Terceira Civilização - Edição 556 - 13/12/2014 - pág.
44 - Estudo
Terceira Civilização - Estudo
[27] O General Tigre de Pedra (END, v. III, p.
215–217)
Explanação do presidente da SGI, Dr. Daisaku
Ikeda
Trecho da carta
O General Tigre de Pedra
Eu não estou tão saudável quanto os
outros, e, além disso, moro nesta remota
floresta na montanha. Este ano foi
especialmente difícil, com epidemias e
fome durante a primavera e o verão, que
pioraram no outono e no inverno. Minha
doença também piorou novamente, mas o
senhor [Shijo Kingo] me deu vários
medicamentos e um manto acolchoado.
Graças a seus remédios, estou em franca
melhora; já estou recuperado e me sinto
muito melhor que antes. O Tratado sobre
os Estágios da Prática de Ioga, do
bodisatva Maitreya, e o Tratado sobre
Grande Perfeição da Sabedoria, do
bodisatva Nagarjuna, afirmam que, se uma
doença é causada pelo carma imutável,
mesmo um excelente remédio se tornará
veneno, mas que, se a pessoa acreditar no
Sutra do Lótus, o veneno se transformará
em remédio. Embora indigno, propago o
Sutra do Lótus; consequentemente,
demônios celestiais competem para me
privar de alimento. Compreendendo isso,
não lamento, ao contrário, acredito que
sobrevivi desta vez apenas porque o buda
Shakyamuni veio para me ajudar,
penetrando no seu corpo.
Deixando tudo isso de lado. Estava
extremamente preocupado com sua volta
para casa da última vez, e estou muito feliz
em saber que chegou em segurança a
Kamakura. Tal era minha ansiedade que
perguntei sobre o senhor a todos de
Kamakura que vinham até aqui. Um deles
me disse tê-lo encontrado em Yumoto,
outro, adiante, em Kozu, e quando um
terceiro disse tê-lo visto em Kamakura, eu
me senti finalmente mais aliviado. A partir
de agora, não venha mais me visitar, a
menos que seja absolutamente necessário.
Quando tiver algo urgente para me dizer,
envie um mensageiro. De fato, fiquei
profundamente preocupado com sua
última viagem. Um inimigo tentará fazer
com que esqueça o perigo para então
atacar. Se tiver de viajar, não negocie o
preço de um cavalo. Certifique-se de que
escolheu um bom cavalo. Traga consigo
seus melhores homens para defendê-lo de
um ataque surpresa, e monte um cavalo
que possa facilmente levá-lo com sua
armadura.
No oitavo volume de Grande
Concentração e Discernimento e no oitavo
volume da obra Anotações sobre “Grande
Concentração e Discernimento”, diz,
“quanto mais forte a fé da pessoa, maior a
proteção dos deuses”. Isso significa que a
proteção dos deuses depende da força da
fé da pessoa.
O Sutra do Lótus é uma excelente espada,
mas seu poder depende de quem a
Ariadne Araújo Silva (160287-0) / pág. 1.

empunha.
Entre aqueles que propagam este sutra
nos Últimos Dias da Lei, quem poderia se
comparar a Shariputra, Mahakashyapa,
Percebedor dos Sons do Mundo, Som
Místico, Manjushri e Rei dos Remédios?
Pessoas dos dois veículos [como
Shariputra] eliminaram todas as ilusões dos
pensamentos e desejos, libertando-se,
assim, dos seis caminhos. Bodisatvas
[como Percebedor dos Sons do Mundo]
erradicaram quarenta e um dos quarenta e
dois níveis de ignorância, como a Lua na
décima quarta noite antes de se tornar
cheia. No entanto, o buda Shakyamuni se
recusou a confiar a missão da propagação
a qualquer uma dessas pessoas e, em vez
disso, legou-a aos bodisatvas da terra.
Portanto, esses bodisatvas são os únicos
que foram completamente forjados [como
o metal] em sua determinação.
No passado, o poderoso guerreiro general
Li Guang, da China, cuja mãe fora devorada
por um tigre, atirou uma flecha contra uma
pedra, que ele acreditava ser um tigre. A
flecha inteira fincou na pedra até suas
penas. Mas quando percebeu que era
apenas uma pedra, não conseguia
perfurá-la novamente. Mais tarde, ele
passou a ser conhecido como General
Tigre de Pedra. Essa história se aplica ao
senhor. Ainda que os inimigos fiquem à
espreita esperando pelo senhor, sua
resoluta fé no Sutra do Lótus previne
grandes perigos antes mesmo que
aconteçam. Ciente disso, fortaleça a sua fé
mais do que nunca. É impossível dizer tudo
o que desejo em uma carta.
Com meu profundo respeito,
Terceira Civilização - Edição 556 - 13/12/2014 - pág. 44 - Estudo
Nichiren
(END, v. III, p. 215-217)
Explanação
Em junho e julho de 1957, há 55 anos, eu
estava envolvido em intensas lutas em
Hokkaido e em Kansai. Parti às pressas
para Hokkaido para uma batalha contra o
Sindicato dos Mineradores de Carvão de
Yubari em razão do ostensivo abuso do
direito à liberdade religiosa que estavam
cometendo contra os membros do
sindicato que pertenciam à Soka Gakkai.
Na época, o sindicato era considerado
onipotente e ninguém ousava enfrentá-lo.
Em Yubari, assumi a liderança na luta para
proteger nossos membros e garantir que a
justiça fosse feita.
Imediatamente após a batalha em Yubari,
em 3 de julho, viajei para Osaka, a fim de
me apresentar para ser interrogado no
Quartel da Polícia da Província de Osaka
sobre a suposta violação da lei eleitoral em
um distrito de Osaka (em abril daquele
ano). Fui preso no mesmo dia sob falsas
acusações.
Esses dois incidentes, um seguido do
outro, foram lutas contra a natureza
insidiosa de poder e autoridade. Na
primavera passada, antes dessas batalhas
ocorrerem, eu tinha gravado em meu
coração e escrito em meu diário o
ensinamento de Nichiren Daishonin sobre
“ser capaz de perfurar uma pedra com
uma flecha” — em referência ao famoso
conto chinês sobre O General Tigre de
Pedra que aparece neste Gosho. Era a
Ariadne Araújo Silva (160287-0) / pág. 2.

expressão da minha determinação de me
esforçar baseado na fé na Lei Mística, a
fonte de energia para a vitória absoluta e
para tornar possível o impossível. Além
disso, foi um reflexo da minha disposição
de enfrentar todas as dificuldades com o
espírito destemido que tinha firmado em
meu coração.
Em 3 de julho, no caminho de Hokkaido
para Osaka, tive uma breve escala no
Aeroporto de Haneda, em Tóquio. Toda
Sensei me encontrou e me presenteou
com um exemplar do seu romance
recém-publicado, Revolução Humana, que
já havia sido divulgado, com o pseudônimo
Myo Goku, em uma série no Seikyo
Shimbun.
Que místico! No momento crucial, quando
eu estava prestes a embarcar em uma
intensa luta com a natureza diabólica do
poder, segurava em minhas mãos a
Revolução Humana, que registrou a
experiência do meu mestre sobre seu
despertar para a missão como bodisatva
da terra,1 enquanto esteve preso por suas
crenças durante a Segunda Guerra
Mundial.
Ter absoluta convicção na fé
Na grande batalha para propagar a Lei
Mística, são os bodisatvas da terra que
possuem a forte determinação de jamais
serem derrotados, não importa quão
difíceis sejam as adversidades. Vencer o
medo e continuar ultrapassando tudo — a
revolução humana é encontrada neste
forte e positivo ritmo de vida.
Terceira Civilização - Edição 556 - 13/12/2014 - pág. 44 - Estudo
Toda Sensei nos ensinou que revolução
humana significa estar consciente do
nosso propósito fundamental de vida e ter
absoluta convicção na fé. Ele também
explicou que se trata de transformar a vida
de uma condição dominada pelos “três
venenos” — avareza, ira e estupidez2 —
para manifestar os estados de bodisatva e
de buda. Este é o processo de vencer
todas as funções da maldade, despertar e
evidenciar o nobre potencial inerente à
vida. Isto é, edificar um forte eu. Por essa
razão, os que estão empenhados no
desafio de realizar a sua revolução humana
diariamente são capazes de extrair de si o
poder de romper qualquer impasse.
Mesmo diante de terríveis obstáculos,
ainda que pareçam impossíveis de superar,
não há necessidade de se esconder, se
desesperar, temer ou fugir, pois podemos
evidenciar o poder da suprema coragem e
sabedoria que está dentro de cada um.
Nesta edição, estudaremos o escrito de
Nichiren Daishonin O General Tigre de
Pedra para aprendermos mais sobre a
essência da fé para realizar a revolução
humana.
Um discípulo que, em meio à
adversidade pessoal, apoia seu
mestre
O escrito O General Tigre de Pedra foi
redigido no 22º dia do 10º mês de 1278, e
enviado a Shijo Kingo, em Kamakura, por
Nichiren Daishonin, que se encontrava no
Monte Minobu. Há dois pontos sobre o
fundo de cena que gostaria de citar.
O primeiro é em relação ao ano anterior
(1277), quando epidemias e uma
Ariadne Araújo Silva (160287-0) / pág. 3.

prolongada seca resultaram em drástica
escassez de alimentos. Além disso,
Daishonin estava doente desde o fim do
ano. Em outras palavras, sua vida no Monte
Minobu foi muito difícil, tanto em relação a
seu sustento (alimentação e alojamento)
quanto à sua saúde.
O segundo é que também houve uma
mudança dramática nas circunstâncias de
Shijo Kingo. Em 1277, ele foi enganado por
Ryokan do templo Gokuraku-ji e por
outros, no Debate de Kuwagayatsu.3
Alguns de seus colegas samurais fizeram
falsas acusações contra ele para o lorde
dele, na tentativa de difamá-lo. O lorde
Ema, acreditando na denúncia, irritou-se, e
Shijo Kingo sentiu-se ameaçado pelo pior
destino para um samurai: a perda do feudo.
Mas, seguindo o conselho de Nichiren
Daishonin, Shijo Kingo continuou a servir
fielmente a seu lorde, assim, Ema não só
reconheceu sua sinceridade, mas ainda lhe
presenteou com três novos feudos.4
Porém, essa demonstração de
generosidade do lorde Ema estimulou a
inveja dos rivais de Shijo Kingo,
colocando-o em um perigo ainda maior do
que antes.
Foi nesse contexto que Shijo Kingo enviou
uma carta e oferecimentos de Kamakura
para Daishonin no Monte Minobu. Nichiren
Daishonin lista os oferecimentos que Shijo
Kingo enviou de sua propriedade na
província de Shinano (atual província de
Nagano). O General Tigre de Pedra é uma
resposta à sincera carta de Shijo Kingo.
No início de O General Tigre de Pedra,
antes da parte que vamos estudar,
Daishonin cita alguns dos oferecimentos —
Terceira Civilização - Edição 556 - 13/12/2014 - pág. 44 - Estudo
três mil moedas, arroz polido, bolinhos de
arroz, saquê, caquis desidratados, romãs e
outros. Observando que as roupas
protegem do frio e a comida sustenta a
vida, Daishonin escreveu: “Nenhum tesouro
possuído pelo homem é mais precioso que
alimentos, roupas e remédios” (END, v. III,
p. 215). Esta é uma expressão da gratidão
de Nichiren Daishonin a Shijo Kingo por
tantos oferecimentos enviados.
Daishonin sempre expressou sua mais
profunda gratidão a seus discípulos pelo
apoio, tratando com respeito os que se
esforçaram junto a ele na luta pelo
kosen-rufu. Esse era seu espírito. Com isso,
identificamos que responder à sinceridade
com sinceridade é o coração do
ensinamento humanista do Budismo de
Nichiren Daishonin.
Eu não estou tão saudável quanto os
outros,5 e, além disso, moro nesta remota
floresta na montanha [em Minobu]. Este
ano foi especialmente difícil, com
epidemias e fome durante a primavera e o
verão, que pioraram no outono e no
inverno. Minha doença também piorou
novamente, mas o senhor [Shijo Kingo] me
deu vários medicamentos e um manto
acolchoado. Graças a seus remédios, estou
em franca melhora; já estou recuperado e
me sinto muito melhor que antes. O
Tratado sobre os Estágios da Prática de
Ioga, do bodisatva Maitreya, e o Tratado
sobre Grande Perfeição da Sabedoria, do
bodisatva Nagarjuna, afirmam que, se uma
doença é causada pelo carma imutável,
mesmo um excelente remédio se tornará
veneno, mas que, se a pessoa acreditar no
Sutra do Lótus [Lei Mística], o veneno se
transformará em remédio. Embora indigno,
Ariadne Araújo Silva (160287-0) / pág. 4.

propago o Sutra do Lótus;
consequentemente, demônios celestiais
competem para me privar de alimento.
Compreendendo isso, não lamento, ao
contrário, acredito que sobrevivi desta vez
apenas porque o buda Shakyamuni veio
para me ajudar, penetrando no seu corpo.
(END, v. III, p. 215-216)
Superar com tranquilidade
‘os três obstáculos e as quatro
maldades’
Nesta parte, Nichiren Daishonin salienta
ainda mais sua profunda gratidão a seu
discípulo por ajudá-lo, dizendo que a ação
do Buda certamente foi ativada na vida de
Shijo Kingo, conforme a frase: “...acredito
que sobrevivi desta vez apenas porque o
buda Shakyamuni veio para me ajudar,
penetrando no seu corpo”. O contexto
dessa observação é que o kosen-rufu é
uma batalha constante entre o poder do
buda e as funções da maldade.
Na árdua luta de Daishonin pelo
kosen-rufu — vivendo em condições
adversas durante o exílio de dois anos e
meio na Ilha de Sado e, em seguida, sua
moradia em meio à floresta do Monte
Minobu — sua saúde ficou seriamente
comprometida. A partir do final de 1277,
uma doença se manifestou causando uma
diarreia crônica e debilitante. A doença se
agravou com a aproximação do verão na
primeira quinzena de junho de 1278, porém
o remédio enviado naquele momento por
Shijo Kingo [que também era um hábil
médico] ajudou a aliviar as dores de
Daishonin. Sua saúde melhorou a tal ponto
que pôde escrever a Shijo Kingo: “Minhas
Terceira Civilização - Edição 556 - 13/12/2014 - pág. 44 - Estudo
queixas têm diminuído de forma constante
e agora representam uma mínima fração
de sua intensidade anterior” (END, v. IV,
211).6
Alguns meses mais tarde, pouco antes de
Nichiren Daishonin escrever O General
Tigre de Pedra, Shijo Kingo o visitou no
Monte Minobu. Enquanto comunicava a
Daishonin sobre o aumento das
propriedades que possuía, Shijo Kingo
também estava, sem dúvida, preocupado
com a condição física do seu mestre dada
à aproximação do inverno. Daishonin
expressa sua gratidão pelo criterioso
cuidado de Shijo Kingo no tratamento de
sua doença, escrevendo: “Já estou
recuperado e me sinto muito melhor que
antes” (END, v. III, p. 215).
Embora estivesse lutando contra a doença
como mortal comum, Daishonin continuou
a dedicar todo o seu ser para encorajar
seus discípulos. Por meio de seu exemplo
pessoal de superação da doença, ele
demonstra o grande poder benéfico da fé
na Lei Mística, que pode “transformar
veneno em remédio”,7 e assim prolongar a
vida, que era considerada “carma
imutável”.8
Daishonin também afirma que sua
doen­ça é uma luta contra “demônios
celestiais”. Por estar empenhado na grande
luta para propagar a Lei Mística como um
devoto do Sutra do Lótus, ele afirma que
essas forças negativas disputam para
privá-lo de seu sustento e roubar-lhe a
vida.
“Os três obstáculos e as quatro
maldades”9 surgiram para atacá-lo por
Ariadne Araújo Silva (160287-0) / pág. 5.

causa de seus esforços pelo kosen-rufu,
exatamente como o sutra ensinou. E da
mesma forma, assim como o sutra ensinou,
por manter firme sua decisão de propagar
a Lei Mística, foi garantido que ele seria
protegido por todos os budas e divindades
— as forças celestiais benevolentes do
universo. “Compreendendo isso, não
lamento”, escreveu Daishonin,
ensinando-nos seu destemido espírito
diante de tais obstáculos.
A batalha entre os exércitos
do mal e do buda
Em um escrito posterior, A Prova do Sutra
do Lótus, Nichiren Daishonin orientou seu
jovem discípulo Nanjo Tokimitsu sobre a
luta contra a doença causada pelos
demônios celestiais: “Agora quando tudo
indica que alcançará o estado de buda,
talvez o demônio celestial e espíritos
malignos10 estejam usando a doença para
tentar intimidá-lo. A vida neste mundo é
limitada. Não tenha o mínimo receio!” (END,
v. I, p. 425).
“Não tenha o mínimo receio!”, diz
Daishonin, advertindo seu discípulo para
que não fosse derrotado por este
obstáculo. Ele explicou a Tokimitsu que a
doença é causada por demônios celestiais
que tentam impedi-lo de atingir o estado
de buda por meio de seus vigorosos
esforços pelo kosen-rufu.
Além disso, Daishonin repreende
veemen­­temente essas funções
negativas que estão atacando Tokimitsu,
dizendo: “E vocês, demônios, fazendo este
homem sofrer, estão tentando engolir uma
Terceira Civilização - Edição 556 - 13/12/2014 - pág. 44 - Estudo
espada pela ponta, ou abraçar um fogo
ardente, ou tornar-se o arqui-inimigo dos
budas das dez direções pelas três
existências?” (END, v. I, p. 425-426).
Ninguém pode evitar os sofrimentos de
nascimento, envelhecimento, doença e
morte. Mesmo quando praticamos o
Budismo de Nichiren Daishonin,
adoecemos e, finalmente, vamos morrer
um dia. Mas por meio de nossa prática
budista, podemos considerar a doença
como parte inerente da vida11 e
enfrentá-la deste ponto de vista mais
elevado. Daishonin é o exemplo para seus
discípulos por sua conduta imperturbável e
vitória sobre “os três obstáculos e as
quatro maldades”.
Toda Sensei declarou: “Com o poder da fé
no Gohonzon, venci as maldades da
doença e da morte, com os quais fui
forçado a lutar”. Ele incorpora o estado de
vida de um destemido rei leão, o que é
exemplificado pelas palavras: “Que doença
pode, portanto, ser um obstáculo?” (CEND,
v. I, p. 431).
Kosen-rufu é uma batalha entre o exército
do buda e os exércitos do mal que
permeiam o universo. A fé na Lei Mística
nos permite vencer as maldades da
doença e da morte. É por isso que
Daishonin descreve os cuidados médicos
que Shijo Kingo teve com ele — cujas
ações serviram para proteger o devoto do
Sutra do Lótus — como a ação do buda
Shakyamuni, e esclarece o princípio para
triunfar sobre todos os obstáculos e
maldades, infalivelmente.
Ariadne Araújo Silva (160287-0) / pág. 6.

Deixando tudo isso de lado. Estava
extremamente preocupado com sua volta
para casa da última vez, e estou muito feliz
em saber que chegou em segurança a
Kamakura. Tal era minha ansiedade que
perguntei sobre o senhor a todos de
Kamakura que vinham até aqui. Um deles
me disse tê-lo encontrado em Yumoto,
outro, adiante, em Kozu, e quando um
terceiro disse tê-lo visto em Kamakura, eu
me senti finalmente mais aliviado. A partir
de agora, não venha mais me visitar, a
menos que seja absolutamente necessário.
Quando tiver algo urgente para me dizer,
envie um mensageiro. De fato, fiquei
profundamente preocupado com sua
última viagem. Um inimigo tentará fazer
com que esqueça o perigo para então
atacar. Se tiver de viajar, não negocie o
preço de um cavalo. Certifique-se de que
escolheu um bom cavalo. Traga consigo
seus melhores homens para defendê-lo de
um ataque surpresa, e monte um cavalo
que possa facilmente levá-lo com sua
armadura. (END, v. III, p. 216)
A preocupação com o retorno de
Shijo Kingo a Kamakura
Nesta carta, Daishonin expressa sua
profunda preocupação com o retorno
seguro de Shijo Kingo a Kamakura.
Na época, a viagem de Minobu a
Kamakura levava de dois ou três dias a
cavalo. Daishonin estava muito
preocupado com a segurança de Shijo
Kingo por tantos dias. Sempre que alguém
chegava a Minobu vindo de Kamakura, ele
perguntava se havia encontrado Shijo
Kingo no caminho. As pessoas disseram
tê-lo visto em Yumoto e Kozu
Terceira Civilização - Edição 556 - 13/12/2014 - pág. 44 - Estudo
(respectivamente, localizados na atual
cidade de Hakone e Odawara, em
Kanagawa) e, finalmente, de volta a
Kamakura. Ouvindo isso, Daishonin
finalmente se tranquilizou a respeito da
segurança de Kingo e suspirou de alívio.
Que maravilhoso! Daishonin era um mestre
muito atencioso! Mas sua consideração
não cessou; ele continuou a instruir Shijo
Kingo a não fazer a perigosa viagem a
Minobu novamente, a menos que fosse
realmente necessário, e, caso tivesse algo
urgente para transmitir-lhe, que enviasse
um mensageiro.
Por que Daishonin estava tão preocupado?
Na viagem de Minobu a Kamakura, havia
uma trilha junto ao rio Fuji12 que cruzava
para o leste pela província de Suruga
(parte da atual província de Shizuoka),
atravessando as montanhas de Hakone. Na
província de Suruga havia muitos feudos
sob controle direto de membros do clã
Hojo, a maioria dos quais, como adeptos
das escolas budistas estabelecidas, eram
hostis em relação aos discípulos de
Nichiren Daishonin. E ainda, havia muitos
outros perigos em viajar pelo terreno
montanhoso. Daishonin não podia deixar
de se preocupar com a segurança do seu
discípulo.
Além disso, embora a atitude do lorde Ema
tivesse mudado radicalmente para melhor,
Shijo Kingo ainda tinha de se manter alerta
com os invejosos e ressentidos samurais,
que o caluniaram e aguardavam uma
oportunidade para acabar com ele.
Ariadne Araújo Silva (160287-0) / pág. 7.

É especialmente importante ter cuidado no
retorno de uma viagem: quando
concluímos um objetivo, estamos
propensos a ficar relaxado, e assim é mais
fácil sermos surpreendidos. Também é
provável que estejamos mais cansados do
que imaginamos. No caso de Shijo Kingo,
mesmo sendo um habilidoso samurai, um
ataque repentino de um inimigo naquele
momento poderia ser fatal.
Prudência é a chave da vitória
Daishonin observa: “Um inimigo tentará
fazer com que esqueça o perigo para
então atacar” (END, v. III, p. 216). Todos nós
devemos pôr estas palavras no coração.
Para atravessar uma enxurrada e atingir
um objetivo, deve-se exercer a máxima
cautela.
Ao final de nossas reuniões, incentivem
para que os membros fiquem alerta para
evitar acidentes de trânsito e lembrem-se
de que a reunião só terminará quando
todos chegarem em casa sãos e salvos. Ao
nos esforçarmos conscientemente para
tomar os devidos cuidados, evitamos ser
vítima da ação das funções da maldade.
Daishonin ainda deu conselhos a Shijo
Kingo sobre o tipo de cavalo que ele
deveria montar. Hoje, este conselho seria
sobre o meio de transporte — carro, moto,
bicicleta e assim por diante. Quando
estamos em atividades da SGI, viajando de
um lugar a outro, mesmo a pé, é preciso
ficar alerta.
Como membros da SGI, todos têm uma
nobre missão pelo kosen-rufu. Por favor,
não use atalhos, pois a segurança deve ser
Terceira Civilização - Edição 556 - 13/12/2014 - pág. 44 - Estudo
a prioridade, e sempre permaneça alerta
aos menores sinais de perigo ou incidente.
Conduza todas as atividades para um
seguro e bem-sucedido término. Mas, caso
alguém sofra um acidente, então, por
favor, incentive-o calorosamente.
Não importa quais dissabores encontrem,
ao manifestar a fé na Lei Mística, podemos
amenizar nosso efeito cármico13 e
transformar o veneno em remédio.
Naturalmente não ter acidentes é melhor.
Minha esposa e eu estamos sempre
orando sinceramente pela segurança e
pelo bem-estar de todos os nossos
membros. Cada um dos senhores é um
precioso discípulo do Buda, então
lembrem-se de alertar uns aos outros para
que tomem cuidado e comprometam-se a
manter as influências malignas fora do
caminho.
Nichiren Daishonin escreveu: “Fortaleça
sua fé dia após dia, mês após mês. Se
enfrequecer mesmo um pouco, demônios
aproveitar-se-ão” (END, v. I, p. 304). Oro
para que todos, sem exceção, esforcem-se
diligentemente na prática budista em
acordo com essa diretriz eterna, vencendo,
assim, as funções negativas e conduzindo
uma vida de grande vitória.
No oitavo volume de [grande mestre
Tiantai] Grande Concentração e
Discernimento e no oitavo volume da obra
[do grande mestre Miaole] Anotações
sobre “Grande Concentração e
Discernimento”, diz, “quanto mais forte a fé
da pessoa, maior a proteção dos deuses”.
Isso significa que a proteção dos deuses
depende da força da fé da pessoa.
Ariadne Araújo Silva (160287-0) / pág. 8.

O Sutra do Lótus é uma excelente espada,
mas seu poder depende de quem a
empunha. (END, v. III, p. 216)
A importância da forte fé
As divindades celestiais certamente
protegerão os devotos do Sutra do Lótus,
que mantêm e propagam o sutra nos
Últimos Dias da Lei. Os budas e bodisatvas
prezarão tais pessoas, e as divindades do
Sol e da Lua iluminarão todo o seu
caminho.
Mas é a fé de cada indivíduo que ativa
essas funções protetoras do universo.
Nossas orações dependem do nosso
sincero esforço e determinação. Este é o
ensinamento transmitido nas palavras do
grande mestre Miaole, “quanto mais forte a
fé da pessoa, maior a proteção dos
deuses” (END, v. III, p. 216). Forte fé — forte
determinação — é a chave para a vitória. O
poder que advém da espada do Sutra do
Lótus depende da fé da pessoa que a
empunha.
Daishonin incentivou Shijo Kingo repetidas
vezes a agir e viver como uma pessoa de
sabedoria. Ele se preocupava com a vitória
de Kingo, então lhe aconselhava
detalhadamente sobre o que tinha de
observar em sua vida diária, bem como sua
atitude com seu lorde e sua maneira de
interagir com os outros ao seu redor.
De certa forma, nosso objetivo como
praticantes do Budismo de Nichiren
Daishonin é edificar e viver uma vida em
que nada poderá nos derrotar. A fé na Lei
Mística nos permite estabelecer um estado
Terceira Civilização - Edição 556 - 13/12/2014 - pág. 44 - Estudo
de vida de absoluta vitória — vitória em
uma dimensão mais profunda do que
vitórias relativas e derrotas que vivemos
em nosso cotidiano. Com o constante
esforço na prática budista, cultivando uma
força interior dia após dia,
desenvolveremos a poderosa convicção
da fé que nos permite desafiar qualquer
dificuldade quando os ventos do carma
soprarem, ou quando surgirem “os três
obstáculos e as quatro maldades”.
“Tesouro do coração” é algo que
acumulamos lentamente ao longo do
tempo. Nossos esforços constantes para
polir a vida e fortalecer a fé e a
determinação são os meios pelos quais
construímos um inabalável estado de vida
tal como afirma “onde os seres vivos vivem
felizes e tranquilos” (cf. LSOC, cap. 16, p.
272 [LS, cap. 16, p. 230]).
A fé reside na contínua revolução humana.
O objetivo da prática budista é atingir
nosso pleno potencial como ser humano. É
por isso que Daishonin incentivou seu
querido discípulo Shijo Kingo a viver como
uma pessoa de “sabedoria da Lei Mística” e
ser um modelo para outros discípulos.
Além disso, ele o instruiu a superar os
problemas por meio da prática budista.
Em O General Tigre de Pedra, Daishonin
aconselhou Kingo sobre a segurança do
seu futuro, e enfatizou que fortalecer a fé e
fortalecer a determinação são de vital
importância. Assim como Daishonin
escreveu, a proteção das divindades
celestiais “depende da força da fé da
pessoa” (END, v. III, p. 216).
‘O que importa é o coração’
Ariadne Araújo Silva (160287-0) / pág. 9.

Como Daishonin ensina: “O que importa é o
coração”. Não é exagero dizer que a vitória
ou a derrota na vida depende se seu
coração, sua determinação, é firme e forte.
Citando indivíduos de forte determinação,
dialoguei com Aurelio Peccei (1908–1984),
o cofundador e primeiro presidente do
grupo global de pensamento Clube de
Roma. Por trás do caloroso sorriso do Dr.
Peccei havia um homem de indomável
convicção.
O Dr. Peccei foi um herói da resistência
antifascista italiana. Foi preso pela milícia
fascista em fevereiro de 1944 e passou
quase um ano atrás das grades. Isso
aconteceu, naturalmente, durante a
Segunda Guerra Mundial, ao mesmo
tempo em que o primeiro e o segundo
presidentes da Soka Gakkai, Tsunesaburo
Makiguchi e Josei Toda, foram presos no
Japão. O Dr. Peccei foi submetido a um
violento interrogatório, mas resistiu.
Aurelio Peccei disse que sua experiência
na prisão lhe ensinou tanto sobre a
fraqueza quanto a força dos seres
humanos. Ele testemunhou indivíduos
arrogantes e presunçosos que, ao primeiro
sinal de pressão, cederam covardemente
às autoridades. Ao mesmo tempo, outros,
que poderiam não impressionar na vida
comum, sob implacável perseguição
revelaram-se verdadeiros heróis que se
recusaram a trair seus companheiros.
O Dr. Peccei escreveu: “Foi, talvez, a partir
das experiências daquele período [de
cativeiro] que comecei a me convencer de
que há dentro de cada um uma grande
Terceira Civilização - Edição 556 - 13/12/2014 - pág. 44 - Estudo
força para o bem”.14 Sua visão ressoa
próxima aos ensinamentos do budismo.
Possuímos uma “grande força para o bem”
dentro de nós que não pode ser derrotada
por qualquer forma de opressão ou
perseguição. Essa indomável “forte
determinação” só aparece quando
encontramos diretamente as dificuldades.
Como diz o ditado, “a adversidade faz do
homem um sábio”.
Em seus últimos anos, o Dr. Peccei
também chegou à conclusão de que a
revolução humana era vital. Ele declarou:
“A partir de agora, tudo depende do
comportamento [do homem moderno] e
suas decisões; é ele quem,
inadvertidamente ou conscientemente,
moldará o destino individual e coletivo, e
até mesmo o destino de sua espécie”.15
Ele também disse: “Tenho fé no homem —
e acredito na revolução humana”.16
Entre aqueles que propagam este sutra
[do Lótus] nos Últimos Dias da Lei, quem
poderia se comparar a Shariputra,
Mahakashyapa, Percebedor dos Sons do
Mundo, Som Místico, Manjushri e Rei dos
Remédios? Pessoas dos dois veículos
[como Shariputra] eliminaram todas as
ilusões dos pensamentos e desejos,
libertando-se, assim, dos seis caminhos.
Bodisatvas [como Percebedor dos Sons do
Mundo] erradicaram quarenta e um dos
quarenta e dois níveis de ignorância, como
a Lua na décima quarta noite antes de se
tornar cheia. No entanto, o buda
Shakyamuni se recusou a confiar a missão
da propagação a qualquer uma dessas
pessoas e, em vez disso, legou-a aos
bodisatvas da terra. Portanto, esses
bodisatvas são os únicos que foram
Ariadne Araújo Silva (160287-0) / pág. 10.

completamente forjados [como o metal]
em sua determinação.
No passado, o poderoso guerreiro general
Li Guang, da China, cuja mãe fora devorada
por um tigre, atirou uma flecha contra uma
pedra, que ele acreditava ser um tigre. A
flecha inteira fincou na pedra até suas
penas. Mas quando percebeu que era
apenas uma pedra, não conseguia
perfurá-la novamente. Mais tarde, ele
passou a ser conhecido como General
Tigre de Pedra. Essa história se aplica ao
senhor. Ainda que os inimigos fiquem à
espreita esperando pelo senhor, sua
resoluta fé no Sutra do Lótus previne
grandes perigos antes mesmo que
aconteçam. Ciente disso, fortaleça a sua fé
mais do que nunca. É impossível dizer tudo
o que desejo em uma carta.
Com meu profundo respeito,
Nichiren
(END, v. III, p. 215-217)
Bodisatvas da terra — distinguem-se
por sua firme determinação
Neste trecho, Daishonin indaga a quem foi
confiada a propagação do Sutra do Lótus
nos Últimos Dias da Lei.
Shariputra e Mahakashyapa são discípulos
diretos de Shakyamuni e representantes
dos praticantes dos dois veículos.
Percebedor dos Sons do Mundo, Som
Místico, Manjushri e Rei dos Remédios são
bodisatvas que se reuniram para a
pregação do Sutra do Lótus. Os dois
discípulos do Buda e os bodisatvas têm
referências extremamente
Terceira Civilização - Edição 556 - 13/12/2014 - pág. 44 - Estudo
impressionantes.
No entanto, Shakyamuni não os confiou à
difícil tarefa de propagar o Sutra do Lótus
nos Últimos Dias da Lei; em vez disso,
legou-a aos bodisatvas da terra. Daishonin
descreve os bodisatvas da terra como “os
únicos que foram completamente forjados
[como o metal] em sua determinação”
(END, v. III, p. 216). Como o Sutra do Lótus
ensina, perseguições e dificuldades são
inevitáveis na propagação do sutra nos
Últimos Dias da Lei: “Como o ódio e a
inveja por este sutra proliferam mesmo
quando Aquele que Assim Chega vive
neste mundo, quão piores serão depois de
sua morte!” (LSOC, cap. 10, p. 203).
Daishonin repetiu esta passagem muitas
vezes, e aplicou-a na própria vida. Qual é a
qualidade necessária para ser capaz de
realizar a mais difícil tarefa? Forjar (como o
metal) a determinação.
O significado de “forjar” é aquecer e
moldar repetidamente o metal até que ele
seja fortalecido. Em outra carta enviada a
Shijo Kingo, Daishonin ilustra esse ponto:
“O ferro não temperado derrete-se
facilmente no fogo abrasador (...). Mas a
espada, mesmo quando exposta a um
grande fogo, resiste ao calor durante certo
tempo porque é bem forjada” (END, v. II, p.
272).
Profunda determinação transforma o
impossível em possível
No final desta carta, Nichiren Daishonin
incentiva Shijo Kingo, que era um membro
da classe guerreira de Kamakura, com um
conto sobre como o velho general chinês
Li Guang recebeu o nome de General Tigre
Ariadne Araújo Silva (160287-0) / pág. 11.

de Pedra.
A mãe do General Li Guang foi morta por
um tigre. Um dia, Li Guang, excelente
arqueiro, avistou o tigre agachado em uma
moita. Acreditando ser o tigre que matou
sua mãe, e determinado a vingar sua
morte, atirou uma flecha contra o tigre,
acertando seu alvo. Presumindo ter
matado o tigre, correu até ele e descobriu
que se tratava de uma pedra que tinha o
formato de tigre. Mesmo assim, sua flecha
cravara a pedra até as penas. Embora
tentasse reproduzir esse feito, nunca
conseguiu.
Por meio desse famoso conto, Daishonin
ensinou Shijo Kingo a importância de
basear-se na forte e indestrutível fé, que
moveria as divindades celestiais para
protegê-lo. Daishonin encorajou Kingo:
“Ainda que os inimigos fiquem à espreita
esperando pelo senhor, sua resoluta fé no
Sutra do Lótus previne grandes perigos
antes mesmo que aconteçam. Ciente
disso, fortaleça a sua fé mais do que
nunca” (END, v. III, p. 217).
Um ano depois de receber este incentivo
de Nichiren Daishonin, no 10º mês de 1279,
ocorreu um atentado contra a vida de Shijo
Kingo durante uma emboscada,
forçando-o a lutar com colegas samurais
que se tornaram seus inimigos. Felizmente,
ele escapou dos agressores. Ao receber
um relatório sobre sua salvação, Daishonin
elogiou a fé de Kingo, dizendo [em A
Estratégia do Sutra do Lótus]: “É motivo de
alegria ver que sua prudência e coragem
costumeiras, bem como sua firme fé no
Sutra do Lótus, possibilitaram-no sair ileso”
(WND, v. 1, p. 1000). Também escreveu
Terceira Civilização - Edição 556 - 13/12/2014 - pág. 44 - Estudo
estas palavras que são uma diretriz eterna
para os que praticam seus ensinamentos:
“Empregue a estratégia do Sutra de Lótus
antes de qualquer outra” (Ibidem, p. 1001).
A alegria e o alívio de Daishonin pela
segurança do discípulo são evidentes. A
vitória de Shijo Kingo foi a vitória da fé —
por sua sincera dedicação pelo kosen-rufu
com o mesmo espírito de Daishonin,
pondo seus ensinamentos fielmente em
prática. Foi também uma vitória da
revolução humana.
Século da vitória do povo e século da
revolução humana
Em 3 de julho de 1957, uma integrante da
Divisão Feminina do Distrito Bunkyo, em
Tóquio, chamou-me enquanto eu
embarcava para Osaka no Aeroporto de
Haneda. Ela me pediu que deixasse uma
mensagem aos associados. Respondi sem
hesitar: “Chegou o alvorecer do Japão! Por
favor, transmita essa mensagem a todos os
membros!”. A eterna luz da revolução
humana é encontrada ao se travar uma
grande luta espiritual num momento de
desafios sem precedentes, dissipando as
trevas do medo e dúvida e iluminando
tudo com a benevolente luz do sol de
absoluta confiança e tranquilidade. Isto é
manter a chama da coragem e esperança
viva em seu coração, até mesmo em meio
à adversidade mais angustiante.
Durante duas semanas, a partir daquele
dia, travei uma luta incessante enquanto
estava preso por falsas acusações. Embora
fosse um jovem comum, lapidei minha
força interior e coragem e então minha
vida tornou-se tão forte quanto uma
Ariadne Araújo Silva (160287-0) / pág. 12.
 Terceira Civilização - Edição 556 - 13/12/2014 - pág. 44 - Estudo

próprio como bodisatva Práticas Superiores, o líder dos bodisatvas da terra. No capítulo,
poderosa espada. “Reunindo a coragem de
incontáveis bodisatvas de outros mundos pedem permissão para propagar o sutra no
um rei leão” (cf. END, v. I, p. 303), mundo saha após a morte do Buda, mas Shakyamuni recusa, dizendo que os bodisatvas

levantei-me em prol do que era certo. Em que realizarão essa tarefa já existem no mundo saha. Nesse ponto, a terra treme e se

17 de julho, quando fui libertado da prisão, abre, e de dentro dela sai uma série de bodisatvas iguais em número às areias de 60 mil

rios Ganges, cada um com seu próprio séquito de seguidores. No capítulo 21, “Os Poderes
ocorreu o Protesto de Osaka17 no Centro
Sobrenaturais”, Shakyamuni transmite a essência do Sutra do Lótus a esses bodisatvas,
Cívico de Nakanoshima, sob chuva os bodisatvas da terra, liderados pelo bodisatva Práticas Superiores, confiando-lhes a

torrencial. Todos nós reunidos naquela missão da propagação nos Últimos Dias da Lei.

noite garantimos com resplandescente 2. Três venenos: Avareza, ira e estupidez; males fundamentais inerentes à vida, que

originam o sofrimento humano. No Tratado sobre a Grande Perfeição da Sabedoria, de

determinação que a justiça prevaleceria.
Nagarjuna, os “três venenos” são considerados a fonte de todas as ilusões e desejos

mundanos. São assim chamados porque poluem a vida das pessoas e trabalham para

Estou certo de que aquele evento marcou impedir a bondade do coração e da mente delas.

o início de uma era do povo — uma época 3. Debate de Kuwagayatsu: Debate realizado em Kuwagayatsu, Kamakura, em 1277,

em que venceremos a escuridão entre um discípulo de Nichiren Daishonin, Sammi-bo, e um sacerdote chamado

Ryuzo-bo, que estava sob proteção de Ryokan, do templo Gokuraku-ji. Ryuzo-bo foi
fundamental ou ignorância, fonte da completamente derrotado por Sammi-bo. Shijo Kingo apenas participou do debate como

infelicidade e desgraça, derrotando todas observador, e não pronunciou sequer uma palavra. No entanto, foi dito ao lorde Ema que

as formas de natureza maligna que Shijo Kingo interrompeu o debate com muitos aliados com armas em punho e

causam danos e sofrimento, e com nossa interrompeu os procedimentos.

4. Daishonin escreve: “O senhor conta que seus novos domínios ocupam uma área três
voz entoar a canção do triunfo. Estes vezes maior do que Tono’oka [na província de Shinano]. Há um homem da província de

esforços representam uma fórmula Sado que se encontra aqui e que conhece totalmente essa área. Ele diz que, das três

imutável. vilas, a chamada Ikada é a melhor. Embora os campos e arrozais sejam poucos, os

lucros são imensos. Dois dos feudos rendem cada um, anualmente, uma colheita

equivalente a mil kan, e o terceiro, trezentos kan. Ele disse que esses são os méritos de
Nossos corajosos esforços como membros
suas propriedades” (END, v. VI, p. 253).
da SGI para fazer do século 21 o século da 5. O texto original em japonês pode ser traduzido literalmente como “Minha situação é

vitória do povo e o século da revolução diferente dos outros”. Há opiniões divergentes sobre qual situação ele se refere. Um

humana serão cada vez mais importantes. entendimento é que ele se refere a seus problemas de saúde, enquanto a outra visão é

de que ele esteja se referindo ao fato de ser considerado uma influência perigosa e

perturbadora pelas autoridades do governo na época.

Neste conturbado mundo dominado pelos 6. Em Os Dois Tipos de Doença, Daishonin escreve: “Eu tive diarreia no trigésimo dia do

“três venenos”, temos de agir com décimo segundo mês do ano passado [de 1277], e até o terceiro ou quarto dia do sexto

coragem, sabedoria e compaixão, mês deste ano [de 1278], tornou-se mais frequente a cada dia e mais severa a cada mês.

Justamente quando estava pensando que devia ser meu carma imutável [ou
empunhando a poderosa espada da fé na
determinado], o senhor me enviou um excelente remédio. Desde que comecei a tomá-lo,
Lei Mística. Vamos avançar minhas queixas têm diminuído de forma constante e agora representam uma mínima

imponentemente com a destemida fração de sua intensidade anterior. Pergunto-me se o buda Shakyamuni entrou em seu

confiança e orgulho de um bodisatva da corpo para me ajudar, ou talvez os bodisatvas da terra tenham me concedido o bom

remédio do Myoho-renge-kyo” (END, v. IV, p. 210-211). E em Resposta a Hyoe no Sakan,

terra, estabelecendo firmemente o espírito
relata: “O remédio que Saemon [Shijo Kingo] enviou-me curou minha diarreia” (WND, v. 2,
da revolução humana em nossa vida. p. 754).

7. “Transformação do veneno em remédio”: Princípio de que desejos mundanos e

(Daibyakurenge, edição sofrimento são transformados em benefício e iluminação pelo poder da Lei Mística. Essa

frase é encontrada no Tratado sobre a Grande Perfeição da Sabedoria, de Nagarjuna,

que menciona “um grande médico que pode transformar o veneno em remédio”. Essa
de julho de 2012.)
frase é frequentemente citada para mostrar que qualquer problema ou sofrimento pode

ser transformado na maior felicidade e realização na vida.

1. Bodisatvas da terra: Referência aos inumeráveis bodisatvas descritos no capítulo 15 do
8. Carma imutável: Também conhecido como carma determinado. Trata-se do oposto do
Sutra do Lótus, “Emergindo da Terra”, aos quais Shakyamuni confia a tarefa de propagar
carma mutável. Carma que inevitavelmente produz um resultado fixo ou definido, seja
a Lei após a morte dele. Em vários de seus escritos, Nichiren Daishonin identifica a si
negativo ou positivo. Carma imutável também pode ser interpretado como carma cujos

Ariadne Araújo Silva (160287-0) / pág. 13.

 Terceira Civilização - Edição 556 - 13/12/2014 - pág. 44 - Estudo

efeitos estão destinados a aparecer em um tempo definido. Considerava-se que a

extensão da vida era determinada como efeito do carma.

9. “Três obstáculos e quatro maldades”: Vários obstáculos e adversidades que tentam

impedir a prática budista. Os “três obstáculos” são: 1) obstáculo dos desejos mundanos;

2) obstáculo do carma, que pode se manifestar na forma de oposição do cônjuge ou dos

filhos; e 3) obstáculo da retribuição, também interpretado como obstáculos causados

pelas pessoas às quais o praticante deve obediência, como governantes e pais. As

“quatro maldades” são: 1) maldade dos cinco componentes; 2) maldade dos desejos

mundanos; 3) maldade da morte; e 4) maldade celestial.

10. A palavra que expressa “espíritos malignos” na passagem original em japonês é gedo,

que literalmente significa “fora do caminho” e geralmente indica hereges e não budistas.

Aqui, a expressão significa algo ou alguém que provoca desastres. Daí a expressão

“espíritos malignos”.

11. No Registro dos Ensinamentos Transmitidos Oralmente, Daishonin diz: “Se olharmos

com os olhos da sabedoria, que foram abertos pelo 16º capítulo do ensinamento

essencial [do Sutra do Lótus], “Extensão da Vida”, nós nos tornaremos iluminados para a

verdade de que a doença, a dor e o sofrimento são, e sempre foram, parte inata da vida.

Essa é a sabedoria do buda de ilimitada alegria” (OTT, p. 174).

12. Um rio a oeste do Monte Fuji que flui para o sul da Baía de Suruga.

13. “Amenizar o efeito cármico”: Essa expressão, que literalmente significa “transformar o

pesado e recebê-lo de modo leve”, aparece no Sutra do Nirvana. “Pesado” indica o

carma negativo acumulado ao longo de incontáveis vidas passadas. Como benefício de

proteger o ensinamento correto do budismo, experimentamos relativamente o efeito

cármico de forma leve nesta vida, expiando assim o carma pesado que normalmente

nos afetaria negativamente não só nesta vida, mas ao longo de muitas vidas.

17. Protesto de Osaka: Manifestação da Soka Gakkai em protesto pela detenção injusta

do presidente Ikeda, então líder da Secretaria da Divisão dos Jovens da Soka Gakkai,

pela promotoria de Osaka relacionado ao Incidente de Osaka. O protesto aconteceu no

Centro Cívico de Nakanoshima, em Osaka, em 17 de julho de 1957, dia da libertação do

presidente Ikeda após duas semanas de interrogatório das autoridades.

Ariadne Araújo Silva (160287-0) / pág. 14.