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Autorregulação, um dos principais conceitos desenvolvidos por Wilhelm Reich a partir de sua
observação natural dos seres vivos, é a capacidade que o organismo tem de buscar
reorganização para manter a vida. Para Reich, a natureza possuía a capacidade de criar suas
próprias modalidades de existência, de autorregulação.
Em sua clínica, Reich descobriu que as patologias seriam resultado da repressão exercida pela
cultura por meio das ideologias, de valores e da moral. Assim, uma autorregulação satisfatória
nos seres humanos está atrelada às questões psíquicas reprimidas e corporalmente
encouraçadas, possibilitando o aumento da circulação energética corporal e proporcionando
maior maturidade emocional na relação do indivíduo com o mundo externo.
A maioria dos distúrbios de saúde ocorre por um desiquilíbrio nos processos de descarga das
energias mais básicas que circulam no organismo, como podemos observar no ritmo
respiratório, no mau funcionamento do metabolismo, ou na perda de movimento, de flacidez
ou rigidez corporal.
Tal como para Freud, na psicanálise, no caso de doenças psicossomáticas e na neurose, em
que os sintomas são uma forma de obter satisfação em meio a um conflito psíquico,
transformando a dinâmica de lidar com o jogo das forças da energia vital em nosso organismo
versus a sociedade, expressando essa energia não distribuída livremente com prejuízos à
autorregulação.
Reich e Lowen descobriram que a tensão emocional muda a forma do corpo em crescimento
em resposta direta à privação de necessidades específicas de uma criança, desde a gestação
até aproximadamente os sete anos de idade. Em seus estudos, Lowen (1973) identificou cinco
estruturas caracterológicas baseadas em posições de defesa dos estímulos traumáticos. A
defesa gera contrações musculares que, quando tornadas crônicas, são chamadas de
couraças, contendo em si as memórias do trauma, se manifestando em nossas personalidades
de formas não saudáveis para a autorregulação.
Reich (1994, 1995) entende a autorregulação com um processo natural de homeostase com
funções expressivas de receber, dar e trocar. A energia é a base de todos os processos da vida
humana – nos movimentos, sentimentos e pensamentos – e se manifesta pela carga e
descarga ou, em outros termos, pelo ritmo natural do organismo de se abrir e se fechar
(REICH, 1998 apud BRASIL, 2018).
De forma semelhante, o conceito de energia é tratado por Lowen como uma força que
percorre o ser vivo, advinda da combinação entre diversos elementos, tais como: respiração,
alimentação, sentimentos, movimento corporal, contato com a realidade e as interações que o
indivíduo estabelece com o meio em que vive (OLIVEIRA JÚNIOR HUR, 2015).
Para Lowen, a autorregulação é um princípio que leva ao discernimento humano sobre o que é
melhor para si e para os outros ao seu redor, como capacidade do organismo de regular seu
próprio funcionamento e está remetida a uma tendência inata ao desenvolvimento e
equilíbrio. Segundo ele, saúde está ligada ao conceito de graciosidade e espiritualidade do
organismo, isso implica que a autorregulação é concebida como confiança na racionalidade da
natureza e confiança na sexualidade como fonte de vitalidade, harmonia e amor. (Almeida,
2013).
O grounding, por sua vez, é um conceito nuclear da análise bioenergética e tem por significado
o enraizamento, ter os pés no chão, estar em contato com a realidade, no aqui e agora.
Para compreender o grounding é necessário foco na respiração e entender como a postura
corporal se revela na verticalidade do corpo. No grounding, a pessoa fica em contato com a
terra através de suas pernas e pés, e com isso estabelece contato também com as realidades
básicas de sua existência.
O indivíduo está em contato consigo mesmo e com o mundo ao seu redor. Está bem plantado
no chão, em conexão com seus sentimentos, com seu corpo e com sua situação na vida (as
condições de uma pessoa saudável).
Grounding implica estar consciente de sua energia vital e orientado para buscar o prazer na
vida, resultando no aumento da autoconfiança e no senso de segurança (LOWEN, 1985).
Lowen (2007) traz a postura de grounding no processo terapêutico como um momento de
estarmos na verticalidade do nosso funcionamento para nos enraizarmos e nos conectarmos
com a complexidade dos conteúdos internos, em contato com a realidade externa: aquilo que
é subjetivamente sentido, em contato com o que é objetivamente percebido. A partir do
grouding podem ser propostos novos movimentos que facilitem a integração e a expressão
emocional do conteúdo que está impedindo o desenvolvimento pessoal vincular em relações
de parentalidade, família nuclear e a posição coletiva profissional e social.
Para Weigand (2006) o grounding vai além do enraizamento vertical e possui várias dimensões,
desde a concepção, nascimento até a adultualização. Com base no amplo estudo realizado por
Lowen sobre a verticalidade humana e suas implicações biológicas, simbólicas, subjetivas e
pessoais, Weigand (2005) concluiu que o verdadeiro grounding depende do livre movimento
pulsatório (energético) em três direções básicas:
A pulsação vertical - envolve um movimento pendular da cabeça aos pés e dos pés à cabeça e
implica poder mover-se para frente na vida;
A pulsação horizontal - grounding estabelecido por meio das relações, sendo responsável pela
comunicação com os outros e com os objetos externos;
A pulsação entre periferia e o centro do organismo - responsável pela condução de percepções
internas, pensamentos e sentimentos traduzidos nas ações.
O indivíduo que experimenta o grounding está focado no aqui e no agora da realidade externa
(grouding externo), assim como tem maior segurança em considerar sua realidade interna
(grounding interno); ao estar em contato com as sensações corporais do seu ser, desenvolve
sua autonomia e identidade, sem isolamento.