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Alexander Lowen.
Resumo
As percepções do mundo, de nós mesmos e daqueles que nos cercam são intermediados
pelas nossas reações corporais. Somos encarnados em um corpo real que se encontra em
constante mutação, que cresce, se excite, se apavora, fantasia, vibra, se esconde, se
revela, pulsa. Como um campo fértil de conflitos psíquicos atravessada por muitas
histórias esquecidas, dores não choradas, no interior do corpo foi formado e mantidas
estruturas de resistência ou zonas de tensão corporal, que Reich (1945) chamou de
“armadura de caráter”. Para ele estas estruturas corporais, atuam como um processo
mobilizador de energias biológicas e o equilíbrio mente, corpo. Essa visão de Reich
sustenta de que todo fenômeno psicológico tem seu correlato somático, de tal forma que
toda ocorrência fisiológica, somática, emocional, cognitiva tem seu correspondente no
corpo.
Wilheim Reich e considerado o criador das terapias corporais seus seguidores
desenvolveram abordagens psicocorporais reconhecidas mundialmente como:
bioenergética, biodinâmica, biossíntese, biossistêmica, todas elas procuram trabalhar o
corpo como um reservatório de herança cultural, fatores sócias e genéticos. O processo
terapêutico destas terapias procura o equilíbrio entre mente corpo e o texto social em
que a pessoa está inserida.
Para a Analise Bioenergética respiração, grouding e consciência corporal, é a
principal forma de trazer para o corpo a alma desconectada de si, utilizando-se da tríade
corpo, alma, sensações corporais internas, este caminho um portal de soltura e resgate
para liberação das energias de memorias impressas, represadas no corpo por longos dos
anos.
Alexander Lowen e John Pierrakos em 1955 criaram a análise bioenergética - uma
abordagem psico corporal e uma jornada de autodescoberta em um mundo afetado pela
falta de significado do corpo, que produz confusão e agitação. Trabalhar com o corpo é
uma forma de auto regulação, coerência com o que sinto no aqui e agora. Lowen
conecta os eventos da história pessoal com o desenvolvimento corpo de cada um, com a
nossa biografia corporal: «A vida de um o indivíduo é a vida do seu corpo "(Lowen,
1975, p. 35).
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Psicóloga, formada pela Faculdade Santo Agostinho. Pós graduanda em Psicoterapia Corporal –
CENSUPEG.
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Introdução
e somáticas, tem a função de nos proteger da ansiedade causadas por memórias dolorosas
e traumas transformou a forma de trabalho de Reich.
Reich como precursor do “corpo em psicoterapia”, deixou um legado de
importantes discípulos e numerosas formas de terapia corporal uma delas foi a Analise
Bioenergética, fundada por Alexander Lowen e seu parceiro John Pierrakos.
Considerados os primeiros discípulos neo-reichianos, eles criaram uma abordagem
baseados nos princípios de Reich, mas, com configurações revistas e atualizados por suas
próprias pesquisas e métodos para afrouxar a energia. Para esta abordagem, a respiração
é a base energético reguladora de todas as funções orgânicas e físicas. Uma respiração de
qualidade determina a vitalidade do corpo.
O oxigênio nosso combustível vital nos fornece os mais importantes
componentes de nossa vitalidade. Sem uma respiração minimamente saudável o corpo
não pode funcionar de maneira satisfatória ou ter energia para completar suas tarefas
diárias deste a mais simples a mais complexa. A energia que coloca nosso corpo em
funcionamento é extraída de diversas fontes: da luz e do calor do sol, dos alimentos que
ingerimos, da água que bebemos, e, principalmente do ar que respiramos. A respiração
tem quatro funções gerais: 1) levar o oxigênio para o corpo 2) regular o nível de dióxido
de carbono no corpo, 3) iniciar e manter a pulsação no corpo e 4) equilibrar o sistema
nervoso autônomo simpático e parassimpático.
Respirar é o nosso primeiro contato com o mundo, é uma função corporal que
já nascemos com ela, mas, não aprendemos ou não podemos a faze-la corretamente. A
respiração é um é atividade, de interações complexa é constitutiva da nossa humanidade
cujo arcabouço de manifestação, é o corpo. É ela que participa de todas as nossas
vivências, sensações, movimentos, sentimentos e pensamentos. A respiração é o marco
central da vida e o cordão umbilical através do qual a vida flui dentro de nós.
A respiração é uma ponte entre o coração e o cérebro, entre a parte emocional e
a parte racional, ela é uma chave para acessar os labirintos do inconsciente. A
incapacidade de respirar de forma natural é o principal obstáculo para se recuperar a
saúde emocional. Sobre isto, nos fala Alexander Lowen o fundador da Analise
Bioenergética:
Cada um de nós faz parte do universo e a ele está ligado através energia vital da
respiração. Inalar literalmente significa carregar dentro de si o espírito, a energia da
vida, da mesma maneira que exalar significa deixar a energia sair de nós e retornar ao
universo Para Alexander Lowen: a quantidade de energia que o corpo possui depende da
respiração plena e profunda. Nos adultos, a respiração tende a ser desorganizada e/ou limitada,
isso ocorre devido às tensões crônicas. A respiração aumenta a quantidade de energia do corpo,
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abre a garganta, ativa as emoções reprimidas e facilita a expressão dos sentimentos. (LOWEN e
LOWEN, 1985).
O corpo
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Grounding
O conceito de "Grounding" em bioenergética pode ser considerado, juntamente
com a respiração, um dos pilares da teoria e da prática bioenergética. A palavra
Grouding, termo em inglês que significa enraizamento, ou, na nossa língua portuguesa,
estar com os pés no chão, equilibrar-se, estar em si e consigo mesmo. A fundamentação
do conceito de Grouding em bioenergética tem um significado amplo que envolve uma
dimensão psicológica e uma dimensão corporal que literalmente significa, ter os pés,
firmemente no chão - também significa estar enraizados em sua própria verdade,
aceitando a si mesmos e suas próprias experiências.
Para descrever o conceito de Grouding, Lowen faz uma analogia dos seres
humanos com a arvores e escreve: A mãe terra ao corpo reduz a bioenergética
“Nós, seres humanos, somos como árvores: enraizados no chão com
uma extremidade, alcançando o céu com a outra, e quanto mais
pudermos alcançar, mais fortes são nossas raízes terrestres. Se
arrancarmos uma árvore, as folhas morrem; se arrancarmos uma pessoa,
sua espiritualidade se tornará uma abstração sem vida. Como criaturas
terrenas, estamos conectados ao chão com nossos pés e pernas. Se essa
conexão é vital, estamos aterrados "(Lowen, 1990.p.121)
sua presença são sentidas como uma rajada agradável de estremecimento no corpo.
Para Lowen, no entanto, é melhor estremecer do que não vibrar.
Para a Analise Bioenergética, o grouding do ponto de vista corporal é
caracterizado por uma respiração profunda e completa (torácico-abdominal) e atenção
às sensações que provém do contato do corpo com o chão. O que é experimentado
quando estamos em grouding é um fluxo de energia associado ao ritmo respiratório que
envolve todo o corpo. A espinha dorsal é mobilizada, de acordo com um ritmo que
envolve os três segmentos fundamentais do corpo: a cabeça, o tórax e a pelve.
Na bioenergética a condição de aterramento traz consigo, a ligação com à terra,
facilita a vivencia do prazer e alcança a consciência do eu - a experiência de se integrar
a todas partes de si mesmo, o uso de uma prática de vida consciente, estabelece o
equilíbrio, mente corpo, ajuda a nos tornar-se “presente” no aqui e agora.
Da terra ao corpo
Lowen frequentemente afirma, que a Mãe Terra e o ar realizam em comum a
tarefa de nos apoiar e nutrir com sua energia protetora. Uma maneira de criar um
sentimento mais profundo de unicidade com a Mãe Terra é ter de maneira consciente os
pés fincados na terra, lembrar-se de que não há separação entre nós e o planeta; somos
todos verdadeiramente um, pois a essência de todos os seres é a terra".
A Terra representa o arquétipo da Grande Mãe, e como tal, é um símbolo de
nutrição, fertilidade, hospitalidade, força, contenção e energia. Essa equivalência entre a
"mãe terra" e a "mãe biológica" é a base a partir da qual a análise bioenergética também
se desenvolve, onde se conectar à Mãe Terra significa permitir-se manter contato com
suas raízes, o qual chamamos grouding, aterramento, enraizamento, centramento. Para
ser aterrado, estar em grouding é necessário ter todo o pé tocando o chão. Imagine as
solas dos pés beijando a terra. As diferentes situações que causam a retirada de energia
da parte inferior do corpo, causando a perda do senso de enraizamento e conexão
podemos citar dentre outras causas, pessoas, que têm pés comumente chamados, pés
"chatos".
Por esta definição, Lowen quis dizer que os pés onde os arcos estão colapsados, o
peso corporal não é distribuído uniformemente na sola do pé, mas é movida para dentro.
A situação contrária, um arco o plantar muito alto mostra uma tensão crônica dos
músculos do pé, o que também não lhes permitem um contato próximo ao chão. Uma
pessoa bem plantada no chão requer equilíbrio e uma distribuição igualmente uniforme
entre os calcanhares e o peito do pé. O sentimento de pertencer, de ter raízes, deve estar
diretamente relacionado à sensação de contato íntimo entre os pés e o chão. Lowen
associa ter os pés no chão como sustentar seu espaço suas ideias, suas opiniões ter um
lugar na família, no mundo.
O que à primeira vista pode parecer uma experiência comum estar em contato
com a terra gradualmente, através do processo de auto percepção, o contato se torna
uma experiência fundamental, capaz de modificar a percepção do esquema corporal e
permitir que o corpo entre em contato com numerosas sensações as mais diversas como:
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instabilidade, fragilidade, rigidez, frio, dor, mas também solidez, segurança, auto apoio,
calor e prazer.
Para a Analise bioenergética estar em grouding, enraizado, é, um processo
relacional que podemos fazer com a Terra, com as pessoas e conosco, é um ciclo
energético que implica dar e receber. É uma conexão necessária e profunda de se tornar
e permanecer presentificado com o nosso corpo e nossa biologia, é um processo a
perder de vista, pois, passamos a vida inteira desenvolvendo e refinando o processo de
estar com o mundo a nossa volta. É um jeito próprio de ser e estar no mundo.
O que define um bom grouding é o contato correto com o solo e a realidade. Um
bom grouding também está relacionado à capacidade de integração do corpo, mente e
espírito; se não houver união entre as partes do corpo, o ser humano está parcialmente
integrado. Quando um corpo está perfeitamente integrado? Quando a cabeça, o peito e a
pelve estão em perfeita harmonia. Um homem aterrado, com os pés no chão, está em
contato com a realidade externa e interna, com sua própria realidade animal e com suas
próprias sensações: ele está presente a si mesmo.
Em muitas pessoas a falta de vida sensível nas pernas e pés e compensada por um
exagerado desenvolvimento do ego. O ego busca segurança em sucessos em encubram
sua segurança aos olhos de todos, mas a sensação interna de não ser bom o suficiente
permanece. Nossas tensões musculares nos mantêm rígidos e nos dão a ilusão de sermos
fortes. Enquanto na realidade eles nos tornam insensíveis e nos privam da possibilidade
de fazer contato com o solo e com a nossa realidade.
Lowen descreve três condições principais que dificultam essa mobilidade chave
das pernas: 1- fraqueza, 2-solidez, 3-rigidez (Lowen, 1977.Pg 101-102).
1. Indivíduos com músculos subdesenvolvidos das pernas, tornozelos fracos e pés
chatos terão grande dificuldade em deixar sua pélvis balançar livremente.
Especialmente porque há uma incapacidade de controlar ou "sentir" os músculos
envolvidos, sem contar, que estas pessoas se cansam com muita facilidade nestes
exercícios.
2. Em indivíduos com pernas muito sólidas e coxas pesadas ou gordas, existe uma
grave falta de motilidade. Pode-se dizer que essas pessoas "têm chumbo nos pés". O
acúmulo de gordura ao redor das nádegas e coxas deve ser interpretado bio-
energeticamente como resultado de energia estagnada na região devido à motilidade
inibida.
3. Pessoas com pernas rígidas, os músculos são tão espásticos e contratos que até
a função do equilíbrio é danificada. A rigidez deve ser considerada uma compensação
aos sentimentos subjacentes de fraqueza. (Lowen, ibidem.)
A Bioenergética reconhece que nossas experiências criam impressões físicas
desde os primeiros dias da infância. Nossas respostas fisiológicas a eventos passados
são armazenadas em nossas células e músculos, bem como em nossas mentes, criando
bloqueios energéticos.
Experiências traumáticas na gestação, infância, bloqueiam o contato entre os pés
e o chão e influenciam no bom fundamento do indivíduo com a realidade: estar
enraizado significa estar totalmente em contato com a realidade da própria existência,
ter os pés firmemente plantados no chão é poder ficar em suas próprias pernas. O
contrário, pessoas que não estão enraizadas “andam nas nuvens", ou seja, vivem nas
ilusões.
Para a abordagem bioenergética, a pelves está ligada aos seus instintos
primordiais, que representam a sexualidade, a sobrevivência, o prazer de existir e a
vontade de agir. O peito, tórax é a sede dos pulmões e do coração; esses órgãos estão
conectados à capacidade de expressar afetividade, amor, o prazer de amar e ser amado.
A cabeça é a sede principal do pensamento e da consciência; portanto, está estritamente
conectado à possibilidade de compreensão, elaboração de pensamento a criação e da
boa comunicação
As maneiras pelas quais uma pessoa coloca os pés no chão é, portanto, um aspecto
da personalidade importante dentro da estrutura geral e da história de vida do paciente.
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Atenção plena do eu
O processo terapêutico na Analise Bioenergético se sustenta num processo de
mudança holística, integral da totalidade do ser, na sua unidade psicofísica, em sua
experiência de ser humano que possui um corpo que é capaz de respirar profundamente,
sentir-se plenamente conectado com a mobilidade, expressividade natural do organismo.
Neste processo da autoconsciência, a auto expressão, autocontrole são mediados pelo
papel da respiração.
A bioenergética é baseada na proposição simples de que cada pessoa é seu próprio
corpo. Ninguém é nada além do corpo vivo em que tem existência própria e através da
qual se expressa e se coloca em relacionamento com o mundo ao seu redor "(Lowen,
1975, p. 44)
Capacidade expressiva ou auto expressão para Lowen é essencial, pois representa
a possibilidade de ser espontânea e coordenada, seguir com novos movimentos,
podendo também desprender-se aos poucos, por exemplo, de posicionamentos mais
rígido. A motilidade do corpo é diretamente influenciada pelo nível de energia. Quando
a energia do corpo está baixa ou exaurida, a motilidade, o movimento e a expressão
diminuem. Lowen expõe este conceito por meio desta linha sólida interconectada:
Energia - Motilidade - Sentimento- Espontaneidade - Auto expressão.
Lowen (1982, p. 40) refere que a energia envolve o “[...] movimento de todas as
coisas, tanto vivas quanto inertes” e a personalidade se relaciona aos processos
energéticos do corpo, “[...] a energia está envolvida em todos os processos da vida, nos
movimentos, sentimentos e pensamentos, e que os mesmos chegariam ao fim se a fonte
de energia para o organismo se esgotasse. ” Assim a personalidade que um sujeito
possui, se relaciona à quantidade de energia que possui e de como faz uso desta.
O maior fluxo de energia gera níveis maiores de pulsação faz com que haja mais
vida em nós, em nossas ações; permite maior envolvimento com as atividades que nos
cabe realizar; e é o equilíbrio entre expansão e contração, abertura e fechamento que
gera essa possibilidade de mais vida.
Considerações finais
Bibliografia
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______. O corpo traído. São Paulo: Summus , 1979.
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______. Prazer: uma abordagem criativa da vida. 6.ed. Filho. São Paulo: Summus,
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Alexander Lowen e as práticas corporais. Odila weigand.
Bioenergética - Conhecendo as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde.
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OLIVEIRA, Joviniano. CORPOSOFIA: ANÁLISE BIONERGÉTICA PARA SENSIBILIZAR
QUESTÕES FILOSÓFICAS. TESE DE DOUTORADO. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE
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