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RESUMO
Pretendeu-se nesse estudo trazer para discussão o tema da espiritualidade, no contexto clínico,
por psicoterapeutas corporais. Para isso foi preciso investigar como esse tema tem transitado
na literatura e nos eventos promovidos pelas mais diversas escolas de psicoterapia corporal;
avaliar se existem diretrizes, do ponto de vista ético, que orientam os psicoterapeutas
corporais a tratarem deste tema nos seus atendimentos; realizar levantamento na área corporal
para averiguar se existem relatos de intervenções na literatura. O método utilizado foi revisão
de literatura, tanto de obras clássicas quanto de artigos científicos, além de uma vasta
pesquisa nos sites nacionais das diferentes escolas de psicoterapia corporal. Os resultados
apontaram as construções teóricas desenvolvidas, apenas dois artigos foram encontrados nos
sites especializados e um evento em específico abordou o tema. Não existem diretrizes éticas
referentes a essa temática e as construções teóricas permitiram uma discussão rica sobre o
assunto. A conclusão foi de que é pouca a quantidade de produções e de eventos que se
dedicam à espiritualidade na comunidade psicorporal, o que não impossibilitou uma rica
argumentação e problematização sobre.
PALAVRAS-CHAVE: Psicoterapia Corporal. Espiritualidade, Grounding.
INTRODUÇÃO
O tema a ser tratado neste artigo científico é o da espiritualidade. Esse é um tema caro
para a autora desde o período da sua graduação em Psicologia quando sugiram inquietações
de como a ciência psicológica abordava essa questão e sobretudo desde a sua participação na
fundação da LIASE (Liga Acadêmica de Saúde e Espiritualidade) da Universidade Estadual
do Piauí, em 2012. De lá até aqui tem debruçado sobre esse campo de saber.
Várias evidências apontam para a necessidade de serem ampliadas as discussões
referentes à relação entre psicologia e espiritualidade (FARINASSO, 2011) já que esta
desempenha sua importância na vida das pessoas e também em virtude de a Psicologia ter
singular atuação no resgate da subjetividade e integração de todas as dimensões humanas.
No campo semântico deste tipo de estudo é fundamental que religião, religiosidade e
espiritualidade sejam diferenciadas. A primeira, tem a ver com aspectos doutrinários e
institucionais, é definida por ritos e rituais (OLIVEIRA & JUNGES, 2012), a segunda refere-
1
Bacharel em Psicologia pela Universidade Estadual do Piauí (2016), pós graduanda em Psicoterapia Corporal
pela faculdade CENSUPEG, mestranda em Sociologia pela Universidade Federal do Piauí. E-mail:
laizapaulino@hotmail.com
se à experiência pessoal e única da religião. (PINTO, 2009) e a concepção geral de
espiritualidade seria uma forma de um indivíduo buscar e dar sentido ou significado à vida
dele a partir de uma sensação de conexão com um princípio transcendente. (PAIVA, 2011;
PERES, 2007).
A motivação para a escolha desse tema se deu a partir do interesse em descobrir como
as diferentes escolas de psicoterapia corporal têm abordado o abordado e a partir dos
resultados incentivar produções científicas nesse campo de estudo. É fundamental o
engajamento dos psicoterapeutas corporais comprovarem os sólidos fundamentos de suas
práticas, de forma a modernizarem suas pesquisas na neurobiologia e psicofisiologia
(TONELLA, 2007)
A partir disso o objetivo geral deste artigo científico é trazer para discussão o tema da
espiritualidade, no contexto clínico, por psicoterapeutas corporais e os objetivos específicos
são: 1. Investigar como esse tema tem transitado na literatura e nos eventos promovidos pelas
mais diversas escolas de psicoterapia corporal; 2. Avaliar se existem diretrizes, do ponto de
vista ético, que orientam os psicoterapeutas corporais a tratarem deste tema nos seus
atendimentos; 3. Realizar levantamento na área corporal para averiguar se existem relatos de
intervenções na literatura.
Este trabalho está organizado da seguinte forma: Introdução: na qual são apresentados
o tema, o interesse no assunto, a justificativa e os objetivos; Metodologia: momento em que é
falado sobre qual a metodologia empregada; Nos Resultados são apresentados os principais
conceitos e construções encontrados na literatura acerca do tema. Esta sessão está subdividida
em três tópicos: “a espiritualidade do Corpo (Alexander Lowen)”, “a espiritualidade para a
Biossíntese” e, por fim “artigos publicados e eventos da Psicologia Corporal que contemplem
o tema da espiritualidade”. Na sequência têm-se a Discussão, as Considerações finais e as
Referências Bibliográficas.
METODOLOGIA
A metodologia adotada foi a revisão de literatura, do tipo narrativa. “Esta técnica não
utiliza critérios explícitos e sistemáticos para a busca e análise crítica da literatura. A busca
pelos estudos não precisa esgotar as fontes de informações. Não aplica estratégias de buscas
sofisticadas e exaustivas” (MATTOS, 2015, p.02)
Recorreu-se tanto aos clássicos das diferentes escolas de psicoterapia corporal que
tratam do tema, quanto a artigos científicos publicados em sites brasileiros especializados em
na área. “Espiritualidade” foi o descritor utilizado para selecionar os textos da internet.
Os sites visitados foram os seguintes: 1.Federação Latino Americana em Análise
Bioenergética (FLAAB), 2.Sociedade Brasileira de Análise Bioenergética (SOBAB),
3.Instituto de Biossíntese de São Paulo, 4.Centro Reichiano, 5.Libertas, 6.Instituto de Análise
Bioenergética de São Paulo (IABSP), 7.Instituto Brasileiro de Psicologia Biodinâmica
(IBPB), 8.Centro de Psicologia Formativa do Brasil e o 9. Laboratório do Processo
Formativo.
RESULTADOS
Para o início da exposição teórica deste artigo escolheu-se este autor que no prefácio
do seu livro já anuncia que seu objetivo com essa obra é apresentar o aspecto espiritual da
saúde. Ele entende que a sensação subjetiva de saúde necessariamente precisa envolver as
sensações de prazer e de vitalidade, só assim é possível sentir-se conectado, irmanado com
outros seres, com o cosmos. Ou seja, para ele, prazer e vitalidade proporcionam conexão, já a
sensação de dor contribui para que o indivíduo tenda a se isolar.
Um termo muito presente durante todo este exemplar é graciosidade, pra defini-lo
Lowen cita Aldous Huxley (1991), pois este a categoriza em três tipos: 1. Graça espiritual:
sensação de conexão com uma ordem superior 2. Graça animal: tem a ver com a
espontaneidade dos movimentos dos outros animais, que não o ser humano (ditos selvagens);
3. Graça humana: “se reflete no modo como tratamos o nosso semelhante, e pode ser
adequadamente descrita como amabilidade” (LOWEN, 1990, p. 11).
A partir desses conceitos Lowen explica que para alguém viver de maneira graciosa
precisa apoiar sua experiência em sensações corpóreas de prazer. E sinaliza que a perspectiva
por meio da qual entende e trabalha o corpo é a perspectiva energética, assim encara o corpo
como sistema energético.
Para avançar, o pai da Análise Bioenergética parte do princípio de que o ser humano é
um ser espiritual, assim é inevitável não admitir que a saúde humana está relacionada com a
espiritualidade, de modo que se o senso de conexão com outros seres, com o cosmos e com a
natureza fosse perdido, isso poderia acarretar em perturbações de ordem mental, mas sem
desconsiderar que o adoecimento tem a sua dimensão cultural.
Como tem seu embasamento teórico construído a partir de Wilhem Reich, ou seja, na
premissa de que mente e corpo são uma unidade funcional, entende que a saúde mental é
refletida na vitalidade do corpo e vice versa. Assim, basta olhar para os olhos de uma pessoa
(se têm brilho ou não, por exemplo), para a coloração e calor de sua pele, para sua
expressividade e graciosidade nos movimentos que já é possível ter um indicativo de como
está sua saúde.
Durante toda a obra Lowen cita práticas religiosas e espiritualistas e procura
diferenciar aquelas que tem um fundamento filosófico oriental, das que tem um fundamento
filosófico ocidental. Para as primeiras, espiritualidade é um fenômeno corpóreo e uma questão
de sentimento, para estas a espiritualidade é uma função da mente e uma questão de crença.
Ainda sobre esse aspecto o autor afirma:
“(...) o oriental, por acreditar que o bem-estar do homem depende de sua harmonia
com a natureza, sempre manifestou um maior respeito pelo ambiente do que o
ocidental (...) o Ocidente, pelo menos nos últimos séculos, tem procurado dominar e
controlar a natureza, uma diferença que se reflete nas atitudes ocidentais em relação
ao corpo’ (LOWEN, 1990, p. 23).
Com esta colocação o autor adianta que para os ocidentais saúde do corpo tem a ver
com estar apto a desempenhar algo: ter aptidão para as atividades da vida, assim como uma
máquina é adequada para a realização de uma tarefa. Deste modo os exercícios físicos que
fazem normalmente são levantando pesos para o desenvolvendo da musculatura e para tanto
contam com o auxílio de máquinas. Em contraste, os exercícios orientais, como a ioga ou o
tai chi chuan, refletem o interesse da pessoa pelos aspectos espirituais do corpo.
Na sequência Lowen explica, como que dentro do processo do desenvolvimento
psicossexual, a repressão dos impulsos infantis ocorre por parte dos pais e, de forma mais
ampla, pela sociedade, ou seja, a criança é compelida, gradualmente, a não exprimir seus
verdadeiros impulsos com vistas a atender e se adequar às demandas que são externas a ela
(por exemplo, expectativas dos pais). O resultado disso é a perda gradual da sua graciosidade:
movimentos que antes eram espontâneos, são impedidos de acontecerem e a criança perde a
sua “graça” e basta olhar como se põem em pé, como se movimentam, para observar essa
perda.
Essa é uma realidade que está mais em consonância com o Ocidente. O autor sinaliza
que no Oriente até os seis anos de idade é permitido que as crianças expressem, sem nenhum
tipo de coerção, suas emoções, de forma que os pais não a reprimem. Somente a partir desta
idade é que se inicia um processo de “contenção”, de contorno.
Para o autor, por mais que as práticas milenares orientais (tais como meditação, ioga,
tai chi chuan, etc) ofereçam inúmeros benefícios para a saúde integral de quem as pratica, só
elas não são suficientes para resolver as demandas emocionais que surgiram com a sociedade
industrial, de exploração da natureza (demandas tais como: ansiedade, depressão, transtorno
de pânico, etc.) haja vista que para saná-las é necessário que se compreenda como surgiram e
aqui a Análise Bioenergética entra para dar a sua contribuição. Lowen a define como “uma
abordagem que integra os pontos de vista oriental e ocidental e utiliza o poder da mente para
compreender as tensões que constrangem o corpo. E também mobiliza as energias do corpo
para eliminar as tensões”. (LOWEN, 1990, p. 30)
Ele afirma que o conceito de energia é que possibilita a aproximação entre as visões
oriental e ocidental de mundo. No pensamento oriental religioso espiritualidade está
imbricada aos processos corporais, que são entendidos como energéticos (a exemplo, no
hatha-ioga que significa equilíbrio de forças entre o sol e a lua; yin e yang representam a
energia do céu e da terra, respectivamente, e quando em harmonia se traduzem na saúde do
indivíduo). Já no pensamento ocidental existe uma cisão entre os processos que são mentais e
corporais e a medicina orgânica nega a totalidade do indivíduo.
Na sequência de sua obra, o autor explica que a abordagem a qual propõe recebe esse
nome porque nela também existe uma compreensão energética dos processos corporais e se
entende que essa “energia é produzida no corpo através das reações químicas relacionadas
com o metabolismo dos alimentos” (LOWEN, 1990, p. 37). E para que haja metabolismo e
energia é preciso que se tenha também a respiração.
A ponte que existe entre a respiração e a espiritualidade do corpo tem a ver com o
fato dessa ser perpassada pela graciosidade, pela espontaneidade, pela entrega à vida, por se
permitir ser amado/a/e. E isso é possível a partir da respiração. Todavia corpos rígidos como
carapaças são tensos e inflexíveis demais para deixar a água da vida fluir. Sobre este aspecto o
autor afirma que “(...) a chave para a graciosidade consiste em permitir que o corpo se
movimente por si mesmo. Essa maneira de agir é prejudicada logo no início da vida, porque
os pais não confiam na capacidade do corpo de se moderar” (LOWEN, 1990, p. 78).
Além da importância de permitir os movimentos corporais acontecerem, fluírem é
imprescindível que as emoções e os sentimentos também tenham espaço para serem
expressos. O teórico afirma que “as emoções são a expressão direta do espírito de uma pessoa
(...) Quando a pessoa se move com sentimento, a ação é graciosa porque resulta de um fluxo
energético no corpo. Assim, o sentimento é a chave da graça e da espiritualidade do corpo”
(LOWEN, 1990, p. 90).
Dando continuidade à explanação da obra, Lowen considera que a vivência de
qualquer ação com plena entrega - incluindo, é claro, uma prática espiritual/religiosa e a
própria sexualidade - é uma experiência extremamente espiritual, pois por exemplo na
experiência orgástica, em contato com seu parceiro, uma pessoa pode romper as fronteiras do
eu, por alguns instantes, e se sentir fundida com ele. Essa fusão permite que se sintam um
com as forças superiores do universo.
O autor considera que o nível de sensibilidade sexual de um indivíduo depende da
quantidade de energia ou excitação existente em seu corpo; 2. Do grau de graciosidade
corporal, pois ela permite que a carga energética do corpo flua livre e completa e 3. Do quanto
o indivíduo está energeticamente ligado à terra. Com isso, compara o ser humano a árvores:
“(...) na condição de criaturas da terra, estamos ligados ao solo através das nossas
pernas e pés. Se a ligação for vital, dizemos que a pessoa está aterrada (...) Na
bioenergética, o termo é usado para descrever a ligação de uma pessoa à terra, à sua
realidade fundamental. Quando dizemos que uma pessoa está bem aterrada ou que
tem os pés solidamente fincados no chão, isso significa que ela sabe quem ela é e
qual a sua situação. Estar ligado à terra é estar ligado às realidades básicas da vida,
ao próprio corpo, à própria sexualidade, às pessoas com as quais o indivíduo se
relaciona.” (LOWEN, 1990, p. 122).
Conforme Sampaio (2019) explica, a Biossíntese a partir do seu próprio nome, que
significa integração da vida, faz o convite, enquanto uma das escolas das Psicoterapias
Corporais, para um olhar atento à vida intrauterina, pois compreende que o ser humano já
chega ao mundo tendo realizado trocas energéticas no corpo da mãe e que um olhar mais
cuidadoso para esses processos dá base para ampliar a compreensão acerca da relação desse
indivíduo com o mundo e consigo mesmo.
Segundo Boadella, o conceito central é de que existem três correntes energéticas
fundamentais ou fluxos vitais, as três dimensões do ser (somático- emocional, psicossocial e
essencial- espiritual) que estão ligadas às camadas germinativas celulares (ectoderma,
mesoderma e endoderma) do óvulo fecundado, a partir das quais se formam os sistemas
orgânicos e a elas estão associadas o desenvolvimento da subjetividade (processo formativo
do corpo - embiogênese).
Tais correntes se expressam num fluxo de movimento por todos os caminhos
musculares; num fluxo de percepções e, pensamentos e imagens que percorre o sistema
neurossensorial; e num fluxo de vida emocional, localizado no centro do corpo e um estresse
excessivo (ocorrido antes, durante ou depois do nascimento) rompe com a integração dessas
camadas, nesse sentido todo o trabalho terapêutico, de uma forma geral, se mobiliza para uma
integração delas.
A camada endodérmica (a mais interna) está ligada ao sentir, à emoção. Fisicamente é
ligada à respiração e ao trato gastrointestinal. A camada mesodérmica tem a ver com
movimento, com o fazer, com a ação. Biologicamente está associada ao sistema muscular e
vascular. A camada ectodérmica (a mais externa) tem a ver com o pensar e está ligada aos
sentidos e à leitura que se faz do mundo.
Em termos da prática, a Biossíntese não foca na técnica e sim no processo, com uma
ideia de que o terapeuta deve se utilizar do “fio solto”, ou seja, dos elementos trazidos pelo
paciente como pistas e indicativos do que precisa ser trabalhado naquele encontro e/ou a
respeito de um tema. Tem a ver com o movimento de ajudar o paciente a compreender o que o
corpo está comunicando, o que aqueles sinais (do corpo) falam do próprio paciente.
No que tange a dimensão essencial- espiritual do ser, explica que grounding é contato
com o corpo, com a terra, com a sexualidade, “com as raízes de nossa história e cultura e
nossa ligação com o outro” (BOADELLA, [198-], p. 07) e que espiritualidade é contato com
o coração, que para este autor é a fonte mais profunda de do ser humano.
O teórico apresenta, assim, o termos grounding espiritual o qual “está relacionado a
fatos interligados, como o de a pessoa ser centrada no coração e ser capaz de focalizar as
tarefas do cotidiano, estar presente nas complexidades dos relacionamentos humanos e
assumir responsabilidades, e estar integrada ao planeta como um ser social, sexual e
espiritual” (BOADELLA, [198-], p. 07).
Para ele o enraizamento sem a espiritualidade é um pseudo enraizamento, pois se o ser
humano está apenas focado no aspectos materialistas da vida (trabalhar demais, ganhar muito
dinheiro, fazer alguma atividade física para manter a forma, por exemplo) em algum momento
haverá uma ruptura pelo excesso de trabalho e a partir disso começará a se perguntar qual é o
sentido da vida.
E por outro lado a espiritualidade sem enraizamento se transforma em uma pseudo
espiritualidade quando o indivíduo se engaja em alguma atividade de cunho
espiritual/religioso e olvida a responsabilidade pela sua própria vida na tentativa de
transcender o mundo, no entanto sem estar de fato encarnado nele, presente.
O autor considera que a verdadeira espiritualidade tem a ver com estar em contato
com a realidade e com o coração, com o externo e com o interno, procurando-se manter uma
harmonia de um com o outro. E o verdadeiro enraizamento “é o contato não apenas com o
ground de nosso lar e trabalho, de nossa paternidade com o planeta, mas também o ground
interno de nosso ser, nosso significado, nossos valores, o longo destino de nosso corpo”.
(BOADELLA, [198-], p. 08).
Além disso problematiza que a psicoterapia moderna tende a encarar a espiritualidade
como algo esotérico ou religioso, diferentemente dele que considera que assim como todas as
formas de psicoterapia têm inspirações em conceitos psicoterapêuticos, psicodinâmicos,
comportamentais ou corporais elas também têm em recursos espirituais. Para este autor, o
desamparo espiritual caracteriza todas as formas de desespero existencial. Assim, na
Biossíntese é dado lugar central ao alimento espiritual do ser humano (BOADELLA, 2018)
E por fim, sobre os diferenciais dessa abordagem psicorporal- tanto em princípios
quanto na atuação psicoterapêutica - no aspecto da espiritualidade a proposta é trabalhar a
compaixão pelos outros de forma enraizada com “a necessidade das qualidades essenciais
humanas, na realidade do dia-a-dia”, o que é chamado de aproximação bio-espiritual.
(FRANKEL, 2018)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com esse artigo é possível concluir que o tema da espiritualidade foi discutido por
Lowen e por Boadella e que ambas as abordagens psicorporais estão em consonância no que
se refere ao entendimento sobre esse assunto ao considerarem que não existe espiritualidade
fora do coro e que o grounding é um elemento fundamental nessa temática, pois sem ele a
espiritualidade seria algo mental e não um processo somático.
No que se referem às publicações realizadas pelas diferentes escolas de psicoterapia
corporal, considera-se que são em número bastante reduzido o que indica que esse é um tema
- pela própria relevância anunciada durante todo esse trabalho - que não só poderia, mas
deveria ser mais explorado em forma de trabalhos escritos, e também em mesas de discussões,
palestras nos eventos anualmente promovidos.
Ainda sobre esse segundo aspecto conclusivo, o Brasil é riquíssimo em relação ao
tema da fé (é perpassado por sistemas de crenças que vão desde o cristianismo, até
espiritualidades de matriz africanas, cultos pagãos e dos povos originários). Muito embora
espiritualidade não seja o mesmo que religião, em se tratando deste país é inevitável que a
religião não seja considerada quando se fala em espiritualidade.
Quanto às diretrizes do ponto de vista ético que orientam os psicoterapeutas corporais
a tratarem desse tema nos seus atendimentos, nada foi encontrado nas bases de dado
acessadas. Isso é um indicativo de que não existem documentos formalizados pelos Institutos
sobre a temática, pelo menos não divulgados.
Sugere-se que nos congressos, momento em que os terapeutas de diversas regiões do
Brasil e do mundo se encontram, essa seja uma questão relevante de ser abordada, por
exemplo, abrindo-se espaço para trocas de casos clínicos e observando como o tema da
espiritualidade perpassa os atendimentos desses profissionais.
A respeito dos relatos de intervenções levantados na área corporal, que tratem do tema
da espiritualidade, somente um artigo foi encontrado o que sinaliza que poucos
psicoterapeutas escrevem sobre o tema e perdem a oportunidade tanto de contribuir na
construção científica da abordagem, quanto de aprender mais sobre, por meio da partilha de
outros profissionais, seguida de embasamento teórico. Convidam-se os terapeutas psicorporais
a escreverem sobre como o tema da espiritualidade atravessa o seu fazer clínica.
Por fim, entende-se que a Psicologia Corporal tem muito a contribuir na promoção de
saúde, de bem estar, de bem viver ao ser um meio através do qual os indivíduos podem ir se
desfazendo das suas amarras psicorporais e experimentando a vida com mais graciosidade,
espontaneidade, vitalidade, conectados com suas sensações corporais e com o todo.
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