Brasil Seikyo - Edição 2373 - 27/05/2017 - pág.
E2eE3 - Caderno Reunião de Palestra
Brasil Seikyo - Caderno Reunião de Palestra
As Barragens da Fé
Gosho a ser estudado na reunião de palestra de
junho - Com base na matéria publicada na
revista Terceira Civilização, ed. 566, out. 2015
Frase 1 do escrito
“Deve fazer agora um grande juramento e
orar por sua próxima existência. Se a
senhora desacreditar ou caluniar o
ensinamento correto, o mínimo que seja,
certamente cairá na grande cidadela do
inferno de incessantes sofrimentos.”
(CEND, v. I, p. 654)
Cenário Histórico:
Esta carta foi escrita no Monte Minobu no
nono mês de 1275 e enviada para a monja
leiga Sennichi.1 Ela e seu marido
Abutsu-bo, já idosos, moravam na Ilha de
Sado e haviam se convertido aos
ensinamentos de Nichiren Daishonin
durante o exílio nesse local (1271 a 1274).
A carta As Barragens da Fé é a resposta de
Nichiren Daishonin a uma pergunta de
Sennichi sobre as consequências dos atos
de calúnia contra o Sutra do Lótus e se
elas variavam conforme a gravidade. É
possível supor que ao fazer esta pergunta
ela não estivesse apresentando apenas as
próprias dúvidas, mas também falava
pelos discípulos de Sado em geral, que
enfrentavam diversos problemas e ainda
tinham dúvidas se seriam capazes de
atingir o estado de buda. Em resposta,
Daishonin afirma que o Sutra do Lótus foi
exposto para conduzir todos à iluminação,
mas adverte: “Mesmo as calúnias leves
podem conduzir às graves; nesse caso, os
efeitos que a pessoa sofreria seriam muito
piores”. Daishonin elogia a monja leiga
Sennichi por ter formulado uma pergunta
sobre as calúnias contra o ensinamento
correto. No trecho final da carta, Nichiren
Daishonin aborda ainda a importância do
juramento no budismo.
Juramento é a expressão da mais
pura e sincera fé
Este trecho é a conclusão desta
importante escritura, em que Nichiren
Daishonin oferece uma calorosa e
renovadora orientação à sua querida
discípula. Ele encoraja Sennichi a fazer um
profundo juramento e orar por sua próxima
existência. Contudo, o termo “próxima
existência” não se refere a “outra vida”, mas
significa que a sincera fé no Gohonzon nos
permite despertar para a eternidade da
nossa vida e produz benefícios que
transcendem o nascimento e a morte.
No budismo, o juramento é a expressão
mais profunda da fé. É a decisão de viver
de acordo com os ensinamentos do Buda
e conduzir todas as pessoas a esse modo
de vida, desfrutando a mais plena
liberdade e felicidade. É quando nos
levantamos decididamente e rompemos
todas as amarras e tendências negativas
de nossa vida. Ter um juramento é ser
forte, é ter compaixão e agir pela felicidade
Pedro de Oliveira e Silva (797677-1) / pág. 1.
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das pessoas tanto quanto por nossa
própria. O juramento é a força que rompe o
carma e produz a profunda transformação
da vida.
Em vários escritos, Daishonin ressalta a
importância de cada discípulo estabelecer
em seu coração o juramento seigan.2
Na explanação, o presidente Ikeda
esclarece que, para muitos dos discípulos
de Nichiren Daishonin daquele período,
juramento significava a decisão de atingir o
estado de buda nesta existência. Isso
porque, para a maioria das correntes
budistas da época, o estado de buda era
algo inatingível para o ser humano comum,
mas não para o Sutra do Lótus. Ao mesmo
tempo, em vários escritos, o Buda
descreve o grande juramento como se
tratando não apenas de atingir a própria
iluminação, mas também da propagação
do Sutra do Lótus e permitindo assim que
os outros atinjam a iluminação. Em
Registro dos Ensinamentos Transmitidos
Oralmente [Ongi Kuden], Nichiren
Daishonin afirma: “O ‘grande juramento’ se
refere à propagação do Sutra do Lótus
[Nam-myoho-renge-kyo]” (OTT, p. 82).
Frase 2 do escrito
Imagine um barco navegando em alto-mar.
Mesmo que o barco seja de construção
sólida, se uma fenda se abrir e a água
começar a infiltrar nele, todos os que estão
a bordo naufragarão juntos. Apesar de a
barragem entre os campos de arroz ser
resistente, se uma formiga cava um orifício
de um lado a outro, com o tempo, a água
escoará e esvaziará o arrozal. Tire do barco
de sua vida a água salgada da calúnia e da
descrença, e solidifique as barragens de
sua fé.” (CEND, v. I, p. 654)
Fortalecer a fé para vencer a calúnia
Na sequência, Nichiren Daishonin incentiva
Sennichi a respeito da calúnia,
encorajando-a a cultivar uma fé pura.
O Sutra do Lótus foi exposto com o
propósito de despertar todas as pessoas­
para a verdade existente dentro de si, ou
seja, o estado de buda. Por isso, Daishonin
afirma que, aqueles que têm fé neste
sutra, cuja essência foi revelada na forma
do Gohonzon das “três grandes leis
secretas”,3 atingirão a iluminação
infalivelmente, mas aqueles que o
caluniam cairão em sofrimento.
A iluminação nada mais é que perceber
que a vida, em sua essência, é entidade da
Lei Mística.4 É compreender que somos
budas desde o início.
A calúnia não significa depreciar ou
denegrir algo que existe fora da nossa
vida, tampouco está relacionado apenas a
crenças em outros ensinamentos.
Essencialmente, a calúnia vem da
escuridão fundamental. “A escuridão ou
ignorância fundamental constitui o tipo
mais básico de ilusão ou negatividade — a
incapacidade de acreditar que a natureza
de buda é inerente à nossa vida. Equivale
essencialmente a não ser capaz de
acreditar na própria dignidade. Se não
conseguirmos acreditar em nossa própria
natureza de buda, também não seremos
capazes de acreditar na natureza de buda
dos outros” (BS, ed. 2.370, abr. 2017, p. B4).
Eis a razão de a calúnia causar graves
Pedro de Oliveira e Silva (797677-1) / pág. 2.
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consequências. Neste trecho, Daishonin diz da calúnia” e a fortalecer “as barragens de

que a calúnia, por mínima que seja, pode sua fé” por meio de um forte juramento e
causar um grande sofrimento. sincera fé.

Notas:
A única forma de combater a calúnia que
1. Monja leiga Sennichi: Esposa de Abutsu-bo e discípula de Nichiren Daishonin. Seu
existe em nosso coração é fortalecer nossa marido e ela viviam na Ilha de Sado. Suas origens não são claras. A explicação mais

fé ao máximo. provável diz que ela era nativa da ilha. Enquanto Nichiren Daishonin estava exilado na

Ilha de Sado, no final de 1271, o marido dela, Abutsu-bo, e ela se converteram ao seu

Sobre a importância de fortalecer a fé, o ensinamento. O casal visitava Daishonin com frequência em sua pequena moradia, em

Tsukahara, na ilha e lhe fornecia comida, materiais de escrita, e outras necessidades.

buda Nichiren Daishonin usa o exemplo de Seu apoio continuou por mais de dois anos, até o seu perdão em 1274. Depois de

um grande barco navegando no oceano. Daishonin se mudar para o Monte Minobu, a monja leiga Sennichi pediu que seu marido

Por mais que o barco seja sólido, se houver fosse visitá-lo e levasse oferecimentos em três ou mais ocasiões. 2. Seigan: A palavra

uma única fenda, ainda que mínima, será japonesa seigan (juramento) refere-se ao termo sânscrito pranidhana e significa manter

algo intocado, imutável diante dos olhos. Segundo a interpretação de estudiosos

suficiente para a água entrar e o navio budistas, isso corresponde a “estabelecer firmemente um ideal e avançar para

afundará com todos. Menciona ainda o concretizá-lo por meio de uma inabalável determinação”. O valor de um juramento não

exemplo das barragens de arroz, que está na beleza das palavras ou no ar solene do pronunciamento, mas sim no ato de

servem para reter a água necessária para o mantê-lo para sempre. (Terceira Civilização, ed. 490, jun. 2009, p. 38). 3. “Três grandes leis

secretas”: Princípio essencial do Budismo de Nichiren Daishonin: 1) o objeto de devoção; 2)

cultivo desse grão. Se houver um único a recitação ou o daimoku de Nam-myoho-renge-kyo; e 3) o santuário ou local onde se

orifício, mesmo que cavado por uma recita o daimoku diante do objeto de devoção. Essas leis são chamadas de secretas por

minúscula formiga, será o suficiente para estarem implícitas no texto do capítulo 16 do Sutra do Lótus, “A Extensão da Vida”, e

escoar a água e esvaziar o arrozal. assim permanecerem até Nichiren Daishonin revelá-las (CEND, v. I, p. 1018). 4. Lei Mística :

Também “Lei Maravilhosa”. [1] Os ensinamentos do Sutra do Lótus. [2] A essência deste

sutra, ou a Lei Mística, a Lei Fundamental da vida e do Universo, identificada por Nichiren
Daishonin usa esses exemplos do Daishonin como Nam-myoho-renge-kyo (CEND, v. I, p. 953).

cotidiano para ilustrar de forma muito clara

a importância de combater a calúnia, ainda
que aparentemente mínima. Em sua
explanação, o presidente Ikeda cita: “O
foco é que o menor buraco em um navio
aparentemente resistente ou em uma
barragem pode levar a sua destruição
definitiva. No budismo, o ‘buraco’ da
dúvida ou da descrença é invisível. Isso é o
que o torna tão perigoso. Essa é também a
razão pela qual devemos estar em
constante alerta contra essa dúvida. É vital
nos mantermos firmes em nossa fé
enquanto vivermos, sem nos importar o
que aconteça” (Terceira Civilização, ed.
566, out. 2015, p. 60-61).

Nichiren Daishonin incentiva também sua

discípula a tirar de sua vida a “água salgada

Pedro de Oliveira e Silva (797677-1) / pág. 3.