Você está na página 1de 15

INFLUÊNCIAS DAS TÉCNICAS DE RESPIRAÇÃO NO

TRATAMENTO DA ANSIEDADE: PERSPECTIVAS NA


PSICOTERAPIA CORPORAL

Kélia Alice Rocha Costa1

RESUMO:

A ansiedade consiste numa reação fisiológica e emocional diante alguma situação ou objeto
que apresenta algum perigo. Em um momento de ansiedade, a musculatura corporal tende a se
contrair, dificultando assim a respiração gerando angustia e medo. Diante disso o objetivo
deste trabalho foi analisar como as técnicas de respiração utilizadas pela psicoterapia corporal
contribuem no tratamento da ansiedade, como também analisar as relações de eficácia dessas
técnicas respiratórias na relação corpo e mente da pessoa ansiosa no seu processo terapêutico.
A metodologia usada é de cunho qualitativo e bibliográfico, onde buscou- se pesquisas já
realizadas nas psicoterapias sobre o tema como base de análise. Observou se que em situações
de ansiedade, a respiração torna-se curta e insuficiente, com isso o corpo não encontra energia
para qualquer tipo de reação, visto que a respiração é de fundamental importância para a
sobrevivência, psicoterapias corporais a utilizam como um meio eficiente de acessar as
emoções contidas na buscando um contato que possibilite um melhor controle como um fluxo
energético saudável.

Palavras Chaves: Respiração, Psicoterapia Corporal, Ansiedade.

Introdução

A respiração para a psicologia corporal, além de ser considerado um mecanismo


importante e essencial para um funcionamento do organismo, também é considerada de
grande importância para o estabelecimento do equilíbrio da função das emoções, quando um
indivíduo está em um momento de relaxamento, sua respiração tende a ser lenta e suave,
quando este momento é influenciado por algum tipo de emoção mesmo que passageira, a
respiração se torna forte e intensa, quando em momentos de tensão, a respiração tende a ficar

1
Psicóloga, Pós Graduanda em Psicoterapia Corporal – CENSUPEG. E-mail: keliapsi@hotmail.com.
curta e perder sua profundidade, em momentos de medo a inspiração fica intensa e presa com
uma contínua sensação de falta de ar, com isso a respiração está ligada diretamente como o
corpo se excita ou relaxa como também, reflete como esse corpo está em contato com as suas
emoções (LOWEN 2007, LOWEN, 1984).
Lowen (1984) acredita que uma respiração plena e profunda torna-se um meio de
atingir a liberdade que é tão oprimida desde o nascimento, pois envolve uma onda energética
que flui e movimenta o corpo que por muito tempo é obrigado a ficar paralisado, com isso um
padrão irregular e disfuncional da respiração pode está ligado a vários sintomas como a
ansiedade, a irritabilidade sem um motivo aparente, a tensão, estresse, fadiga, depressão e
redução do prazer sexual. Podendo então despertar disfunções que venham causar sofrimento
psíquico e corporal.
Diante disso, conter a respiração é uma forma eficiente de repressão das emoções e
das sensações, o medo do sentir, leva a contração da musculatura impedindo que o impulso
energético se propague e chegue a superfície onde estão os receptores responsáveis pelas
sensações e percepções. A contração tem seu início de forma consciente, porém quando se
torna crônica, a sua contenção e o sentimento ligado a ela tornam se duradouro e inconsciente
(LOWEN, 2007).
O indivíduo que não entra em contato com a sua respiração, não entra em contato com
o seu corpo, se não se movimenta livremente reduz a vida do seu corpo, se não se sente
completo, estreita a sua vida como também limita sua auto-expressão, e consequentemente o
prazer de viver. A respiração, assim como um meio de libertação, também é utilizada como
uma forma de inibir sentimentos e sensações, consequentemente trabalhar as emoções através
dos desbloqueios das tensões que prendem a respiração, significa permitir que o corpo relaxe,
elabore seus conflitos internos emocionais e promova a expressão espontânea dos sentimentos
contidos (LOWEN, 2007).
Desta forma, a ansiedade é considerada como uma reação biológica comum e natural
do ser humano, que é caracterizada como uma carga de energia emocionalmente bloqueada,
que tem a capacidade de gerar tensões internas capazes de gerar tensões e bloqueios que
inibem fatores espontâneos, que se reduzem ao final como geradores de tensões musculares
que podem ser tornar crônicas gerando angústia e apreensão. (ROMÃO E SILVA, 2018).
Assim sendo, o trabalho da respiração deve ter seu início pela reestruturação e reforço
do ego, pois caso o ego não esteja bem estabelecido, o indivíduo não conseguirá integrar seus
sentimentos com o mundo real, pelo medo do que essas sensações podem trazer á tona.
Contudo alguns indivíduos estão muito habituados com as deficiências de sua própria
respiração, e esses indivíduos precisam de um trabalho mais gradual e paciente pois, eles
podem não suporta de imediato a carga energética que um contato mais profundo pode trazer.
Por causa disso é importante que o psicólogo compreenda a necessidade individual do
indivíduo e seus limites quanto á formas de inspirar e expirar, sendo essas funções de extrema
importância na compreensão dos estados de contenção e libertação emocional. (BOADELLA,
1992, VIEIRA, 2018).
Este trabalho tem como objetivo geral analisar como as técnicas de respiração
propostas pela psicoterapia corporal que contribuem no processo de redução da ansiedade,
tendo como objetivos específicos a compreensão da eficácia e os benefícios da respiração no
processo de psicoterapia, assim como também promover um olhar diferenciado sobre a
importância do corpo no processo de trabalho com a ansiedade.

A pesquisa realizada é de cunho qualitativo e foi adotada como a metodologia de


revisão de literatura como norte na investigação e produção e desenvolvimento e análise da
temática. A pesquisa bibliográfica tem o objetivo de construir conhecimento através de
registros disponíveis, que partem de pesquisas anteriores já realizadas, que podem vir de
documentos impressos, como livros, artigos, teses, dissertações, etc. Pode também empregar
dados e categorias teóricas que já foram trabalhados por outros cientistas e pesquisadores e
que foram corretamente registrados. Os textos selecionados tornam se então a principal fonte
de pesquisa e o pesquisador irá trabalhar de acordo com as contribuições das análises dos
autores que constam no texto. (SEVERINO, 2007)

Para a realização deste trabalho com a meta de alcançar os objetivos propostos, foi
feita uma busca na rede mundial de computadores (Internet) na busca de publicações com a
proposta. Foram realizadas buscas em sites como SCIELO, Google acadêmico, Centro
Reichiano e Volpi e na Revista Latino Americano de Psicoterapia Corporal.
Foram utilizados no total de 22 arquivos para pesquisa e análise, no material coletado
possui artigos científicos, livros digitais, trabalhos de conclusão de curso (TCC) e artigos que
se relacionam com a temática proposta. Todavia o material coletado em sua maioria teve
como critério de seleção está relacionado a temáticas da psicologia/psicoterapia corporal
como também sobre fisiologia/processo de respiração e ansiedade.
Aspectos gerais sobre o processo organísmico da respiração

A principal função do sistema respiratório consiste na absorção do gás oxigênio (O2)


para os tecidos que compõem o corpo assim como na retirada do gás carbônico (CO2), que em
excesso pode ser prejudicial, pois pode provocar um colapso no balanceamento das trocas
gasosas interferindo diretamente nas contrações musculares e na plena função pulmonar ao
gerar desgaste na procura da homeostase das trocas gasosas. O ar que é absorvido pelo
sistema olfativo é filtrado pelos cílios olfativos que remove as impurezas, e ao chegar nos
pulmões ocorrerá trocas gasosas que partem do nível celular até os tecidos gerando a energia
que será distribuída por todo o corpo humano. (GUYTON,2002).
De acordo com Santos (2018), Além dos pulmões, existem músculos de controle
voluntário que estão envolvidos no processo de respiração e também são importantes para a
sua execução, temos os músculos intercostais e o diafragma como exemplo, que atuam como
apoiadores na etapa de absorção e retirada do ar (inspiração/expiração), são conhecidos como
músculos voluntários, pela ação consciente na facilitação da troca gasosa nos pulmões; No
processo de respiração, quando ocorre alguma desregulação na troca gasosa o sistema nervoso
busca então o movimento involuntário para reestabelecer o equilíbrio, isso tende a acontecer
quando o ar absolvido (oxigênio) tem menor concentração com o ar expelido (dióxido de
carbono).
Caso o dióxido de carbono se acumule de forma exagerada no sangue, o corpo poderá
absorver menos oxigênio que o necessário para a respiração e a contínua manutenção do
metabolismo, as consequências vão desde o aparecimento de patologias crônicas respiratórias
como o risco de morte. As proporções de dióxido de carbono e oxigênio no sangue são
responsáveis por funções fundamentais no corpo humano além da respiração, como equilíbrio
de ph, níveis de açúcar no sangue, desgaste metabólico, pressão arterial, e o funcionamento
efetivo do sistema simpático e parassimpático, desequilíbrio em qualquer uma dessas
instâncias vitais prejudicará o funcionamento corporal (LOWRY, 1967, SANTOS, 2018).
Com isso o movimento respiratório pode ser compreendido em alguns momentos
distintos no seu processo: Primeiro a inspiração que traz o ar para dentro dos pulmões,
posteriormente uma pausa ocorre com os pulmões já cheios de ar, após isso ocorre a exalação
que busca a expulsão do ar dos pulmões e por ultimo tem se uma pausa com os pulmões
vazios, momento em que se finaliza a exalação e os pulmões ficam destituídos de ar (ELIAS,
2018).
A respiração abdominal/diafragmática é a que menos exige energia para ser realizada,
sendo a responsável por 60% do ar absolvido, enquanto a respiração média ou intercostal é
responsável por 30% do ar absolvido, já a respiração clavicular ou peitoral que movimenta os
músculos acima do tronco, exige um maior esforço para sua realização e apenas 10% do ar é
absolvido. (ELIAS, 2018).
A respiração como um processo complexo e fundamental é comandada por músculos,
pela ação da gravidade como tem sua execução controlada pelo sistema nervoso central, o
diafragma então, se torna o musculo diretamente ligado ao SNC, responsável pelo movimento
muscular abdominal que permitirá que os pulmões consigam se expandir e contrair no
processo de troca gasosa, quando se inspira o diafragma desce empurrando as vísceras para
baixo, massageando e ajudando no peristaltismo intestinal, no fluxo sanguíneo e na
mobilização das defesas melhorando assim a imunidade corporal, quando se expira o
diafragma sobe completando um movimento cíclico. (VERONESE, 2008).
Indiscutivelmente existe uma intima relação entre a respiração e as condições
psíquicas, as manifestações de ansiedade, as expressões de angustia e ansiedade que um
indivíduo vivência, estão registradas a nível muscular, visto principalmente no músculo da
boca e suas proximidades; Mesmo que uma pessoa esteja em equilíbrio quanto as
necessidades corporais, não há como reagir calmamente em uma situação de ausência de ar.
(CARVALHO, 2000).
Quando ocorre uma má oxigenação no cérebro, existe o risco constante de estados de
inconsciência e dores de cabeça, levando o individuo a ser obrigado a exercer uma respiração
mais oral como forma de compensação e busca de equilíbrio, caso essas interrupções de
oxigenação sejam frequentes, o individuo tende a apresentar comportamentos de agitação e
impaciência, dificultando assim a restruturação do equilíbrio respiratório como potencializa a
permanência de uma respiração oral em detrimento de uma respiração nasal regular.
(MENEZES et al 2009).
Para Elias (2009) compreender como ocorre o processo de respiração humana,
significa entender como está o funcionamento de nossas emoções, pois entendendo essa
relação de influência, poderia dar novas oportunidades de entender as manifestações de
estados emocionais como também a possibilidade de muda-los de acordo com o seu padrão de
respiração correspondente. No caso de situações de medo por exemplo, intervir na respiração
superficial e rápida, característica dessa emoção, para uma maneira mais lenta e profunda
demonstra uma surpreendente eficácia para superação. Aprender sobre a respiração é além de
tudo um aprofundamento sobre a vitalidade do ser humano e a sua necessidade de conexão
com suas próprias emoções na construção de um bem estar.

O papel da respiração na Psicoterapia Corporal dos quadros de ansiedade

As psicoterapias corporais buscam perceber o indivíduo como uma unidade de energia


constituída de dois processos, o psiquismo (mente) e o soma (corpo), buscando através de um
olhar integrativo compreender o movimento das manifestações comportamentais e
energéticas, resultantes da relação mente e corpo, para assim entender o equilíbrio no qual o
indivíduo seja capaz de alcançar como promover a sua própria autorregulação, alcançando
desta forma uma vida saudável (VOLPI e VOLPI, 2003).
Na psicologia corporal há associação do caráter de uma pessoa com suas emoções e o
seu corpo, Reich, por meio de sua pratica clínica como em suas pesquisas, buscou mostrar a
importância da valorização dos elementos não verbais dos pacientes no percurso da
psicoterapia, pois esses elementos associados a fala no processo analítico, ajudaria o paciente
a conhecer suas resistências e se desenvolver no seu tratamento. Trouxe também o conceito de
couraça do corpo, que são bloqueios energéticos distribuídos em segmentos arquitetados ao
eixo da coluna vertebral, que parte da região dos olhos, boca, pescoço, tórax, diafragma,
abdômen e pélvis e que ao longo do tempo podem ajudar no desenvolvimento de
irregularidades orgânicas (VERONESE, 2008).

O trabalho rigoroso e sistemático do autor em “Análise do Caráter” o levou à


descoberta das couraças musculares, que são caracterizadas por tensões crônicas que
protegem o indivíduo de situações ameaçadoras e que influenciam sua vida de forma a
inibir o livre fluxo de energia. Dentre essas couraças, Reich definiu sete segmentos
localizados em determinados pontos do corpo como: Ocular, oral, cervical, torácico,
diafragmático, abdominal e pélvico. Cada anel de couraça, portanto, influencia o
corpo de determinada maneira, impedindo as reações naturais e espontâneas do
indivíduo (ROMÃO E SILVA,2018).

As couraças vão se moldando ao longo da vida, de acordo com o caráter do indivíduo,


caráter esse que se define como a soma de todas as experiências que foram vivenciadas, o
corpo então se molda de acordo com essas experiências de vida, organizando uma postura
singular para cada indivíduo. Essas couraças veem se formando desde o nascimento, e vão se
desenvolvendo junto com o crescimento desse bebê, pois as couraças são responsáveis pela
defesa no meio em que se desenvolve, qualquer ameaça ao equilíbrio psíquico ou físico de um
indivíduo, ativa-se o mecanismo de conservação e defesa, constituindo-se uma estrutura
defensiva, que poderá se tornar couraça. (REICH, 1995, NAVARRO, 1995, VERONESE,
2008).
Dos segmentos de couraça estudados por Reich, o ponto diafragmático possui uma
estreita relação com o processo de respiração, quando um indivíduo apresenta uma respiração
curta ou muito acelerada ele não consegue usufruir corretamente de toda a sua capacidade
pulmonar, pois, ao movimentar somente os músculos das costelas e do peito, o diafragma
torna se um coadjuvante em detrimento de sua importância e capacidade no processo de
respiração; Sendo assim, o diafragma se torna um ponto bloqueado que pode através da
psicoterapia corporal ter sua energia fluída e valorizada superando assim o traço
caracterológico como a sua consequente couraça. (NAVARRO, 1995, VERONESE, 2008).

Como analista, Reich havia observado que os pacientes prendiam a respiração quando
resistiam à expressão plena e livre de seus pensamentos e sentimentos e que a
plenitude no viver estava relacionada ao uso ideal da energia vital, em geral, e da
sexualidade, em particular. Seus insights cinestésicos sobre os bloqueios respiratórios
e couraças musculares, que formaram a base para o seu posterior trabalho de análise
do caráter, são claramente apresentados na perspectiva psicodinâmica sobre a função
diafragmática na restrição da profundidade da respiração e, consequentemente, na
expressão dos sentimentos (SANTOS, 2018).

É importante falar que o músculo do diafragma tem o início de seu funcionamento


após o nascimento do bebê, mesmo sendo o musculo de maior competência na respiração, ele
ainda precisa da influência dos músculos espinhais, escapulares, occipitais, costais e da pélvis
como sua ligação direta com os músculos abdominais para que seu funcionamento seja eficaz,
fato que mostra se necessário na compreensão dos bloqueios diafragmáticos que externam na
maneira de respirar e se desenvolvem em defesas de couraças únicas. (NAVARRO, 1995,
VIEIRA et al 2018)
Segurar a respiração se torna um meio eficiente de controlar sentimentos, sendo a
couraça um grande impedimento para as emoções orgânicas, contudo, o bloqueio acontece de
forma inconsciente, na presença de um perigo ou medo de uma punição. Sendo assim, as
emoções têm uma tendência a ficarem reclusas e acumuladas por tempo indeterminado. Essa
acumulação emocional pode trazer como resultado danos ao organismo, como distúrbios
gastrointestinais, dor de cabeça e dores na coluna, em nível psicopatológico, a neurose da
angústia que podem dar origem a sintomas como espasmos cardíacos, sensação de estomago
pesado, tensão nas pernas e sudorese nas extremidades do corpo. (BAKER, 1980,
VERONESE, 2008).
O movimento de inspirar e expirar ocorre sem que se de conta para a maioria das
pessoas, principalmente para aquelas que possuem uma forma de respirar mais curta,
incompleta, o que impede então o fluxo de energia que vem dos pulmões até o diafragma; A
ansiedade encontra-se relacionada diretamente com a expiração, onde a vegetoterapia através
de movimentos no ponto diafragmático busca o seu desbloqueio e desenvolvimento
caracterológico. Conscientizar-se de sua própria respiração como suma importância para o
corpo, de maneira gradativa, permite que o individuo no seu processo terapêutico recupere sua
vitalidade e saúde. A vegetoterapia vem como uma proposta terapêutica baseada nos estudos
de Reich e desenvolvida por Navarro, propõe exercícios específicos no corpo para
desbloqueio de couraças, os Actings, que são realizados na ordem céfalo-caudal, como forma
de estruturar o indivíduo através do livre fluxo energético. (NAVARRO, 1996, VERONESE,
2008).
A respiração é um meio de comunicação e expressão independente da palavra, com
uma respiração diminuída consegue se perceber quando há um sentimento de tristeza que tem
uma tendência a diminuir sua profundidade em detrimento do prazer que a aumenta. As
pessoas ansiosas respiram de maneira superficial e irregular, a inspiração tende a ser
demorada em contrapartida de uma expiração incompleta. As emoções são influenciadas pela
respiração, em situações de angústia por exemplo, é comum uma respiração mais cortada e
mais sussurrada, no medo já ocorre a dificuldade na própria respiração aliada a uma sensação
de asfixia e peso no tórax. (NAVARRO, 1995).
Quando ocorrem crises de ansiedade, a musculatura se contrai como uma forma de
defesa, influenciada por questões culturais e sociais, como também, resultado de uma
educação baseada em culpabilização e repressão, que determina como um indivíduo vai
respirar, se comportar, agir e como mantém sua postura. Estas condições e o sistema
educacional em que o indivíduo está inserido, colabora na formação de uma sociedade cheia
de neuroses e saturada de doenças somáticas. De um olhar psiquiátrico existe uma dificuldade
em diferenciar uma ansiedade normal como patológica, pois existem vários fatores que devem
ser levados em conta para um possível diagnóstico, como a intensidade, repetição, o
sofrimento e como a função do indivíduo está afetada na sociedade (VERONESE, 2008).
De acordo com o DSM V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos mentais,
2014) a ansiedade é caracterizada por um sentimento de medo sem uma causa aparente, vago
ou desagradável, que pode gerar uma fadiga, desconforto ou tensões pelo corpo, pode ser
disparado por antecipação a situações perigosas ou de algo do qual não se tem conhecimento.
Já os transtornos de ansiedade partilham de características que de medo e ansiedade em
excesso, como distúrbios comportamentais; Contudo, esses transtornos se diferenciam nas
situações ou objetos que instigam medo, à ansiedade ou ações de fuga e esquiva e a percepção
cognitiva associada a eles. Com isso a diferenciação dos transtornos de ansiedade para a
ansiedade, está na intensificação sintomática dos transtornos e sua duração em relação ao
desenvolvimento humano considerado normal.
Na dimensão comportamental, há no estado de ansiedade e medo, um congelamento
do movimento corporal, fuga ou esquiva. Na questão subjetiva verbal, pelo relato da avaliação
de perigo ou ameaça naquele momento e na dimensão fisiológica, busca-se uma avaliação da
ativação autônoma periférica, mudança nas configurações do padrão muscular, mudança dos
padrões do sistema imunológico, endócrino e nas principais funções do sistema nervoso.
(BAPTISTA et al 2005)

O medo ou a ansiedade podem, assim, ser definidos por uma constelação de medidas
em cada um dos três sistemas de resposta: o que se faz, o comportamento, o que se
pensa ou diz, a linguagem e o que se sente perante uma ameaça real ou imaginada, a
fisiologia. (BAPTISTA et al 2005)

Fernandes et al (2018) ainda reitera que a ansiedade como sua possível evolução em
um transtorno, está sendo associado a resultados negativos, como a incapacidade funcional,
comportamentos considerados de risco, uso, dependência e abuso de substancias químicas,
assim como, problemas na realização de tarefas laborais. Tanto a ansiedade como sua
evolução em transtorno mental está ligada a fatores sociais, familiares, a questões financeiras,
profissionais e interpessoais.
Para Veronese (2008) a ansiedade não pode ser evitada, mas reduzida a níveis que não
imobilizem a vida de um indivíduo, quando lidada de maneira correta também traz benefícios,
como a melhora da vigilância e da consciência. Quando a ansiedade se manifesta a
musculatura se contrai para se defender, com isso, a ansiedade acopla diretamente a
respiração, sendo que uma respiração realizada de maneira incorreta, ou seja , quando não há
mobilização dos pulmões, quando o diafragma e seus músculos auxiliares impede a plena e
completa capacidade desses músculos gerando angústia.
A dificuldade de respirar livre e plenamente torna-se um dos principais obstáculos
para a recuperação da saúde emocional, pois, inibir a respiração significa reprimir emoções e
sensações, buscar reverter essas inibições através do contato e da estimulação de uma
respiração mais profunda permite o contato com os sentimentos e as emoções que outrora
foram reprimidos. Por isso, a análise bioenergética busca o iniciar seus trabalhos na
respiração, pois tem o objetivo de permitir que a energia reprimida das emoções se propague
através da respiração, sem impedimentos ou bloqueios no corpo, para que assim a
musculatura se movimente e promova a espontaneidade e expressão dos sentimentos
reprimidos. (LOWEN, 1984, LOWEN, 2007).
De acordo com Elias (2009) Uma das maneiras que a Análise bioenergética utiliza
para liberar emoções reprimidas é que o indivíduo espontaneamente permita aumentar a
profundidade de sua respiração, construindo assim uma via ás camadas mais profundas de sua
mente, onde são guardados seus sentimentos mais reprimidos; Com isso acredita-se que
expandindo a respiração por consequência haverá uma expansão da consciência, sendo que o
oposto a isso, uma retraimento da respiração equivale a diminuição da consciência algo
concreto e verdadeiro. Desta maneira, expandir a respiração pode ser utilizada como uma
ferramenta psicoterápica para trazer conteúdos inconscientes para a consciência, uma vez que
a própria consciência é expandida no processo.
A redução da absorção de oxigênio faz com que as emoções fiquem sobre controle,
mas, por consequência desse controle, ocorre a redução da energia vital do indivíduo, a
recuperação da carga energética é de grande importância para que seja possível o desbloqueio
à expressão das emoções. Os nossos sentimentos alteram diretamente a forma como
respiramos, educar a nossa respiração pode alterar a maneira como sentimos as coisas, sendo
assim ouvir a respiração é uma arte, saber respirar é como poder escolher a música que mais
se aprecia ouvir. (VOLPI E VOLPI, 2003, ELIAS, 2009).

Tudo o que sentimos se expressa em nossa respiração, suspiros profundos de


felicidade, suspiro ternos de saudades, ares que tremem com o medo, ares que se
afogam no choro. Emoções e sentimentos se medem pelo movimento que o ar faz ao
dançar sobre a melodia que o corpo toca. Se a melodia é alegre, é calma, é forte, triste,
desesperadora, fará com que o ar dance de maneiras diferentes. Mas pode acontecer
também que a dança do ar, em coreografia estudada, em arte polida, solicite ao corpo
a melodia que lhe é mais adequada para a sua dança. (ELIAS, 2009).

Para Lowen (1984) um músculo contraído precisa de energia para se movimentar, com
isso estimular a respiração tem como objetivo abastece-lo de oxigênio, promovendo assim
seus processos metabólicos e permitindo o estiramento muscular, esse estiramento causa uma
vibração que possibilita o afrouxamento do movimento muscular. Afrouxar as couraças gera
vibrações por todo o corpo, liberta os movimentos profundos de respiração e permite que o
padrão típico disfuncional de respiração possa ser modificado.
Lowen (2007) nos diz que respirar profundamente é ter a oportunidade de sentir
profundamente, e que a respiração dá o poder de libertar sentimentos que foram e são
reprimidos durante a vida; Com isso a medida que as emoções são libertadas, as tensões
musculares deixam de ter um caráter de extrema defesa; com essas couraças sendo
desbloqueadas, a energia vegetativa permite a libertação dos sentimentos e memórias infantis
que podem ser a base da sintomática ou do transtorno que se apresenta. (BOADELLA, 1992,
VOLPI, 2003).
A respiração busca então a mobilização de energias que foram bloqueadas durante
toda a vida, é um meio de superar resistências, compreende que um desbloqueio acontece
utiliza-se da própria respiração e tem então consciência sobre ela. Um indivíduo que está em
processo psicoterapêutico, na maioria das vezes irá apresentar sintomas corporais, pois, na
psicoterapia corporal se mobiliza conteúdos que o indivíduo luta para manter escondidos,
fazendo com que a energia também se mobilize e se reflita também no corpo, o que
espontaneamente irá se perceber na alteração da respiração, isso faz parte de um
desenvolvimento natural na psicoterapia, que por consequência as somatizações irão diminuir,
assim como a própria ansiedade ao tornar a respiração mais regular, fluida e tranquila.
(BAKER1980).
A dificuldade de respirar de forma natural e plena é um dos principais obstáculos para
a recuperação da saúde emocional, estimular a respiração como inspirações mais profundas,
propõe ao individuo perceber como ele retrai suas emoções, assim como a reativar
sentimentos e sensações que estavam reprimidas por serem dolorosas e ameaçadoras. Contudo
só um simples movimento respiratório não é o suficiente para a restauração da espontaneidade
e do fluxo natural da energia no organismo, pois as técnicas representam uma forma de
controle que diverge do real objetivo, de deixar se levar pela respiração ao invés de realiza-la.
(VIEIRA, 2018, LOWEN, 1984).
É preciso, portanto, que se construa o reequilíbrio da energia emocional com a
respiração do individuo, sendo que uma emoção bloqueada, torna-se também um estresse
muscular, compete ao psicoterapeuta ajudar esse indivíduo a acessar e aceitar seus
sentimentos, suas emoções e sensações, permitindo que eles cheguem ao campo da ação. O
indivíduo irá perceber que pode se entregar aos sentimentos e controla-los, fortalecendo assim
a sua função egóica (BOADELLA, 1992, LOWEN, 1984).
Diante disso o setting terapêutico se mostra como um lugar seguro e de acolhimento,
onde o paciente pode se entregar genuinamente aos seus sentimentos e perceber que tem a
capacidade de apoderar-se de suas ações. Quando um paciente se permite a esse tipo de
vivencia, a tensão que controla seu padrão de contenção diminui e por consequência, ocorre
um aumento de energia no organismo e um aprofundamento natural da respiração. (VIEIRA,
2018).

Considerações finais

A ansiedade é uma emoção necessária para a sobrevivência do ser humano, contudo,


em excesso, torna-se perigosa ao afetar diretamente na vida, na rotina e nas atividades diárias
de um indivíduo de forma negativa, podendo trazer prejuízos duradouros. Quando então um
indivíduo se distancia de suas emoções, tornando-se automático em suas ações, ele não
consegue perceber que essas ações o predem em um ciclo como uma forma de defesa das
mágoas e medos que ele julga como prejudicial. Desta maneira o indivíduo tende a agir de
forma desproporcional ou anestesiada diante as situações cotidianas (ROMÃO E SILVA,
2018).
Quando a ansiedade surge, a musculatura se contrai como forma de defesa, com isso
ela se associa diretamente com a respiração já que a contração muscular dificulta a realização
completa do processo, sendo que uma respiração incorreta, que não mobiliza toda a expansão
pulmonar e do diafragma, não consegue atingir a capacidade máxima desses músculos
gerando angustia, Reich fala que dos sete segmentos descobertos, o ponto diafragmático é o
ponto relacionado a respiração e que precisa ser desbloqueado diante sua couraça de defesa
para o livre fluxo de energia (ROMÃO E SILVA, 2018, VERONESE,2008).
Como um instrumento da psicologia corporal, a respiração se torna um complemento
na busca do desbloqueio das tensões pelo corpo, com o objetivo de liberar o fluxo energético
para o movimento fluído do organismo, com isso estabelecer um padrão respiratório pleno e
único envolve todo o organismo como também sofre influencias do meio e das pessoas com
que se relaciona. Desta maneira a técnica de respiração tem como objetivo a restauração da
própria condição saudável de respiração, algo que muitos indivíduos tendem a não se entregar
por medo e angústia. A forma como a respiração poderá ser utilizada no processo
psicoterápico é única para cada pessoa e com o que se objetiva resolver, corrigindo assim
padrões disfuncionais e fragmentados do padrão de respiração. (BOADELLA, 1992).
É importante ressaltar o papel do terapeuta na conduta de um paciente ansioso, é
necessário que o psicoterapeuta tenha em mente que o setting é de extrema importância pois é
necessário um espaço onde o paciente se sinta acolhido, respeitado e seguro frente ao seu
medo, é então importante que se construa uma aliança de confiança entre terapeuta e paciente
para que a angustia e o medo no ambiente da terapia não se torne mais um fator que novas
situações de ansiedade.
É necessário que o terapeuta compreenda as limitações de seu paciente, acolha suas
angustias e medos, entenda como funciona suas defesas psicossomáticas nos momentos
ansiosos, para que comece a propor as técnicas respiratórias; É preciso então ter cuidado e
esperar o tempo, a necessidade do paciente aliado ao desenvolvimento da psicoterapia, pois
intervenções muito potentes, pode gerar cargas energéticas fortes demais para serem
controladas quando não se está preparado para este tipo de contato, o que pode piorar ainda
mais a situação e ter o efeito contrário do esperado.
Diante do apresentado conclui-se que a ansiedade é uma emoção importante para o ser
humano, pois, nela, há mecanismos que são necessários para a sobrevivência, como a
ampliação da consciência e alertas a perigos eminentes, contudo, quando episódios ansiosos
se tornam muito frequentes e começa a atrapalhar o fluxo vital durante o cotidiano a
ansiedade se torna combustível para o medo diante a vida, medo esse, que bloqueia
diretamente a respiração, que é uma função vital para sobrevivência como um meio de acesso
a sensações e sentimentos.
Por isso trabalhar na respiração significa entrar em contato com emoções que estão a
muito tempo reprimidas e que tendem criar ansiedade com a possibilidade de serem
externalizadas e com isso perderem o controle. A psicoterapia corporal vem então como uma
proposta de entrar em contato com corpo, e através das técnicas de respiração permitir que o
indivíduo entenda a razão de seus medos, compreenda-os e consiga entregar–se a essas
emoções, podendo vivencia-las e entendendo que pode ter controle sobre elas sem deixar suas
sensações de prazer de lado.

Referências Bibliográficas

BAKER, E.F. O labirinto Humano: causas do bloqueio da energia sexual. São Paulo:
Summus, 1980.
BAPTISTA, Américo; CARVALHO, Marina; LORY, Fátima. O medo, a ansiedade e as suas
perturbações. Psicologia, Lisboa, v.19, n.1-2, 2005. Disponível em
<http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S087420492005000100013&l
g=pt&nrm=iso> acesso em 15 jul. 2020.
BOADELLA, D. Correntes da vida: uma introdução á biossíntese. São Paulo: Summus,
1992.
CARVALHO, GD. Alterações comportamentais comuns na SRB. jan. 2000. acesso em
2020 Julh. 27. Disponível em: http:// www.ceaodontofono.com.br/artigos/art/2000/
jan00.htm.

ELIAS, Marco Teixeira. A fisiologia da respiração e o psiquismo humano. In:


ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO DE PSICOTERAPIAS
CORPORAIS, 2009, Curitiba Centro Reichiano, 2009. Disponível em:
www.centroreichiano.com.br/artigos_anais_congressos.htm Acesso em 14 jan. 2020.
FERNANDES,M.A,RIBEIRO,H.K,SANTOSJ.D.M,MONTEIRO,C.F.S,COSTA,R.S,SOARE
S,R.F.S. Prevalência dos transtornos de ansiedade como causa de afastamento de
trabalhadores. Rev. Brasileira de Enfermagem -REBEn. P344-51. Novembro, 2018.
GUYTON, AC. Tratado de fisiologia médica. 10ªed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan;
2002.

LOWEN, A. O prazer de estar cheio de vida. Prazer: uma abordagem criativa da vida. 6.ed.
Tradução de Ibanez de Carvalho Filho. São Paulo: Summus, 1984.
LOWEN, A. A espiritualidade do corpo: bioenergética para a beleza e harmonia. Tradução
de Paulo Cesar de Oliveira. 12.ed. São Paulo: Pensamento,2007.

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais– DSM-5. 5ªed. Porto Alegre: Artmed;
2014

MACHADO, Maria da Glória Rodrigues. Anatomia e função dos músculos respiratórios.


Bases da fisioterapia respiratória: terapia intensiva e reabilitação. p. 1-9. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2008.

MENEZES, V.A, TAVARES, R.L.O, GARCIA,A.F.G. Síndrome da respiração oral:


alterações clínicas e comportamentais. Arquivos em Odontologia. v 45, n03. Julho/Setembro
de 2009.

NAVARRO, F. Caracterologia Pós-Reichiana. São Paulo: Summus, 1995.

NAVARRO, F. Metodologia da Vegetoterapia Caractero- Analítica. São Paulo: Summus,


1996.

REICH, W. Análise do Caráter. São Paulo: Martins Fontes,1995

ROMÃO, J.F, SILVA, D.V.R. A ansiedade do corpo – um olhar reichiano. Psicologia –


Saberes e Práticas, n.2, v.1, p11-20,2018.
SEVERINO, A.J. Metodologia do trabalho científico. 23ed. São Paulo: Cortez,2007.
VERONESE, Liane. O bloqueio respiratório e suas consequências sobre a saúde
emocional. Curitiba: Centro Reichiano, 2008.
VIEIRA, Fabio Martins; VIEIRA, Andressa Santos; FERNANDES, Gisele Jacinta
Rodrigues Calegari; REICHOW, Jeverson Rogério Costa. A respiração como ferramenta de
intervenção da psicoterapia corporal. Psicologia Corporal. Curitiba: Centro Reichiano,
2018.

VOLPI, J. H. (2004) Somatização: a memória emocional ancorada no corpo. Curitiba:


Centro Reichiano. Recuperado em 14 de julho, 2020 de
http://www.centroreichiano.com.br/artigos/Artigos/VOLPI-Jose-Henrique Somatizacao-
amemoria-emocional.pdf.

VOLPI, J. H; VOLPI, S. M.. Reich: da vegetoterapia a descoberta da energia orgone.


Curitiba: Centro Reichiano, 2003.
WEST, John B. Fisiologia respiratória. 6.ed. Tradução de Dr. Constantinos D. Lambrinidis.
Barueri, SP: Editora Manole Ltda, 2002, 199 p.

Você também pode gostar