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A MEDITAÇÃO EM BIOSSÍNTESE E SUAS

CONTRIBUIÇÕES PARA A AUTOREGULAÇÃO


DO CORPO E DAS EMOÇÕES

Denise de Meneses Maranhão¹

Resumo:
A cada momento surgem novas comprovações da eficiência da meditação e de como
essa prática traz efeitos ligados a diminuição da ansiedade, estresse proporcionando um
estado maior de presença e aumento da sensação de bem estar físico, mental emocional
e espiritual, ampliando e complementando no tratamento de pessoas com esses
sintomas. Dessa forma pretende-se nessa análise, através de revisão de literatura, trazer
os benefícios e interações entre o corpo e as práticas de meditação junto a biossíntese.
Como ponto de partida adota-se para uma melhor compreensão o ponto de vista
proposto por Boadella e pesquisas já realizadas com a meditação.

Palavra-chave: Meditação, Biossíntese, autoregulação e grounding

Introdução

É objetivo desse estudo analisar pesquisas em cima de revisões de literatura


sobre o tema proposto. São recursos que a cada momento de aproximam como auxilio
no momento da psicoterapia corporal, no sentindo de complementar no tratamento de
pessoas que precisam de mais presença e autorregulação.

A Meditação

A princípio será apresentada a meditação e seus caminhos de auxílio para tal.


Pode-se definir meditação como uma prática que engloba um conjunto de técnicas que
buscam treinar a focalização da atenção (Shapiro, 1981).
___________________________
Psicóloga – UNIFSA (2007); Pós-graduação em Gestão de Recursos Humanos – Uninter; Pós graduanda
em Psicoterapia Corporal pela Faculdade CENSUPEG. E-mail: navedenisemaranhao@gmail.com

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Por essa razão, pode ser chamada de processo autorregulatório da atenção, em
que através da prática é desenvolvido o controle dos processos atencionais (Davidson &
Goleman, 1977; Goleman & Schwartz, 1976). Nesse caso, a meditação pode ser
caracterizada como uma prática que atinge objetivos semelhantes a algumas técnicas da
psicoterapia corporal. Ambas levam à diminuição do fluxo de pensamento repetitivo e à
levar um estado de presença corporal, desenvolvendo habilidades para lidar com as
emoções de maneira mais consciente. A diferença, contudo, é que, na prática da
meditação, os conteúdos que emergem à consciência não devem ser confrontados ou
elaborados intencionalmente, apenas observados, de forma que a prática se transforme
em um aprendizado de como não deixar influenciar-se pelos mesmos e compreendê-los
como fluxos mentais (Bishop et al., 2004; Miller, Fletcher, & Kabat-Zinn, 1995;
Vandenbergue & Sousa, 2006).
A meditação tem sua origem nas tradições orientais, estando especialmente
relacionada às filosofias do yoga e do budismo (Levine, 2000). Contudo, esse termo
também é utilizado para designar algumas práticas cultivadas por certas religiões, como
o cristianismo, o judaísmo, o islamismo, o taoísmo e o xamanismo, entre outras, através
do deslocamento da consciência do mundo externo para o interno (Naranjo, 2005). Com
relação às investigações científicas, embora conste que desde 1936 o potencial da
meditação vem sendo discutido (Smith, 1975), apenas por volta da década de 60 a
meditação começou a ser objeto de estudos mais rigorosos (Goleman, 1988; Shapiro,
1981). Enquanto no Oriente meditar é sinônimo de busca pela espiritualidade, no
Ocidente, em especial nas pesquisas científicas, a palavra meditação tem sido utilizada
para descrever práticas autorregulatórias do corpo e da mente. A investigação científica
da meditação parte da premissa que, embora existam diversas técnicas, todas têm uma
característica fundamental comum: o controle da atenção (Cahn & Polich, 2006;
Goleman, 1988).
A meditação, caracterizada como o treino da atenção plena à consciência do
momento presente, tem sido associada a um maior bem-estar físico, mental e emocional
(Shapiro, Schwartz, & Santerre, 2005). Apesar da origem dessa prática ser nas filosofias
espirituais do Oriente, mas especialmente a partir da década de 60 o movimento de
trazê-la para o Ocidente ganhou força. Assim, juntamente com a crescente busca pela
prática pessoal, também houve um maior interesse científico por ela. Desde então, uma
das áreas de maior interface com a meditação e as filosofias relacionadas é a psicologia.
A meditação já foi bastante referida e estudada por psicanalistas como Erich Fromm e

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Karen Horney, sendo associada e comparada à escuta flutuante que o psicanalista deve
ter. Também foi tema de estudo de Jung, o qual acreditava que a meditação era uma das
formas de o sujeito acessar imagens arquetípicas; de Perls, que enfatizou a importância
do aqui-e-agora. É também considerada pela abordagem transpessoal uma poderosa
ferramenta para atingir outros níveis de consciência (Walsh & Shapiro, 2006).
De acordo com a literatura científica, a prática meditativa pode ser dividida em
duas formas principais: a) concentrativa - quando há o treino da atenção sobre um único
foco, como a respiração, a contagem sincronizada à respiração, um mantra ou algum
som, entre outros; sempre que houver uma distração, o praticante deve simplesmente
retornar sua atenção ao foco; b) mindfulness - caracterizada pela consciência da
experiência do momento presente, com uma atitude de aceitação, em que nenhum tipo
de elaboração ou julgamento é utilizado. À medida que estímulos internos ou externos
atingem a consciência do praticante, este simplesmente os observa e, assim como
surgiram, deixa-os sumir, sem qualquer reflexão ou ruminação (Shapiro et al., 2005).

O corpo e seu sistema em estado de meditação

As alterações do sistema nervoso autônomo, constatadas por estudos


experimentais e de meta-análise, incluem redução do consumo de oxigênio, da
eliminação de gás carbônico e da taxa respiratória, o que indica uma diminuição da taxa
do metabolismo. Além disso, a meditação também está associada a um aumento da
resistência da pele e a uma redução do lactato plasmático, cuja alta concentração é
associada a altos níveis de ansiedade (Dillbeck & Orme-Johnson, 1987; Travis &
Wallace, 1999; Wallace, 1970; Wallace & Benson, 1972; Wallace, Benson, & Wilson,
1971). Com respeito à freqüência cardíaca, alguns estudos não observaram diferença
(Dillbeck & Orme- Johnson, 1987; Travis & Wallace, 1999), enquanto outros
verificaram uma diminuição significativa (Maura et al., 2006; Wallace, 1970; Wallace
& Benson, 1972; Wallace et al., 1971). Embora já tenha sido discutido que os resultados
sobre os efeitos da meditação não são conclusivos (Canter, 2003; Holmes, 1984), na
literatura, há um crescente número de pesquisas corroborando os correlatos fisiológicos
dessa prática (MacLean et al., 1997; Goleman & Schwartz, 1976; Takahashi et al.,
2005; Travis & Wallace, 1999).

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Atualmente, sabe-se que, além dessas mudanças funcionais, a meditação
também pode produzir mudanças estruturais, atuando sobre a plasticidade cerebral. Uma
pesquisa que comparou a espessura do córtex de meditadores experientes com um grupo
controle encontrou uma diferença significativa nas regiões relacionadas à sustentação da
atenção, onde a espessura era maior nos praticantes experientes (Lazar et al., 2005).
Esse estudo corrobora a ideia de que a regularidade e a continuidade da prática
influenciam a intensidade das respostas e que, portanto, a meditação pode produzir
mudanças duradouras. Várias pesquisas observaram que, mesmo em situações basais, os
meditadores mais experientes produziam respostas significativamente diferentes
daquelas medidas em controles (Cahn & Polich, 2006; Dillbeck & Orme- Johnson,
1987; Easterlin & Cardeña, 1998; Goleman & Schwartz, 1976; Lutz, Greischar,
Rawlings, Ricard, & Davidson, 2004).

Meditação e o benefícios

Os efeitos da meditação sentada e silenciosa vêm sendo amplamente


investigados em diversos contextos, dos o campo da saúde mental e física é um dos
principais. Quanto à cognição, por exemplo, estudos têm apontado que a prática
meditativa pode influenciar positivamente alguns estilos de pensamento e sistemas
cognitivos. Foi observado que o treino da meditação pode auxiliar na redução de
pensamentos distrativos e ruminativos (Chambers, Yee Lo, & Allen, 2008; Jain et al.,
2007), além de propiciar um estilo cognitivo de maior aceitação (Bishop et al., 2004;
Easterlin & Cardeña, 1998).

Dois estudos que investigaram praticantes da meditação concentrativa também


observaram diferenças significativas na habilidade atencional (Brefczynski-Lewis et al.,
2007; Carter et al., 2005). Além disso, o estudo de Brefczynski-Lewis et al. corroborou
uma das ideias centrais da meditação concentrativa, a de que, quanto maior o tempo de
prática, menor o esforço exigido para manter maior foco. Os autores verificaram que os
praticantes com maior número de horas apresentaram menor ativação das regiões
envolvidas no processo meditativo, sugerindo que a técnica pode agir sobre a
distribuição de recursos cognitivos, cuja ideia já havia sido demonstrada em outro
estudo que utilizava a técnica mindfulness.

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Outras pesquisas indicaram que a meditação pode proporcionar melhor
adaptação ao estresse. Através de um estímulo aversivo, foi verificado que o grupo com
maior experiência se recuperava mais rápido da excitação autonômica, ou seja, os
meditadores experientes, após o término do estressor, tinham a freqüência cardíaca e a
resposta de condutividade da pele diminuída mais rapidamente, o que indicava uma
capacidade de habituação mais rápida ao estresse (Goleman & Schwartz, 1976). Nessa
mesma direção, um estudo verificou que, mesmo quando praticantes iniciantes e
avançados relatavam menor aceitação em condições de estresse, o grupo menos
experiente apresentava significativamente menos aceitação (Easterlin & Cardeña, 1998).

A prática meditativa também está associada à diminuição da ansiedade (Brown


& Ryan, 2003; Davidson et al., 2003; Galvin et al., 2006; Schwartz, Davidson, &
Goleman, 1978; Grossman et al., 2004), sendo que os efeitos de uma intervenção de oito
semanas de meditação sobre a redução dos sintomas do transtorno de ansiedade
generalizada e do transtorno de pânico, com e sem agorafobia, foram mantidos por três
anos (Miller et al., 1995). Além disso, pessoas com o transtorno do comer compulsivo
que passaram por uma intervenção que utilizava meditação tiveram a freqüência e a
intensidade de seus episódios diminuídas em função da redução da ansiedade e da
depressão (Baer, Fischer & Huss, 2005; Kristeller & Hallett, 1999).

Um estudo revelou que as pessoas que utilizaram a meditação de cunho


espiritual tiveram maior redução da ansiedade, maior relato de afetos positivos e maior
tolerância à dor, em comparação com o grupo que utilizou a meditação secular
(Wachholtz & Pargament, 2005). Além disso, alguns autores sustentam que a meditação
realizada fora de seu contexto original não é tão facilitadora de características
tradicionalmente atreladas à prática, como níveis mais profundos de propósito na vida e
auto-atualização (Shapiro et al., 2005).

Entretanto, propõe-se que a meditação seja concebida como um processo


multifatorial, em que muitos aspectos se inter-relacionam, mediando seus efeitos, como
genética e traços de personalidade, motivações e valores, tanto pré-existentes como
adquiridos com a própria prática e com as experiências individuais, além do tipo da
técnica. Embora a espiritualidade possa ter um impacto positivo sobre o bem-estar e a
saúde física e mental (Guimarães & Avezum, 2007; Peres, Simão, & Nasello, 2007),
existe um limite que se refere às pessoas que não querem levar uma vida calcada na

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espiritualidade e que nem por isso devem ser impedidas de meditar ou de ter acesso à
prática meditativa. Ademais, são necessários mais estudos comparando os diferentes
tipos quanto aos seus mecanismos subjacentes e quanto a uma possível distinção do
impacto de cada um.

A meditação e o estado de presença

Vale compreender que o estado de presença está ligado ao estado de consciência


no tempo do aqui e agora, por esse motivo um dos principais pilares da meditação é o
foco no processo da respiração. Uma respiração profunda unifica o corpo, aumenta a
capacidade de sentir beneficia a saúde. De acordo com Lowen (1982), a força da vida
ou espírito de tem sido sempre associada à respiração. Segundo ele, é apenas através de
uma respiração profunda e plena que o indivíduo consegue energia para uma vida mais
conectada com a sua essência. Para Boadella (1992), o equilíbrio e no equilíbrio entre a
retenção e a liberação emocional, sendo através de um ritmo respiratório relaxado que
se desenvolve a função de centramento.

Durante a preparação para a meditação, manter a expiração do ar é a âncora que


ajuda a retirar o relaxamento da mente lógica, conduzindo meditação existem variadas
diferenciam a partir da metodologia praticada. Pranayamaé uma palavra sânscrita que
energia vital, cósmica, presente no universo e necessária para o funcionamento de toda a
vida (DANUCALOV & SIMÕES, 2006) da manifestação, sendo o elo que liga a
matéria e a energia por um lado, e a consciência e a mente, por outro. É através da
respiração que o assim, as diversas práticas meditativas utilizam diferentes técnicas de
controle da respiração para provocar mudanças na consciência e avançar para estados
profundos da mente.

A meditação vai além de “uma boa oportunidade para desligar, dar um tempo,
ou desacelerar”. Seus benefícios para a saúde e consequentes desdobramentos na vida
pessoal e profissional (criatividade, memória, atenção, foco, autoestima, autoaceitação,
alegria, entre outros) nos apontam também para a feliz oportunidade de estabelecer um
mosaico de conhecimentos, experiências e aprendizagens, “contextualizando estes
saberes e integrando-os em seus conjuntos” (MORIN1999).

Na meditação a mente se estabiliza, se aquieta, o coração floresce e propicia


clareza às percepções, ampliando seu estado de presença e ainda a longevidade, redução
da ansiedade, melhora do humor e da função cognitiva.
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A biossíntese

Ampliando para as contribuições da biossíntese que significa integração da vida.


Fundada por David Boadella, nos anos setenta, como um método de terapia psicofísica
apoiada no processo formativo específicos da formação do Self e na inclusão de bases
biossociais. Estruturada a partir do refinamento do modelo embriodinâmico articulado
às perspectivas biossistêmicas, esta escola de psicoterapia focada no
autodesenvolvimento e autoregulação, aceita a singularidade do indivíduo e o espectro
de vários caminhos de evolução, reconhecendo a multidimensionalidade do ser humano.

Corporeidade, experiência psicológica e essência contribuem na compreensão,


acompanhamento e forma de ajuda no processo formativo do indivíduo diante dos
eventos emocionais como aspectos da formação do Self (BOADELLA, 1992).

A Biossíntese herdou de Reich a visão na qual a pessoa pode ser compreendida a


partir de 3 níveis de profundidade existencial. Na superfície vemos a máscara: uma
“armadura” de proteção do caráter formada como uma defesa às ameaças à integridade
do indivíduo na infância, ou até mesmo antes. A natureza destas ameaças será
considerada agora. As defesas do caráter apresentam um falso self, que oculta o
verdadeiro self (eu), que foi ameaçado na infância. Quando estas defesas começam a
afrouxar-se, uma segunda camada de sentimentos dolorosos, incluindo a raiva, a
ansiedade e o desespero, aparece. Sob esta camada existe uma outra primária, formada
por sentimentos centrais, nucleares, de bem-estar, amor e auto-confiança. A frustração
desta camada gera a segunda camada, caracterizada como uma camada de angústia, e a
repressão desta angústia e de protesto, por sua vez, criam a máscara.

Dessa forma as defesas do caráter permitem às pessoas serem classificadas de


acordo com seus padrões de defesa como uma forma de estratégia de sobrevivência. A
resistência precisa ser respeitada em sua função de proteger a vida, e as qualidades
únicas do indivíduo que estão contidas e representadas nos padrões de caráter, precisam
ser reconhecidas, elicitadas e valorizadas. A singularidade de uma pessoa está enraizada
em seu físico e corporificada em seus tecidos. Assim, as qualidades da vida pessoal
estão refletidas em qualidade de tônus muscular, expressões faciais, ritmo respiratório e
na organização dos estímulos.

A autoregulação

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Atenção focada no corpo e na respiração facilita a presença e uma autoregulação
do seu atual estado de consciência. O ser humano é um animal vertical, um condutor
entre a terra e o céu (BOADELLA, 1997). No entanto, este vínculo terreno-celestial
pode se estabelecer por meio de uma profunda conexão e fluidez, por meio de seu
antagonismo, ou ainda pela cisão. Na esfera da presença o “Grounding” é a
singularidade de cada pessoa no contato com o corpo, com a terra, com a sexualidade,
com a natureza, com sua origem, história, cultura e com a qualidade de seus propósitos
na relação consigo mesmo e com o outro (BOADELLA, 1988).

Espiritualidade é o contato com o coração, com uma fonte mais profunda, além
do tempo e espaço, onde sua raiz cósmica o aproxima da sensação de ser eterno.
Enraizamento sem espiritualidade se torna pseudo enraizamento: fixa-se raízes no
materialismo, no funcionalismo, no físico (BOADELLA, 1988).

A Biossíntese reconhece estes dois tipos de existência, somática e trans-


somática, e procura relacioná-las, para que a pessoa se sinta “em casa” em ambos os
mundos. A ênfase dada à forma orgânica e à animação somática como expressões da
singularidade da pessoa é complementada pelo reconhecimento que estas são
encarnações de qualidades de uma essência que pode transcender tanto o nascimento
como a morte. Em Biossíntese, nos referimos à esta dimensão transpessoal como
formando as raízes internas de uma pessoa. A maior parte do trabalho terapêutico
consiste em ajudar a pessoa a corporificar o seu inner ground (ground interno) em sua
vida exterior; e a descobrir, através do aprofundamento do contato com a riqueza do seu
corpo, uma forma verdadeira para seu mundo interno.

A meditação e o grounding

A meditação se entrelaça ao ground espiritual e a psicoterapia ao “cuidar da


alma” principalmente no que tange a acessar os aspectos mais acentuados e subjetivos
da existência humana. Implica, portanto, em diferenciada atenção a esse voltar-se com
inteireza e profundidade para o centro de si mesmo.

Por exemplo, ao mesmo tempo em que o praticante da meditação pode irradiar-


se em qualidades relacionais diferenciadas como a alegria, a compaixão, o amor e o
equilíbrio oportuno observar que estas mesmas virtudes “se correlacionam entre si e
também com dois desvios polarizados, de cada lado desses estados emocionais, alguns

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dos quais podem parecer oposto do estado do coração associado, enquanto outros
podem tomar a forma mais de seu substituto”. BOADELLA (1997).

Nesta perspectiva, estas quatro virtudes podem ser compreendidas em suas


respectivas e desvios:

- Alegria. Expressão do sentimento de felicidade e integridade para consigo


mesmo. Polaridades: a excitação frívola e superficial.
- Compaixão. Expressão da capacidade de agir com empatia, de acolhimento e
compreensão. Polaridades: a manipulação, o sentimentalismo, a incapacidade para
mudar uma situação.
- Amor. Expressão de boa vontade e aceitação incondicional. Polaridades: a
possessividade, a carência, a dependência, a co dependência, e o medo da desaprovação
do outro.
- Equilíbrio. Expressão da habilidade de permanecer centrado, equânime.
Polaridades: a excessiva reação emocional, a apatia, o retraimento esquizoide do contato
emocional.
Boadella, apoiado por pesquisas sobre a consciência, trabalha com a hipótese de
que “a consciência não é redutível ao corpo (...), e que há campos de vida sutis que a
cercam não são redutíveis à forma física desta pessoa” (BOADELLA, 1997).

A saúde está fundamentada em um funcionamento rítmico-oscilatório, numa


atividade vital de pulsação de alegria e prazer. Esta pulsação é vista no bioplasma.

O objetivo da terapia é reintegrar a pessoa a um estado de pulsação saudável, na


qual as atividades vitais básicas são rítmicas, prazerosas, e funcionam em direção a um
contato mais intenso consigo próprio e com os outros. Wilhelm Reich, em 1950,
elaborou um projeto para estudar mães sadias, e observou que o esforço “para ser sadio”
criava distúrbios. Semelhantemente, o esforço para relaxar pode criar tensões.

Em Biossíntese o processo de crescimento terapêutico é mais importante que o


produto final. Se forçarmos o produto, podemos facilmente começar a fazer exigências
ao paciente, que se encaixam em nosso modelo de saúde, por exemplo, a demanda para
que seja emocionalmente expressivo pode advir da crença de que a expressão emocional
é saudável. A abordagem “produtiva” em relação à terapia pode impor novas demandas,
algumas vezes levando à uma nova forma de tirania em pessoas cujo problema pode ser
justamente causado pela obediência às demandas dos outros.

De acordo com os estudos de Boadella, um processo que consiste em ajudar a


pessoa a entrar em contato com o ritmo de sua respiração e com a dinâmica emocional
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associada se chama Centering. Respiração e emoção, profundamente relacionadas
durante as constantes alternativas emocionais, envolvem algumas mudanças no ritmo
respiratório. Existem padrões específicos de respiração associados à ansiedade, raiva,
tristeza, esperança, alegria, saudade, etc. A respiração pode estar desequilibrada,
localizando-se mais no peito que na barriga, e vice-versa. E pode ainda estar
desequilibrada na ênfase dada à inspiração e expiração. O terapeuta pode ajudar a
expiração em clientes que são demasiadamente controlados e tensos, encorajando um
fluxo livre de movimento, por exemplo correndo, ou por meio de outros exercícios
descritos mais adiante. A respiração tenderá a seguir o movimento. Para as pessoas que
tendem a minimizar a inspiração, e a enfatizar a expiração, ajudar e estimular a
inspiração é necessário. O que lembra muito a prática da meditação que também traz
essa sensação de presença.

Além disso, as emoções podem ser organizadas com uma emoção que é fácil de
ser expressada, sendo usada de forma defensiva para esconder uma outra de difícil
expressão. O princípio terapêutico consiste em tentar elicitar esta emoção escondida e
evitar o encorajamento da emoção defensiva. exemplos comuns são: raiva usada para
esconder tristeza e medo; medo para esconder raiva ou excitação; tristeza para esconder
raiva ou prazer.

Boadella afirma que o Grounding está relacionado com o nosso ritmo de


movimento e nosso estado de tônus muscular. Uma pessoa está bem ancorada
(grounded) quando possui o tônus muscular adequado para uma determinada ação ou
comportamento. Grounding envolve a vitalização do fluxo de energia através da coluna,
e daí para os “cinco membros”, braços, pernas e cabeça. Trabalhamos com uma vasta
gama de posturas corporais, algumas delas lembrando as asanas da ioga, ou as posições
de estresse da bioenergética.

A expressão pelo movimento pode ser um fluxo vitalizante através do corpo,


levando energia e motilidade a áreas previamente amortecidas, ou pode ser um fluxo
emocional, ajudando a pessoa a traduzir seus estados afetivos em sequências de ações
com sentido. Por exemplo, a pessoa pode ser ajudada, em estados de medo, a reforçar
seus limites, afim de construir uma proteção mais efetiva contra a ameaça; ou, em
estado de raiva, ser ajudada a aumentar seu espaço, afim de sentir-se menos comprimida
e limitada muscularmente; e em estados de tristeza, ser ajudada a procurar mais contato
do que ela usualmente permite. Em terceiro, a expressão pelo movimento pode trazer
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um fluxo de sentimento espiritual para uma pessoa, aonde o gesto tem a qualidade de
uma mudra, conectando profundamente a pessoa às energias universais, muito mais
amplas que ela mesma.

O Corpo energético

Para entender e ampliar o corpo que também é formado por um corpo energético
ou sútil, de que está conectado direta e indiretamente com as sensações desse corpos.
Existem 7 principais chakras. Os três primeiros chakras “mooladhara” (soalho pélvico),
“swadhisthana” (baixo ventre/hara), “manipura” (umbigo), responsáveis pelo
enraizamento, centramento e metabolismo, respectivamente comportam o compromisso
com o corpo e o desejo de sobrevivência, a relação do indivíduo consigo mesmo, com o
outro e com o mundo. Assim, a identificação das crenças e condicionamentos ancorados
no físico e nas emoções, a energia vital disponível para as diferentes realizações, os
processos metabólicos, a relação com o prazer e sexualidade, os vínculos, fronteiras,
limites e autoconfiança, as expressões de poder, de dominação e manipulação, entre
outras expressões, permitem uma aproximação com as respostas obtidas diante das
necessidades básicas do desenvolvimento humano.

O quarto chakra, anahata (centro do peito), é o centro da união com o próximo,


com a vida com a compaixão, a habilidade de amar profundamente e de formar
amentos. O diafragma exerce forte influência no fluxo da energia dos três primeiro
chakras, considerados ligados aos aspectos terrenos, para a emergência espiritual, de
conexão cósmica, favorecidos pela liberação do fluxo ascendente a partir deste chakra.

O quinto chakra, vishuhi (epiglote) ou centro da garganta, tem como função


principal a comunicação ou a emissão de sons, envolve todo o aparelho produtor de voz.
Bloqueios na garganta e no pescoço restringem ou interrompem o fluxo entre o
pensamento e as entre o pensamento e a ação e movimentos. A saúde deste centro
corresponde a uma boa comunicação e a criatividade da linguagem.

O sexto chakra, agnea (entre as sobrancelhas) ou centro da fronte, terceiro olho,


relaciona ação – olhar para fora e enxergar por dentro. Representa a capacidade e
habilidade de uma pessoa de encarar a si própria e aos outros. Relaciona imaginar,
assim como com o poder de enxergar profundamente a essência de uma situação. do se
trabalha com este centro estamos tratando dos bloqueios oculares e das situações.

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O sétimo chakra, sahashara (no alto e centro da cabeça) ou centro da coroa é o
canal de comunicação com o cosmo. Relaciona-se com uma abertura para algo maior do
que o ser, aonde se dá a integração de todas as nossas qualidades. Muitas das escolas
iogues afirmam que na meditação, os pensamentos, as sensações e os sentimentos,
fazem parte de um vasto oceano em que as ondas estão surgindo e desaparecendo.

Considerações finais

Nos últimos 30 anos, inúmeras pesquisas comprovaram que a prática da


meditação ajuda no fortalecimento do sistema de defesa do organismo, no controle da
insônia, depressão, fobias e de várias doenças psicossomáticas com a melhora da
condição emocional reduz sensivelmente a tensão, o stress e a ansiedade;

Sugere-se que a meditação pode ser entendida e vivenciada a partir de duas


perspectivas, que podem se complementar. A prática pode ser o reflexo de um contexto
religioso-espiritual, através da qual são cultivados os ensinamentos transmitidos pelos
preceitos filosóficos característicos da tradição e/ou a meditação pode ser uma atividade
inserida no âmbito da saúde, na condição de técnica capaz de produzir determinados
benefícios, promovendo maior saúde física e mental. Parece prudente inferir que uma
não necessita excluir a outra, e tampouco uma necessariamente precisa da outra.

A técnica em si é capaz de gerar uma série de respostas físicas e psicológicas


que podem auxiliar na prevenção de inúmeras condições, especialmente aquelas
resultantes dos efeitos deletérios do estresse, no manejo de problemas de saúde já
estabelecidos, assim como na promoção de saúde mental. Dessa forma, a meditação é
uma atividade que pode ser utilizada em um contexto terapêutico, desde que as
condições e as peculiaridades da situação que está sendo tratada sejam respeitadas.

Além das especificidades de cada tipo, ressalta-se que os estudos sobre


meditação ainda suscitam opiniões divergentes quanto à aceitação da sua aplicabilidade
e eficácia no campo da saúde. Alguns autores advertem que ainda são necessárias
pesquisas com metodologias mais rigorosas para assegurar que a meditação seja, de
fato, a responsável pelos efeitos observados (Baer, 2003; Bishop, 2002; Canter & Ernst,
2004). Entre os principais argumentos, estão a não randomização de muitas amostras, o
número reduzido de participantes, a afiliação dos pesquisadores às organizações ligadas
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à técnica investigada e, até 2004, argumentava-se com a falta de uma definição
operacional objetiva (Bishop et al., 2004; Cardoso et al., 2004).

Por outro lado, uma grande quantidade de estudos com resultados positivos
sugere que a meditação pode ser eficiente no que tange a reações psicossomáticas e,
especialmente, a experiências subjetivas, como a sensação de bem-estar e de
crescimento pessoal. Com relação ao tempo necessário para que tais efeitos ocorram,
não há uma precisão. Embora pesquisas revelem que com alguns meses já se pode
observar uma diferença significativa em determinados estados, também há estudos
indicando que, quanto maior o tempo de prática, maior a intensidade e a permanência
das respostas produzidas. Portanto, a regularidade da prática constituise em mais uma
variável mediadora dos efeitos da meditação e, possivelmente, em um diferencial na
medida em que tais reações se transformam em aspectos mais duradouros e estáveis da
personalidade.

Tendo em vista a relevância do estudo científico da meditação e de suas diversas


facetas, sugere-se que esse é um campo a ser explorado nos centros de pesquisa do
Brasil. O estágio ainda em desenvolvimento em que se encontram os estudos sobre
meditação gera um solo fértil para a sua investigação, e possibilita, à medida que os
resultados vão se tornando mais conclusivos, a sua inserção e disseminação na prática
clínica. Além disso, recomenda-se que aqueles profissionais que já a utilizam em suas
práticas terapêuticas relatem seus casos com o rigor científico necessário para que se
inicie um movimento brasileiro de validação do uso da meditação como uma ferramenta
destinada a promover a qualidade de vida nas suas diversas dimensões.

Unindo-se ao trabalho com respiração, movimento, e linguagem forma o ground


externo da Biossíntese. Por detrás disto, está o ground interno da essência da pessoa.
Este ground interno está associado mais com a presença e o ser, do que com a atividade
e o fazer. O ground interno, na respiração, pode apresentar-se como um estado
meditativo onde a pessoa sente a vibração sutil da respiração; em exercícios posturais,
pode elicitar “posturas da alma”, formas de movimento profundo, de intensidade
espiritual. No trabalho com a linguagem, pode levar a um descobrimento de imagens
arquetípicas ou scripts existenciais, e explorar uma dimensão transpessoal da existência.
Procuramos conectar estes dois grounds, interno e externo, através da ajuda constante

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dada ao cliente, no sentido de estar atento às pontes entre sua vida interna e a realidade
externa.

Dessa forma, percebe-se a relevância de dar continuidade é mais pesquisas que


amplie de forma cientifica a eficiência da meditação e tantas outras práticas que envolve
o corpo e a respiração e assim auxiliar as pessoas em sua busca por uma vida mais
saudável.

Referências bibliográficas

BOADELLA, D. Correntes da vida. São Paulo. Summus, 1992.

_______________. Nos caminhos de Reich. São Paulo. Summus, 1985.

________________. Dez Aspectos da Bio-espiritualidade International Institute for


Biosynthesis Heiden, Suiça. Tradução da Escola de Biossíntese do Rio de Janeiro.

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