceis” (que
corresponde ao poder do Chakubuku e ao
poder da palavra ou da eloqüência). (Cf. LS,
cap. 15, p. 216 e 223.)
Em síntese, a Lei vital de
Myoho-rengue-kyo somente pode ser
transmitida às pessoas por meio do poder
do coração e do poder da prática. A
herança que os Bodhisattvas da Terra
receberam e mantiveram é a “herança da
fé”, tal como ressalta Daishonin neste
escrito.
A SGI é uma reunião de nobres e
corajosos Bodhisattvas da Terra
O segundo presidente da Soka Gakkai,
Jossei Toda, costumava exortar aos
membros nos primórdios de nosso
movimento: “Bodhisattvas da Terra, vamos
cumprir nossa tarefa! Companheiros
Um membro dessa época comentou
brincando: “Quando o presidente Toda se
dirigia a nós como Bodhisattvas da Terra,
no início eu pensava que ele estivesse
falando com outras pessoas...
Patrícia Mayumi Dias da Costa (59363-0) / pág. 7.

Sinceramente, não conseguia entender
como alguém como nós, cheios de
preocupações, pobres e doentes, sempre
com problemas familiares, poderíamos ser
Bodhisattvas da Terra. Eu pensava: ‘Um dia,
essas pessoas esplêndidas de quem o
presidente Toda está falando abraçarão a
fé’”. Falando sério, talvez seja exatamente
assim que muitos membros nos dias atuais
pensam ou sentem. No entanto, aquelas
pessoas que assumiram o desafio de seu
carma e lutaram resolutamente para
propagar o Kossen-rufu realmente foram
Bodhisattvas da Terra corajosos e nobres.
Esse é um fato inquestionável que a
história tem provado.
O presidente Toda foi, acima de tudo, um
líder dos Bodhisattvas da Terra. Na prisão,
compreendeu profundamente que ele
próprio era um bodhisattva e, quando foi
libertado, levantou-se em meio às ruínas
de um país devastado pela guerra e fez
surgir uma legião de 750 mil seguidores
dos Bodhisattvas da Terra.
O presidente Toda travou uma luta
espiritual para fazer surgir no coração das
pessoas a consciência de que cada uma
era um Bodhisattva da Terra. Citava os
escritos de Daishonin e ensinava que os
membros da Soka Gakkai ocupavam a
posição de grandes bodhisattvas e
superavam até os fundadores das demais
escolas budistas. O Sr. Toda escreveu:
“Como podemos explicar que nos tenham
concedido uma posição tão importante?
Foi porque, no passado, estivemos
presentes na assembléia com Práticas
Superiores, como Bodhisattvas da Terra, e
porque hoje, nos Últimos Dias da Lei,
estamos nos empenhando na prática do
Terceira Civilização - Edição 469 - 01/09/2007 - pág. 41 - Estudo
Chakubuku como filhos do Buda Original
[Nitiren Daishonin]. Nós, que temos uma
missão tão elevada, devemos nos policiar
para não cairmos no estado de vida
daqueles que não têm fé, ou daqueles que
mantêm crenças errôneas ou inferiores.
Devemos também viver com base no
estado de benevolência e jamais
menosprezar essas pessoas”.6
Pode-se dizer que o presidente Toda nos
exortava a manifestarmos o poder do
coração, ou seja, a tomarmos consciência
de que somos Bodhisattvas da Terra e que
devemos manifestar a benevolência de
ajudar todas as pessoas a serem felizes.
Todos os que se levantaram em resposta
ao seu clamor apaixonado lutaram como
emissários do Buda em meio à realidade
da era impura dos Últimos Dias da Lei, em
que calúnias e insultos proliferam. Cada
uma dessas pessoas transformou
radicalmente sua vida.
Em outras palavras, quando nos
conscientizamos de nossa missão como
Bodhisattvas da Terra e ajudamos outras
pessoas a revitalizar sua vida no nível mais
profundo, experimentamos uma alegria
que não pode ser descrita por palavras.
Sentimos uma satisfação incontida pelo
fato de nossa vida estar se expandindo e
se elevando.
Sempre que nos lançávamos à luta como
discípulos do presidente Toda, o poder da
prática, a força inerente dos Bodhisattvas
da Terra e o ímpeto para combater o mal
surgiam em nós com um poder realmente
incrível, movendo-nos a romper as
correntes de nosso destino e a incentivar
Patrícia Mayumi Dias da Costa (59363-0) / pág. 8.

os outros a fazerem o mesmo.
Deixamos de ser aqueles que pediam
ajuda para nos tornar pessoas que
ajudavam as demais. Em todo o país,
propagou-se um movimento cheio de
histórias reais de pessoas que mudaram
sua vida por meio da fé. Isso, como uma
reação em cadeia, fez com que surgisse
uma imponente onda de Bodhisattvas da
Terra. Cada um desses bodhisattvas
construiu uma vida sólida e segura,
conforme foram superando os sofrimentos
do nascimento e da morte, e se dedicaram
a consolidar a felicidade eterna. Hoje, os
Bodhisattvas da Terra têm emergido no
mundo inteiro.
Se analisarmos a história do budismo, o
que podemos afirmar, com toda
convicção, da brilhante história da Soka
Gakkai? Primeiro, que o Kossen-rufu — a
ampla propagação da Lei — realmente
implica em fazer surgir os Bodhisattvas da
Terra em grande número pelo mundo
inteiro durante os Últimos Dias da Lei, para
que estes, com a sua luta, conduzam
inúmeras pessoas à iluminação. Segundo,
que esse é o propósito fundamental da
transmissão da herança na Cerimônia no
Ar.
O propósito essencial da herança da Lei é
que todos os seres atinjam o estado de
Buda. Por essa razão, a Cerimônia no Ar foi
realizada e Sakyamuni transferiu ao
Bodhisattva Práticas Superiores os cinco
ideogramas do Myoho-rengue-kyo. Nos
Últimos Dias da Lei, foi o Buda Original
Nitiren Daishonin quem, com sua própria
conduta, desempenhou a função do
Bodhisattva Práticas Superiores e quem
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iniciou a correnteza da herança da Lei em
benefício de toda a humanidade.
Em outras palavras, como observamos na
Cerimônia no Ar, o fato de ter recebido a
herança demonstra a legitimidade da
pessoa que empreende ações práticas
para conduzir as outras à iluminação com o
poder da Lei Mística. Ao mesmo tempo,
pode-se dizer que a herança legítima se
perpetua no processo de propagação real
da Lei suprema — que Sakyamuni confiou
ao Bodhisattva Práticas Superiores — nos
Últimos Dias da Lei, quando surgem
efetivamente Práticas Superiores e seus
companheiros Bodhisattvas da Terra, e
iniciam a propagação do
Myoho-rengue-kyo pela primeira vez,
tanto no Japão como no mundo inteiro.
Nitiren Daishonin diz: “O Bodhisattva
Práticas Superiores recebeu d’Aquele que
Traz A Verdade Sakyamuni a água da
sabedoria para irrigar com ela a terra árida
que é a vida das pessoas7 neste mundo
repleto de perversidade dos Últimos Dias
da Lei. Essa é a função da sabedoria”
(WND, v. 1, p. 746-747). A chave para
manter a herança da Lei é a fé. Somente
por meio da fé podemos fazer surgir o
poder do coração e o poder da prática dos
Bodhisattvas da Terra. Somente quando
temos fé, a herança passa a existir. Sem fé,
não há herança.
A Soka Gakkkai é uma reunião de
Bodhisattvas da Terra fundada por mestre
e discípulo — Tsunessaburo Makiguti e
Jossei Toda —, de acordo com o desejo e o
decreto do Buda. Sua história tem sido a
própria história da propagação da Lei
Mística pelo mundo inteiro, com base na
Patrícia Mayumi Dias da Costa (59363-0) / pág. 9.
 Terceira Civilização - Edição 469 - 01/09/2007 - pág. 41 - Estudo

Lótus, de Tient’ai, como Anotações sobre “Palavras e Frases do Sutra de Lótus, de

herança da fé. Graças à grande luta dos
Miao-lo.
três primeiros presidentes da Soka Gakkai, 6. Chakubuku Ron (Tratado sobre Chakubuku), in Toda Josei Zenshu (Coletânea de

os Bodhisattvas da Terra têm aparecido Escritos de Jossei Toda). Tóquio: Seikyo Shimbunsha, 1983, v. 3, p. 100.

nos dias de hoje em todo o mundo. Essa 7. “Terra árida que é a vida do povo”: A expressão “terra árida” é empregada no sentido

de um terreno seco ou inóspito. Por causa das calúnias, dos atos contra a Lei e da
transmissão universal da herança da fé
descrença, a água da sabedoria da Lei Mística não flui e, por isso, a vida das pessoas
refere-se à herança da suprema Lei da torna-se árida e desolada.

vida e da morte, que hoje se propagou

mundialmente. Acredito firmemente que
esse é o verdadeiro propósito da herança
transferida pelo Buda Sakyamuni ao
Bodhisattva Práticas Superiores na
Cerimônia no Ar.

Notas

1. Sakyamuni e Muitos Tesouros: Dois budas que, durante a Cerimônia no Ar, sentam-se

lado a lado na Torre de Tesouro. Sakyamuni é o senhor do ensino do Sutra de Lótus. No

16º capítulo do Sutra de Lótus, “Revelação da Vida Eterna do Buda”, ele expõe sua

verdadeira identidade como Buda eterno que tem ensinado continuamente a Lei e

instruído as pessoas deste mundo saha desde que atingiu a iluminação no remoto

passado. Muitos Tesouros é um buda que atingiu a iluminação e entrou no nirvana num

passado remoto, há muitos aeons. Ele formulou o juramento de aparecer com a Torre de

Tesouro sempre que o Sutra de Lótus fosse propagado, para atestar que seu ensino é

verdadeiro.

2. Bodhisattva Práticas Superiores: Líder dos Bodhisattvas da Terra, discípulos de

Sakyamuni desde o remoto passado. Sakyamuni confia aos Bodhisattvas da Terra a

tarefa de propagar o Sutra de Lótus após sua morte.

3. Bodhisattvas do ensino teórico e bodhisattvas de outros mundos: Termo que se refere

aos demais bodhisattvas que não sejam os Bodhisattvas da Terra. Os bodhisattvas do

ensino teórico são seguidores de budas provisórios. Um buda provisório é aquele que,

para salvar as pessoas, adota uma identidade transitória em conformidade com a

capacidade delas, sem revelar sua identidade verdadeira. Nos ensinos pré-Sutra de

Lótus e no ensino teórico (primeiros quatorze capítulos) do Sutra de Lótus, Sakyamuni

não revelou sua identidade verdadeira; não disse que era um buda que havia atingido a

iluminação no remoto passado, mas assumiu a condição provisória de um buda que

havia se iluminado pela primeira vez na Índia, no transcorrer dessa existência. Os

bodhisattvas de outros mundos são aqueles que não foram instruídos por Sakyamuni,

senhor do ensino do mundo saha, mas por budas de outros mundos. Como os budas de

outros mundos são manifestações parciais da Lei exposta por Sakyamuni, a eles e aos

bodhisattvas do ensino teórico não foi revelada uma imagem verdadeira e completa do

Buda nem a Lei fundamental para atingir o estado de Buda. Em vez disso, um

personagem idealizado foi projetado e enfatizado. Esses Budas foram apresentados

simplesmente como seres que possuíam várias características físicas e espirituais de

destaque.

4. Substituição da sabedoria pela fé: Princípio segundo o qual a fé é a verdadeira causa

para obter a sabedoria suprema e somente ela conduz à iluminação. Pode-se desfrutar

benefícios equivalentes à obtenção da sabedoria e atingir o estado de Buda se acreditar

no ensino exposto pelo Buda e praticá-lo.

5. Tao-hsien (s.d.): Sacerdote da escola chinesa Tient’ai que viveu no século VIII e,

segundo acredita-se, foi discípulo de Miao-lo. Escreveu a obra Suplemento de “Palavras

e Frases do Sutra de Lótus, que comenta tanto sobre Palavras e Frases do Sutra de

Patrícia Mayumi Dias da Costa (59363-0) / pág. 10.