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A Seleção do Tempo | Especial • TC • Ed.

526 • 09/06/2012 • ()

TC

ESPECIAL

A Seleção do Tempo
(Terceira Civilização, edições nos 521 a 524, de janeiro a abril de
2012.)
Resumo e cenário histórico

O Buda Nitiren Daishonin redigiu “A Seleção do Tempo” em 1275,


quando estava com 53 anos e residia no Monte Minobu.
Acredita-se que este texto tenha sido confiado a um discípulo
chamado Yui que morava em Nishiyama, na província de Suruga
(atual província de Shizuoka, no centro do Japão).

No ano anterior, em outubro de 1274, o exército mongol havia


atacado o Japão. Por isso, “A Seleção do Tempo” foi escrita num
ambiente em que parecia inevitável ocorrer uma segunda
invasão dos mongóis e o país inteiro estava em pânico e
consternado.

Pela relevância do seu conteúdo, essa carta é considerada um


dos cinco principais escritos de Nitiren Daishonin.1

Logo no começo, Daishonin declara que se a pessoa deseja


estudar o Budismo, “deve primeiro aprender a compreender o
tempo”. Com isso, ele deixa claro que a primeira obrigatoriedade
que o budista deve cumprir é compreender o tempo.
O Budismo sempre leva a época em consideração, já que se
preocupa com o bem-estar dos que estão vivendo no presente
momento. E “selecionar o tempo” significa escolher
corretamente os Últimos Dias da Lei como a época para a
propagação mundial da Lei Mística — ou seja, a época do
Kossen-rufu. Portanto, nesse contexto, o “tempo” corresponde
ao momento para expor a Lei.

Na parte inicial deste escrito, Nitiren Daishonin afirma: “Não há


nenhuma dúvida de que nossa época atual corresponde ao
quinto período de quinhentos anos2 descrito no Sutra da Grande
Coleção, quando ‘a Lei pura se tornar obscurecida e se perder’.
Mas depois que a Lei pura ficar obscurecida e se perder, a pura e
nobre Lei do Nam-myoho-rengue-kyo, que é a verdadeira
essência do Sutra de Lótus, com toda certeza, será propagada e
amplamente proclamada por toda a terra de Jambudvipa... [o
mundo inteiro]” (WND, v. 1, p. 541).

Como o sábio mais notável, ao longo deste extenso escrito,


Daishonin esclarece como levantou-se sozinho nesta era
corrompida, cheia de guerras e conflitos, para proclamar a pura e
nobre Lei do Nam-myoho-rengue-kyo. Ele explica que
empreendeu um esforço altruístico para afastar o perigo de o
ensinamento correto do Budismo se deteriorar nos Últimos Dias
da Lei. Além disso, seus esforços estavam voltados a criar a
época do Kossen-rufu Mundial, para conduzir todas as pessoas
à iluminação. Ele conclui chamando seus discípulos a continuar
essa batalha no futuro. Esta é a mensagem principal de “A
Seleção do Tempo”.

Trecho da carta
O Buda Sakyamuni também estendeu sua língua, que é incapaz
de proferir falsidades, até alcançar o mais alto céu do mundo da
forma.3 Ele estava dizendo que, no último período de quinhentos
anos após seu falecimento, quando toda a doutrina budista
estivesse para desaparecer, o Bodhisattva Práticas Superiores4
se apresentaria com os cinco caracteres do Myoho-rengue-kyo5
e iria administrá-los como um bom remédio para as pessoas que
sofrem de lepra — isto é, as pessoas de descrença incorrigível6 e
aquelas que caluniam a Lei. E ele encarregou Brahma, Shakra, os
Deuses do Sol e da Lua, Os Quatro Reis Celestiais e as
divindades dragões7 para que atuassem como protetores desse
bodhisattva. Como essas palavras douradas poderiam ser
falsas? Mesmo que a grande terra virasse de cabeça para baixo,
uma montanha se desintegrasse e ruísse, depois da primavera
não chegasse o verão, o Sol se movesse para o Leste ou a Lua
caísse na Terra, esta predição nunca deixaria de se concretizar!
(WND, v. 1, p. 550).

Explanação

Em sua explanação deste escrito, o presidente Ikeda afirma:


“Daishonin indica, nesse trecho, que o ensinamento do Nam-
myoho-rengue-kyo é o ‘bom remédio’ que salva ‘as pessoas de
descrença incorrigível e aquelas que caluniam a Lei’ nos Últimos
Dias, uma época em que a Lei pura está prestes a desaparecer.

“‘Pessoas de descrença incorrigível’ são aquelas que,


preocupadas em atender seus desejos mundanos, se recusam a
aceitar a validade do ensinamento correto, exposto pelo Buda,
caluniando-o. Assim, o Sutra do Nirvana explica que, apesar de
as pessoas de descrença incorrigível possuírem a natureza de
Buda, elas são incapazes de manifestar o estado de Buda. Por
conseguinte, Daishonin compara-as àquelas que são acometidas
por uma doença grave e incurável”.

Em relação ao ato de “caluniar a Lei”, Daishonin observa em sua


“Tese sobre o Estabelecimento do Ensino Correto para a Paz da
Nação” que essa calúnia estava corroendo o coração das
pessoas, ameaçando destruir o tecido espiritual da sociedade. O
presidente Ikeda continua: “Ele destaca o caluniador como o
‘único mal’, ou causa potente, para o sofrimento das pessoas e a
confusão na sociedade (cf. END, v. 1, p. 32).

”Caluniar a Lei é como caluniar o Sutra de Lótus, o ensinamento


da Iluminação Universal. Na raiz dessa calúnia encontra-se a
ignorância ou a escuridão que reside na vida das pessoas e faz
surgir o desrespeito pela dignidade humana e a falta de
consideração pela vida. Isso dá origem a um pensamento
prejudicial que oprime e discrimina as pessoas e põe a
sociedade num caos.

“O 21o capítulo do Sutra de Lótus, ‘Os Poderes Místicos do


Buda’, refere-se à trans­ferência da Lei de Sakyamuni para o
Bodhisattva Práticas Superiores [o líder dos Bodhisattvas da
Terra]. Sakyamuni confia o ensinamento a Práticas Superiores e
a outros Bodhisattvas da Terra que juraram dar continuidade à
propagação após seu falecimento. Esse capítulo diz que o
Bodhisattva Práticas Superiores, ao difundir o ensinamento do
Myoho-rengue-kyo no turbulento mundo saha — uma era maligna
após o falecimento do Buda —, é como o Sol e a Lua dissipando
a escuridão na vida de todas as pessoas. A missão dos
Bodhisattvas da Terra é plantar as sementes do estado de Buda
da Lei Mística no coração das pessoas e ajudar essas sementes
a alcançar um fragrante desabrochar.

“Daishonin empenhou-se incessantemente como devoto do


Sutra de Lótus, comprometido em confrontar a calúnia contra a
Lei e em livrar as pessoas do sofrimento. Empregando a voz e a
vida ao máximo, ele orou e ensinou o Nam-myoho-rengue-kyo
para as pessoas. Assim, enquanto Daishonin resistia à intensa
hostilidade da sociedade, o ensinamento do Nam-myoho-rengue-
kyo era propagado de forma gradativa, conduzindo muitas
pessoas a uma vida de genuína felicidade. Ao mesmo tempo
que ele empreendia sua destemida batalha, também aumentava
o número de pessoas que o apoiava em sua causa e se juntava a
ele nessa tarefa. Os esforços corajosos e pioneiros desse
grandioso defensor do ensinamento correto conduziram e
criaram o momento para o Kossen-rufu”.

Conforme a frase “E ele encarregou Brahma, Shakra, os Deuses


do Sol e da Lua, Os Quatro Reis Celestiais e as divindades
dragões para que atuassem como protetores desse bodhisattva”,
a abnegada devoção para propagar a Lei, demonstrada pelos
Bodhisattvas da Terra sob a liderança do Bodhisattva Práticas
Superiores, provoca infalivelmente a proteção das divindades
celestiais.

Na frase final deste trecho de “A Seleção do Tempo”, Daishonin


declara, com firme convicção de que, mesmo que o mundo
virasse de cabeça para baixo e o Sol se levantasse no Oeste e se
pusesse no Leste, não haveria absolutamente nenhuma dúvida
de que a grandiosa correnteza do Kossen-rufu havia começado a
fluir nos Últimos Dias da Lei.

Esta frase que estudamos agora inspira a missão da Soka


Gakkai na presente época, assim como o presidente Ikeda
expressa no começo de sua explanação: “Neste auspicioso
momento de nossa história, estudem comigo o escrito ‘A
Seleção do Tempo’. Vamos reafirmar o grande significado da
época do Kossen-rufu Mundial — predita por Daishonin — por ter
chegado na era atual. Vamos também dar o máximo de nós para
criar o momento certo de promover o Kossen-rufu. Inicio minha
explanação na esperança de que ela se torne fonte de coragem e
inspiração, enquanto vocês buscam seus objetivos com elevado
orgulho e senso de missão como pessoas que se reuniram nesta
época para dedicar a vida em prol do Kossen-rufu”.

Ele também afirma: “Sempre agi com a convicção de que o


tempo certo é alcançado com determinação e esforço e que
tudo se resume em desafiarmos a nós próprios. Em vez de ficar
sentado em serena contemplação, recitei Daimoku e entrei em
ação — viajei, conversei e escrevi incansavelmente para
propagar o Budismo Nitiren. Abri as portas do coração das
pessoas, ajudando-as a construir uma intransponível fortaleza
de paz e felicidade na vida. Estou convicto de que este é o
significado de ‘selecionar o tempo’ — ou escolher o tempo certo
— em termos de nossa prática budista individual”.

Trecho da carta
Pequenos rios se unem para formar o grande oceano, e
minúsculas partículas de areia se acumulam para formar o
Monte Sumeru.8 Quando eu, Nitiren, comecei a ter fé no Sutra de
Lótus, eu era semelhante a uma gota d’água ou uma única
partícula de areia em todo o Japão. Mas, depois, quando duas,
três, dez pessoas e, eventualmente, cem, mil e um milhão de
pes­soas passarem a recitar o Sutra de Lótus e a transmiti-lo aos
outros, todos formarão um Monte Sumeru da perfeita
iluminação,9 o oceano de um grande nirvana.10 Não procurem
nenhum outro caminho, a não ser aquele pelo qual se manifeste
o estado de Buda! (WND, v. 1, p. 578-580)

Explanação

Ao falar sobre essa frase, o presidente Ikeda ressalta: “O Kossen-


rufu — a ampla propagação da Lei Mística — é posto em prática
quando uma pessoa corajosa desperta para o ensinamento
correto, se levanta e triunfa sobre todos os obstáculos para
alcançar este objetivo.

”Como indicado pela luta de Daishonin, sendo o ‘principal devoto


do Sutra de Lótus em toda a terra de Jambudvipa [o mundo
inteiro]’ (WND, v. 1, p. 552) e seu comportamento como pessoa
de sabedoria, criar uma terra de paz e prosperidade, baseada no
ensinamento correto do Budismo, começa com a transformação
interior na vida de cada pessoa.

“Assim como miríades de gotas d’água se juntam para formar


um grande oceano ou minúsculas partículas de poeira se
acumulam para formar uma enorme montanha, inumeráveis
indivíduos, juntos, formam um grande movimento ou uma
imensa onda. Tudo começa com uma única pessoa. A paixão e o
comprometimento dela inspirarão outra pessoa e mais outra a
se unir com a mesma determinação e visão. Por sua vez,
inspirarão muitas outras pessoas — seus grupos crescerão em
tamanho e força.

”O Sutra de Lótus é um ensinamento para a iluminação de todas


as pessoas que tem o poder de romper a escuridão fundamental
e despertá-las para a natureza de Buda inerente. Quando os
praticantes do Sutra de Lótus realizam o Chakubuku, iluminam a
escuridão em torno deles, assim como o Sol. Como resultado,
segundo Daishonin, esses praticantes despertarão ‘duas, três,
dez pessoas e, eventualmente, cem, mil, dez mil e um milhão de
pessoas’ (WND, v. 1, p. 580), que se unirão a eles em seus
esforços e despertarão inumeráveis pessoas. Juntos, como
partículas de poeira ou gotas d’água, formam ‘o Monte Sumeru
da perfeita iluminação, um oceano do grande nirvana’ (Ibidem).

“Quando a sabedoria e a compaixão da Lei Mística se


espalharem por toda a Terra e os princípios humanísticos do
Sutra de Lótus forem abraçados como valores humanos
universais, veremos a construção de sociedades em que
prevalece a paz duradoura.

“Daishonin ensina que o ‘Monte Sumeru da perfeita iluminação’ e


o ‘oceano do grande nirvana’ serão formados por meio do
surgimento de nobres multidões que lutam com o mesmo
espírito invencível do primeiro devoto. Ele nos ensina ainda que
não devemos procurar outro caminho para manifestar o estado
de Buda senão o de criar uma grande onda do Kossen-rufu, que
começa com a revolução humana de cada pessoa.
“Somente evidenciamos o estado de Buda inerente por meio de
esforços para concretizar o grande desejo do Buda (Daigan) para
a felicidade humana e para a paz mundial”.

Portanto, neste trecho do escrito “A Seleção do Tempo”, o


presidente Ikeda diz: “Daishonin encoraja seus discípulos a se
juntar a ele na luta em prol do Kossen-rufu, o que permite
manifestar um sublime estado de vida”.

O Budismo Nitiren é um ensinamento humanístico. Ele


possibilita que encontremos uma esperança suprema dentro de
nós mesmos — esperança que é representada pela infinita
nobreza da vida. Encontramos a suprema esperança em nossa
vida, assim como esperança luminosa na vida das outras
pessoas.

Baseados no espírito fundamental da empatia e da preocupação


com os outros, despertamos para a missão de construir um
mundo melhor, caracterizado pelo respeito à dignidade da vida.
Dessa forma, trilhamos este caminho de transformação e
criação de valores enquanto confrontamos corajosamente a
realidade mais difícil. Este é o espírito demonstrado pelos
Bodhisattvas da Terra, descrito no Sutra de Lótus. Uma
transformação interna na vida de alguém gera a mudança de
incontáveis pessoas e, por fim, transforma o mundo. A missão
dos Bodhisattvas da Terra é pôr isso em movimento e espalhar
uma corrente contínua de valor positivo e de esperança. O
importante é a pessoa despertar e agir agora.

Resumindo...

- A carta foi escrita em 1275.


- Nitiren Daishonin estava com 53 anos

e morava no Monte Minobu.

- Quem a recebeu foi Yui, um discípulo que morava em


Nishiyama, na província de Suruga (atual província de Shizuoka,

no centro do Japão).

- Todo o povo japonês estava com medo de uma nova invasão


mongol, o que já havia acontecido em 1274.

O que a carta ensina:

- A época correta para realizar o Chakubuku é agora.

- Daishonin mostra por que os Últimos Dias da Lei são o


momento correto para propagar o Budismo.

- O Nam-myoho-rengue-kyo é o “bom remédio” que salva todas


as pessoas, inclusive aquelas de descrença incorrigível e que
caluniam a Lei.

- As pessoas de descrença incorrível estão preocupadas em


satisfazer apenas às suas vontades e se recusam a aceitar a
verdade dos ensinamentos do Buda.

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