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Psicofisiologia
A psicofisiologia é uma disciplina que estuda a relação entre a atividade psicológica (como
pensamentos, emoções e comportamentos) e os processos fisiológicos do corpo. Ela
investiga como as funções do sistema nervoso, hormonal e outros sistemas do corpo estão
interligadas com as experiências mentais e comportamentais. Em resumo, a psicofisiologia
busca compreender como as atividades mentais influenciam as respostas físicas do
organismo e vice-versa. Essa interação é explorada através de técnicas de medição
fisiológica, como eletroencefalografia, eletromiografia, fotopletismografia, entre outras.
Interdependência corpo-mente
A interdependência corpo-mente refere-se à conexão intrínseca entre o corpo e a mente,
indicando que as atividades mentais e físicas influenciam-se mutuamente. Esta perspetiva
reconhece que estados emocionais, pensamentos e experiências mentais estão
intimamente ligados aos processos fisiológicos do corpo, destacando a inseparabilidade
entre as dimensões física e mental da experiência humana.
Inferência psicofisiológica e especificidade
Na psicofisiologia, a questão da inferência refere-se à habilidade de tirar conclusões sobre
estados mentais com base em medições fisiológicas. É o processo de deduzir significados
psicológicos a partir de respostas do corpo, como ritmo cardíaco ou atividade cerebral. A
inferência é essencial para conectar dados fisiológicos a experiências mentais, embora exija
precaução na interpretação dos resultados (as inferências na psicofisiologia são
frequentemente baseadas em correlações e associações, e nem sempre indicam causalidade
direta).
Mecanismos de habituação
Os mecanismos de habituação referem-se à diminuição da resposta a um estímulo após
uma exposição repetida a esse estímulo, quando não há mudanças significativas no
ambiente. Este fenómeno é uma forma de adaptação do organismo a estímulos constantes
e é observado em diversos contextos, incluindo psicofisiologia. Isso ocorre porque o sistema
nervoso se ajusta à presença contínua do estímulo, percebendo-o como menos relevante ou
ameaçador.
Exemplos: Se inicialmente notarmos o som de um relógio - tique-taque - numa sala
silenciosa, ao longo do tempo, o nosso cérebro pode habituar-se ao som, reduzindo a nossa
perceção do mesmo; quando entramos numa sala com um aroma específico, como o de
uma vela perfumada, a intensidade do cheiro pode diminuir à medida que permanecemos
no local, devido à habituação olfativa.
As relações entre elementos nos domínios psicológico e fisiológico não devem ser assumidas
como aplicáveis a todas as situações ou indivíduos. De facto, os elementos no domínio
psicológico são delimitados no método subtrativo1, em parte, ao manter constantes outros
processos que poderiam diferenciar as tarefas de comparação. Tal procedimento não é
exclusivo da psicofisiologia ou do método subtrativo, já que a maioria dos testes
psicológicos e médicos pode envolver a construção de contextos de avaliação específicos
para obter resultados interpretáveis. A interpretação de um teste de glicose no sangue, por
exemplo, pode basear-se na suposição de que o indivíduo esteve em jejum antes do início
do teste. Apenas sob esta circunstância é que a quantidade de glicose medida no sangue ao
longo do tempo pode ser utilizada para indicar a capacidade do corpo em regular o nível de
açúcar no sangue. Diz-se que a relação entre os dados fisiológicos e o construto teórico
tem uma gama limitada de validade, porque a relação é clara apenas em contextos de
1
O método subtrativo refere-se a uma abordagem utilizada em psicofisiologia para isolar e examinar um
processo específico, subtraindo ou eliminando outros processos que possam interferir nos resultados. Ao
empregar o método subtrativo, os pesquisadores procuram identificar as mudanças na atividade psicológica ou
fisiológica que são exclusivas de uma tarefa ou condição específica, ao subtrair as respostas registradas em uma
linha de base ou em uma condição de controlo. Por exemplo, se estiverem a estudar a atenção visual, os
pesquisadores podem utilizar o método subtrativo ao subtrair as respostas fisiológicas associadas a uma tarefa de
atenção geral (linha de base) das respostas durante uma tarefa que requer atenção visual específica. Dessa
forma, tentam isolar a contribuição única da atenção visual na resposta fisiológica, eliminando outros fatores
que poderiam influenciar os resultados.
avaliação específicos e bem definidos. A noção de gamas limitadas de validade, portanto,
levanta a possibilidade de que uma ampla gama de relações complexas entre fenómenos
psicológicos e fisiológicos possam ser especificáveis em formas mais simples e interpretáveis
dentro de contextos de avaliação específicos.
Tipos de relação psicofisiológica
Uma maneira útil de interpretar as potenciais relações entre eventos psicológicos e eventos
fisiológicos é considerar esses dois grupos de eventos como representantes de conjuntos
independentes (domínios), onde um conjunto é definido como uma coleção de elementos
que, em conjunto, são considerados um todo. Eventos psicológicos - variáveis conceituais
que representam aspetos funcionais de processos corporificados -, são concebidos como
constituindo um conjunto. Eventos fisiológicos (por exemplo, cérebro, endocrinológico) -
variáveis físicas empíricas -, são concebidos como constituindo outro conjunto. Assume-se
que todos os elementos no conjunto de eventos psicológicos têm algum referente
fisiológico - ou seja, a mente é vista como tendo um substrato físico. Este enquadramento
permite a especificação de cinco relações gerais que podem ser consideradas como
relacionando os elementos dentro do domínio de eventos psicológicos, e elementos dentro
do domínio de eventos fisiológicos:
Relação um-para-um, de modo a que um elemento no conjunto psicológico está
associado a um e apenas um elemento no conjunto fisiológico, e vice-versa.
Relação um-para-muitos, o que significa que um elemento no domínio psicológico
está associado a um subconjunto de elementos no domínio fisiológico.
Relação muitos-para-um, o que significa que dois ou mais elementos psicológicos
estão associados ao mesmo elemento fisiológico.
Relação muitos-para-muitos, o que significa que dois ou mais elementos
psicológicos estão associados ao mesmo (ou a uma sobreposição) subconjunto de
elementos no domínio fisiológico.
Relação nula, o que significa que não há associação entre um elemento no domínio
psicológico e um no domínio fisiológico.
Outcome (Resultado)
Uma operação psicológica (vários componentes) leva a uma alteração fisiológica num
determinado contexto.
Resultados Psicofisiológicos: um resultado é definido como uma relação muitos-para-um,
específica da situação (dependente do contexto) entre o domínio psicológico e o domínio
fisiológico. Estabelecer que uma resposta fisiológica varia como função de uma mudança
psicológica significa que estamos a lidar, no mínimo, com uma relação de resultado entre
esses elementos.
Note-se que este é frequentemente o primeiro atributo de uma relação psicofisiológica que
é estabelecido na prática laboratorial. Se a resposta fisiológica segue as mudanças no
evento psicológico independentemente de variadas situações (ou seja, tem a propriedade
de independência de contexto) ou se o perfil de resposta segue apenas as mudanças no
evento (ou seja, tem a propriedade de isomorfismo) não é normalmente abordado
inicialmente. Portanto, uma dada relação psicofisiológica pode parecer ser um resultado,
mas posteriormente ser identificada como um marcador à medida que a questão do
isomorfismo é examinada; uma relação que parece ser um resultado pode posteriormente
ser reclassificada como sendo um concomitante quando a gama de validade é examinada; e
uma relação que parece ser um marcador (ou concomitante) pode emergir como um
invariante ao estudar a generalizabilidade (ou isomorfismo) da relação. Esta progressão não
é problemática em termos de causar inferências erróneas, no entanto, porque, qualquer
inferência lógica baseada na suposição de que estamos a lidar com uma relação de
resultado aplica-se igualmente a relações psicofisiológicas de marcador, concomitante ou
invariante.
Concomitant (Concomitante)
Mera associação. Há relação entre os elementos, mas pode ser explicada por uma outra
variável.
Concomitantes Psicofisiológicos: um concomitante psicofisiológico (ou correlato), na sua
forma idealizada, é definido como uma relação muitos-para-um, transsituacional (ou seja,
independente do contexto) entre eventos abstratos psicológicos e fisiológicos. Ou seja, a
busca por concomitantes psicofisiológicos pressupõe que existe uma covariação
transsituacional entre elementos específicos nos domínios psicológico e fisiológico. A
suposição de um concomitante psicofisiológico é menos restritiva do que a suposição de
invariância, uma vez que não é necessária uma correspondência um-para-um, embora
quanto mais forte for a associação entre os elementos nos domínios psicológico e
fisiológico, mais informativa tenderá a ser a relação.
Marker (Indicador)
Muitas vezes é uma especificação/refinamento da relação de resultado. Um determinado
fenómeno psicológico pode ser preditor de uma alteração fisiológica num contexto
especifico (e vice-versa).
Marcadores Psicofisiológicos: na sua forma idealizada, um marcador psicofisiológico é
definido como uma relação um-para-um, específica da situação (ou seja, dependente do
contexto) entre eventos abstratos psicológicos e fisiológicos. A relação de marcador
psicofisiológico assume apenas que a ocorrência de um (normalmente uma resposta
fisiológica, um parâmetro de uma resposta ou um perfil de respostas) prevê a ocorrência do
outro (normalmente um evento psicológico) dentro de um determinado contexto. Assim, os
marcadores são caracterizados por gamas limitadas de validade. Tal relação pode refletir
uma ligação natural entre elementos psicológicos e fisiológicos numa situação de medição
específica, ou pode refletir uma associação artificialmente induzida (por exemplo,
condicionamento clássico) entre esses elementos. Importante notar que violações mínimas
de isomorfismo entre domínio psicológico e domínio fisiológico dentro de um dado contexto
de avaliação podem ainda assim produzir um marcador útil (embora imperfeito) quando
considerado em termos de probabilidades condicionais.
Invariant (Invariante)
Medida psicofisiológica estável independentemente do contexto.
Invariáveis Psicofisiológicos: a relação idealizada invariável refere-se a uma associação
isomórfica (um-para-um), independente do contexto (transsituacional). Dizer que existe
uma relação invariável, portanto, implica que: (i) um elemento específico no domínio
fisiológico está presente se e apenas se um elemento específico no domínio psicológico
estiver presente, (ii) o elemento específico no domínio psicológico está presente se e
apenas se o elemento correspondente no domínio fisiológico estiver presente, e (iii) a
relação entre psicológico e fisiológico preserva todas as operações aritméticas
(algebricamente) relevantes. Além disso, o estabelecimento de uma relação invariável entre
um par de elementos dos domínios psicológico e fisiológico fornece uma base sólida para
inferências psicofisiológicas. Infelizmente, as relações invariáveis são frequentemente
assumidas em vez de formalmente estabelecidas, o que conduz a inferências
psicofisiológicas erróneas e avanços teóricos vazios.
Libet, 1983
A experiência de Libet, conduzida em 1983, é uma pesquisa pioneira que abordou a relação
entre a preparação do cérebro para a ação (conhecida como "readiness potential"), o
movimento real e a vontade consciente de realizar essa ação. Benjamin Libet, um
neurocientista, realizou esta experiência para investigar o timing dos eventos neurais e da
consciência em torno do ato de tomar decisões e realizar ações motoras.
Metodologia:
1. Participantes foram instruídos a realizar um movimento simples, como flexionar o
pulso, sempre que sentissem a vontade de fazê-lo.
2. O "readiness potential" foi monitorizado através da atividade elétrica cerebral (EEG)
enquanto os participantes aguardavam a vontade de iniciar o movimento.
3. Os participantes foram também convidados a observar um relógio e indicar a
posição do ponteiro dos segundos quando percebessem a decisão de realizar o
movimento.
Principais Resultados:
1. O "readiness potential" começou a formar-se no cérebro antes de os participantes
relataram conscientemente a decisão de realizar o movimento.
2. Houve um intervalo de tempo significativo entre o início do "readiness potential" e o
momento em que os participantes relataram conscientemente a intenção de agir.
3. O movimento real ocorreu após a decisão consciente, mas o "readiness potential" já
estava em andamento.
Interpretação: Os resultados da experiência de Libet levantaram questões sobre o papel da
vontade consciente na tomada de decisões e na execução de movimentos. O "readiness
potential" antecipatório sugere que o cérebro inicia o processo de preparação para a ação
antes de a pessoa estar ciente da decisão de agir. Isso desafia as ideias tradicionais de que a
consciência desempenha um papel central no início do comportamento voluntário.
Embora a interpretação desses resultados seja debatida, a experiência de Libet influenciou
significativamente o campo da neurociência e filosofia da mente, estimulando discussões
sobre a natureza da livre vontade e a relação entre processos neurais inconscientes e a
experiência consciente.
O problema do acesso
O "problema do acesso" refere-se à questão fundamental de como temos acesso à nossa
própria experiência consciente e como percebemos os nossos próprios pensamentos e
decisões. Este problema destaca a complexidade da relação entre o que percebemos
conscientemente e os processos mentais subjacentes.
As experiências de Wegner, especialmente o conceito de "ilusão do controlo", estão
relacionadas com o "problema do acesso". Daniel Wegner conduziu experiências que
exploraram como as pessoas percebem o controlo sobre as suas ações e decisões. A "ilusão
do controlo" refere-se ao fenómeno em que as pessoas muitas vezes têm a sensação de
estarem no controlo de eventos ou resultados, mesmo quando não têm influência real
sobre eles.
Numa série de experiências, Wegner induziu situações em que os participantes acreditavam
erroneamente que tinham controlo sobre certos eventos, quando na verdade não o tinham.
Por exemplo, os participantes foram levados a acreditar que poderiam influenciar o
resultado de uma tarefa computacional quando, na realidade, a sua influência era mínima
ou nula.
Relacionando isto com o "problema do acesso", as experiências de Wegner destacam como
a nossa perceção do controlo pode não ser totalmente alinhada com os processos mentais
reais que ocorrem internamente. A ilusão do controlo sugere que, embora a experiência
consciente de controlo seja vivida, a relação entre essa experiência e os processos
subjacentes pode ser complexa e nem sempre precisamente compreendida pelos
indivíduos.
Em termos do "problema do acesso", o trabalho de Wegner destaca que a consciência que
temos sobre o nosso controlo pode ser influenciada por fatores psicológicos que nem
sempre correspondem à realidade objetiva dos processos mentais. Isto levanta questões
sobre a natureza da consciência e como interpretamos e percebemos os eventos internos
da mente.
A psicofisiologia oferece uma abordagem valiosa para contornar o "problema do acesso" ao
investigar as relações entre processos psicológicos e respostas fisiológicas. Ao analisar as
respostas do corpo, como atividade cerebral, ritmo cardíaco, eletrodermal, entre outros, os
psicofisiologistas podem obter informações objetivas sobre estados mentais e emocionais,
muitas vezes sem depender exclusivamente do autorrelato ou da consciência subjetiva do
indivíduo.
A utilização de métodos objetivos de medição fisiológica permite aos pesquisadores
obterem dados em tempo real sobre as reações do corpo em resposta a estímulos ou
eventos psicológicos. Por exemplo, ao estudar a resposta do sistema nervoso autónomo, é
possível observar mudanças na frequência cardíaca, na condutância da pele ou na atividade
eletroencefalográfica em momentos específicos.
Essa abordagem é particularmente útil ao lidar com o "problema do acesso" porque
contorna as limitações associadas ao auto reporte, uma vez que as pessoas podem não ter
total consciência ou acesso preciso aos seus processos internos. Ao invés disso, a
psicofisiologia permite uma investigação mais direta e objetiva das respostas do corpo,
fornecendo insights valiosos sobre estados mentais, emoções e processos cognitivos.
Técnicas em psicofisiologia
Em psicofisiologia, utilizam-se diversas técnicas para medir e analisar as respostas
fisiológicas associadas a processos psicológicos. Algumas das técnicas comuns incluem:
1. Eletroencefalografia (EEG): Regista a atividade elétrica do cérebro através de
eletrodos colocados no couro cabeludo, permitindo a análise de padrões de ondas
cerebrais associados a diferentes estados mentais.
2. Eletromiografia (EMG): Mede a atividade elétrica nos músculos, oferecendo insights
sobre a tensão muscular e padrões de contração, muitas vezes relacionados a
respostas emocionais.
3. Eletrocardiografia (ECG): Regista a atividade elétrica do coração, possibilitando a
avaliação de ritmo cardíaco, variabilidade e outras respostas cardíacas relacionadas
ao stress e emoções.
4. Resposta Eletrodérmica (EDA): Mede a condutância da pele, refletindo alterações na
atividade do sistema nervoso autónomo e sendo associada a respostas emocionais.
5. Imagem por Ressonância Magnética (fMRI): Permite a visualização de padrões de
atividade cerebral ao medir mudanças no fluxo sanguíneo, sendo útil para investigar
áreas específicas do cérebro envolvidas em diferentes tarefas ou emoções.
6. Monitorização da Frequência Cardíaca (HR): Regista o ritmo cardíaco, fornecendo
informações sobre a ativação do sistema cardiovascular em resposta a estímulos
psicológicos.
A questão da artificialidade do contexto surge devido à necessidade de realizar
experiências controladas em ambientes laboratoriais. Muitas vezes, os estímulos
apresentados nos estudos não replicam fielmente as complexidades da vida quotidiana,
levantando dúvidas sobre a generalização dos resultados para situações do mundo real. Os
investigadores enfrentam o desafio de equilibrar a necessidade de controle experimental
com a validade ecológica, buscando métodos que possam capturar respostas fisiológicas
relevantes em contextos mais naturais. Essa preocupação visa garantir que as descobertas
em psicofisiologia possam ser aplicadas e compreendidas em condições do mundo real.
Psicofisiologia do futuro
Smartwatches: a fotopletismografia (PPG) é uma técnica utilizada em psicofisiologia que
mede as variações no volume sanguíneo de determinada área do corpo através da deteção
da luz transmitida ou refletida pelos tecidos. Esta técnica é comumente aplicada na
monitorização da atividade cardiovascular periférica, como nos dedos ou lóbulos das
orelhas.
O funcionamento da PPG baseia-se na absorção da luz pelas células sanguíneas. Quando o
coração bombeia sangue para os vasos sanguíneos periféricos, ocorre um aumento no
volume sanguíneo na área monitorizada. Isso resulta em alterações na absorção de luz pelas
células sanguíneas, o que é detetado pelos sensores fotopletismográficos.
Normalmente, um feixe de luz é emitido através da pele e os sensores captam a luz
transmitida ou refletida pelos tecidos. As variações na quantidade de luz detetada estão
diretamente relacionadas às mudanças no volume de sangue na área monitorizada. A PPG é
frequentemente utilizada para avaliar a atividade cardiovascular, como a frequência
cardíaca e a variabilidade da frequência cardíaca, fornecendo informações importantes
sobre o sistema nervoso autónomo e as respostas emocionais.
Esta técnica é não invasiva e amplamente aplicada em estudos de psicofisiologia para
investigar respostas emocionais, regulação autonómica e outros fenómenos relacionados à
atividade cardiovascular.
Sistema Endócrino
A regulação/ativação do sistema endócrino é iniciada no cérebro (hipotálamo – pituitária –
órgão alvo): O cérebro, especificamente o hipotálamo e a pituitária, desempenha um papel
central na regulação e ativação do sistema endócrino. O hipotálamo envia sinais à pituitária,
que por sua vez libera hormonas para o sangue, afetando órgãos-alvo e regulando diversas
funções corporais.
Os eixos são neuroendócrinos: Os processos de comunicação entre o sistema nervoso e o
sistema endócrino são denominados "eixos neuroendócrinos". Estes eixos envolvem a
interação entre sinais neuronais do sistema nervoso e a libertação de hormonas, facilitando
a coordenação das respostas fisiológicas do corpo.
Função: O sistema endócrino é responsável pela regulação das funções corporais
através da produção e libertação de hormonas no sangue.
Órgãos Principais: As glândulas endócrinas, como a hipófise, a tiróide, as glândulas
suprarrenais e o pâncreas, produzem hormonas que afetam o crescimento, o
metabolismo, a função sexual, entre outros processos.
Comunicação: As hormonas circulam pelo sistema sanguíneo, afetando células-alvo
em diversos órgãos e tecidos, regulando assim as atividades do corpo.
Sistema Imunitário
Por diversas vias periféricas: o sistema imunitário atua através de múltiplas vias nos tecidos
periféricos do corpo, respondendo a ameaças e protegendo contra infeções. As células
imunitárias circulam no sangue e nos tecidos periféricos para detetar e combater invasores.
Barreira hemato-encefálica: refere-se à barreira protetora que separa o sistema circulatório
(sangue) do cérebro. Embora o cérebro seja um órgão vital, a barreira hemato-encefálica
limita a entrada de substâncias do sangue, protegendo-o de agentes patogénicos. O sistema
imunitário também desempenha um papel na proteção do cérebro, atuando de forma
coordenada e específica através desta barreira.
Função: O sistema imunitário é responsável pela defesa do corpo contra agentes
patogénicos, como bactérias, vírus e células cancerígenas, protegendo-o contra
doenças.
Componentes Principais: Inclui células como linfócitos, fagócitos e anticorpos, bem
como órgãos linfoides, como o baço e os gânglios linfáticos.
Resposta: Quando o sistema imunitário deteta a presença de um invasor,
desencadeia uma resposta imunitária, combatendo e eliminando os agentes
prejudiciais para manter a integridade do organismo.
SNC: comunicação
A comunicação neuronal é o processo através do qual as células nervosas, ou neurónios,
trocam informações no sistema nervoso. Este processo envolve a transmissão de sinais
elétricos e químicos entre os neurónios para permitir a comunicação eficaz dentro do
sistema nervoso.
A comunicação neuronal ocorre em três fases principais:
1. Receção do Sinal (Estímulo): Os neurónios recebem estímulos através de dendrites, as
ramificações das células nervosas. Estes estímulos podem ser sinais elétricos de outros
neurónios, substâncias químicas chamadas neurotransmissores ou estímulos externos,
como luz, som ou toque.
2. Transmissão do Sinal (Impulso Nervoso): Se o estímulo atinge um limiar crítico, o
neurónio gera um impulso nervoso. Este impulso viaja ao longo do axónio, uma fibra
longa do neurónio, na forma de uma onda elétrica chamada potencial de ação. O
impulso percorre o axónio até atingir as extremidades, chamadas terminações
sinápticas.
3. Transmissão Intercelular (Sinapse): Nas terminações sinápticas, o impulso nervoso
desencadeia a libertação de neurotransmissores, substâncias químicas que atravessam
a fenda sináptica (espaço entre neurónios) e se ligam aos recetores na membrana do
neurónio seguinte. Este processo converte o sinal elétrico de volta num sinal químico e
continua o processo de comunicação para o próximo neurónio.
O potencial de ação
Resumindo...
O primeiro passo da comunicação neuronal consiste em desenvolver um sinal elétrico – o
potencial de ação. O sinal elétrico é gerado no neurónio pré-sináptico e posteriormente
propagado pelo axónio. Chegando ao terminal a comunicação elétrica passa a comunicação
química (libertação de NT), o neurónio pós-sináptico recebe o NT e determina o que fazer
com essa comunicação.
Iões
Numa célula nervosa, o sinal elétrico é uma parte crucial da comunicação neuronal e
envolve uma complexa interação de iões - precisa de fonte de energia, tal como uma
bateria. Contrariamente a uma bateria, onde a energia é gerada quimicamente, no caso das
células nervosas, o potencial elétrico é mantido através das diferenças na concentração de
iões positivos e negativos entre o fluido intracelular e extracelular.
Dentro do neurónio, o fluido intracelular apresenta uma concentração maior de iões
negativos do que o fluido extracelular. Esta diferença é parcialmente atribuída à presença
de proteínas com carga negativa no interior do neurónio. Como resultado, a carga elétrica
no interior do neurónio é mais negativa em comparação com o fluído extracelular.
Este estado elétrico basal, conhecido como potencial de repouso, é de aproximadamente -
70mV (milivolts). Neste estado, a célula está preparada para responder a estímulos elétricos
adicionais que possam desencadear um potencial de ação.
Movimento iónico
Ao abordar o movimento iónico nas células nervosas, é fundamental compreender os
mecanismos subjacentes que governam este processo complexo. Dois princípios chave
explicam o movimento iónico: a difusão e a pressão electroestática.
A difusão refere-se ao movimento de partículas, neste caso, iões, de áreas de maior
concentração para áreas de menor concentração. Este processo ocorre de forma
espontânea, buscando atingir um equilíbrio. No contexto celular, os iões movem-se através
das membranas celulares em resposta às suas concentrações relativas no interior e no
exterior da célula (de onde está mais concentrado, para onde está menos).
Pressão Electroestática: A pressão electroestática envolve a interação entre partículas
carregadas eletricamente. Iões com a mesma carga tendem a repelir-se, enquanto iões com
cargas opostas são atraídos. Importante sublinhar que a pressão electroestática não é
apenas influenciada pelos iões em si, mas também pela carga do ambiente onde estão
presentes. No caso das células nervosas, o ambiente intracelular é mais negativo devido à
presença de proteínas carregadas negativamente no interior da célula.
É crucial compreender que tanto a difusão como a pressão electroestática desempenham
papéis essenciais na regulação do potencial de membrana e na transmissão de sinais
nervosos. Estes princípios ajudam a moldar o comportamento iónico nas células,
contribuindo para a dinâmica funcional do sistema nervoso.
Por difusão:
Os iões de potássio (K+) abandonam a célula.
Os iões de cloro (Cl-) entram na célula.
Os iões de sódio (K+) entram a célula.
Potencial de repouso
O potencial de repouso da membrana (PRM) corresponde à diferença de voltagem entre o
fluido intracelular e extracelular.
É relevante ter em mente que o fluido extracelular se assemelha a uma solução salina, com
uma maior concentração de iões Na⁺ (sódio) e Cl⁻ (cloreto), enquanto o fluido intracelular
apresenta uma concentração mais elevada de iões K⁺ (potássio).
Durante o estado de repouso, os transportadores de sódio-potássio (bombas)
desempenham um papel crucial. Estas bombas transportam ativamente 3 iões de Na⁺ para
fora da célula em troca de 2 iões de K⁺ que são empurrados para dentro, contra os
gradientes de concentração naturais. Esta ação desempenhada pelas bombas contribui para
manter uma diferença iónica significativa entre o interior e o exterior da célula. Essa
assimetria de iões é vital para estabelecer e manter o potencial de repouso, mantendo o
interior do neurónio mais negativo do que o exterior. Portanto, as bombas de sódio-
potássio são fundamentais na criação e sustentação do potencial de repouso da membrana,
sendo este um estado necessário para a pronta resposta a estímulos e a transmissão eficaz
de sinais nervosos.
Potencial de ação
Após atingir o potencial de repouso de membrana (PRM) -70mV, o neurónio aguarda um
estímulo, o qual pode gerar uma despolarização. Este processo ocorre quando há uma
alteração na voltagem da membrana, aproximando o interior e o exterior do neurónio,
resultando numa carga mais positiva no interior. Contudo, é importante destacar que, para
que ocorra um potencial de ação, a despolarização precisa ultrapassar um limiar crítico.
Se a despolarização for inferior a 5mV, não terá efeito significativo e o neurónio
permanecerá no estado de repouso. A partir de 5mV até 10mV, ocorre a ultrapassagem do
limiar do potencial de ação. Este é um ponto crucial, pois desencadeia a sequência de
eventos que culminam na geração do potencial de ação.
A ultrapassagem do limiar é o momento em que o neurónio responde ao estímulo com uma
resposta elétrica significativa. Este é o ponto de partida para a abertura dos canais iónicos, a
despolarização rápida, e a propagação do potencial de ação ao longo da membrana do
neurónio.
1 - Abertura dos canais de potássio (Na+) (sensíveis à voltagem); O sódio (k+) começa a sair
do neurónio.
2- Abertura dos canais de sódio (K+) -> potássio Na+ entra rapidamente para o interior do
neurónio.
3 – Os canais de sódio (K+) fecham.
4 – Os canais de potássio (Na+) fecham. Os canais de sódio começam gradualmente a abrir.
1 - Canais de Na+ abrem rapidamente; Na+ entra no neurónio e despolariza-o;
2 - Canais K+ abrem mais lentamente (ambos os canais são sensíveis à voltagem) e K+
começa a sair da célula;
3 - No pico do potencial de ação (PA), os canais de Na+ fecham e ficam refratários (não
voltam a abrir enquanto o neurónio não voltara ficar perto do valores do potencial de
repouso de membrana PRM);
4 - K+ continua a sair e começa a repolarizar a célula;
5-Canais K+ fecham, canais Na+ saem do período refratário (-50mV);
6 -Há um período de hiperpolarização em que apenas um estímulo muito forte pode iniciar
um novo PA.
O potencial de ação é um fenómeno "tudo ou nada" (ou ocorre ou não ocorre) com uma
amplitude fixa de 40mV e duração aproximada de 1ms.
A variação na codificação de informações ocorre através de dois mecanismos principais:
1. Variação na Frequência de Disparo (Firing Rate):
Estímulos mais fortes geram uma frequência de disparo alta, enquanto
estímulos mais fracos resultam numa frequência baixa.
Importante notar que existe um limite físico para a frequência, sendo o máximo
teórico cerca de 1000 potenciais de ação por segundo. Na prática, este número
pode atingir cerca de 800 potenciais de ação por segundo.
Assim, a variação na frequência de disparo proporciona uma gama de respostas
aos diferentes níveis de estímulo, permitindo que o sistema nervoso codifique
informações de acordo com a intensidade do estímulo recebido.
2. Variação no Número de Neurónios Ativos:
Quando o estímulo é mais forte, mais neurónios são recrutados para participar
no processo de transmissão da informação.
Este recrutamento de neurónios adicionais contribui para uma resposta mais
robusta e detalhada, ampliando a capacidade do sistema nervoso de discriminar
entre diferentes estímulos.
Assim, a combinação da variação na frequência de disparo e no número de neurónios ativos
permite que o sistema nervoso codifique informações de forma precisa e flexível, ajustando-
se dinamicamente aos diferentes contextos e exigências do ambiente.
2
Canais ionotrópicos são canais de iões que abrem diretamente em resposta à ligação de neurotransmissores,
permitindo a entrada rápida de iões na célula.
3
Metabotrópicos são recetores acoplados a proteínas G que, quando ativados pelos neurotransmissores, iniciam
uma cascata de eventos intracelulares mais lentos, levando eventualmente à abertura de canais iónicos ou a
outros efeitos celulares.
Esta entrada ou saída de iões resulta numa hiperpolarização da membrana pós-
sináptica, tornando-a mais negativa.
A hiperpolarização diminui a probabilidade de o neurónio pós-sináptico iniciar um
PA, pois afasta o potencial de membrana do limiar de excitação.
Tal como o EPSP, a forma e duração do IPSP podem variar, contribuindo para a
complexidade do processamento de informação no sistema nervoso.
Portanto, a interação dinâmica entre EPSPs e IPSPs regula a excitabilidade do neurónio pós-
sináptico, influenciando se este irá ou não gerar um potencial de ação em resposta aos
estímulos sinápticos.
Integração neuronal
Quando um neurónio recebe vários inputs, é necessário integrar essa informação para
decidir se irá gerar ou não um potencial de ação (PA).
EPSP Suficientemente Forte: Se a soma dos EPSPs provenientes de diferentes
sinapses alcança uma intensidade que ultrapassa o limiar de disparo do neurónio,
isso desencadeia imediatamente um potencial de ação.
IPSP Suficientemente Forte: Por outro lado, se a soma dos IPSPs for suficientemente
forte, pode inibir a possibilidade de gerar um potencial de ação. Nesse caso, seria
necessário um input excitatório de magnitude superior que ultrapassasse o limiar de
disparo para desencadear um PA.
Spatial Summation (Somação Espacial) refere-se à soma dos sinais provenientes de
diferentes locais na membrana pós-sináptica. Se múltiplos neurónios estão a enviar sinais
excitatórios (EPSPs) para o mesmo neurónio pós-sináptico, a soma destes sinais determinará
se um potencial de ação será gerado.
Temporal Summation (Somação Temporal) refere-se à soma de sinais que chegam ao longo
do tempo. Se um neurónio envia repetidamente sinais excitatórios num curto espaço de
tempo, os EPSPs podem acumular-se temporalmente. Se a soma destes sinais alcançar o
limiar de disparo, um potencial de ação pode ser desencadeado.
Assim, a integração neuronal envolve a avaliação conjunta dos sinais excitatórios (EPSPs) e
inibitórios (IPSPs) que o neurónio recebe, considerando tanto a origem espacial como a
temporal desses sinais. Este processo é crucial para a tomada de decisões neuronais e a
transmissão eficiente de informação no sistema nervoso.
EEG
Na atividade elétrica do cérebro registada pelo EEG, estamos a capturar o somatório dos
potenciais pós-sinápticos, não dos potenciais de ação. Os potenciais pós-sinápticos
referem-se às alterações no potencial elétrico de uma célula pós-sináptica em resposta à
ativação de recetores sinápticos pelo neurotransmissor. Essas mudanças são o resultado da
entrada ou saída de iões na membrana pós-sináptica, influenciando a polarização da célula.
Diferentemente dos potenciais de ação, que são eventos "tudo ou nada" que ocorrem
quando o limiar de disparo é atingido, os potenciais pós-sinápticos refletem as interações
mais graduais entre neurónios. No contexto do EEG, capturamos a soma desses potenciais
pós-sinápticos em populações de neurónios, proporcionando uma visão mais abrangente da
atividade elétrica do cérebro.
O sinal captado por 1 único elétrodo corresponde à atividade de milhares de neurónios e
permite o estudo da atividade cerebral em tempo real.
O EEG, ou eletroencefalograma, é uma técnica neurofisiológica que mede a atividade
elétrica do cérebro através da colocação de elétrodos no couro cabeludo. Esta técnica
fornece informações cruciais sobre diferentes aspetos da atividade cerebral, sendo valiosa
em pesquisas de psicofisiologia.
A análise de frequências cerebrais no EEG permite desdobrar a atividade cerebral em
diferentes bandas de frequência, como alfa, beta, delta e theta. Cada banda está associada
a estados específicos, como relaxamento, concentração ou sono, permitindo investigar
padrões de atividade cerebral relacionados a diferentes estados mentais.
Os potenciais evocados por eventos (ERPs) são respostas específicas do cérebro a estímulos
sensoriais, cognitivos ou motores. Ao registar esses ERPs no EEG, podemos analisar como o
cérebro processa informações em tempo real, fornecendo insights sobre perceção, atenção
e processos cognitivos.
Estudos de padrões oscilatórios no EEG concentram-se nas oscilações rítmicas da atividade
cerebral. Essas oscilações estão relacionadas a diferentes funções cognitivas, como a
memória e a aprendizagem. Ao examinar esses padrões, podemos compreender melhor a
dinâmica cerebral subjacente a várias atividades mentais.
A utilidade do EEG em psicofisiologia é vasta. Além de identificar padrões normais de
atividade cerebral, o EEG é crucial na deteção de alterações associadas a transtornos
neurológicos e psiquiátricos. Essa técnica oferece uma abordagem não invasiva e de alta
resolução temporal, sendo fundamental para investigar as complexas relações entre a
atividade cerebral e os processos mentais.
EEG: Registo
O primeiro EEG realizado em humanos foi concebido por Hans Berger em 1924, no seu filho
Klaus, que tinha 16 anos na época. Os registos resultantes revelaram padrões característicos
de ondas cerebrais. Berger identificou diferentes tipos de ondas, como as ondas alfa, beta,
delta e teta, contribuindo significativamente para a compreensão da atividade elétrica
cerebral.
Desde então, o registo do EEG evoluiu com avanços tecnológicos, mas a base do método
permanece a mesma.
O registo do EEG, com destaque para o sistema BrainVision, envolve vários procedimentos e
um setup laboratorial específico
Setup Laboratorial:
1. Preparação do Paciente: Antes do início do procedimento, o paciente deve estar
confortável e relaxado. O cabelo é geralmente afastado do couro cabeludo para
garantir um contato adequado dos elétrodos.
2. Colocação dos Elétrodos: Utiliza-se uma touca especial com elétrodos distribuídos
em pontos específicos do couro cabeludo. Esses elétrodos são conectados a um
amplificador para registar as variações elétricas cerebrais.
3. Conexão ao BrainVision: O sistema BrainVision, da empresa Brain Products
(https://brainvision.com), é utilizado para a aquisição e análise dos dados EEG. Os
elétrodos são conectados ao amplificador BrainVision, que por sua vez é ligado a um
computador para a gravação dos sinais.
Procedimentos Associados ao EEG:
1. Calibração: Antes da gravação, é feita uma calibração para garantir a precisão dos
dados. Essa etapa é crucial para mapear as respostas cerebrais de forma confiável.
2. Atividades Controladas: O paciente pode ser instruído a realizar diferentes
atividades durante o procedimento, como fechar os olhos, olhar para um ponto
específico ou realizar tarefas cognitivas. Essas atividades ajudam a mapear as
respostas cerebrais associadas a diferentes estados mentais.
3. Gravação e Análise: Os dados do EEG são então registrados enquanto o paciente
realiza as tarefas designadas. Após a coleta, os dados são transferidos para um
software de análise, onde padrões e características específicas são identificados.
O EEG com o sistema BrainVision é uma ferramenta valiosa em pesquisas neurocientíficas e
clínicas, proporcionando uma visão única sobre a atividade elétrica cerebral. O setup
laboratorial, incluindo a preparação do paciente e a utilização de equipamento
especializado, é fundamental para garantir a qualidade e a interpretabilidade dos resultados
obtidos.
EEG: Frequências cerebrais
O sinal do EEG pode ser decomposto em várias ondas através de uma transformação
matemática (Fourier):
Delta (1-3 Hz, dominante no sono)
Theta (3-8 Hz, sonolência, problemas de processamento)
Alfa (8-12 Hz, vigília, relaxamento)
Beta (12-30 Hz, alerta, processando a informação)
Gama (30+ Hz, atividade de curta duração, funções cognitivas superiores)
Aplicações EEG
O neurofeedback é uma técnica que utiliza a monitorização em tempo real da atividade
cerebral para fornecer informações visuais ou auditivas aos indivíduos, permitindo-lhes
autorregular a sua própria atividade cerebral.
No vídeo What is neurofeedback? Video game-like therapy being used to treat anxiety,
ADHD and more (https://www.youtube.com/watch?v=kcJVUMdPtGI), é destacada a
aplicação do neurofeedback para melhorar a concentração e reduzir os sintomas de TDAH
(Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). Utilizando elétrodos colocados no
couro cabeludo para registar a atividade cerebral, os participantes são incentivados a ajustar
os padrões de atividade cerebral, recebendo feedback visual e sonoro em tempo real. Esta
abordagem visa treinar o cérebro a adotar padrões mais desejáveis, melhorando assim a
atenção e a autorregulação.
O vídeo TRF NeurofeedbackForumwithBesselvan der Kolk, SebernFisher, andRuth Lanius
(https://www.youtube.com/watch?v=sQT9v02N2vk) explora como o neurofeedback pode
ser aplicado em contextos clínicos, incluindo o tratamento de condições como ansiedade,
depressão e transtorno do estresse pós-traumático (TEPT). Novamente, a monitorização da
atividade cerebral é usada para fornecer aos indivíduos feedback sobre os padrões neurais
associados a diferentes estados emocionais. Ao aprender a modificar esses padrões, os
participantes podem trabalhar na melhoria do seu bem-estar mental.
Em suma, o neurofeedback representa uma abordagem inovadora que capitaliza na
plasticidade cerebral, permitindo aos indivíduos influenciar a sua própria atividade neural
para promover mudanças positivas em vários domínios, desde a atenção até ao bem-estar
emocional.
SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO
Sistema Nervoso
4
A teoria polivagal de Stephen Porges propõe que o nervo vago, uma componente-chave do sistema nervoso
parassimpático, possui dois ramos diferentes (o ventral e o dorsal) que influenciam as respostas
comportamentais e emocionais. O ramo ventral promove a interação social e a calma, facilitando estados de
relaxamento e segurança, enquanto o ramo dorsal é ativado em situações de extrema ameaça, levando ao estado
de imobilização ou desmaio. Esta teoria oferece uma perspetiva sobre como o corpo regula o stress e o perigo,
enfatizando a importância da fisiologia na experiência e gestão das emoções, e tem implicações significativas
para entender e tratar traumas e distúrbios relacionados ao stress.
B1 (HMGB1), substâncias que são normalmente libertadas pelas células imunitárias em
resposta a infeções ou lesões.
Redução da Inflamação: A interação da acetilcolina com as células do sistema imunitário
através do receptor ACh pode levar à redução da inflamação, que é um componente crítico
da resposta imune mas, quando descontrolada, pode causar danos aos tecidos e contribuir
para doenças crónicas.
Ressalta-se a importância da psiconeuroimunologia – o estudo de como os processos
psicológicos podem afetar o funcionamento do sistema imunitário e, inversamente, como o
sistema imunitário pode influenciar o cérebro e o comportamento.
ATIVIDADE ELETRODÉRMICA
A Pele e a Atividade Eletrodérmica
Glândulas Sudoríparas
Suor na pele resulta do aumento de atividade das glândulas sudoríparas: existem
dois tipos principais de glândulas sudoríparas na pele, as écrinas e as apócrinas,
ambas reguladas pelo sistema nervoso autónomo e responsáveis pela produção de
suor.
Glândulas écrinas: são encontradas por toda a superfície do corpo, mas são
particularmente numerosas nas palmas das mãos, plantas dos pés e testa. Elas
desembocam diretamente na superfície da pele e são as principais responsáveis pela
termorregulação, ou seja, ajudam a manter a temperatura do corpo.
Glândulas apócrinas: são maiores e localizam-se principalmente nas axilas, na região
genital e nas mamas. Elas desembocam nos canais dos folículos pilosos e são
responsáveis por um suor mais viscoso, que contém proteínas e lípidos, e que pode
ser associado ao odor corporal uma vez que este suor é metabolizado por bactérias
na pele.
Composição e Função do Suor: O suor é composto principalmente por água e eletrólitos,
como sódio e cloro, o que o torna um excelente condutor elétrico. Ele atinge a superfície da
pele através de ductos que atravessam a epiderme.
Atividade Eletrodérmica: A atividade eletrodérmica (EDA), também conhecida como
resposta galvânica da pele, refere-se às variações na condutividade elétrica da pele em
resposta à ativação do sistema nervoso autónomo. As glândulas écrinas, sob controle
autonómico, são particularmente importantes para a EDA, pois a quantidade e composição
do suor que elas produzem alteram a resistência elétrica da pele. Assim, a EDA é usada
frequentemente como um indicador de excitação emocional ou cognitiva em pesquisa
psicológica e em aplicações clínicas. Alterações na EDA podem indicar mudanças na ativação
psicológica, como durante o stress, a ansiedade ou a deteção de estímulos significativos.
Atividade Eletrodérmica (EDA)
A EDA depende diretamente da atividade das glândulas écrinas: A EDA é uma medida
fisiológica que reflete a atividade do sistema nervoso autónomo simpático através das
variações na condutividade elétrica da pele. Estas variações estão intimamente ligadas à
ativação das glândulas écrinas, que, ao secretarem suor, alteram as propriedades elétricas
da superfície cutânea.
Sistema Nervoso Simpático e Glândulas Écrinas
Fibras simpáticas inervam as glândulas écrinas: O sistema nervoso simpático regula a
atividade das glândulas écrinas através de fibras nervosas que liberam acetilcolina, um
neurotransmissor que desencadeia a produção de suor.
Secreção de suor em resposta a diversos estímulos: As glândulas écrinas respondem a
estímulos emocionais, esforço cognitivo e alterações térmicas, produzindo suor. Estudos
como o de Dawson et al., 2016, evidenciam que a resposta das glândulas écrinas pode
ser específica a determinados tipos de stress ou estímulos, sendo utilizada para avaliar a
reação emocional e cognitiva em diferentes contextos.
Condução Elétrica e Medição da EDA
O suor ao revestir a superfície da pele aumenta a condutividade elétrica: Quando o
suor, que contém eletrólitos, alcança a superfície da pele, diminui a resistência e
aumenta a condutividade da pele, o que pode ser medido como EDA. Isto torna a EDA
um biomarcador útil para a avaliação de respostas emocionais e fisiológicas.
'Determinante para as medições de EAD': A quantidade de suor e a frequência com que
é secretado pelas glândulas écrinas são fatores determinantes para as medições de EDA,
pois influenciam diretamente a amplitude e a variação das leituras de condutividade ou
resistência da pele.
A compreensão desta relação é fundamental na psicofisiologia, pois a EDA é
frequentemente utilizada como uma medida objetiva da ativação autonómica simpática,
fornecendo insights valiosos sobre o estado psicológico dos indivíduos em pesquisa e em
aplicações clínicas. Ao medir a EDA, os psicólogos podem obter uma janela para o
funcionamento autonómico de uma pessoa em resposta a estímulos específicos, o que é
particularmente útil em estudos de ansiedade, fobias, atenção e muitos outros domínios da
psicologia.
Atividade Eletrodérmica
O que mede a EDA?
Mudanças nas propriedades elétricas da pele: A EDA é uma medida das variações na
resistência elétrica da pele, que é influenciada pela quantidade de suor presente na
superfície da pele. A transpiração aumenta a condutividade da pele, uma vez que o suor
é um bom condutor de eletricidade devido aos seus eletrólitos.
Atividade das glândulas sudoríparas da derme: Estas glândulas, que produzem o suor,
são especialmente ativadas pelo sistema nervoso simpático, parte do sistema nervoso
autónomo que gere as respostas involuntárias do corpo.
Implicações da EDA
Controladas pelo Sistema Nervoso Simpático: A EDA reflete a atividade do sistema
nervoso simpático. Quando o sistema nervoso simpático é estimulado, ele desencadeia
as glândulas sudoríparas a produzir suor, que por sua vez altera a condutividade elétrica
da pele.
EDA parece refletir mudanças na atividade do sistema nervoso simpático em resposta
a estímulos internos ou externos: Estímulos emocionais, cognitivos ou de stress podem
provocar a ativação do sistema nervoso simpático, que é captada como um aumento na
EDA. Estes estímulos podem ser pensamentos, lembranças, sensações físicas ou eventos
do ambiente externo.
EDA é uma medida de arousal ou ativação fisiológica: O termo 'arousal' refere-se ao
nível de vigília ou excitação do sistema nervoso. A EDA é uma maneira objetiva de medir
essa ativação, o que a torna uma ferramenta valiosa em pesquisa e diagnóstico em
psicologia.
Relação com o Sistema Nervoso Simpático: SN Simpático está envolvido na ativação
fisiológica e resposta fight or flight: A resposta 'fight or flight' (luta ou fuga) é uma reação
ao perigo ou ameaça, que prepara o corpo para enfrentar ou fugir da fonte do perigo. A EDA
é uma das maneiras de medir a intensidade dessa resposta.
Em resumo, a EDA é uma ferramenta importante em psicofisiologia porque oferece uma
janela para entender como o corpo responde a estímulos variados, refletindo diretamente a
atividade do sistema nervoso simpático. Ao medir a EDA, podemos obter insights sobre a
resposta emocional e fisiológica de uma pessoa, que é crucial em várias áreas da psicologia,
incluindo pesquisa de emoção, avaliação do estresse e diagnóstico de distúrbios
relacionados à ansiedade.
Em síntese, enquanto a EDA é uma ferramenta valiosa para medir o arousal fisiológico, é
essencial compreender as suas limitações, incluindo a sua incapacidade de distinguir entre
diferentes tipos de estímulos emocionais e a falta de informação sobre os processos
cognitivos subjacentes. Em psicofisiologia, deve-se utilizar a EDA em combinação com outras
medidas para obter uma compreensão mais completa do estado emocional e cognitivo de
uma pessoa.
Ao discutir este slide em uma aula, enfatizaria a importância da metodologia correta no uso
da EDA para garantir dados precisos e confiáveis. A escolha da mão não-dominante e o
cuidado no posicionamento dos eletrodos ajudam a reduzir artefatos que podem
comprometer a qualidade dos dados. Também destacaria que o uso de uma corrente tão
baixa é um exemplo de como a psicofisiologia utiliza métodos não invasivos para investigar
a interação entre processos fisiológicos e psicológicos.
Em resumo, o slide ilustra como a atividade eletrodérmica varia entre indivíduos e ao longo
do tempo, e como podemos decompor uma resposta eletrodérmica em componentes
distintos que fornecem informações sobre a reatividade do sistema nervoso autónomo. Na
aula, discutiríamos como estes componentes podem ser influenciados por fatores
psicológicos e como são utilizados na pesquisa para entender a relação entre estímulos
ambientais ou psicológicos e respostas fisiológicas.
Vantagens
Medida Relativamente Direta do SNS: A EDA é considerada uma das medidas mais
diretas da atividade do SNS, pois as glândulas écrinas são inervadas apenas pelo SNS.
Isso significa que a atividade das glândulas écrinas e, por conseguinte, as variações na
condutividade da pele estão diretamente relacionadas à atividade simpática.
Atividade das Glândulas Écrinas: As glândulas écrinas, ao serem ativadas pelo SNS,
aumentam a produção de suor, o que aumenta a condutividade da pele,
proporcionando uma base fisiológica clara para medir a reação ao estímulo.
Fácil Determinação de Resposta a Estímulos Discretos: A EDA é particularmente eficaz
para medir respostas a estímulos específicos, o que permite aos pesquisadores
determinar a resposta a eventos pontuais.
Desvantagens
Resposta Lenta (1 a 3 segundos): As respostas eletrodérmicas têm uma latência; não
são instantâneas. Isto pode ser uma limitação em situações onde é necessária a medição
de reações muito rápidas.
Não Específica de Verificação: A EDA é sensível a vários processos e não é específica
para uma única resposta ou emoção. Várias condições podem causar um aumento na
condutividade da pele, incluindo, mas não limitadas a stress, excitação, ou mesmo
alterações ambientais como a temperatura.
Precisa de Complemento: Devido à sua natureza não específica, a EDA muitas vezes
precisa ser usada em conjunto com outras medidas para uma interpretação mais precisa
dos dados. Isso pode incluir medidas de frequência cardíaca, expressão facial, e relatos
subjetivos para compreender completamente a reação do indivíduo.
Ao discutir este slide numa aula, ressaltaria a importância da EDA para a psicofisiologia, com
uma ênfase na sua utilidade e limitações. A compreensão de quando e como utilizar a EDA
pode ajudar os investigadores a projetar estudos que aproveitem as suas vantagens e
compensem suas desvantagens, obtendo assim dados mais ricos e interpretações mais
precisas das respostas autonómicas.
Psicopatia
O conceito de psicopatia, conforme definido por Hare em 2003, inclui várias facetas:
Interpessoal: Características como egocentrismo, manipulação e engano são comuns em
indivíduos psicopatas. Eles podem utilizar estas táticas para beneficiar-se às custas de
outros, sem consideração pelos sentimentos ou bem-estar dessas pessoas.
Afetivo: Psicopatas frequentemente exibem frieza emocional, falta de empatia, e uma
ausência de culpa ou remorso. Esta frieza emocional significa que eles podem cometer
atos prejudiciais sem se sentirem afetados pelos impactos emocionais de suas ações.
Comportamental: Impulsividade e irresponsabilidade são traços típicos, juntamente
com um padrão de comportamento não-ético e antissocial. Estas características podem
manifestar-se em comportamentos de risco, desrespeito pelas normas sociais e leis, e
uma tendência para a criminalidade.
Atividade Eletrodérmica (EDA) e Psicopatia
Informações Obtidas pela EDA
Resposta Emocional: A EDA pode indicar uma resposta emocional autonómica. Em
psicopatas, poderíamos esperar uma resposta atenuada à EDA quando confrontados
com estímulos que normalmente provocariam uma resposta emocional significativa em
pessoas não psicopatas.
Arousal: A EDA pode ser utilizada para medir o arousal. Psicopatas podem mostrar
níveis de arousal diferentes do esperado em situações que seriam consideradas
estressantes ou emocionalmente carregadas para outras pessoas.
Atenção e Processamento de Estímulos: Psicopatas podem apresentar uma atenção
seletiva e uma forma diferenciada de processar estímulos emocionais, o que poderia ser
refletido nas medidas de EDA.
Implicações Clínicas e de Pesquisa
Avaliação Clínica: As medidas de EDA podem complementar a avaliação psicológica e
psiquiátrica de indivíduos com traços psicopáticos, ajudando a entender a extensão da
sua resposta emocional e arousal.
Pesquisa: Na pesquisa, a EDA pode ser usada para explorar as bases fisiológicas da
psicopatia e para entender como os psicopatas respondem a estímulos emocionais e
sociais.
Ao discutir este slide numa aula de psicofisiologia, ressaltaria a utilidade da EDA como uma
ferramenta objetiva para avaliar respostas fisiológicas que podem estar ligadas a
constructos clínicos complexos como a psicopatia. Isto poderia abrir caminho para uma
discussão sobre o valor da psicofisiologia em fornecer medidas concretas para fenómenos
que são tipicamente abstratos e desafiadores de quantificar.
Psicopatia: Adultos
Grupos de Participantes
NP = não psicopatas
C = controlo
P = psicopatas
Os grupos consistem em indivíduos diagnosticados como psicopatas (P), um grupo controle
(C) composto por indivíduos sem psicopatia, e um grupo de não psicopatas (NP), que pode
ser um grupo com alguma outra condição clínica.
Procedimento do Estudo - Informação aos participantes: Os participantes foram
informados de que receberiam um choque quando um determinado número (neste caso, o
número 8) aparecesse no ecrã.
Resultados de EDA
Respostas de EDA: Os gráficos mostram as respostas de EDA durante dois ensaios
diferentes, o Trial 2 e o Trial 6. Estas respostas são medidas de condutância da pele e
refletem a reação fisiológica dos participantes ao estímulo (neste caso, o aviso do
choque).
Consistência com aspetos teóricos da psicopatia:
Redução do medo: Os psicopatas (P) mostraram uma menor resposta de EDA em
antecipação ao choque, sugerindo uma redução na reação de medo ou
ansiedade que tipicamente acompanha a antecipação de um estímulo doloroso.
Insensibilidade à punição: A resposta atenuada também é consistente com
teorias que sugerem que os psicopatas têm uma insensibilidade geral à punição,
o que pode explicar alguns dos seus comportamentos antissociais.
Interpretação dos Gráficos - Variação da EDA ao longo dos Ensaios: Os gráficos indicam
uma tendência à habituação nos grupos C e NP ao longo dos ensaios, onde a reação inicial
forte à antecipação de um choque diminui com o tempo. No entanto, o grupo dos
psicopatas (P) mostra uma reação atenuada desde o início, o que implica uma reatividade
emocional menor.
Discussão em Aula
Ao discutir este slide numa aula de psicofisiologia, realçaria a relevância de utilizar a EDA
como uma ferramenta objetiva para avaliar as diferenças na reação emocional entre
psicopatas e não psicopatas. Este estudo de Hare é um exemplo clássico de como as
medições fisiológicas podem fornecer insights sobre as características subjacentes da
psicopatia, que podem não ser evidentes através da observação comportamental ou auto-
relato. A EDA, neste contexto, fornece uma janela para os processos autonómicos que são
fundamentais para as reações emocionais e de stress, e é particularmente valiosa porque as
respostas são involuntárias e não podem ser facilmente falsificadas ou controladas
conscientemente.
Robert D. Hare na década de 1980, o PCL-R é composto por uma lista de 20 itens que abrangem aspectos
interpessoais, afetivos, de estilo de vida e antissociais associados à psicopatia. Cada item é pontuado numa
escala de 3 pontos (0, 1, 2) com base na correspondência do comportamento e características do indivíduo em
relação aos critérios estabelecidos para cada item.
A pontuação total pode variar de 0 a 40, e pontuações acima de um determinado limiar (geralmente 30 nos
Estados Unidos e 25 em alguns outros países) são utilizadas para indicar a presença de psicopatia. O PCL-R é
reconhecido por sua robustez e precisão diagnóstica, mas seu uso requer treinamento especializado e é
frequentemente acompanhado de uma avaliação abrangente que inclui entrevistas detalhadas e revisão de
registros do indivíduo.
Prazerosos: Estímulos sonoros que geralmente evocam sentimentos positivos, como
risos de bebé e gemidos eróticos.
Neutros: Sons sem uma carga emocional significativa, como escovação e galinhas.
Aversivos: Sons que são típicos de situações negativas ou que evocam desconforto,
como o choro de um bebé ou gritos de pessoas a serem atacadas.
Resposta à EDA Baseada no Fator 1 do PCL-R - Low Factor 1 vs High Factor 1: O estudo
compara indivíduos com baixa e alta pontuação no Fator 1 do PCL-R, que mede traços
interpessoais e afetivos, como frieza e falta de empatia. O Fator 1 é considerado uma
medida dos traços emocionais e interpessoais da psicopatia.
Resultados do Estudo
Indivíduos com pontuação alta no Fator 1 têm pouca condutância dérmica: O gráfico
mostra que adultos reclusos com pontuação alta no Fator 1 do PCL-R apresentaram
menores variações de EDA em resposta a estímulos emocionais, independentemente da
sua valência. Isso sugere que esses indivíduos têm uma reatividade emocional e
fisiológica atenuada.
Sem diferenciação da valência dos estímulos: Notavelmente, o padrão de resposta da
EDA nesses indivíduos com alta pontuação no Fator 1 não varia significativamente entre
estímulos prazerosos, neutros e aversivos, o que está em contraste com o esperado na
população geral, onde a EDA tende a ser maior em resposta a estímulos
emocionalmente carregados, particularmente os aversivos.
Discussão em Aula
Durante a aula, poderia ser discutido como a EDA pode ser uma ferramenta útil para
entender como indivíduos com traços psicopáticos processam estímulos emocionais. O
padrão atenuado de resposta sugere que características psicopáticas podem estar
ligadas a um funcionamento diferenciado do sistema nervoso autónomo.
Seria importante explorar as implicações destes achados, tanto do ponto de vista clínico
(na avaliação e tratamento de indivíduos com psicopatia) quanto do ponto de vista
forense (na avaliação de risco e na gestão de reclusos).
Além disso, poderia ser relevante abordar limitações e considerações éticas na
interpretação de dados de EDA, especialmente em contextos sensíveis como o sistema
penal, onde tais medidas podem ser usadas para informar decisões sobre tratamento e
liberdade condicional.
Dindo & Fowles, 2011
Participantes - Os participantes do estudo foram alunos de psicologia, presumivelmente não
clínicos.
Stress Social
Foi encontrada uma correlação positiva entre o Fator 2 da psicopatia e a resposta de
condutância da pele (SCR). O Fator 2 da psicopatia inclui traços de estilo de vida
impulsivo e irresponsabilidade, que parecem estar relacionados com uma maior
resposta ao stress social.
Sem associação com o Fator 1: O Fator 1, que engloba traços afetivos e interpessoais
como frieza e falta de empatia, não mostrou uma associação significativa com a SCR,
indicando que os indivíduos com pontuação mais alta no Fator 1 podem não apresentar
um aumento na resposta eletrodérmica durante o stress social.
Antecipação do Ruído Aversivo
Foi observada uma correlação negativa entre o Fator 1 e a SCR quando os participantes
antecipavam um ruído aversivo, o que está alinhado com a ideia de que o Fator 1 está
associado a uma reatividade defensiva reduzida.
Fator 2 sem associação com SCR: O Fator 2 não mostrou uma ligação clara com a SCR
neste contexto, sugerindo que os traços associados ao Fator 2 podem não influenciar a
resposta autonómica à antecipação de um estímulo negativo como um ruído alto.
Benning et al., 2005
População Normal e Resposta a Imagens
SCR a imagens: O estudo investigou a resposta de condutância da pele a imagens com
diferentes valências emocionais - prazerosas, neutras e aversivas - em uma amostra da
população normal.
Resultados da EDA: Os resultados mostram padrões de resposta variáveis, com algumas
indicações de que a resposta eletrodérmica pode diferir dependendo da valência da
imagem e, possivelmente, dos níveis de traços psicopáticos presentes na população
normal.
Fatores de Psicopatia e EDA
Fator 1 – pouca reatividade defensiva: Indivíduos com pontuações mais altas no Fator 1
tendem a mostrar menos reatividade autonómica em situações percebidas como
ameaçadoras.
Fator 2 – elevada reatividade ao stress social: Contrariamente, pontuações mais altas
no Fator 2 parecem estar associadas a uma maior reatividade a situações de stress
social.
Discussão em Aula
Na aula, seria pertinente discutir como os resultados destes estudos podem informar
sobre a complexidade da relação entre psicopatia e reatividade autonómica,
especialmente em populações não clínicas.
Poderia ser discutido o significado dos Fatores 1 e 2 da psicopatia e como eles podem
influenciar a resposta autonómica em diferentes situações.
Os gráficos dos estudos oferecem uma oportunidade para explorar a interpretação de
dados psicofisiológicos e como eles podem refletir diferenças individuais nos processos
emocionais e de regulação do stress.
Finalmente, a aula poderia abordar as implicações destes achados para a compreensão
do comportamento antissocial e para o desenvolvimento de estratégias de avaliação e
intervenção.
Discussão em Aula
Durante a aula, seria valioso discutir:
A natureza da EDA como uma ferramenta de medição: Como ela pode refletir o
funcionamento do sistema nervoso autónomo, particularmente o sistema nervoso
simpático, que está envolvido nas reações emocionais e de stress.
A importância da idade na pesquisa de psicopatia: O desenvolvimento de traços
psicopáticos pode começar na adolescência, e a identificação precoce desses traços
poderia ser crucial para intervenções.
Interpretação dos dados de EDA: Como interpretar a EDA reduzida em resposta a
condições antecipatórias e sinalizadas, e o que isso pode revelar sobre a regulação
emocional em adolescentes com traços psicopáticos.
Implicações para prática clínica e políticas de saúde mental: O potencial uso da EDA e
outras medidas fisiológicas na avaliação de risco e no desenvolvimento de estratégias de
prevenção e tratamento.
Este estudo realça o potencial da EDA como um biomarcador precoce de predisposição para
a psicopatia, e o valor de estudar estas medidas em populações jovens para entender
melhor a etiologia da psicopatia.
Discussão em Aula
Significado de EDA reduzida: Seria essencial discutir o significado da resposta reduzida
de EDA em crianças agressivas e como isso pode ser um indicador precoce de
desenvolvimento emocional atípico e de futuros traços psicopáticos.
Desenvolvimento emocional na infância: A aula poderia explorar como o
desenvolvimento emocional durante a infância está ligado à reatividade autonómica e
como isso pode impactar o comportamento a longo prazo.
Implicações para intervenção precoce: Também seria importante abordar como esses
achados podem influenciar intervenções precoces para crianças em risco, com o objetivo
de promover melhores resultados de saúde mental.
Importância de EDA como medida fisiológica: Seria valioso discutir a importância da
EDA como uma medida objetiva na pesquisa de psicofisiologia e o seu papel em estudos
longitudinais para acompanhar o desenvolvimento de traços comportamentais ao longo
do tempo.
Em suma, a EDA fornece um meio valioso para pesquisar a associação entre reatividade
autonómica e comportamento agressivo/psicopático em crianças, podendo eventualmente
ajudar a identificar indivíduos em risco e desenvolver estratégias preventivas ou
terapêuticas mais eficazes.
ELECTROCARDIOGRAMA
Componente prática
https://www.youtube.com/watch?v=MXJGihmIkko
Flowly – projeto apoiado pela NIH (National Institute of Health)